Por: Silvério da Costa Oliveira.
Georg Cantor
1- Vida (Biografia)
Georg Ferdinand Ludwig Philip Cantor, abreviado para Georg Cantor (1845-1918) nasce em São Petersburgo, Império Russo e atual Rússia, e falece em Halle, Alemanha, aos 72 anos de idade. Quando contava 11 anos de idade a família se mudou para a Alemanha, onde passou a estudar na universidade de Berlim, doutorando-se no ano de 1867. Apresentou uma dissertação inaugural na universidade de Halle em 1869 e atuou como professor extraordinário entre 1872 e 1879, passado a atuar como professor titular no ano de 1879.
Filho de Georg Waldemar Cantor, um comerciante dinamarquês, e de Maria Anna Böhm, uma musicista russa, Cantor foi o mais velho de um total de seis filhos. Então com 29 anos de idade, Georg Cantor casou com Vally Guttmann, de quem teve 6 filhos. Seu pai era protestante luterano e Cantor foi educado nesta fé, mas sua mãe era proveniente de uma família católica romana, tendo se convertido à religião do marido ao se casar. Por parte da família de sua mãe havia vários membros ilustres na música (Seu avô materno, Franz Böhm, era um músico renomado e solista em uma orquestra imperial russa, e Josef Böhm, um tio-avô materno, era um violinista austríaco famoso). Cantor também demonstrou virtude na música e no uso do violino quando jovem. Além de ter se tornado um matemático realmente brilhante quando adulto, em virtude de seus talentos, poderia também ter seguido outro rumo na vida e se tornado um grande violinista. Há uma controvérsia se Cantor seria ou não proveniente de uma família judaica convertida, já que este menciona em carta datada de 1896 que seus avós paternos eram judeus, mas o Instituto Genealógico Dinamarquês, em uma análise póstuma no ano de 1937, nega haver registros comunitários judaicos para sua família.
Sua educação inicial em São Petersburgo começou em casa com um tutor, sendo seguida de participação em uma escola primária local. Quando contava seus 11 anos de idade, em 1856, a família se muda para a Alemanha, buscando invernos mais amenos em virtude da saúde precária de seu pai. Em 1860, ele se formou com distinção na Realschule em Darmstadt, destacando-se especialmente em matemática, particularmente em trigonometria – um prenúncio de seu gênio futuro. Seus professores o descreveram como excepcional, o que pode ser um ponto inspirador para leitores interessados em trajetórias de prodígios.
Seu pai desejava que Cantor seguisse engenharia e assim foi inicialmente encaminhado os seus estudos. Em 1860, ele frequentou a Höhere Gewerbeschule em Darmstadt (atual Universidade Técnica de Darmstadt), onde se graduou em agosto de 1862. No entanto, Cantor convenceu o pai a permitir que seguisse sua paixão pela matemática. Em 1862, ingressou no Politécnico Federal Suíço em Zurique. Deste modo, Cantor trocou a engenharia pela matemática. A morte do pai em junho de 1863 deixou-lhe uma herança substancial, permitindo que transferisse seus estudos para a Universidade de Berlim, um centro de excelência matemática. Lá, frequentou aulas de luminares como Leopold Kronecker, Karl Weierstrass e Ernst Kummer – nomes que moldariam sua carreira, mas também gerariam conflitos futuros. Kronecker acabou se tornando seu inimigo particular no tocante a sua teoria sobre universos infinitos, atuando ativamente contra Cantor.
Cantor propôs conceitos matemáticos que foram realmente inovadores a sua época e justamente por isto, enfrentaram grande resistência de matemáticos já consagrados, dentre os quais se destaca a oposição feita pelo matemático Leopold Kronocker (1823-1891), mas com o passar do tempo sua teoria foi aceita e reconhecida como sendo uma mudança de paradigma na matemática contemporânea.
Cantor passou o verão de 1866 na Universidade de Göttingen, outro polo matemático, e obteve seu doutorado em 1867 com uma dissertação sobre teoria dos números, intitulada "De aequationibus secundi gradus indeterminatis" (Sobre equações indeterminadas de segundo grau). Após o doutorado, Cantor ensinou brevemente em uma escola para meninas em Berlim (algo normal na época). Em 1869, foi nomeado para a Universidade de Halle, onde passaria toda a carreira. Ele obteve sua habilitação com uma tese sobre teoria dos números e foi promovido a professor extraordinário em 1872 e a professor titular em 1879, aos 34 anos – uma conquista notável para a época. Influenciado pelo colega Heinrich Heine, Cantor mudou seu foco da teoria dos números para a análise, resolvendo problemas abertos sobre séries trigonométricas em 1870. Sua amizade com Richard Dedekind, iniciada em 1872 durante férias na Suíça, foi crucial para o desenvolvimento de ideias sobre números irracionais e reais.
Em 1874 Cantor se casou com Vally Guttmann e o casal teve seis filhos, o último nascido em 1886. Cantor sustentava a família com seu salário acadêmico modesto, complementado pela herança paterna, e em 1886 comprou uma bela casa na Händelstrasse em Halle, batizada em homenagem ao compositor Handel, refletindo seu amor pela música.
Enquanto construía sua vida familiar, Cantor revolucionava a matemática. A carreira de Cantor foi marcada por inovações revolucionárias, mas também por controvérsias intensas. Ele fundou a teoria dos conjuntos, provando em 1874 que os números reais são incontáveis e introduzindo a ideia de infinitos múltiplos. Publicou uma série de artigos entre 1879 e 1884 na Mathematische Annalen, culminando em "Grundlagen einer allgemeinen Mannigfaltigkeitslehre" (1883), onde apresentou números transfinitos.
