Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Schleiermacher

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Schleiermacher

 

1-      VIDA

Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (1768-1834) nasce na cidade de Breslau e falece em Berlin. Seu pai era pastor protestante, tendo Schleiermacher vivido sua infância em um ambiente familiar religioso.

A forma de se escrever e organizar os nomes do meio de uma pessoa, dentro da cultura alemã, é flexível, de modo que, é possível se escrever “Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher” e também Friedrich Ernst Daniel Schleiermacher” e embora seja mais comum, mesmo no meio acadêmico, a primeira forma, ambas estão corretas.

Estudou teologia e filosofia na Universidade de Halle, iniciando seus estudos em 1787, e na Universidade de Göttingen, atuou como pastor protestante e professor de filosofia e teologia, tendo lecionado nas universidades de Halle a partir de 1796, e posteriormente Berlim, tendo se mudado e começado a lecionar nesta última cidade em 1802. Em 1809, casa-se com Eleonore Grünow, com quem teve dois filhos.


 

Schleiermacher é teólogo, filósofo, professor e escritor. Exerceu influência significativa no desenvolvimento subsequente da filosofia e da teologia, em particular no decorrer do século XIX. Sua obra teve presença marcante e influenciou a teologia alemã. Também traduziu alguns diálogos presentes nas obras de Platão e partes do Novo Testamento para o alemão, em particular, demonstrou um maior interesse pelo Evangelho de São João. Também exerceu um papel significativo, apresentando contribuições para o desenvolvimento da ética, da hermenêutica, da filosofia da religião e da filosofia da linguagem. Sua obra influenciou pensadores posteriores, tais como, dentre outros, Dilthey, Søren Kierkegaard e Rudolf Otto.

Também contribuiu para o desenvolvimento da hermenêutica, entendida como a correta interpretação e compreensão de textos, dentro do contexto da linguagem e dos aspectos psicológicos presentes no autor.

Na ética argumentou que a moralidade se baseia na ligação entre a individualidade e a comunidade. Também esteve presente com desenvolvimentos na filosofia da linguagem, destacando que a linguagem é uma expressão da experiência subjetiva.

Sofreu influência de Kant, Fichte, Schelling e Hegel. Alguns comentadores reportam ter ele estudado a obra de Spinoza e se dedicado ao estudo do misticismo. Sua obra teve forte e duradouro impacto na cultura filosófica e teológica alemã, continuando a exercer influência mesmo nos dias atuais, onde continua a ser estudado e debatido. Em sua vida sofreu influência e, por sua vez, também influenciou o Romantismo e o Idealismo Alemão, podendo ser considerado um integrante de ambos os movimentos.

Contemporâneo do Romantismo Alemão, compartilha com este movimento das mesmas preocupações em relação à ênfase na experiência, à importância da intuição e da sensibilidade emocional, e à valorização da natureza humana. O Romantismo enfatizava a expressão emocional, a subjetividade e a valorização das experiências emocionais. Já com o Idealismo Alemão, apresenta fortes vínculos, em particular na elaboração de suas ideias sobre a relação entre religião, filosofia e experiência humana. Cabe destacar, no entanto, sua genialidade que o faz transcender a qualquer movimento específico, tornando-o um pensador com características únicas e distintas de outros românticos ou idealistas.

Sua visão teológica influenciou o desenvolvimento teológico da religião cristã na Alemanha, sendo visto por alguns comentadores como sendo o pai fundador do assim chamado “liberalismo teológico protestante”, ou, “Teologia protestante liberal”, pela qual faz a defesa de uma abordagem mais racional e subjetiva da fé, buscando-se uma reconciliação entre religião e pensamento racional.

 

2-      HERMENÊUTICA

Coube a Dilthey trazer o foco das atenções para a hermenêutica deste autor, pois, antes ela estava relegada ao esquecimento, estando os comentadores mais voltados para a parte religiosa de sua obra. A dificuldade com relação a parte de sua obra voltada para a hermenêutica se deu em virtude da apresentação da mesma. Este trabalho consiste nas aulas que ministrou nas universidades de Halle e Berlim entre os anos de 1805 e 1833, mas nunca foram pelo autor organizadas coerentemente em uma obra ou curso sobre o tema para apresentação ao público em geral. Os trabalhos sobre hermenêutica encontravam-se no formato de palestras, duas proferidas no plenário da Academia Prussiana de Ciências, de um total de nove palestras, também de notas, fragmentos e aforismos vinculados às suas aulas em Halle e Berlim.

Schleiermacher é um dos precursores da atual hermenêutica. Ele entendia que para a correta compreensão de um texto ou discurso, cabia ir até o momento inicial de sua produção, buscando por tal modo, evitar alguma interpretação errônea do texto e mais se aproximando da veracidade do mesmo no contexto em que foi criado, do seu significado e das reais intenções do autor.

Alguns comentadores consideram Schleiermacher como o pai da hermenêutica moderna, a arte de interpretar corretamente de modo a propiciar o entendimento de um dado texto. Influenciado por Kant, o ponto de partida de sua hermenêutica pode ser encontrado junto à primeira crítica deste filósofo, ao propor uma crítica a nossa capacidade de conhecer. Vários outros autores já haviam se debruçado sobre a arte de interpretar textos antes de Schleiermacher, no entanto, coube a este último unir as diversas regras que tratavam o assunto por partes, buscando um problema prévio a todas estas regras, uma busca da compreensão do conhecimento.

Anteriormente aos trabalhos de Schleiermacher, a hermenêutica se ocupava de textos bíblicos, era uma disciplina voltada exclusivamente para textos clássicos na teologia. A partir de Schleiermacher temos uma expansão no campo da hermenêutica, deixando de ser apenas um conjunto instrumental de regras a ser aplicado a um único campo do saber humano, a teologia, para ser uma análise do problema da interpretação de um modo universal, aberto a qualquer tipo de texto ou discurso falado ou escrito. Coube a Schleiermacher trazer o método hermenêutico para o que seria futuramente um reconhecimento sobre a sua cientificidade, introduzindo este método na história e na filologia.

Seu trabalho sobre hermenêutica deve ter sido provavelmente influenciado por várias fontes no decorrer de sua vida, mas caberia destacar a duas, suas traduções para o alemão de partes do Novo Testamento e de algumas das obras de Platão (“Leis”, “Sofista”). Ele não traduziu estas obras em sua totalidade para o alemão, mas apresentou significativas contribuições.

Importante a ideia de que para se compreender parte do texto, uma frase ou parágrafo, é importante conhecer o todo do qual o mesmo faz parte, o capítulo, o livro, a obra e a vida do autor, ou seja, para melhor compreender a parte precisamos compreender o todo e para melhor compreender o todo precisamos bem compreender a parte. Isto é chamado de círculo hermenêutico e é um conceito anterior a Schleiermacher que foi retomado por este autor.

Seguindo o pensamento de Schleiermacher, a hermenêutica, enquanto interpretação correta de um texto ou discurso, é uma arte, no sentido de que por meio da mesma é possível reconstruir da forma mais correta e completa possível toda a evolução presente na atividade criativa construtiva de quem produziu o texto ou discurso. É preciso compreender o texto por meio da linguagem nele empregada e por meio do falante que dele fez e faz uso. A compreensão hermenêutica é formada por dois momentos, um gramatical e outro psicológico.

Se afastando do sujeito transcendental presente em Kant, busca um sujeito histórico e limitado em relação com outros sujeitos históricos e também limitados, valorizando a linguagem, superando suas limitações e se aproximando da verdade.

