Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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quinta-feira, 30 de junho de 2022

Estoicismo (2) * A lógica proposicional de Crisipo de Solos

 


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 O pensamento elaborado dentro do estoicismo pode ser dividido em três partes: física, lógica e ética. A lógica por sua vez, pode ser dividida em dois ramos: a formal e a teoria do conhecimento. Na lógica formal temos que a atenção se dá às proposições, se afastando da lógica de termos de Aristóteles.

Os Estoicos se dedicaram a estudar a gramática e a lógica, apresentando desenvolvimentos significativos nestes campos. Se apresenta como um dos grandes sistemas de lógica da Antiguidade. Sua elaboração se deve ao filósofo Crisipo de Solos, que foi o terceiro a comandar a Escola Estoica, isto no século 3 a. C. Trata-se de uma lógica proposicional que se diferencia da lógica de Aristóteles.

Enquanto a lógica de Aristóteles se baseia em termos apresentados em um silogismo, onde temos o termo maior, o termo médio e o termo menor, nos fornecendo uma lógica estática, a lógica proposta pelos estoicos se baseia no que observamos, trata-se de uma lógica dinâmica e proposicional. Os estoicos sustentam que a realidade não é feita de coisas estáticas e sim de eventos, de movimento. A realidade não consiste em termos separados e sim em um processo, todas as coisas são interrelacionadas. As proposições se apresentam como conjuntivas, disjuntivas e condicionais. Uma proposição é uma frase e não um termo isolado, sua verdade se dá dentro do contexto da frase.

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terça-feira, 28 de junho de 2022

Estoicismo: A lógica proposicional e condicional

  Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Lógica e paradoxos estoicos

 O pensamento elaborado dentro do estoicismo pode ser dividido em três partes: física, lógica e ética. A lógica por sua vez, pode ser dividida em dois ramos: a formal e a teoria do conhecimento. Na lógica formal temos que a atenção se dá às proposições, se afastando da lógica de termos de Aristóteles.


 

 A lógica formal

Lógica estoica (proposicional e condicional)

Os Estoicos se dedicaram a estudar a gramática e a lógica, apresentando desenvolvimentos significativos nestes campos. Se apresenta como um dos grandes sistemas de lógica da Antiguidade. Sua elaboração se deve ao filósofo Crisipo de Solos, que foi o terceiro a comandar a Escola Estoica, isto no século 3 a. C. Trata-se de uma lógica proposicional que se diferencia da lógica de Aristóteles.

Enquanto a lógica de Aristóteles se baseia em termos apresentados em um silogismo, onde temos o termo maior, o termo médio e o termo menor, nos fornecendo uma lógica estática, a lógica proposta pelos estoicos se baseia no que observamos, trata-se de uma lógica dinâmica e proposicional. Os estoicos sustentam que a realidade não é feita de coisas estáticas e sim de eventos, de movimento.

Vejamos o exemplo de um silogismo da lógica de Aristóteles:

Termo maior: Todos os homens são mortais.

Termo médio: Sócrates é homem.

Termo menor: Sócrates é mortal.

A lógica de Aristóteles é uma lógica de termos e a lógica estoica uma lógica de proposições. A realidade não consiste em termos separados e sim em um processo, todas as coisas são interrelacionadas. As proposições se apresentam como conjuntivas, disjuntivas e condicionais. Uma proposição é uma frase e não um termo isolado, sua verdade se dá dentro do contexto da frase.

 Esta lógica se baseia na análise de termos, sendo a menor unidade uma “afirmação”, como, por exemplo, o enunciado “é noite” ou “está chovendo”. O valor de verdade de cada afirmação depende do momento em que é feita a afirmação, ou seja, afirmar que “é noite” durante o dia é falso, do mesmo modo que afirmar que “está chovendo”, se faz um belo dia de sol. A lógica proposicional dos estoicos usa os conectivos “se então”, “se p então q”; “um ou outro”, “p ou q”; “não para ambos”, “não p, não q”.

