Por: Silvério da Costa Oliveira.
O pensamento da esquerda progressista
Direita e esquerda são expressões que tem sua origem junto à Revolução Francesa e ao lugar ocupado na Assembleia Nacional Constituinte. Mas ao utilizarmos estes mesmos termos na atualidade, os mesmos não encontram uma noção clara e objetiva, pois, vários grupos e correntes distintas de pensamento são agrupadas em um e em outro destes dois conceitos. Há, no entanto, uma maior coesão por parte da esquerda, pois, desde o surgimento político dos movimentos socialistas e comunistas vem se internacionalizando e buscando pontos de unidade dentro da diversidade.
O termo “progressista” é vinculado em suas origens ao Iluminismo, à ciência e à evolução do conhecimento e das sociedades. Tal como é usado hodiernamente ele representa a defesa de um conjunto de pautas políticas associadas a ditas minorias sociais (negros, índios, mulheres, etc.). Tais pautas políticas via de regra são acolhidas pela esquerda e por parte significativa da grande mídia e da academia. Nesta orientação política ideológica se defende reformas sociais tendo como base a ideia do progresso em direção a uma agenda para o futuro.
A história, e mesmo a filosofia, é lida e interpretada de modo a mostrar a veracidade de suas teorias sobre a exploração de uma classe sobre outras. Antecessores ou proto-comunistas são buscados desde a Antiguidade em pensadores que defenderam alguma ideia ou conceito presente na doutrina atual, seja a da igualdade de todos, no comunismo de bens, na inexistência de um Deus Cristão ou igualando o mesmo a própria natureza. Afinal, alguns pensadores precisam robustecer o sistema e proporcionar alicerces para a nova estrutura correta do pensar, e neste caso vemos que alguns autores são privilegiados, tal é o caso, por exemplo, de: dos sofistas do V séc. a.C., Heráclito de Éfeso, Demócrito de Abdera, de Epicuro e do Epicurismo, Spinoza, Rousseau, Nietzsche, e muitos outros.
No rol das ideias defendidas pela esquerda progressista está a crença de que cabe ao Estado promover os meios que proporcionem a igualdade e liberdade das pessoas e dos grupos sociais minoritários. Defendem a ruptura com os padrões tradicionalmente aceitos pela sociedade, bem como, mudanças radicais e rápidas por meio de uma revolução, e não paulatinamente.
Enquanto a direita defende um Estado menor, valorizando a iniciativa individual, a esquerda propõe um Estado maior, para deste modo poder proporcionar maiores oportunidades iguais para todos em sociedade. Há na esquerda uma grande ênfase no coletivismo. Na economia a esquerda advoga pela igualdade de renda, por maiores taxas de imposto cobrado aos mais ricos, por maiores gastos do Estado com programas sociais e infraestrutura. A esquerda propõe maior regulamentação do mercado e aumento de impostos para sustentar as iniciativas do Estado. No campo das políticas públicas sobre a segurança se mostra a favor do desarmamento da população, favorável à criação de grupos armados sob o controle do governo para a defesa da democracia, defensor dos direitos dos criminosos que são percebidos como vítimas da sociedade, defende a legalização e liberação das drogas. Tende a desenvolver uma oposição a religião cristã tradicional, defesa da liberação total de práticas abortivas, defesa da comunidade LGBTQIA+, igualdade entre gêneros, defesa do casamento homoafetivo, criação de leis antidiscriminatórias.
Uma dificuldade em compreender o real posicionamento da esquerda diante da direita é propositalmente criado pela própria esquerda em suas campanhas de marketing. Hoje, qualquer pensamento que saia do contexto aceito pelo círculo ideológico da esquerda é automaticamente rotulado por esta e pelos canais de mídia e grande mídia que por algum motivo seguem no todo ou em parte esta ideologia, como sendo de extrema direita (ou ultra direita) e igualando ao imaginário popular sobre o que foi o nazismo e fascismo, buscando gerar uma reação hostil e adversa a estas ideias que estão fora do contexto aceito pela esquerda. Neste contexto entram doutrinas religiosas, ideológicas, econômicas, políticas, estéticas e outras mais. Mesmo dentro do movimento, entre os que possam ser identificados como sendo politica e ideologicamente de esquerda, há uma luta pela posse da verdade, onde seus pares são vistos como adversários.
A doutrina da esquerda conseguiu por meio de uma propaganda bem estruturada, e financiamento oriundo de nações e grupos, arregimentar não somente parte substancial da grande mídia, mas também adentrar nos centros acadêmicos e se fazer presente na formação superior de muitos alunos, e não somente na vida acadêmica formal, mas na vida de muitos intelectuais. Também ocupa um lugar de destaque na classe artística. Lutar pela ideologia da esquerda passa a ser sinônimo de abraçar também outras causas nobres, tais como: lutar contra a extrema-direita (todos que não compartilhem da ideologia de esquerda), lutar a favor da democracia e dos direitos humanos, lutar a favor das minorias, lutar pela igualdade, etc.
Não há uma separação muito clara sobre o que seja a esquerda e a direita quando ambas se aproximam de visões mais extremadas. Há quem defenda que o espectro político possa ser desenhado em uma régua, uma linha reta, tendo um centro democrático onde predominaria a liberdade e a livre discussão sobre ideias e valores. Uma evolução em direção a direita, passando por vários espectros políticos até chegar ao nazismo e ao fascismo. Uma outra evolução a esquerda, também passando por vários espectros políticos até chegar ao comunismo, stalinismo e maoismo. Mas estou mais propenso a adotar a teoria da ferradura proposta pelo filósofo francês Jean-Pierre Faye, na qual esta linha se curva formando uma ferradura onde os extremos em muito se aproximam, não sendo deste modo a esquerda e a direita extremadas polos opostos de uma régua linear. De fato, há elementos marcantes de esquerda e direita presentes nos extremos, podendo ambas as correntes refutar que tais doutrinas políticas pertençam ao seu campo político, e insistirem que as mesmas são consequências da evolução de seu adversário ideológico. Nas duas extremidades desta ferradura temos projetos políticos que incluem o total controle da sociedade e de todos os seus atores individuais, supressão da liberdade, censura, controle da informação e da comunicação, totalitarismo, ditatura, intolerância, perseguição e sumária eliminação da oposição.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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