A linguagem se apresenta como uma estrutura histórica que se forma e muda no decorrer do tempo histórico. Schleiermacher divide seus estudos sobre hermenêutica em um aspecto gramatical, que cuida da compreensão da linguagem e, por outro lado, em um aspecto técnico-psicológico, que cuida da compreensão do autor do texto ou discurso em análise. Quando diante da interpretação gramatical, o humano passa a ser entendido a partir do prisma da linguagem, já diante da interpretação técnico-psicológica, a linguagem passa a ser entendida pelo prisma do humano, ambos, linguagem e humano, sempre relacionados entre si. Isto tende a tornar a hermenêutica em uma arte, e não no mero emprego de regras. O que nos traz para uma questão básica presente na hermenêutica, de face dupla, que pode ser assim expressa: Como é possível definir o sentido do texto ou discurso? E como é possível definir a intenção subjetiva presente no autor? Há aqui a necessidade de uma dupla compreensão. É necessário compreender a língua, mas também é necessário compreender o falante.

Quando Schleiermacher destaca a importância da compreensão do autor na sua ação de escrever o texto ou proferir o discurso, temos o que este chamou de compreensão divinatória, que hoje poderíamos entender como uma forma de empatia para com o autor original do texto. Neste contexto, busca-se formar uma empatia entre o intérprete da obra e o autor da mesma. Trata-se de uma aproximação psicológica e intuitiva da obra pelo prisma da subjetividade do autor que a criou.

Há também um outro nível, que é o da compreensão comparativa e histórica, na qual o interprete busca qual o sentido, qual a intenção original do autor por meio de elementos objetivos, comparando o escrito em pauta com outros escritos do mesmo autor e, também com outros elementos históricos vinculados ao respectivo texto.

Schleiermacher entendia a hermenêutica como uma forma de compreender os verdadeiros pensamentos, sentimentos e intenções do autor de dado texto em análise, permitindo ao leitor poder se colocar na perspectiva do próprio autor do texto, na tentativa de melhor entender o que este buscava inicialmente comunicar.

Para a devida compreensão de um texto é necessário interpretar corretamente o uso da linguagem, bem como o estilo e tom do texto dado pelo autor, captando seu contexto emocional. Cabe àquele que está buscando interpretar um texto, trazer sua própria perspectiva, experiência e sentimentos, buscando se colocar no lugar do autor original, compartilhando da mesma experiência. Aqui temos a empatia por parte do interprete para com o autor do texto, e para isto é preciso ter, também, sensibilidade emocional.

A interpretação de um texto, seja religioso ou sobre outra temática qualquer, dentro da hermenêutica proposta por Schleiermacher, envolve não somente uma análise gramatical com relação as palavras ali usadas, mas também uma tentativa de compreender o real estado emocional presente no autor do texto, o local e a comunidade onde tal texto foi inicialmente escrito, bem como, a experiência emocional que o texto busca transmitir ao leitor. Tudo isto junto requer uma abordagem subjetiva na qual aquele que busca interpretar o texto deva buscar se colocar no lugar do autor, numa relação empática onde se tenta perceber o que o autor estava sentindo e o que ele intencionava, quando da confecção do texto.

 

Podemos falar em duas hermenêuticas no pensamento de Schleiermacher, uma técnica, hermenêutica de compreensão, e outra crítica, hermenêutica da exposição. A técnica busca a compreensão do pensamento original do autor e a crítica está focada na exposição deste mesmo pensamento para outros leitores. Ambas são importantes e estão conjuntamente presentes na interpretação de textos.

Um mesmo texto pode ter diferentes interpretações feitas por interpretes distintos que partiram de perspectivas diversas, não sendo isto algo ruim e podendo, mesmo, ser algo desejável, desde, claro está, que fundamentadas na empatia e na compreensão do texto e do autor.

Suas ideias sobre hermenêutica podem ser entendidas como uma ampliação das ideias que mantinha sobre religião e teologia, enfatizando e valorizando em ambas a compreensão da experiência humana e a interpretação subjetiva.

As ideias de Schleiermacher sobre hermenêutica tem influência até os presentes dias e estão presentes em discussões acadêmicas sobre a temática, enfocando a importância da empatia, da sensibilidade emocional e da interpretação subjetiva.

 

3-      RELIGIÃO

Schleiermacher buscou reconciliar a religião com o pensamento racional. Dentro do entendimento deste autor, razão e religião não são coisas incompatíveis, podendo a teologia se adaptar ao pensamento racional crítico.

Três são os conceitos filosóficos básicos presentes na elaboração teológica de Schleiermacher: entender a religião como um sentimento; a total dependência de Deus; a consciência possuir distintos níveis.

Segundo o autor, há no humano um sentimento que o liga a Deus, algo semelhante a um senso interior que afirma a continuidade com o Espírito. Não se trata de mera emoção e sim do reconhecimento de que tudo que há procede de uma origem comum, na qual todas as coisas são em essência, idênticas. O humano possui a consciência da existência de algo infinito. A real sede da religião encontra-se no interior do humano, no íntimo de cada um de nós. As evidências sobre a existência de uma realidade superior, que engloba e transcende o humano, encontram-se nas intuições presentes no íntimo de cada humano, de modo que, a base da religião se encontra na experiência íntima de cada um.

Há uma dependência total de Deus, manifestada neste sentimento presente no humano sobre o Espírito. Um sentimento religioso de dependência do Todo, uma sensação de reconhecimento de ser algo contingente. Já que a religião se mostra como um sentimento pessoal e interior humano, mais importante do que ensinar formalmente, é proporcionar o exemplo de vida. Além disto, já que cada pessoa terá seu próprio sentimento, não é possível haver uma única religião ou forma de entender Deus, cabe aqui não a finitude, e sim a infinitude de manifestações religiosas, todas elas válidas.

Este sentimento de dependência de um Todo infinito há de se mostrar em cada pessoa em distintos níveis de consciência, que podem ir de um grau muito baixo até um muito elevado. Partindo desta ideia, Schleiermacher define o pecado como sendo uma preocupação exclusiva com o mundo circundante, afastando a pessoa da total dependência de Deus. O pecado tende a se mostrar como um tipo de prisão da consciência humana ao finito, recusando-se a se identificar com o universo, reconhecendo sua dependência de um todo maior.

Acima da Bíblia e dos demais escritos religiosos, deve-se colocar a experiência religiosa individual, o sentimento de ser um com o todo, de total dependência do todo, de reconhecimento da existência do infinito.

Dentro da visão teológica deste autor, não há espaço para o pecado original ou para a natureza dual de Jesus (homem e Deus) ou para o sobrenatural. O pecado é acreditar na própria autonomia diante do Todo que é Deus, já a salvação se mostra como o ato de livrar-se desta crença. A natureza divina de Jesus Cristo é negada, bem como, o significado expiatório de sua morte em relação ao pecado original. A salvação após a morte não é algo individual e sim a junção a um todo universal, no infinito, sem qualquer individualidade e confundindo-se com o universo, dissolvendo-se no todo universal. Jesus Cristo passa a ser entendido como um modelo de profunda e constante dependência do Todo, a ser seguido, e não como Deus.

É por meio da religião que se realiza a identidade de ser e pensamento. A religião se mostra como o sentimento do infinito. Entende que a religião não deva ser entendida como um mero conjunto ou sistema de crenças e dogmas, mas sim, como uma experiência interior no qual temos um sentimento de dependência absoluta da Divindade.

Schleiermacher concentra na experiência religiosa e na interpretação subjetiva da fé a base de seu pensamento sobre religião e teologia. Segundo este autor, a religião não é prioritariamente uma questão de doutrina, dogmas ou moralidade, trata-se de outra coisa, da experiência subjetiva. A religião traz um sentimento de dependência absoluta, uma sensação de conexão com o divino, conexão com o infinito. O ponto central da religião é o sentimento de dependência para com algo muito maior do que a pessoa. A religião se mostra como a resposta a este sentimento de dependência, numa tentativa do sujeito de se relacionar com o divino e deste modo conseguir atender as reivindicações deste sentimento.

A teologia deve se colocar como uma reflexão sobre a experiência religiosa e não sobre um dado sistema de crenças ou dogmas. Para este filósofo, caberia aos teólogos tentar entender e explicar a experiência religiosa obtida pelas pessoas. Entende que a religião é uma linguagem universal que conecta todas as pessoas, permitindo que as mesmas se comuniquem sobre questões espirituais, sendo a religião parte intrínseca da experiência humana, tendo uma atuação importantíssima na coesão social.

