Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Discrinto: Discriminação e intolerância como base para os fenômenos do assédio moral, harassment, ijime, whistleblowers, mobbing e bullying dentre outros



OLIVEIRA, Silvério da Costa. “Discrinto” (discr-into ou into-discri = discriminação + intolerância): Discriminação e intolerância como base para os fenômenos do assédio moral, harassment, ijime, whistleblowers, mobbing e bullying dentre outros.. Rio de Janeiro: [s.n.], 2013. xx p. Disponível em: <www.doutorsilverio.com>. Acesso em:

Sobre o autor
Silvério da Costa Oliveira é Doutor – Ph.D. e Mestre em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia, possui a Licenciatura Plena em Psicologia e a Licenciatura Plena em Filosofia, possui a Licenciatura pelo MEC em História e Sociologia, autor de vários livros e artigos, conferencista. Sua formação está estruturada sobre três pilares: a Filosofia, a História e a Psicologia.

Título: “Discrinto” (discr-into ou into-discri = discriminação + intolerância): Discriminação e intolerância como base para os fenômenos do assédio moral, harassment, ijime, whistleblowers, mobbing e bullying dentre outros.
Tema: bullying; assédio moral; mobbing
Autor: Silvério da Costa Oliveira.

Palavras chaves
Bulliyng; cyberbulliyng; assédio moral; mobbing; harassment, ijume, whistleblowers; discriminação; intolerância;

Resumo do texto
Procura-se fornecer uma melhor denominação em língua portuguesa para o fenômeno abordado em distintas pesquisas por distintos nomes, tais como: assédio moral, harassment, ijime, whistleblowers, mobbing e bullying dentre outros. Entende-se que tais fenômenos são formados basicamente pela junção da discriminação e da intolerância e que todos se assemelham entre si em sua base de origem. Discute-se tal fenômeno e explica-se como o mesmo se desenvolve e o significado dos diversos nomes dados nas pesquisas que o abordam.

Por: Silvério da Costa Oliveira.
O título deste pequeno artigo, “Discrinto”, é uma proposta de mudança de nome para um fenômeno bem antigo, se bem que as pesquisas sobre o tema sejam recentes, bem como o maior interesse dado pela mídia. O fenômeno aqui abordado recebe diversos e distintos nomes de acordo com o recorte dado pelos pesquisadores ao tema, mas em essência o fenômeno é o mesmo, o que muda é o local onde o mesmo ocorre, a faixa etária das pessoas envolvidas, a cultura predominante, enfim, o recorte dado pelos pesquisadores que tende a favorecer a um determinado termo cunhado por um grupo, visando salvaguardar os direitos autorais sobre a pesquisa. Quando fazemos uso de um termo, fazemos uso de toda uma pesquisa anterior, citando os nomes dos pesquisadores que foram os primeiros a usar o termo fazendo pesquisa nesta área, deste modo, pesquisadores que usam um determinado termo tendem a evitar usar outro pelo simples fato de o outro fazer referência a outros pesquisadores e outras pesquisas sobre o mesmo fenômeno, em verdade, temos aqui mais uma “reserva de mercado” do que distintas coisas sendo pesquisadas.
Quando proponho o termo “Discrinto”, penso que o mesmo é apropriado em língua portuguesa por fazer referência direta a dois conceitos profundamente presentes em todo este fenômeno, independente do nome que tenha sido anteriormente dado ou do local onde o mesmo se dá, pois, por tal termo entendemos a combinação da “discriminação” com a “intolerância” e seu resultado é um somatório de agressões gratuitas e uma série de humilhações impostas a uma pessoa ou um grupo por outras pessoas ou grupos, de modo repetitivo, contínuo, freqüente, intencional e voluntário.

