Por: Silvério da Costa Oliveira.
João Calvino
Jehan Cauvin
João Calvino ou Jehan Cauvin (1509-1564) nasce em Noyon, região da Picardia, no norte da França, e falece em Genebra, na Suíça, aos 54 anos de idade por motivos de saúde. Teólogo, estudou Direito tendo se formado nesta área, líder religioso da Reforma e escritor com domínio do latim. Escreveu várias obras, sendo sua principal obra: a “Instituição da Religião Cristã”, de 1536.
Provindo de família cristã, Calvino, então com 12 anos de idade, em 1521, é enviado por seu pai a Paris para estudar teologia, tendo conseguido uma verba anual para tal. Em 1529, então próximo de seus 20 anos de idade, obedece ao pai, que decidira que este deveria abandonar os estudos em teologia e começar a estudar Direito, por ser uma profissão de maior rentabilidade e foi estudar Direito em Orleães. Em 1532, foi doutorado em Direito em Orleães. Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre com seus estudos em Teologia, tendo sido inicialmente um humanista (aos 23 anos já era considerado um humanista famoso), nunca, no entanto, foi ordenado sacerdote, se bem que após ficar famoso, alguns de seus seguidores o chamavam de “padre”. Por volta de 1532 e 1533 se converte ao cristianismo então presente na Reforma. De 1536 a 1538 esteve em Genebra, de 1538 a 1541 em Estrasburgo (leste da França) e a partir deste ano até o final de sua vida, novamente em Genebra, onde efetivou mudanças religiosas, políticas e sociais no governo da cidade, que tornariam Genebra no principal centro protestante da Europa.
Durante sua estada em Genebra, de 1541 até sua morte em 1564, Calvino, segundo alguns comentadores, representou a face mais conservadora e puritana do movimento protestante. As medidas adotadas resultaram em hábitos austeros aos cidadãos de Genebra. O jogo, a dança e o canto, que não fosse ligado à igreja, por exemplo, eram terminantemente proibidos, pessoas suspeitas de bruxaria, ou quem discordasse das doutrinas de Calvino, sofriam medidas punitivas, podiam ser expulsas da cidade, vítimas de alguma humilhação pública, presas, ou mesmo queimadas vivas em uma fogueira, sendo o caso mais emblemático o da execução de Miguel Serveto, médico espanhol condenado à morte por negar a doutrina da Trindade, e também um desafeto de Calvino.
As ideias de Calvino difundiram-se pela Europa. Na França, esteve presente nos Huguenotes, na Escócia, nos presbiterianos, na Inglaterra, nos puritanos, na Holanda, nos protestantes.
Seu pensamento há de influenciar não somente a religião, pelo movimento da Reforma do qual participou ativamente, mas também a sociedade em geral, a política e mesmo a economia até os presentes dias.
Dentro da Reforma protestante, a doutrina desenvolvida por Calvino passou a ser conhecida por “Calvinismo”, e a mesma se apresenta como doutrina religiosa cristã que tem como ponto central a predestinação, ou seja, que Deus quando da criação, já definiu quem seria salvo e quem seria condenado. Enquanto que para Lutero e seus seguidores o crente percorre o caminho da salvação de sua alma por meio da fé e graça de Deus, tendo em decorrência de sua fé a realização de obras (boas ações), para os calvinistas, de acordo com a doutrina da predestinação, nada disto exerce realmente influência, pois, o caminho da pessoa não é definido por ela própria, já tendo sido traçado por Deus.
O calvinismo adota os princípios já presentes em Lutero, sendo uma continuação da Reforma, ou seja, a justificação pela graça mediante fé, o sacerdócio universal, a Bíblia como único livro sagrado e autoridade máxima em questões de religião e fé. Segundo o pensamento expresso por Calvino, tudo se direciona para a glória de Deus, trata-se do princípio da soberania de Deus, e, neste tocante, entra a fidelidade aos preceitos contidos nas Escrituras, o valor dado ao comportamento ético e moral, bem como, o valor dado ao trabalho social e, claro está, à predestinação. Esta questão da predestinação esteve menos presente no próprio Calvino, sendo algo que foi mais enfatizado e desenvolvido pelos seguidores de sua doutrina. Claro, no entanto, que mesmo em sua principal obra encontramos referências explícitas à doutrina da predestinação.
