Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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terça-feira, 30 de maio de 2023

O pensamento da esquerda progressista

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

O pensamento da esquerda progressista

 Direita e esquerda são expressões que tem sua origem junto à Revolução Francesa e ao lugar ocupado na Assembleia Nacional Constituinte. Mas ao utilizarmos estes mesmos termos na atualidade, os mesmos não encontram uma noção clara e objetiva, pois, vários grupos e correntes distintas de pensamento são agrupadas em um e em outro destes dois conceitos. Há, no entanto, uma maior coesão por parte da esquerda, pois, desde o surgimento político dos movimentos socialistas e comunistas vem se internacionalizando e buscando pontos de unidade dentro da diversidade.

O termo “progressista” é vinculado em suas origens ao Iluminismo, à ciência e à evolução do conhecimento e das sociedades. Tal como é usado hodiernamente ele representa a defesa de um conjunto de pautas políticas associadas a ditas minorias sociais (negros, índios, mulheres, etc.). Tais pautas políticas via de regra são acolhidas pela esquerda e por parte significativa da grande mídia e da academia. Nesta orientação política ideológica se defende reformas sociais tendo como base a ideia do progresso em direção a uma agenda para o futuro.


 

A história, e mesmo a filosofia, é lida e interpretada de modo a mostrar a veracidade de suas teorias sobre a exploração de uma classe sobre outras. Antecessores ou proto-comunistas são buscados desde a Antiguidade em pensadores que defenderam alguma ideia ou conceito presente na doutrina atual, seja a da igualdade de todos, no comunismo de bens, na inexistência de um Deus Cristão ou igualando o mesmo a própria natureza. Afinal, alguns pensadores precisam robustecer o sistema e proporcionar alicerces para a nova estrutura correta do pensar, e neste caso vemos que alguns autores são privilegiados, tal é o caso, por exemplo, de:  dos sofistas do V séc. a.C., Heráclito de Éfeso, Demócrito de Abdera, de Epicuro e do Epicurismo, Spinoza, Rousseau, Nietzsche, e muitos outros.

No rol das ideias defendidas pela esquerda progressista está a crença de que cabe ao Estado promover os meios que proporcionem a igualdade e liberdade das pessoas e dos grupos sociais minoritários. Defendem a ruptura com os padrões tradicionalmente aceitos pela sociedade, bem como, mudanças radicais e rápidas por meio de uma revolução, e não paulatinamente.

Enquanto a direita defende um Estado menor, valorizando a iniciativa individual, a esquerda propõe um Estado maior, para deste modo poder proporcionar maiores oportunidades iguais para todos em sociedade. Há na esquerda uma grande ênfase no coletivismo. Na economia a esquerda advoga pela igualdade de renda, por maiores taxas de imposto cobrado aos mais ricos, por maiores gastos do Estado com programas sociais e infraestrutura. A esquerda propõe maior regulamentação do mercado e aumento de impostos para sustentar as iniciativas do Estado. No campo das políticas públicas sobre a segurança se mostra a favor do desarmamento da população, favorável à criação de grupos armados sob o controle do governo para a defesa da democracia, defensor dos direitos dos criminosos que são percebidos como vítimas da sociedade, defende a legalização e liberação das drogas. Tende a desenvolver uma oposição a religião cristã tradicional, defesa da liberação total de práticas abortivas, defesa da comunidade LGBTQIA+, igualdade entre gêneros, defesa do casamento homoafetivo, criação de leis antidiscriminatórias.

Uma dificuldade em compreender o real posicionamento da esquerda diante da direita é propositalmente criado pela própria esquerda em suas campanhas de marketing. Hoje, qualquer pensamento que saia do contexto aceito pelo círculo ideológico da esquerda é automaticamente rotulado por esta e pelos canais de mídia e grande mídia que por algum motivo seguem no todo ou em parte esta ideologia, como sendo de extrema direita (ou ultra direita) e igualando ao imaginário popular sobre o que foi o nazismo e fascismo, buscando gerar uma reação hostil e adversa a estas ideias que estão fora do contexto aceito pela esquerda. Neste contexto entram doutrinas religiosas, ideológicas, econômicas, políticas, estéticas e outras mais. Mesmo dentro do movimento, entre os que possam ser identificados como sendo politica e ideologicamente de esquerda, há uma luta pela posse da verdade, onde seus pares são vistos como adversários.