Ao compararmos o pensamento de Schleiermacher sobre teologia com o pensamento tradicional sobre este mesmo tema, temos que este autor proporciona maior ênfase a experiência subjetiva, em vez da doutrina ou dogmas presentes na teologia tradicional. Para a visão conservadora da teologia, a religião tende a se mostrar como a aceitação de um dado conjunto de crenças predefinidas, já para Schleiermacher, não, a religião se dá a partir do sentimento de uma conexão com o divino. Na abordagem tradicional da religião, geralmente se enfatiza a autoridade eclesiástica e a uniformidade no tocante às crenças, já para Schleiermacher, temos a defesa de uma interpretação subjetiva da fé, cujo núcleo é a experiência religiosa de cada pessoa em particular. Enquanto na religião e teologia tradicional se centra na aceitação da autoridade e da doutrina, sem questionamentos, Schleiermacher propõe reconciliar a religião com o pensamento racional, buscando uma teologia acessível à crítica feita pela razão. Para o autor, a religião é uma linguagem universal que proporciona a comunicação entre as diversas pessoas sobre questões morais e espirituais, já na teologia tradicional o foco está na preservação de tradições e rituais. Enquanto a teologia tradicional se mostra exclusivista e focada em uma única verdade e tradição religiosa, Schleiermacher busca reunir uma variedade de diferentes tradições religiosas. Muitas vezes a teologia tradicional tende a acentuar divisões e tensões diversas a partir de questões religiosas, já Schleiermacher entendia a religião como uma forma de obter coesão social, como uma força unificadora que possa transcender as divisões culturais e mesmo religiosas.

Em síntese, enquanto a teologia tradicional enfoca a doutrina, os dogmas, a autoridade e a uniformidade de crenças, Schleiermacher prioriza a experiência religiosa, a subjetividade e a reconciliação entre religião e pensamento racional e crítico. Enquanto Schleiermacher se direcionava para uma abordagem focada na experiência religiosa e na razão humana, a teologia tradicional tendia a valorizar a tradição, a autoridade e a ortodoxia doutrinária. Esta diferença é que irá marcar o início do desenvolvimento da teologia protestante liberal, bem como, enriquecer o debate teórico no pensamento teológico no decorrer do século XIX na Alemanha.

Cabe destacar a relação entre razão e fé presente na filosofia de Schleiermacher, tópico fundamental em sua obra. No momento histórico em que viveu Schleiermacher, a religião estava sob a crítica severa do Iluminismo, que apontava para o conflito existente entre razão e fé. Schleiermachger reconhece a autonomia da religião e da razão, ambos possuem domínios distintos e distintas esferas de influência. A religião não é uma rival da razão e sim, atua de modo complementar a mesma, preenchendo as lacunas deixadas pela razão e proporcionando um significado e sentido mais profundo para a vida. A filosofia se relaciona com a religião na medida em que a filosofia nos proporciona a oportunidade de exploração racional do mundo e, por sua vez, a religião oferece uma dimensão espiritual que transcende a esfera unicamente intelectual.

Pode haver harmonia entre razão e fé. A fé pode ser entendida como sendo uma dimensão que proporciona significado e profundidade a nossa compreensão racional do mundo. A religião é compreendida como sendo um sentimento ou experiência subjetiva. Na religião temos a manifestação do sentimento de dependência absoluta do divino. A fé possui uma natureza individual, sendo uma experiência única para cada nova pessoa. A relação entre razão e fé pode variar de acordo com a experiência individual.

Resumindo, no pensamento de Schleiermacher é reconhecida a importância tanto da razão como também da fé, entendendo que ambas podem coexistir de modo harmônico. Scheleiermacher dá ênfase a natureza individual da fé e que razão e religião podem atuar de modo complementar uma a outra, destacando a importância da experiência religiosa na vida de todas as pessoas e na coesão da comunidade.

Também importante é a relação entre religião e cultura, presente no pensamento de Schleiermacher. Esta ênfase é encontrada em várias de suas obras, mas cabe destaque a "Sobre a Religião: Discursos aos Educandos" ("Über die Religion: Reden an die Gebildeten unter ihren Verächtern"), obra na qual é trabalhada a relação entre religião, cultura e educação de modo mais aprofundado. A religião aparece como uma manifestação cultural, moldada pelo contexto cultural da sociedade.

A religião é uma forma de expressão cultural fortemente ligada a uma dada comunidade e ao contexto histórico da mesma, deste modo, a religião tende a se manifestar de formas diferentes em culturas e períodos históricos também diferentes. Também podemos encontrar neste filósofo o germe de uma abordagem comparativa entre religiões, destacando que cada religião há de se diferenciar em relação a cultura e contexto no qual está inserida. Não é possível isolar a religião das influências culturais e históricas presentes na comunidade. A religião é uma parte não separável da cultura. A religião possui elementos universais conjuntamente com elementos particulares presentes a cultura de uma dada comunidade, havendo, portanto, uma diversidade religiosa. Em virtude da diversidade religiosa provinda da cultura, e do sentimento religioso individual, defende a tolerância religiosa e o respeito as diversas tradições.

 

4-      ÉTICA E MORAL

Na obra de Schleiermacher também encontramos o desenvolvimento de uma ética e moral, relacionadas com a religião e a filosofia. Em sua abordagem sobre tal temática, temos a ênfase na experiência, na interpretação subjetiva e na reconciliação entre religião e razão, já presentes em outros campos de sua filosofia.

A ética é uma expressão da religião, sendo a moralidade uma manifestação do sentimento religioso e da dependência para com o absoluto, o divino. A moralidade se dá como uma resposta à experiência religiosa. A moralidade e a religião se mostram como interdependentes. A moralidade é um aspecto da religião, e a religião, tende a moldar e informar a ética. Esta interdependência entre moralidade e religião se relaciona com a ênfase dada por Schleiermacher à experiência religiosa como sendo um sentimento de dependência absoluta.

Segundo este filósofo, a moralidade se baseia na conexão entre o sujeito e a comunidade. A moralidade é um aspecto da vida comunitária, na qual as pessoas expressam sua dependência mútua e seu compromisso em viver de acordo com princípios éticos compartilhados.

A ação moral resulta da vontade de agir de acordo com os princípios éticos e é oriunda da experiência religiosa. A ação ética está relacionada à vontade e à decisão tomada pelo sujeito.

A ética e a moral, segundo este filósofo, estão intrinsecamente relacionadas com a religião e a experiência religiosa. Ele enfatiza a importância da ação ética enquanto expressão da fé e da conexão com a comunidade, indo de encontro a uma moralidade universal que transcenda as fronteiras culturais e religiosas presentes em uma dada região.

Pensemos em um exemplo, tal como roubar ou matar a outro humano. Um sujeito que age de acordo com um comportamento ético e moral tende a nortear suas ações na experiência religiosa da dependência absoluta do divino e, também, no sentimento de conexão com a comunidade. Por acreditar que a moralidade é uma manifestação de sua fé religiosa, escolhe não praticar estas ações (roubar, matar outro humano), pois, tais comportamentos seriam contraproducentes para sua comunidade e contrários aos princípios éticos universais.

Ao enfatizar a dependência absoluta do divino como base de sua ética, entende que a moralidade surge da consciência desta dependência. Ao reconhecer a presença do divino na vida diária e buscar uma conexão espiritual com o mesmo, busca-se desenvolver uma relação sincera e profunda com este mesmo divino, fonte de toda moralidade e que nos faz direcionar nosso comportamento de modo ético e moral.

A moralidade se apresenta como expressão da vida comunitária e da dependência mútua entre os sujeitos em dada sociedade. As mesmas diretrizes morais, derivadas da experiência religiosa, devem ser aplicadas a todos. A ação ética se mostra como algo resultante da vontade do sujeito, refletindo a decisão de se comportar de acordo com os princípios éticos, oriundos da experiência religiosa.

