Por:
Silvério da Costa Oliveira
De início,
vamos deixar claro o significado dos termos que usamos em nosso título. OVNI
(Objeto Voador Não Identificado) ou UFO (Unidentified Flying Object) é
terminologia militar e não é idêntico a uma nave espacial ou disco voador
(flying saucer - pires voador) repleto de seres espaciais verdes com anteninhas
na cabeça ou algo que o valha. Em verdade, a expressão é entendida como
adequada a fazer referência a qualquer tipo de avistamento, seja a olho nu ou
por meio de instrumentos, de algo que esteja voando e não possa ser naquele
momento identificado corretamente. Em virtude de diversos contatos submarinos
apresentados nos sonares de embarcações, temos o equivalente OSNI (Objeto Submarino
não identificado) ou ainda outros termos (UAP, PAN, OANI) usados pelos
militares para designar o mesmo fenômeno sem, no entanto, a conotação popular
que o termo recebeu associando-o a espaçonaves extraterrestres.
O termo UFO,
do qual se originou o termo OVNI, foi criado e usado pela primeira vez pelo
então capitão da USAF Edward J. Ruppelt quando à frente do Projeto Livro Azul
(The blue book), no livro de sua autoria The report on unidentified flying
objects, publicado em 1956 nos EUA visando substituir a expressão popular
“discos voadores”, ou, segundo o Oxford English Dictionary, a primeira
referência a este termo, no entanto, deveria ser reportada ao major Donald
Edward Keyhoe, aviador do corpo de fuzileiros navais, no ano de 1953.
De qualquer
modo, o termo seria adequado a um satélite orbitando a terra, a um avião, um
helicóptero, drone por controle remoto ou, claro está, a uma espaçonave
extraterrestre repleta de seres verdes ou equivalente. Portanto, ao usar este
termo, não fazemos referência direta ao popular termo “disco voador”, se bem
que este possa também estar incluído, uma vez que a fonte real que observamos é
de natureza por nós desconhecida naquele momento.
Interessante
que hoje com Internet e smartphones que gravam tudo, fazendo vídeos e fotos de
boa qualidade, são poucos os relatos se comparados aos de algumas décadas atrás
onde dificilmente um não profissional teria uma câmera pronta para uso ao seu
dispor a qualquer hora inusitada onde fosse necessário. Na década de 1980 eu
fazia acampamentos selvagens (em lugares isolados, perto da natureza e longe de
tudo e de todos) com amigos e não era incomum ver alguma coisa estranha nos
céus ricamente estrelados. Mesmo em grandes centros urbanos por vezes alguém
poderia ver algo estranho, ou mesmo muito estranho, nos céus e normalmente
ficaria calado aguardando se algo era divulgado pelos jornais e tv no dia
seguinte, pois, falar de avistamentos era algo considerado bizarro, estranho e
anormal por grande parte da população e ninguém gosta de ser visto como
diferente. Muitas vezes avistamentos eram compartilhados entre amigos, e só.
Engraçado que
algumas destas narrativas, se fosse hoje, seriam tidas como a presença de um
drone qualquer. De fato, alguns, especialmente quando iluminados e a noite, bem
lembrariam um “disco voador”, no entanto, naquela época distante, tais
brinquedos tecnológicos ainda não existiam, ou, não nos contaram toda a verdade
sobre o surgimento de tais aparelhos.
O que me faz
escrever agora, no entanto, é um fato ocorrido em um grande centro urbano e
durante o dia, presenciado por praticamente toda a população local, mesmo que
muitos hoje não se lembrem, afinal, a memória nos prega peças e quando algo não
se encaixa nas nossas crenças prévias pode ser sumariamente apagado.
Eu narrei esta
história a amigos e conhecidos por muitos anos, mas apesar de ter uma idéia
vaga sobre quando ocorrera, certeza mesmo somente sobre o ano. Sempre ficara de
pesquisar nos jornais antigos sobre o tema, para datá-lo com exatidão, até que
há algum tempo, finalmente, empreendi tal iniciativa. Para minha surpresa, a
data em questão hoje seria motivo de diversas piadas e brincadeiras sobre o
ocorrido, em virtude da associação do fato com célebre comemoração norte
americana que na época ainda não nos era comum aqui em terras tupiniquins.
Refino-me ao halloween, que mais tarde passou a ser comemorado por aqui, mas
que quando do ocorrido, não era um evento digno de nota em nossa cultura e o
dia passava despercebido como um outro dia qualquer do ano, nada festivo ou
comemorativo, fosse do que fosse.
Bem,
refiro-me, claro está, ao 31 de outubro, mas do ano de 1983 e o fato que vou
narrar aconteceu do amanhecer ao anoitecer deste dia na cidade do Rio de
Janeiro, sendo presenciado por todos e tendo repercussão imediata nas rádios AM
e posterior repercussão nos diversos jornais no dia seguinte, primeiro de
novembro.