Falemos agora sobre os argumentos empregados na lógica dos estoicos. Cada argumento pode conter duas ou mais premissas (variáveis) relacionadas, como no exemplo:

Se é noite, é escuro

É noite

Logo é escuro

(ou em notação)

Se p, então q

p

então, q

Crisipo apresentou um total de cinco formas básicas de argumentação que seriam verdadeiras independente de qualquer outra discussão, estes argumentos são compostos por três conectivos, a saber: 1- conjunção, 2- disjunção e 3- negação.

Quando nos referimos aos axiomas presentes na lógica estoica, podemos falar em conjunção (e) onde ambas as afirmações são verdadeiras ou falsas simultaneamente. Também disjunção (ou) onde se uma afirmação é verdadeira a outra é falsa. Também condicional (se) onde a presença de algo é condição da existência de algo outro.

Segundo os estoicos todas as proposições podem se dividir em dois tipos: 1- racionamento ou proposição hipotética ou condicional (se p, então q), 2- disjuntivo (p ou q). A partir destes dois tipos de proposições, dividem em cinco tipos de racionamentos ou proposições logicamente válidas.

 

Modus Ponens

1- (se p, então q)

p

então, q

Se faz sol então é dia

Faz sol, logo é dia

 

Modus Tollens

2- (se p, então q)

não q

logo, não p

Se chove, então a rua está molhada

A rua não está molhada, logo, não chove

 

forma disjuntiva

3- (se p, então q)

não (p e q)

p, então não q

Não pode ser simultaneamente dia e noite

Se não é dia, então é noite

É dia, logo não é noite

 

Se (p e q), então r

Não r

Logo, não (p e q)

 

Forma disjuntiva

Modus Ponendo Tollens

4- (se p, então q)

ou p, ou q

p, logo não q

ou dia ou noite

É dia, logo não é noite

Ou vivo ou morto

vivo, logo não morto

 

 

 

forma disjuntiva

Modus Tollendo Ponens

5- (se p, então q)

ou p ou q

não q, então p

É dia ou noite

Não é noite, logo é dia

 

A implicação é diferente da equivalência, pois, não é reversível. Se p (antecedente) implica q (consequente), não significa que q implique p. Se chove (antecedente), há nuvens (consequente), por exemplo, não é reversível, pois, seria errado dizer que “há nuvens, logo chove”.

Durante a Antiguidade e Idade Média deu-se maior valor à lógica de Aristóteles, de modo que os escritos sobre lógica dos estoicos acabaram se perdendo no decorrer da história, somente no século XX é que a mesma é resgatada por meio do cálculo proposicional. Basicamente o que conhecemos hoje sobre a lógica dos estoicos provém de relatos nas obras de Sexto Empírico, Diógenes Laercio e Galeno.

Na lógica dos estoicos encontramos três elementos básicos em cada enunciado, que são: o som ou a escrita que usamos para se referir a algo; este algo ou coisa a que nos referimos; e um conceito sobre o que seja este algo, este último é uma ideia em nossa mente. Se falo ou escrevo a palavra “mesa”, me refiro a um determinado objeto que pode estar agora na minha frente na sala onde me encontro, mas entre o som ou a palavra escrita “mesa” e o objeto “mesa”, há um conceito mental sobre o que seja uma mesa e como esta se diferencia de outras coisas, como, por exemplo, uma cadeira.

Se estou diante de um gato, o gato em si, aquele que vejo na minha frente é a coisa significada (semainómenon), já o som ou a palavra escrita que faz referência a este gato é o significante (semainon). Tanto o significante (som, palavra), como também a coisa significada (gato), são ambos materiais. O que liga aquilo que falo ou escrevo (significante - semainon) com o objeto ao qual se refere (a coisa significada - semainómenon) é algo imaterial e que existe somente enquanto conceito em minha mente, se referindo não a um indivíduo, mas a todo um grupo, trata-se do significado (lekton). Temos, portanto, o significante (som, palavra), o significado (imagem mental ou conceito) e a coisa significada (neste caso, gato). Atenção para que entre o significante e a coisa significada (ambos materiais), temos o significado (imaterial), o qual se apresenta como um conceito universal presente em nossa mente e que se aplica não a um objeto e sim a uma multiplicidade de objetos com características semelhantes.

Os estoicos também faziam uso de paradoxos, que usavam em seus estudos.

