Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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quinta-feira, 27 de junho de 2024

Josef Stalin

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Josef Stalin

 

Stalin (1878-1953), ou Estaline, Иосиф Виссарионович Сталин (em russo) ou Iosif Vissarionovich Dzhugashvili, quando jovem tinha como apelido “Koba”, nasce em Gori, província de Tíflis (na atual Geórgia), Império Russo, e falece em Moscou, URSS. Stalin é um pseudônimo que tem como significado “homem de aço” e foi adotado durante uma publicação (jornal Pravda), provavelmente imitando o exemplo de Lenin, que também adota um pseudônimo. Oriundo de uma família pobre, seus pais eram Besarion Jughashvili (1849/1850-1909), sapateiro, e Ketevan Geladze, costureira (1858-1937). Era desejo do pai de Stalin que seu filho seguisse o ofício de sapateiro, já sua mãe queria que este se dedicasse a vida religiosa, vindo a ser padre.

Stalin casou-se no ano de 1906 com Ekaterina Svanidze (1885-1907), relação que gerou um filho, Yakov Dzhugashvili. Tendo falecido sua esposa (por tifo ou de colite ulcerosa) em 1907, casou-se novamente em 1919, desta vez com Nadezhda Alliluyeva (1901-1932), que teria cometido suicídio com o uso de uma arma de fogo, se bem que acobertado pelo partido, casamento do qual resultou mais dois filhos, Vasily Dzhugashvili e Svetlana Alliluyeva. Além disto, teve várias amantes e alguns filhos nascidos fora do casamento.


 

Stalin, conjuntamente com Lenin, fazia parte da ala comunista mais radical em seu país, os bolcheviques (a outra ala ela composta pelos mencheviques). Desde 1901 chamou a atenção das autoridades russas pelo seu envolvimento em atividades subversivas vinculadas ao partido comunista, sendo preso várias vezes e, também, enviado ao exílio (Stalin sofreu um total de 7 exílios no decorrer de sua vida) na Sibéria. Em 1912, passou a ser o responsável pela edição do jornal revolucionário bolchevique chamado “Pravda”.

Proveniente de uma família pobre, atuou ativamente durante a revolução russa, inclusive ajudando na obtenção de fundos por meio de assaltos, roubos, sequestros e outros ilícitos. Veio a conhecer pessoalmente a Lenin em 1905. No ano de 1907 organizou e participou de um grande roubo a banco no qual 40 pessoas foram mortas e muitas feridas, tendo seu grupo conseguido escapar com o fruto do roubo. Esteve desde os primeiros momentos presente na revolução de outubro de 1917. Ao contrário de Lenin, que defendia a internacionalização da revolução comunista, Stalin passou a defender publicamente o socialismo em um só país.

Passou a governar a URSS desde a morte de Lenin em 1924, mas já estando presente enquanto força política decisória desde antes desta data. Foi Secretário Geral do Partido Comunista de 1922 a 1952, e primeiro-ministro de 1941 a 1953, ano de seu falecimento. Deste 1927 passou a ter plenos poderes de ditador e autocrata na URSS. Participou ativamente na consolidação das ideias de seu antecessor, Lenin, que ficaram conhecidas como “marxismo-leninismo”, enquanto suas próprias ideias passaram a ser conhecidas como “stalinismo”.

Desde o começo da revolução russa, em 1917, até 1924 com a morte de Lenin, Stalin exerceu cargos dentro da administração pública, como burocrata, de modo a desenvolver força dentro deste segmento da sociedade, o que veio a lhe favorecer quando pleiteou assumir o poder no lugar do falecido Lenin, vencendo outros postulantes ao cargo de diligente supremo da URSS. Desde o primeiro derrame de Lenin, em 1922, e seu afastamento da política de modo mais ativo, Stalin passou a exercer o poder de governante na URSS, indo aos poucos eliminando seus inimigos e rivais políticos pelo poder.