Eu passara a
parte da manhã e tarde em um colégio na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de
Janeiro. No final da tarde, mas ainda com bastante luz do dia, saí dirigindo
meu carro, um VW Fusca que eu havia batizado carinhosamente de “Fustigre”,
colocando, incluso, uma placa (vermelha com letras amarelas) com este nome na
frente do carro. Na ocasião dei carona para um amigo até a Praça Sáenz Peña,
também na Tijuca, mas diversas quadras de onde estávamos. Pelo caminho meu
amigo e eu notamos que as pessoas nas calçadas estavam todas olhando para os
céus, como se todas estivessem com torcicolo. Lembro que meu amigo chegou a
colocar parte do corpo para fora do carro pela janela do carona, tentando
enxergar alguma coisa que justificasse o que víamos, mas nada identificou de
anormal e que justificasse o comportamento, digamos, bizarro das demais
pessoas.
Foi somente
após deixar meu amigo em seu destino e retornar para o Centro da cidade, onde
meu pai tinha um restaurante, que finalmente soube o que estava ocorrendo.
Estacionei o carro e entrei no restaurante de meu pai, onde comentei com um
cliente, um senhor já bem idoso que hoje provavelmente já deve ter falecido, sobre
o que tinha presenciado mais cedo e dele recebi a resposta meio que surpresa
por eu nada saber, que desde de manhã bem cedo até aquele momento havia algo
nos céus, sobre o Rio de Janeiro e segundo o seu relato, que bem me lembro
ainda hoje, dois aviões da FAB tinham tentado ir até lá, mas estava muito alto
e eles desistiram, retornando a sua base.
Pedi então que
este homem me mostrasse o tal objeto, que segundo ele lembrava um disco voador
prateado e brilhante conforme refletia os raios do sol. Ele então me levou até
o meio da rua, uma rua larga em frente ao restaurante no qual estávamos, e como
não passava carro algum naquele momento, ali paramos até que ele conseguisse
apontar para mim naquele céu claro e sem nuvens o tal objeto e de fato, naquele
céu azul de brigadeiro se destacava um enorme disco prateado. A que altura
estava? Como saber. Mas era um círculo grande e quanto mais alto estivesse,
maior seria o tal objeto. Lembro que fiquei ali no meio da rua por algum tempo
até dali sair. O tal objeto ficou até escurecer e não ser mais visto no dia
seguinte. Que horas foi embora? Somente a noite o sabe.
Vasculhei
alguns jornais de época, na data de terça-feira, 1 de novembro de 1983, e
encontrei referência ao fato no Jornal Ultima Hora, página 2, Jornal O
Fluminense e o Jornal do Brasil edição n° 207.
E se eu e
todos os demais que havíamos presenciado o evento já tínhamos por opinião ser o
mesmo no mínimo estranho, a versão oficial soou no mínimo bizarra. Foi
divulgado que a aeronáutica brasileira havia confirmado ser o objeto um balão
meteorológico provindo da África do Sul e que o vôo das duas aeronaves de caça
F-5E da FAB até o local constituiu algo semelhante a um vôo de treinamento e
que todo o evento tinha transcorrido normalmente não sendo nada excepcional ou
que merecesse maior atenção, um mero fato corriqueiro com proporções
inesperadas. Um balão feito de plástico e inflado com gás hélio que o faria
refletir a luz solar, podendo atingir uma altitude entre 30 e 35 km da terra,
enquanto que os caças que o foram interceptar só poderiam alcançar cerca de 12
a 14 km de altitude. Foi informado que estaria há cerca de 23 km de altitude
quando da aproximação dos caças brasileiros.
Já se vão mais
de 30 anos, três décadas, desde este evento e de lá para cá já vi muitos balões
meteorológicos, seja em fotos ou filmes, documentários ou outros programas e
revistas, e de fato, o dito cujo em nada lembrava um balão meteorológico, mas
tudo bem, a mídia da época informou que a aparência estranha se deu em virtude
do material do qual era composto que ajudava a refletir os raios solares, além
de ser o mesmo iluminado internamente. Como todo aquele que já estudou a sério
comunicação sabe, o importante não é a veracidade ou não dos fatos e sim apresentar
uma boa resposta aos “porquês” em causa, ou seja, uma boa explicação explica
mesmo sem de fato explicar e acalma as multidões.
Gostaria de
dizer que quem viu e lembra sabe, mas não é tão simples assim. Foi um evento
memorável, pena que a memória seletiva já o tenha apagado da memória de muitos
que o presenciaram. Quando algo não se encaixa com perfeição em nossas crenças
humanas, alguma coisa tem de ceder e quando a memória não é deturpada e
readaptada a um novo contexto, ela é simplesmente apagada, ou se preferirem um
termo mais moderno, deletada de nossas mentes. E fora isto, viva aos balões
meteorológicos, sem os quais, muita coisa estranha não seria explicada.
Silvério
da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa
Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
Blog “Comportamento Crítico”:
Blog “Ser Escritor”:
(Respeite os Direitos
Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu
nome citado junto aos textos de sua autoria)
Nenhum comentário:
Postar um comentário