Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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2- Blog 1 “Ser Escritor”: http://www.doutorsilverio.blogspot.com.br

3- Blog 2 “Comportamento Crítico”: http://www.doutorsilverio42.blogspot.com.br

4- Blog 3 “Uma boa idéia! Uma grande viagem!”: http://www.doutorsilverio51.blogspot.com.br

5- Blog 4 “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

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9- Página de compra dos livros de Silvério: http://www.clubedeautores.com.br/authors/82973

10- Página no You Tube: http://www.youtube.com/user/drsilverio

11- Currículo na plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/8416787875430721

12- Email: doutorsilveriooliveira@gmail.com


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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Leonardo e Renascimento (1) Os valores e o ideal de homem do Renascimento

Inscreva-se no canal e visite nosso site onde encontrará vídeos, artigos e links para página de compra de todos os livros do autor e muito mais https://doutorsilverio.com Você gostou do vídeo? Ajude-nos a continuar este trabalho. Curta e compartilhe o vídeo. Na Itália dos séculos XIV ao XVI temos o Renascimento e Humanismo onde ocorre uma total transformação social e cultural em todas as áreas do saber humano. Neste período temos Leonardo da Vinci, cuja vida e obra bem ilustra o ideal de homem do Renascimento e seus valores, valores estes que ainda podem ser adotados mesmo em nossa sociedade atual. Link para este vídeo no YouTube: https://youtu.be/pUfNwUSS6yc

sábado, 2 de novembro de 2019

Leonardo, Renascimento e Humanismo


Por: Silvério da Costa Oliveira.

Há vários momentos da história que são interessantes e deveras importantes, para mim, no entanto, um dos que entendo ser bem impactante e mesmo fascinante em sua dinâmica é o Renascimento. Este período que fica localizado entre o final da Idade Média e o início da Moderna, marcante e geograficamente definido e limitado em seu início à região que hoje é ocupada pelo país Itália mas que na época era composto por diversas cidades Estado com autonomia e independência política. Podemos dizer que nesta região isto irá ocorrer entre os séculos XIV e XVI, sendo que para os italianos, quando estes se referem ao período o fazem pela expressão “quatrocento” (século XV) ou “cinquecento” (século XVI). Este processo social surge inicialmente na região que hoje compõe mais especificamente a Toscana, onde destacam-se inicialmente as cidades de Florença e Siena. Com toda certeza, um momento único e irrepetível na história da Itália e do mundo.
Posteriormente, claro está, a influência de tudo que foi gerado nas cidades italianas se espalhou pelo restante da Europa e obteve, inclusive, características próprias originárias do somatório com a cultura dos povos locais e de outras influências presentes em tais novos ambientes.
Não há uma concordância entre os estudiosos sobre o início e o fim do Renascimento, isto em parte também se deve pelo fato de que em outros países teve um início e fim mais tardio quando comparado ao que ocorreu nas cidades italianas, além disto, fica difícil datar um fato que marque em definitivo o início ou fim desta época. Em regra, no entanto, há uma concordância por parte de todos que o século XV é onde se desenrola o principal desta fase histórica, tendo, para muitos, seu auge e também final no decorrer do século XVI. Eu particularmente fico ao lado dos historiadores que entendem que o renascimento ocupa três séculos, tendo começado no século XIV, se desenvolvido durante o século XV e se encerrado, pelo menos em território italiano, no século XVI. Aliás, penso que o termo Renascimento é melhor aplicado quando utilizado para designar o que ocorreu nas cidades italianas, o restante da Europa importou parte do que ali ocorreu, mas a força deste momento histórico esteve tão presente nas cidades italianas que por um momento a língua italiana passou a ser a língua culta internacional, do mesmo modo que hoje o inglês é a língua comercial internacional.
É um momento que gira principalmente em termos de uma elite de artistas patrocinados por mecenas, não se caracterizando como sendo um movimento de base popular, mas claro está que como tudo na vida e na história, não há como algo assim tão expressivo e fabuloso não afetar a todos e fazer com que de algum modo todos dele participem, se não por nele atuarem como principais atores, pelos menos como participantes inclusos no momento de tempo histórico, como observadores participantes e que usufruem em alguma escala do que ali é de fato criado.
Nomes como Verrocchio, Leonardo, Michelangelo e Rafael, dentre outros, marcam em definitivo o gênio individual neste período, em contraste com o momento histórico anterior, onde o indivíduo e sua aptidão artística criativa se esvanecia em meio ao coletivo do qual fazia parte. Se antes o artista não assinava sua obra, agora este a assina e aqui temos o individualismo presente na valorização da pessoa humana no que ela faz de único e que a diferencia das demais pessoas.
Eu entendo que o que podemos aprender e levar desta época histórica para a nossa são os valores. Os valores então adotados no Renascimento seriam importantes mesmo hoje em dia, onde cada sociedade ou grupo social, ou mesmo ao nível individual, possa utilizar de tal balizamento em valores, ambições, metas e desejos, para seu próprio renascimento cultural. Os renascentistas até que não foram muito criativos, apesar de termos grandes contribuições inovadoras neste período, pois, diante de tanta informação nova provinda da antiguidade clássica, tanta coisa nova para aprender e tornar parte da vida e do tempo destas pessoas, pouco sobra para algo novo, já que tudo é novo, diante do dilúvio como encher um copo d’água na bica?
Podemos entender o Renascimento como um movimento histórico-social que marca justamente este renascer cultural amplo e em particular das artes clássicas.
Um período histórico que por vezes é chamado de Renascimento, bem como Renascença ou Renascentismo. Este período nos traz profundas mudanças e transformações em todos os setores da sociedade e da cultura, abrangendo a esfera social, política, econômica, científica, artística, literária, religiosa e filosófica. Nele temos transformações presentes em todos os campos do saber e do viver.
Trata-se de um momento de transição entre de um lado o feudalismo então reinante e do outro o capitalismo que começava a surgir no horizonte social. É o fim da Idade Média com todas as estruturas sociais que a caracterizaram no Ocidente e o surgimento da Idade Moderna. Apesar disto tudo, o termo popularmente ficou mais associado a mudanças profundas ocorridas em campos específicos do saber humano: artes, filosofia e ciências em geral.
Para que possa ficar mais claro e esquemático, entendamos que o Renascimento é um período histórico do Ocidente onde temos presente os seguintes importantes elementos:
Retorno a antiguidade clássica;
Marcado por crise envolvendo o conjunto então reinante de crenças e idéias anteriormente aceitas;
Desenvolvimento do conceito de individualidade;
Conceber o Estado como uma obra de arte;
Descobrimento de novos fatos e idéias;
Ampliação dos limites geográfico e histórico;
Desenvolvimento de novas idéias sobre o mundo e o papel do ser humano;
Confiança na capacidade de adquirir no conhecimento o domínio sobre a natureza;
Ceticismo;
Misticismo;
Exercício da crítica;
Etc.
De fato, trata-se de um momento histórico de transição entre a Idade Média e a Moderna, por conseguinte, apresenta diversas correntes e idéias por vezes conflitivas, não sendo possível apontar uma única direção por onde tal momento histórico seguiu e se pautou.
Cabe lembrar e mesmo afirmar que todo o pensamento dito moderno tem início com o Renascimento italiano.
Os textos clássicos são lidos e estudados não mais com a intenção de acomodá-los à tradição religiosa, e sim numa tentativa de descobrir o que o próprio texto diz e seus significados originais, deste modo, temos também presente o estudo do latim e do grego e uma nova importância dada ao conhecimento destas línguas no seu uso mais correto. Temos aqui neste período uma orientação toda voltada para a antiguidade clássica.
Se antes tínhamos um teocentrismo, onde Deus era entendido como o princípio e fim de todos os demais seres finitos, agora temos o humano no centro de tudo, havendo um afastamento da idéia do teocentrismo e da própria unidade da cristandade, esta ênfase colocada no ser humano, como centro de todos os estudos nos traz o surgimento de um antropocentrismo.
Predomina o naturalismo, onde no meio da liberdade de novas doutrinas e pensamentos então reinantes, temos que não há uma submissão do todo a uma regra transcendente e sim uma busca pela imanência das coisas na natureza. Esta valorização da natureza e da experiência é que irá direcionar vários renascentistas famosos, dentre eles nosso Leonardo, a se dedicarem seriamente ao estudo de anatomia, dissecando cadáveres para estudar como se dá a postura e movimento do corpo a partir de seus músculos, órgãos internos e ossos, proporcionando posições mais reais a obras de arte tais como as esculturas e pinturas de pessoas.
Para os bizantinos em Constantinopla (capital do império bizantino), Deus era o centro e significado de tudo, mas com a queda da cidade (1453) e sua tomada pelos turcos, o polo principal de nossa civilização mudou-se para a Itália e a idéia motriz do pensamento então reinante também mudou, de Deus para o homem. Era o início do humanismo.
Renascimento e humanismo são momentos socioculturais e artísticos heterogêneos. Não há como falar em um único humanismo ou renascimento e sim em uma pluralidade dos mesmos.
Há diversas correntes e formas de apresentação do que venha a ser o humanismo, bem como sua presença na Idade Média, no Renascimento e na Idade Moderna. Há hoje os que veem o humanismo dentro de uma concepção de mundo liberal capitalista e outros que veem o humanismo dentro de uma abordagem marxista. Ou seja, não há um consenso sobre o que seja e o campo abarcado pelo humanismo. Desde o estudo de grego e latim somado a disciplinas provenientes da Antiguidade clássica, até uma maior valorização do ser humano, colocando-o no centro de nossa história, temos abordagens que variam diametralmente de um pensador/estudioso para outro.
A problemática central do humanismo é o homem. O Renascimento e o Humanismo vêm ambos a se caracterizarem como um momento de oposição a escolástica e de confiança na natureza e nas forças do homem, bem como de uma atitude ativa diante da vida. O homem passa a ocupar o centro do mundo.
O Renascimento italiano nos traz uma explosão de novas idéias e saberes, um retorno e redescoberta de autores clássicos da Antiguidade greco-romana, a substituição do transcendental pelo natural, a valorização não do homem meramente especulativo, mas do homem de ação que pela sua atuação se compromete com a mudança real do mundo que o circunda. Há alguns homens que marcaram profundamente esta época histórica e que são excelentes representantes do ideal de homem então buscado, dentre os quais, com certeza, cabe identificar e nomear a Leonardo, que inquestionavelmente muito bem veio a representar pela sua vida e obra o ideal contido neste período histórico-cultural.
Leonardo da Vinci (1452-1519), pintor, escultor, músico, arquiteto, engenheiro, anatomista, físico, matemático, astrônomo, mecânico, cientista, inventor, botânico, poeta, adotou a filosofia natural e é o precursor da aviação, da balística e de outros campos do saber. Sem dúvida alguma um polímata, ou seja, alguém que possui proficiência em vários campos distintos do saber. Leonardo apresenta um conjunto de idéias filosóficas e pode ser visto como um dos precursores da ciência moderna. Ter amplos conhecimentos perpassando diversas e distintas áreas do saber humano também era um dos ideais do homem do Renascimento, daí o fato histórico de Leonardo ser polímata vir a colocá-lo mais ainda em consonância com o espírito então da época.