Em 1889, fundou a Sociedade Matemática Alemã, presidindo sua primeira reunião em 1891, e ajudou a organizar o primeiro Congresso Internacional de Matemáticos em Zurique em 1897. Seu argumento diagonal de 1891 e trabalhos finais em 1895-1897 consolidaram conceitos como conjunto de Cantor, conjunto potência, cardinais (usando ℵ, aleph) e ordinais (ω, ômega). Ele formulou a hipótese do continuum, ainda não resolvida.
Georg Cantor enfrentou uma enfermidade mental que o levou a períodos de depressão severa, exigindo internações em clínicas psiquiátricas. Sua primeira crise documentada ocorreu em maio de 1884, após intensos conflitos com matemáticos como Leopold Kronecker, que rejeitavam suas ideias revolucionárias sobre a teoria dos conjuntos. Cantor associou esse episódio ao estresse profissional, mas sua condição se agravou com o tempo. A partir de 1899, após a morte de seu filho mais novo, Rudolph, aos 13 anos, ele sofreu crises mais frequentes e intensas, sendo internado em várias ocasiões, incluindo em 1902, 1904, 1905 e 1907. Diagnosticado na época com uma condição maníaco-depressiva, Cantor passou seus últimos anos lutando contra a doença. Em 1917, foi hospitalizado novamente no sanatório universitário de Halle devido a uma depressão severa. Ele faleceu em 6 de janeiro de 1918, aos 72 anos, de um ataque cardíaco, enquanto estava internado em uma clínica psiquiátrica em Halle. Alguns estudiosos sugerem que Cantor sofria de transtorno maníaco-depressivo, hoje conhecido como transtorno bipolar.
Em 1904, a Royal Society concedeu-lhe a Medalha Sylvester, seu maior prêmio em matemática. No entanto, Cantor nunca recebeu o reconhecimento pleno em vida. Nos anos finais, Cantor se aposentou em 1913, após anos de luta. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), sofreu com pobreza e escassez de alimentos na Alemanha, vivendo de forma precária. A recepção de seu trabalho evoluiu: inicialmente ridicularizado, ganhou apoio de David Hilbert.
As obras de Cantor não apenas revolucionaram a matemática, mas refletem sua luta contra a incompreensão e sua visão filosófica do infinito.
Cantor enfrentou o mundo para defender seus infinitos. Nas palavras de David Hilbert: "Ninguém nos poderá expulsar do Paraíso que Cantor criou."
2- Obra / Teoria
Imagine tentar contar o infinito. Cantor não só tentou, como criou uma nova ciência para isso. Antes de Cantor, outros matemáticos usaram noções intuitivas de conjuntos, mas ele foi o primeiro a formalizá-los como uma teoria sistemática e a explorar seus aspectos infinitos com rigor. Ele organizou essas ideias em algo novo. A ideia de "conjunto" (uma coleção de objetos) já aparecia informalmente na matemática, especialmente em geometria, álgebra e análise. Por exemplo: Euclides (séc. III a.C.) trabalhava com coleções de pontos geométricos. No século XIX, matemáticos como Bernhard Bolzano e Augustin-Louis Cauchy usaram noções de coleções em análise, mas sem uma teoria formal. Richard Dedekind, contemporâneo de Cantor, usou ideias de conjuntos em sua definição de números reais (cortes de Dedekind, 1872), mas não as desenvolveu como uma teoria geral. Essas contribuições eram fragmentadas e não sistemáticas. Não havia uma disciplina chamada "teoria dos conjuntos" até Cantor. Cantor pegou uma ideia antiga e a transformou em uma revolução matemática. Embora noções de coleções (ou conjuntos) já existissem em trabalhos anteriores, como os de Euclides, Bolzano e Dedekind, foi Cantor quem, a partir de 1870, transformou essas ideias em uma nova forma de pensar o infinito. Ele definiu conjuntos como coleções de objetos, finitos ou infinitos, e desenvolveu ferramentas para compará-los, especialmente no domínio do infinito.
Cantor começou sua carreira trabalhando com séries trigonométricas (como séries de Fourier), resolvendo problemas sobre a representação única de funções. Isso o levou a questionar a natureza dos números reais e irracionais. Cantor criou uma nova matemática para o infinito, definindo conjuntos como coleções que podiam incluir números sem fim. A partir de 1870, Cantor desenvolveu a teoria dos conjuntos como uma área autônoma da matemática. Em 1872, ele percebeu que precisava de uma nova estrutura para lidar com coleções infinitas de objetos (os conjuntos). A teoria dos conjuntos, formalizada por Cantor define um conjunto como qualquer coleção de elementos distintos, finitos ou infinitos. Exemplo simples: Um conjunto finito é {1, 2, 3}. Um infinito é o conjunto dos números Naturais ℕ+ = {1, 2, 3, ...}. No caso do conjunto dos números Naturais, estes podem ou não incluir o zero. Quando não incluem o zero a grafia correta para sua nomenclatura é N* ou ℕ+, fazendo referência a tratar-se somente do conjunto dos números Naturais positivos, e quando incluem o zero é N. Cantor mostrou que conjuntos infinitos podem ser "contados" de maneiras surpreendentes, desafiando a ideia de que "todo infinito é igual". Ele usou correspondências bijetivas (mapeamentos um-para-um, onde cada elemento de um conjunto corresponde exatamente a um do outro, sem sobras) para comparar tamanhos. Cantor descobriu que podia emparelhar elementos de conjuntos infinitos, como combinar pessoas com cadeiras. Definiu conjuntos rigorosamente, incluindo os infinitos, em artigos como Über die Ausdehnung eines Satzes aus der Theorie der trigonometrischen Reihen (1872) e Grundlagen einer allgemeinen Mannigfaltigkeitslehre (1883).
