Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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quinta-feira, 30 de março de 2023

João Calvino: O Calvinismo

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 João Calvino

Jehan Cauvin

 João Calvino ou Jehan Cauvin (1509-1564) nasce em Noyon, região da Picardia, no norte da França, e falece em Genebra, na Suíça, aos 54 anos de idade por motivos de saúde. Teólogo, estudou Direito tendo se formado nesta área, líder religioso da Reforma e escritor com domínio do latim. Escreveu várias obras, sendo sua principal obra: a “Instituição da Religião Cristã”, de 1536.


 

Provindo de família cristã, Calvino, então com 12 anos de idade, em 1521, é enviado por seu pai a Paris para estudar teologia, tendo conseguido uma verba anual para tal. Em 1529, então próximo de seus 20 anos de idade, obedece ao pai, que decidira que este deveria abandonar os estudos em teologia e começar a estudar Direito, por ser uma profissão de maior rentabilidade e foi estudar Direito em Orleães. Em 1532, foi doutorado em Direito em Orleães. Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre com seus estudos em Teologia, tendo sido inicialmente um humanista (aos 23 anos já era considerado um humanista famoso), nunca, no entanto, foi ordenado sacerdote, se bem que após ficar famoso, alguns de seus seguidores o chamavam de “padre”. Por volta de 1532 e 1533 se converte ao cristianismo então presente na Reforma. De 1536 a 1538 esteve em Genebra, de 1538 a 1541 em Estrasburgo (leste da França) e a partir deste ano até o final de sua vida, novamente em Genebra, onde efetivou mudanças religiosas, políticas e sociais no governo da cidade, que tornariam Genebra no principal centro protestante da Europa.

Durante sua estada em Genebra, de 1541 até sua morte em 1564, Calvino, segundo alguns comentadores, representou a face mais conservadora e puritana do movimento protestante. As medidas adotadas resultaram em hábitos austeros aos cidadãos de Genebra. O jogo, a dança e o canto, que não fosse ligado à igreja, por exemplo, eram terminantemente proibidos, pessoas suspeitas de bruxaria, ou quem discordasse das doutrinas de Calvino, sofriam medidas punitivas, podiam ser expulsas da cidade, vítimas de alguma humilhação pública, presas, ou mesmo queimadas vivas em uma fogueira, sendo o caso mais emblemático o da execução de Miguel Serveto, médico espanhol condenado à morte por negar a doutrina da Trindade, e também um desafeto de Calvino.

As ideias de Calvino difundiram-se pela Europa. Na França, esteve presente nos Huguenotes, na Escócia, nos presbiterianos, na Inglaterra, nos puritanos, na Holanda, nos protestantes.

Seu pensamento há de influenciar não somente a religião, pelo movimento da Reforma do qual participou ativamente, mas também a sociedade em geral, a política e mesmo a economia até os presentes dias.

Dentro da Reforma protestante, a doutrina desenvolvida por Calvino passou a ser conhecida por “Calvinismo”, e a mesma se apresenta como doutrina religiosa cristã que tem como ponto central a predestinação, ou seja, que Deus quando da criação, já definiu quem seria salvo e quem seria condenado. Enquanto que para Lutero e seus seguidores o crente percorre o caminho da salvação de sua alma por meio da fé e graça de Deus, tendo em decorrência de sua fé a realização de obras (boas ações), para os calvinistas, de acordo com a doutrina da predestinação, nada disto exerce realmente influência, pois, o caminho da pessoa não é definido por ela própria, já tendo sido traçado por Deus.

O calvinismo adota os princípios já presentes em Lutero, sendo uma continuação da Reforma, ou seja, a justificação pela graça mediante fé, o sacerdócio universal, a Bíblia como único livro sagrado e autoridade máxima em questões de religião e fé. Segundo o pensamento expresso por Calvino, tudo se direciona para a glória de Deus, trata-se do princípio da soberania de Deus, e, neste tocante, entra a fidelidade aos preceitos contidos nas Escrituras, o valor dado ao comportamento ético e moral, bem como, o valor dado ao trabalho social e, claro está, à predestinação. Esta questão da predestinação esteve menos presente no próprio Calvino, sendo algo que foi mais enfatizado e desenvolvido pelos seguidores de sua doutrina. Claro, no entanto, que mesmo em sua principal obra encontramos referências explícitas à doutrina da predestinação.