Leonardo nasceu em 15 de abril de 1452 na região de Toscana, Itália, no vilarejo de Anchiano, pertencente a República de Florença, mas especificamente na comuna(1) de Vinci, no Vale do Arno, donde o “da Vinci”, que segue o seu nome, referência ao lugar de seu nascimento e não a um suposto sobrenome familiar, e faleceu aos 67 anos de idade em 2 de maio de 1519 no Reino de França (Amboise). A época em que viveu e exerceu suas atividades é considerada por alguns estudiosos como sendo o alto renascimento. Trabalhou em Florença, Milão, Veneza, Roma, Bolonha e França, além de ter percorrido outras cidades italianas. Durante boa parte de sua vida trabalhou em Milão (1482-1499) para o então Duque Ludovico Sforza, posteriormente à ocupação francesa saiu para Mântua, Veneza e novamente Florença. Em 1506 retorna a Milão onde é muito bem recebido pelos franceses e onde fica até a saída dos franceses em 1512, receando que algo pudesse lhe acontecer, sai novamente de Milão e segue para Roma, onde fica até 1515. Veio a falecer na França de Francisco I em casa lhe presenteada pelo rei.

Mais conhecido hoje como pintor, cerca de 15 pinturas ainda existem em nossos dias, das quais podemos citar a Mona Lisa, a Dama com Arminho, La Belle Ferronière, Retrato de um Músico, a Última Ceia e a Virgem dos Rochedos. Cabe destaque também ao famoso desenho: O Homem Vitruviano. Nos seus cadernos de anotações temos desenhos, diagramas, pensamentos. Deixou-nos mais de 13 mil páginas escritas que hoje estão divididas formando diversos códex (livros).
Há hoje uma certa polêmica com relação a sexualidade de Leonardo(2), no entanto, um homem com tantos interesses e tão diversos, uma multiplicidade de interesses distintos, tornando-o conhecido em diversas áreas do saber que nos permitem usar sem receio o termo “gênio” para descrevê-lo, que com autorização dos governantes locais passava noites e madrugadas acompanhado de cadáveres que dissecava em seus estudos de anatomia ricamente documentados por inúmeros desenhos de sua autoria das mais distintas partes do corpo humano, um homem perfeccionista que por vezes demorava a entregar trabalhos prometidos em virtude de sua busca da perfeição e que por isto deixou várias obras inacabadas, um Leonardo tão absorto totalmente no trabalho, me parece mais alguém que não tenha interesse sexual seja por homens ou por mulheres. O que não é algo raro de se observar quando toda a energia de vida de alguém está totalmente comprometida com seu trabalho, sua produção, sua criação. No tocante a opinião de Leonardo sobre a sexualidade, em suas próprias palavras retiradas de suas anotações: "O ato da procriação e tudo com ele relacionado é tão nojento que a raça humana rapidamente desapareceria se não existissem caras bonitas e inclinações sensuais".
Leonardo durante sua vida profissional manteve a crença na busca, experimentação e investigação o que também é percebido quando observamos como já dissemos acima, que ele dissecava cadáveres nos seus estudos de anatomia, elaborando lindos e detalhados desenhos sobre as mais diversas partes internas do corpo humano. Se sua obra baseada nos estudos de cadáveres fosse publicada teria revolucionado o estudo de anatomia. Cabe destacar também que seu mestre em Florença foi o renomado artista e pintor Andrea Verrocchio.