Uma pessoa para manter um comportamento ético e moral deve: 1-  Reconhecer a dependência absoluta do divino em sua vida; 2- Cultivar uma relação espiritual com o divino por meio da oração, meditação e reflexão; 3- Participar ativamente em sua comunidade, demonstrando solidariedade e cuidado pelos outros; 4- Tomar decisões éticas baseadas em princípios morais que reflitam sua experiência religiosa; 5- Buscar aplicar esses princípios de maneira universal, considerando a humanidade como um todo.

Sua ética e moral se mostra intimamente vinculada à religião e à experiência religiosa. Destaca e prioriza a dependência absoluta do divino e a experiência da presença deste divino na vida da pessoa. Sua visão de uma ética e moral abrange uma contínua busca por uma conexão espiritual e pela expressão prática na vida comunitária, onde se fazem presentes princípios morais universais.

Ao afirmar a dependência absoluta do Divino como base de sua filosofia, temos que todos os humanos se encontram ligados a este Divino e são dependentes deste Divino em suas vidas. Se alguém efetua uma ação prejudicial a outro humano, como matar ou roubar, está cometendo uma violação desta dependência absoluta do divino.

A experiência religiosa envolve a consciência da presença do divino na vida do dia-a-dia, se a pessoa opta por uma ação prejudicial a outro humano, como matar ou roubar, esta ação atua como uma negação da presença divina, sendo uma ruptura da conexão espiritual com este mesmo divino.

Ao enfatizar a importância da comunidade e da solidariedade em sua ética, ações prejudiciais a outros humanos, como matar e roubar, tendem a prejudicar a comunidade e romper com os laços de solidariedade entre as diversas pessoas que compõem esta comunidade, o que se mostra contrário aos princípios éticos obtidos por meio da experiência religiosa.

A moralidade é universal e transcende as fronteiras culturais e religiosas, ao exercer uma ação prejudicial a outros humanos, como matar ou roubar, tal ação viola os princípios éticos universais baseados na experiência religiosa, sendo, portanto, errada.

Em resumo, o comportamento imoral, como matar ou roubar, é errado porque viola a dependência absoluta do divino, rompe a consciência da presença divina, prejudica a comunidade e contraria os princípios éticos universais baseados na experiência religiosa. Schleiermacher nos apresenta uma ética presente na relação do sujeito com o divino e também na compreensão da moralidade enquanto expressão da religião, do sentimento religioso.

Sua ética está intimamente presente na sua filosofia da religião e na experiência religiosa. Em sua ética destaca a importância da autenticidade e da integridade. Toda ação ética deve ser direcionada pela sinceridade e honestidade em relação a experiência religiosa e a relação do sujeito com o divino.

O comportamento ético e moral é uma expressão de altruísmo, ao nos preocuparmos em cuidar de outras pessoas, em atentarmos para o bem estar da comunidade e a solidariedade presente entre as diversas pessoas dentro desta mesma comunidade.

As ideias éticas de Schleiermacher têm sua origem no contexto religioso, na experiência religiosa, na dependência com o divino. Sua ética se vincula a sua filosofia e modo como entende a religião.

A moralidade é a expressão prática da experiência religiosa. O comportamento moral tende a refletir a relação entre o sujeito e o divino, sendo parte integrante da religião tal como a concebe este autor.

A interpretação dos princípios éticos pode ser diferente entre as diversas pessoas em virtude da complexidade presente na ética, mas todas estas possíveis perspectivas éticas estão intimamente vinculadas a experiência religiosa e como tal, são válidas.

As ideias defendidas por Schleiermacher quanto à importância da dependência do divino, da solidariedade com a comunidade, da autenticidade ética, ainda se mostram válidos e desafiadores nos dias atuais.

 

5-      FILOSOFIA DA LINGUAGEM

Schleiermacher é conhecido e estudado por suas contribuições à religião e à hermenêutica, não sendo suas contribuições para a filosofia da linguagem destacadas como em outros filósofos, no entanto, cabe aqui mencionar que ele fez, sim, algumas considerações sobre a linguagem em suas obras, em particular com relação à discussão sobre a hermenêutica e a interpretação.

Sua influência e contribuição na filosofia da linguagem é indireta, se dando por meio de suas reflexões sobre a interpretação e a compreensão de textos dentro de sua hermenêutica. Dentro do pensamento deste autor, a correta compreensão de um texto abrange também a análise do contexto histórico, cultural, linguístico e psicológico com relação ao texto e ao autor. Ao enfatizar a importância da linguagem e da compreensão na interpretação de textos, em sua hermenêutica, acaba indiretamente contribuindo com ideias para a filosofia da linguagem. Cabe, no entanto, deixar claro que mesmo tendo feito algumas contribuições neste campo de estudos, Schleiermacher não é um filósofo da linguagem em sentido estrito.

Schleiermacher apresentou contribuições significativas para a filosofia da linguagem, numa abordagem que encontra suas origens em sua filosofia da religião e na experiência religiosa.

A linguagem tem um papel muito importante na experiência religiosa. A linguagem é o meio pelo qual as pessoas podem expressar sua relação com o divino e compartilhar esta experiência com outras pessoas.

Entendia que havia uma conexão entre linguagem e religião, sendo a filosofia da linguagem inseparável da religião. A linguagem religiosa é uma forma toda especial de linguagem que expressa a experiência religiosa da dependência absoluta do divino.

Também se encontra a linguagem vinculada à elaboração de sua hermenêutica, arte de interpretação de textos. Quando interpretamos textos religiosos, a correção desta interpretação depende da compreensão da linguagem religiosa e da experiência religiosa transmitida por tal texto.

Schleiermacher enfatizou que a linguagem religiosa se apresenta como única e requer uma abordagem hermenêutica especial. A linguagem se torna importante na expressão da experiência religiosa e na comunicação espiritual.

A linguagem se mostra como principal canal para a expressão da experiência religiosa. A linguagem religiosa permite comunicar a relação do sujeito com o divino, não podendo ser reduzida simplesmente a símbolos, pois, é uma tentativa de transmitir uma experiência interna única. Sem a linguagem não seria possível compartilhar a experiência religiosa e esta permaneceria solitária e inexpressiva.

Em síntese, a filosofia da linguagem presente na obra de Schleiermacher mostra-se essencial ao seu pensamento, em particular no tocante á experiência religiosa e à hermenêutica. Schleiermacher reconhece a importância da linguagem na expressão da relação do sujeito com o divino, bem como, na interpretação de textos religiosos e outros. Temos que a filosofia da linguagem presente neste autor enfatiza a importância presente na linguagem para a expressão da experiência religiosa do sujeito em sua relação com o divino, bem como, torna o correto uso e compreensão da linguagem importante na compreensão de textos religiosos e outros.

 

6-      ALGUMAS DAS SUAS PRINCIPAIS OBRAS

 

1- "Sobre a Religião: Discursos aos Educandos" ("Über die Religion: Reden an die Gebildeten unter ihren Verächtern"), 1799.

Este livro é uma coleção de discursos ou palestras que Schleiermacher originalmente dirigiu a um público acadêmico. Nesta obra, Schleiermacher explora a natureza da religião e sua relação com a cultura e a educação. Ele argumenta que a religião não pode ser separada das influências culturais e históricas e promove a compreensão da religião como uma parte intrínseca da cultura.

Schleiermacher argumentou que a religião não pode ser reduzida a meros dogmas ou rituais, mas é uma experiência interior, uma sensação de dependência absoluta ou um sentimento de conexão com o divino. Ele também enfatizou a importância da interpretação pessoal da religião, afirmando que a religião é uma questão de experiência individual e subjetiva. Schleiermacher desafiou as visões religiosas tradicionais de sua época, enfatizando a experiência direta e emocional de Deus, em contraste com uma abordagem puramente intelectual ou dogmática.

