Por: Silvério da Costa Oliveira.
Quando ainda
criança, ou no começo de minha adolescência, estudei magia, comprei e li
diversos livros sobre o tema, adquiri jogos de mágica e fazia algumas boas
apresentações para outras crianças. Posteriormente me dediquei a uma formação
voltada para o comportamento de pessoas e grupos sociais e do desenrolar histórico
de nossa civilização, atuei como professor e hoje trabalho na área de segurança
pública. Quando observo uma dada realidade, não há como deixar de fazê-lo pelo
prisma de minha formação pessoal e profissional, isto vale para todos, uma vez
que nossa história de vida influencia o que vemos e ouvimos, já que cada um
seleciona as partes as quais dará atenção e as demais que serão sumariamente
ignoradas. Pretendo nestas linhas falar um pouco de magia, ou como a nossa
sociedade atual costuma a ela se referir: ilusionismo. Os truques podem mudar,
mas as regras e leis da magia ou ilusionismo são sempre as mesmas, como se uma
gramática fosse, para quem deseja aprender uma língua nova, a gramática está
ali, subjacente ao uso oral e escrito que possamos fazer da linguagem.
Quando um mágico
tira um coelho da cartola, ele chama a atenção de todos para a cartola, mostra
a mesma ao público, entrega a mesma para um ou mais examina-la. Todos sabem que
haverá um truque ou mágica envolvendo a cartola e querem pegar o mágico no
momento exato em que este fizer algo que denuncie o truque e por isto a atenção
concentrada de todos se dá na cartola, para não deixarem de perceber o exato
momento em que algo ali venha a ocorrer e eis que o mágico tira finalmente o
coelho da cartola sob os aplausos de uma plateia estupefata que não compreendeu
que foi manipulada desde o início para prestar atenção em algo, se voltar para
uma determinada direção enquanto o essencial ocorria em outro lugar. Desviar o
foco para fazer o que bem se entende, fazer com que as pessoas olhem para o
lugar errado, olhem e não vejam. Isto é feito na área de segurança durante
algumas investigações, também é feito na política e nosso atual presidente da
República, Jair Messias Bolsonaro o faz com perfeição. Usando de uma metáfora,
diria que ele é um mágico da política, mas é mais que isto. Falei que o mágico
cria a ilusão e se aproveita de um conhecimento apurado sobre o comportamento
das pessoas, desviando sua atenção sobre o essencial onde tudo ocorre, mas poderia
também fazer uma referência metafórica a neblina que tudo encobre ou a uma
cortina de fumaça que atrapalha de vermos o verdadeiro alvo que devamos temer
ou abater.
Poderia escrever
um livro inteiro sobre o tema em questão, mas tentarei me ater a este artigo,
mesmo tendo de excluir muitas possíveis análises. Não irei também falar de
estrutura de personalidade ou quadro clínico, pois bem sei que não seria ético.
Sei também que se sabemos como um truque é feito este deixa de ter o seu efeito
e que neste sentido, explicar em detalhes como o mágico atua pode implicar em
mudança do comportamento do público diante de seu show, mas penso que isto só
ocorreria se todo o público do mesmo tivesse acesso a esta informação, o que
não é esperado que ocorra. Por mais que eu possa escrever e explicar, o
esperado é que só uns poucos tenham acesso, de modo que não deva atrapalhar o
show dado por tal político. Show este que o levou a ser eleito presidente e que
com certeza também poderá leva-lo com facilidade a sua reeleição, com ajuda de
todos os participantes da plateia, não somente os que batem palmas, mas, e
especialmente estes, os que vaiam intensamente. Comecemos, portanto, com as
vaias que o elegeram presidente.
Uma boa mentira
é aquela que possui alguns significativos elementos verdadeiros, pois quando
verificamos mais atentamente encontramos os fatos verdadeiros e passamos a
acreditar que tudo seja verdadeiro, mesmo não o sendo. Também é importante
saber que quando desmascaramos uma mentira, cria-se uma aura de descrédito
sobre quem a inventou e divulgou. Quando adolescente eu saía muito com um amigo
e certa vez outros amigos meus, que não se davam muito bem com este, vieram a
mim questionar porque eu me relacionava bem com esta pessoa, já que segundo estes,
ele mentia a três por quatro, mentia muito e mesmo por bobagens que não lhe
levassem a qualquer lucro possível e sim o contrário, o afastamento e
descrédito por parte dos que o conheciam. Eu achei engraçado o questionamento,
se bem que correto, e lhes respondi que já que ele sempre mentia e eu sabia
disto, então para mim ele mesmo sem o querer, sempre dizia a verdade, pois como
eu sabia que era mentira, então eu sabia a verdade. Uma outra questão sobre a
mentira é que ela não pode ser de tal forma que possa ser facilmente desmentida
com uma mera comparação com fatos presentes no mundo real circundante. Não
adianta eu dizer que tem 3 maças na geladeira se basta meu interlocutor abrir a
geladeira para perceber que há zero maçãs.