Paradoxos estoicos

1- Paradoxo do mentiroso

Se um homem de determinada cidade diz que, naquela cidade, seus conterrâneos mentem, esta afirmação é verdadeira ou falsa? Sendo do Rio de Janeiro (carioca), se digo: “Os cariocas mentem”. Eu estou dizendo a verdade ou estou mentindo? A frase é verdadeira ou falsa?

2- Paradoxo do crocodilo falante

Um crocodilo está para comer uma criança e a mãe intervém, o crocodilo então diz: Se você acertar se pretendo comer ou não a criança, eu o te darei de volta. A mãe responde que ele pretende comer a criança. Se o crocodilo diz que a mãe errou e come a criança, então a mãe está certa. Se a mãe está certa, então o crocodilo não pode comer a criança. Mas se a mãe está certa, o crocodilo irá comer a criança.

 

Lógica: a teoria do conhecimento

Já na teoria do conhecimento temos a metáfora da mão, que nos fala como as coisas externas nos provocam impressões por meio de nossa percepção, de nossas sensações, formando uma imagem mental. Em um segundo momento precisamos dar assentimento a esta imagem mental, negando ou aceitando a mesma. Em um terceiro momento, havendo a aceitação desta imagem mental, temos a compreensão.

Esta metáfora da mão é muito interessante para melhor compreendermos o conceito de conhecimento tal como os estoicos o entendiam. Esta metáfora provém de um relato feito por um pensador da Antiguidade, Cícero.

Cícero nos cita uma metáfora feita por Zenão para exemplificar por meio de uma imagem o que seria o nosso conhecimento. Esta imagem tem quatro momentos distintos.

1- Mão aberta

A percepção do objeto por meio de nossas sensações e a formação de uma imagem mental. Trata-se de uma percepção passiva da realidade.

Exemplo: Recebo as imagens de nuvens ao olhar para o céu.

2- Mão semi-fechada

A imagem mental pode ser entendida de modo certo ou errado.

Exemplo: Ao ter a percepção de nuvens no céu, posso pensar ver Pégasos, o cavalo alado.

3- Mão fechada

Aqui aceitamos ou negamos a impressão inicial, formando um juízo sobre nossa percepção. Trata-se de um ato mental de assentimento.

Exemplo: As nuvens que foram identificadas com Pégasos, podem agora serem ajuizadas como sendo somente nuvens, cujo formato e a mescla de luz e sombras me levou a crer ser Pégasos.

4- Mão fechada sendo envolvida com a outra mão

Aqui nós temos um confronto da representação com outras representações que possuo em minha memória, com coisas que aprendi e observei no passado. Neste momento temos a consolidação do conhecimento firme da realidade.

Exemplo: Realmente vejo nuvens.

Segundo Zenão, temos que a representação é a mão aberta, o assentimento a mão com os dedos contraídos, a compreensão a mão fechada, a ciência a mão fechada (punho) com a outra mão a enlaçando.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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quarta-feira, 22 de junho de 2022

Estoicismo (1) * Os filósofos do pórtico e a ataraxia e apatia

 


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 Com inspiração no Movimento Cínico, o Estoicismo surge por volta de 300 a.C. e tem como fundador Zenão de Cítio, da ilha de Chipre, que estava vivendo em Atenas desde um naufrágio do qual conseguiu sobreviver. A tradição nos informa que Zenão teria escrito mais de 700 livros. Zenão era um rico mercador da cidade de Cítio, no Chipre, após um naufrágio que lhe trouxe grande prejuízo, foi até Atenas e ali conheceu diversos ramos de filosofia, vindo também a fundar a sua. Tomou por base que além do mundo material que conhecia e no qual atuava como comerciante, existia também um mundo não material, governado pela razão.

Cabe ao sábio vencer todas as paixões e viver conforme a razão. Cabe ao sábio ter auto-domínio a partir do uso de sua razão, entendendo que somente a virtude é o bem, e que o vício é o mal. Deve viver de modo a não ser perturbado por qualquer contingência externa e alheia ao seu controle. Tudo que acontece deve acontecer, pois, faz parte da providência divina que assim seja. Cabe ao sábio entender que tudo o que acontece é um bem, independente do que seja, deste modo, o sábio deve querer o que acontece e não, que aconteça o que ele quer. É isto que separa o sábio do louco.