Se compararmos os católicos com os Luteranos ou Calvinistas, temos que há diferenças básicas, tais como a quantidade de sacramentos, sete na Igreja Católica e somente dois nas Igrejas reformadas (batismo e eucaristia), a não veneração de santos pelas Igrejas reformadas, algo comum na Igreja Católica, bem como, a não veneração de Maria, mãe de Deus, presente na Igreja Católica e ausente nas Igrejas reformadas.  Também significativo é a presença de imagens sacras em seus altares na Igreja Católica e a ausência das mesmas nos altares das Igrejas reformadas. No século XVI a missa católica era rezada em latim e a Bíblia também estava em latim, já nas Igrejas reformadas, além da simplificação da celebração, o latim foi substituído pela língua da região, seja o alemão em Lutero para os povos de língua alemã, ou o francês para Calvino em Genebra e França.

O calvinismo trouxe conjuntamente com suas doutrinas, a imposição de comportamentos austeros e puritanos não somente aos seus seguidores, mas as demais pessoas sujeitas a autoridade nas regiões dominadas por tal doutrina.

O calvinismo defende a predestinação, mas também acentua positivamente a importância da fé, do valor moral do trabalho, da importância de economizar e que a riqueza pode ser uma demonstração de que a pessoa é uma das escolhidas por Deus. Nega o livre arbítrio, defendendo um tipo de servo arbítrio, semelhante a Lutero.

Há cinco pontos centrais presentes na doutrina calvinista e a tulipa (tulip) tornou-se o símbolo para representar estes pontos, sendo cada letra correspondente a inicial de um destes pontos. TULIP: Total depravity (depravação total), Unconditional election (eleição incondicional), Limited atonement (expiação limitada), Irresistible grace (graça irresistível), Perseveranse of saint (perseverança dos santos). A TULIP foi formalizada no Sínodo de DORT, na Holanda, mais de cinquenta anos após a morte de Calvino, são os cinco pontos do Calvinismo.

Depravação total: O humano só pode praticar o bem por meio da ação de Deus, pois, em virtude do pecado original relatado no Gêneses e cometido por Adão e Eva, já nasce sob a influência deste ato, o que o torna mau.

Eleição incondicional: Deus escolheu quem irá ou não salvar, não dependendo do humano ou de suas ações, a sua salvação.

Expiação limitada: Quando Jesus Cristo morre na cruz não o faz pela salvação de toda a humanidade, mas somente dos eleitos de Deus.

Graça irresistível: Não é possível negar o chamado de Deus quando somos escolhidos.

Perseverança dos santos: Permanecer firme na crença e assumir a fé para sempre, atendendo ao chamado de Deus, apesar de qualquer dificuldade que possa surgir no percurso.

Podemos falar em algumas consequências da reforma calvinista, dentre as quais a referente ao valor do trabalho. Antes de Calvino a doutrina cristã católica tendia a associar o trabalho com castigo vinculado ao pecado original e o ganho e enriquecimento decorrente do trabalho se aproximava do pecado, logo, o trabalho tendia a ser desvalorizado e visto como castigo de Deus. Isto muda com o calvinismo, o trabalho passa a ser valorizado e a postura econômica, voltada ao desenvolvimento das atividades terrenas, passa a ser impulsionada, promovendo uma verdadeira revolução comportamental quanto ao valor do trabalho e os ganhos dele decorrentes, e sua relação com a fé, religião e Deus.

O calvinismo acabou agradando um segmento econômico social que começava a se desenvolver, na medida em que, enquanto a Igreja Católica condenava a usura, Calvino não o fazia e, entendiam os calvinistas que cada pessoa tinha recebido um dom particular de Deus, o qual deveria ser desenvolvido, deste modo, o trabalho era algo valorizado e o sucesso pelo trabalho e mesmo o enriquecimento pessoal era visto como um sinal de que aquela pessoa era um dos escolhidos de Deus para ser salvo.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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terça-feira, 28 de março de 2023

Thomás Müntzer: A Reforma radical

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Thomás Müntzer (Muentzer ou Münzer)

 Thomás Müntzer (1490-1525), nasce em Stolberg, pequena vila na Alemanha, e falece em Mühlhausen, na Baviera, Alemanha. Teólogo, estudou o grego, hebraico e latim. Foi ordenado padre em 1513.


