Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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2- Blog 1 “Ser Escritor”: http://www.doutorsilverio.blogspot.com.br

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5- Blog 4 “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

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8- Página no Face Book “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

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segunda-feira, 11 de março de 2019

O OVNI que todos viram e esqueceram


 Por: Silvério da Costa Oliveira

De início, vamos deixar claro o significado dos termos que usamos em nosso título. OVNI (Objeto Voador Não Identificado) ou UFO (Unidentified Flying Object) é terminologia militar e não é idêntico a uma nave espacial ou disco voador (flying saucer - pires voador) repleto de seres espaciais verdes com anteninhas na cabeça ou algo que o valha. Em verdade, a expressão é entendida como adequada a fazer referência a qualquer tipo de avistamento, seja a olho nu ou por meio de instrumentos, de algo que esteja voando e não possa ser naquele momento identificado corretamente. Em virtude de diversos contatos submarinos apresentados nos sonares de embarcações, temos o equivalente OSNI (Objeto Submarino não identificado) ou ainda outros termos (UAP, PAN, OANI) usados pelos militares para designar o mesmo fenômeno sem, no entanto, a conotação popular que o termo recebeu associando-o a espaçonaves extraterrestres.
O termo UFO, do qual se originou o termo OVNI, foi criado e usado pela primeira vez pelo então capitão da USAF Edward J. Ruppelt quando à frente do Projeto Livro Azul (The blue book), no livro de sua autoria The report on unidentified flying objects, publicado em 1956 nos EUA visando substituir a expressão popular “discos voadores”, ou, segundo o Oxford English Dictionary, a primeira referência a este termo, no entanto, deveria ser reportada ao major Donald Edward Keyhoe, aviador do corpo de fuzileiros navais, no ano de 1953.
De qualquer modo, o termo seria adequado a um satélite orbitando a terra, a um avião, um helicóptero, drone por controle remoto ou, claro está, a uma espaçonave extraterrestre repleta de seres verdes ou equivalente. Portanto, ao usar este termo, não fazemos referência direta ao popular termo “disco voador”, se bem que este possa também estar incluído, uma vez que a fonte real que observamos é de natureza por nós desconhecida naquele momento.