Leonardo com certeza é um gênio em busca da perfeição em tudo o que faz e um grande artista que marca e bem representa o período histórico que denominamos por Renascença, este espaço entre de um lado a Idade Média que se vai e a Idade Moderna que se aproxima. Dentre tantos, Leonardo é com certeza um dos mais fiéis representantes do movimento renascentista, sendo sua vida e valores por ele adotados a expressão do ideal de sua época e talvez seja por isto que ele nos impressione até hoje, gerando uma infinidade de livros, romances, filmes e diversas outras obras que acompanham nossa cultura formal e popular. Quadros por Leonardo pintados ou desenhos por ele feitos são inumeramente reproduzidos em camisas e outros objetos, bem como em paredes ou jornais, por vezes de modo fiel ao original e por vezes de modo satírico, mas sempre presente como parte de um mistério a ser decifrado.
Pensando em nossa sociedade contemporânea e no total de desconhecimento presente a maioria de nós sobre nossas próprias origens históricas e filosóficas, imagino o quanto que cada um de nós individualmente ou a sociedade como um todo não possa vir a se beneficiar de um novo renascimento, não voltado somente para a antiguidade esquecida, mas sim para toda a cultura perdida na falsa intimidade de uma simplificação obscena que diariamente nos é dada como restos do que já fomos e, meramente talvez, esperança do que um dia nossa sociedade possa vir a ser.
A vida de Leonardo e sua obra quando comparada a situações que vivemos hoje nos fazem pensar na atual dualidade entre o descartável e o perene. Nem tudo pode ser visto e criado para ser meramente descartável e jogado fora ou substituído pelo novo modismo que venha a surgir, há necessidade de aprendermos ou reaprendermos o caráter imutável e eterno de certas produções. Criar uma vida, família, sociedade, cidade ou outra obra humana deve por vezes ser entendido como algo que deva mostrar a nossa perfeição em sua própria essência para que as gerações futuras possam admirar, invejar e recriar.

Silvério da Costa Oliveira.

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Notas:
(1)   cidade – Equivalente no Brasil a um município ou cidade, trata-se na Itália de uma unidade básica de organização do território
(2)   Vou tomar a liberdade aqui de fazer uma pequena nota, em virtude de diversos comentários absurdos com os quais tomei contato. Há os que tentam deturpar a história encontrando em personagens do passado lutadores por causas contemporâneas das quais estes não tinham sequer idéia ou conceito. Infelizmente e sem base em fatos históricos narrativas são construídas e defendidas ferozmente contra qualquer um que possa pô-las em dúvida. Devo frisar que o termo homossexual ou homossexualismo tem uma origem na clínica psiquiátrica e em um modo de ver o homossexualismo como doença, o que já era para a época algo revolucionário, pois, anteriormente era tal comportamento visto em geral como crime ou pecado e também que o surgimento deste termo se dá na segunda metade do século XIX (por volta de 1870), não sendo correto usar o mesmo para se referir a um período histórico anterior. Já o termo gay, apesar de ter origem bem mais antiga, com o atual significado passou a ser empregado na segunda metade do século XX, ganhando maior destaque e ampliação por volta do final do século, também entendo não ser correto sua aplicação para antes desta época.  Apesar das lutas políticas sexuais contemporâneas em prol de uma ou outra orientação ou direcionamento, penso que o número de pessoas assexuais, que não se interessam por qualquer sexo, tem sido enormemente subestimado. Acrescentaria ainda que, mesmo não sendo correto transpor um conceito contemporâneo para uma época anterior a sua criação, relacionamentos afetivo-sexuais de adultos com crianças ou adolescentes ou mesmo somente o desejo e excitação por tal, recebe o nome de pedofilia e é considerado uma doença e mesmo crime de acordo com a legislação do país.

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Blog “Comportamento Crítico”:
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sábado, 21 de setembro de 2019

Doutor Silvério fala sobre René Descartes 2- regras do método


Inscreva-se no canal e visite nosso site onde encontrará vídeos, artigos e links para página de compra de todos os livros do autor e muito mais https://doutorsilverio.com Você gostou do vídeo? Ajude-nos a continuar este trabalho. Curta e compartilhe o vídeo. As quatro regras do método proposto pelo filósofo René Descartes são aqui explicadas. 1- evidência; 2- análise; 3- ordem; 4- enumeração. A filosofia de Descartes nos propõe um método para alcançar o conhecimento verdadeiro, um caminho para a busca da verdade. Link para este vídeo no YouTube: https://youtu.be/FT9vFPK9u4s

sábado, 7 de setembro de 2019

Quem é este tal de Maquiavel? Um enigma a decifrar ou indecifrável?


Por: Silvério da Costa Oliveira

“Não digo jamais aquilo em que creio, nem creio naquilo que digo” N. Machiavelli.

Machiavelli é um autor complexo e cujo pensamento ainda se faz atual e presente em nossos dias e naqueles que governam o Estado. Procurar entender este autor é simultaneamente entender a conjuntura política moderna e os erros e acertos dos povos e países diante na necessidade de manter sua soberania e independência perante outras nações. Conflitos cotidianos no grande palco onde atuam as nações, podem ser melhor entendidos e explicados pelo entendimento do pensamento deste autor.