 

Atuou como líder de uma corrente mais radical da Reforma, se colocando contra Lutero e a favor dos anabatistas. Teve atuação durante a guerra dos camponeses e na batalha de Frankenhausen, que culminou com a derrota dos camponeses rebeldes, Müntzer foi preso, torturado e por fim, decapitado.

Müntzer se apresenta dentro do contexto da Reforma iniciada por Lutero como um representante do que podemos chamar de “Reforma radical”, mas de modo consequente, onde elabora suas ideias e participa mais ativamente do movimento entre 1520 e 1525. Entende que a fé é revolucionária, pois, liberta o crente das amarras da letra escrita e lhe confere força para realizar o Reino de Deus na Terra.

Müntzer suscita polêmica até os presentes dias. Ao buscarmos uma compreensão e interpretação do seu real significado, nos encontramos com diferentes interpretações sobre o real papel político que ele teria desempenhado. Passando por teólogo vinculado à Reforma até um revolucionário radical, temos que para os protestantes ortodoxos ele se apresenta como um anabatista, já para os anabatistas ele é percebido como alguém que é um verdadeiro mensageiro de Deus por meio do evangelho. Os católicos entendem que ele é consequência do individualismo presente nas doutrinas de Lutero e outros protestantes. Os que hoje seguem uma vertente histórica-marxista, tendem a vê-lo como alguém que teria atuado como o grande ideólogo da revolta dos camponeses e o primeiro político cosmopolita, um tipo de proto-comunista.

Já que Müntzer fez parte da liderança de grupos de camponeses anabatistas, cabe explicar melhor o significado do termo, atentando que vários e distintos grupos eram assim chamados e que para Müntzer o re-batismo não era algo de vital importância. Anabatistas (do grego ana = novamente e batistas = batizar, batizar novamente). Apesar do uso do termo já se encontrar na Antiguidade, trata-se aqui, neste contexto, de uma ala radical do movimento protestante no século XVI, sendo uma designação genérica dada a movimentos religiosos que não reconhecem qualquer validade ou importância ao batismo nas crianças, defendendo que deverá ser ministrado a adultos. Eram assim chamados por batizarem novamente todos aqueles que já haviam sido batizados quando crianças, pois, entendiam que o batismo só tinha valor quando em adultos conscientemente convertidos a Cristo. Somente os grupos não radicais e não revolucionários, que adotavam uma postura pacifista, sobreviveram até os dias atuais, possuindo diversas denominações de acordo com suas crenças.

Müntzer une em seu discurso a religião com a política, apresentando uma atitude revolucionária e, com o contato que fez com os anabatistas, passa a criar a base teórica da revolução camponesa. Une-se aos anabatistas, bem como, com outros grupos revolucionários de camponeses alemães contra a nobreza alemã. Alguns comentadores do período calculam em mais de 100 mil mortes decorrentes deste conflito entre camponeses revoltosos e a nobreza alemã.

Os camponeses e seus líderes se pautavam em uma interpretação da Bíblia, com a qual afirmavam terem nascido livres e em igualdade. Reivindicavam a livre escolha de seus líderes religiosos, abolição da servidão presente na relação entre senhor e servo, diminuição dos impostos pago aos nobres, contrários ao dízimo pago à Igreja Católica, defendem a liberdade de fazerem uso para caçar, e outras necessidades de sobrevivência, nas florestas pertencentes a nobreza.

Lutero, por sua vez, não concorda com o radicalismo expresso por Müntzer e entende que os camponeses devem obediência ao poder secular representado pelos nobres, pois esta é a vontade de Deus, deste modo, Lutero condena as doutrinas de Müntzer e apoia os nobres alemães contra a revolta dos camponeses.

Segundo o pensamento de Müntzer, a essência do cristianismo está na humildade, na igualdade, na solidariedade, e na divisão dos bens dos fiéis. Defendia criar o Reino de Deus na Terra e para tal entendia ser necessário eliminar todos os não crentes. Apresentou, também, uma forte crítica e oposição radical não somente à Igreja Católica Apostólica Romana, mas também aos nobres alemães e, como Lutero apoiava e era também apoiado pelos nobres alemães, passou também a se opor a Lutero.