Interessante que hoje com Internet e smartphones que gravam tudo, fazendo vídeos e fotos de boa qualidade, são poucos os relatos se comparados aos de algumas décadas atrás onde dificilmente um não profissional teria uma câmera pronta para uso ao seu dispor a qualquer hora inusitada onde fosse necessário. Na década de 1980 eu fazia acampamentos selvagens (em lugares isolados, perto da natureza e longe de tudo e de todos) com amigos e não era incomum ver alguma coisa estranha nos céus ricamente estrelados. Mesmo em grandes centros urbanos por vezes alguém poderia ver algo estranho, ou mesmo muito estranho, nos céus e normalmente ficaria calado aguardando se algo era divulgado pelos jornais e tv no dia seguinte, pois, falar de avistamentos era algo considerado bizarro, estranho e anormal por grande parte da população e ninguém gosta de ser visto como diferente. Muitas vezes avistamentos eram compartilhados entre amigos, e só.
Engraçado que algumas destas narrativas, se fosse hoje, seriam tidas como a presença de um drone qualquer. De fato, alguns, especialmente quando iluminados e a noite, bem lembrariam um “disco voador”, no entanto, naquela época distante, tais brinquedos tecnológicos ainda não existiam, ou, não nos contaram toda a verdade sobre o surgimento de tais aparelhos.
O que me faz escrever agora, no entanto, é um fato ocorrido em um grande centro urbano e durante o dia, presenciado por praticamente toda a população local, mesmo que muitos hoje não se lembrem, afinal, a memória nos prega peças e quando algo não se encaixa nas nossas crenças prévias pode ser sumariamente apagado.
Eu narrei esta história a amigos e conhecidos por muitos anos, mas apesar de ter uma idéia vaga sobre quando ocorrera, certeza mesmo somente sobre o ano. Sempre ficara de pesquisar nos jornais antigos sobre o tema, para datá-lo com exatidão, até que há algum tempo, finalmente, empreendi tal iniciativa. Para minha surpresa, a data em questão hoje seria motivo de diversas piadas e brincadeiras sobre o ocorrido, em virtude da associação do fato com célebre comemoração norte americana que na época ainda não nos era comum aqui em terras tupiniquins. Refino-me ao halloween, que mais tarde passou a ser comemorado por aqui, mas que quando do ocorrido, não era um evento digno de nota em nossa cultura e o dia passava despercebido como um outro dia qualquer do ano, nada festivo ou comemorativo, fosse do que fosse.
Bem, refiro-me, claro está, ao 31 de outubro, mas do ano de 1983 e o fato que vou narrar aconteceu do amanhecer ao anoitecer deste dia na cidade do Rio de Janeiro, sendo presenciado por todos e tendo repercussão imediata nas rádios AM e posterior repercussão nos diversos jornais no dia seguinte, primeiro de novembro.
Eu passara a parte da manhã e tarde em um colégio na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. No final da tarde, mas ainda com bastante luz do dia, saí dirigindo meu carro, um VW Fusca que eu havia batizado carinhosamente de “Fustigre”, colocando, incluso, uma placa (vermelha com letras amarelas) com este nome na frente do carro. Na ocasião dei carona para um amigo até a Praça Sáenz Peña, também na Tijuca, mas diversas quadras de onde estávamos. Pelo caminho meu amigo e eu notamos que as pessoas nas calçadas estavam todas olhando para os céus, como se todas estivessem com torcicolo. Lembro que meu amigo chegou a colocar parte do corpo para fora do carro pela janela do carona, tentando enxergar alguma coisa que justificasse o que víamos, mas nada identificou de anormal e que justificasse o comportamento, digamos, bizarro das demais pessoas.
Foi somente após deixar meu amigo em seu destino e retornar para o Centro da cidade, onde meu pai tinha um restaurante, que finalmente soube o que estava ocorrendo. Estacionei o carro e entrei no restaurante de meu pai, onde comentei com um cliente, um senhor já bem idoso que hoje provavelmente já deve ter falecido, sobre o que tinha presenciado mais cedo e dele recebi a resposta meio que surpresa por eu nada saber, que desde de manhã bem cedo até aquele momento havia algo nos céus, sobre o Rio de Janeiro e segundo o seu relato, que bem me lembro ainda hoje, dois aviões da FAB tinham tentado ir até lá, mas estava muito alto e eles desistiram, retornando a sua base.
Pedi então que este homem me mostrasse o tal objeto, que segundo ele lembrava um disco voador prateado e brilhante conforme refletia os raios do sol. Ele então me levou até o meio da rua, uma rua larga em frente ao restaurante no qual estávamos, e como não passava carro algum naquele momento, ali paramos até que ele conseguisse apontar para mim naquele céu claro e sem nuvens o tal objeto e de fato, naquele céu azul de brigadeiro se destacava um enorme disco prateado. A que altura estava? Como saber. Mas era um círculo grande e quanto mais alto estivesse, maior seria o tal objeto. Lembro que fiquei ali no meio da rua por algum tempo até dali sair. O tal objeto ficou até escurecer e não ser mais visto no dia seguinte. Que horas foi embora? Somente a noite o sabe.
Vasculhei alguns jornais de época, na data de terça-feira, 1 de novembro de 1983, e encontrei referência ao fato no Jornal Ultima Hora, página 2, Jornal O Fluminense e o Jornal do Brasil edição n° 207.
E se eu e todos os demais que havíamos presenciado o evento já tínhamos por opinião ser o mesmo no mínimo estranho, a versão oficial soou no mínimo bizarra. Foi divulgado que a aeronáutica brasileira havia confirmado ser o objeto um balão meteorológico provindo da África do Sul e que o vôo das duas aeronaves de caça F-5E da FAB até o local constituiu algo semelhante a um vôo de treinamento e que todo o evento tinha transcorrido normalmente não sendo nada excepcional ou que merecesse maior atenção, um mero fato corriqueiro com proporções inesperadas. Um balão feito de plástico e inflado com gás hélio que o faria refletir a luz solar, podendo atingir uma altitude entre 30 e 35 km da terra, enquanto que os caças que o foram interceptar só poderiam alcançar cerca de 12 a 14 km de altitude. Foi informado que estaria há cerca de 23 km de altitude quando da aproximação dos caças brasileiros.
Já se vão mais de 30 anos, três décadas, desde este evento e de lá para cá já vi muitos balões meteorológicos, seja em fotos ou filmes, documentários ou outros programas e revistas, e de fato, o dito cujo em nada lembrava um balão meteorológico, mas tudo bem, a mídia da época informou que a aparência estranha se deu em virtude do material do qual era composto que ajudava a refletir os raios solares, além de ser o mesmo iluminado internamente. Como todo aquele que já estudou a sério comunicação sabe, o importante não é a veracidade ou não dos fatos e sim apresentar uma boa resposta aos “porquês” em causa, ou seja, uma boa explicação explica mesmo sem de fato explicar e acalma as multidões.
Gostaria de dizer que quem viu e lembra sabe, mas não é tão simples assim. Foi um evento memorável, pena que a memória seletiva já o tenha apagado da memória de muitos que o presenciaram. Quando algo não se encaixa com perfeição em nossas crenças humanas, alguma coisa tem de ceder e quando a memória não é deturpada e readaptada a um novo contexto, ela é simplesmente apagada, ou se preferirem um termo mais moderno, deletada de nossas mentes. E fora isto, viva aos balões meteorológicos, sem os quais, muita coisa estranha não seria explicada.

Silvério da Costa Oliveira.

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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