Por: Silvério da Costa Oliveira.
Étienne Bonnot de Condillac
Étienne Bonnot de Condillac (1714/1715-1780) nasce em Grenoble, é ordenado sacerdote e foi abade de Mureaux. Em 1740 abandona o seminário para se dedicar à filosofia, vindo a se tornar crítico dos dogmas religiosos. Provém de uma família de advogados bem sucedidos (noblesse du robe). A partir de 1757 e pelos próximos nove anos, atuou como preceptor do Infante Fernando de Parma (neto de Luís XV), então com 7 anos de idade, tendo composto para ele “Curso de estudos”, em treze volumes. Em 1768 foi eleito para a Academia Francesa. Também foi membro da Academia de Berlim. Em 1777 a pedido do governo da Polônia, redigiu uma Lógica clássica para ser usada no ensino escolar. Condillac é filósofo, escritor, acadêmico e economista na França do século XVIII. Suas principais obras são “Ensaio sobre a origem do conhecimento humano” (Essai sur l'origine des connaissances humaines), 1746, e “Tratado sobre as sensações” (Traité des sensations), 1754. Cabe a Condillac, conjuntamente com Voltaire, ser um dos principais pensadores a introduzir na França as ideias e princípios filosóficos de John Locke.
Tomando por base o livro de 1776, “O Comercio e o Governo Considerados em suas Relacoes Reciprocas” (Le commerce et le gouvernement considérés relativement l’un à l’autre), Condillac também deve ser visto como um economista liberal clássico, pois, estuda o valor e afirma seu caráter subjetivo, defende a liberdade econômica e comercial, em particular o livre comércio, e denuncia os perigos inflacionários da manipulação monetária, deste modo, temos neste autor um pioneiro da economia política.
Diferentemente dos Fisiocratas que entendiam que somente a agricultura era capaz de criar riquezas, Condillac deixa este posto para a indústria, afirma em sua obra que o valor repousa sobre sua utilidade, o valor das coisas é determinado pela necessidade que a pessoa possa ter desta coisa, o valor é subjetivo, atendendo às necessidades de cada parte envolvida na negociação, pois, cada pessoa há de estimar o valor segundo suas próprias necessidades. As necessidades que possamos ter de algo, tem a ver também com a abundância ou raridade (ambas também subjetivas, pois não se trata da real quantidade disponível de algo, e sim de como as pessoas percebem se existe ou não o suficiente deste algo para atender as suas necessidades) deste mesmo algo. As pessoas hão de sentir maior necessidade quando algo for raro e menor quando for abundante. Ele é o primeiro a pensar de modo explícito a relação entre a economia e a política.
A natureza nos ensina que devemos evitar o que nos prejudica e buscar aquilo que nos possa ser útil. Nossos desejos existem para atender nossas necessidades. As necessidades e os desejos são a causa de nossas ações.
Toda sensação é necessariamente agradável ou desagradável, não cabe falar em sensações indiferentes, pois, estas não existem. O corpo é a causa das sensações que se produzem na alma. A alma é uma substância simples e espiritual, distinta do corpo. Condillac entende que Deus existe, bem como, que a alma é distinta do corpo e possui uma natureza espiritual.
O objeto próprio da filosofia é a explicação da gênese de nossos conhecimentos. Condillac também busca ideias simples como em Descartes (partir do mais simples para o mais complexo e buscar ideias claras e distintas), mas diferentemente deste, busca as ideias mais simples que nossos sentidos nos transmitem. Por um lado, se põe de acordo com Locke quanto à existência de ideias simples e outras complexas, estas últimas feitas a partir da combinação de ideias simples, mas por outro lado, também critica Locke.
Condillac não é um empirista como Locke e sim um representante do sensismo ou sensualismo, priorizando a sensação enquanto fonte de nossas ideias. Não existem ideias inatas, tudo que sabemos se deriva da primeira experiência sensível, uma percepção simples. A sensação é a única fonte e origem de nossas ideias. As ideias são sensações de algum tipo, sensações que passaram por uma transformação. A percepção é a sensação ocasionada pela ação dos sentidos na presença dos objetos. Todas as nossas faculdades estão compreendidas na faculdade de sentir e a reunião de todas estas faculdades forma o entendimento, que engloba a atenção, a comparação, o juízo, a reflexão, a imaginação e o raciocínio.
Não é possível encontrar na ligação entre signos e ideias a mesma correspondência que encontramos na geometria, onde cada palavra tem o seu sentido determinado de modo preciso e invariável.
Em sua principal obra, “Tratado das sensações” (Traité des Sensations), 1754, faz uso do exemplo de uma estátua (a estátua de Condillac, como ficou mais tarde conhecida) que estaria interiormente organizada como o corpo humano, mas revestida de mármore e privada de seus sentidos, a exceção do olfato. Sentindo o odor de uma rosa (uma flor) e depois de outra coisa (por exemplo: um alho), duas simples sensações subjetivas, é possível explicar a gênese de todas as demais faculdades do espírito. Quando a estátua sente o odor ela faz uso da atenção, desta surge a memória em relação aos odores percebidos. Ao comparar o odor da rosa com outro odor, ou de uma sensação presente com outra do passado, temos o juízo. Se sentir atração por um odor e repugnância por outro, temos o surgimento do querer e do não querer, de onde se deriva os sentimentos de amor e de ódio. Afirma, no entanto, que a existência de algo externo só nos é transmitida pelo sentido do tato e por nenhum outro mais. Pode-se agregar mais ou menos sentidos a estátua e daí ir inferindo sobre a realidade humana em relação a percepção e aos juízos.
Condillac não aceita a existência de ideias inatas, de princípios inatos e de habilidades inatas. Por meio da experiência sensível com o mundo que nos rodeia, obtemos conhecimento oriundo das informações nos dadas pelos nossos sentidos e também desenvolvemos capacidades internas, como a atenção, a memória, a imaginação, a abstração, o juízo e o raciocínio, como exemplificado pela estátua recoberta por mármore. É a experiência que molda nossos desejos, nosso querer. Condillac separou sensações e sentidos: os sentidos seriam a causa.
Segundo o pensamento de Condillac, não existe qualquer conhecimento que não tenha sua origem do exterior para o interior do humano, é pelas nossas experiências no mundo que adquirimos toda informação e conhecimento.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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