Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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2- Blog 1 “Ser Escritor”: http://www.doutorsilverio.blogspot.com.br

3- Blog 2 “Comportamento Crítico”: http://www.doutorsilverio42.blogspot.com.br

4- Blog 3 “Uma boa idéia! Uma grande viagem!”: http://www.doutorsilverio51.blogspot.com.br

5- Blog 4 “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

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6- Perfil no Face Book “Silvério Oliveira”: https://www.facebook.com/silverio.oliveira.10?ref=tn_tnmn

7- Página no Face Book “Dr. Silvério”: https://www.facebook.com/drsilveriodacostaoliveira

8- Página no Face Book “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

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9- Página de compra dos livros de Silvério: http://www.clubedeautores.com.br/authors/82973

10- Página no You Tube: http://www.youtube.com/user/drsilverio

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12- Email: doutorsilveriooliveira@gmail.com


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terça-feira, 26 de novembro de 2024

Max Stirner

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Max Stirner

 

Max Stirner (1806-1856) é o pseudônimo (pseudônimo que recebeu quando jovem, na universidade, por possuir a testa larga) pelo qual ficou conhecido Johann Kaspar Schmidt. Nasce na cidade de Bayreuth, Baviera, e falece aos 49 anos de idade em Berlim, hoje ambas na Alemanha. Proveniente de uma família protestante luterana, foi filho único de Albert Christian Heinrich Schmidt (1769-1807), fabricante de instrumentos musicais, e Sophia Elenora Reinlein (1778-1839). Seu pai faleceu quando Stirner tinha somente seis meses de idade e sua mãe contraiu outro casamento e se mudou de cidade, indo para Kulmbach. A família teve dificuldades financeiras que perduram por toda sua infância.


 

Stirner nasceu em uma família pobre, seu pai morreu cedo e sua mãe casou-se novamente. Durante toda a sua vida passou por dificuldades financeiras, só melhorando um pouco após o recebimento de uma herança por parte do falecimento de sua mãe, já no final de sua vida. Todas as fontes realmente confiáveis sobre sua vida não fazem referência a herdeiros, no sentido de ele ter tido filhos, de onde podemos concluir que este não teve filhos, talvez em virtude de suas dificuldades financeiras e de seus relacionamentos instáveis no transcorrer de sua vida.

Em 1837 se casa com Agnes Burtz (1815-1838) e com o falecimento desta, novamente de 1843 a 1846 com Marie Dähnhardt (1818-1902). No tocante a Agnes Burtz, pouco de realmente confiável se sabe sobre ela. Corre entre os comentadores na Internet a informação de que Agnes Burtz teria morrido durante o parto, mas não há confirmação histórica para tal. O casamento com Marie Dähnhardt terminou em separação após dificuldades financeiras e falência de um negócio com leite que ambos montaram. A única certeza que temos é que Max Stirner foi casado duas vezes, com as duas mulheres aqui citadas, que ambos relacionamentos duraram muito pouco, que quase nada sabemos sobre Agnes Burtz, e que haviam dificuldades financeiras nos dois relacionamentos.

Stirner estudou nas universidades de Berlim, Erlangen e Königsberg, com foco na filosofia e na teologia, mas não chegou a colar grau e concluir formalmente seus estudos. Apesar de alguns comentarem ter o mesmo também estudado filologia, não há registros históricos dele ter feito um estudo formal nesta disciplina e sua formação e vida não corroboram tal tese. Estudou filosofia e teologia em Berlim, tendo participado das classes de Hegel e Schleiermacher. Sofre influência do hegelianismo de esquerda, em particular proveniente de Feuerbach e Bruno Bauer. É considerado um filósofo pós-hegeliano alemão. Em sua obra dá ênfase ao trabalho com as ideias de alienação social e autoconsciência.