 Nascido na cidade Estado de Florença, Itália, Niccolò di Bernardo Machiavelli (1469-1527) em bom italiano ou como se convencionou a chamá-lo em nossas terras, Nicolau Maquiavel, filósofo Renascentista, trata em seu livro “O princípe”, de modo realista o tema da política de Estado, como se dão de fato as relações entre aqueles que detem o poder soberano de um Estado / nação, e não como deveria se dar em um mundo ideal. Mas com certeza, se perguntássemos ao autor qual a sua obra máxima, dificilmente este livro seria citado como tal. Muito mais importantes para o autor seriam obras nas quais dedicara muito mais tempo e atenção. Cabe citar, não somente “O príncipe”, escrito em 1513, (mas tendo publicação póstuma em 1531 Roma / 1532), mas também: “A mandrágora” (1518), “Discurso sobre a primeira década de Tito Livio”, escrito de 1513 a 1521 (publicado em Roma em 1531), “História de Florença”, escrito de 1521 a 1525 (publicado em Roma em 1532), “Diálogos sobre “Da arte da guerra” (1521), dentre outros de seus escritos.
Machiavelli é um pensador italiano que marca o período conhecido como Renascimento. Tendo nascido em 3 de maio de 1469, veio a falecer em 21 de junho de 1527, então com 58 anos de idade. Seu livro hoje mais falado e conhecido pela grande massa, “O principe”, foi a sua época bastante polêmico e o continua a ser ainda hoje, tendo sido incluido na lista de livros proibidos pela Igreja Católica, Index librorum prohibitorum, no ano de 1559.
Baruch de Spinoza (1632-1677) e também Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) defenderam que Maquiavel ao propor dar aulas aos soberanos, na verdade, esclarecia a todos o modo de atuação dos mesmos, mostrando como o poder se dava e perpetuava nos governos, o que, aliás, independente da intenção de Machiavelli ser de fato esta ou não, teve o mesmo resultado, pois, serviu de alerta a todos que lessem e estudassem sua obra sobre as práticas reinantes junto àqueles que governavam e o que ainda é válido até os presentes dias. Não havia e nunca houve de fato, necessidade alguma de um estudioso escrever um livro manual visando ensinar aos governantes as práticas por estes adotadas e nem sempre confessadas, pois estes as sabem bem e aprendem entre os que governam. A única utilidade para uma obra realista como o livro “O principe” é ensinar àqueles que não tem uma convivência intima com o poder de Estado, mesmo que sejam pessoas eruditas e cultas.
Machiavelli nos apresenta uma filosofia política realista e não idealista. Ler Machiavelli é estar diante do fundador da filosofia política moderna. Estudar a política tal como ela é e não como deveria ser.
A filosofia política de Machiavelli desce dos céus para a terra, cuidando das coisas reais e mundanas de nosso dia a dia. Propõe um retorno à origem histórica da Itália, a história antiga há de direcionar o movimento presente para o futuro onde se encontra a unificação da Itália.
O livro “O principe” nos traz, portanto, um realismo político e um objetivo final implicito que seria a formação de um governo com um homem forte que permitisse por sua virtude a unificação da Itália.
Além de escrever o livro “O príncipe” a partir de uma concepção extremamente realista sobre o uso do poder por parte dos governantes, afastando de si uma visão idealista ou moralmemente desejável e se atendo a coisa política tal como ela é e se apresenta, podemos aferir de Machiavelli que este foi uma pessoa atenta ao que de fato acontecia e aos porques envolvidos na política de sua época. Com certeza inegável, Machiavelli foi um bom observador e que conseguiu por numa narrativa coerente e cativante para o imaginário social que a ele se seguiu, o somatório de suas experiências em sua vida e trabalho e suas observações sobre a realidade que tinha ao seu redor. Realista, sempre realista, doa a quem doer, gostem ou não, gritem pela moral e o acusem de demonização da política, de fato não importa, ele não é um idealista.
Na verdade, a moral cristã de sua época e mesmo os representantes da cristandade, a começar pelo papa, enquanto autoridade máxima na Igreja, não traziam nenhuma referência de virtude e o que é dito sobre como governar na obra “O príncipe” também se aplica ao governo de Roma pelo papa, na época vivida por Machiavelli. Poderíamos mesmo dizer que o exposto na obra “O principe” não pode se contrapor a moral cristã e sim, talvez, a uma faceta da mesma. Confusão demoníaca para alguns autores que partem de um olhar religioso cristão que por si só já deturpa o pensamento original de Machiavelli e esquece que a Igreja real e não ficticia ou ideal, é ela mesma parte integrante da forma de governar narrada, observada e explicada pelo autor na obra “O principe”, em verdade, o reino de Deus na Terra, tendo como exemplo o papado naquele momento histórico, não está em oposição de modo algum a esta obra, tendo, inclusive, acolhido-a bem e favorecido sua publicação em Roma em 1531, após a morte do autor, só se manifestando contrária a mesma anos depois.
Muitos citam equivocadamente como frase de Machiavelli “Os fins justificam os meios”, mas este nunca escreveu tal frase, se bem que possamos entender que um fim nobre em particular estaria presente nas ações do príncipe, que seria a unificação da Itália, no entanto, não há razão para que as ações do principe sejam em si justificadas por qualquer outra coisa. Não há necessidade de uma justificação moral para tais ações. A moral e política são campos distintos de atuação, podendo, inclusive, o governante usar para si da religião dentro dos interesses do Estado, mas não deve este se subordinar a qualquer ditame moral religioso que esta possa prescrever, pois, o soberano representa o Estado e como tal não pode ser compreendido como uma mera pessoa individual. O que vale para uma pessoa comum não vale para alguém que é o Estado.
A frase que equivocadamente foi traduzida como sendo “os fins justificam os meios” seria mais corretamente expressada como “toda ação é designada em termos do fim que procura atingir”, apresentando um significado totalmente distinto, uma vez que seguindo-se o pensamento de Machiavelli, não haveria qualquer necessidade de justificação de uma ação por um prisma moral ou religioso. Os meios não precisam em qualquer momento serem justificados, os mesmos devem unicamente serem vistos como etapas objetivando de modo racional e planejado a obtenção de uma determinada situação desejada. Mais correto seria atribuir esta frase, não a Machiavelli e sim a um de seus críticos, na Itália já no século XIX, Francisco de Sanctis. Por sua vez, o termo “maquiavélico”, e seus significados, representa uma distorção do pensamento de Machiavelli.
É importante buscar o entendimento da obra de Machiavelli dentro do contexto histórico no qual o autor está inserido, apesar de bem atual e facilmente adaptado para ser aplicado a realidade de nossos dias, tal obra é fruto da observação de Machiavelli sobre os fenômenos sociais e políticos de sua época. Machiavelli aprendeu fazendo, participando ativamente da política de sua cidade Estado, Florença. Por 14 anos trabalhou na segunda chanchelaria visitando diplomaticamente outros governos e países em nome de sua cidade. O pensamento de Machiavelli é uma observação apurada e analítica, por baixo das meras aparências humanas e sociais, buscando não o que deveria ser em um mundo ideal, mas sim o que de fato é, queiramos ou não acreditar. Ele não propõe um governo ideal, mas nos fala em como de fato é a estrutura de um governo e quais os mecanismos que permitem chegar ao poder e nele se manter.
O ideal nobre e bem radical proposto por Machiavelli é a re-unificação da Itália, formando um país, pois em sua época a península italiana estava dividida em cidades estados com governos independentes. Podemos afirmar que Machiavelli é um republicano pragmático que prioriza a unificação da Itália, acreditando que para tal empreitada será necessário uma pessoa politicamente forte.
Para Machiavelli a moralidade de um Estado não é a mesma de um indivíduo. Honrar compromissos e manter a palavra empregada independente das condições vigentes são recomendações morais que se aplicam ao individuo e não, jamais, ao Estado. O homem a frente de um governo, representando um Estado soberano, não pode se ater a uma moral cristã individual.
É melhor ser temido ou amado? Eis uma pergunta importante a qual Machiavelli confere uma resposta pertinente e adequada, voltada, claro está, para a figura do principe enquanto soberano de um Estado. A resposta dada é que de preferência os dois, mas se só puder um, vale mais ser temido, pois os homens esquecem rapidamente do bem que recebem, mas não do que temem. Ser amado é bom, ser temido é essencial e ser odiado é algo que jamais deve acontecer.
O cerne da postura filosófica de Machiavelli sobre o Estado e suas relações com outros Estados, inclusive a guerra, é a composição da força com a astúcia, o leão com a raposa. O principe precisa ser forte que nem o leão e esperto que nem a raposa.
O principe é um verdadeiro manual sobre como obter e manter o poder de Estado, um tratado político sobre a realidade histórica e presencial das relações dos atores no campo político.
É muito mais difícil manter do que conquistar o poder.


