Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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terça-feira, 4 de março de 2025

Ludwig Andreas Feuerbach

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Feuerbach

 

Ludwig Andreas Feuerbach (1804-1872) nasce em Landshut, Baviera, e falece aos 68 anos de idade em Rechenberg, Nuremberg, ambas hoje na Alemanha. Ele foi o quarto de oito filhos de Paul Johann Anselm von Feuerbach (1775-1833), renomado jurista e criminologista que contribuiu significativamente para a reforma do direito penal na Alemanha, com Wilhelmine Tröster Feuerbach (1774–1852), proveniente de uma tradicional família burguesa.

Tendo Feuerbach concluído o equivalente de nosso atual ensino médio em Ansbach, em 1823, prossegue no ano seguinte estudando teologia protestante em Heidelberg. Posteriormente, em 1824, muda o curso para filosofia, que passa a estudar na Universidade de Berlim, também estudou na Universidade de Erlangen, onde concluiu seus estudos e escreveu sua tese de doutorado, “Da razão, una, universal, infinita” (1828). Começou a lecionar em 1829 (de 1829 a 1832 atua como professor), na Universidade de Erlangen, onde atuou como privatdozent (professor particular). Sua carreira acadêmica tradicional veio a término a partir da publicação no ano de 1830 de “Pensamentos sobre a morte e imortalidade”, obra anônima na qual critica a ideia da imortalidade pessoal e rejeita dogmas religiosos. Esta obra foi na época considerada herética e ocasionou enorme polêmica, tornando sua permanência como docente da universidade cada vez mais difícil e inviável. Em 1830 conhece Bertha Löw, com quem se casa em 1837, vindo a morar no castelo da família de sua esposa, em Bruckberg.

Membro da esquerda hegeliana, sendo o mais destacado e influente representante deste grupo. Desenvolveu fortes críticas a teologia especulativa. Comentadores destacam a influência que seu pensamento exerceu sobre Marx e Engels e mais tarde, também sobre Freud. É considerado como tendo desenvolvido uma filosofia humanista e antropológica de base ateísta. Como eram contemporâneos, Feuerbach teve oportunidade de ler “O capital”, escrito por Marx e Engels, que irá exercer alguma influência em seus últimos trabalhos. Alguns comentadores entendem ser o pensamento e obra de Feuerbach uma transição entre o Idealismo Alemão por um lado, e o materialismo histórico, por outro, ou seja, o veem como um antecessor de Marx e Engels.


 

Para muitos comentadores, a principal e essencial obra escrita por Feuerbach é “A essência do cristianismo”, do ano de 1841, e no qual temos uma filosofia radical e humanista que busca interpretar e criticar a religião, mas também traz implícito uma crítica a filosofia da religião de Hegel. Apesar desta crítica poder ser aplicada a todas as religiões, há um lugar de destaque para o cristianismo e o conceito de encarnação de Deus, presente em Hegel.

Apesar de sua influência e importância, Feuerbach tem contra ele alguns pontos que podem prejudicar que este seja amplamente conhecido em nossos dias fora dos meios acadêmicos onde o mesmo é estudado. Ocorre que este pensador se encontra historicamente entre outros que são muito conhecidos, primeiramente Hegel e depois a dupla Marx e Engels, isto somado ao fato de que sua filosofia apresenta uma forte crítica tanto ao pensamento filosófico de Hegel, como também a teologia cristã. Contrariando o conceito de “espírito”, de Hegel, entende que a coisa observada precede a razão e a ideia que dela temos, por sua vez, no campo da teologia, Feuerbach entende a mesma como sendo consequência da antropologia, ou seja, Deus é criação e projeção do humano e a religião com suas crenças e dogmas é algo da esfera do imaginário e não do real. Em seu trabalho argumenta que a religião se apresenta como um tipo particular de doença mental, na qual os conceitos do ideal humano são transformados em objeto, criando um ser supremo. Aqui temos um tipo de alienação do humano diante da religião.

Seu trabalho nos apresenta uma luta contra a opressão do humano, buscando que este obtenha uma vida digna e livre da pobreza, mas aqui na Terra dos vivos e não após a morte em um ilusório paraíso prometido pela religião. No pensamento desenvolvido por Feuerbach temos a presença de um materialismo que se opõe aos ideais metafísicos religiosos, apresentando as religiões e os deuses como criações humanas. Trata-se de um pensamento que nega a verdade da religião, dos dogmas e de qualquer idealismo. Ao priorizar este mundo, e não outro após a morte, e ao entender ser o humano o criador de Deus, e não o contrário, isto torna este autor materialista e ateísta.