A partir de 1872, Cantor introduziu conceitos como cardinalidade e números transfinitos. Metaforicamente Cantor inventou uma “régua” para medir o infinito, chamada cardinalidade, que compara quantos elementos um conjunto tem. Introduziu a cardinalidade para comparar tamanhos de conjuntos, mostrando que os números Reais são incontáveis, ou seja, impossíveis de listar (1874), e que existem infinitos de tamanhos diferentes (ex.: ℵ₀, 2^{ℵ₀}). O ano de 1874 marca o início de sua teoria dos conjuntos, enquanto um ramo da matemática, com a publicação de "Über eine Eigenschaft des Inbegriffes aller reellen algebraischen Zahlen" ("Sobre uma Propriedade da Coleção de Todos os Números Algébricos Reais"). Aqui Cantor forneceu a prova de que havia mais de um tipo de infinito. Criou os números transfinitos (ordinais como ω e cardinais como ℵ₀, ℵ₁) e conceitos como o argumento diagonal (1891) e o conjunto de Cantor. Formulou a hipótese do continuum, ainda um problema aberto. Essas inovações, publicadas principalmente na “Mathematische Annalen”, estabeleceram a teoria dos conjuntos como uma disciplina formal, com aplicações em análise, topologia e lógica.
Cabe, antes de adentrarmos na discussão sobre conjuntos infinitos, explicarmos o conceito de infinito potencial e atual. O infinito potencial é uma coleção qualquer de objetos a qual sempre se pode somar mais um, já o infinito atual seria o infinito completo. O infinito potencial é como uma lista que nunca para de crescer; o infinito atual é a lista completa. Esta ideia de infinito atual passou a ter conotação religiosa, podendo ser igualada ao Deus cristão, única natureza absolutamente infinita, segundo alguns filósofos teólogos. As descobertas de Cantor, desenvolvidas principalmente entre 1870 e 1897, desafiaram intuições milenares sobre o infinito, que desde Aristóteles era visto como algo "potencial" e não "atual" (ou seja, algo que poderia crescer indefinidamente, mas não existir como uma entidade completa). Antes de Cantor, o infinito era tratado filosoficamente (ex.: por Aristóteles, como "potencial" e não "atual") ou como um conceito vago na matemática. Cantor, em suas obras, especialmente “Grundlagen einer allgemeinen Mannigfaltigkeitslehre”, 1883, formalizou o infinito como uma entidade matemática manipulável. Ele percebeu que conjuntos infinitos, como os números Naturais ℕ = {0, 1, 2, ...} e os números Reais ℝ, têm "tamanhos" diferentes, e precisava de uma nova linguagem para descrevê-los. Assim, criou os números transfinitos, que transcendem os números finitos (1, 2, 3, ...) e permitem comparar infinitos. Podemos encontrar um antecedente filosófico para o infinito atual (os números transfinitos, que Cantor tratou como infinitos completos; um infinito finito) presente em Cantor, na filosofia de Plotino, com o conceito de Uno, que nos traz, também, um infinito atual. Para Cantor, o infinito não era apenas um processo sem fim, mas algo que podia ser “segurado” e medido, como o Uno de Plotino, um todo absoluto.
Cantor introduziu o conceito atual de cardinalidade, especialmente para conjuntos infinitos. A cardinalidade de um conjunto é uma medida de seu "tamanho" ou "quantidade de elementos". Para conjuntos finitos, é simples: |{1, 2, 3}| = 3. Para infinitos, Cantor definiu que dois conjuntos têm a mesma cardinalidade se houver uma bijeção entre eles, ou se preferir, uma relação biunívoca. Imagine um pastor que, sem contar, emparelha cada carneiro com uma pedra. Se sobram pedras ou carneiros, os rebanhos são diferentes. Cantor fez isso com infinitos.
Exemplo de cardinalidade finita: Os conjuntos {a, b, c} e {1, 2, 3} têm cardinalidade 3, pois podemos mapear a→1, b→2, c→3. É como emparelhar cadeiras e pessoas em uma sala infinita. Para infinitos: Cantor mostrou que conjuntos aparentemente "maiores" podem ter a mesma cardinalidade que ℕ.
Infinitos Contáveis: O Menor Infinito, alef-zero ℵ₀
Cantor classificou infinitos em "contáveis" (enumeráveis, ou seja, podem ser listados em uma sequência infinita) e "incontáveis" (não podem). O menor cardinal infinito é ℵ₀ (alef-zero, a primeira letra do alfabeto hebraico, escolhida por Cantor por sua conexão com o infinito divino na tradição judaico-cristã). ℵ₀ (alef-zero) é a cardinalidade de ℕ (números Naturais), ou seja, |ℕ| = ℵ₀.
Exemplos de conjuntos com cardinalidade ℵ₀ (contáveis):
Números Inteiros ℤ = {..., -2, -1, 0, 1, 2, ...}: Parece maior que ℕ, mas Cantor mostrou uma bijeção: Liste-os como 0, 1, -1, 2, -2, 3, -3, ... (alternando positivos e negativos).
Números Racionais ℚ (frações como 1/2, 3/4): Também contáveis. Cantor usou um arranjo em grade: Liste frações por soma de numerador e denominador (ex.: 1/1; 1/2, 2/1; 1/3, 2/2, 3/1; etc.), pulando duplicatas como 2/2=1/1. Assim, todos os Racionais Q podem ser enumerados em uma lista infinita, como os Naturais N.