Stirner trabalhou como professor particular em Berlim, lecionando em escolas para meninas e, paralelamente, escrevia e participava dos círculos intelectuais da cidade. Desde 1841 até 1844, Max Stirner frequentou o movimento alemão conhecido por “Die Freien” ou “os livres” ou ainda “jovens hegelianos” ou “hegelianos de esquerda” (atentar aqui que o significado de “esquerda” dentro deste contexto não se refere ao usado hoje e sim ao usual após a revolução francesa de 1789, com referência ao parlamento francês) composto por jovens intelectuais que tinham sua leitura sobre as obras filosóficas de Hegel e se encontravam em Berlim, no Hippel’s Weinstube para beber e debater. O ano de 1844, com a publicação de seu livro “O único e sua propriedade”, marca também o seu afastamento deste grupo, pois, em seu livro faz críticas duras tanto aos hegelianos de direita como também aos de esquerda, desafiando suas bases ideológicas e propondo uma filosofia totalmente centrada no indivíduo e na crítica radical às ideologias coletivistas.

O livro “O único e sua propriedade”, 1844, é considerado a principal obra deste filósofo. Stirner faz uso dos termos “único” ou “eu proprietário” para nominar a este sujeito cuja individualidade é irredutível, irrepetível, única e proprietária de si mesmo e do seu mundo. Só existe o indivíduo real e egoísta, o verdadeiro indivíduo. Ideias abstratas tais como “classes sociais”, o “Estado”, as “massas proletárias” (ou outras), a “humanidade” carecem de realidade.

A publicação deste livro, sua obra de maior impacto e mais famosa, apresenta seu posicionamento em defesa de um individualismo radical que se opõe a qualquer forma de coletivismo, seja este religioso, político ou social. A obra teve muito sucesso a sua época, mas não trouxe conjuntamente o respectivo retorno financeiro. O impacto ocasionado no meio intelectual de sua época lhe trouxe críticas provindas dos hegelianos de direita e também de esquerda.

Importante em sua obra é o conceito por ele desenvolvido de “único” (Der Einzige). Este conceito há de representar o indivíduo absoluto, não limitado por qualquer rótulo que seja. Aqui por rótulos podemos entender coisas tais como: “homem”, “cidadão”, “proletariado”, “cristão”, etc. São estas identidades coletivas que não se aplicam à unicidade do indivíduo, do “eu”. As diversas e distintas categorias abstratas não passam de ilusões que servem para aprisionar o indivíduo. Aqui, por categorias abstratas, entendemos uma gama de objetos e conceitos, como, por exemplo, os oriundos da moralidade e do dever, como também qualquer tentativa de propor alguma essência humana. O “único” proposto por Stirner é justamente o que liberta o indivíduo destas categorias e conceitos, proporcionando viver em função de si mesmo e não de outros, um ser soberano e autossuficiente.

Para Stirner, também são formas de dominação as ideologias políticas, sejam estas o liberalismo, o socialismo ou o comunismo. Qualquer ideologia que tente se impor ao indivíduo, seja religiosa ou política, conservadora ou progressista, não passa da tentativa de substituir uma autoridade por outra. Para ele, Feuerbach e posteriormente Marx, estariam somente substituindo uma forma de dominação por outra. Sai a religião cristã e entra em seu lugar a humanidade, a sociedade, o proletariado. A liberdade que tais sistemas políticos e ideológicos prometem, não é verdadeira liberdade, pois envolve a subordinação do indivíduo ao bem coletivo. Deste modo, Stirner há de rejeitar qualquer tipo de coletivismo. Para Stirner a liberdade só pode ser encontrada na afirmação do “eu” sobre qualquer outra coisa, seja uma ideologia ou estrutura social.

Stirner critica o comunismo e o socialismo no tocante à tese de retirar a propriedade privada do indivíduo e dá-la ao Estado. Segundo o autor, aqui temos um resquício do idealismo já presente na religião cristã, onde predominam falsas ideias sobre o que seja a moral e a justiça. Ao dar a propriedade dos bens ao Estado, se ignora a real existência do indivíduo em prol de uma entidade abstrata. Se uma entidade abstrata como o Estado ou a sociedade possui todas as propriedades, isto significa, em verdade, que nenhum indivíduo real possui alguma coisa.

Também tece críticas quanto ao Estado e o direito a propriedade. Para Stirner a propriedade não é um direito inalienável e garantido por leis. Só é proprietário aquele que tem como defender sua propriedade e dela fazer uso. O Estado atua para suprimir o indivíduo, impondo um sistema de controle, mantendo as pessoas submissas por meio de leis e normas.

