Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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terça-feira, 14 de junho de 2022

Epicurismo: Afastar a dor e buscar o prazer com moderação

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Não há o que temer quanto aos deuses.

Não há nada a temer quanto à morte.

Pode-se alcançar a felicidade.

Pode-se suportar a dor.

(Tese de Epicuro)

 

Epicurismo

 Epicuro (341-270 a.C.) é o fundador da Escola, e Lucrécio (96-55 a.C.), poeta latino que se destaca na divulgação do Epicurismo. Lucrécio é o autor de um poema intitulado “De rerum natura” ou “Sobre a natureza das coisas”, no qual expõe a doutrina epicurista, esta obra é dividida em seis cantos ou seis partes (livros). Dentre as três divisões do Epicurismo, a canônica, a física e a ética, nesta obra Lucrécio desenvolve com detalhes somente a física, quanto a canônica não há uma abordagem mais completa, e quanto a ética, esta é exposta de modo mais esquemático.

Esta Escola tem nas suas origens Aristipo, discípulo de Sócrates, que entendia que cabia ao humano por meio dos seus sentidos obter o máximo possível de satisfação. Segundo ele, o prazer devia ser entendido como o bem máximo e a dor como o mal máximo, deste modo, o objetivo deveria ser afastar a dor e trazer o prazer para si.

Enquanto nas Escolas Cínicas e Estoica, objetivava-se suportar a dor e o sofrimento, na Escola Epicurista o objetivo era afastar de si a dor e o sofrimento.


 

Coube a Epicuro de Samos (341- 270 a.C.) fundar na cidade de Atenas, por volta do ano 306 ou 300 a.C., uma Escola que adota para si os fundamentos propostos por Aristipo. Esta Escola pode ser chamada de Escola dos Epicureus e nela, Epicuro mesclou, também, a teoria do átomo proveniente de Leucipo e Demócrito. A tradição nos diz que havia uma inscrição no portal que dava acesso ao jardim, na qual se lia: “Forasteiro, aqui te sentirás bem. Aqui, o bem supremo é o prazer”. Posteriormente se expande até o oriente e chega, também, a Roma, mantendo-se ativa por mais de seis séculos (em 529 d.C. todas as Escolas pertencentes ao mundo da cultura grega que ainda estavam ativas tiveram de encerrar suas atividades por ordem do imperador romano do oriente, Justiniano). Epicuro teria escrito muitas obras, mas só nos chegaram fragmentos e poucas cartas, além, claro está, da doxografia.

A tradição (por parte de Diógenes Laércio) nos diz que Epicuro escreveu mais de 300 obras em seu jardim, mas todas foram perdidas, restando-nos somente três cartas e alguns fragmentos e aforismos. Cabe destaque a “carta a Meneceu”, que nos fala sobre a felicidade, a “carta a Heródoto”, que nos fala sobre a física e os átomos, e a “carta a Pítocles”, que nos fala sobre os meteoros. Basicamente o que conhecemos hoje provém dos escritos de Lucrécio e de Diógenes Laércio.

Em Atenas comprou uma casa com jardim onde ministrava suas aulas e recebia os amigos, por se reunirem em um jardim, esta Escola também ficou conhecida como “os filósofos do jardim”. A matriz ontológica da filosofia proposta por Epicuro é materialista, pautada nas sensações, empirista e com forte influência do atomismo de Leucipo e Demócrito. Evita questões puramente especulativas e se afasta da matemática por não ser a mesma prática em termos de utilidade. Divide a filosofia em três partes: 1- canônica, 2- física, e 3- ética. A canônica é a lógica, que aborda os critérios para poder distinguir entre o verdadeiro e falso. Na canônica temos que a única fonte de conhecimento é proveniente das sensações. Esta teoria do conhecimento é inspirada na teoria atomista de Leucipo e Demócrito. A física tem como objetivo libertar os humanos do medo do destino, dos deuses e da morte, longe de uma finalidade especulativa, atém-se à realidade e está subordinada à ética. A ética trata dos meios próprios para se obter a felicidade.