Qualquer união finita ou contável de conjuntos contáveis é contável (teorema de Cantor).
Não existem infinitos menores que alef-zero ℵ₀. Por quê? Porque qualquer conjunto infinito tem pelo menos ℵ₀ elementos (pode-se extrair uma sequência infinita dele), e ℵ₀ é o menor cardinal infinito possível na teoria dos conjuntos. Conjuntos finitos têm cardinalidades 0, 1, 2, ..., mas infinitos começam em ℵ₀. Não há "meio-infinito" menor que ℵ₀; ou é finito, ou pelo menos alef-zero ℵ₀. Alef-zero é o primeiro e menor conjunto de números infinitos e igual ao conjunto dos números Naturais N.
Cantor introduziu números cardinais transfinitos: ℵ₀, ℵ₁, ℵ₂, ..., formando uma sequência infinita de infinitos cada vez maiores. Cada ℵ_{ℕ+1} é o menor cardinal maior que ℵ_n.
Pensemos assim, se você é uma pessoa que cria um rebanho de carneiros, mas não sabe contar, então pode usar uma pequena pedra ou seixo para cada carneiro que possui, deste modo, haverá uma correspondência biunívoca entre pedras / seixos e carneiros. Se houver mais pedras que carneiros ao final do dia, significa que um carneiro se perdeu, foi vítima de um predador ou foi roubado, cabendo achar para onde foi este carneiro (pedra /seixo a mais) faltante. Se ao final do dia temos mais carneiros do que pedras /seixos, então um foi acrescentado, talvez provenha de outro rebanho e não seja seu, talvez uma ovelha tenha dado à luz a um filhote. Portanto, no final do dia, mesmo não sabendo contar, o número de pedras / seixos tem de ser igual ao de carneiros, isto é a cardinalidade, que pode ser, por exemplo, o número 7 ou 47 ou outro qualquer. Pelos números ordinais, posso contar e colocar em uma dada ordem: primeiro carneiro, segundo carneiro, terceiro carneiro, quarto carneiro, etc. Bem, se você está em uma fila aguardando atendimento, com um número cardinal de 14, faz toda diferença se numa relação ordinal você ocupa o número 13 ou 14, já que o número 13 será atendido na frente do 14.
Agora, e se o problema não é “não saber contar” e sim “não poder contar”? No caso de números em conjuntos infinitos, não basta saber contar, já que pelo fato de serem infinitos, não é possível conta-los, deste modo, não tem sentido usar os números ordinais, mas podemos pensar em usar um número do conjunto cardinal para compara-los com outro grupo e deste modo sabermos que temos mais ou menos “ovelhas” do que “pedras / seixos”. Foi isto exatamente que Cantor fez com os infinitos. O primeiro infinito é composto pelos números naturais N (podendo ou não incluir o zero – N ou ℕ+, N*). Cantor demonstrou não haver um conjunto infinito que seja menor que N ou N*, sendo então o primeiro conjunto infinito igual a totalidade de N ou N* chamado por Cantor de alef-zero, pertencente a reta do conjunto dos números Reais R. Cantor mostrou que os Naturais formam o menor infinito, chamado alef-zero ℵ₀. Ele descobriu que os Reais, como todos os pontos de uma reta, formam um infinito maior.
Cantor "descobriu" isso ao mostrar que nem todos os infinitos são iguais. Antes dele, matemáticos como Galileu notaram paradoxos (ex.: os quadrados perfeitos são infinitos, mas "menos" que os naturais), mas Cantor resolveu isso com rigor. Em 1874, ele provou que o conjunto dos números Reais ℝ (todos os números na reta, incluindo Irracionais como √2 ou π) tem uma cardinalidade maior que o dos Naturais ℕ. Cantor mostrou que os Reais são como uma reta infinita, muito maior que a lista dos Naturais.
Agora, podem existir outros infinitos que sejam maiores que alef-zero (conjunto dos números Naturais N)? Infinitos incontáveis: Maiores que ℵ₀? Sim, existem infinitos maiores que ℵ₀, e Cantor provou isso. O conjunto dos números reais ℝ tem cardinalidade maior que ℵ₀ – é incontável. Ele usou dois argumentos principais: Argumento de 1874: Os reais transcendentes (como π) são incontáveis, mas isso foi preliminar. E o argumento Diagonal (1891).
Georg Cantor é amplamente reconhecido como o fundador da teoria dos conjuntos contemporânea, uma área da matemática que revolucionou a compreensão do infinito, dos números e da estrutura dos conjuntos. Cantor não inventou o conceito de "conjunto" do zero, ele desenvolveu a teoria dos conjuntos, transformando noções intuitivas de coleções em uma disciplina matemática rigorosa, a partir da qual obteve o conceito de número transfinito.
Na teoria dos conjuntos desenvolvida por Georg Cantor, os números transfinitos são uma extensão dos conceitos de números para descrever e quantificar o "tamanho" ou a "ordem" de conjuntos infinitos. Eles surgem da necessidade de lidar com o infinito de maneira rigorosa, indo além da intuição de que o infinito é apenas "algo muito grande". Cantor introduziu os números transfinitos para classificar diferentes tipos de infinitos, mostrando que existem infinitos de tamanhos e ordens distintos. Eles são divididos em dois tipos principais: cardinais transfinitos (que medem o tamanho de conjuntos) e ordinais transfinitos (que medem a ordem ou posição em sequências infinitas).
Os cardinais transfinitos representam o "tamanho" (ou cardinalidade) de conjuntos infinitos. A cardinalidade é definida por bijeções: dois conjuntos têm a mesma cardinalidade se há um mapeamento um-para-um entre seus elementos.