Segundo o pensamento de Feuerbach, o ser é matéria e o pensamento é seu atributo. O humano é criado por meio da situação material na qual este vive. Primeiro temos a coisa material e depois a ideia desta mesma coisa, uma fruta qualquer (maçã, laranja, pera, etc.) antecede a ideia que temos dela. A natureza existe de modo independente e autônomo em relação ao pensamento humano. A natureza possui precedência ao “espírito” (“espírito” aqui no sentido dado por Hegel), sendo a natureza o fundamento não deduzível, imediato, não criado, presente na existência real, aquela que existe e consiste por si-mesma. Esta natureza é dada ao humano por meio de seus sentidos.

Precursor do materialismo filosófico, mas dentro de uma abordagem eminentemente antropológica e humanista, e não econômica ou com ambições científicas, tal como encontramos em Marx e Engels. Sua abordagem se mostra como antropocêntrica e na prática representa uma crítica ao idealismo então presente na filosofia, que nosso filósofo entendia ser excessivamente especulativo e longe das reais preocupações humanas.

Feuerbach é considerado por comentadores como sendo um dos fundadores da antropologia filosófica. Para este pensador, o ponto central de estudo da filosofia deveria ser a essência do humano e não as preocupações metafísicas tradicionais. Feuerbach entendia que o humano é um ser natural e sensível, totalmente vinculado ao mundo físico do qual provém. Sua essência é relacional, ou seja, realizada a partir de suas interações com outras pessoas. Não é possível, segundo Feuerbach, separar a consciência, seja individual ou coletiva, das condições materiais e das relações sociais.

Feuerbach entendia ser o sistema de Hegel uma total inversão da realidade, que colocava o pensamento como sendo primário e a matéria secundária, quando o que ocorre na realidade é que a matéria precede o pensamento. Entendia que caberia à filosofia abandonar o trabalho com abstrações metafísicas e se dedicar ao concreto: o humano, a natureza e as relações interpessoais. Todas as ideias e conceitos se originam no mundo sensível, sendo o mundo material a única realidade realmente existente. Propõe uma nova filosofia fundada na experiência humana e na natureza, no lugar do idealismo metafísico.

O humano em Feuerbach difere do humano em Hegel, pois, segundo Feuerbach o humano é um ser real e concreto e não abstrato, está inserido dentro da natureza, possui um corpo sensível e ideias próprias. Este humano cria seus deuses e religiões e ali projeta a sua própria natureza, sua corporeidade, sua sensibilidade, suas necessidades. Os atributos que o humano gostaria de ter, mas não tem, projeta em Deus, deste modo, este apresenta qualidades tais como: onisciência, ser ilimitado, onipotência, onipresente. O humano não é transcendente, eterno, imutável e santo, mas Deus o é. Os atributos que este humano possa querer para si, mas que se mostram impossíveis de serem atingidos, são projetos neste ser que é Deus.

Encontramos em seu pensamento uma busca de compreensão do fenômeno religioso por meio de uma antropologia humanista, deste modo, a religião passa a ser explicada a partir do próprio humano. Trata-se aqui de uma ruptura com a especulação filosófica anterior, em particular Hegel, e com a teologia racional cristã. Na religião cristã não é dado valor ao corpo humano, sendo o percurso da vida humana entendido somente no sentido de seu futuro voltado para a imortalidade após a morte, dada a alma humana. Há na base da religião cristã um certo desprezo ao corpo, que encontra suas origens no mundo das ideias de Platão, bem como, da ideia do corpo enquanto cárcere da alma. Feuerbach pensa o humano reintegrando-o a sua sensibilidade, buscando a totalidade humana.

Em seu pensamento, a natureza se mostra como sendo autônoma, sem a necessidade da existência de um Deus criador. Cabe ao espírito humano criar todos os atributos conferidos a Deus, o que conhecemos sobre Deus é fruto da cultura desenvolvida pela humanidade. Na verdade, o mundo religioso é a duplicação do mundo real. As diferenças entre os deuses são diferenças entre os humanos, isto porque deus é uma projeção dos humanos. Os animais são diferentes dos humanos por estes últimos possuírem uma consciência e é justamente esta consciência que permite aos humanos terem uma religião e aos animais, não. Deus é uma entidade criada pelo humano e todos os fenômenos tidos como sobrenaturais são, na verdade, naturais. Segundo seu pensamento, não foi Deus quem criou o homem a sua imagem e semelhança e sim o homem quem o fez em relação a Deus.

É a consciência que o humano possui de Deus que nos permite compreender a crença que o humano tem de Deus. Esta consciência que o humano possui de Deus é na verdade a consciência que este possui de si mesmo. Deus é uma criação humana que expressa seus sentimentos mais profundo e algumas características que em grau menor podemos encontrar já no humano. Esta concepção transforma a teologia em uma forma de antropologia, já que todos os discursos sobre atributos presentes em deus ou nos deuses, são não sobre deus, mas sobre o humano. Nestas projeções, temos presente e ampliadas as capacidades humanas e respostas as suas frustrações na vida. Já que a natureza é o que é, sendo indiferente aos sofrimentos e prazeres humanos, estes criaram deus para terem alguém que os escute e defenda, bem como, que explique o que não conseguem explicar. Deste modo, deus se apresenta como sendo o espelho do humano. A religião não é um acontecimento divino e sim meramente humano. Para melhor compreendermos o humano, basta conhecer em profundidade as religiões que estes professam, pois, ao invés do mistério divino ser revelado aos humanos, pela religião é justamente o mistério humano que nos é revelado por meio do divino, já que este é criação humana.

