Por: Silvério
da Costa Oliveira.
O ser humano
vazio de valores e impregnado pela influência volátil das mídias apresenta-se
como uma casca vazia, sem conteúdo, sem coisa alguma que o faça digno da
humanidade que a rigor possui.
A nossa
sociedade valoriza a aparência, nada contra, afinal, nossa aparência diz muito
sobre o que somos, fazemos, pensamos e queremos. Sabendo olhar para alguém
vemos muito mais do que esta gostaria que víssemos, no entanto, o fato curioso
está que nossa aparência externa, nossa produção diária, não passa do papel que
embrulha o presente que somos nós. Ocorre, no entanto, que algumas pessoas se
preocupam tanto com o papel de presente que esquecem do próprio presente que
deveria estar nele contido.
Parece que
algumas pessoas são detentoras de um profundo vazio existencial, cuja imensidão
não preenchida assusta mentes incautas e pode proporcionar em algum momento uma
imperiosa necessidade de ser preenchido com algo, seja lá o que for, como se a
dor de uma caixa vazia pudesse ser suprimida ao se encher esta caixa com lixo.
Daí as pessoas se atiram de corpo e alma, com tudo de seu ser vazio em uma
religião de fachada, também vazia em outro nível, convertem-se a isto ou aquilo
outro e para calar a voz interior que diz que tudo aquilo é falso e sem
sentido, buscam a confirmação da veracidade e do sentido na compulsiva
tentativa de converter a outros para o mesmo caminho, agora doravante trilhado
na convicção que pela inundação de novos conteúdos possam aplacar os gritos do
silêncio que emanam da profundidade abismal de seu vazio interior. Se antes
eram fúteis, continuam sendo, mesmo sem o saber.
Como um
elegante manequim bem vestido dentro de uma vitrine de loja, algumas pessoas
mostram uma casca de extrema beleza, produzida com o uso não somente de uma
peculiar combinação genética e de um biotipo socialmente valorizado, mas também
pela contribuição de competentes salões de cabeleireiro e manicure, por
conceituadas lojas de roupas de grife e pelo jovial encanto da juventude dada
de graça e desperdiçada por coisa alguma. Ao olharmos o conjunto não temos como
não admirar tais pessoas, com sua postura e beleza sedutora paga no cartão de
crédito, no entanto, olhando bem nos olhos e penetrando este olhar por esta
janela da alma, sentimos de imediato um sentimento de angústia e medo ao sermos
jogados do alto para o nada sem pára-quedas que reduza a velocidade desta queda
no nada que deveria ser uma pessoa, seus valores, conceitos, experiência,
formação, crenças, superstições, esperanças, motivações, desejos, ambições e
direcionamento.
Casca vazia
humana, lugar onde centra-se e concentra-se a hipocrisia e futilidade
plenamente presente em uma vida não vivida, em uma vida inútil. Sua vida e
mesmo sua morte não passam de um mero número, pois, sua contribuição para a
humanidade é puramente quantitativa e não qualitativa. Irá ajudar a compor as “massas”
acéfalas que compõem o pior do que podemos vislumbrar em um ser-humano. Sem
sentido, quando a juventude se vai o desespero chega e se a isto se soma uma
perda social qualquer, como, por exemplo, um namorado ou algo equivalente, a
inserção em um falso mundo religioso após súbita conversão é praticamente
certa. Aquele ou aquela que sequer sabe quem é, agora pensa, se é que consegue
tal feito, ter encontrado a deus e quer levar a todos para o caminho, ou
descaminho, que este passou a ardorosamente seguir.
Estas pessoas
não conseguem viver sem o uso de algum tipo de muletas emocionais (religião,
drogas, álcool, amor ou sexo obsessivo, etc.), pois, consideram a vida um fardo
por demais pesado para ser por elas carregado, não vêem a beleza, pois, estão
envoltas na dor do medo. Como suportar a vida que elas nunca viveram, que
sempre temeram, ignoraram e fingiram não existir? Para viver não basta ser a
imagem imóvel de um manequim humano vestido com marcas da moda em meio aos
agitos da noite para mostrar-se a sociedade. Para viver de fato é preciso
começar a ser alguma coisa, e esta coisa é você e não meramente a marca de
roupas que você usa para fazer parte de sua tribo. Assumir-se com tudo de bom e
ruim que você é, sem acreditar que sua vida será maravilhosa quando fizer mais
uma cirurgia plástica no nariz que só você enxerga como feio ou anormal para o
seu biotipo.
Não estou
negando o valor ou a beleza da embalagem, muito pelo contrário, reconheço a
beleza do papel que envolve um presente como algo socialmente importante, mas
cabe frisar que trata-se somente do papel de embrulho e por melhor e mais
bonito que este seja, quando desembrulhamos nosso presente, esperamos encontrar
algo dentro da linda embalagem e algo que seja condizente com a beleza da
própria embalagem. Sempre é uma decepção abrir uma caixa vazia, quando
aguardávamos encontrar nela um presente.
Pergunta: O
que vai dentro desta bela casca corresponde à beleza de seu exterior?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Achei interessante seu blog.
ResponderExcluirEncontrei um texto que trata de assunto semelhante
http://criticacomportamental.blogspot.com/2011/05/arte-comportamental-niilismo-e.html
abraços