O louco é escravo de suas paixões e se preocupa com as coisas das quais não possui controle ou poder para mudar, buscando fugir de dores aparentes e buscar bens ilusórios. Há uma metáfora para exemplificar esta relação com o destino, no qual o curso da vida é simbolizado por um carro puxado por tração animal, que percorre uma estrada, e neste carro temos um cão amarrado, este cão representa o humano. O cão deve seguir o carro, pode até tentar ir contra a direção do carro, mas acabaria morrendo na tentativa (infarto, cansaço extremo, etc.). No entanto, cabe algumas pequenas variações no percurso e cabe também a decisão consciente de seguir junto ao carro do destino.

O estoicismo nos traz uma filosofia com desenvolvimentos na física, lógica e ética, mas também traz um modo de vida e um modo de conceber o mundo, uma visão de mundo ou cosmovisão. O Estoicismo põe sua ênfase na ética e também em uma finalidade universal. Entende a filosofia como exercício e estudo da virtude e considera o conhecimento como condição e meio necessário para a realização do humano. Ao sábio cabe eliminar de si as paixões (apatia) e buscar a imperturbabilidade (ataraxia). As paixões da alma são vícios e erros irracionais que devem ser evitados pelo sábio.

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"Estoicismo: Indiferença para com as paixões, prazeres e dores".

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terça-feira, 21 de junho de 2022

Estoicismo: Indiferença para com as paixões, prazeres e dores

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Estoicismo

 Os Estoicos

O nome estoicismo ou escola estoica provém do local onde se reuniam, debaixo de um pórtico (Stoá) pintado (poikílé), fundada por volta de 300 a.C.. Por Zenão não ser cidadão ateniense não podia comprar um imóvel na cidade, por tal motivo ministrava suas aulas neste local público, o que também tornou a escola mais acessível a todos.

Podemos dividir o Estoicismo em três momentos históricos, com a defesa das mesmas teses básicas da Escola. O estoicismo antigo, o médio e o novo ou romano. Temos a antiga Stoá: Zenão de Cítio (335-263 a.C.), Aríston de Quio (século III a.C.), Cleantes de Asso (304-233 a.C.), Crísipo de Solis (304-208 a.C.). A média Stoá: Panécio de Rodes (180-119 a.C.), Possidônio (135-50 a.C.). O Estoicismo Romano: Sêneca (3 a.C. – 65 d.C.), Epicteto (50-125 d.C.), Marco Aurélio (121-180 d.C.).

Com inspiração no Movimento Cínico, surge por volta de 300 a.C. e tem como fundador Zenão de Cítio, da ilha de Chipre, que estava vivendo em Atenas desde um naufrágio do qual conseguiu sobreviver. A tradição nos informa que Zenão teria escrito mais de 700 livros.


 

Zenão era um rico mercador da cidade de Cítio, no Chipre, após um naufrágio que lhe trouxe grande prejuízo, foi até Atenas e ali conheceu diversos ramos de filosofia, vindo também a fundar a sua. Tomou por base que além do mundo material que conhecia e no qual atuava como comerciante, existia também um mundo não material, governado pela razão.

Quando da chegada a Atenas, por volta de 312 ou 313 a.C., e de seus estudos em filosofia, havia várias escolas em atividade. Nesta época temos a Academia fundada por Platão, tendo a frente, na época, Polemon, o Liceu fundado por Aristóteles, e na época gerido por Teofrasto, o Epicurismo criado por Epicuro, as escolas socráticas menores: os cínicos, cirenaicos e megáricos.

As questões voltadas para a física e lógica foram desenvolvidas pelo antigo estoicismo, já que tanto no médio, como também no novo, o interesse voltou-se quase que exclusivamente para a ética. Tanto para o médio, como também para o novo, entendia-se que se devia ser indiferente a todas as paixões, prazeres e dores, mas que mesmo sendo indiferente, havia algumas coisas que eram indiferentes, mas úteis, convenientes e preferíveis, e outras que eram inúteis, inconvenientes e não preferíveis. Como exemplo das primeiras, temos a saúde e a riqueza.