Entendo que este fenômeno, por onde podemos claramente vislumbrar agressões gratuitas físicas e mentais, humilhações, hostilidades diversas, intimidação, perseguição e outras coisas ruins e nada dignificantes da condição humana, está imerso em um mar de discriminação e intolerância, as quais se apresentam como base para os fenômenos que recebem por meio dos pesquisadores diversos nomes de acordo com a abordagem da pesquisa e o enfoque mais específico dado a uma determinada nuance do problema, bem como, questões envoltas em valores culturais que tendem a variar conforme a sociedade, deste modo, por meio da pesquisa francesa, por exemplo, temos o conceito de assédio moral, focado no ambiente de trabalho e onde temos um desnível de poder entre as partes, sendo este assédio visto de modo mais sutil, disfarçado, levando a vítima a ter dúvidas se de fato sofre assédio ou se é incompetente ou louca.
Nos últimos anos este fenômeno tem ganhado cada vez mais presença na mídia e em pesquisas ocorridas ao redor do mundo, sendo que cada grupo de pesquisadores tem feito um recorte próprio neste fenômeno, selecionando uma determinada parte para desenvolvimento de seus estudos e dando um nome particular ao fenômeno a partir do enfoque dado à pesquisa, deste modo, este fenômeno tem sido abordado de diferentes maneiras e recebido distintos nomes, tais como: assédio moral, bullying, cyberbullying, mobbing, etc.
Nas pesquisas norte-americanas temos o termo harassment, que se apresenta como um outro nome para o assédio moral, onde temos aqui ataques repetitivos, intencionais e voluntários visando atormentar a vítima.
Já o ijime, é como o fenômeno se apresenta dentro dos estudos e da cultura japonesa, sendo algo presente tanto no ambiente escolar, como também do trabalho, com a variação que nesta cultura ainda é visto como algo aceito e necessário para manter-se a uniformidade e evitar o individualismo visto como nocivo pela cultura japonesa.
O termo whistleblowers, por sua vez, traz a tona o problema gerado quando aqueles que trabalham em áreas consideradas sensíveis, como, por exemplo, saúde e militar, tendem a exercer sua cidadania alertando a população em geral sobre coisas muito erradas que ocorrem em seus ambientes de trabalho, como, por exemplo, corrupção, violações da lei ou de normas importantes à segurança, práticas desonestas no serviço público, comportamentos apresentados por empresas ou associações que tendam a ocasionar dano a natureza, saúde, segurança, propriedade e a sociedade em geral. Claro está que denunciar o sistema, seja ele qual for, ocasiona represarias e o indivíduo acaba sendo a vítima. Neste caso específico, as agressões sofridas visam primeiramente silenciar o indivíduo, bem como evitar que outros façam o mesmo.
Não poderíamos deixar de falar na modalidade estudada com o nome de mobbing, pois pela mesma os pesquisadores oriundos em geral dos países nórdicos (Suécia, Dinamarca, Finlândia), da Suíça e da Alemanha entendem o comportamento agressivo e hostil de um grupo para com uma pessoa isolada ou outro grupo menor, deste modo, podemos ver o mobbing como um comportamento grupal presente no ambiente escolar e do trabalho, no qual temos perseguições coletivas e violência subjetiva e física. O termo mobbing tem sido usado quando se trata de um grupo atacando uma pessoa ou outro grupo específico, de forma contínua, freqüente e repetitiva.
Por fim, temos a menininha de ouro da mídia nos tempos atuais, o bullying, termo presente em pesquisas de origem norte-americana e que de início focavam mais o ambiente escolar, onde um ou mais meninos ou meninas tidos como valentões escolhiam uma ou mais vítimas (as pesquisas apontam em média cerca de três vítimas por cada molestador) para agredir e humilhar de modo repetitivo e freqüente, geralmente tais alunos são escolhidos por serem vistos como diferentes do grupo e sem condições de se autodefenderem, não podendo responder em pé de igualdade ao agressor. O termo bullying acabou sendo usado mais em pesquisas envolvendo o ambiente escolar, crianças e adolescentes. Hoje, as pesquisas sobre bullying incluem outros ambientes além do escolar e o termo é freqüentemente usado para agressões no ambiente de trabalho.
Por cyberbullying entendemos o somatório dos ataques feitos com o uso dos meios de informática, tais como mensagens eletrônicas, vídeos, fotos, textos e criação de sites na Internet ou o uso das comunidades e redes sociais para infernizar a vida de uma pessoa ou grupo, depreciando, humilhando, difamando, ameaçando e organizando situações extremamente desagradáveis para a vida de tais pessoas.
Por sua vez o termo assédio moral esteve mais presente em pesquisas envolvendo adultos em seus ambientes de trabalho.
Citei algumas variações com seus respectivos nomes, dentre outros, presentes neste fenômeno, mas cabe destacar e frisar que não importa o nome que seja dado, o que temos sempre presente de modo repetitivo, freqüente e constante é a discriminação de uma pessoa ou grupo de pessoas por serem as mesmas consideradas de alguma forma como diferentes e a intolerância diante destas pessoas, desta diferença e desta situação. A intolerância diante do diferente é tamanha que a este é negada a possibilidade de existência, devendo ser isolado, negado e afastado violentamente do grupo, neste caso vale tudo, desde zombarias a agressões físicas abertas ou sutis e veladas.
Todas as pessoas são diferentes, todos têm a sua individualidade, a qual deve ser respeitada, no entanto, a grande maioria tem medo de ser diferente e prende-se a idéia de ser igual a todos os demais integrantes de seu grupo social. Uma forma de unificar os laços sociais e afetivos presentes entre os integrantes de um grupo social é contrapor seus integrantes a outros que sejam diferentes do grupo, ao afirmar esta diferença, destacando-a, reforçar a ilusão de igualdade presente no grupo social. Deste modo, tanto a um indivíduo, como também a um grupo social minoritário que seja considerado diferente podem advir conseqüências bem desagradáveis, gerando dor, sofrimento e mesmo a morte.
Neste fenômeno temos de destacar o aspecto repetitivo do mesmo que o irá diferenciar de situações outras, onde mesmo havendo agressões a um indivíduo ou grupo não há razões que o justifiquem incluir como parte integrante do fenômeno em análise. Presente ao fenômeno teremos a possibilidade de agressões físicas que podem aumentar em intensidade até provocar danos expressivos ou mesmo a morte da vítima, temos também a presença de situações onde haja explícita ou implícita intimidação, presença de ameaças, depreciação, exclusão de participação em atividades do grupo, etc.
O que faz com que alguém seja vítima é o fato desta pessoa ou grupo social ter determinadas características que sejam desvalorizadas ou, ao contrário, supervalorizadas e que gerem inveja por parte do grupo social dominante. Deste modo, o alvo escolhido para vítima pode ser uma pessoa muito gorda ou muito magra, muito alta ou muito baixa, que faça uso de alguma coisa que a torne diferente (óculos de grau, aparelho nos dentes, colete ortopédico, etc), com características de personalidade que a coloquem em um extremo de timidez e introversão ou seu completo oposto, pessoas consideradas pelos padrões vigentes como muito feias ou muito belas, pouco ou muito inteligentes, em relação à média.
Vítimas podem desenvolver transtornos, apresentar tentativas de suicídio ou tentativas de vingança contra aqueles tidos como agressores. Temos diversos episódios de pessoas que após terem sofrido episódios nos quais foram constantemente molestados, humilhados e ridicularizados, tentaram se vingar adquirindo armas e atacando diversas pessoas, ocasionando verdadeiros massacres aparentemente sem sentido.
Querendo admitir ou não, este fenômeno se apresenta para a vítima como a imposição de forte agressão e crueldade deliberadamente direcionada para ela por outra pessoa ou grupo social com o claro objetivo de fazê-la sofrer emocional e fisicamente, criando relações de poder onde a vítima é percebida como exercendo um papel social inferior, fraco, vulnerável e com possibilidade de manipular menos e mais fracos instrumentos de poder que seus agressores.
Quanto aos agressores, estes podem agir sozinhos ou em grupos. Pesquisas apontam que grupos de meninas e mulheres tendem mais a optar por comportamentos que levem a exclusão social da vítima escolhida, é comum neste grupo a utilização de boatos, a intimidação por meio de insultos sussurrados ou risos no grupo diante da vítima, destruição da reputação social da vítima, tentativas de afastar outras pessoas do convívio da vítima. Já em meninos e homens é mais comum a agressão física e verbal direta. Claro está que a forma como o grupo agride está diretamente associada à cultura e época histórica em que as pessoas vivem, conforme as mulheres e homens vão se assemelhando culturalmente em nossa sociedade, também seus comportamentos agressivos tendem a tornarem-se mais parecidos.