A esquerda
trouxe à tv e às redes sociais partes de vídeos onde o candidato se apresentava
em embates com outras pessoas e por meio de cortes na filmagem apresentavam o
mesmo de modo negativo. Estratégia esta que funcionou no passado quando
tínhamos um número limitado de canais de informação e destes, alguns, sejam
emissoras de televisão ou jornais, com um enorme poder de manipulação das
massas devido a possuírem grande parcela da população acompanhando seus
noticiários. Hoje, temos a internet e as redes sociais, que já estiveram presentes
na assim chamada “primavera árabe”, bem como nos movimentos de 2013 no Brasil,
mas mesmo assim foram desconsiderados. Quando a tv veiculava uma entrevista ou
debate cortado, bastava fazer circular o vídeo em suas íntegra pela rede, tudo
bem que os militantes convictos de sua ideologia irão ignorar as provas e se
aterão ao vídeo ou reportagem editado, mas os demais irão visualizar no vídeo
completo ou em demais situações mostradas em sua íntegra, uma mentira, uma
tentativa de enganá-los e uma vítima do engodo, a qual passa a ganhar empatia
por parte do eleitorado. Foi aqui mais um erro da esquerda que em sua oposição
esqueceu das redes sociais atuais.
Em política,
quando pensamos, por exemplo, no embate hoje existente entre esquerda e
direita, dentre outros possíveis, percebemos que cada político ou linha
ideológica possui seus adeptos e seguidores que formam sua base política e há
portanto um discurso voltado para esta base que será acatado sem
questionamentos maiores e pode induzir ao erro, pois, diante de tais aplausos
pode-se perder o foco na parcela maior da população e se este político pretende
se eleger para um cargo majoritário poderá amargar uma perda considerável,
apesar dos aplausos entusiastas de seus correligionários.
Onde a esquerda
errou no período eleitoral que levou Bolsonaro a presidência? Primeiramente,
subestimando o mesmo, mas já iremos abordar esta questão, falemos inicialmente
de outras questões, como, por exemplo, o slogan “Ele não”. Se tivessem
consultado um profissional realmente competente da área do comportamento
humano, jamais teriam adotado esta frase. Uma vez estava no trem do metrô
quando uma trupe de artistas entrou, fez um espetáculo ruim e depois pediu
dinheiro para pessoas que estavam em sua maioria cansadas retornando de seus
trabalhos para suas casas, não conseguindo muito, mesmo assim, não deixaram de
dar em alto e bom tom um recado antes de desembarcarem na estação seguinte, ao
abrirem-se as portas do carro do metro: “Lembrem-se, Ele não”. Neste momento eu
tive certeza absoluta que Bolsonaro seria eleito presidente da República e por
total incompetência de comunicação da esquerda brasileira.
Apelemos para a
preguiça mental de nossos cérebros, o que vem fácil, vai fácil e por comodismo
esquecemos. Diga algo para alguém e pergunte depois de alguns segundos ou
minutos e terá grande possibilidade dela não se lembrar exatamente do que você
lhe disse, um nome? De uma cidade ou pessoa? Quem era mesmo? Para fixar na
memória é preciso algum esforço cognitivo, se o nome é suprimido, como no caso
do “ele não”, então devo fazer um pequeno esforço mental. Ele não, ele quem?
Quem é ele a quem estes se referem? Pode ser fulano ou ciclano ou beltrano, mas
minha memória e aquilo que aprendi recentemente diz que é um determinado
candidato a presidência da república, ah! Já sei quem é. Ou seja, a frase
adotada pela esquerda ajudou a quem não era militância a memorizar o nome do
candidato que a esquerda não queria e gerava uma relação mais intensa com este
candidato. Uma das principais técnicas de memorização é adicionar emoção ao que
queremos memorizar. Ou seja, jamais o “ele não” poderia ser adotado, a não ser
que o objetivo fosse trazer em evidência quem é “ele” e aumentar suas chances
de ser eleito no pleito, como de fato ocorreu.