Contrário ao capitalismo e ao comunismo, não acreditava que o trabalhador fosse capaz de vender livremente sua própria mão de obra, também não acreditava na existência de direitos naturais. Defendeu que as pessoas se opusessem a qualquer forma de autoridade. Se colocou contrário ao direito de propriedade. O Estado, os direitos naturais e a propriedade privada não passam de meras ilusões. O surgimento da propriedade privada se dá pelo uso da força. A propriedade pertence a quem a toma para si e consegue defende-la de outros.

Posiciona-se contrário às teses revolucionárias, pois, estas ao quererem mudar a força a sociedade, somente buscam trocar uma situação por outra idealizada. É meramente a troca de um conjunto de ideias por outras. Defende, no entanto, a insurreição contra as ideias presentes na sociedade, o que é bem diferente de uma revolução, pois esta última ambiciona trocar uma ordem social estabelecida por outra idealizada. Ele não busca transformar, ou a modificação radical da sociedade, e sim a execução de um ato político visando não a uma organização de todos e sim de cada um egoisticamente dentro da sociedade.

Em Stirner temos uma veemente crítica ao autoritarismo presente na sociedade, nas instituições as quais também se opõe, e uma defesa do individualismo egoísta. Stirner entende ser a nossa sociedade anti-individualista, e combate isto.

Stirner entende que as pessoas são movidas por interesses e desejos egoístas. No egoísmo de Stirner, o único, que é a pessoa, se abre ao mundo para torna-lo sua propriedade. Cada pessoa é única, singular e egoísta. Este único há de se interessar por tudo aquilo que possa vir a ser sua propriedade e se juntar a outras pessoas, também únicas, com o propósito egoísta de atingir seus objetivos, o que as demais pessoas também farão. Apesar das demais pessoas também serem importantes, já que os próprios projetos por vezes dependem de outros, também únicos, se posiciona longe da ideia de um projeto libertário ideológico, seja este capitalista, comunista ou anarquista. Seu “único” se afasta de projetos também baseados na solidariedade ou compaixão.

Stirner há de propor a união de egoístas visando atingir seus objetivos individuais. Trata-se de uma associação livre que ocorra entre indivíduos visando atingir seus próprios e egoístas objetivos e não por dever ou qualquer tipo de obrigação ou princípio moral. O que move tais pessoas a se unirem é o interesse mútuo. Tais pessoas nesta união mantém sua independência e continuam a agir em benefício próprio, sem se submeterem a qualquer entidade superior e sem sacrificar seus interesses particulares em prol de interesses coletivos.

Não há necessidade de Estado, religião ou leis. As instituições são combatidas, mas Stirner defende associações egoístas. Os humanos podem se relacionar entre si sem a necessidade de leis ou dogmas religiosos para conter sua agressividade e violência. Mas do que destruição, na livre associação entre pessoas únicas e egoístas temos colaboração e ajuda mútua para atingir seus interesses, dentro da singularidade presente a cada um.

Em Stirner o indivíduo ganha predominância sobre o coletivo e sobre as instituições, passando a ser o único ser supremo, liberto de Deus e de todos os humanismos e moralismos. Um ser auto-liberto, egoísta e único, que alguns comentadores irão posteriormente identificar ou pelo menos notar semelhanças, com o “além do homem” proposto pelo filósofo Nietzsche. Temos nesta ideia de único, a liberdade absoluta do indivíduo.

O pensamento desenvolvido por Stirner põe ênfase na crítica às instituições sociais, religiosas e políticas, consideradas por ele como formas de dominação e alienação do indivíduo. Stirner apresenta em sua obra um egoísmo radical, indicando que o único ponto de partida válido para o exercício do pensamento e da ação se encontra no próprio “eu”, ou seja, o indivíduo. Deste modo, critica qualquer forma de autoridade externa ao indivíduo, o que há de incluir o Estado, a religião, a sociedade e a moralidade. Estas formas de autoridade externa são tentativas para limitar ou mesmo anular o “eu” individual. O verdadeiro “eu” se encontra na autoafirmação e na rejeição de qualquer forma de submissão, seja esta feita em relação a ideologias ou crenças ou instituições. O egoísmo não é um mal moral e sim uma necessidade natural. Stirner entende o egoísmo como sendo uma virtude que permita que se obtenha a liberdade genuína. Segundo seu pensamento, todos agem de acordo com seus próprios e egoístas desejos, mesmo ações aparentemente altruístas são, em verdade, motivadas por interesses vinculados à realização pessoal.