Para afastar o temor do sobrenatural torna-se importante a existência de uma ciência da natureza que nos auxilia na busca de uma autonomia espiritual, fim este destinado à filosofia. Para obtermos tal ciência, precisamos primeiro comprovar sua validade. O fim a ser alcançado é a ética e o meio para tal ser atingido se dá pela física, antecedida da teoria do conhecimento (canônica). A teoria do conhecimento ou canônica proposta no epicurismo, afirma que a experiência sensível é a fonte de todo saber, propondo a evidência desta experiência como critério de verdade. Epicuro também se baseia no princípio lógico da não-contradição como prova do que seja verdadeiro, dando ênfase não somente à experiência dos sentidos, mas também à razão. Por sua vez, a teoria da sensação defendida por Epicuro provém de Leucipo e Demócrito e em seus conceitos sobre os átomos, o vazio e o movimento. Este atomismo proveniente da filosofia de Leucipo e Demócrito e presente em Epicuro, tende a excluir toda finalidade, ação divina ou sobrenatural, tudo se desenrola dentro de um rigoroso mecanicismo.

Segundo Epicuro, os átomos caem no espaço em movimento vertical e com a mesma velocidade, mas ocorre de modo natural e espontâneo um pequeno desvio (Lucrécio chamou a este desvio de “Clinâmen”) que irá proporcionar o início dos choques entre os átomos. Por sua vez, este desvio, por menor que seja, traz em parte o aleatório para dentro do mecanicismo presente na teoria dos átomos, de modo que seu rigoroso determinismo e necessidade há de dar lugar a uma certa contingência que permita a liberdade.

Para se obter o prazer, deve-se medir as consequências de um ato em relação ao prazer que este possa proporcionar em dado momento e a possível dor que o mesmo poderá proporcionar em um momento subsequente, deste modo, comer em excesso pode ser prazeroso naquele momento, mas deve ser evitado para não se ter o desprazer resultante de complicações posteriores. O prazer não estaria unicamente vinculado aos sentidos corporais e incluiria outros objetivos, como, por exemplo, a amizade ou a contemplação de uma obra de arte. Torna-se muito importante neste contexto o autocontrole, a temperança e a serenidade, bem como, se libertar do medo da morte. Temos uma ênfase grande, dentro desta Escola, de se viver o momento presente, sem se preocupar com outros temas.

Diferenciando-se da Escola Estoica, os epicuristas não nutriam qualquer interesse por política ou pela sociedade. Tanto no Epicurismo, como no Estoicismo, temos pontos em comum a estas duas Escolas filosóficas. Ambas eliminam de seu arcabouço teórico qualquer forma de dualismo metafísico, assumindo um monismo materialista. Ambas combatem qualquer forma de inatismo e colocam a origem do conhecimento nas sensações. Ambas subordinam a investigação feita pela ciência e filosofia a um fim prático, a obtenção da felicidade.

Cabe à filosofia a função de libertar o humano das perturbações e propiciar o encontro da liberdade, por meio da serenidade e autocontrole. Há quatro males que nos impedem de alcançar esta serenidade, que são: temor dos deuses, medo da morte, intenso desejo de obter prazeres, sentimento de tristeza por dores presentes em nossa vida.

Admite Epicuro a existência dos deuses, fato provado pelas visões que os humanos deles possuem, mas entende que não devemos temer aos deuses ou a morte. Cabe prestar, não um culto servil, mas um culto de admiração aos deuses. Não devemos ter medo da morte, pois esta não existe para nós enquanto vivemos e quando ela surge nós não mais existimos. Em verdade esta tese foi anteriormente apresentada pelo sofista Prodicus ou Pródico de Céos (465-395 a.C.).

Segundo Epicuro, os deuses existem, mas não se preocupam com nós, humanos, não são responsáveis por nosso destino, benção ou maldição. Por meio de nossas escolhas, temos a responsabilidade pela nossa felicidade ou sofrimento, e podemos ser responsabilizados por tudo de bom ou mau que aconteça em nossa vida.

Propõe uma vida serena, livre da busca por prazeres ou tristeza pelo sofrimento e dores. Não busca um prazer em movimento como presente nos cirenaicos e sim um prazer em repouso, estável, ausência de perturbação (ataraxia) e ausência de dor (aponia). Cabe moderar os desejos para evitar a dor e as frustrações. Entende ser a amizade o elemento mais importante para a felicidade e o que deve ser buscado pelo sábio. Entende que a prudência antecede a felicidade e a virtude e amplia os horizontes da vida individual para incluir as demais pessoas com quem convivemos e podemos travar amizade, as quais são relações tidas como úteis, mas que também proporcionam manifestações de altruísmo e de sacrifício.