Hoje, eleições
passadas e mandato em curso, às vezes presencio algumas pessoas gritarem de
alguma janela “Fora Bolsonaro”, outra frase criada e adotada pela esquerda em
sua oposição ao governo. Tudo bem que é melhor que a antiga “ele não”, no
entanto, também é ruim. Qualquer psicólogo infantil ou pai ou mãe há de saber
que se uma criança ou adolescente está dentro de sua casa ou apartamento com o
foco em algo que ocorre lá fora e resolve sair para encontrar alguém ou alguma
coisa que lhe espera lá fora, mostrando entusiasmo nesta iniciativa, se alguma
outra pessoa da casa, seja o pai, mãe ou irmão mais velho lhe fala “fulano, não
bata a porta”, logo em seguida todos aqueles que já passaram por experiência
semelhante sabem que irão escutar o estrondo da porta batendo com toda a força.
Normal! Os estudos na área do comportamento são bem claros aqui. As pessoas
tendem a não escutar o “não”. Frases formadas de modo negativo não possuem o
mesmo valor de frases formuladas de modo afirmativo. Tendemos a não ouvir o
“não” e uma frase como “não bata a porta” se transforma em “bata a porta”.
Portanto, “fora Bolsonaro” é uma frase onde para quem não é militância sobra
somente o “Bolsonaro”, mais uma vez a oposição, a esquerda brasileira, ajudando
este político, desta vez na sua reeleição. Eu ficaria preocupado, sim, se fosse
uma frase formulada de modo afirmativo. Em vez de dizer o que não quer, diga o
que quer. Em vez de dizer “Fora Bolsonaro”, grite o nome daquele que você quer
que ocupe o governo.
O problema aqui
é semelhante a outro que também ajudou a eleger o atual presidente. Ao
contrário de alguns anos atrás, quando havia no Brasil vários nomes que
defendiam idéias próprias na esquerda, hoje ela é concentrada em um único
homem, o ex-presidente Lula, que esteve preso durante as últimas eleições e
hoje, mesmo solto, não possui direitos políticos de modo que não possa ser
conduzido a presidência, deste modo fica impraticável o uso de uma excelente
frase criada pela esquerda na época em que alguém pensava em comportamento de
massas e que ajudou o Lula a se eleger, que é o “Lula lá”. Escolham um
candidato para esta e todas as demais eleições até obterem a presidência e
troquem a negativa “Fora fulano” pela afirmativa “Ciclano lá” ou algo
semelhante e que gere alguma rima. Se não usarem do conhecimento sobre a
psicologia das massas, serão inevitavelmente atropelados por elas.
Se você quer
mesmo entender Bolsonaro e não ser iludido, feche bem seus olhos e tampe os
ouvidos. Não veja o que Bolsonaro está fazendo e nem ouça o que ele diz,
lembre-se que se você abrir os olhos e ouvidos será preso na armadilha de uma
política muito antiga, mais do que a idade de nosso atual presidente. Veja e escute
sim, mas somente os fatos e os resultados obtidos. Não subestime quem ficou
tantos anos dentro da política e ocupou por várias vezes seguidas o cargo de
deputado federal, além de ter boa parte de sua família também eleita para algum
cargo público. Se ele fosse tudo de ruim que alguns tentam nos convencer, se
não tivesse capacidade cognitiva ou não soubesse o que fazer como um cego no
meio de um tiroteio, ele não seria o presidente da República. Não o subestime,
pois, este comportamento é em parte proposital para que você e a esquerda o
subestime e tem dado certo até agora. Pense em um inseto, o louva deus. Seu
disfarce natural faz com que ele pareça um galho de árvore e se você chegar
perto e perceber que não é um galho e sim um inseto, lhe chamará a atenção sua
postura, que parece até que está orando a deus em virtude da posição de suas
patas dianteiras. Na verdade, um grande predador. Foi proposital? Darwin nos
diria que não, mas que a evolução das espécies lhe fornece características que
lhe proporcionam vantagem significativa na luta pela sobrevivência. Se você
divide este espaço da natureza com esta criatura e é um possível predador do
mesmo, não irá percebe-lo como alimento e se você é uma possível presa do
mesmo, irá virar alimento.
No estudo do
comportamento humano podemos dividir as pessoas em diversos e distintos grupos
para melhor entendê-las, saber como reagem e o que irão fazer diante de algo.
