Por: Silvério da Costa Oliveira.
Marco Aurélio
Marco Aurélio (em latim Marcus Aurelius Antoninus) (121-180 d.C.), nasceu em Roma e faleceu em Viena, vítima da peste, proveniente de uma família nobre espanhola, assumiu como imperador em 161 e ocupou o cargo até sua morte. Seu reinado foi marcado por diversas guerras: Contra os Partas, na fronteira oriental, de 161 a 166; contra as tribos germânicas, na fronteira norte, de 166 a 180. Teve de lidar com revoltas e epidemias de peste, tendo um governo conturbado. Considerado o último dos cinco bons imperadores, foi também escritor e filósofo estoico. Ficou conhecido como “o imperador filósofo” e “o imperador sábio”. Durante seu governo, demonstrou serenidade, justiça e força moral. Se bem que em 177 ocorreu uma perseguição aos cristãos. Considerado o principal representante do assim chamado “novo estoicismo”. Sofreu influência de Epicteto e Sêneca, filósofos estoicos.
Quando jovem, teve uma boa educação, tanto de questões teóricas como práticas (estudou letras latinas e gregas, direito, retórica, filosofia e pintura), dedicando-se também a cuidar do corpo e treiná-lo (treinou luta livre e também praticou dança ritual dedicada ao deus Marte).
Seu livro mais famoso e de cunho filosófico é “Meditações”, provavelmente escrito durante campanhas de guerra, entre os anos de 171 a 175. Tal livro parece ser mais um exercício filosófico voltado para o autoaperfeiçoamento e para a orientação de sua própria vida, sem o intuito de ser publicado ou endereçado a terceiros. Originalmente escrito em grego, observamos nesta obra a junção da cultura grega com a romana. Apesar de clara orientação estoica, percebe-se também a presença do ecletismo, que traz para as reflexões outros autores e correntes filosóficas. Também nos chegaram as cartas trocadas com seu amigo e professor, Frontão, onde se aborda o tema da retórica.
Apesar de termos citações e referências às “Meditações” em autores antigos, uma edição da obra somente é publicada e torna-se disponível a partir dos séculos XVI e XVII d.C.
Em Marco Aurélio, no seu livro “Meditações”, as especulações físicas, metafísicas e lógicas cedem seu lugar a uma outra abordagem, mais próxima do caráter prático e não especulativo presente nos romanos. De base estoica, seu livro se coloca mais próximo de um aconselhamento moral, onde a filosofia se mostra como um modo de vida e o problema central é como se pode viver bem e feliz.
No seu livro temos presente como tema central a importância de analisar a si próprio e aos demais por meio de uma perspectiva mais ampla, cósmica. Temos a aceitação da morte e uma discussão sobre a existência ou não de deus ou dos deuses. Assume uma atitude que busca libertar o humano dos prazeres e dores da vida e do corpo vinculados ao mundo material. Ninguém pode nos prejudicar a não ser nós mesmos, a única maneira de sermos prejudicados por outros é permitir ser dominado por uma reação, pois, tudo não passa de opinião. Pela razão o humano consegue viver em harmonia com o universo.
Tendeu a dar destaque aos aspectos religiosos presentes no estoicismo, transformando-o em uma norma de vida, de como atuar em questões práticas e sobre a obtenção de consolo para as dores e problemas que a vida nos traz. O estoicismo anterior a Marco Aurélio não admite a ideia de “espírito”, assumindo uma postura na qual só admite a existência de seres concretos e corpos, e em oposição ao conceito de mundo das ideias presente no platonismo, somente com Marco Aurélio passamos a falar e pensar a noção de espírito. Temos um profundo sentimento religioso, presente em todo o movimento estoico, mas com o destaque de uma relação mais íntima com o divino que é imanente ao humano. Temos a presença de um cosmopolitismo, onde todos os humanos são vistos como irmãos e dignos de nosso amor. Podemos constatar influência de Heráclito a partir da presença nítida de um processo de constante mudança e impermanência de todas as coisas. Um pouco de pessimismo ou conformismo diante da realidade, que as vezes ganha o tom de otimismo diante da aceitação da lei divina, da providência e do amor. O pessimismo pode ser observado quando afirma que tudo passa, tudo há de se destruir, nada permanece para sempre e que a vida não passa de um breve caminho que leva à morte. Já o otimismo surge da contemplação da lei divina que tudo governa com sabedoria. Esta realidade divina contrasta com a impermanência e mudança observada nas coisas, pois, se mostra como permanente, imutável e causa da harmonia do universo. Para viver bem é necessário se por em afinidade com este divino, que é imanente a tudo, e com os deuses.
As meditações têm como objetivo ser uma análise do dia-a-dia do imperador, o que ocorreu e qual a melhor forma de proceder diante dos fatos. Dentro do estoicismo temos a necessidade de voltarmos para nosso interior e nos questionarmos sobre nossa vida, comportamento, atitudes, ações diárias, de modo a poder com isto obter algum aprendizado útil, alguma lição de vida, visando não somente o autoaperfeiçoamento, mas também o aperfeiçoamento enquanto filósofo estoico, uma vez que o estoicismo prevê que seus princípios básicos não devem ser meramente compreendidos e sim vividos.
As meditações não foram escritas com o propósito de ser publicadas e sim como material de reflexão individual para o autoaperfeiçoamento. Questões presentes ao estoicismo vinculadas a lógica, a física ou a ética não são desenvolvidas de modo sistemático nas meditações, pois não é este o objetivo, o que temos são reflexões diárias de caráter eminentemente prático.
Marco Aurélio entende a vida como algo instável e passageiro e cujo sentido se dá ao ligar o indivíduo com o universo. Cabe ao humano produzir seus frutos do mesmo modo que uma árvore o faz, e o ato moral se apresenta como sendo um desenvolvimento da natureza universal deste humano.
Como representante do estoicismo, mantém que a virtude é a única fonte de felicidade e que o homem sábio deve suportar todas as adversidades da vida e ao mesmo tempo, se propor a fazer o que for o seu dever.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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