Machiavelli nos alerta acertadamente que uma república ou principado necessita de um exército bem armado e composto pelos cidadãos do país para garantir sua liberdade e soberania. Confiar em exércitos mercenários ou na ajuda de outros países ao invés de ter condições de se defender por si só é um engano que levará a perda da independência e soberania. Também nos fala sobre a importância das armas e que sem estas, meras ideias não terão como prevalecer, pois, não haveria uma constância na natureza dos povos, sendo fácil persuadi-los de algo e difícil mantê-los nesta direção, daí a necessidade de quando a crença cessar, ter como persuadi-los pela força. No capítulo VI do livro “O principe” Machiavelli não somente afirma isto, como também nos diz que “todos os profetas armados venceram e os desarmados pereceram”.
Segundo Machiavelli, a virtude é a capacidade de prever e se preparar para possíveis acontecimentos futuros de modo a poder confrontar com êxito a fortuna. Já a fortuna é vista por Machiavelli como uma deusa feminina vinculada a ocorrências de coisas boas ou ruins.
Segundo Machiavelli a natureza do ser humano não pode ser vista naturalmente como boa ou má, podendo ser simultaneamente ambas, se bem que em geral predomine o lado mau, deste modo, para o governante é mister que trate o ser humano como sendo sempre mau e assim proceda ao governar.
Quando se chega ao poder deve-se fazer todo o mal necessário de uma única vez, evitando por tal meio tornar a repetir tais feitos, proporcionando futura segurança ao povo, por sua vez, os benefícios devem ser dados aos poucos durante todo o tempo, para que as pessoas lembrem constantemente da benesses e possam esquecer no passado as perseguições que um dia sofreram.
Não podemos esquecer diante da leitura de Machiavelli, que no capítulo final de seu livro “O príncipe”, capítulo 26, este faz uma exortação pela tomada da Itália, sua unificação pela força das armas se necessário, para que a mesma seja libertada do mando de outros povos e governantes estrangeiros. Neste capítulo fica claro a qual fim nobre se direciona o objetivo deste livro e o patriotismo do autor que vislumbra a construção de uma grande Itália e não mais de somente cidades Estados independentes entre si. Também cabe lembrar que apesar deste livro ter entrado para a história como se chamando “O principe”, em verdade este não é o título dado pelo autor, e sim, o mais correto seria “Dos principados”, informando que trataria não de repúblicas, mas sim deste outro tipo de governo.
Penso que seria de fato, deveras interessante, que todo aquele que quisesse honestamente conhecer o pensamento de Machiavelli viesse a estudar toda a sua obra e não apenas um único livro e quando diante de seu livro mais famoso, “O príncipe” (“Dos principados”), começasse a leitura não pelo primeiro capítulo da obra e sim pelo capítulo 15 e depois pelo último, o capítulo 26, pois no primeiro temos Machiavelli nos dizendo que pretente ser extremamente realista e fugir de meras fantasias irreais e no último temos seu desejo e meta de uma Itália unificada, objetivo nobre presente em um autor patriota.
Por fim, convido o leitor a pensar sobre a realidade de nossos noticiarios no tocante as relações internacionais para deste modo observar o quanto este autor está de fato presente em nossa época. Peguemos, por exemplo, a necessidade de um exército próprio para garantir sua soberaria, independência e liberdade e imaginemos por um momento apenas se no passado Hong Kong tivesse desenvolvido suas próprias forças armadas, quando ainda participava do Reino Unido, usando de uma desculpa ou subterfúgio qualquer adequado para a ocasião e a guerra fria que então ocorria. Ou se a Coreia do Norte não tivesse investido decididamente em suas forças armadas, mesmo as custas do povo, como este país se poria frente a China e aos EUA. E só dei um exemplo diante de uma única faceta do pensamento deste autor, procuremos, portanto, aplicar seu pensamento no dia a dia que hoje contemplamos.

Silvério da Costa Oliveira.

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Blog “Comportamento Crítico”:
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(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Doutor Silvério fala sobre Maquiavel 1- O pensamento político de Maquiavel


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Machiavelli (Maquiavel) é um importante filósofo italiano que teorizou sobre política de Estado na Renascença. Sua obra mais conhecida é “Dos principados” ou “O príncipe”, mas também é autor de outras obras importantes, tais como, “A mandrágora”, “Discurso sobre a primeira década de Tito Livio”, “História de Florença”, “Da arte da guerra”. O pensamento de Maquiavel se aplica ainda hoje na política feita pelos Estados soberanos e os detentores do poder. Conhecer Maquiavel é saber como de fato somos governados. Este vídeo se propõe a esclarecer o pensamento de Machiavelli e alguns de seus temas fundamentais. Virtude e fortuna, a necessidade do príncipe ser a um mesmo tempo forte que nem o leão e esperto que nem a raposa, o erro contido na frase “os fins justificam os meios”, a separação entre moral e política. É melhor para o príncipe ser temido ou amado?
Link para este vídeo no YouTube: https://youtu.be/_RCcQDPIql4

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Livros no site

Meus livros estão a venda na Internet (Clube de Autores, Amazon, Saraiva, Kobo, Cultura, e outros), links para a página de compra da editora, além de links para textos e artigos, vídeos e material de filosofia e outros temas no meu site: https://www.doutorsilverio.com

Silvério da Costa Oliveira.

domingo, 12 de maio de 2019

Doutor Silvério fala sobre René Descartes: 1- A autoridade da razão

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René Descartes é um importante filósofo do século XVII. Na filosofia deixou grandes contribuições presentes em seus livros: Discurso do método; Meditações metafísicas; Princípios de filosofia. É considerado o criador da Escola de filosofia intitulada Racionalismo, em oposição ao Empirismo. É dele a frase "cogito ergo sum" ou "penso logo sou", por vezes traduzida como "penso, logo existo". Neste vídeo temos uma visão geral de seu pensamento filosófico e suas principais contribuições.
Link para este vídeo no YouTube: https://youtu.be/pda0mcBOuaw

sábado, 27 de abril de 2019

O filósofo René Descartes, ou, se o preferirem: “Diretora, por favor, o professor Silvério está falando sobre o Capeta em sala de aula”


Por: Silvério da Costa Oliveira.

Hoje, quando escrevo estas linhas, já faz cerca de 11 anos nos quais trabalho na área de segurança pública, antes disto trabalhei por outros cerca de 10 anos na área da educação, atuando como professor universitário e lecionando disciplinas dentro de minhas áreas de formação acadêmica. Foi durante uma destas aulas que um fato pitoresco ocorreu e que me marcou negativamente, levando ao aumento de minha decepção com o ensino universitário brasileiro e servindo como mais uma gota no copo d’água que um dia faria com que me afastasse para respirar outros ares.
Conto como se deu o fato inusitado e que de certa forma motiva-me hoje a escrever este artigo sobre o filósofo René Descartes. Certo dia chegava eu na faculdade para lecionar uma disciplina para o curso noturno de pedagogia quando ao entrar na instituição a coordenadora me chamou a sua sala para conversarmos sobre algo supostamente sério e que ela tinha um certo constrangimento de comigo abordar. Após algumas delongas, ouvi sentado em frente a mesa da coordenadora que durante minha aula anterior, duas alunas, em verdade, duas senhoras que não faziam questão de esconder seu credo religioso, cristão evangélico, vieram a esta mesma sala se queixar a coordenadora que, segundo elas e conforme a coordenadora meio sem jeito e constrangida me disse: “O professor Silvério estava falando do Capeta em sala de aula”. Claro que fiquei confuso e não me lembrei desta situação, se bem que reconhecia que alguma coisa, fosse lá o que fosse, havia motivado as duas senhoras a se queixarem de mim na coordenação da faculdade. Bem, eu sempre segui rigorosamente os programas das disciplinas, mesmo quando não concordava com os mesmos e também devo confessar que o termo “capeta” não faz parte do meu discurso, não sendo palavra que eu use. Mistério. Pensei, pensei, de onde, ora infernos, saiu este capeta?
Depois de examinar o programa e a ementa da disciplina, bem como o diário de classe para lembrar qual fora o tema desta aula em particular, consegui desvendar o mistério que até este momento se mostrava insondável. Era uma aula sobre o filósofo francês René Descartes (1596-1650) e neste momento lembrei-me de que quando explicava sobre o conceito filosófico cartesiano do “gênio maligno”, duas senhoras que estavam sentadas a frente se levantaram resmungando e saíram de sala. Pensei que elas tinham ido ao banheiro ou algo semelhante, mas elas foram aliviar suas necessidades em outro lugar. Portanto, em homenagem a estes alunos, não importando de qual curso sejam, eis aí meu artigo sobre este importante filósofo.