A religião e a moral recebem forte crítica de Stirner. A religião é entendida como sendo uma forma de alienação que tem como resultado submeter o indivíduo, o “eu”, a um poder externo. Aqui surgem as ideias de um deus todo poderoso, ou de um Estado forte, que dá no mesmo. A submissão a tais ideias abstratas subjuga o “eu”, controlando e reprimindo-o. Também a moralidade não passa de uma construção que tem como objetivo manter o indivíduo sob controle. Uma moral aos moldes de Kant, a moral do dever, aquela que há de impor deveres incondicionais, há, portanto, de receber a desaprovação e crítica veemente de Stirner. A única moral que se mostra realmente válida provém do próprio indivíduo, que a cria vinculada aos seus próprios interesses e desejos egoístas.

Segundo seu pensamento, o centro de toda reflexão e de toda realidade é o humano, não enquanto representante de uma humanidade abstrata, mas enquanto ser singular e único. Este único que é o humano se mostra como o fundamento de toda relação possível. Este único não é uma ideia abstrata e sim uma entidade real, alheia a toda e qualquer categoria externa.

O radical pensamento desenvolvido na obra de Stirner apresenta uma filosofia única que destaca o indivíduo e rejeita qualquer forma de autoridade externa a este indivíduo. Trata-se da defesa incondicional de um egoísmo consciente que atue como libertação do “eu” perante aqueles que o tentam subjugar, dominar, limitar. Diante de suas críticas cria-se um lugar de debate para o papel da liberdade, autonomia e, do “eu”, diante das normas sociais, religiosas e políticas presentes na sociedade. Em Stirner e sua obra temos profundas reflexões sobre o verdadeiro sentido e significado da individualidade e da liberdade e o que se opõe a tais possibilidades.

Desde a infância até o final de sua vida, Stirner passou por dificuldades financeiras e o grande sucesso de sua maior obra literária em nada mudou isto. Morreu no esquecimento, mas no início do século XX foi redescoberto, inicialmente por pensadores de vertente anarquista e depois pelos de orientação existencialista. Seu maior reconhecimento e valorização se dá, portanto, a partir do século XX e seu pensamento há de influenciar movimentos filosóficos e políticos, bem como, pensadores de destaque. Intelectuais que buscavam se contrapor às convenções sociais e políticas encontraram em sua obra paralelos e pontos de contato com suas próprias ideias, se identificando com sua visão radicalmente individualista, e sua crítica ao Estado, à sociedade e às ideologias coletivistas.

No início do século XX houve uma tentativa de ver influências entre o pensamento de Nietzsche e Stirner, entre o “além do homem” de Nietzsche e o homem egoísta de Stirner. Estes filósofos passaram a ser estudados em conjunto nesta época. Mas o que temos de real é que o pensamento proposto por Stirner é único como já o diz o título de seu principal livro, “O único e sua propriedade”, trata-se de um pensamento subversivo e hoje quase que completamente desconhecido do grande público.

 

PRINCIPAIS OBRAS

 

1- O Falso Princípio da Nossa Educação. Título original: Das unwahre Prinzip unserer Erziehung. Ano da primeira publicação: 1842.

Crítica ao sistema educacional de sua época, argumentando que ele não promove a verdadeira autonomia do indivíduo, mas sim uma educação focada na conformidade e na submissão a valores preestabelecidos. Stirner diferencia entre uma educação que serve ao “homem” e outra que serve ao “ser humano”, defendendo que a educação ideal deve cultivar a independência e o pensamento crítico.

2- Arte e Religião. Título original: Kunst und Religion. Ano da primeira publicação: 1842.

Breve ensaio no qual é abordada a relação entre arte e religião. Tanto a arte, como também a religião, são entendidas como formas de projeção de ideais humanos. A religião tende a colocar o sujeito em condição de submissão ao sagrado, já a arte fornece um modo de expressão individual, mas limitada por valores externos. Tanto a religião, como também a arte, podem atuar de modo a alienar o indivíduo de sua real autonomia.