Stalin esteve a frente de seu país durante o conflito bélico ocorrido na segunda guerra mundial, quando a URSS foi invadida pela Alemanha nazista e, posteriormente a 1945, durante o transcorrer da assim chamada guerra fria.

Em agosto de 1939 Stalin assina com Hitler um pacto (Pacto Molotov-Ribbentrop) de não agressão, pacto este quebrado pela Alemanha em junho de 1941, ao invadir a Rússia. Em paralelo com tais fatos, Leon Trotsky, que se opunha a Stalin e estava exilado no México, foi assassinado a mando de Stalin em agosto de 1940. Enquanto Trotsky, da mesma forma que antes Lenin, defendia a revolução permanente, Stalin defendia o socialismo em um só Estado (país).

Em resposta ao rápido avanço das tropas alemãs durante a invasão da URSS na segunda guerra mundial (ou “grande guerra da pátria”, como foi chamada na URSS), Stalin emitiu a ordem número 270, em agosto de 1940, pela qual os soldados soviéticos deveriam lutar até a morte e não se renderem jamais. Aqueles que fossem capturados pelo inimigo seriam considerados traidores e desertores, com as devidas consequências para os soldados e suas respectivas famílias, as quais passariam a ser entendidas como cúmplices e também traidoras, sendo tratadas como inimigas do Estado. As famílias de soldados presos estavam sujeitas a punições, deportação (Sibéria), trabalho forçado e mesmo, execução. Também destaque deve ser dado à ordem de número 227, de julho de 1942, que ficou conhecida pela frase: "Nenhum passo para trás!". A ordem 227, de Stalin, previa a criação de batalhões que ficariam na retaguarda do exército soviético para fuzilar qualquer soldado que batesse em retirada. As ordens 227 e 270 não fazem parte do mesmo sistema de documentação, daí a de número 227 ser datada de julho de 1942 e a de número 270 ser datada de agosto de 1940.

Seu falecimento em março de 1953, aos 74 anos de idade, oficialmente ocorreu por hemorragia cerebral, apesar de aparentemente gozar de boa saúde física, no entanto, há quem fale em envenenamento, afinal, inimigos e rivais não lhe faltavam. Há comentadores que afirmam que os médicos só foram chamados no dia seguinte ao ocorrido, sendo a demora no atendimento a Stalin proposital.

Em 1928 Stalin adota a política dos planos quinquenais de desenvolvimento, visando desenvolver a indústria pesada russa, industrializando de modo rápido o país com metas para cada cinco anos. Estes planos incluíam a infraestrutura necessária para o desenvolvimento industrial do país, tal como a construção de ferrovias, canais, represas, ou mesmo do metrô em Moscou.

Seu governo foi marcado pela centralização política, aumento da burocracia, eliminação dos opositores, forte repressão policial, incentivo ao culto da personalidade do líder (Lenin e Stalin), industrialização intensiva do país, desenvolvimento da indústria bélica, coletivização da agricultura, e participação na segunda guerra mundial e começo da guerra fria.

Dentre as principais características presentes no governo da URSS de 1922 a 1953, impostas a partir da influência e autoridade de Stalin, temos: A implantação de uma ditadura autocrática baseada no culto da personalidade do líder e em um Estado de terror; economia planificada e planos quinquenais com centralização do poder no Estado; ações arbitrárias do governo baseadas na vontade de Stalin; presença marcante de forte propaganda política; nacionalismo; perseguição aos opositores, levando-os ao afastamento dos cargos ocupados, exílio, deportação, trabalhos forçados, prisão, execução. Muitos dos presos políticos foram mandados para a Sibéria para exercer trabalhos forçados e para as prisões chamadas de Gulags; perseguição às Igrejas e líderes religiosos, destruição de prédios de igrejas; grande militarização; manipulação das informações e censura.