A doutrina da esquerda conseguiu por meio de uma propaganda bem estruturada, e financiamento oriundo de nações e grupos, arregimentar não somente parte substancial da grande mídia, mas também adentrar nos centros acadêmicos e se fazer presente na formação superior de muitos alunos, e não somente na vida acadêmica formal, mas na vida de muitos intelectuais. Também ocupa um lugar de destaque na classe artística. Lutar pela ideologia da esquerda passa a ser sinônimo de abraçar também outras causas nobres, tais como: lutar contra a extrema-direita (todos que não compartilhem da ideologia de esquerda), lutar a favor da democracia e dos direitos humanos, lutar a favor das minorias, lutar pela igualdade, etc.

Não há uma separação muito clara sobre o que seja a esquerda e a direita quando ambas se aproximam de visões mais extremadas. Há quem defenda que o espectro político possa ser desenhado em uma régua, uma linha reta, tendo um centro democrático onde predominaria a liberdade e a livre discussão sobre ideias e valores. Uma evolução em direção a direita, passando por vários espectros políticos até chegar ao nazismo e ao fascismo. Uma outra evolução a esquerda, também passando por vários espectros políticos até chegar ao comunismo, stalinismo e maoismo. Mas estou mais propenso a adotar a teoria da ferradura proposta pelo filósofo francês Jean-Pierre Faye, na qual esta linha se curva formando uma ferradura onde os extremos em muito se aproximam, não sendo deste modo a esquerda e a direita extremadas polos opostos de uma régua linear. De fato, há elementos marcantes de esquerda e direita presentes nos extremos, podendo ambas as correntes refutar que tais doutrinas políticas pertençam ao seu campo político, e insistirem que as mesmas são consequências da evolução de seu adversário ideológico. Nas duas extremidades desta ferradura temos projetos políticos que incluem o total controle da sociedade e de todos os seus atores individuais, supressão da liberdade, censura, controle da informação e da comunicação, totalitarismo, ditatura, intolerância, perseguição e sumária eliminação da oposição.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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quinta-feira, 18 de maio de 2023

Michel de Montaigne: O autor de "Ensaios"

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Michel de Montaigne

 Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) nasce e falece (aos 59 anos de idade) no castelo de Montaigne, localizado em Dordonha, próximo da região de Bordeaux, no sudoeste da França. Proveniente de próspera família de comerciantes, seu bisavô, Ramon, adquiriu o senhorio, a propriedade junto do título de pequena nobreza, no ano de 1477. De família burguesa, em nada ignorante, seu pai, Pierre Eyquem (1495-1568) enriqueceu com o comércio de vinho e peixe e aspirava obter ascensão social por meio do serviço público, tendo investido na aquisição da educação e modos pertencentes á aristocracia. A participação na campanha italiana do rei Francisco I impressionou o pai, Pierre Eyquem, com o Renascimento, de modo que este decidiu proporcionar ao filho uma educação humanista, priorizando o ensino do latim em sua mais tenra juventude. Michel de Montaigne foi, por ordem o pai, criado em uma família camponesa até completar os três anos de idade, quando retornou ao castelo da família e passou a ter uma educação toda em latim sob a tutoria de um professor alemão que lhe falava somente em latim, até aos seis anos de idade, quando começou a aprender o francês.


 

Montaigne atuou como filósofo, escritor, além de seu interesse por história e também pelo Direito, que estudou na Universidade de Toulouse, e que o levou a ocupar o cargo de magistrado em Périgueux e depois em Bordeaux. Foi presidente da Câmara de Bordeaux durante quatro anos (1581-1585) e também prefeito de Bordeaux. Viajou por diversos países e regiões da Europa (Suíça, Alemanha, Áustria, França, Itália). Em seus escritos assume uma atitude de oposição à Escolástica, bem como, uma aproximação filosófica do Epicurismo, Estoicismo, Ceticismo e Humanismo. Montaigne começa mais próximo do Estoicismo e com o passar do tempo caminha em direção ao Ceticismo e subjetivismo em sua obra. Seu ceticismo é baseado no Ceticismo da Antiguidade, em Pirro e outros, tomando como base a atitude de não julgar. Em parte eclético, em parte cético, não é possível fazer uma síntese real de sua obra, pois, não temos nela um sistema filosófico e sim o desenvolvimento de ensaios com reflexões subjetivas sobre sua própria vida, e que podem ser entendidas como parte de todos nós humanos.

