Por: Silvério
da Costa Oliveira.
Na vida, sair
de um ponto e chegar a outro requer objetivos e por sua vez, a formulação de
objetivos é um sinal de inteligência e criatividade. Para se obter sucesso
nesta nossa vida é preciso traçar um rumo a seguir, ter um direcionamento que
nos proporcione sentido e significado para nossa singular existência. Traçar
objetivos na vida de modo correto é algo que demanda que saibamos de onde
viemos, onde estamos agora e para onde vamos a seguir. Este caminhar por um
caminho previamente escolhido em direção a uma dada meta é também uma
demonstração de sanidade mental, pois, pessoas mentalmente doentes têm
dificuldades em traçar e seguir um rumo satisfatório para suas vidas, de modo
construtivo para si próprias e o social e não de modo destrutivo.
Há, no entanto,
pessoas doentes e que requerem tratamento e orientação em suas vidas, pois,
apesar de saírem de determinado ponto, não chegam a lugar algum. Tais pessoas
parecem que andam em círculos e retornam sempre ao mesmo ponto, sem de fato
apresentarem progresso visível, elas mais parecem um parafuso se prendendo a um
mesmo ponto e tornando-se cada vez mais preso a cada nova volta, giram e giram,
mas não saem do mesmo lugar.
Um parafuso
humano é o que de fato são, muitas vezes em decorrência de um comportamento
doentio ou de um quadro clínico não devidamente tratado, como no caso, por
exemplo, do transtorno obsessivo compulsivo – TOC (conhecido em Psicanálise por
neurose obsessiva compulsiva). Algumas pessoas de fato andam em parafuso, vão para
frente e voltam para trás, não chegando a ponto algum. A solução seria se
tratarem, buscando orientação e ajuda profissional de alguém competente na área
específica de seu problema e que tenha demonstrado resultados positivos no
tratamento e orientação de outros casos similares, no entanto, muitas vezes, se
algum amigo ou meramente conhecido arrisca-se a apontar esta falha em sua vida
não vivida, insistindo na necessidade de ajuda profissional, mais não consegue
além de um rumoroso rompimento de relações. Parece que todos percebem que a
pessoa em questão, por mais virtudes que possa ter, não vai realmente para
frente na vida, menos a própria pessoa em questão.
Quando as
pessoas entram em parafuso sua vida fica deveras confusa e cria-se a aparência
mais do que real de que tudo está girando e que as mesmas coisas estão se repetindo
em nossas vidas, na seqüência constatamos que nossa atividade profissional,
nosso trabalho, passa a ser, também, prejudicado, pois, ou não evoluímos ou
perdemos o emprego, não conseguimos crescer profissionalmente por mais
competentes que possamos ser. Também nos estudos a vida não segue adiante, se
por determinação, sorte ou oportunidade conseguimos a muito custo concluir o
ensino básico (no Brasil é a soma da educação infantil, o ensino fundamental e
o ensino médio) ou mesmo um curso superior, no entanto, daí para frente nada
mais se consegue. Pode, no entanto, parar ainda no ensino médio ou ao chegar ao
ensino de nível superior ficar trocando de faculdade ou adiando infinitamente a
conclusão do curso ou a apresentação de seu trabalho de conclusão de curso –
TCC (uma monografia), não obtendo o diploma. Pode também concluir esta etapa,
sabe-se lá por qual milagre, e até se matricular mais cedo do que outros alunos
em cursos de pós-graduação, como, por exemplo, mestrado em alguma coisa, e
mesmo, alardear para todos os colegas e amigos sobre a possibilidade de cursar
esta pós-graduação, este mestrado, este MBA, e, no entanto, não conseguir ela
própria concluir o curso, talvez por buscar uma perfeição doentia e inexistente
fora de sua louca fantasia.
Em determinado
momento as amizades também são atingidas e por mais duradouras que estas possam
ser, tendem a sucumbir ao efeito parafuso que abarca toda a vida desta pessoa,
que, tal qual um redemoinho no oceano, faz naufragar qualquer embarcação, não
permitindo que coisa alguma viva ali consiga obter um direcionamento que não
seja sucumbir à força do redemoinho sendo levado para o fundo, bem fundo, de
onde nunca sairá. As amizades começam a naufragar, uma a uma, e a pessoa mais
do que doente continua a aceitar condicionalmente suas amizades novas e
antigas. Sinal visível de tal comportamento doentio é tornar os relacionamentos
afetivos explicitamente condicionais ao efeito parafuso e quem não aceitar será
cuspido fora, aliás, devo frisar que verdadeiros amigos não aceitam uma amizade
condicional vinculada a algo doentio que torna uma vida em parafuso.
Mesmo
profissionais da área de saúde não estão livres de verem suas vidas embarcarem
em um redemoinho revolto, de não irem para frente nem para trás, presas a um
movimento rotacional que as mantêm cada vez mais presas onde estão. A solução,
por vezes difícil de aceitar, difícil a ponto de romper amizades com quem
insistir neste ponto, é com certeza a busca de ajuda e orientação profissional.