O estoicismo divide a filosofia em física, lógica e ética, mas há divergência entre os estoicos quanto a ordem em que tais divisões se sucedem. Apesar de todos concordarem que a culminância é a ética, alguns entendem que a ordem sucessiva seria física, lógica e ética, enquanto outros defendem que seria lógica, física e ética. Nas metáforas que temos para explicar esta divisão, algumas põe como o início a física e outras a lógica.

Temos a metáfora do jardim, no qual o muro que separa e divide o jardim é a lógica, as árvores ali dentro, a física, e os frutos destas árvores a ética. Temos a metáfora do ovo onde a lógica é a casca, a física a clara e a ética a gema. Temos a metáfora do animal onde a lógica são os ossos, a física a carne e a ética a alma. Todas estas colocando a ordem iniciando com a lógica e seguindo com a física e a ética.

Temos também a metáfora da árvore para explicar o que é a filosofia, onde a raíz representa a física (physis), a realidade e o cosmos. O tronco representa a lógica que embasa nosso pensamento. A copa representa a ética que apresenta o melhor modo de viver e de como se comportar perante si-mesmo e a sociedade. Deste modo, física, lógica e ética.

Não se aceitam ideias inatas. A criança ao nascer é uma tábula rasa, uma folha de papel em branco. Todo conhecimento é adquirido e provém do mundo externo. Não admitem a existência do mundo das ideias de Platão. Só existe o individual e os objetos particulares que são percebidos, não havendo o universal, como presente em Aristóteles.

O estoicismo nos traz uma filosofia com desenvolvimentos na física, lógica e ética, mas também traz um modo de vida e um modo de conceber o mundo, uma visão de mundo ou cosmovisão.

Para os estoicos cada um de nós, humanos, é um microcosmos, reflexo do macrocosmos. Defendiam a ideia de um direito natural, universalmente válido. O direito escrito é sempre imperfeito diante do direito natural. Defendiam um monismo, onde não viam diferença entre espírito (alma) e matéria, só haveria uma única natureza, negando também o mundo das ideias de Platão com a sua dualidade. Assumiam uma posição cosmopolita em relação às demais culturas e pessoas provenientes dos mais distintos povos. Mantinham um interesse por política e tivemos dentre os estoicos alguns estadistas e oradores famosos na Antiguidade, como podemos citar, dentre outros: Marco Aurélio, Cícero (106-43 a.C.) e Sêneca. Mas no estoicismo novo ou romano também encontramos a figura de destaque de um ex-escravo, Epicteto.

Segundo o pensamento dos estoicos, nada ocorre por acaso, todos os processos naturais são governados pela natureza, como é o caso das doenças e da morte. Cabe ao humano aceitar o destino que lhe é reservado. Defendiam o ideal de se ter sempre uma postura de tranquilidade diante do que a vida nos traz, sejam coisas boas ou más, evitando ser dominado pelos sentimentos e paixões do momento.

Tanto no Epicurismo, como no Estoicismo, temos pontos em comum a estas duas Escolas filosóficas. Ambas eliminam de seu arcabouço teórico qualquer forma de dualismo metafísico, assumindo um monismo materialista. Ambas combatem qualquer forma de inatismo e colocam a origem do conhecimento nas sensações. Ambas subordinam a investigação feita pela ciência e filosofia a um fim prático, a obtenção da felicidade. No caso do Estoicismo, cabe ainda citar que a ciência ajuda a proporcionar a obtenção da felicidade, bem como, a importância dada à virtude.

Esta Escola filosófica entende que não possuímos qualquer conhecimento prévio à experiência e que tudo que sabemos provém de nossas sensações. Entendem os estoicos que o universo é um animal vivente e racional, possuindo em si-mesmo o princípio de seu ser e de seu devir, sendo composto por uma alma (fogo, ar) que é o elemento ativo, e um corpo (água, terra) que é o elemento passivo. A alma do mundo possui uma natureza corpórea e penetra toda matéria existente. Deste modo, temos que os estoicos adotam um deus imanente que proporciona harmonia e ordem ao mundo, estamos diante de um tipo de panteísmo. Também adotam a tese do grande ano, no qual, completado o ciclo, tudo se destrói para novamente recomeçar. É a teoria do eterno retorno.