René Descartes nasceu em 31 de março de 1596 na França e faleceu aos 53 anos de idade em 11 de fevereiro de 1650 em Estocolmo, Suécia, em virtude de ter contraído uma pneumonia. Acredita-se que sua doença em parte decorreu da mudança drástica de hábitos. Acostumado a um clima mais ameno, mudou-se para o clima frio da Suécia atendendo o pedido da rainha Cristina, após muita insistência e diversos pedidos anteriores polidamente recusados ou adiados. A rainha desejava aprender filosofia tendo a Descartes como professor, mas propôs a este um horário bem incômodo para um homem acostumado a acordar todos os dias por volta de meio-dia, ela queria suas aulas às cinco da manhã. Este horário ao qual Descartes não estava acostumado, bem como o frio intenso, são tidos como fatores que atuaram no desenvolvimento da pneumonia que o matou 10 dias após tê-la contraído.
Nascido em família da baixa nobreza francesa, aos oito anos de idade, em 1604, foi encaminhado ao colégio jesuíta La Flexa, em Anjou, onde fica por quase dez anos, saindo no ano de 1614. Para atender a desejo de seu pai, cursou por dois anos Direito na universidade de Poitier. Formou-se em 1616, mas não seguiu a profissão.
Dentre os dados biográficos deste autor, um em particular, um tanto estranho ou bizarro, merece algum destaque em virtude das diversas interpretações possíveis. Na noite de 10 para 11 de novembro de 1619, então com 23 anos de idade, Descartes tem os seus três famosos sonhos, cuja importância ele atribui nada menos que sua missão na vida, ou seja, desenvolver os fundamentos de uma ciência que unificaria o conhecimento humano.
Dentre os livros que escreveu, destaque deve ser dado a três que expressam suas idéias filosóficas que nos acompanham até a presente data, mesmo que outros escritos tenham ficado obsoletos com o passar dos anos, é inegável a atual importância do conjunto das idéias contidas nestes livros para a nossa sociedade contemporânea. Refiro-me a 1- Discurso do método (1637), destinado a todos, ao vulgo e não aos doutos, e por isto mesmo escrito e publicado em francês e não na língua culta da época que era o latim; 2- Meditações metafísicas (1641 em latim, e 1642 em francês), destinado aos teólogos e sua mais importante obra; 3- Princípios de filosofia (1644), livro 1, destinada aos físicos. Nestes três trabalhos Descartes expõe o seu método.
Descartes ocupa, historicamente, um lugar central entre os filósofos do século XVII, marcando profundamente a partir do seu século tudo que depois sucedeu. Além de filósofo e físico, ele é um grande matemático, sendo o criador da geometria analítica. Ele é o primeiro pensador a romper com a escolástica a partir do livre exame pela razão humana. Uma novidade em Descartes para sua época é priorizar a autoridade da razão sobre qualquer outra. O trabalho filosófico de Descartes deve ser entendido como a busca de um método correto para encontrar a verdade e evitar os erros, algo que nos permita saber distinguir o verdadeiro do falso. Ele hoje em dia é considerado o pai do Racionalismo moderno. Descartes também é considerado o primeiro filósofo moderno, pela importância que dá ao “eu”, ao sujeito do conhecimento.
A autoridade da razão pode ser algo comum aos dias atuais, mas na época de Descartes não era, estando em oposição a autoridade religiosa eclesiástica e sendo que seus contemporâneos acreditavam que a segunda era a que deveria ser levada em conta nos mais distintos assuntos.
Segundo Descartes, a ciência pode ser comparada a uma árvore e nesta metáfora, a raiz é a metafísica, o tronco a física e os galhos são os ramos da ciência, sendo os três principais, a mecânica, a medicina e a moral, que por sua vez se relacionam com as três aplicações do conhecimento humano, a saber: o mundo externo, o corpo humano e a conduta em sociedade.
Na filosofia Descartes irá contribuir com uma abordagem nova e radical no tocante a mudança de foco da autoridade expressa por livros e doutrinas religiosas para a autoridade da razão humana individual. Cada um pode e deve recorrer a sua própria razão em busca da verdade e não a opiniões de autoridades religiosas ou outras. Visando buscar uma verdade inabalável, Descartes irá por tudo em dúvida. Sua dúvida é radical, metódica e hiperbólica, mas Descartes não busca o ceticismo, não é esta a sua finalidade. A dúvida faz parte do caminho a ser percorrido, mas não é o seu destino final. Em verdade, estamos diante da busca por um método. A busca da verdade em Descartes é a busca por um método que permita atingir com segurança o seu objetivo maior.
Mas durante os anos de busca da verdade ele precisaria viver em sociedade e para tal teria de tomar decisões, como, no entanto, fazê-lo se estava imerso no ceticismo? Havia necessidade de ter um modo qualquer que o permitisse tomar decisões vinculadas a convivência diária e para tal Descartes adota algumas medidas práticas que irão gerar uma moral provisória, enquanto durar a dúvida.