Sua obra mais conhecida é “Os Ensaios” (primeira edição em 1580 e terceira edição em 1588. Mas importante, também, é a obra “Journal de Voyage” (1580-1581), publicado postumamente por Meusnier de Querlon (1702-1780) em 1774.

Em 1595 foi publicada a edição póstuma dos “Ensaios”, que se considera, até hoje, a versão definitiva), em três volumes.  Esta obra tornou-se uma das mais importantes e influentes de sua época e mesmo nos séculos subsequentes. Nesta obra há reflexões baseadas em sua própria vida que podem facilmente se estender para todo o gênero humano. Esta obra o torna o introdutor do gênero ensaio pessoal. O conceito do humano no centro do universo, antropocentrismo, muito presente no Renascimento e Humanismo, se faz também presente na obra de Montaigne, em particular nos “Ensaios”. Reúne nestes três volumes textos diferentes sobre distintos tópicos, não havendo uma ordenação coerente em relação a alguma temática central pré-definida. Temos textos sobre a morte, sobre os motivos para se viver, bem como sobre vaidade, costumes, política, economia, guerra e outros mais.

Sua obra faz parte do contexto do Renascimento e Humanismo, versando sobre os costumes e modos de vida. Se apresenta como cético e moralista. Montaigne critica a forma de educação baseada unicamente no estudo de livros e na memorização, segundo seu pensamento, torna-se necessário que o ensino seja direcionado para a experiência e para a ação. A educação tem como papel a formação voltada para a vida prática, de pessoas capazes de tomarem decisões e de terem uma compreensão dos aspectos morais envolvidos. A educação e ensinom deve sempre estar vinculados a experiências práticas.

Ao estudar somente por livros forma-se uma cultura livresca que tende a retardar a aprendizagem e não proporcionar a necessária prática para poder solucionar questões importantes ligadas ao desenvolvimento humano e a moral, como tal é o caso de saber articular os conhecimentos aprendidos. Cabe a educação criar humanos aptos para a investigação e capazes de obterem conclusões a partir destas investigações, exercitando deste modo a sua mente e proporcionando o desenvolvimento de uma atitude crítica por parte da pessoa. Podemos dizer que o conhecimento realmente digno de valor é o que é obtido pelo esforço investigativo e as conclusões da própria pessoa.

Todo o mundo está em movimento e os seres humanos carecem de constância. A inconstância faz parte da natureza humana. O comportamento humano é imprevisível por haver falta de continuidade e coerência. Pode-se constatar com base em exemplos observados na vida cotidiana que em diferentes situações, os comportamentos apresentados pelas pessoas tendem a variar muito e de modo irracional. O “Eu” é algo fluído e não fixo e constante, o que afeta também as nossas ações. Não é a personalidade da pessoa ou o uso de sua razão que determina suas ações. O comportamento de uma pessoa é dependente das circunstâncias presentes no momento da ação. Em dias diferentes uma mesma pessoa pode se comportar de modos diferentes. Uma mesma pessoa pode ser tão diferente de si mesma em outras ocasiões como o pode ser de outra pessoa. Dependendo das circunstâncias, teremos comportamentos diferentes de uma mesma pessoa, bem como também mudarão suas opiniões e julgamentos.

Segundo o pensamento de Montaigne sobre a morte, a filosofia é importante para ampliarmos a nossa consciência sobre a morte e que meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade. Não que a morte faça parte da vida, ela não o faz pois, representa factualmente o seu fim, mas apesar da morte ser o fim da vida, refletir sobre a mesma interfere em nossa vida, na forma como vivemos a vida. A morte faz parte de nossa condição humana, pois, em nós vida e morte se mesclam. Aprender a viver é aprender a morrer. Ao reconhecer nossa condição de criaturas mortais, passamos a valorizar mais a vida, de modo que a reflexão sobre a morte nos faz desejar viver mais e melhor.