2- "Monólogos" ("Monologen"), 1800.

Este livro consiste em uma série de monólogos em que Schleiermacher discute questões filosóficas e religiosas, incluindo sua abordagem à hermenêutica, a relação entre o indivíduo e o divino e a importância da experiência religiosa.

3- "Sermões" ("Predigten") - Diversas edições entre 1810 e 1832.

Schleiermacher era um renomado pregador e seus sermões refletem sua abordagem à religião e à teologia. Eles exploram uma variedade de temas religiosos e éticos.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 


 


 


 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

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quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Schelling

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Schelling

 

Friedrich Wilhelm Joseph Schelling (1775-1854) nasceu em Leonberg em Baden-Württemberg, sul da Alemanha. Seu pai era pastor protestante e Schelling teve a oportunidade de aprender, além de seu idioma materno, o alemão, também árabe, hebraico, grego e latim. Em 1790, então com 15 anos de idade, inicia seus estudos universitários no seminário protestante de Tübingen. Schelling estudou teologia e filosofia na Universidade de Tübingen, onde se destacou como um brilhante aluno, bem como, pôde conhecer e conviver com outros alunos que se tornariam célebres no futuro: Hölderlin e Hegel, na época cerca de cinco anos mais velhos em idade. Aos 17 anos de idade, e influenciado pela leitura de Kant, publica seu primeiro livro (1792), versando sobre o pecado original e uma interpretação alegórica do mesmo.

Nesta década publica sua primeira obra, sob a influência de estudos sobre Kant: “Da irreligião da época”, também "Cartas Filosóficas Sobre Dogmatismo e Crítica". Posteriormente publica “Filosofia do Idealismo Transcendental” ou “Filosofia da identidade”, considerado por comentadores como uma de suas obras mais influentes


 

Em 1798 ocupa o cargo de professor de filosofia na Universidade de Jena (ocupará o cargo por cinco anos, de 1798 a 1803). Neste momento, ele é influenciado pelo Idealismo Transcendental de Fichte. Em 1803 passa a lecionar em Wurzburgo, onde permanece por três anos, até 1806. Após esta data mudou para Munique onde associou-se à Academia de Ciências, ofereceu cursos em Stuttgart em 1810, e em Erlangen de 1821 a 1826. De 1827 a 1841 atuou como professor na Universidade de Munique. Hegel falece em 1831 e em 1841 Schelling é convidado a ocupar a sua cátedra na universidade de Berlim, onde leciona até 1846.

Casou-se com Caroline Michaelis (1763-1809) em 1803 e teve com ela quatro filhos, Caroline era uma escritora e tradutora alemã, mulher intelectual envolvida em atividades literárias e acadêmicas, tendo exercido forte impacto na vida de Schelling. Quando sua esposa faleceu, por causa de tuberculose, casou-se novamente em 1812 com Pauline Gotter (1786-1854), filha do poeta Christian August Gotter e com quem teve seis filhos. Pauline veio a falecer quatro meses após seu marido.

Em resumo, atuou como professor universitário em Jena e depois mudou-se para Munique, onde permaneceu por 35 anos de sua vida e ocupou o cargo de secretário geral da Academia das Artes Figurativas e também veio a ocupar, em 1827, o cargo de reitor da universidade de Munique. Após a morte de Hegel, o substituiu como professor na universidade de Berlim.

Seu trabalho é inicialmente influenciado pelas primeiras obras de Fichte, bem como por Kant e, posteriormente, se desenvolve vindo a ter influência da concepção da natureza de Spinoza e pelas concepções filosóficas de Giordano Bruno. Como filósofo é considerado um representante do movimento do “Idealismo Alemão” e também sofre influência do “Romantismo”. As ideias presentes no Romantismo, a sua época, valorizavam a subjetividade, a natureza e a emoção. Há uma certa dificuldade por parte dos comentadores em classificar em qual movimento melhor pertenceria o pensamento de Schelling.

Suas ideias tiveram forte repercussão e influência em sua época e mesmo após sua morte. A última fase de seu pensamento exerceu forte influência sobre o desenvolvimento da teologia alemã. Sua obra exerceu grande influência no Idealismo Alemão, no Romantismo, e no desenvolvimento da filosofia da natureza, da arte e da religião.

Kant escreveu três críticas: "Crítica da Razão Pura", 1781, a "Crítica da Razão Prática", 1788, e a "Crítica do Juízo", 1790, além de outras obras também importantes. Tanto Fichte, como também Schelling, foram influenciados pela leitura das obras de Kant, em particular suas “Críticas”.

Ao distinguir entre númeno (a coisa em si) e fenômeno (o que nós percebemos da realidade), Kant influenciou a ambos os autores, levando-os a considerarem as relações existentes entre sujeito e objeto, em suas próprias filosofias. Ambos autores abandonam a ideia de númeno, presente em Kant, e buscam uma maior integração e unidade, saindo deste dualismo kantiano entre númeno e fenômeno.

Em termos gerais, apesar da influência das três críticas no desenvolvimento do trabalho filosóficos destes dois autores, Fichte teve uma maior identificação e influência da “Crítica da razão prática” e, por sua vez, Schelling da “Crítica do juízo”. Fichte desenvolveu sua ética baseada na autonomia do eu e no dever, entendendo que a ação moral é a expressão mais alta da liberdade, sendo a obrigação moral o princípio central da ética. Já Schelling apresenta um maior interesse pela filosofia da arte, explorando a relação entre arte, natureza e espírito. Schelling enfatizou a unidade da natureza e do espírito presente na arte. A arte em Schelling é a expressão do absoluto e da unidade da natureza e do espírito na estética.

Não há um sistema filosófico propriamente dito em Schelling e sim uma evolução constante de seu pensamento, partindo de um ponto central comum. No decorrer de sua vida passou por várias fases filosóficas, não havendo um consenso por parte dos comentadores no tocante a quantas fases marcariam o seu pensamento filosófico. Esta dificuldade em classificar as ideias filosóficas de Schelling é decorrente da complexidade da evolução de seu pensamento no decorrer de sua vida.

Se nos basearmos na divisão do desenvolvimento de seu pensamento proposta pelo próprio autor, então teríamos três fases. Uma fase de transição do pensamento de Fichte para uma filosofia da natureza, outra na qual partindo da filosofia da natureza se encaminha para uma filosofia da identidade, e por último, o desenvolvimento de uma postura crítica a filosofia de Hegel, esta última fase desenvolvida quando ocupou em Berlim a cátedra anteriormente ocupada por Hegel antes de seu falecimento.

Há várias fases na filosofia desenvolvida por Schelling e cada comentador há de preferir uma dada divisão, mas em linhas gerais e a par com alguns comentadores, podemos dividir nas seguintes três fases: 1- O contato com Fichte e Kant e a elaboração de uma filosofia da natureza, onde encontramos uma fase de transição (1794-1800); 2- a filosofia da identidade, ou Idealismo de identidade (1801-1809); 3- a filosofia positiva – negativa, e a crítica a obra de Hegel (1827-1854). Já outros comentadores hão de preferir dividir tematicamente em: 1- influência e debate filosófico com a obra de Kant e Fichte; 2- filosofia da natureza e a liberdade; 3- filosofia da história e mitologia; 4- filosofia da arte; 5- filosofia da revelação.

Natureza, identidade, arte, história e mitologia, Revelação e Teologia Negativa, são temas abordados no decorrer da vida deste filósofo, de modo não isolado, mas sim entrelaçado, de forma que tais temáticas se relacionam entre si.

Na fase de transição e elaboração de uma filosofia da natureza, (1794-1800), a primeira fase do pensamento de Schelling segundo alguns comentadores, temos a maior presença do embate entre as filosofias de Kant e Fichte na elaboração do pensamento inicial de Schelling. Influenciado por ambos autores, Schelling argumentou que o princípio fundamental da realidade é a liberdade, e a realidade é uma expressão da atividade mental. Uma característica importante dessa fase é a ênfase na subjetividade, dentro da elaboração filosófica sobre a questão vinculada a como a mente humana cria e interpreta o mundo circundante, qual a relação entre a mente e o mundo. Com a evolução do pensamento de Schelling, este aos poucos vai se afastando do pensamento de Kant e Fichte e se direcionando para uma filosofia da natureza.