Cabe destaque à coletivização das terras para a agricultura e a industrialização e militarização da URSS durante o período do stalinismo. A coletivização das terras foi responsável pela enorme fome que vitimou milhões, em particular na Ucrânia, sendo ali conhecida como um genocídio, o holodomor referência à “grande fome” de 1932-33. O termo “holodomor” provém do ucraniano “holod” = fome, e “mor” = sofrimento, morte, ou seja, matar de fome. Comentadores argumentam que a política agrícola implantada na Ucrânia por Stalin, que levou ao holodomor, foi intencionalmente adotada com este objetivo genocida em vista. Estimativas variam entre 3 e 12 milhões de mortes pela fome na Ucrânia entre 1932 e 1933.

Durante a era de Stalin, na URSS, ocorreram vários expurgos, somando-se milhões de pessoas assassinadas, o número, no entanto, pode variar muito de um comentador para outro. Não há como afirmar corretamente por quantas mortes o regime de Stalin foi responsável. Teríamos de levar em conta as mortes ocorridas pela fome, em decorrência de políticas públicas sobre a agricultura que se mostraram totalmente desastrosas. Também o envio de soldados, durante a segunda guerra mundial, para lutar até a morte contra os alemães, em especial em Stalingrado, onde por vezes os soldados russos eram literalmente empurrados para a morte visando barrar o avanço dos alemães. Os opositores do governo, assassinados ou mortos em prisões ou trabalhos forçados. Enfim, uma estimativa poderia ir, mais modestamente de algumas centenas de milhares, até milhões de mortes, de acordo com o referencial adotado, o pesquisador ou comentador do período. Antes da abertura dos arquivos da URSS alguns comentadores chegaram a falar em 20 milhões de mortes, mas depois entenderam que o número real seria bem maior. Não há realmente como saber ao certo por quantas mortes o governo de Stalin foi responsável, mas com certeza foram muitas.

 

PRINCIPAIS OBRAS

 

1- O Marxismo e a questão nacional, 1913.

Título original: Марксизм и национальный вопрос.

Aqui é discutido o problema nacional presente no Império Russo e qual o posicionamento marxista no tocante a nacionalidade. Stalin se posiciona a favor da autodeterminação das nações, definindo “nação” como sendo uma comunidade estável formada por pessoas e baseada em quatro características básicas: língua comum, território, vida econômica e formação psíquica presente em uma cultura comum.

2- Os fundamentos do leninismo, 1924.

Título original: Основы ленинизма.

Coleção de palestras proferidas por Stalin. Tornou-se um manual sobre o leninismo. Aqui são discutidos os princípios básicos do que seja o leninismo, tais como: a teoria do partido revolucionário, a ditadura do proletariado, a questão agrária, a questão nacional, o internacionalismo proletário, a tática e a estratégia revolucionária. Esta obra tinha como objetivo educar os membros do partido sobre os princípios básicos do pensamento e da prática leninista.

3- Problemas do leninismo, 1926.

Título original: Вопросы ленинизма.

Compilação de escritos e discursos de Stalin que ampliam a obra “Os fundamentos do leninismo”. Aborda diversas questões teóricas e práticas relacionadas ao desenvolvimento e aplicação do leninismo, como, por exemplo: a estratégia e tática revolucionária até a política econômica e a construção do socialismo na URSS, enfatizando a adaptação do marxismo-leninismo às condições específicas deste país.

4- História do partido comunista (Bolchevique) da URSS, 1938.

Título original: Краткий курс истории Всесоюзной коммунистической партии (большевиков).

        Esta obra ficou conhecida como: “Breve curso”, e foi o texto padrão sobra a história do partido comunista soviético. Trata-se de narrativa oficial que proporciona destaque a eventos e figuras importantes na história do partido, desde a sua formação, dando uma interpretação por meio da visão do stalinismo. Neste livro, Lenin e Stalin tem destacado o seu papel na revolução e na construção do Estado socialista na URSS. Também busca justificar como sendo necessárias para a defesa da revolução, a repressão imposta e, também, o afastamento (expurgo) de antigos membros do partido (exilados, presos ou mortos).

 

Silvério da Costa Oliveira.