Cabe a pessoa não meramente entender seu problema, mas fazer algo enfaticamente
para mudar, logo, precisa de uma abordagem mais intervencionista, menos voltada
unicamente ao autoconhecimento de sua patologia e mais voltada para a mudança
de comportamento e cognição. O fato de alguém ser da área de saúde não lhe
impede de tentar elaborar mais certas coisas com acompanhamento de um colega
especialista em mudança de comportamento, afinal, médicos, psicólogos e demais
profissionais que tratam de outros também adoecem e precisam a sua vez serem
também cuidados.
Tais pessoas
em parafuso, com seu comportamento desproporcional aos fatos vividos, chegam a deixarem
chateadas e preocupadas as pessoas com as quais convivem, isto é, se estas de
fato se importam em algum nível com a que está em parafuso. Claro está que o
caminho não é este e a pessoa deveria observar e ver bem o que está fazendo com
a vida, com sua própria e única vida, desperdiçada inutilmente. Cuidado com os
exageros, pois, é importante manter um comportamento adequado aos fatos vividos,
pense bem no caminho que está trilhando em sua vida. Caberia aqui pensar,
dedicando uns bons momentos para refletir sobre a vida e os rumos que você está
dando a ela.
Quando falo em
parafuso, talvez algumas pessoas pensem que a pessoa em questão está “pirando”,
o que vulgarmente falando não fugiria da realidade. Quando a vida está em
parafuso, abre-se espaço cada vez maior para uma depressão violenta ou mesmo
suicídio, além da pessoa poder caminhar nas águas do transtorno obsessivo compulsivo
– TOC (neurose obsessiva compulsiva, para os psicanalistas), da psicose
paranóica ou simplesmente paranóia, do transtorno ou síndrome do pânico, dentre
outros quadros clínicos que podem aqui estar presente em maior ou menor escala.
Na seqüência,
bem pode demonstrar comportamento agressivo, como o de um animal feroz quando
acuado e passar a atacar todos aqueles que estão próximos, seja proximidade
física ou emocional, pois, é preferível enxergar o problema em outro do que em
nós próprios e assim a pessoa continua em parafuso, não chegando a lugar algum
e perdendo aos poucos suas verdadeiras amizades, ficando só, isolada e
mau-humorada acreditando que tudo está girando loucamente ao seu redor, quando
de fato é ela própria que gira e não tudo o mais, mas, vá tentar contar ao
parafuso que é ele próprio que está girando e não tudo o mais, isto fere a sua
percepção e tende a não ser aceito como verdade.
Buscando fugir
dos comentários dos amigos e conhecidos que apontam seu comportamento
irracional e a querem salvar do redemoinho pode muito bem o parafuso humano
valer-se de argumentos que questionem a raiz da veracidade da observação das
outras pessoas e dos fatos narrados e apontados cruamente, preferindo afirmar
que a verdade é relativa, no entanto, a verdade não é relativa, isto é mero
engodo para prejudicar a humanidade.
Com um
comportamento continuamente desproporcional aos fatos, cada vez mais afunda em
seu próprio redemoinho, emocionalmente longe dos chamados preocupantes dos
amigos e conhecidos estarrecidos diante de tal crueldade auto-imposta e
aparentemente aceita incondicionalmente. Tais parafusos humanos precisam fazer
tratamento psicoterápico e uma sugestão possível seria a abordagem
comportamental cognitiva, tais pessoas precisam tocar sua vida para frente e não
ficar em parafuso, como estão agora e sempre, constantemente em tudo o que
tentam fazer e não conseguem.
Pergunta: Você
é ou conhece algum parafuso humano? O que você diria para ajudar ou o que você
pensa sobre o assunto?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Prof., que texto maravilhoso!!! Conheço muitos parafusos humanos, eu mesma as vezes me vejo como um parafuso, rodando em volta de um mesmo problema, reclamando e não percebendo que a solução está fora da "rosca", rs...
ResponderExcluirSomos todos fadados aos problemas, o que nos faz seguir em direção a solução é o "olhar", o "ponto-de-vista", se abrirmos a mente para outras coisas, outras opniões, outros olhares, com certeza deixamos de girar em torno de nós mesmo e passamos a girar em espirar ascendente para o mundo!!! De dentro para fora!!! Amei!!! bjs
Grande mestre,
ResponderExcluirPior ainda são as pessoas 'prego', que insistem em permanecerem fincadas em seu acômodo, e quando indagadas sobre isso, sentem como se uma grande marreta as atingisse, enfiando-as cada vez mais no único buraco existencial que possuem.
Enfim, como dito no popular: "Prego só leva na cabeça.".
PS.: Já vi, em determinadas casas, o resultado de alguns pedreiros (ou assistentes) preguiçosos, que em vez de girarem os parafusos, simplesmente os martelam, deixando somente sua cabecinha 'de fora'.
Qual seria a crise de identidade sofrida por um parafuso que é tratado como prego?
Abraço! :)
www.cleorbete.com
Amei o texto, parabéns, arrasou!
ResponderExcluirO Sr perguntou o que eu diria para alguém nessa situação. Eu diria que "quando você nao está feliz é preciso ser forte para mudar, o fraco nao vai a lugar algum".
Tenha uma semana produtiva!
Grande abraço,
Dulce Maria.