Na primeira fase de sua filosofia, a filosofia da natureza, parte de alguns filósofos e também das descobertas científicas de sua época para defender a objetividade da natureza enquanto realidade que basta a si mesma. A natureza é algo que possui vida própria, é criadora e autônoma. A natureza ao longo da evolução busca tomar consciência de si mesma e isto se dá por meio da consciência humana. A contradição encontrada anteriormente em Fichte e Kant, ao descrever duas realidades, seja uma numênica e outra fenomênica ou entre finito e infinito, ou entre natureza e espírito, encontra segundo uma possível interpretação das obras de Schelling, a solução em que é Deus quem cria a razão e a natureza, Deus cria todas as coisas ao pensa-las, claro que não há consenso nesta interpretação, alguns outros comentadores preferindo entender que a mente e a natureza se originam ambas de uma única unidade, e não como criação de um ser transcendente mais presente na terceira fase da filosofia de Schelling.

Se formos comparar o pensamento de Schelling com o de Fichte, temos que na elaboração de seu pensamento encontra os conceitos de “Eu absoluto” e “não Eu” presentes na filosofia de Fichte. O “Eu absoluto” é o pensamento, a consciência. Ora, Schelling toma o conceito de “não Eu” como sendo o inconsciente, mas como tal, faz parte do “Eu absoluto”, só não é conhecido neste momento. Deste modo, unifica os conceitos de “Eu absoluto” e “não Eu” em um único ser, pensamento que se pensa a si mesmo e conforme pensa, cria. A realidade para Schelling é pensamento produtivo, criativo. A realidade é pensamento que enquanto pensa, cria. A realidade, a natureza, se apresenta como um constante esforço de tomada de consciência de si mesma, autoconsciência. Na natureza temos dois movimentos, um de expansão e outro de atração. Pelo movimento de expansão é criado o espaço e pela relação e interação entre expansão e atração temos a criação do tempo. Em Kant tempo e espaço são dados a priori, já em Schelling são criados a partir da interação entre expansão e atração. Schelling usa a expressão “espírito” como equivalente ao “Eu puro” de Fichte. Espírito e natureza são duas formas opostas, mas complementares, é a consciência e a inconsciência. O lado claro e o lado escuro de uma mesma coisa (por exemplo: the dark side of the moon).

No início não havia diferenciação entre natureza e consciência individual, ambas ligadas a uma unidade absoluta e infinita, quando ocorre esta separação entre consciência individual e natureza, a consciência passa a ter um limite dado por ela própria, já a natureza não possui limites. A essência de nossa consciência é o espírito, já a essência da natureza é a matéria, a força. A natureza neste sistema filosófico se mostra tão real quanto o próprio eu racional e consciente de si mesmo. A razão humana busca refletir a natureza da qual se originou. A natureza possui o mesmo princípio de inteligência do eu racional consciente, mas adormecido.

A natureza é um todo coerente e não fragmentado, sendo sua essência a força, atividade pura, uma atividade infinita. Na natureza podemos encontrar duas tendências: a dispersão (expansão) e a unificação (atração). Já a realidade na qual vivemos é composta pelo movimento dialético entre estas duas tendências.

Na sequência da evolução de sua filosofia, alguns comentadores entendem que temos uma segunda fase (1801-1809), na qual a questão principal é a filosofia da identidade. Nesta segunda fase, a elaboração de uma filosofia da natureza que havia começado na primeira fase de seu pensamento, encontra-se agora completa. Nesta nova fase o foco se dá na relação entre natureza e mente, ambas compartilhariam de uma identidade fundamental. Não há uma separação rígida entre a natureza e a mente, mas sim uma unidade interconectada. Esta unidade fundamental e incondicional da realidade recebe de Schelling o nome de “Identidade Absoluta”. Trata-se de uma identidade transcendental e base de todo o ser.

Na segunda fase, a fase da "Filosofia da Identidade", Schelling continuou a explorar a relação entre natureza e mente, já presente na primeira fase, mas ele se concentrou mais na ideia da identidade absoluta e em questões epistemológicas, em vez de desenvolver ainda mais sua filosofia da natureza. Deste modo, temos que a elaboração de uma filosofia da natureza encontra-se mais presente na primeira fase, ainda no embate com as filosofias de Kant e Fichte no desenvolvimento de suas próprias ideias sobre a relação entre natureza e mente.

A filosofia da natureza presente no pensamento de Schelling tem seu foco de interesse voltado para a relação existente entre natureza e mente, para a unidade subjacente existente entre natureza e mente. A natureza e a mente compartilham da mesma identidade fundamental, não estando a natureza separada da mente e não sendo algo oposto a mesma. Enfatizou a importância da intuição intelectual na apreensão da realidade, deste modo, segundo o autor, a compreensão real não pode ser alcançada somente por meio de conceitos racionais, necessitando de uma apreensão direta e intuitiva da unidade entre natureza e mente.

A natureza se mostra como expressão da mente divina, uma manifestação do processo criativo do absoluto. A natureza se mostra como algo vivo e em constante evolução. Encontramos um animismo na teoria da natureza deste autor, uma “alma mundo”, na qual todas as coisas tem vida, a natureza constitui um todo vivente. Schelling reporta toda a criação à natureza, a vida surge da matéria sem vida. A natureza é uma realidade em constante evolução. Tanto a realidade física como o espírito, são, ambos, expressão de um único Deus criador, espírito do mundo. A natureza se apresenta como o espírito visível, por sua vez, o espírito é a natureza invisível. Em toda natureza há um espírito estruturante. A inteligência está latente na matéria. A natureza está viva. Há uma evolução que vai da natureza inorgânica para a natureza orgânica e desta para a consciência.

Em Schelling temos o absoluto como semelhante a uma matriz da qual tudo se origina, deste modo, como tudo se origina deste absoluto, há em tudo uma identidade comum, por mais diferentes que tais coisas possam parecer. Toda a realidade está em constante evolução e se manifesta por sucessivas fases. Temos que da natureza inorgânica vamos para a natureza orgânica e a seguir para o espírito. O espírito está presente na natureza inorgânica, proporcionando ordem a mesma. Em Schelling a natureza se mostra como um todo vivo e ativo.

Em Schelling o acesso ao absoluto se dá por meio da intuição intelectual como consciência de si mesmo. O absoluto faz referência a uma atividade primordial presente em todas as coisas, orgânicas e inorgânicas, de modo inconsciente e produtivo. Cabe ao entendimento filosófico provindo da consciência humana, buscar restaurar a unidade e identidade desta atividade primordial do absoluto. Em sua filosofia da identidade, tanto o sujeito, como também o objeto, são entendidos como a unidade do absoluto.

Na filosofia da identidade, Schelling aprofunda seus estudos sobre a identidade entre natureza e mente, formulando o conceito de “identidade absoluta”, representando a unidade incondicional e transcendental de toda a realidade e base de todo o ser. Esta fase também se mostra mais metafísica e especulativa que a anterior, demonstrando interesse filosófico por questões sobre a estrutura mais profunda da realidade e a relação entre o finito e o infinito.

Na filosofia de Schelling a “consciência” é apresentada como a expressão mais alta de toda atividade espiritual, exercendo um papel central em sua filosofia. A consciência representa o “eu individual”, o “sujeito pensante”, o “sujeito racional” que possui a capacidade de refletir e compreender a realidade que o rodeia. É na consciência que temos o reino do espírito e da liberdade, domínio da razão.

A “natureza” no pensamento de Schelling se apresenta como uma realidade objetiva e autônoma. A natureza não é um mero conjunto de entes externos ao sujeito pensante, mas sim a manifestação da atividade divina, expressão da mesma inteligência presente na mente humana, mas inteligência adormecida. A natureza deve ser entendida como regida por leis naturais, sendo uma fonte de inspiração para nossa mente.