Podemos falar de um determinado perfil de personalidade que esteja mais propenso aos ataques no ambiente escolar e de trabalho, se bem que basta ser considerado diferente do grupo dominante para ser alvo dos mais degradantes ataques. Como perfil básico das vítimas podemos citar: timidez, ansiedade, insegurança, falta de habilidades sociais, dificuldade de se impor perante o grupo, medo dos agressores e recusa em denunciá-los, baixa auto-estima. Claro está que grupos sociais específicos também são alvo constante de ataques, como, por exemplo: etnias, religiões, preferências sexuais, obesidade, etc.
Para muitas pessoas que mantêm a ilusão do grupo de iguais, ser diferente é uma ofensa imperdoável que merece ser punida da forma mais violenta e horrenda possível, para que não haja margem de dúvida que tal comportamento não é aceitável e mais importante ainda, para deixar claro que os agressores são iguais entre si, normais dentro de seu grupo, e não são semelhantes ao que é diferente. Este, por afirmar a diferença, reforça a ilusão da igualdade e irmandade dentro do grupo.
Para entendermos este fenômeno é necessário a compreensão dos três atores presentes. Os protagonistas desta tragédia social são (1) quem maltrata e agride, (2) a vítima que sofre as agressões e (3) os espectadores do drama. Para mudar esta situação e acabar com tal comportamento inaceitável é necessário trabalhar em cada um destes personagens, propondo novas formas de lidar com situações complexas, com seus próprios sentimentos e com o comportamento e atitude expressado pelas demais pessoas. É preciso que os espectadores parem de assistir calados e indiferentes a estas cenas grotescas de abuso, humilhação, agressão e violência gratuita. É preciso que toda a sociedade diga não a tais comportamentos agressivos e degradantes.
Aqui, por “discrinto”, com os diversos e distintos nomes que fragmentos deste fenômeno recebem em distintas sociedades e culturas por meio de pesquisas e abordagens dadas por pesquisadores diferentes, temos, antes de mais nada, uma patologia social do isolamento e da solidão. A mais eficaz defesa que se pode ter contra tais fenômenos é a formação de grupos de amizade, de alianças construtivas, o encontro de solidariedade. Quanto mais só a pessoa estiver, mais vulnerável aos ataques ela estará, deste modo, estar em interação com o grupo, ter contatos sociais e manter amizades diversas funciona como uma vacina profilática. Os agressores em geral tendem a tentar isolar suas vítimas, privando-as da solidariedade de outras pessoas e destruindo possíveis alianças que esta possa ter, alimentando a rivalidade entre grupos e permitindo ataques sem defesa ou intervenções externas. Alianças certas e uma eficaz rede de comunicação são fortes armas contra a discriminação e a intolerância em todas as formas em que se apresentar.