Müntzer é adepto do denominado cristianismo primitivo e como tal, defende os princípios de igualdade, solidariedade, humildade e divisão de bens entre os cristãos. Para ele, a essência do cristianismo estava na humildade e na ação de graças. Sua atividade proporcionou a união entre religião e política, atuando como um fator para a desestruturação do feudalismo alemão e no restante da Europa, suas ideias resultaram em uma forma de cristianismo socialmente militante na busca de reformas não somente religiosas, mas também sociais.

Müntzer defende o fim da propriedade privada e também das instituições do Estado. A sociedade igualitária buscada por Müntzer como ideal cristão só seria possível de ser construída por meio da força das armas, palavras apenas não bastariam.

Müntzer entendia que as pessoas mais simples eram mais capazes de compreender sua pregação do que os nobres e ricos, pensava que a Igreja cristã devia se colocar ao lado dos mais simples, mas que assumia uma postura oposta, estando a Igreja sempre ao lado dos ricos e poderosos.

Segundo Müntzer a verdadeira compreensão de Deus e seus desígnios não vem por meio da autoridade do clero, de homens santos, de escritores cristãos ou mesmo das escrituras, pois, mais importante que o que está escrito na Bíblia é a presença do Espírito Santo dentro do crente, é escutar a voz do Espírito Santo que nos fala de dentro de nosso ser. Por meio de seus estudos bíblicos e do convívio com as ideias presentes no contexto da Reforma, entendia que a palavra de Deus não está unicamente presente nos textos da Sagrada Escritura, pois, o Espírito Santo não parou de se revelar ao crente. Aqueles que se dispõem a escutar, são inspirados pelo Espírito Santo. O estado final e perfeito da humanidade seria atingido por uma experiência direta do Espírito Santo e da vontade de Deus.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

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quinta-feira, 23 de março de 2023

Martinho Lutero (Martin Luther): A Reforma religiosa

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Martinho Lutero (Martin Luther)

 Martinho Lutero (1483-1546) estudou direito, teologia e filosofia. Em 1505 ingressa no convento, tendo se ordenado sacerdote em 1507. Quando em 1510 visita Roma em missão representando seu convento agostiniano, encontra uma cidade cheia de problemas e um clero corrompido. Esta visita há de marcar bastante a Lutero. No ano de 1517 afixa na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg suas 95 teses contra as indulgências, sendo que neste momento não se opõe à autoridade de Roma. Em 1518 é chamado a Roma para explicar as suas teses, mas por intervenção de algumas autoridades, é dispensado de ir, em seu lugar recebe a visita de um representante do papa. Em 1520 o papa Pio X condena por meio de uma bula as doutrinas de Lutero. Em janeiro de 1521 é excomungado. Em abril de 1521 participa da Dieta de Worms, sob salvo conduto do imperador Carlos V. Após a sua participação na Dieta de Worms, quando retornava com outro frade para sua cidade, é sequestrado e levado em segurança para o castelo de Wartburg a mando de Frederico III, o sábio. Em 1531 (publicada em 1534) termina sua tradução da Bíblia, Antigo e Novo Testamento (Lutero termina a tradução do Novo Testamento entre 1521 e 1522 e publica-o em setembro de 1522), para a língua alemã. Antes desta tradução já existiam outras do latim para o alemão (baixo e alto alemão), mas a tradução de Lutero foi mais marcante e importante historicamente, mesmo não sendo a primeira. Lutero traduziu diretamente do hebraico o Antigo Testamento e do grego o Novo Testamento, para o alemão.


 

Alguns consideram como marco inicial da Reforma Lutero ter afixado na porta da igreja as suas 95 teses, escritas em latim, no ano de 1517, sem dúvida, fato mais conhecido e divulgado até os presentes dias (mesmo podendo não ser verdadeiro em sua íntegra, pois, apesar de ter escrito as teses e as divulgado, há questionamentos sobre se teria ou não fixado as mesmas na porta da igreja), no entanto, outros comentadores entendem o ano de 1530 como o marco do princípio do Luteranismo, com a “confissão de Augsburgo”.

No século XV, mais especificamente entre os anos de 1439 e 1400, Gutenberg inventou e desenvolveu a imprensa com tipos móveis, o que foi bem útil para a divulgação das ideias de Lutero no século seguinte. As 95 teses foram impressas, traduzidas para o alemão e outras línguas, em algumas semanas toda a região de língua alemã já tinha acesso as mesmas e em dois meses, toda a Europa. Este pode ser considerado o primeiro evento no qual a invenção da imprensa exerceu um papel de suma importância na distribuição e divulgação das novas ideias presentes neste documento para uma ampla região e população.