Já a consciência humana mostra-se como parte da mente que se eleva acima da natureza, nela temos a esfera da liberdade e da reflexão. Por meio da mente humana pode-se transcender as limitações da natureza, buscando a compreensão da realidade de forma livre e racional, se bem que tal compreensão não seja completa sem levar em conta a conexão existente entre a consciência humana e a natureza.

A relação existente entre estes três conceitos (consciência, natureza e consciência humana) na filosofia desenvolvida por Schelling é complexa. A natureza tende a aparecer em seu pensamento filosófico como algo anterior à consciência, um estágio no qual a atividade espiritual ainda não se desenvolveu completamente. Cabe à consciência humana a possibilidade de refletir sobre a natureza, buscando a compreensão da realidade, reconhecendo a existência de uma conexão entre consciência e natureza. Esta relação complexa está presente no transcorrer das várias fases do pensamento deste filósofo.

Enquanto na primeira fase de seu pensamento predominou a influência de Kant e Fichte, nesta segunda fase percebemos a influência de Spinoza e Giordano Bruno. A filosofia da identidade de Schelling é nitidamente influenciada pelo pensamento de Spinoza, quando este último filósofo afirma a identidade entre Deus e a natureza, ideia esta em conformidade com o pensamento de Schelling quanto a identidade absoluta, que unifica todos os aspectos da realidade. A influência de Spinoza se faz presente em Schelling na ênfase sobre a unidade e no entendimento de que a natureza e a mente não estão separadas, mas fazem parte de uma mesma e única realidade. Já Giordano Bruno se faz presente com a ideia por este defendida quanto a infinitude do universo e a existência de inúmeras realidades.

Na opinião de vários comentadores, segue-se a esta uma terceira fase (1827-1854) no pensamento de Schelling, a fase da filosofia positiva-negativa e na qual temos uma crítica a obra de Hegel.

Schelling introduz sua filosofia positiva-negativa, na qual explora conceitos como o absoluto e a relação entre afirmação e negação. Ele critica a filosofia de Hegel e busca uma abordagem alternativa.

Além de adotar uma postura crítica ao sistema de Hegel, tende a se afastar do seu pensamento expresso nas fases anteriores, em particular sobre a filosofia da identidade. Sua filosofia se direciona mais para questões religiosas, abordando a teologia e temas espirituais, voltada para a compreensão do mistério e da transcendência divina. Fica nítido nesta terceira fase uma mudança significativa nas principais ideias por ele defendidas anteriormente. Nesta fase se afasta do Romantismo e do Idealismo Alemão, adotando uma abordagem crítica em relação aos mesmos, tendendo a se afastar bastante do idealismo então presente nesta época, de forte influência no pensamento elaborado por Hegel.

Boa parte deste período é destinado a uma crítica ao pensamento de Hegel, discordando de aspectos presentes ao sistema hegeliano, dentre os quais a natureza do absoluto e a questão da liberdade em Hegel. Também enfoca, nesta terceira fase, a importância da liberdade humana, destacando que esta não pode ser devidamente entendida por meio do sistema filosófico de Hegel.

A dialética tradicional, tal como ficou convencional após Hegel, na qual temos uma tese (afirmação), seguida de uma antítese (negação) visando uma superação de ambas em uma síntese, encontra-se ausente nas duas primeiras fases do pensamento de Schelling, já na terceira fase de seu pensamento filosófico, observamos a tese e a antítese na dualidade entre positivo e negativo, mas em sua dialética, Schelling não busca superar ambas as posições e sim integrá-las. Há aqui uma valorização da complexidade da realidade, permitindo que ambas as dimensões coexistam dentro de uma dualidade positiva-negativa.

A filosofia positiva-negativa desenvolvida por Schelling nesta fase de seu pensamento filosófico, caracteriza-se por uma busca de compreensão mais aprofundada do absoluto por meio de uma complexa abordagem na qual discute ideias positivas ou afirmações sobre a realidade, e ideias negativas ou negações e limitações da realidade.

A filosofia positiva-negativa tende a se mostrar uma elaborada e complexa abordagem desenvolvida por este autor. Schelling busca tratar filosoficamente questões metafísicas e teológicas que ultrapassem as estruturas rígidas do sistema filosófico de Hegel. Para o correto entendimento da complexidade da realidade é necessário considerar o que é positivo (afirmações sobre a realidade) e o negativo (negações ou limitações da realidade), incorporando esta dualidade e não negando uma em proveito de outra. No lugar de afirmar ou negar um dado conceito, caberia desenvolver uma crítica filosófica que permita abranger a totalidade da experiência humana e da realidade.

Por meio da filosofia positiva-negativa, reconhece que diversos aspectos presentes na realidade, tais como questões metafísicas e teológicas, mantém o seu mistério e transcendência em relação a nossa capacidade de compreensão racional conceitual. Não seria possível por meio da filosofia a compreensão total destes aspectos, sua explicação deve deixar espaço para um aspecto inerente ao mistério da realidade.

Nesta fase aborda questões teológicas e espirituais por meio da teologia negativa, a qual entende que Deus não pode ser totalmente abarcado por conceitos oriundos da razão humana, não sendo possível afirmar o que Deus de fato é, mas podemos afirmar o que Deus não é.

Por meio da teologia negativa se enfatiza a impossibilidade da total compreensão de Deus, ser misterioso e transcendente, diante da limitada capacidade de compreensão humana. A nós somente resta afirmar o que Deus não é. Já quanto ao “mistério”, este faz referência a ideia de que existem aspectos da realidade que estão além da capacidade de compreensão humana, indo muito além do alcance da razão humana e dos conceitos por ela desenvolvidos. O mistério se faz particularmente presente nas questões religiosas e na transcendência de Deus.

Coube ao pensamento de Schelling enfatizar a importância da unidade, bem como, da relação existente entre diferentes esferas da realidade, onde incluímos a natureza, o espírito, a ética e a teologia. O absoluto é uma realidade presente em tudo e há um só tempo material e espiritual. Entendia que a intuição é uma fonte de conhecimento que vai além da razão humana, permitindo uma compreensão mais profunda da realidade. Sua filosofia exerceu forte influência não somente na filosofia, mas também na teologia.

No período em que lecionou em Berlim desenvolveu e apresentou suas ideias sobre religião e mitologia. Entendia que o cristianismo tem como essência a sua real natureza histórica presente na encarnação de Jesus Cristo, em sua vida e martírio. O valor da religião cristã encontra-se justamente nesta realidade histórica presente na vida real de Jesus Cristo, não sendo correto tentar reduzir o conteúdo da doutrina cristã somente aos preceitos morais nela presentes.

A abordagem filosófica à teologia por meio da via negativa presente em Schelling enfatiza que o conhecimento de Deus se dá não pela afirmação de suas qualidades e sim pela negação ou descrição do que Deus não é. Esta abordagem encontra diversos outros autores que a defendem no transcorrer da história humana e que podem ter influenciado o pensamento de Schelling, como tal é o caso de Pseudo-Dionísio, o areopagita (século V d.C.), Mestre Eckhart (1260-1328), São João da Cruz (1542-1591).

Schelling entende que o absoluto se mostra como uma unidade entre natureza e espírito, se revelando na história, na arte e na religião, deste modo, sua filosofia exerce influência na estética e também nos trabalhos de outros membros do Idealismo Alemão e do Romantismo.

Na arte, na obra de arte, se intui o absoluto em si mesmo, isto porque a arte possui algo de Divino, igualando-se aqui ao universo criado por Deus. É na arte que o espírito e a natureza se unem, sendo uma atividade simultaneamente consciente e inconsciente, onde a obra de arte é algo finito, mas sua significação é infinita. A pretensão inalcançável da filosofia é a de validade universal, mas somente pela arte podemos atingir uma objetividade absoluta.