 

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

terça-feira, 25 de junho de 2024

Vladimir Lenin

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Vladimir Lenin

 

Lenin (1870-1924), Vladimir Ilyich Ulianov (Владимир Ильич Ульянов), mais conhecido pelo pseudônimo “Lenin” ou “Lenine”, nasceu na cidade de Simbirsk, Império Russo. Seus pais eram Ilya Ulyanov Nikolayevich, alto burocrata do governo czarista, e Maria Alexandrovna Ulyanova, professora. Como tal, Lenin nascera em uma família do que podemos chamar de classe média alta e também de pequena nobreza, mas a morte do pai e o envolvimento do irmão mais velho (Alexander Ulyanov) de Lenin numa tentativa de assassinato do Czar (Imperador Alexander III), levaram a sua família a um isolamento social e dificuldades financeiras. Seu irmão foi julgado, condenado, e enforcado em maio de 1887. Lenin era o quarto, de um total de oito irmãos. Casou-se com Nadežda Krupskaja (1869-1939), também conhecida por Nádia Krúpskaia. O casal não teve filhos. Atuou como escritor, advogado, político e revolucionário.

Após a morte do irmão mais velho, Lenin se envolveu ativamente com a política, fazendo parte dos quadros do POSDR – Partido Operário Social-Democrata Russo, vindo a se tornar um importante e influente líder deste partido. No ano de 1903 o partido se dividiu entre Mencheviques e Bolcheviques, estes últimos liderados por Lenin.


 

A revolução russa de 1917 ocorre em duas fases. No primeiro momento tivemos uma revolução eminentemente popular e sem a participação de partidos políticos, isto ocorre no mês de fevereiro e é instalado um governo provisório. Após esta primeira revolução, Lenin, Stalin e outros comunistas retornam a São Petersburgo e buscam assumir a liderança do movimento, o que de fato ocorre com a revolução de outubro, que depôs o governo provisório, levando os Bolcheviques ao poder, capitaneados, dentre outros, por Lenin, Stalin e Trotsky. Só passamos a falar em URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, no lugar de Rússia, no ano de 1922 (Nome formalizado durante o primeiro Congresso dos Sovietes da URSS, realizado em dezembro de 1922).

Apoiado nas ideias de Marx e outros pensadores, defendeu uma revolução proletária na Rússia, transformando seu governo em um governo socialista e, posteriormente, comunista. Trabalhou durante anos pela revolução na Rússia. Participou de vários comitês, organizações e eventos em diversas cidades da Europa. E, em 1917, esteve à frente da Revolução Russa e da subsequente transformação do Império Russo na URSS. Durante suas atividades políticas, fez parte do grupo mais radical dos Bolcheviques, em oposição aos Mencheviques, na Rússia. Quando da implantação de seu governo revolucionário, em outubro de 1917, uma das primeiras medidas adotadas foi a saída da Rússia do conflito bélico marcado pela primeira guerra mundial, assinando um tratado de paz com a Alemanha e o Império Austro-Húngaro (Tratado de Brest-Litovski). A propriedade privada das terras nos campos e das indústrias nas cidades foi abolida. Inicialmente a hierarquia no exército foi comprometida, já que por decretos iniciais caberia aos soldados eleger seus comandantes. Também foram fechados jornais que faziam oposição ao governo e abolida a liberdade de expressão. Na sequência ao novo governo russo, tivemos uma série de expurgos e assassinatos, bem como, uma guerra civil entre exércitos pelo controle da Rússia.

No ano de 1921 adota a NEP (em português: Nova Política Econômica), após o assim chamado “comunismo de guerra” que vigorou durante a guerra civil russa. A NEP vai até o ano de 1928, quando Stalin põe fim a mesma, nacionalizando empresas e coletivizando a agricultura. A NEP consistiu em introduzir elementos capitalistas na economia socialista e ficou conhecida pela frase de Lenin: “Um passo para trás, dois passos para a frente”.