Esta visão sobre deus e a religião serem uma projeção humana, afeta também o modo como Feuerbach vê a moral, pois, invertendo a relação, pensa que enquanto a moral religiosa proclama o amor a Deus, a verdadeira moral deve destinar este amor ao humano em nome dele próprio. Feuerbach nega a imortalidade pessoal, entendendo ser esta crença um reflexo do medo da morte. A mortalidade humana é parte essencial de nossa existência.

Feuerbach não rejeita a religião individual, particular, de cada um, mas busca desmistifica-la por meio de sua crítica, apresentando Deus e tudo que está presente nas religiões, como criação e projeção humana. A religião atua de forma alienante, pois, o humano transfere suas melhores qualidades ou ambições para um ser externo e imaginário, enfraquecendo a si-próprio neste processo, pois, torna-se dependente de algo externo a si, em vez de reconhecer sua própria força e potencialidades, desenvolvendo-as. Estamos diante de uma antropologia filosófica, pois, para melhor entendermos o humano, cabe entender a religião, na qual encontraremos suas principais necessidades emocionais, seus desejos e aspirações.

Busca desenvolver em seus trabalhos uma ética humanista que enfatize o valor do amor e da solidariedade humana como base na qual seja construída a vida moral. No amor, segundo Feuerbach, encontramos a expressão máxima da essência humana, sendo o princípio ético central e a força que liga todas as pessoas. A moral não provém de legislações, sejam humanas ou divinas, mas de reconhecermos o outro como um igual. Sua ética, portanto, não possui uma base religiosa, sendo seus valores oriundos da experiência e necessidades humanas. Trata-se de uma ética secular onde a realização do humano se encontra na interação com outros humanos e a natureza.

 

ALGUMAS DE SUAS PRINCIPAIS OBRAS

 

1- Pensamentos sobre morte e imortalidade. Título original: Gedanken über Tod und Unsterblichkeit. Data de publicação: 1830.

Originalmente escrito sob pseudônimo. Apresenta a transição de Feuerbach em direção a um pensamento crítico em relação à teologia. Nesta obra rejeita a ideia da imortalidade pessoal, não havendo vida após a morte. A busca do sentido da vida deve se dar neste nosso mundo finito. Obra fundamental para entender a passagem em seu pensamento, do hegelianismo para a crítica da teologia.

2- Crítica da filosofia hegeliana. Título original: Kritik der Hegelschen Philosophie. Data de publicação: 1839.

Aqui temos o rompimento definitivo do pensamento de Feuerbach com o pensamento de Hegel. Uma crítica ao idealismo absoluto e o sistema hegeliano. A filosofia não deve se basear em abstrações metafísicas e sim em experiências humanas concretas.

3- A essência do cristianismo. Título original: Das Wesen des Christentums. Data de publicação: 1841.

Segundo o pensamento do autor, a religião se apresenta como sendo uma projeção dos desejos e aspirações humanas. Deus é uma criação humana que reflete as qualidades mais elevadas que a humanidade aspira a ter. Deus não existe de modo independente dos humanos que o criaram. Obra muito importante para entender em Feuerbach sua filosofia antropológica e a crítica da religião.

4- Princípios da filosofia do futuro. Título original: Grundsätze der Philosophie der Zukunft. Data de publicação: 1843.

Nesta obra temos uma síntese da filosofia antropológica desenvolvida por Feuerbach. Propõe substituir a metafísica idealista por uma filosofia que seja pautada na experiência sensível e nas reais necessidades humanas. Esta obra é decisiva no contexto do afastamento deste filósofo da corrente idealista, sendo um resumo de seu projeto filosófico, dando ênfase na antropologia filosófica e na superação do idealismo.

5- A essência da religião. Título original: Das Wesen der Religion. Data de publicação: 1846.

Esta obra se apresenta como sendo um complemento a sua outra obra, “A essência do cristianismo”. Nesta obra a religião é tratada como sendo um fenômeno antropológico e o autor argumenta que todas as religiões refletem a projeção das condições humanas.

6- Teogonia. Título original: Theogonie. Data de publicação: 1857.

Trata-se da última grande obra escrita por Feuerbach, na qual retorna e sistematiza suas ideias sobre a origem e natureza dos deuses nas culturas humanas, priorizando papel antropológico presente na religião.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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