A obra de arte nos permite a intuição do absoluto, se mostra como expressão do divino, se apresenta como a união entre espírito e natureza, é uma atividade simultaneamente consciente e inconsciente, nela temos presente a finitude e também a infinitude, permite atingir a objetividade absoluta.

A arte possui em si mesma algo de divino que a iguala ao universo criado por Deus. A arte se mostra como uma forma de expressão criativa que consegue capturar a essência da realidade de modo semelhante a própria criação divina. A arte mostra-se como uma atividade vinculada ao absoluto e à espiritualidade.

A arte possui, segundo o autor, um caráter todo especial que nos permite uma experiência direta e profunda do absoluto, ou seja, é possível por meio da obra de arte intuir o absoluto em si mesmo. O absoluto é a realidade fundamental por trás de todas as coisas, sendo que a arte nos fornece um modo único de nos conectarmos a esta realidade.

Na obra de arte há uma união entre o espírito e a natureza. A arte não é somente a expressão da criação humana, pois, nela estão presentes elementos da natureza, sendo esta união entre espírito e natureza uma característica distintiva da arte.

Na atividade artística temos simultaneamente a consciência do artista quanto as suas próprias escolhas na criação da obra de arte, com aspectos inconscientes, nos quais a intuição desempenha um importante papel na expressão artística.

Na obra de arte percebemos a finitude e a infinitude, pois, enquanto a obra de arte é algo finito, limitado, que possui um determinado formato material, por outro lado, evoca interpretações e emoções diversas em cada novo observador. Deste modo, o finito se faz presente na obra, do mesmo modo que o infinito, proporcionando a obra de arte transcender as suas limitações físicas e se conectar com o absoluto.

Somente é possível por meio da arte atingir uma objetividade absoluta, não sendo tal possível por meio da filosofia, apesar desta buscar uma validade universal. A arte tem em si a capacidade de comunicar verdades profundas sobre a existência, verdades estas muito difíceis de serem expressas por meio da linguagem filosófica.

Dentro da filosofia de Schelling a arte exerce um papel importante e especial na busca de compreensão do absoluto. A arte permite uma intuição direta do absoluto, representando uma união entre espírito e natureza. Na arte temos tanto uma atividade consciente, como também uma atividade inconsciente que ultrapassa a finitude material presente na obra de arte feita pelo artista, tornando-se deste modo uma expressão significativa da objetividade absoluta. Tal abordagem da arte feita por Schelling teve a virtude de influenciar a estética e a filosofia da arte. Esta abordagem da arte se encontra mais presente na segunda fase do pensamento deste autor.

Em sua obra, Schelling também aborda questões éticas e morais. Schelling, da mesma forma que Fichte, defende a autonomia moral do eu. Segundo Schelling, a ação moral é a expressão da liberdade humana e a moralidade está vinculada com a capacidade humana de agir de acordo com o dever e o imperativo moral. Também trabalhou a relação entre liberdade, dever e moralidade, entendendo que a verdadeira moral é consonante com a realização do dever enquanto expressão da vontade livre e autônoma do indivíduo. O dever é entendido por Schelling como sendo algo intrínseco a própria natureza humana, algo originário da liberdade do sujeito. A ética é entendida por Schelling como estando vinculada à capacidade do humano de agir de acordo com o dever moral.

No desenvolvimento da segunda fase de seu pensamento, a filosofia da identidade, entendeu que havia uma unidade entre natureza e espírito, e que a moralidade é parte integrante do cosmos, onde o humano se comporta em harmonia com a totalidade. No decorrer da fase da filosofia da identidade, Schelling destaca a unidade e identidade entre natureza e espírito, entendendo a moralidade como uma expressão da harmonia entre os aspectos materiais e espirituais da realidade. Para Schelling a moralidade está relacionada à harmonia e à totalidade do cosmos, de tal modo que a moralidade envolve a participação do humano na realização da ordem moral do universo.

Schelling também destaca a importância da vontade na moralidade no tocante a realização do dever moral, pois, esta realização do dever moral está ligada à vontade livre do sujeito. A moralidade envolve a capacidade de escolher e agir de acordo com o dever, mesmo em circunstâncias difíceis e desafiadoras.

Já no desenvolvimento de sua filosofia da arte, entendeu que a experiência estética pode ser uma expressão da moralidade, pois, a arte pode revelar a harmonia entre natureza e espírito, refletindo a moralidade no universo estético. No tocante à estética, argumentou que a apreciação da beleza na obra de arte pode encaminhar para uma compreensão mais profunda da moralidade, sendo a arte um meio de comunicação da moralidade e da harmonia no universo. A arte e a religião são meios para expressar a moralidade e a relação do humano com o cosmos.

A abordagem dada por Schelling à ética e à moral em sua filosofia se mostra complexa e integrada as fases de seu pensamento filosófico, enfocando a importância da vontade livre, da harmonia e da unidade na compreensão da moralidade, em uma abordagem holística onde se destaca a relação entre natureza e espírito.

Não há, no entanto, uma ética totalmente desenvolvida e sistematizada em Schelling, tal como a encontramos em Kant ou Fichte. As suas reflexões sobre ética e moral estão inseridas dentro do desenvolvimento das várias fases presentes a sua filosofia, apresentando uma abordagem mais holística sobre a temática.

Dentre as suas principais obras destacamos algumas, divididas por períodos do desenvolvimento de seu pensamento:

 

Primeira Fase - Filosofia da Natureza:

1- "Ideias para uma Filosofia da Natureza" (Ideen zu einer Philosophie der Natur), 1797.

Nesta obra, Schelling explora suas primeiras ideias sobre a relação entre a natureza e o espírito, propondo uma filosofia da natureza que integra aspectos espirituais e naturais.

2- "Da Alma do Mundo" (Von der Weltseele), 1798.

Schelling continua a desenvolver sua filosofia da natureza, abordando a ideia de uma alma do mundo que permeia toda a realidade natural. Ele explora a conexão entre o mundo natural e o mundo espiritual.

3- "Primeiro Esboço de um Sistema da Filosofia da Natureza" (Erster Entwurf eines Systems der Naturphilosophie), 1799.

Neste trabalho, Schelling elabora suas ideias sobre a filosofia da natureza em um sistema mais abrangente, abordando conceitos como a polaridade e a dualidade na natureza.

 

Segunda Fase - Filosofia da Identidade:

4- "Sistema de Idealismo Transcendental" (System des transzendentalen Idealismus), 1800.

Schelling começa a desenvolver sua filosofia da identidade nesta obra, na qual explora questões de identidade e polaridade entre sujeito e objeto.

5- "Investigação sobre a Essência da Liberdade Humana" (Untersuchungen über das Wesen der menschlichen Freiheit), 1809.

Nesta obra, Schelling aprofunda sua filosofia da identidade, examinando a natureza da liberdade humana e sua relação com a natureza e a divindade.

6- "Filosofia da Arte" (Philosophie der Kunst), 1802-1803.

Esta obra é considerada uma das mais importantes na filosofia da arte do período romântico.

 

Terceira Fase - Filosofia Positiva-Negativa e Crítica a Hegel:

7- "Filosofia da Mitologia" (Philosophie der Mythologie), 1835-1836.

Uma obra importante que explora as relações entre filosofia, mitologia e religião.

8- "Filosofia da Revelação" (Philosophie der Offenbarung), 1858.

Postumamente publicada, esta obra reflete a terceira fase do pensamento de Schelling. Aqui, ele discute questões de teologia negativa, mistério e revelação divina.

 

Obras Gerais:

9- "Lições sobre o Método Acadêmico" (Vorlesungen über die Methode des akademischen Studiums), 1803.

Uma obra que discute questões metodológicas na filosofia e na educação. Nesta obra Schelling oferece orientação sobre como os estudantes podem atuar de modo mais eficaz nos estudos acadêmicos. Trata-se da visão pedagógica de Schelling.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 


 


 


 


 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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