Isto é muito importante se queremos convencer alguém a fazer alguma coisa ou se
queremos simplesmente entender o comportamento de dada pessoa. Uma das divisões
possíveis se dá entre pessoas agregadoras e desagregadoras e aparentemente
nosso atual presidente se mostra no segundo grupo. Imagino que o convívio
pessoal não deva ser muito fácil. Seu comportamento se dá diante do caos, com o
qual parece conviver bem e ser capaz de gerar mais caos para superar situações
anteriormente preocupantes. Em meio a um turbilhão, a um vendaval, a um furacão,
a areia levantada nos impede de enxergar a paisagem que nos rodeia. Me lembra a
semelhança com um deus, ou deusa, penso em Shiva, um dos membros da trindade
divina hinduísta e também um dos principais deuses do hinduísmo. O destruidor e
transformador, pois, não é possível criação sem que primeiro haja a destruição.
Não subestime ou
se iluda, não veja ou ouça o que aparenta ser, busque o contexto mais amplo,
veja os resultados presentes e futuros, perceba onde tal caminho levará,
reconheça que ele tem objetivos claros e que consegue realiza-los e isto não é
meramente sorte.
Recentemente,
mesmo sem a divulgação explicita pela mídia convencional e ao final de somente
o primeiro ano de mandato, em virtude dos resultados econômicos que já se
vislumbravam claramente no horizonte político, sua reeleição era dada como
certa pelos corredores do congresso nacional e aí vem no começo do segundo ano
uma crise na área de saúde que inevitavelmente iria migrar em algum momento
para a área econômica, destruindo uma possível plataforma sólida para sua
reeleição. Era uma epidemia ou melhor dizendo, uma pandemia mundial e pouco se
podia fazer. Verdade seja dita, como em toda gripe ou resfriado comum, como uma
onda do mar que vem e não tem como parar, muitos seriam contaminados e depois o
surto iria embora. Todos os anos temos resfriados e gripes que atacam grande
parcela da população e depois vão simplesmente embora e isto também ocorreria
aqui, mas com um agravante. Muitas pessoas morreriam pela necessidade de usar
simultaneamente um sistema de saúde que inevitavelmente entraria em colapso e
não daria vazão ao atendimento necessário. Adeus reeleição, bem-vinda a
esquerda novamente ao poder.
O que vimos ocorrer,
no entanto, foi rapidamente uma guerra de narrativas, onde o presidente passou
a defender um isolamento parcial, a que passou a chamar de vertical, em
oposição ao horizontal no qual todos ficariam em quarentena, enquanto que no
vertical somente os grupos de risco ficariam em isolamento social. Governadores
e prefeitos não concordaram, o congresso e o STF ficaram do lado de uma
quarentena total, que acabou sendo empreendida muito antes do necessário, quando
ainda não havia casos para isto. A verdade é que o isolamento foi proposto
quando ainda não havia sido instalada uma epidemia em solo nacional e seria
válido se pudesse ser eternamente mantido, mas isto sabemos antecipadamente não
ser possível, pois as pessoas têm de trabalhar para sobreviver e para a própria
sobrevivência econômica do país. Do mesmo modo que um policial usa um colete a prova
de balas somente quando necessário, mesmo sabendo que estaria mais seguro se o
usasse em qualquer situação, na prática o policial sabe não ser possível sempre
estar portando um colete a prova de balas e mesmo quando o porta, há níveis
diversos de proteção que tornam o colete mais pesado para aguentar o impacto de
calibres maiores e que justamente por tal motivo nem sempre são usados, ou
seja, mesmo portando o colete, não necessariamente este protegerá o policial de
um tiro se não for adequado para aquele calibre de arma e o policial decidirá
não somente quanto à quando usar, mas também com relação ao que usar.
Diante de uma
quarentena total e antecipada aos efeitos de uma epidemia que ainda iriam
chegar, o presidente passou a adotar um discurso a favor da abertura do
comércio, das estradas, das cidades e a substituição deste modo de quarentena
por uma vertical onde somente os grupos de risco ficariam isolados, ao que
encontrou oposição inclusive de seu ministro da saúde, o qual assumiu uma
postura claramente contrária e por ser também um político profissional, com
carisma e fala bonita, começou a crescer muito na aprovação de uma população em
pânico diante de uma doença desconhecida que se aproximava. Isolado e sem poder
decidir o que Estados ou municípios poderiam ou não fazer, por decisão do STF,
o presidente obteve tudo que queria, pois, poderia propor uma política alternativa
e criticar a então adotada por governadores e prefeitos sem ser responsável por
qualquer coisa que desse errado, já que não tinha poder para intervir. Como será
inevitável uma crise econômica mundial ao final da pandemia, o presidente já se
antecipa com uma narrativa na qual se o pior ocorrer ele poderá dizer que
avisou desde o início, mas que lhe impediram de agir e atuar em prol de uma
situação futura que minimizasse as perdas econômicas, o desemprego e o
fechamento de diversos negócios. Quanto às mortes, poderá alegar que estas
teriam de ocorrer de qualquer modo e não estaria errado, pois teria a curva de
mortes pela pandemia ocorrida no Brasil mesmo diante do isolamento para mostrar
que apesar do isolamento, tudo ocorreu e perdemos espaço na economia.