Georg Cantor introduziu os números transfinitos para descrever o infinito com precisão matemática. Diferentemente dos números finitos, que contam objetos, os números transfinitos lidam com tamanhos e ordens de conjuntos infinitos, revolucionando a matemática.
Os números transfinitos de Cantor, apresentados em obras como “Grundlagen”, 1883, transformaram a matemática e a filosofia. Eles mostram que existem infinitos de tamanhos diferentes, desafiando intuições e enfrentando resistências, como a de Kronecker. Para Cantor, esses números eram quase uma ponte entre a matemática e o divino.
Cantor introduziu o conceito de cardinalidade, uma medida do "tamanho" de um conjunto. Dois conjuntos têm a mesma cardinalidade se existe uma bijeção (mapeamento um-para-um) entre eles. Ele mostrou que o conjunto dos números Naturais ℕ = {0, 1, 2, 3, ...} tem cardinalidade ℵ₀ (alef-zero), o menor infinito. Surpreendentemente, conjuntos como os números pares {0, 2, 4, ...} e ímpares {1, 3, 5, ...} também têm cardinalidade ℵ₀, demonstrado por funções simples:
Para os pares: ( f(n) = 2n ) (ex.: 0→0, 1→2, 2→4, ...).
Para os ímpares: ( g(n) = 2n + 1 ) (ex.: 0→1, 1→3, 2→5, ...).
Isso significa que, no infinito, partes de um conjunto podem ter o mesmo tamanho que o todo, desafiando a intuição.
ℵ₀ (alef-zero), o menor cardinal transfinito, representa a cardinalidade do conjunto dos números Naturais ℕ. Conjuntos com cardinalidade ℵ₀ são chamados contáveis porque seus elementos podem ser listados em uma sequência infinita.
Os números pares {0, 2, 4, 6, ...} têm cardinalidade ℵ₀, pois a função f(n) = 2n mapeia cada natural n em um par (0→0, 1→2, 2→4, ...). Da mesma forma, os ímpares {1, 3, 5, ...} têm cardinalidade ℵ₀ via g(n) = 2n + 1 (0→1, 1→3, 2→5, ...).
Outros exemplos: Os Inteiros ℤ e os Racionais ℚ também têm cardinalidade ℵ₀, pois podem ser enumerados.
Os cardinais transfinitos medem o tamanho de conjuntos infinitos. O menor é ℵ₀ (alef-zero), a cardinalidade dos números Naturais ℕ = {0, 1, 2, ...}. Conjuntos como os pares {0, 2, 4, ...} (( f(n) = 2n )) e ímpares {1, 3, 5, ...} (( g(n) = 2n + 1 )) também têm cardinalidade ℵ₀, pois podem ser listados. Já os números Reais ℝ têm cardinalidade 2^{ℵ₀}, maior que ℵ₀, como Cantor provou com o argumento diagonal. A hipótese do continuum sugere que 2^{ℵ₀} = ℵ₁, o próximo cardinal, mas isso permanece um mistério.
Os ordinais transfinitos, como ω (ômega), descrevem a ordem de sequências infinitas. Por exemplo, ω representa a sequência 0, 1, 2, ..., enquanto ω + 1 adiciona um elemento após. Ordinais são cruciais para estruturas como filas infinitas.
Infinitos Maiores: ℵ₁, ℵ₂ e a Hipótese do Continuum
Cantor provou que o conjunto dos números Reais ℝ (ou o intervalo [0,1]) tem cardinalidade 2^{ℵ₀}, maior que ℵ₀, usando o argumento diagonal (1891). Por exemplo, qualquer tentativa de listar todos os Reais entre 0 e 1 falha, pois sempre se pode construir um novo número diferente da lista. Ele também mostrou que existe uma hierarquia infinita de cardinais: ℵ₀ < ℵ₁ < ℵ₂ < .... A hipótese do continuum (CH), formulada por Cantor, sugere que 2^{ℵ₀} = ℵ₁, ou seja, não há cardinal entre ℵ₀ e o dos Reais. Essa questão permanece não resolvida, pois Gödel (1940) e Cohen (1963) mostraram que CH é independente dos axiomas padrão da matemática (ZFC).
Cantor introduziu números ordinais (como ω, que representa a ordem dos Naturais) e o conjunto de Cantor, um fractal pioneiro. Suas ideias enfrentaram resistência, especialmente de Leopold Kronecker, mas hoje são fundamentais em análise, topologia e lógica. Filosoficamente, Cantor via seus infinitos como consistentes com a teologia cristã, conectando matemática e espiritualidade.
Cantor provou que conjuntos infinitos não possuem a mesma potência (tamanho) e fez a distinção entre conjuntos numeráveis ou enumeráveis (countable), que podem contar, e de outra parte, os conjuntos contínuos ou não enumeráveis (uncountable), que não podem contar. Também provou que o conjunto dos números Racionais Q é countable, já o conjunto dos números Reais IR é contínuo e, portanto, Q é menor que IR. Usou neste caso como demonstração o argumento pautado na diagonal. Os Racionais podem ser listados, mas os Reais, como todos os pontos de uma reta, são numerosos demais para isso.
A partir dos estudos e descobertas de Cantor na matemática, o axioma “o todo é maior que as partes” deixou de valer quando o tema em questão é conjuntos infinitos. Conjuntos infinitos possuem tamanhos diversos, sendo uns maiores que outros e havendo conjuntos infinitos que de tão grandes, não possuem correspondência no mundo real. Cantor mostrou que, no infinito, uma parte pode ser tão grande quanto o todo, como se metade de um universo infinito tivesse o mesmo tamanho que ele.