Pergunta: Você já foi vítima, autor ou participante de alguma cena de forte discriminação e intolerância a uma pessoa ou grupo social?

Bibliografia

CALHAU, Lélio Braga. Bullyng: O que você precisa saber: Identificação, prevenção e repressão. 2. ed. rev., ampl. e atual. Niterói; RJ: Impetus, 2010. 160p.
FANTE, Cléo. Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed. rev. e ampl. Campinas, SP: Verus, 2005. 224p.
HERIGOYEN, Marie-France. Mal-estar no trabalho: Redefinindo o assédio moral. Trad. Rejane Janowitzer. 5 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. 352p.
MALDONADO, Maria Tereza. Bullyng e cyberbulling: O que fazemos com o que fazem conosco. São Paulo: Moderna, 2011. 143p.
MOREIRA, Dirceu. Transtorno do assédio moral bullyng.: A violência silenciosa. Rio de Janeiro: Wak, 2010. 240p.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullyng: Mentes perigosas nas escolas: Como Identificar e Combater o Preconceito, a Violência e a Covardia entre Alunos. Rio de Janeiro: Objetiva; Fontanar, 2010. 188p.
ZAWADSKI, Mary Lee; MIDDELTON-MOZ, Jane. Bullyng: Estratégias de sobrevivência para crianças e adultos. Trad. Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2007. 152p.
Assédio moral no local de trabalho. Rio de Janeiro: SinproRio – Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região; NUCODIS/DRT-SC, [2010].

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Escritor, Filósofo, Psicólogo.
Doutor (UERJ) e Mestre (UFRJ/FGV) em Psicologia; Professor universitário.
(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

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