Eis o método:
1- Proporcionar a si uma moral provisória que consiste em poucas máximas
A- Obedecer as leis e costumes do país e manter a religião na qual fora educado desde a infância.
No restante, seguir as opiniões mais moderadas e distantes dos excessos, expressadas e praticadas pelos mais sensatos com quem teve a oportunidade de conviver em sociedade. Para saber quais eram de fato as suas opiniões, Descartes entendeu que deveria atentar para a sua prática e ações e não necessariamente para o que estas pessoas dizem, pois, podem não querer dizer tudo o que sabem ou simplesmente não saberem por que o fazem.
Escolher como modelos e exemplos homens sensatos de preferência e via de regra mais próximos de sua pessoa do que outros que vivam em regiões e sociedades em lugares distantes do mundo.
Dentre várias opiniões diversas sobre um mesmo tema, acolher as mais moderadas.
B- Ser firme e resoluto nas ações tomadas. Uma vez decidido por um caminho a seguir, persistir no mesmo, tendo firmeza nas decisões e na realização das mesmas.
C- Focar em si próprio, procurando mudar a si e não ao mundo ao redor, controlar e mudar os desejos e não a organização do mundo circundante. A única coisa realmente em nosso poder são nossos próprios pensamentos.
D- Buscar a melhor ocupação entre os homens, dentre todas as oferecidas.
2- Se livrar de toda e qualquer opinião sobre a verdade, colocando tudo em dúvida. Destruir a casa ou morada do conhecimento em que até então residia.
Deste modo, Descartes se propõe a viver em um provisório ceticismo, até que encontre uma base na qual possa erguer uma verdade inabalável diante de sua razão. Para poder viver em sociedade adota as regras acima como uma moral provisória enquanto mantém a dúvida e se dedica as suas buscas e pesquisas quanto a verdade.
Para entender Descartes é preciso levar seus argumentos a sério e não como se fosse um jogo qualquer, não basta fingir ou fazer de conta, é preciso acompanhar seus argumentos e o caminho da dúvida hiperbólica com o máximo de seriedade. A dúvida deve ser vivida como um mergulho em águas profundas até não mais termos fôlego para prosseguir e a necessidade imperiosa de enchermos nossos pulmões de ar nos faça não poder evitar de abrir a boca, mesmo diante do medo e mesmo pavor de morrermos afogados em águas profundas e inexploradas, quando finalmente subimos a tona e tomamos o primeiro gole de ar, é com espanto extraordinário que percebemos que ainda estamos vivos. Nesta metáfora, o mergulho é a dúvida, que permanece até o limite sustentável de nossos pulmões, quando finalmente conseguimos emergir e tomar a primeira lufada de ar fresco é quando encontramos a primeira verdade inabalável: “Penso, logo sou”. “Cogito, ergo sum”.
Em seus livros, Descartes põe em dúvida, como sendo algo falso, há tudo a partir de três pontos, os quais são as etapas da dúvida hiperbólica, a saber:
1- Sentidos: Pois já me enganaram uma vez e não é prudente confiar em quem já me enganou.
2- Sonho: Talvez não possamos distinguir o sonho da realidade e deste modo não sabermos se estamos de fato dormindo ou acordados.
3- A possibilidade da existência de um deus enganador ou de um gênio maligno que me engane constantemente. Este último artifício permite por em dúvida e negar os paradigmas matemáticos.
Em Descartes a dúvida hiperbólica por ele proposta deve ser entendida como sendo sistemática e generalizada. Avança por três níveis, o primeiro é o reconhecimento dos erros provindos dos sentidos, o segundo se encontra junto ao argumento do sonho e finalmente o terceiro se dá a partir do deus enganador ou do gênio maligno. Argumento que estende a dúvida as matemáticas, afetando seu valor objetivo. A dúvida hiperbólica propõe entender como algo falso tudo que for apenas duvidoso e entender tudo o que alguma única vez me enganou como sendo algo sempre enganador.
O argumento do deus enganador ou gênio maligno é importante porque quer meus sentidos me enganem ou eu esteja acordado ou dormindo, certas coisas continuam sendo verdadeiras, coisas simples, objetos das matemáticas, tais como: figura, quantidade, espaço e tempo. 2+3 sempre terá como resultado 5 e a figura do quadrado sempre terá quatro lados iguais, nem mais, nem menos.
Além da moral provisória, Descartes nos propõe quatro regras para o método: evidência, análise, síntese e enumeração. Em verdade, seu método é menos compatível com o método científico hoje usado e bem mais semelhante a um método matemático, vide, por exemplo, o item 4, onde temos a enumeração das etapas anteriores, numa revisão do que fora feito, adequado a um método matemático, mas que no método científico deva ser substituído por experimentação, re-fazer os experimentos buscando a confirmação ou não dos resultados.
A evidência basicamente nos propõe que algo deva ser evidente por si mesmo. A análise nos fala que devemos analisar o problema dividindo um problema complexo em suas partes simples. Já a síntese nos coloca diante da necessidade, após a análise, de reunir as partes simples novamente no problema complexo. O problema passa a ser entendido como a soma de partes simples. E por fim a enumeração de todas as partes anteriores, numa verificação do que já fora feito nas etapas que antecederam.
Este método proposto por Descartes se apresenta como o método da matemática moderna, em oposição ao método de Galileu Galilei, o método científico moderno, pois, no item 4 se faz a enumeração matemática das partes analisadas como forma de verificação, já para Galileu a verificação se dá por experimentos em laboratório.
Apesar de ser comum traduzir a famosa frase de Descartes por “penso, logo existo”, isto está errado. O verbo “ser” é diferente do verbo “existir”. O correto é “penso, logo sou”. Outro erro comum é entender a frase como resultado de um raciocínio lógico, como se disséssemos que “se eu penso, logo existo” em relação a um lento raciocínio e não a uma intuição imediata como seria correto, pois, não é um raciocínio baseado em premissas e sim uma intuição imediata. O correto, portanto, é: “Penso, logo sou”. “Cogito, ergo sum”. Descartes coloca o evidente no centro do conhecimento com o cogito.
No ano de 1637 Descartes elabora uma obra cujo prefácio o tornaria famoso até os nossos dias e ganharia status de livro próprio, refiro-me a “Discurso do método”, inicialmente, como já disse, um prefácio a outras três obras de sua autoria, a saber, um tratado de ótica intitulado “A dióptrica”, e também “Os meteoros” e “A geometria”, onde temos a criação da geometria analítica com o plano cartesiano que todos já estudaram alguma vez na escola conjuntamente com as coordenadas x e y. Descartes é um matemático e cabe lembrar sua contribuição que nos acompanha até os dias presentes e que é o plano cartesiano.
Em Descartes nós temos duas substâncias distintas: a extensão e o pensamento. De um lado o espírito, pensamento, liberdade e atividade, do outro a matéria, extensão, determinismo e passividade. Ambas são diferentes e não há ação possível do espírito sobre a matéria ou vice versa, são duas substâncias heterogêneas. É a partir disto que temos o famoso dualismo cartesiano.
Todo o trabalho filosófico de Descartes se dá tomando como base idéias claras e distintas. É a partir destas idéias e seguindo seu método que ele chega ao “cogito, ergo sum”. Eu duvido, penso, logo sou (que a tradição traduziu erradamente por “existo”).
A dúvida leva a idéia do eu que penso e ao pensar, tenho a idéia do infinito, do completo, do perfeito, mas como não sou eu mesmo, há a necessidade de outro ser ter tais atributos. E eis que da dúvida total e abrangente surge primeiro a idéia clara e distinta do “eu penso, logo sou” e depois de Deus. Neste momento cabe destacar que a substância em Descartes terá como divisão a extensão e o pensamento, tendo como terceiro elemento um deus transcendente.
Deus existe e pela essência que o concebo ele não pode ser enganador, pois, a razão nos ensina que o ato de enganar provém de alguma carência e se Deus é perfeito, ele não possui carência alguma.
Podemos entender a essência perfeita de Deus como sendo: soberano, eterno, infinito, imutável, onisciente, onipotente, criador de tudo.