O pai de Lutero tinha o desejo de ter um filho advogado e funcionário público na família, o que daria não somente status, mas também uma melhor condição financeira. Um fato pitoresco é contado para explicar porque Lutero largou os estudos em Direito e se voltou para a vida religiosa. É narrado do seguinte modo: um dia, retornava Lutero após visitar a casa dos pais quando repentinamente foi apanhado por uma forte tempestade com relâmpagos, trovões e raios. Um raio caiu bem perto dele, quando caminhava pela estrada e eram muitos raios cortando os céus e caindo. Neste momento de desespero fez uma promessa a santa Ana que caso a tempestade parasse e ele pudesse sair dali a salvo, entraria para a vida religiosa, tornando-se um monge. Como a tempestade parou, Lutero cumpriu sua promessa e ingressou na Ordem Agostiniana em Frankfurt, no dia 17 de julho de 1505.

Dentre as reformas adotadas estava presente a que abolia o celibato presente na vida religiosa da Igreja de então, a partir disto, no ano de 1525 Lutero casou-se com Catarina de Bora (Katharina von Bora) com quem teve seis filhos. Catarina, por sua vez, era freira, mas com a Reforma havia abandonado seu convento.

Há também um lado obscuro em Lutero na visão dos dias atuais, pois, se comportava e defendia o antissemitismo. Até o ano de 1536 se colocava de modo entusiástico a favor da conversão dos judeus ao cristianismo, mas como encontrou muitas dificuldades na concretização deste projeto, muda seu enfoque e já em 1543 publica “Contra os judeus e as suas mentiras”, trabalho no qual apresenta grande oposição ao judaísmo. Lutero chegou mesmo a defender que ateassem fogo às sinagogas e escolas judaicas, afirmar que os judeus deveriam ter suas casas destruídas, seus bens e também seus livros religiosos apreendidos.

O início do movimento e as 95 teses, teve sua origem na oposição feita por Lutero a venda de indulgências, ou seja, prática comum autorizada pelo papa, na qual as pessoas podiam pagar e deste modo comprar, o perdão de seus pecados e sua salvação. Na época, a venda de indulgências objetivava arrecadar fundos para a construção da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

O problema com a não aceitação da venda de indulgências se tornou mais claro com a visita a cidade de Lutero de um representante do papa para tal finalidade, o monge dominicano Johan Tetzel, que tinha como atribuição principal vender indulgências por toda a região da Alemanha e do qual temos um ditado que lhe é atribuído, a saber: "Tão logo uma moeda na caixa cai, a alma do purgatório sai."

Além da venda de indulgências, outra questão debatida e criticada por Lutero em seus sermões e escritos era a simonia, ou seja, a venda de coisas vinculadas a religião, sejam cargos na Igreja, ou supostas relíquias sagradas.

Outra questão também presente é a corrupção e decadência da Igreja presente não somente na venda de indulgências e na simonia, mas também no que alguns chamam de nicolaismo, doutrina pela qual os padres católicos podiam casar e terem mais de uma mulher, poligamia. Na prática o que temos é que apesar do voto de celibato, era comum encontrar pessoas do clero com relacionamentos e mesmo filhos provindos de tais relacionamentos. Podiam ter esposas não oficiais ou mesmo se relacionarem abertamente com prostitutas. Em Roma, segundo alguns comentadores do período, havia inclusive, bordel só para religiosos. O termo “nicolaismo” surge primeiramente como uma heresia na Igreja, sendo mencionado no Apocalipse. Seu significado inicial em grego era “conquistador de pessoas”, tendo como sentido a aceitação da poligamia ou o compartilhamento de esposas.

Temos, portanto, em Martinho Lutero, frade agostiniano, da Igreja católica apostólica romana, aquele que irá ser o responsável por dar início a um movimento de contestação de várias práticas então aceitas e presentes na Igreja no século XVI.

Destaca em seus escritos o caráter preponderante da fé para a salvação. A salvação se dá somente pela graça de Deus e o único livro sagrado se encontra nas Escrituras (Bíblia). Há uma separação quase que completa entre fé e obras, bem como, entre religião e ética. Também é negada a teologia natural.