Em termos técnicos, quando para cada objeto de um conjunto há uma correspondência para com outro objeto em outro conjunto, temos uma “relação de um para um”, quando isto não ocorre temos uma “relação um para muitos”. Cantor descobriu que, no infinito, podemos emparelhar elementos como se fossem pessoas e cadeiras, sem sobrar nada.
Cantor tratou o infinito como um conceito matemático rigoroso, introduzindo ferramentas para compará-lo e manipulá-lo, demonstrando que existem diferentes "tamanhos" de infinito, o que levou a controvérsias filosóficas e matemáticas profundas. Cantor transformou o infinito em algo que podemos entender, mas suas ideias chocaram o mundo.
É possível termos um conjunto infinito maior que outro conjunto infinito? Cantor nos provou que sim. Se pensarmos, por exemplo, no conjunto dos números Inteiros (0, 1, 2, 3, etc.) que é infinito e pegarmos somente o intervalo entre “0 e 1” e analisarmos a existência de número entre ambos, em uma relação biunívoca, ou seja, “de um para um” (pense em pessoas e cadeiras em uma sala, se todos são convidados para sentar e sobram cadeiras vazias ou pessoas em pé, então não há uma relação de um para um), temos que os números menores que “1” são muito superiores ao conjunto “0 e 1”, após esgotar os Inteiros, sobram e abundam números menores que “1”. Os Reais entre 0 e 1 são muito mais numerosos que os Inteiros, pois formam um infinito maior. Cantor chamou de alef-zero (a letra “aleph” é a primeira letra do alfabeto hebraico) ao conjunto de todos os Inteiros — o “menor” dos infinitos, seguido de alef-um, e indo nesta sequência em uma hierarquia de infinitos, na qual alef-zero ℵ₀ é o menor infinito, seguido por ℵ₁, ℵ₂, e assim por diante. Imagine uma sala infinita com cadeiras (os Naturais) e outra com infinitos pontos (os Reais). Cantor mostrou que a segunda é muito maior.
Por quê existem maiores? Pelo teorema do conjunto potência: Para qualquer conjunto A, o conjunto de todos os subconjuntos de A (pot(A)) tem cardinalidade estritamente maior: |pot(A)| = 2^{|A|} > |A|. Começando de ℕ (|ℕ| = ℵ₀), pot(ℕ) tem 2^{ℵ₀}, pot(pot(ℕ)) tem 2^{2^{ℵ₀}}, e assim por diante. Essa hierarquia é infinita e bem definida na teoria dos conjuntos (ZFC). Cada conjunto infinito gera um maior, como criar todas as combinações possíveis de números.
Exemplos:
ℵ₀: Números Naturais, Inteiros, Racionais.
2^{ℵ₀} = |ℝ| (Reais), também |funções de ℕ para ℕ|, |pontos no plano ℝ²| (bijeção via entrelaçamento de decimais).
ℵ₁: O menor cardinal maior que ℵ₀, mas sua identificação exata depende da hipótese do continuum.
ℵ₂: Maior que ℵ₁, e assim sucessivamente. Não há "fim" – há até cardinais inacessíveis, strongly (fortemente) compactos, etc., em teorias mais avançadas.
Esses não são "hipóteses não comprovadas"; são provados existirem na teoria dos conjuntos. Por exemplo, Cantor provou que 2^{κ} > κ para qualquer cardinal κ (finito ou infinito).
A Hipótese do Continuum: Uma questão aberta. É como perguntar se há um infinito “médio” entre os Naturais e os Reais, um enigma que Cantor deixou para nós. ℵ₀ está "dentro" dos Reais – sim, ℕ é subconjunto de ℝ, mas sua cardinalidade é menor. A hipótese do continuum (CH), formulada por Cantor em 1878, é que não existe cardinal entre ℵ₀ e |ℝ| = 2^{ℵ₀}, ou seja, 2^{ℵ₀} = ℵ₁. Em outras palavras: O próximo infinito após ℵ₀ é exatamente o dos Reais. É comprovada? Não. Kurt Gödel (1940) mostrou que CH é consistente com ZFC (não leva a contradições). Paul Cohen (1963) mostrou que ~CH (a negação) também é consistente. Assim, CH é independente de ZFC – não pode ser provada nem refutada com os axiomas padrão da matemática. Isso permanece verdadeiro; não houve resolução, apesar de debates em palestras e artigos recentes.
Vamos por etapas para facilitar o entendimento destas ideias altamente abstratas. O conjunto dos números Naturais N (incluso zero) é infinito e igual a alef-zero. Este é o primeiro infinito, não havendo menor. O intervalo [0,1] tem cardinalidade 2^{ℵ₀}, que pode ser ℵ₁, dependendo da hipótese do continuum. ℵ₀ é o menor infinito, como os Naturais. Os Reais entre 0 e 1 formam um infinito maior, talvez ℵ₁, mas ninguém sabe ao certo. Podemos falar em alef-um, que se encontra na reta dos números Reais R, no intervalo entre zero e 1. Agora, é possível falar em alef-dois? Vamos abordar aqui a possibilidade da existência e a natureza de outros conjuntos superiores a alef-zero (alef-um, alef-dois, etc.). O conjunto dos números Naturais N é infinito e possui cardinalidade alef-zero, sendo o menor conjunto cardinal infinito, ou seja, o primeiro infinito dentro de uma hierarquia proposta por “tamanho” ou “quantidade” de elementos dentro do conjunto infinito. Todos os conjuntos com uma cardinalidade menor que alef-zero mostram-se finitos e enumeráveis. Mesmo quando dois conjuntos aparentam ter um tamanho menor, como, por exemplo, o de números pares e o de números ímpares, quando comparados a N, estes apresentam a mesma cardinalidade, ou seja, são contáveis, para cada pedra / seixo, temos um carneiro e assim ao infinito. Cada natural corresponde a um par ou a um ímpar ao infinito. Isto pode ser demonstrado por meio de uma simples função.