Portanto, a primeira verdade que extraímos da dúvida é que eu sou, a segunda é a da existência e essência de Deus, a terceira são as verdades matemáticas / geométricas e por fim, a quarta verdade é a existência da extensão.
Alguns entendem a filosofia de Descartes como solipsismo, mas isto é um erro. O solipsismo é uma doutrina na qual só existe de fato o próprio eu e as suas sensações, levando, portanto, ao ceticismo e a um completo idealismo. Ora, somente em um primeiro momento, que vai da dúvida hiperbólica até o descobrimento da primeira verdade, “penso, logo sou”, é que podemos falar em um Descartes solipsista, pois, logo a seguir ele chega a conclusão que há um deus perfeito, que as matemáticas proporcionam resultados verdadeiros e que a extensão também existe.
Em Descartes também cabe dividir as idéias em três grupos distintos, a saber: inatas, adventícias e factícias. Idéias inatas são aquelas com as quais nascemos, não dependem da aprendizagem e fazem parte de nossa mente, tais como a idéia de deus e as idéias matemáticas. Idéias adventícias são aquelas que obtemos por meio de nossos sentidos, a partir do que percebemos no mundo circundante. Idéias factícias são aquelas que provém de nossa imaginação, a partir de uma combinação de imagens provindas de nossos sentidos, ou seja, são construídas com base nas informações que já possuímos. Cabe acrescentar o princípio da correspondência em René Descartes, segundo o qual, cada idéia que possuímos corresponde a algo que de fato existe. Assim, a idéia de cavalo corresponde a um cavalo que um dia vimos e a idéia de um pássaro corresponde a este outro animal, deste modo explicamos todas as idéias adventícias, que nos vêem por meio de nossos sentidos. Quanto as idéias factícias, estas não passam da junção de elementos obtidos em diferentes coisas adquiridas por meio de observação e juntadas arbitrariamente em uma única representação. A idéia de um cavalo alado como Pégasus, se baseia na idéia de cavalo e na idéia de asas. Já a idéia de uma fada irá se basear na idéia de uma mulher tornada muito pequena com asas que podemos observar em uma borboleta. Quando levamos o princípio da correspondência para as idéias inatas, percebemos a necessidade da existência e veracidade das mesmas, tal o caso das idéias matemáticas ou de deus, pois tem de haver uma correspondência destas idéias com algo fora de nós, real, existente.
Cabe distinguir o pensamento filosófico de Descartes da tradição que o antecede. A tradição escolástica cujas fontes vão a São Tomás de Aquino e também a Aristóteles, nos traz um conhecimento sistemático, diferente da dúvida e intuição de Descartes. Vejamos um exemplo de um silogismo, então presente a esta tradição. Posso afirmar que:
Premissa maior: Todos os homens são mortais
Premissa menor: Sócrates é homem
Conclusão: Sócrates é mortal.
Ocorre que em Descartes o cogito é uma intuição e não é obtido por meio de um silogismo, trata-se, portanto, de nossa primeira e inabalável certeza. Penso, logo sou. Mesmo que não saiba o que sou, se tenho um corpo, se sou isto ou aquilo outro. Sei somente que sou um ser que duvida e para tal ato pensa e enquanto duvida e pensa é.
Com Descartes nós temos o Racionalismo, Escola filosófica que irá ter grandes representantes na filosofia e que posteriormente irá se contrapor a outra grande Escola que será criada, o Empirismo. No Racionalismo temos como base que os sentidos nos enganam, que o conhecimento é obtido por meio da razão, a importância da metafísica e de idéias evidentes, ou seja, claras e distintas.
Recapitulando, temos que na época de Descartes imperava nos meios acadêmicos a tradição Escolástica que priorizava os silogismos e a autoridade eclesiástica / religiosa para obtenção da verdade. Esta tradição se sustentava filosoficamente em Aristóteles e São Tomás de Aquino. Descartes propõe algo completamente novo, um novo método de busca da verdade usando o ceticismo e a dúvida não como um fim em si mesmo, a finalidade a qual deveria chegar a sua filosofia, mas sim como um instrumento que lhe permita prosseguir em sua busca até uma verdade inabalável. Por mais que eu duvide e que tudo seja falso, resta que eu enquanto duvido, existo. Para duvidar é preciso que haja um pensamento de dúvida e isto sou eu, mesmo que não saiba qual a minha aparência final, se meu corpo existe ou não, se existe ou não qualquer tipo de matéria além de meu próprio pensamento. Mesmo existindo um deus enganador ou um gênio maligno que em tudo me engane, fazendo com que eu erre mesmo os cálculos mais simples em matemática e me leve ao erro em todas as disciplinas, o fato de mesmo errando eu continuar pensando e duvidando é inabalável. Pois mesmo em erro, algo há, algo que eu sou, que pensa e duvida. Mas se sou a única coisa que existe no universo, tudo que possa conceber deverá também existir em mim mesmo, ocorre, no entanto, que tenho idéias tais, como perfeição e completude, que reconheço não estarem totalmente em mim, não sendo eu, portanto, o detentor de sua causa. Há, neste caso, necessidade de um outro ser que possua tais atributos e este ser é Deus. Dentro da essência que concebo para Deus, está o atributo deste ser perfeito e como tal, devo admitir que a necessidade de enganar não está nele presente, pois, tal necessidade implica em alguma falta, na carência de algo. Do mesmo modo, um dos atributos de Deus é que o mesmo é boníssimo e como poderia uma criatura sumamente boa permitir a existência de um gênio maligno que me enganasse a todo e qualquer momento? Tal necessidade de enganar ou o fato de permitir a existência de uma criatura que me faça enganar constantemente, não podem estar presentes na essência deste Deus, portanto, não havendo um deus enganador ou um gênio maligno, todas as verdades matemáticas e algébricas passam a serem aceitas como tal e também a extensão passa a ser aceita como algo real e não mero fruto do engano. Para Descartes, portanto, temos três coisas dentro do que poderíamos falar de substância, a saber: pensamento (res cogitans), extensão (res extensa) e um Deus transcendente.
Estas linhas acima mostram como costumo abordar este tema e foi mais ou menos por aí que seguiu minha aula no dia da reclamação das duas alunas citadas no começo deste artigo, claro está, no entanto, que em sala de aula o professor é como se fosse um ator em um palco e os alunos por vezes ocupam o lugar da platéia, participativa ou não. Há uma interação maior do que com o leitor e é possível alongar uma explicação ou mesmo fornecer outra explicação para um mesmo tópico se alguém demonstrar que não entendeu algo. As duas alunas em questão ficaram somente para o começo da explicação do pensamento deste filósofo. Depois da apresentação da dúvida hiperbólica e da necessidade de uma moral provisória, seguimos pelo primeiro momento da dúvida, colocando em dúvida todo o conhecimento obtido por intermédio de nossos sentidos, pois, se uma vez nos enganaram podem fazê-lo novamente, passamos para o segundo momento da dúvida, onde colocamos a possibilidade de estarmos dormindo e não sabermos distinguir o sonho da realidade e por fim chegamos ao terceiro e último momento de nossa dúvida, ao admitir a hipótese de um deus enganador ou gênio maligno. Um demônio que estivesse a sussurrar em nossos ouvidos a resposta errada mesmo para as questões mais evidentes, como os resultados advindos das matemáticas. Neste momento elas se levantaram e saíram de sala se recusando a ouvir e aprender algo novo. Talvez se ficassem, viessem a aprender uma das mais importantes provas da existência de Deus, obtida não por meio de raciocínios complicados, mas pela mais pura intuição, diante da evidência proporcionada por idéias claras e distintas. Pessoas que assim são admitidas e cursam uma faculdade podem até conseguir um diploma, mas para que isto lhes servirá? A quem nossas instituições de ensino, com a permissão calada da sociedade brasileira, estão querendo enganar?

Silvério da Costa Oliveira.

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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