Por: Silvério da Costa Oliveira.
O desenvolvimento do método científico e consequentemente da ciência moderna é algo que ocorre entre os séculos XVI e XVIII e tem como principais expoentes a Nicolau Copérnico (1473-1543), Galileu Galilei (1564-1642), Tycho Brahe (1546-1601), Johannes Kepler (1571-1630) e Isaac Newton (1643-1727).
O mundo estava em mudança rápida e vertiginosa, verdades tidas como eternas por tão longevas que já eram, simplesmente caíram em desgraça. O que é a verdade e como obtê-la afinal de contas? O que pode garantir que as novas verdades que irei aceitar não se mostrarão no futuro tão falsas como as que a humanidade manteve até este ponto? Esta é a dúvida do humano desta época, e por bons motivos.
Em 1492 Cristóvão Colombo descobre um novo continente, a América, novos povos, novas culturas; de 1519 a 1522 Fernão de Magalhães faz a primeira viagem naval de circunavegação ao globo terrestre; em 1517 Martinho Lutero publica na porta da igreja suas 95 teses dando início à reforma protestante e a ruptura com a Igreja Católica Apostólica Romana, criando uma divisão religiosa na Europa que depois ainda iria se ampliar a partir de outros reformadores e eventos ruptivos, tal como João Calvino (1509-1564) com o assim chamado Calvinismo, e também a separação definitiva da Igreja Anglicana da Igreja Católica Apostólica Romana pelo Ato de Supremacia aprovado pelo parlamento da Inglaterra em 1534; acrescente-se que no ano de sua morte (1543), Copérnico publica seu livro “Sobre as revoluções das esferas celestes” afirmando não ser a Terra o centro do universo e sim o sol e que a Terra não estava imóvel e sim, que se movia.
Entre os séculos XIV e XVI temos o Renascimento, em particular na Itália, surgindo obras clássicas de filósofos antigos e os mais distintos saberes que irão reformular todo o entendimento sobre as artes e ciências, sobre o mundo acadêmico, sobre tudo o que era conhecido e estudado.
Ora, havia uma única religião na Europa ocidental, agora temos a separação protestante. Havia somente as pessoas residentes na Europa, África, Ásia e oriente, agora temos outras pessoas vivendo em lugares antes desconhecidos e que não constam da Bíblia. A Terra estava imóvel no centro do Universo e agora o centro passa a ser o sol e a terra gira ao seu redor. Verdades aceitas durante séculos caem por terra. Havia uma única e sólida verdade e agora há vários candidatos ao que seja esta verdade nos mais distintos campos do saber.
Diante de tantas mudanças o Europeu precisava não somente encontrar a verdade, mas um método que o permitisse chegar a algo que não se mostrasse no futuro também como falso. Deste modo surgiram naturalmente três propostas, três abordagens distintas para se buscar a verdade, o conhecimento, o saber. No continente europeu surgiu um movimento de busca do conhecimento verdadeiro por meio do emprego da razão como seu maior instrumento, o Racionalismo. Tivemos na Inglaterra e Reino Unido o surgimento do Empirismo, priorizando o fato empírico, as percepções e a observação. Com destaque merecido para René Descartes no Racionalismo e Francis Bacon no Empirismo. Por sua vez, tivemos também o surgimento do método científico moderno, como uma proposta que irá aos poucos se consolidar somando observações dos fatos, elaboração de experimentos artificiais para aumento do controle sobre o que está sendo observado, uso intensivo da matemática para demonstrações e previsões. Dentro desta proposta temos presente a meta de formular teorias e construir um modelo teórico de explicação da realidade.
Infelizmente, esta nova ciência que surge, este novo método de busca do saber, deixa de lado o que não se encaixa em demonstrações matemáticas ou em experimentos controlados. Não havendo como efetuar uma observação rigorosa dos fatos, formular e demonstrar a validade de hipóteses, não caberia a discussão de certos temas por não se encaixarem na metodologia proposta. Enquanto para os filósofos de outras abordagens questões tais como as oriundas da religião, da moral e da ética tiveram sempre um lugar de destaque, o mesmo tende a não ocorrer com a elaboração do método científico e o surgimento da ciência moderna. Mas este vácuo na metodologia e na disciplina científica será compensado diante do fator humano, pois este há de encontrar algo outro e distinto para preencher esta lacuna em sua vida, veremos que a vida dos fundadores desta nova ciência não segue em seu particular as linhas gerais de seu trabalho e por vezes encontra acolhida em doutrinas outras, nada científicas.
