Por: Silvério da Costa Oliveira.
Agir comunicativo
É no livro “Teoria da ação comunicativa”, de Jürgen Habermas, que surge e é melhor desenvolvido o conceito do agir comunicativo. Podemos falar também da teoria do conceito de agir comunicativo ou teoria da ação comunicativa (racionalidade comunicativa), teoria da política deliberativa, teoria da esfera pública. Todos estes conceitos vinculados a Habermas. O conceito de agir comunicativo é central a toda a obra deste filósofo.
Habermas aponta para um modelo de ação comunicativa, a democracia deliberativa, por meio do qual pode-se obter um consenso de forma não coercitiva na criação de regras sociais. O modelo de ação comunicativa propõe ser uma estrutura racional de interação por meio de debates, argumentações e deliberações, visando a obtenção de acordos entre todas as partes envolvidas e por meio de um consenso. Os espaços de discussão ocorrem na esfera pública e englobam a presença de qualquer grupo social bem como representantes do Estado.
Trata-se de um modelo racional de interação que visa alcançar acordos fazendo uso da argumentação, do debate e da deliberação. Ocorrendo na esfera pública, local onde teríamos a presença de diversos segmentos sociais conjuntamente com os representantes do Estado. Esta teoria tem como meta elaborar uma avaliação crítica das formas de vida e das épocas concretas na sua totalidade, meta esta que deverá ser cumprida sem a projeção de normas oriundas de alguma corrente filosófica ou histórica.
Dentro do conceito de ação comunicativa temos como operador o meio linguístico, meio este que engloba o próprio agente da ação no contexto da racionalidade ali desenvolvida. Enquanto que na razão estratégica podemos ter um uso unilateral da razão, a razão comunicativa exige que a linguagem seja usada como meio para o correto entendimento entre os envolvidos pelo discurso, deste modo, há de articular entre si três distintos mundos: objetivo, social e subjetivo.
Entende que há um núcleo universal composto por estruturas básicas presentes na linguagem de todos os falantes. Todos aqueles que usam a linguagem passam em determinado momento de suas vidas a dominar este núcleo, gerando a competência linguística, o que permite ao falante fazer o uso correto da linguagem.
No conceito de razão comunicativa, Habermas entende que há uma diferença entre os mundos: objetivo, social e subjetivo. Por meio desta diferenciação podemos distinguir o pensamento moderno do pensamento mítico. A competência linguística não se restringe a produção de falas gramaticalmente corretas, pois, há uma pretensão de validade vinculada aos mundos objetivo, social e subjetivo.
O mundo objetivo aponta que o enunciado é verdadeiro quando se refere aos fatos aos quais faz alusão. O mundo social composto pelas normas que o compõe, aponta para que o ato de fala seja correto no sentido do uso correto destas normas. Aqui temos a pretensão de justiça. E por último, o mundo subjetivo, que é o mundo composto por tudo que está na mente, na consciência, deste falante, se vincula a outra pretensão, a da veracidade, que se dá quando a fala corresponde ao que de fato é pensado, ou seja, quando expressamos externamente aquilo no qual realmente acreditamos, desejamos ou pretendemos de fato fazer. Ao dizer o que de fato pensamos e acreditamos, não mentimos para o outro.
Segundo o pensamento de Habermas, caberia à sociedade evoluir do uso da ação estratégica (Horkheimer e Adorno) para o uso da ação comunicativa. Na ação comunicativa o sucesso não é o que pauta toda a ação e sim o encontro de um entendimento compartilhado por todos os envolvidos na questão. Temos aqui presente a discussão em busca de um consenso. Tanto a ação estratégica, como também a ação comunicativa, são baseadas na racionalidade, mas há uma diferença, pois, na ação comunicativa, ao contrário da estratégica, se escuta os argumentos contrários, há a presença de um diálogo, podendo mudar ou aperfeiçoar os objetivos iniciais. Busca-se aqui um entendimento mútuo e compartilhado por todos os envolvidos. Deste modo, Habermas se coloca contrário ao uso da repressão, censura e ausência de diálogo, entendendo que a democracia política surge do diálogo propiciado pelas ações presentes no agir comunicativo.
Habermas defende o uso do discurso visando o consenso e estando livre da violência entre os interlocutores. A democracia há de surgir a partir do diálogo e do consenso por meio do uso do agir comunicativo.
A teoria do agir comunicativo é central ao pensamento de Habermas e busca a compreensão do papel que a comunicação desempenha no meio social. Por meio do agir comunicativo pode-se coordenar grupos sociais objetivando atingir consensos e a mútua compreensão entre os participantes. Para Habermas a comunicação vai além da transmissão de informações.
Habermas ao propor o conceito de agir comunicativo o opõe ao conceito de “razão estratégica” e “ação estratégica”, proposto por Horkheimer e Adorno. No agir comunicativo a ênfase não é atingir uma finalidade de modo eficiente e com economia de recursos, não se trata dos interesses individuais ou de um grupo isolado, mas sim da busca do entendimento, do consenso e da cooperação entre todas as pessoas envolvidas no contexto social.
Todas as pessoas participam de situações comunicativas em sociedade, objetivando o compartilhamento de informações, expressar suas próprias ideias e argumentos, em busca de um consenso. O ideal é que todos os participantes tenham a mesma oportunidade para expressar suas opiniões dentro de um ambiente onde predomine o respeito mútuo livre de coerção. Por meio do uso do diálogo buscando o consenso é possível chegar a acordos e compreender a posição assumida pelas outras pessoas. Para se fazer uso do agir comunicativo é necessário interagir racionalmente fazendo uso de argumentação fundamentada e estando disponível para escutar os argumentos contrários.
Muito importante, também, são as normas e regras presentes na linguagem e empregadas na comunicação, pois são responsáveis pela devida interação entre os falantes. Dentre as normas e regras sociais presentes na comunicação, podemos citar: honestidade, sinceridade, clareza, ausência de coerção, objetivando a busca do consenso e do entendimento entre os participantes.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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