3- O Único e Sua Propriedade. Título original: Der Einzige und sein Eigentum. Ano da primeira publicação: 1844.

Obra mais conhecida e famosa do autor. Crítica a religião e ao Estado, bem como, a qualquer sistema ideológico que limite a liberdade do indivíduo. É introduzida a ideia do “único”, como sendo o indivíduo livre de rótulos e ideologias, que possa viver em função de seus próprios e egoístas interesses, rejeitando todas as imposições externas. Busca uma emancipação do indivíduo de qualquer sistema de poder, autoridade ou moralidade.

4- Alguns Comentários Provisórios sobre o Estado Baseado no Amor. Título original: Einige vorläufige Bemerkungen über den Liebesstaat. Ano da primeira publicação: 1844.

Crítica irônica à ideia de um Estado baseado no amor, conceito presente em algumas das ideologias de sua época. O amor é essencial nas relações interpessoais, mais inadequado para ser a base para se organizar o Estado. Temos aqui um breve ensaio que aponta para uma ideia individualista e anti-estatal. Segundo o autor, o Estado não pode ser idealizado com características humanas.

5- História da Reação. Título original: Geschichte der Reaktion. Ano da primeira publicação: 1851 (atribuída a Stirner, mas sua autoria é contestada).

Coletânea de artigos publicados em um periódico alemão que criticava o movimento reacionário europeu após as revoluções de 1848. Historicamente foi atribuído a Stirner, mas alguns estudiosos e comentadores questionam esta autoria. Temos aqui uma crítica aos esforços conservadores para a restauração da ordem tradicional e para reprimir as ideias liberais e revolucionárias então presentes. Trata-se de uma análise crítica e irônica sobre as dinâmicas políticas presentes dentro deste contexto histórico.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Søren Kierkegaard

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Søren Kierkegaard

 

Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855) nasce em Copenhaque, na Dinamarca, e vem a falecer aos 42 anos de idade e seis meses de idade. Último dos sete filhos do segundo casamento de seu pai, um homem que havia se tornado rico por meio de seu trabalho no comércio. Do primeiro casamento, seu pai não teve filhos, vindo este a terminar em 1796 com o falecimento da sua esposa, Kirstine Nielsdatter (1756-1796), o segundo casamento se deu com Ane Sørensdatter Kierkegaard, nascida Lund  (1768-1834).

Quando seu pai falece, em agosto de 1838, Kierkegaard herda uma fortuna que lhe permite viver com tranquilidade e se dedicar totalmente aos seus escritos, além deste fato representar um marco da vida do filósofo, pois, seu pai, Michael Pedersen Kierkegaard (1756-1838), sempre foi uma figura importante em sua vida, estando presente na sua formação intelectual e espiritual e exercendo influência sobre a sua religiosidade, na qual temos um constante senso de culpa e melancolia (tanto no pai, como também no filho). De certo modo, Søren Kierkegaard herda também o fardo existencial de seu pai e isto o influencia na elaboração de sua própria obra filosófica, ao se dedicar a abordar temáticas vinculadas à mortalidade, ao sofrimento, à existência humana, ao desespero, à angústia e ao papel da fé cristã.


 

Kierkegaard ingressou no curso de Teologia na Universidade de Copenhague, tendo interrompido por um período. Após a morte do pai, retornou os estudos em Teologia e Filosofia, vindo a obter a licenciatura em 1840 e recebendo o grau de mestre em 1841, que, segundo alguns comentadores, seria hoje o equivalente ao grau de “Doutor – PhD”. Sua tese de filosofia foi “Sobre o conceito de ironia”. Kierkegaard recebeu a alcunha de “o Sócrates do norte”.

Do ano de 1837 até o ano de 1841 mantém um romance com Regina Olsen (1822-1904), por quem se vê apaixonado e correspondido, mas prefere terminar o relacionamento sem maiores explicações para a jovem por motivos de conflitos emocionais internos que envolviam dilemas entre a vida mundana e a religiosa. Em 1841, após o rompimento de seu noivado, foi a Berlim e ali participou como aluno das aulas ministradas por Schelling. Em 1855, após um ataque repentino de paralisia tido na rua, é levado ao hospital e vem a falecer pouco depois (cerca de 40 dias, nos quais esteve hospitalizado e com sua saúde piorando, mas mantendo a consciência).