Pensemos nas funções que estabelecem bijeções entre os números Naturais ℕ = {0, 1, 2, 3, ...} e os subconjuntos dos números pares e ímpares, para demonstrar que ambos têm a mesma cardinalidade que os Naturais ℕ, ou seja, alef-zero ℵ₀. Na teoria dos conjuntos de Georg Cantor, dois conjuntos têm a mesma cardinalidade se existe uma bijeção (mapeamento um-para-um) entre eles. Cantor mostrou que os números pares {0, 2, 4, 6, ...} e os números ímpares {1, 3, 5, 7, ...} são ambos contáveis, com cardinalidade ℵ₀, igual à de ℕ. Isso é surpreendente porque, intuitivamente, parece que os pares ou ímpares são "metade" de ℕ, mas no infinito, a noção de "metade" não reduz o tamanho do conjunto.
Função para os números pares
Para mapear os números Naturais ℕ = {0, 1, 2, 3, ...} nos números pares {0, 2, 4, 6, ...}, a função é:
f(n) = 2n
Como funciona: Cada número Natural n é multiplicado por 2, gerando um número par.
Exemplos:
f(0) = 2 . 0 = 0
f(1) = 2 . 1 = 2
f(2) = 2 . 2 = 4
f(3) = 2 . 3 = 6
E assim por diante. Ou seja, temos uma função na qual todos os números Naturais N (0, 1, 2, 3, 4, etc.) são biunivocamente correspondentes a um único número par quando multiplicados por “dois” e seguem a exata sequencia ordinal na qual se apresentam os pares (0, 2, 4, 6, 8, etc.).
Por que é uma bijeção?
Injetiva: Cada par é gerado por exatamente um natural (ex.: 4 vem de n = 2, e nenhum outro n produz 4).
Sobrejetiva: Todo número par 2k (onde k é maior ou igual 0) é atingido por algum n = k (ex.: para o par 8, k = 4, então f(4) = 8).
Assim, há uma correspondência um-para-um entre ℕ e os pares.
Cantor mostrou que os números pares, embora pareçam “metade” dos Naturais, têm o mesmo tamanho infinito. A função f(n) = 2n lista todos os pares: 0, 2, 4, 6, etc.
Exemplo: O conjunto dos números pares {0, 2, 4, 6, ...} parece "metade" de ℕ, mas tem cardinalidade ℵ₀, pois há uma bijeção: 0↔0, 1↔2, 2↔4, 3↔6, .... Cada natural corresponde a um par, sem sobras. Isso mostra que "contar" infinitos não segue a intuição finita.
Cantor provou que |ℝ| = |[0,1]|, ou seja, o intervalo [0,1] tem o mesmo "tamanho" infinito que toda a reta Real R. Isso ocorre porque há uma bijeção entre [0,1] e ℝ (ex.: a função tangente ou outras transformações mapeiam [0,1] em ℝ).
Não é correto afirmar que ℵ₁ está "no intervalo [0,1]" com certeza, mas sim que [0,1] tem cardinalidade 2^{ℵ₀}, que pode ser ℵ₁ se a teoria do continuun CH for verdadeira. Se a CH for falsa, ℵ₁ seria menor que 2^{ℵ₀}, e [0,1] teria um cardinal maior, como ℵ₂ ou outro.
É também absolutamente possível falar em ℵ₂, ℵ₃, e assim por diante, na hierarquia dos cardinais transfinitos de Cantor. Cantor mostrou que há infinitos cada vez maiores, como ℵ₂, ℵ₃, sem fim.
A CH se apresenta como um mistério matemático que reflete a visão filosófica de Cantor.
Cantor mostrou que o infinito dos reais é maior que o dos naturais, mas será que existe algo entre eles? Sua hipótese do continuum ainda intriga matemáticos.”
Bijeções para Números pares e ímpares na teoria de Cantor
Na teoria dos conjuntos de Georg Cantor, um dos resultados mais surpreendentes é que subconjuntos infinitos dos números naturais, como os números pares e ímpares, têm a mesma cardinalidade alef-zero ℵ₀ que ℕ = {0, 1, 2, 3, ...}. Isso é demonstrado por bijeções simples, que mostram que esses conjuntos podem ser "contados" da mesma forma.
Números pares
A função que mapeia os naturais nos números pares {0, 2, 4, 6, ...} é:
[ f(n) = 2n ]
Exemplos:
( f(0) = 2 . 0 = 0 )
( f(1) = 2 . 1 = 2 )
( f(2) = 2 . 2 = 4 )
( f(3) = 2 . 3 = 6 )
Essa função associa cada Natural a um único par, cobrindo todos os pares sem repetições, provando que o conjunto dos pares tem cardinalidade alef-zero ℵ₀.
Números ímpares
A função que mapeia os naturais nos números ímpares {1, 3, 5, 7, ...} é:
[ g(n) = 2n + 1 ]
Exemplos:
( g(0) = 2 . 0 + 1 = 1 )
( g(1) = 2 . 1 + 1 = 3 )
( g(2) = 2 . 2 + 1 = 5 )
( g(3) = 2 . 3 + 1 = 7 )
Essa função associa cada Natural a um único ímpar, cobrindo todos os ímpares sem repetições, provando que o conjunto dos ímpares também tem cardinalidade ℵ₀.