Diante de um
ministro que prejudicava esta narrativa em prol de um isolamento vertical e do
crescimento em popularidade deste político que já poderia estar sonhando em se
candidatar a governador ou quem sabe, mesmo a própria presidência, só restava retirar
o ministro, apesar do caos e abalo que o governo poderia sofrer, e assim foi
feito. Veio o dia do juízo final, o ministro saiu, o mundo acabou, e no dia
seguinte estava tudo normal diante de outro caos fabricado. Como o impacto da
saída do ministro foi menor que o esperado, abriu-se espaço para outra troca,
sim, pois nada esconde melhor uma crise do que pô-la junto com outra. Um livro
some no meio de outros dentro de uma biblioteca. E tivemos a saída do ministro
da justiça, considerado um pilar do governo e que todos viram erradamente como
consequência da saída do então diretor da polícia federal, na verdade, não foi
por causa de um delegado que o ministro saiu e sim o contrário, um delegado
deixou de ser o diretor geral da polícia federal para o ministro sair. É assim
que funciona o caos, é assim que a poeira entra em nossos olhos e não vemos,
porque teimamos em abrir os olhos para olhar a ilusão que nos é dada.
O governo
convidou Sérgio Moro para ministro da justiça em um momento no qual este chegava ao poder e a popularidade de Moro
iria se somar com a popularidade de Bolsonaro. Meses depois a situação mudou,
não por parte da popularidade de Moro, agora enquanto ministro da justiça, por
parte da população, mas sim em decorrência de o governo ter dificuldades em
aprovar suas pautas e precisar de apoio negociado. O assim chamado centrão tem
se mostrado presente em todos os governos desde a redemocratização deste país e
se torna vital para a governabilidade necessária para se aprovar pautas de
interesse do governo, ocorre que os membros parlamentares deste grupo não vêem
com bons olhos o então ministro da justiça, do mesmo modo que parte considerada
do congresso, muitos por constarem em investigações da Lava Jato, a época
comandada pelo então juiz e depois ministro Moro, não quer este ministro. Sem
apoio no centrão, no congresso ou mesmo no STF, onde seu nome é persona non
grata, o ministro Sergio Moro passou a ser um peso de arrasto no governo, que
ficaria melhor sem ele e eis que em meio a uma crise provocada pela saída do
ministro da saúde, o presidente resolve fazer valer seu direito de trocar o
diretor geral da polícia federal, algo que desde a metade do ano anterior já
havia demonstrado interesse em o fazer e sabia que não teria o aval do então
ministro da justiça. Tirando o diretor geral, ganhava de qualquer modo, fosse
pela saída de alguém que não queria ali, ou talvez melhor ainda, fosse pela
saída também do ministro, o que de fato ocorreu.
Quem lembra da epidemia
de COVID-19? O caos passou por cima. Quem lembra da saída do ministro da saúde?
O turbilhão provocado pela tempestade direcionou a atenção para outro lado.
Quem lembra da saída do ministro da justiça? O governo perdeu um de seus
pilares, o governo irá perder apoio, teremos um impeachment, nada disto e muito
pelo contrário. No dia seguinte a pauta é outra, pois um amigo do presidente e
sua família é nomeado diretor da polícia federal, um ministro do STF barra a
nomeação, o governo insiste, desiste, volta a dizer que vai insistir, mas já
desistiu, e estamos no caos novamente. Quem era mesmo o ministro da justiça?
Não é certo ou
errado, pois não estamos aqui discutindo ética, talvez Machiavelli atualizado
para o século XXI. Os objetivos foram atingidos, o governo segue, eu escrevo
este artigo e enquanto a esquerda não se conscientizar da lógica inerente ao
caos irá continuar lutando contra fantasmas durante os oito (quatro, mais a
reeleição) anos de governo Bolsonaro.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa
Oliveira.
Blog “Comportamento Crítico”:
Blog “Ser Escritor”:
(Respeite os Direitos Autorais –
Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado
junto aos textos de sua autoria)
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