É comum aos comentadores destacarem que Kierkegaard tinha uma saúde frágil (há relatos de que no final de sua vida teria desenvolvido uma tuberculose) e que o tema da morte e angústia desenvolvido em sua filosofia existencial tem em suas origens a vida que Kierkegaard viveu. Neste tocante, sempre destacam a morte de sua mãe, de seu pai e de cinco de seus irmãos (seus pais tiveram um total de 7 filhos), bem como, o término do relacionamento com Regina Olsen, mulher de quem ficara noivo, mas que resolvera romper o noivado para se dedicar a uma melhor compreensão sobre sua própria religiosidade e relação com Deus e o cristianismo.

Em seus trabalhos iniciais e no decorrer de sua vida, fez uso de distintos e diversos pseudônimos para a publicação de suas obras, para poder, deste modo, apresentar pontos de vista distintos sobre os mesmos temas e assim permitir uma discussão sobre os mesmos.

Sua obra literária e filosófica se confunde com sua biografia, sendo necessário o estudo simultâneo de sua vida e obra para melhor compreensão de suas ideias filosóficas e teológicas. No transcurso de sua vida se dedicou a escrever seu “Diário”, importantíssimo no estudo de sua filosofia.

No decorrer do século XIX ele foi praticamente ignorado fora de seu país, em todo o mundo, não exercendo qualquer influência realmente significativa. Somente a partir da década de 1920, a par com estudos alemães provenientes da teologia e filosofia, é que nosso filósofo passa a ser admirado ao redor do mundo. Há comentadores que atribuem a Kierkegaard ser o fundador do Existencialismo que eclodiu na filosofia no transcorrer do século XX. Sua obra exerceu forte influência na filosofia, teologia e psicologia contemporâneas, enfatizando a singularidade da experiência humana.

O pensamento de Kierkegaard é essencialmente religioso cristão. Em sua obra ele aborda temas tais como: o humano diante de Deus; o pecado; a salvação pela fé. Toda a sua grande produção literária tem um certo caráter pessoal e confessional, mostrando-se como uma sincera expressão de suas convicções religiosas mais íntimas. A vida cristã que o filósofo resolveu adotar para si traz, também, uma forte crítica ao cristianismo presente na Igreja luterana pietista dinamarquesa de sua época, crítica esta presente em seus escritos.

Kierkegaard não desenvolve um sistema filosófico, sendo, inclusive, tido como um pensador antissistemático. Em sua obra se opõe ao hegelianismo e se apresenta como um escritor religioso cristão.

Diante do império praticamente absoluto da influência da filosofia de Hegel em seus contemporâneos europeus, Kierkegaard mantém uma atitude filosófica de total oposição a esta razão que tudo abarca, considerando a realidade como algo singular, presente à subjetividade do indivíduo e sendo algo primário e irredutível a qualquer outra coisa, inclusive à própria razão.

Em Kierkegaard temos uma forte crítica ao sistema filosófico de Hegel, então dominante na Europa continental. Kierkegaard entende que a abordagem sistemática e totalizadora presente no sistema hegeliano tende a ignorar a verdadeira singularidade da experiência humana e a subjetividade presente no sujeito. Dentro do modelo proposto por Hegel temos uma ênfase no desenvolvimento histórico e na razão, já Kierkegaard coloca sua ênfase em questões existenciais.

Kierkegaard formulou a teoria dos três níveis de conhecimento: 1- estético, 2- ético e, 3- religioso.  O estágio estético se apresenta em três distintos modos que o subdividem, a saber: Don Juan, Fausto e Ahasverus. Em Don Juan temos a sensualidade, em Fausto a dúvida e, no judeu errante Ahasyerus temos o desespero.