A partir do século XIV e com o início do Renascimento na Itália, começa gradativamente uma ruptura com a Igreja enquanto detentora do saber e da autoridade. Se antes o centro de toda a cultura era Deus, a Bíblia e a religião cristã, agora o foco principal muda para o ser humano. Esta tentativa de separação e emancipação do humano da Igreja irá se manifestar não somente pelos estudos filosóficos e científicos e por toda a literatura antiga que era re-descoberta e estudada, mas também por uma volta ao oculto, ao ocultismo, a magia, a cabala, a astrologia, a alquimia. Muitos dos estudiosos e grandes expoentes da filosofia natural, da ciência moderna, desta assim chamada revolução científica, tiveram interesse ativo por tais áreas do oculto. Copérnico, Tycho Brahe e Kepler também eram astrólogos e faziam previsões e horóscopo. Newton estudava a fundo teologia, fazia leituras e estudos aprofundados da Bíblia, realizava também experimentos em alquimia, o que o colocava dentro do mundo do ocultismo. Galileu era sinceramente católico. Isto era normal a todos estes personagens e outros mais nesta época histórica. Futuramente houve intenção por parte de terceiros em esconder este lado não tão científico. Escritos de Newton sobre alquimia e teologia foram ignorados e descartados. Somente a partir do começo do século XX é que estes escritos esotéricos de Newton começaram a serem vistos a partir de sua real importância e começaram a ser resgatados do anonimato, proporcionando uma nova abordagem e entendimento deste pensador.
Esta revolução começa com o estudo na área da astronomia por meio dos trabalhos de Copérnico, Tycho Brahe e Galileu e aos poucos passa a englobar a física e matemática. Com Newton passamos a ter as leis sobre o movimento e também sobre a gravitação universal, explicando e demonstrando matematicamente não somente o movimento em elipse dos planetas proposto por Kepler, dentro do modelo heliocêntrico proposto por Copérnico e defendido por Galileu, mas também todo e qualquer movimento ocorrido aqui em nosso planeta Terra. Temos também estudos e polêmicas quanto a natureza da luz, se corpuscular (Newton) ou ondulatória (Hook), além de outros estudos, pesquisas e desenvolvimentos em diversos outros campos distintos do saber.
O método que hoje ainda usamos em ciência é o método de Galileu Galilei. O método hipotético dedutivo. Diante da observação do mundo e das possíveis questões que este levanta, formulamos uma hipótese, ou seja, a solução provisória de um problema. Em seguida se organiza um experimento controlado para evitar variáveis que possam influenciar o resultado e apontar para um falso resultado. Se dá um tratamento matemático, procurando por tal meio demonstrar matematicamente e prever acontecimentos. Com Kepler e Newton passamos a falar em “leis” sempre válidas diante de certas condições.
Observar, formular hipóteses, testar as hipóteses em condições de um experimento controlado medindo todos os fatores possíveis, usar da matemática para demonstrar e prever a ocorrência dos fenômenos observados, buscar aplicações para as descobertas, formular leis imutáveis. Enfim, ter um conhecimento que pode passar a prova da realidade, que não se vincula às crenças ou à autoridade seja de quem ou do que for, um conhecimento no qual não preciso acreditar, pois posso observar, mensurar, testar, comprovar ou tentar falsear (Popper). Esta abordagem proporcionou um enorme avanço para a sociedade e humanidade, que passou cada vez mais a ser uma sociedade tecnológica e cujos instrumentos criados influenciam nas observações e estudos dos fatos, como no caso de Galileu, cujas pesquisas envolveram a elaboração do telescópio e do plano inclinado.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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