Por: Silvério da Costa Oliveira.
Bernardo
Bernardo de Claraval (1090-1153) ou Bernard de Clairvaux, nasce na Borgonha, França, em 4 de dezembro e é considerado santo pela Igreja Católica Apostólica Romana tendo sua festa litúrgica celebrada no mesmo dia de seu falecimento, então com 62 (faria 63 pouco mais de 3 meses depois) anos de idade, dia 20 de agosto, também na França onde viveu e atuou por toda a sua vida. Entusiasmado pela vida religiosa, ingressou na abadia de Cister e dedicou parte considerável de sua vida a ajudar na expansão da ordem cisterciense. A ordem de Cister tinha sido fundada a pouco tempo, por Roberto de Champanhe, abade de Molesme, em 1098, que conjuntamente com outros irmãos da congregação monástica de Cluny, saíram desta para fundar a ordem de Cister, com observância da antiga regra beneditina. A partir da aprovação da “Carta da Caridade” em dezembro de 1119, temos que a ordem de Cister surge como a primeira ordem religiosa canonicamente instituída pela Igreja. Quando Bernardo nela ingressou, em 1113, haviam apenas 20 membros e um único mosteiro, mas quando veio a falecer e em decorrência de todos os seus esforços em vida, a ordem já contava com 165 mosteiros, dos quais Bernardo fundou 68, e mais de 600 membros religiosos que haviam professado os votos. Por tal motivo, Bernardo é considerado como sendo o segundo fundador da ordem.
Foi o fundador da abadia de Claraval (claraval = vale claro), onde atuou como abade. No ano de 1128 marcou presença no Concílio de Troyes, responsável por apresentar a regra monástica que iria guiar os então cavaleiros templários e que também viria a se tornar o ideal da nobreza cristã. Organizou em 1129 o concílio de Latrão e em 1141 participou ativamente do concílio de Sens contra Pedro Abelardo. A pedido do papa coube a ele a organização da segunda cruzada e posteriormente também a culpa pelo fracasso da mesma. Pregou contra e combateu diversas heresias em seu tempo.
Autor, dentre outras obras, da “regra monástica da Ordem dos Templários”, do “Tratado de Deus”, do “Comentário ao cântico dos Cânticos”, do hino “Ave Maris Stella” e da invocação “Ó clemente, ó piedosa, ó doce virgem Maria” presente na oração “Salve Rainha”. Também “Os passos da humildade e do orgulho”, De gradibus humilitatis et superbiae, de 1120; “Apologia a Guilherme de são Teodorico”, Apologia ad Guillelmum Sancti Theoderici Abbatem; “Sobre a conversão de clérigos”, De Conversione Ad Clericos Sermo Seu Liber; “Sobre a graça e o livre arbítrio”, De Gratia et Libero Arbitrio, por volta de 1128; “Sobre amar a Deus”, De diligendo Dei, em torno de 1128; “Um elogio à nova cavalaria”, De Laude Novae Militiae; “Livro de preceitos e dispensações”, De praecepto et dispensatione libri, entre 1141 e 1144; “Sobre consideração”, De Consideratione, entre 1148 e 1153; “A vida e a morte de são Malaquias, o irlandês”, Liber De Vita Et Rebus Gestis Sancti Malachiae Hiberniae Episcopi.
Bernardo atuou na transformação do cristianismo. Durante a alta Idade Média a Igreja valorizava mais o ritual sacramental e Bernardo trouxe a ênfase para uma fé pessoal baseada na imitação da vida de Cristo e ênfase dada a Maria, uma fé imediata e sem a intermediação da razão, tendo como intercessora somente a Maria, sendo contrário a tendência então em crescimento de dar uma maior ênfase à razão para a compreensão do divino, ênfase racionalista esta que começa com Abelardo e irá se perpetuar pela escolástica em desenvolvimento.
Para Bernardo a busca pelo saber somente é válida quando tem por objetivo a caridade e o conhecimento se faz visando a salvação, o amor e a edificação. A ciência que melhor se encaixa nesta ideia é o conhecimento de si próprio e de Deus. Busca-se a humildade, o combate à vaidade e à soberba. Segue os passos de Agostinho e se opõe à tendência que Abelardo bem destacou da ênfase na razão, que Bernardo entende como vaidade e soberba. Para Bernardo, o fim último de todo conhecimento deve ser o amor contemplativo. Mais uma vez vemos, portanto, a razão subordinada à fé, as escrituras e também a tradição expressada pelos padres apologistas nos primeiros séculos da Igreja.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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