No estágio estético temos a sensualidade, a dúvida e o desespero. Neste estágio (ou estádio) a pessoa vive o eterno aqui e agora em uma vida dedicada aos prazeres. É o lugar do homem sedutor, que conquista uma mulher para depois passar para a outra, sem manter compromissos duradouros. No estágio ético temos a moral, o cumprimento do dever, ser um bom marido, pai, construir uma família, ser um bom cidadão cumpridor de seus deveres legais e religiosos. No estágio religioso temos a total entrega a Deus, ultrapassando não somente o homem estético, mas também o homem ético. Se entregar a Deus é se entregar ao paradoxo, ao absurdo. É se colocar além da ética e da religiosidade exigida socialmente. Os estágios não são sucessivos e não estão vinculados à idade da pessoa (adolescência, vida adulta, velhice não há uma passagem tranquila de um estágio para outro e sim um salto de um para o outro. Entre o estágio ético e o religioso é como se a pessoa saltasse em um abismo sem fundo.

Entre os três estágios (estético, ético e religioso) há alternativas, escolhas, que podem ser sumarizadas na frase: “ou um, ou o outro”. Estando sempre presente o aspecto existencial. A existência não depende da essência. A essência, como algo ideal, é pensado e definido. Já a existência, por sua vez, não é ideal, e sim real, sendo, portanto, indefinido e, por vezes, impensável. A verdade não se encontra no puro pensamento e sim na subjetividade.

O personagem bíblico Abraão, tido como cavaleiro da fé, é mostrado como sendo um exemplo sobre como o homem no estágio religioso, o terceiro dos três estágios propostos por Kierkegaard, funda sua existência na transcendência e na confiança em Deus. Ao agir assim, como nos narra a passagem bíblica (Livro de Gênesis, capítulo 22, versículos 1 a 19), perante seu filho Isaac e perante Deus, Abraão ultrapassa as regras morais e o entendimento provindo da razão humana, dando um salto em direção à fé e ao absoluto. Este procedimento adotado por Abraão, este salto de fé, há de escandalizar a moral e a ética, bem como, também, a razão humana.

Muito importante em sua obra é a forma como trabalha os conceitos de ironia e angústia. Para a ironia se baseia no filósofo Sócrates e entende não ser possível trazer a verdade para a pessoa por meio da aprendizagem de uma dada doutrina. A busca da verdade é uma busca por uma verdade interior, subjetiva, que vincula o sujeito ao universo. Já para a angústia, entende que esta é central à existência humana e se dá sempre diante da liberdade que temos para fazer nossas escolhas. A angústia é mesmo anterior ao pecado original, pois, foi o sentimento (angústia) que antecedeu o ato praticado por Adão e Eva ao escolherem comer o fruto proibido. O real fundamento da existência humana se encontra diante da liberdade e da angústia, a liberdade que antecede e permite a escolha entre obedecer ou não a Deus e a angústia que ali também se faz presente, diante deste abismo de possibilidades que o sujeito pode, por sua escolha livre, saltar. A angústia analisada e estudada por Kierkegaard encontra sua origem na liberdade individual que nos permite, a nós humanos, exercer escolhas diante de uma realidade imanente ou transcendente.

Tanto a “angústia”, como também o “desespero” são centrais dentro da obra de Kierkegaard. Por meio de tais conceitos o filósofo aborda a condição humana em toda a complexidade presente nas experiências que circunscrevem a sua existência. A angústia é algo mais amplo e universal, que tem como foco a liberdade humana (liberdade, responsabilidade, possibilidades) e suas infinitas possibilidades de escolhas, sempre voltada para o externo ao ser (ao sujeito, a pessoa). O desespero é algo mais específico, um tipo particular de angústia voltada para o interno (identidade, dúvidas), a toda luta interna tida na pessoa.

O desespero se apresenta como uma condição existencial do ser humano, resultado da alienação em relação a sua verdadeira identidade, podendo se tornar presente de vários modos. Está presente na luta interna que ocorre entre quem a pessoa realmente é e quem a pessoa gostaria de ser. A superação do desespero se dá por meio da fé cristã, permitindo esta a religação do sujeito consigo mesmo, encontrando significado para a sua vida. Conjuntamente com a angústia, são dois sentimentos básicos a todos os humanos.

A filosofia de Kierkegaard tem como foco, também, a relação do sujeito (enquanto ser existente) com Deus. Entende que a verdadeira religião se dá enquanto experiência profundamente pessoal, íntima e autêntica, não podendo ser mediada por terceiros, sejam estes instituições (Igreja) ou dogmas religiosos.

