Por: Silvério da Costa Oliveira.
Anti-Iluminismo
Anti-Iluminismo ou contra-Iluminismo se apresenta como uma corrente de pensamento que se opõe aos valores e teses defendidos pelo Iluminismo (ou Ilustração) no transcorrer do século XVIII (conhecido como o século das luzes).
O anti-Iluminismo faz oposição ao Iluminismo, portanto, cabe entender o que seja o Iluminismo. O movimento Iluminista esteve presente no século XVIII e dentre suas principais bandeiras, temos a defesa da razão, da ciência, da liberdade individual e de expressão, e a separação entre a Igreja e o Estado. O Iluminismo valorizava a razão, a liberdade, a igualdade e seus ideais estiveram presentes durante a Revolução Francesa. O Iluminismo defende a tolerância e o progresso social.
Já o Anti-Iluminismo defende ideias conservadoras, a religiosidade, a hierarquia. O termo foi popularizado para descrever estes pensadores no século XX pelo filósofo Isaiah Berlim (1909-1997). Trata-se de uma visão mais crítica quanto aos limites da razão humana e que tende a valorizar os sentimentos e emoções. Também encontramos a valorização do nacionalismo. Em suma, temos aqui um movimento que se mostra em linhas gerais como sendo relativista, anti-racionalista, vitalista e também possuindo uma visão orgânica da vida social e política, características estas que também estarão presentes no Romantismo.
Para os filósofos do anti-Iluminismo, uma sociedade representa um corpo orgânico, um organismo vivo e não apenas um conjunto de cidadãos reunidos em dado local. Os pensadores representantes do movimento anti-Iluminista defendem a importância da história, da cultura, da língua e da religião de um povo, tornando-o único.
Temos em alguns pensadores do período uma defesa política de uma sociedade hierárquica e de um governo monárquico, da Igreja vinculada ao Estado, da exigência de todos dentro do Estado manterem a mesma religião. Este movimento se mostra contrário as ideias liberais, a liberdade de expressão, de reunião e de culto religioso.
O anti-Iluminismo apresenta uma crítica ao Iluminismo, se contrapondo ao mesmo. É questionada a fé na razão tida pelos Iluministas, considerada excessiva por parte dos pensadores do anti-Iluminismo. Segundo tais pensadores, ao focar na razão humana, pode-se obter uma visão muito simplificada e reducionista da realidade ao nosso redor, deixando de observar com a devida atenção outros aspectos também importantes, tais como as emoções e os sentimentos humanos, a espiritualidade, a cultura e a história dos povos.
Os Iluministas defendiam o progresso e os avanços científicos, já os anti-Iluministas tendiam a se mostrar céticos com relação aos limites e às possíveis consequências deste mesmo progresso. O avanço indiscriminado deste progresso poderia ser encaminhado para finalidades danosas a humanidade, resultando em alienação e desumanização.
Os anti-Iluministas tendiam a valorizar a tradição e também a autoridade, entendendo serem as mesmas, fonte de conhecimento e estabilidade social. A história e a cultura de um povo guardam valores importantes que devem ser preservados. Já os Iluministas defendiam uma ruptura mais radical com o passado e a tradição, na busca pelo progresso incentivado pela razão.
Os Iluministas defendiam a universalidade do conhecimento e, neste tocante, promoviam ideias como universais, tais como os direitos humanos, a igualdade, a liberdade. Já os anti-iluministas entendiam que tais princípios universais tendem a ignorar as diversidades culturais, sociais e históricas de um povo, de uma comunidade.
Os anti-Iluministas dão destaque e importância a questões espirituais e metafísicas sobre a existência humana. Segundo estes autores, a compreensão da natureza humana não pode ser limitada a categorias racionais ou desenvolvimentos científicos, sendo bem mais ampla.
Muitos dos anti-Iluministas não negavam a razão, mas buscavam um equilíbrio entre esta e outros fatores também presentes na experiência humana. Há uma busca de compreensão mais ampla e holística sobre a natureza humana e sua relação com o meio social, com a comunidade na qual este humano vive.
Tal movimento apresentou-se de modo múltiplo, não sendo homogêneo e se adaptando a cada novo contexto cultural e histórico no qual emergia. Ao movimento associou-se o pensamento conservador e tradicionalista voltado para o antigo regime. Temos uma reação multifacetada e complexa ao Iluminismo, buscando uma ampliação da visão sobre o humano e suas sociedades e valorizando aspectos negligenciados pelo Iluminismo.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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