Lutero acabou formulando implicitamente o princípio das cinco “solas” (somente): 1- fé, 2- escrituras, 3- Cristo, 4- Graça, 5- glória somente a Deus. A formulação explícita destes cinco princípios não foi feita por Lutero ou seus contemporâneos, e sim somente ocorre no século XX, por meio de um teólogo católico, visando resumir a doutrina luterana.

Sola fide (somente a fé)

Sola scriptura (somente a Escritura)

Solus Christus (somente Cristo)

Sola gratia (somente a graça)

Soli Deo gloria (glória somente a Deus)

Os princípios da reforma protestante apresentados pelo pensamento de Lutero têm alguns pontos centrais, como, por exemplo: a ideia do sacerdócio universal dos crentes, a justificação pela fé, a autoridade exclusiva da Bíblia em questões de fé, a pessoa salvadora de Cristo, bem como, só admitir dois sacramentos, o batismo e a eucaristia, enquanto eram sete os sacramentos presentes na Igreja Católica. Entenda que o casamento ocorre, mas não é entendido como um sacramento do mesmo modo que na Igreja Católica, onde não é possível a separação após a união por Deus, pois, cabe a possibilidade de separação em um casamento protestante luterano, mais se assemelhando a um casamento civil.

Vários fatores estiveram presentes e tornaram possível o sucesso do cisma provocado pela reforma protestante, fatores estes que favoreceram o êxito de um Lutero, e cuja ausência anos antes, em Florença, Itália, levaram Savonarola ao fracasso com sua tentativa. Lutero se mostrava insatisfeito com a situação religiosa que via na Igreja e há comentadores que vinculam esta insatisfação a sua viagem a Roma, motivada por questões relacionadas a ordem da qual fazia parte como membro do mosteiro, em 1510, Lutero teria presenciado fatos que o levaram a concluir pela falta de espiritualidade e corrupção entre os religiosos.

O bom êxito da Reforma tornou-se possível na medida em que Lutero teve adesão popular e de nobres alemães. Enquanto que os nobres percebiam este movimento como capaz de enfraquecer o poder do papa, diminuindo a influência da Igreja no poder secular, bem como um modo de se abster dos impostos devidos a Igreja, por sua vez, os camponeses vislumbravam neste movimento uma via de combate a opressão e a pobreza então reinante em sua região, o que gerou uma série de revoltas camponesas apoiadas por outros líderes religiosos, pois, Lutero pessoalmente não era a favor de tais revoltas camponesas, em parte pela violência explicitamente presente.

Podemos afirmar que as atitudes tomadas por Lutero foram pautadas em sua pessoal indignação e pela discordância com os então costumes e práticas adotadas pela Igreja. Com a Reforma, passamos a ter três grandes vertentes do cristianismo: A Igreja Católica, a Igreja Ortodoxa e a Igreja Protestante, fruto da Reforma. A Reforma também exerceu profunda influência em diversos setores da sociedade, bem como na economia e na política, além da educação, onde também proporcionou uma reforma no modo de educar, no sistema de ensino alemão, inaugurando o que podemos chamar de escola moderna. Pelo entendimento presente na Reforma, era importante ler a Bíblia para obter a salvação e para isto era necessário saber ler.

Na época histórica em que se encontrava Lutero, a educação era organizada e mantida somente pela Igreja. Coube a Lutero defender que fosse organizado um sistema educacional de frequência obrigatória e mantido pelo Estado e não pela Igreja. As alterações propostas por Lutero na educação abrangem a sua organização, seus princípios e fundamentos, defendendo que a educação seja dada a todos.

Após o começo da Reforma com Lutero, tivemos vários outros líderes que conduziram a reforma para um caminho próprio e particular, havendo, portanto, divisões no movimento, e não uma, mas várias Igrejas protestantes, que, inclusive, entravam em conflito entre si. Tivemos, portanto, diversas guerras religiosas nas quais se verteu muito sangue. Foram guerras entre católicos e protestantes, bem como, guerras entre os próprios protestantes, a partir das divisões ocorridas dentro da Reforma. O protestantismo não nasce uno com a Reforma, e sim múltiplo, e como tal se apresenta até os dias presentes.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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