Essas funções ilustram a ideia revolucionária de Cantor: no infinito, partes de um conjunto (como pares ou ímpares) podem ter o mesmo "tamanho" que o todo. Essa descoberta desafiou intuições tradicionais e abriu caminho para a hierarquia dos infinitos, como ℵ₁ e ℵ₂, na teoria dos conjuntos. Cantor mostrou que o infinito ignora nossas regras de tamanho.
A teoria dos conjuntos foi refinada por outros, como Ernst Zermelo e Abraham Fraenkel, que criaram os axiomas ou regras ZFC (Zermelo-Fraenkel com o axioma da escolha) no início do século XX para resolver paradoxos como o de Russell e para evitar contradições na teoria de Cantor. Gödel, Cohen e outros expandiram a teoria, mas todos reconheceram Cantor como seu fundador. Portanto, dizer que Cantor "criou" ou "fundou" a teoria dos conjuntos é correto, desde que se entenda que ele formalizou e sistematizou conceitos que antes eram vagos ou implícitos.
3- Algumas de suas principais obras
1- Über einen die trigonometrischen Reihen betreffenden Lehrsatz. Título Traduzido: Sobre um Teorema Concernente às Séries Trigonométricas. Ano da Primeira Publicação: 1870.
Seu primeiro grande trabalho, resolvendo um problema sobre séries matemáticas, mostrando sua habilidade desde cedo. Publicado no Journal für die reine und angewandte Mathematik (Crelle’s Journal), este artigo marca o início das contribuições de Cantor à análise matemática. Ele resolveu um problema aberto sobre a unicidade das representações de funções por séries trigonométricas (séries de Fourier), mostrando que, sob certas condições, uma função pode ser representada por uma única série trigonométrica. Este trabalho lançou as bases para suas investigações posteriores sobre os números reais e foi influenciado por seu colega Heinrich Heine. É um texto técnico, mas significativo por mostrar o rigor inicial de Cantor.
2- Über die Ausdehnung eines Satzes aus der Theorie der trigonometrischen Reihen. Título Traduzido: Sobre a Extensão de um Teorema da Teoria das Séries Trigonométricas. Ano da Primeira Publicação: 1872.
Também publicado no Crelle’s Journal, este artigo expande o trabalho de 1870, introduzindo ideias que levaram à criação da teoria dos conjuntos. Cantor provou que os números reais formam um conjunto "incontável", em contraste com os números naturais, que são "contáveis". Ele demonstrou que não há uma correspondência um-para-um entre os números reais e os naturais, introduzindo o conceito de cardinalidade. Este foi um marco revolucionário, pois desafiou a intuição sobre o infinito e abriu caminho para a distinção entre diferentes "tamanhos" de infinito. Essa descoberta desafiou as ideias tradicionais sobre o infinito, atraindo críticas de matemáticos como Kronecker.
3- Grundlagen einer allgemeinen Mannigfaltigkeitslehre. Título Traduzido: Fundamentos de uma Teoria Geral das Variedades. Ano da Primeira Publicação: 1883.
Publicado como uma monografia na Mathematische Annalen, este é o trabalho mais filosófico de Cantor. Ele apresentou formalmente a teoria dos números transfinitos, incluindo os números ordinais (como ω, o menor ordinal infinito) e cardinais (como ℵ₀, o cardinal dos números naturais). Cantor também discutiu a natureza do infinito do ponto de vista matemático e filosófico, defendendo que seus conceitos eram consistentes com a teologia cristã. A obra enfrentou forte oposição, mas é considerada sua magnum opus por estabelecer a teoria dos conjuntos como uma disciplina autônoma. Apesar de sua profundidade, a obra foi ridicularizada por muitos, isolando Cantor, mas hoje é vista como um pilar da matemática contemporânea.
4- Über eine elementare Frage der Mannigfaltigkeitslehre. Título Traduzido: Sobre uma Questão Elementar da Teoria das Variedades. Ano da Primeira Publicação: 1891.
Publicado no Jahresbericht der Deutschen Mathematiker-Vereinigung, este artigo introduz o famoso "argumento diagonal" de Cantor, uma prova elegante que demonstra que o conjunto dos números reais é incontável. Ele mostrou que, para qualquer lista infinita de números reais, sempre é possível construir um número real não incluído na lista, solidificando a ideia de diferentes cardinalidades infinitas. Este trabalho é frequentemente destacado por sua clareza e impacto, sendo acessível até para leitores não especialistas em matemática avançada. O argumento diagonal é hoje ensinado como uma das provas mais elegantes da matemática.
5- Beiträge zur Begründung der transfiniten Mengenlehre. Título Traduzido: Contribuições para a Fundamentação da Teoria dos Conjuntos Transfinitos. Ano da Primeira Publicação: 1895-1897 (em duas partes).
Publicado na Mathematische Annalen, este é o trabalho final e mais abrangente de Cantor sobre a teoria dos conjuntos. Dividido em duas partes (1895 e 1897), ele sistematiza conceitos como números cardinais (ℵ₀, ℵ₁, etc.), números ordinais, o conjunto de Cantor (um fractal pioneiro) e a hipótese do continuum, que questiona se existe um cardinal entre ℵ₀ (dos naturais) e o cardinal dos reais. A obra também aborda o conceito de conjunto potência e a hierarquia dos infinitos. É um texto denso, mas fundamental para a matemática contemporânea, ainda relevante em debates atuais. O conjunto de Cantor, com sua estrutura fractal, é quase uma obra de arte matemática.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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