Se compararmos os católicos com os Luteranos ou Calvinistas, temos que há diferenças básicas, tais como a quantidade de sacramentos, sete na Igreja Católica e somente dois nas Igrejas reformadas (batismo e eucaristia), a não veneração de santos pelas Igrejas reformadas, algo comum na Igreja Católica, bem como, a não veneração de Maria, mãe de Deus, presente na Igreja Católica e ausente nas Igrejas reformadas. Também significativo é a presença de imagens sacras em seus altares na Igreja Católica e a ausência das mesmas nos altares das Igrejas reformadas. No século XVI a missa católica era rezada em latim e a Bíblia também estava em latim, já nas Igrejas reformadas, além da simplificação da celebração, o latim foi substituído pela língua da região, seja o alemão em Lutero para os povos de língua alemã, ou o francês para Calvino em Genebra e França.
O calvinismo trouxe conjuntamente com suas doutrinas, a imposição de comportamentos austeros e puritanos não somente aos seus seguidores, mas as demais pessoas sujeitas a autoridade nas regiões dominadas por tal doutrina.
O calvinismo defende a predestinação, mas também acentua positivamente a importância da fé, do valor moral do trabalho, da importância de economizar e que a riqueza pode ser uma demonstração de que a pessoa é uma das escolhidas por Deus. Nega o livre arbítrio, defendendo um tipo de servo arbítrio, semelhante a Lutero.
Há cinco pontos centrais presentes na doutrina calvinista e a tulipa (tulip) tornou-se o símbolo para representar estes pontos, sendo cada letra correspondente a inicial de um destes pontos. TULIP: Total depravity (depravação total), Unconditional election (eleição incondicional), Limited atonement (expiação limitada), Irresistible grace (graça irresistível), Perseveranse of saint (perseverança dos santos). A TULIP foi formalizada no Sínodo de DORT, na Holanda, mais de cinquenta anos após a morte de Calvino, são os cinco pontos do Calvinismo.
Depravação total: O humano só pode praticar o bem por meio da ação de Deus, pois, em virtude do pecado original relatado no Gêneses e cometido por Adão e Eva, já nasce sob a influência deste ato, o que o torna mau.
Eleição incondicional: Deus escolheu quem irá ou não salvar, não dependendo do humano ou de suas ações, a sua salvação.
Expiação limitada: Quando Jesus Cristo morre na cruz não o faz pela salvação de toda a humanidade, mas somente dos eleitos de Deus.
Graça irresistível: Não é possível negar o chamado de Deus quando somos escolhidos.
Perseverança dos santos: Permanecer firme na crença e assumir a fé para sempre, atendendo ao chamado de Deus, apesar de qualquer dificuldade que possa surgir no percurso.
Podemos falar em algumas consequências da reforma calvinista, dentre as quais a referente ao valor do trabalho. Antes de Calvino a doutrina cristã católica tendia a associar o trabalho com castigo vinculado ao pecado original e o ganho e enriquecimento decorrente do trabalho se aproximava do pecado, logo, o trabalho tendia a ser desvalorizado e visto como castigo de Deus. Isto muda com o calvinismo, o trabalho passa a ser valorizado e a postura econômica, voltada ao desenvolvimento das atividades terrenas, passa a ser impulsionada, promovendo uma verdadeira revolução comportamental quanto ao valor do trabalho e os ganhos dele decorrentes, e sua relação com a fé, religião e Deus.
O calvinismo acabou agradando um segmento econômico social que começava a se desenvolver, na medida em que, enquanto a Igreja Católica condenava a usura, Calvino não o fazia e, entendiam os calvinistas que cada pessoa tinha recebido um dom particular de Deus, o qual deveria ser desenvolvido, deste modo, o trabalho era algo valorizado e o sucesso pelo trabalho e mesmo o enriquecimento pessoal era visto como um sinal de que aquela pessoa era um dos escolhidos de Deus para ser salvo.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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