Cabe ao sábio vencer todas as paixões e viver conforme a razão. Cabe ao sábio ter auto-domínio a partir do uso de sua razão, entendendo que somente a virtude é o bem, e que o vício é o mal. Deve viver de modo a não ser perturbado por qualquer contingência externa e alheia ao seu controle. Tudo que acontece deve acontecer, pois, faz parte da providência divina que assim seja. Cabe ao sábio entender que tudo o que acontece é um bem, independente do que seja, deste modo, o sábio deve querer o que acontece e não, que aconteça o que ele quer. É isto que separa o sábio do louco. O louco é escravo de suas paixões e se preocupa com as coisas das quais não possui controle ou poder para mudar, buscando fugir de dores aparentes e buscar bens ilusórios. Há uma metáfora para exemplificar esta relação com o destino, no qual o curso da vida é simbolizado por um carro puxado por tração animal, que percorre uma estrada, e neste carro temos um cão amarrado, este cão representa o humano. O cão deve seguir o carro, pode até tentar ir contra a direção do carro, mas acabaria morrendo na tentativa (infarto, cansaço extremo, etc.). No entanto, cabe algumas pequenas variações no percurso e cabe também a decisão consciente de seguir junto ao carro do destino.

Os estoicos são contrários à escravidão, vendo-a como uma injustiça. Defendem a igualdade entre todos os homens, pois todos possuem o mesmo logos. Deste modo, negam que haja diferença entre gregos e outros povos ou entre senhores e escravos. Defendem também que todos devem ser membros de um Estado sem fronteiras ou distinções nacionais, apregoando um modo de cosmopolitismo. Cabe ao humano poder realizar-se integralmente, sua virtude e perfeição por meio de sua razão e sem o auxílio de algum deus ou divindade superior. Temos aqui um humano autônomo que de posse de sua razão não possui qualquer dependência com deuses ou religiões para o seu pleno desenvolvimento.

O Estoicismo põe sua ênfase na ética e também em uma finalidade universal. Entende a filosofia como exercício e estudo da virtude e considera o conhecimento como condição e meio necessário para a realização do humano.

Segundo Zenão, temos que a representação é a mão aberta, o assentimento a mão com os dedos contraídos, a compreensão a mão fechada, a ciência a mão fechada (punho) com a outra mão a enlaçando.

O mal encontra seu lugar no universo, pois sem ele não haveria o bem, o mal é necessário à harmonia universal, não haveria justiça se não houvesse a injustiça, não haveria verdade se não houvesse a mentira, estes contrários estão ligados entre si, de modo que não haveria um se não houvesse, também, o outro.

No tocante a liberdade humana em um universo determinado, esta se dá por meio do assentimento.

Cabe ao sábio eliminar de si as paixões (apatia) e buscar a imperturbabilidade (ataraxia). As paixões da alma são vícios e erros irracionais que devem ser evitados pelo sábio.

Temos no estoicismo uma postura cosmopolita que vislumbra um vínculo universal entre todos os humanos e se mostra, também contrária a escravidão, pois, mesmo se prevista em lei, é algo mal que deve ser combatido.

A perfeição humana se vincula a ideia de que os humanos estão ligados à natureza, e a virtude se dá pela subordinação à razão, devendo negar seus desejos e guiar sua vontade pela razão, observando a natureza, e, deste modo se direcionar para a felicidade. Sua ideia de uma providência veio posteriormente a influenciar o desenvolvimento do conceito de providência dentro do cristianismo. Tanto no estoicismo, como também no cristianismo, temos que tudo que existe obedece às normas de uma razão universal (logos divino).

Dentre dos princípios de sua doutrina, cabe destacar a ataraxia, autossuficiência, negação de sentimentos externos e uso da razão na solução de todos os problemas e situações da vida. Pode-se obter a felicidade por meio da ataraxia, ou seja, evitando as perturbações e buscando a tranquilidade e serenidade na vida. Pela autossuficiência busca-se alcançar a felicidade vivendo de acordo com a natureza humana, mantendo responsabilidade diante de sua vida. Cabe evitar sentimentos externos, tais como as paixões. Se render a tais sentimentos equivale a ser imparcial e irracional, entregando-se ao vício e a todos os males, prejudicando as decisões e o uso da razão. Tudo que ocorre em nossa vida deve ser solucionado por meio da razão, com calma e tranquilidade.