Desde 1922 Lenin sofreu três (ou mais) derrames cerebrais, levando-o finalmente a morte em 21 de janeiro de 1924, então com 53 anos de idade. Seu corpo foi embalsamado e encontra-se ainda hoje disponível para visitação. A causa de sua morte ainda é controversa, e há comentadores que sugerem ter ele contraído sífilis em algum momento de sua vida, dentre outras propostas para elucidar sua morte. Após a morte de Lenin, seu corpo foi mumificado e exposto para visitação pública, já seu cérebro foi retirado e fatiado em 30.953 peças, destinadas ao estudo visando provar, como o queria Stalin, que Lenin tinha um cérebro diferente e superior aos demais, sendo um gênio. Ainda em vida, e prolongando-se após a sua morte por incentivo de Stalin, criou-se um verdadeiro culto e veneração a sua pessoa, na URSS.

Em testamento que deveria ser lido diante de autoridades do partido comunista e que foi mantido, no entanto, guardado em segredo por décadas, Lenin expressou o seu desejo e também os motivos para tal, que seu sucessor fosse Trotsky e não Stalin.

O governo inicial, com Lenin a frente, foi marcado pelo terror, pelo assassinato dos que eram considerados inimigos do governo, por decisões autoritárias e unidirecionais, pela perda das liberdades individuais e de expressão. Em setembro de 1918 foi criada a Cheka, um tipo de polícia revolucionária com poderes para investigar, julgar e condenar à morte quem entendesse ser contrário ou nocivo a revolução. Segundo historiadores do período, a Cheka seria responsável por 10 a 140 mil assassinatos, não havendo, no entanto, uma unanimidade no número total de mortes. Em abril de 1919 são criados os campos de concentração, inicialmente controlados pela Cheka, foram posteriormente entregues ao controle governamental de uma agência denominada por Gulag. Os presos no Gulag eram destinados ao trabalho escravo. Registra-se de 14 a 20 mil assassinatos de religiosos (padres) considerados antibolcheviques. A Igreja Ortodoxa Russa foi a mais afetada, mais outras denominações religiosas também foram vítimas destes assassinatos. Além das prisões e assassinatos, uma grande quantidade de intelectuais considerada adversária do governo, foi deportada da Rússia. Em julho de 1918 o czar e toda a sua família foram assassinados pelo Partido, alegando a possibilidade do exército branco, que lutava contra o exército vermelho, poder resgatar a família imperial.

As diversas reformas introduzidas por Lenin e os Bolcheviques na Rússia, e posteriormente URSS, resultaram em maior centralização e burocracia, perda das liberdades individuais e de expressão, incluindo aqui a liberdade de imprensa, prisões, deportações e assassinatos em massa daqueles que supostamente discordavam do novo regime, guerra civil e diversas outras guerras locais (como, por exemplo, com a Polônia), implantação de um regime de terror. Como se tudo isto já não fosse o suficiente, tivemos a grande fome russa em 1921, que durou até 1922, e vitimou cerca de cinco milhões de pessoas a morrerem de fome por falta de alimentos.

A interpretação dada por Lenin aos escritos de Marx passou a ser conhecida como “leninismo” (nome dado por Julius Martov, 1873-1923) e era tida como sendo a única realmente verdadeira. Por tal abordagem, a civilização humana caminhava inexoravelmente para a sociedade comunista. Quando de sua evolução, a sociedade humana por fim chegaria a um ponto histórico no qual teríamos uma sociedade sem classes e sem Estado, composta por trabalhadores livres de qualquer exploração de seu trabalho e da alienação, trabalhadores estes que possam exercer controle sobre o destino de suas vidas. Seria a evolução do socialismo para o comunismo. O objetivo seria atingir o lema proposto por Marx, e expresso pela frase: “De cada qual segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades.”