O Epicurismo há de se diferenciar do mero hedonismo. Para o filósofo epicurista o prazer é passivo e encontrado na ausência de paixões, sofrimento, dor e medo. A ausência de dor é o maior prazer que podemos ter. O Epicurismo também defende uma vida simples e descarta os prazeres violentos ou muito intensos, pois podem trazer ao final, dor e sofrimento.

Apesar da importância dada à amizade para com outras pessoas, propõe o afastamento das questões de Estado e o não envolvimento na política da cidade, condição da serenidade do sábio.

Diógenes Laércio, em sua biografia de Epicuro, resumiu os principais pontos de sua doutrina para viver uma vida feliz e equilibrada, no que ficou conhecido como os quatro remédios, o tetrafármaco, a saber: 1- Não tema a deus ou aos deuses, 2- Não tema a morte, 3- As necessidades básicas e naturais vinculadas à felicidade são fáceis de serem obtidas, 4- Pode-se suportar a dor e o sofrimento.

Segundo o pensamento de Epicuro, podemos falar de três tipos de desejos: 1- os naturais, 2- os naturais, mas não necessários e, 3- os inúteis. Por desejos naturais e necessários devemos entender os que são básicos, como, por exemplo, comer, beber, dormir e ter amizades. A felicidade depende da satisfação destes desejos. Já por desejos naturais, mas não necessários, temos coisas que apesar de vinculadas a necessidades humanas, não são necessárias para nossa sobrevivência. Ou seja, precisamos de um abrigo ou casa para morar e nos proteger das intempéries do tempo, mas não de uma mansão. Precisamos comer para viver, mas não de um banquete. Precisamos beber para viver, mas podemos beber água e não vinho. Isto sem esquecer os excessos de tudo que for natural, pois os excessos levam posteriormente à dor e ao sofrimento. Quanto aos desejos inúteis, temos aqueles não vinculados a qualquer necessidade natural básica de nossa sobrevivência e sim a opiniões falsas sobre o que devemos buscar e possuir para sermos felizes, tal é o caso da fama, glória, dinheiro, poder, dentre outros.

A principal virtude para Epicuro é a prudência, com ela devemos nos afastar da dor e do sofrimento e buscar o prazer, sempre com moderação e ponderando o que ganhamos agora e o que obteremos depois, deste modo, é preferível aceitar uma dor ou sofrimento ou desprazer agora para obtermos um prazer maior depois, e da mesma forma, cabe às vezes deixar de aproveitar um prazer agora em virtude da dor ou desconforto que teremos depois. Suportar uma dor ou desconforto momentâneo, adiando o prazer, faz parte da vida do homem sábio e prudente, não se trata, portanto, de viver intensamente o aqui e agora esquecendo-se do que virá depois, e sim, viver de modo a termos um prazer estável e contínuo no decorrer do tempo.

Em linhas gerais bem resumidas, o Epicurismo é uma Escola filosófica que dentro da sua doutrina, busca a felicidade e o afastamento da dor, propondo obter isto por meio do autoconhecimento, da amizade e da prudência. Adota-se um modo de vida no qual são aceitos os prazeres moderados e evitados os prazeres exagerados, buscando por tal meio atingir a tranquilidade e libertação de qualquer dor ou sofrimento. Os desejos exacerbados são fonte de dor e perturbação, prejudicando o encontro da felicidade. A felicidade é decorrente do controle de nossos medos e desejos, de modo a obtermos um estado de prazer estável e equilibrado, conjuntamente com a tranquilidade e ausência de perturbação.

Epicuro, e sua filosofia, foi muito influente tanto em vida como após sua morte, nos séculos seguintes. Era comum as pessoas usarem a sua imagem reproduzida em anéis ou pequenas estatuetas e se tornou comum a frase “comporta-se como se Epicuro o estivesse observando”, de modo que a prática da doutrina epicurista deveria ocorrer sempre, seja em público ou no privado, sendo um modo de vida a ser adotado em todos os momentos e circunstâncias.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

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