No seu texto sobre canibalismo, dentre outros, assume uma posição de tolerância para com diferenças e valores culturais. Não é porque algo é diferente do que fazemos em nossa sociedade que é errado, é somente diferente. Culturas e povos diferentes possuem valores diferentes e modos de ser e se comportar também diferentes.

Montaigne apresenta uma radical crítica dos costumes, instituições e conhecimento, de sua época por meio de um ceticismo ativo. A dúvida é entendida como uma arma contra o fanatismo religioso, afinal, a França vivia no período as guerras entre católicos e protestantes. Também temos presente em sua obra o ideal de liberdade e uma atitude contrária às injustiças políticas e sociais, bem como, também contrário à violência, a crueldade e a corrupção.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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terça-feira, 16 de maio de 2023

Jean Bodin: Soberania e absolutismo político

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Jean Bodin

 

Jean Bodin (1530-1596) foi filósofo, economista, historiador, cientista político, demonologista, político membro do parlamento francês, jurista, professor de Direito em Toulouse, escritor. Seus estudos enfocaram os conceitos de soberania e absolutismo, além de se ocupar em fornecer um modelo teórico sobre um governo ideal.


 

Escreveu muitos livros e dentre suas principais obras, podemos citar: Método para a fácil compreensão da História, 1566, Resposta para o paradoxo do senhor Malestroict, 1568, A República (6 volumes), 1576, Panorama universal da natureza, 1596. Os “Seis livros da República” são considerados por alguns comentadores como sendo sua principal obra. Defendeu o estudo do humanismo nas escolas e uma educação universal.

Contrário à instituição da escravidão, entendia que a mesma é prejudicial, não natural e marcada por crueldades cometidas pelos senhores contra os escravos. Não reconhecia a justificativa do direito de guerra como válida para manter a escravidão, guardar para si os prisioneiros e usá-los como bem entender não pode ser entendido como uma forma de caridade.

Segundo o autor, haveria três tipos de Estado (monarquia, aristocracia e democracia) que podem exercer a autoridade para assegurar a união da sociedade política por meio do poder soberano. Em relação aos três tipos de Estado, o autor demonstra sua preferência pela monarquia. Existem três elementos aqui presentes: a justiça, a família e a necessidade da existência de bens públicos, em locais públicos, partilhados pelas famílias.

Enquanto o Estado se apresenta em três modelos possíveis, de acordo com a quantidade de pessoas que possuem o poder soberano de acordo com o modelo adotado (um, poucos ou muitos), o governo por sua vez se diferencia do Estado, podendo ser legítimo, despótico ou tirânico. O governo é a maneira como o poder é exercido.

No conceito desenvolvido por Bodin sobre o que seja a soberania, esta pertence obrigatoriamente a um único, como é o caso das monarquias, ou a um pequeno grupo como ocorre nas aristocracias, ou a muitos como no caso da democracia. Não aceitando uma quarta forma de Estado resultante da mescla entre estas três constituições. A divisão da soberania resulta obrigatoriamente na sua destruição e na anarquia.

Defendia o direito divino dos reis, doutrina política e religiosa pela qual o direito dos reis provém de Deus. Entende que a soberania absoluta deva se concentrar em uma só pessoa, trata-se aqui do absolutismo. Deste modo, por meio de seus escritos e teorias, atuou para justificar o absolutismo dos reis.

Defende o absolutismo político e que não cabe aos súditos se revoltarem contra o monarca. Entende a soberania como a força de coesão, de união da comunidade política. Não há como falar em uma soberania totalmente ilimitada, pois há limites morais que devem ser seguidos. Não há como confundir em Bodin o absolutismo monárquico com a tirania (despotismo). A monarquia é legítima quando os súditos obedecem às leis do monarca e este, por sua vez, obedece às leis da natureza, que são as leis de Deus, bem como, deve o monarca obedecer a lei Sálica (elaborada no século V d.C., na Alta Idade Média, no reinado de Clóvis I).