Sua filosofia trata da liberdade, da individualidade, da fé e da condição humana enquanto ser existencial, tendo forte ênfase na subjetividade. Em sua filosofia encontramos um desafio atual para o confronto com nossa própria angustia e desespero, diante de responsabilidades, da liberdade e do significado que devemos dar a nossas vidas.

 

PRINCIPAIS OBRAS

 

1- Enten-Eller. Português: "Ou Isto ou Aquilo". Data: 1843. (2 volumes).

Coletânea de ensaios que apresentam o modo de vida “estético” (primeiro volume) e o “ético” (segundo volume). O estético apresenta uma visão hedonista da vida, já o ético uma visão pautada na responsabilidade moral. São debatidos aqui questões filosóficas e existenciais, bem como, o dilema entre a escolha de uma vida prazerosa ou uma vida voltada para o dever moral.

2- Frygt og Bæven. Português: "Temor e Tremor". Data: 1843.

O livro se baseia na histórica bíblica de Abraão quando da tentativa de sacrifício de seu filho Isaac. A fé ultrapassa a moral e a razão. Aqui é abordado o conceito de “angústia” perante decisões que se colocam além da razão e ética humana, no campo da fé e religiosidade, que nos pedem um “salto de fé”. É tratada a diferença entre a moral universal e a fé individual e como esta pode ir além das normas morais, éticas ou mesmo da razão.

3- Gjentagelsen. Português: "A Repetição". Data: 1843.

Ensaio filosófico sobre o conceito de “repetição” enquanto categoria existencial. Por meio da “repetição” pode-se recuperar o sentido e a felicidade da vida. São tratados os temas da esperança e do desespero.

4- Philosophiske Smuler. Português: "Migalhas Filosóficas". Data: 1844.

Nesta obra é tratada a relação existente entre a verdade e a fé. Qual a diferença entre conhecer a verdade por meio de ideias abstratas ou por meio da revelação Divina. O encontro com o absoluto (Deus) se dá por meio de um “salto” de fé, e não por meio da razão.

5- Begrebet Angest. Português: "O Conceito de Angústia". Data: 1844.

Exame da angústia enquanto condição fundamental para a existência humana. O autor aborda nesta obra importantes conceitos, tais como: pecado original, liberdade, angústia, escolha moral.

6- Stadier paa Livets Vej. Português: "Estádios no Caminho da Vida". Data: 1845.

Continuação da obra “Ou isto ou aquilo”. São tratados aqui os três estágios da existência humana: estético, ético e religioso. O autor argumenta que cada um destes estágios é marcado por um determinado modo de vida e que a passagem de um para o outro se dá por meio de um “salto”.

7- Afsluttende uvidenskabelig Efterskrift. Português: "Conclusão Não-Científica às Migalhas Filosóficas". Data: 1846.

Complemento a obra “Migalhas filosóficas”. Continuação da temática sobre a natureza da verdade subjetiva e o papel desempenhado pela fé cristã. Há uma crítica ao sistema filosófico de Hegel e uma defesa de que a verdade existencial se mostra sempre de modo subjetivo e vinculada a escolhas pessoais.

8- Kjerlighedens Gjerninger. Português: "As Obras do Amor". Data: 1847.

Discussão sobre o conceito cristão do “amor ao próximo” em sua vinculação com o dever de obediência a Deus. A obra tem como tema a natureza do amor altruísta e como este se diferencia do amor egoísta. Há uma discussão sobre as obrigações éticas daqueles que se consideram cristãos.

9- Sygdommen til Døden. Português: "A Doença até a Morte". Data: 1849.

Análise sobre a relação existente entre o “desespero” e o “eu”. O “desespero” recebe a definição de “doença até a morte”, na qual a pessoa se vê incapaz de reconciliar-se com sua natureza finita em relação ao infinito que é Deus. Uma discussão sobre o desespero existencial e a possibilidade de sua superação por meio da fé no Deus cristão.

10- Indøvelse i Christendom. Português: "Prática do Cristianismo". Data: 1850.

O autor trata de como seguir de modo autêntico ao Cristo, Deus encarnado, bem como, apresenta uma crítica a instituição do cristianismo, defendendo que a verdadeira fé no Deus Cristão torna necessário uma radical imitação de Cristo e que esta imitação tende a se opor aos confortos e normas de nossa sociedade atual.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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