Para os estoicos o caminho da felicidade se dá por meio da virtude, considerada o único bem. Para tal cabe negar qualquer sentimento externo e ser indiferente ao prazer e a dor, entendendo que tudo é governado por uma razão universal. Os estoicos adotam um estado de indiferença (apatheia) diante do que possa acontecer na vida, e uma atitude cosmopolita.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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quarta-feira, 15 de junho de 2022

Epicurismo (1) * O jardim de Epicuro

 


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 Lucrécio, poeta latino que se destaca na divulgação do Epicurismo, é o autor de um poema intitulado “Sobre a natureza das coisas”, no qual expõe a doutrina epicurista. Esta Escola tem nas suas origens Aristipo, discípulo de Sócrates, que entendia que cabia ao humano por meio dos seus sentidos obter o máximo possível de satisfação. Enquanto nas Escolas Cínicas e Estoica, objetivava-se suportar a dor e o sofrimento, na Escola Epicurista o objetivo era afastar de si a dor e o sofrimento.

Coube a Epicuro de Samos fundar na cidade de Atenas uma Escola que adota para si os fundamentos propostos por Aristipo. Esta Escola pode ser chamada de Escola dos Epicureus e nela, Epicuro mesclou, também, a teoria do átomo proveniente de Leucipo e Demócrito. A tradição nos diz que havia uma inscrição no portal que dava acesso ao jardim, na qual se lia: “Forasteiro, aqui te sentirás bem. Aqui, o bem supremo é o prazer”.

Epicuro escreveu muito, mas de sua obra resta-nos somente três cartas e alguns fragmentos e aforismos. Cabe destaque a “carta a Meneceu”, que nos fala sobre a felicidade, a “carta a Heródoto”, que nos fala sobre a física e os átomos, e a “carta a Pítocles”, que nos fala sobre os meteoros. Basicamente o que conhecemos hoje provém dos escritos de Lucrécio e de Diógenes Laércio.

Em Atenas comprou uma casa com jardim onde ministrava suas aulas e recebia os amigos, por se reunirem em um jardim, esta Escola também ficou conhecida como “os filósofos do jardim”. Divide a filosofia em três partes: 1- canônica, 2- física, e 3- ética. A canônica é a lógica, que aborda os critérios para poder distinguir entre o verdadeiro e falso. Na canônica temos que a única fonte de conhecimento é proveniente das sensações. Esta teoria do conhecimento é inspirada na teoria atomista de Leucipo e Demócrito. A física tem como objetivo libertar os humanos do medo do destino, dos deuses e da morte, longe de uma finalidade especulativa, atém-se à realidade e está subordinada à ética. A ética trata dos meios próprios para se obter a felicidade.

Para se obter o prazer, deve-se medir as consequências de um ato em relação ao prazer que este possa proporcionar em dado momento e a possível dor que o mesmo poderá proporcionar em um momento subsequente, deste modo, comer em excesso pode ser prazeroso naquele momento, mas deve ser evitado para não se ter o desprazer resultante de complicações posteriores. O prazer não estaria unicamente vinculado aos sentidos corporais e incluiria outros objetivos, como, por exemplo, a amizade ou a contemplação de uma obra de arte. Torna-se muito importante neste contexto o autocontrole, a temperança e a serenidade, bem como, se libertar do medo da morte. Temos uma ênfase grande, dentro desta Escola, de se viver o momento presente, sem se preocupar com outros temas.

Diógenes Laércio, em sua biografia de Epicuro, resumiu os principais pontos de sua doutrina para viver uma vida feliz e equilibrada, no que ficou conhecido como os quatro remédios, o tetrafármaco, a saber: 1- Não tema a deus ou aos deuses, 2- Não tema a morte, 3- As necessidades básicas e naturais vinculadas à felicidade são fáceis de serem obtidas, 4- Pode-se suportar a dor e o sofrimento.

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"Epicurismo: Afastar a dor e buscar o prazer com moderação".

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