O soberano é entendido como sendo o representante de Deus na Terra para a todos da nação governar, portanto, não reconhecer o soberano é não reconhecer a Deus, uma vez que o monarca soberano é a imagem de Deus na terra. Tudo passa a ser subordinado a soberania do Estado. Ao estudar a autoridade, concluiu que a anarquia é o que de pior pode ocorrer a uma sociedade. Toda sociedade necessita de ordem e cabe ao Estado soberano assegurar esta ordem.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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quinta-feira, 11 de maio de 2023

Etienne de la Boétie: O autor do livro "Discurso da servidão voluntária"

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Etienne de la Boétie e a servidão voluntária

 

Nunca se lamenta o que nunca se teve. O pesar só vem depois do prazer e ao conhecimento do bem sempre se junta a lembrança da alegria do passado. O homem é naturalmente livre e quer sê-lo, mas sua natureza é tal que se amolda facilmente à educação que recebe.

Étienne de la Boétie

 

Etienne de la Boétie, ou Estienne de La Boétie (1530-1563) foi juiz, escritor, poeta e filósofo francês. Nasce no sudoeste da França, filho de uma família aristocrática, se formou em direito pela Universidade de Orléans, em 1553. Viveu no período do Renascimento, é considerado um humanista e faleceu bem cedo, quando contava apenas 32 anos (9 meses e 17 dias) de idade. Atuou como respeitável e eminente funcionário do parlamento de Bordeaux. Fez algumas traduções do grego para o francês de obras clássicas da Antiguidade. Boétie viveu uma vida conservadora, que o afasta das ideias revolucionárias, porém abstratas e universais, presentes em sua principal obra.

 


Sua obra mais famosa é seu “Discurso da Servidão Voluntária”, escrita em 1548 (ou 1549) quando dos seus 18 anos (há quem defenda ter escrito mais tarde, por volta dos 22 anos de idade em torno de 1552), mas publicada postumamente. Foi seu amigo, Michel de Montaigne, que afirmou ter ele escrito este livro quando contava 18 anos de idade, se bem que, em outra ocasião, afirmou que o mesmo tinha somente 16 anos quando o escreveu.

Ao contrário do contexto de sua época, onde textos contra a tirania tendiam a ser bem específicos e concretos, baseados em exemplos franceses e escritos por autores huguenotes, o texto escrito por Boétie é universal e abstrato e seus exemplos são buscados na Antiguidade clássica. Os textos dos huguenotes tendem a ficar restritos a França, enquanto o livro de Boétie ganha deste modo um caráter universalista sobre a natureza da tirania e a liberdade do povo, bem como, o que pode ser feito para abolir a tirania e favorecer a liberdade do povo. A ideia principal contida ali, nesta obra, é que a natureza da tirania e do próprio poder do Estado se baseia necessariamente em uma aceitação geral por parte do povo, sem esta aceitação não haveria tirania ou poder do Estado. Todos os governos dependem necessariamente do consentimento da maioria.

Em “Discurso da Servidão Voluntária”, apresenta um texto em defesa da liberdade onde questiona o porquê da dominação exercida por uma única pessoa (ou um pequeno grupo) sobre muitos. Nesta obra se mostra indignado com relação à opressão. No título faz alusão à “servidão voluntária”, entendimento que mantém sobre ser a servidão consentida, já que se as pessoas quisessem se libertar bastaria se rebelarem contra a mesma, e para tal não há necessidade sequer de atacar o tirano, basta lhe recusar fazer qualquer coisa.

Pelo conceito de “servidão voluntária”, temos que não é por meio da coerção, da ameaça e de barganhas que o governo obtém o cerceamento da liberdade e a total submissão a uma estrutura social injusta e opressora. O povo em sua maioria se submete a opressão do governo sem opor resistência, por vontade própria e mesmo satisfeito em o fazer. A dominação é consentida por parte dos dominados.

Podemos destacar sete pontos importantes presentes no livro: 1- a ilegitimidade do poder de um só sobre muitos, 2- a república como um sistema de governo melhor que a monarquia, 3- A religião, crenças religiosas e superstição são usadas pelo governo para manter a sujeição do povo, 4- todos os humanos são iguais politicamente, 5- afirma a força da opinião pública, 6- rejeita a demagogia, 7- afirma a irracionalidade da servidão e sua vinculação a um comportamento dependente coletivo.