Lenin mantinha a crença de uma revolução do proletariado que se expandisse por toda a Europa e que a revolução na Rússia seria só o começo. Acreditava mesmo, no início da revolução russa, que seria questão de poucos meses para que a revolução se ampliasse por todo o proletariado da Europa. Lenin defendia uma derrubada violenta dos governos burgueses europeus.

Enquanto dentro do pensamento socialista / comunista mais tradicional acreditava-se que a revolução comunista se daria em um país industrializado e por meio do proletariado, o leninismo desenvolveu e aplicou a tese da revolução em um país eminentemente agrícola, cujo número de camponeses era bem maior que o número de proletariados, de modo a fazer uma revolução comunista com o somatório do proletariado com os camponeses. Entendia Lenin que a revolução uma vez iniciada na Rússia, iria se expandir para o restante da Europa, atingindo o proletariado de países industrialmente já desenvolvidos e se internacionalizando, mas sem que houvesse uma anexação total destes países pela URSS e sim uma união de interesses, mas preservando os valores culturais e individuais presentes em cada país. Esta seria uma primeira etapa da revolução comunista, uma vez que para Lenin, o nacionalismo era um falso conceito burguês e que todos os proletários do mundo pertenciam a uma mesma classe, independente do país de origem.

Lenin defendia um Estado mundial único e centralizado, sendo contrário aos nacionalismos e a favor do internacionalismo e de uma revolução comunista mundial Posicionou-se contrário à democracia representativa norte-americana e ao liberalismo, ilusões burguesas que serviam para manter a exploração do proletariado. Lenin era ateu e crítico das religiões, que deveriam ser suprimidas a favor do Estado comunista, em verdade, sua relação com os escritos de Marx e outros doutrinadores se mostrava mais semelhante a uma crença religiosa, em uma religião sem deus.

Lenin é um estudioso de Marx, mas enquanto este é um teórico, Lenin buscou aplicar na prática estas mesmas ideias, o que resultou em algumas alterações e mesmo modificações.

Marx entendia ser importante que houvesse uma organização de trabalhadores, mas não especificou como seria sua organização e estrutura ou qual papel desempenharia, já Lenin defendeu a ideia de um partido revolucionário, altamente centralizado e disciplinado, composto por revolucionários profissionais e visando liderar os trabalhadores.

 Na época de Marx o capitalismo ainda não tinha se desenvolvido para a fase na qual Lenin o encontrou, a fase econômica do imperialismo, havendo monopólios e exportação de capital no decorrer da exploração de países menos desenvolvidos. Lenin teorizou justamente sobre esta fase do capitalismo imperialista, na qual grandes potências exploram países não tão desenvolvidos.

Marx entendia que o comunismo surgiria a partir de um país altamente industrializado, por meio das contradições existentes e a partir da classe do proletariado em oposição a classe da burguesia. Lenin entendeu que era possível fazer uma revolução comunista em um país eminentemente agrário, composto basicamente por camponeses (80% da população russa em 1917), com uma burguesia e proletariado ainda insipientes.

Lenin buscou inicialmente implantar a ditadura do proletariado teorizada por Marx, por meio da implantação dos sovietes (conselhos de trabalhadores, camponeses e soldados), apesar de democrática inicialmente, com o desenvolvimento do governo, cada vez mais as decisões deixavam a população para serem tomadas de modo centralizado por integrantes da alta cúpula do partido. A democracia deu lugar a uma autocracia, onde o poder se viu concentrado em um único governante.

Após a guerra civil e visando incentivar a economia, em 1921 adotou um retorno a práticas capitalistas, com a NEP – Nova Política Econômica, algo também não previsto nos escritos de Marx, ou seja, seu marxismo era muito pragmático, adaptando-se as contingências trazidas pela realidade.

Sua originalidade mostra-se na habilidade que demonstrou em adaptar as ideias iniciais de Marx as condições específicas encontradas na Rússia em sua época histórica, enfrentando diversos problemas práticos não presentes na teoria de Marx. Lenin não se conteve em interpretar o mundo, mas buscou muda-lo de modo prático por meio de sua liderança.