O autor neste livro enumera três razões para a servidão voluntária: 1- ter nascido na servidão. Quem nasce na servidão aprende a viver na servidão pelo hábito, o costume, a educação. Sem questionamento aceitam como natural o estado que encontraram desde seu nascimento. 2- Se tornar um covarde. A perda da liberdade leva também a perda da valentia. 3- A estrutura do poder que permite por meio de uma hierarquia de poder, que um domine alguns poucos e que estes, por sua vez, dominem um grupo maior e assim por diante. O autor também descreve três tipos de tiranos: 1- os que chegam ao poder pela eleição do povo, 2- pela força das armas ou 3- pela sucessão hereditária.

Também a religião exerce um papel importante, ao legitimar a figura do monarca. Some-se a toda superstição existente em torno do poder do rei. O sistema também proporciona uma hierarquia de poder a semelhança de uma pirâmide onde no topo temos o monarca, que exerce seu poder diretamente sobre alguns poucos abaixo dele (quatro ou seis) e estes, por sua vez, o exercem sobre outros abaixo e assim sucessivamente, conservam o país inteiro em servidão. As pessoas nos níveis mais baixos da pirâmide são obrigadas a obedecer, mas quanto mais próximos do rei, maior a submissão, pois, tais pessoas além de obedecer, buscam também poder antecipar os desejos do monarca. Aqueles que se encontram na base da pirâmide, por estarem mais afastados do tirano, são os mais livres, neste caso podemos citar os camponeses e os artesãos, dentre outros. Além de mais livres, são também mais felizes, pois, apesar de terem de obedecer, tem o restante do tempo livre para o gastarem do modo como escolherem.

Com relação aos relacionamentos afetivos com as pessoas mais próximas e também com o seu povo, o autor afirma que o tirano em verdade nunca é de fato amado ou ama. No tocante à amizade verdadeira, temos que uma de suas maiores características é a presença da reciprocidade. Há a necessidade da proximidade entre as pessoas, pois, esta permite suprir carências e aumentar as qualidades presentes nas pessoas. Já que a amizade verdadeira direciona as pessoas a viverem em comum, torna-se impossível ao tirano, que deve se manter afastado de todos e ocupar o lugar que só a ele é permitido.

Por meio da amizade se pode combater a servidão voluntária, pois, esta atua como elemento de exclusão da servidão. A amizade é um estado afetivo e de ações entre amigos que por sua própria natureza exclui a escravidão, não havendo a possibilidade de um espaço para servir ao outro.

Nesta obra, abre-se um questionamento perante o leitor para o que faz com que as pessoas obedeçam a uma única pessoa no comando da nação, o que faz com que as pessoas abdiquem de sua liberdade, e que para serem livres basta querer sê-lo.  O que temos com a servidão voluntária é em verdade a perda do desejo de ser livre. Mesmo que se possa perder a liberdade pela força, é surpreendente que as pessoas não lutem para reconquistá-la.

A tirania, e o autoritarismo nela presente, se destroem sozinhos se as pessoas deixarem simplesmente de obedecer, para isto é necessário que as pessoas percebam seu estado de escravidão e optem pela liberdade. Há uma defesa da igualdade política entre todas as pessoas e a liberdade é considerada um direito natural do humano.

O autor entende que é possível se opor à opressão sem a necessidade de fazer uso da violência, basta se recusar a dar o consentimento a este estado de coisas. Afinal, é por meio da obediência dos oprimidos que a autoridade encontra sua força para permanecer no comando opressor e tirânico. Um meio eficaz para se opor à autoridade seria recusar a obediência e a colaboração, mas claro está que há necessidade de uma organização coletiva para combater o poder que emana da obediência consentida dos oprimidos. Para sair desta servidão voluntária é necessário reconhecer a existência desta pirâmide hierárquica de poder e destruí-la, para tal basta recusar a obediência. São os povos que se deixam ser oprimidos, opressão esta que só existe na medida em que os povos aceitam servir ao tirano.

Nesta obra temos uma crítica a legitimidade dos governos e na tirania imposta por alguns governos. A submissão a um só governante se dá pelo hábito que nos faz acostumar com a situação imposta e não questiona-la. A servidão voluntária encontra em sua origem três raízes, que são: o hábito, a covardia, a participação. Estas três raízes em conjunto podem nos proporcionar a ilusão de que estamos livres, mesmo sob o jugo do tirano.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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