 

PRINCIPAIS OBRAS

 

1- O desenvolvimento do capitalismo na Rússia; 1899.

Título original: "Развитие капитализма в России" (Razvitie kapitalizma v Rossii).

Análise sobre o desenvolvimento econômico da Rússia no final do século XIX. Lenin defende que o capitalismo estava em pleno desenvolvimento na Rússia, provocando a transformação da sociedade e proporcionando as condições para que haja a revolução proletária. Destaca a concentração do capital, a formação de uma classe operária industrial e o surgimento de contradições internas presentes no sistema capitalista russo.

2- O que fazer?; 1902

Título original: "Что делать?" (Chto delat'?).

Aqui são tratadas questões referentes ao papel do partido revolucionário na luta pelo socialismo e comunismo. Lenin defende um partido formado por revolucionários profissionais que atuariam na liderança do movimento proletário. Defende a importância da organização centralizada e da disciplina para atingir a meta da revolução proletária e a criação de uma sociedade comunista.

3- Um passo à frente, dois passos atrás; 1904.

Título original: "Одна шаг вперед, два шага назад" (Odna shag vpered, dva shaga nazad).

Aqui Lenin aborda as divisões dentro do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) durante um período de intensos debates e conflitos ideológicos. Ele defende a importância da unidade do partido e critica as tendências oportunistas e conciliatórias dentro do movimento revolucionário.

4- Duas táticas da social-democracia na revolução democrática, 1905.

Título original: "Две тактики социал-демократии в демократической революции" (Dve takitiki sotsial-demokratii v demokraticheskoy revolyutsii).

Aqui Lenin argumenta sobre quais estratégias o partido revolucionário deva adotar no transcorrer de uma revolução democrática. Defende seu posicionamento contrário a uma aliança com a burguesia liberal e se posiciona a favor da liderança do proletariado na luta pela democracia e pelas demandas populares.

5- Materialismo e empiriocriticismo, 1909.

Título original: "Материализм и эмпириокритицизм" (Materializm i empiriokrititsizm).

Lenin critica as tendências idealistas na filosofia, em particular no empiriocriticismo,  corrente filosófica que surge na Rússia na virada para o século XX. Lenin argumenta a favor do materialismo dialético como a base filosófica correta para o marxismo, buscando refutar argumentos idealistas e agnosticistas.

6- Imperialismo, fase superior do capitalismo, 1917

Título original: "Империализм как высшая стадия капитализма" (Imperializm kak vysshaya stadiya kapitalizma).

Análise do estágio do imperialismo no desenvolvimento do capitalismo. Estudo de como o capitalismo teria evoluído de uma fase de livre concorrência para uma fase de monopólios, caracterizada pela divisão do mundo entre potências capitalistas exploradores e países colônias explorados. Segundo o pensamento de Lenin, o imperialismo é uma fase decadente do capitalismo, sendo vital a luta contra o imperialismo dentro do contexto maior da luta revolucionária.

7- Estado e revolução, 1917.

Título original: "Государство и революция" (Gosudarstvo i revolyutsiya).

Aqui é examinada a natureza do Estado e sua relação com a revolução socialista. Há uma crítica as concepções burguesas e reformistas do Estado. Argumenta-se que o Estado atua como uma ferramenta de dominação de uma classe sobre outra. É defendido a destruição do Estado burguês e sua substituição por um Estado proletário, que no futuro deixará, também, de existir, sendo somente a transição para o comunismo.

8- As Teses de Abril, 1917.

Título original: "Апрельские тезисы" (Aprel'skie tezisy).

Conjunto das teses propostas por Lenin em abril de 1917, logo após seu retorno do exílio para a Rússia. Foram estas teses que orientaram a política do partido bolchevique. Defendia a tomada do poder pelos sovietes, a saída da Rússia da primeira guerra mundial, a implementação de reformas socialistas. Estas teses marcaram uma mudança significativa na estratégia do partido, preparando a revolução ocorrida em outubro.

   

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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