Por: Silvério da Costa Oliveira.
Isaac Newton
(1643-1727) já começa com uma pequena polêmica quanto à data de seu nascimento,
pois, o papa Gregório XIII havia patrocinado diversos cientistas, matemáticos e
astrônomos para corrigir o calendário então vigente para que este se adequasse
ao começo e fim das estações climáticas do ano, finalmente, em 1582 é adotado
por intermédio e influência do papa o assim chamado calendário gregoriano que
viria a substituir o então vigente calendário juliano. Todos os países
católicos adotaram o novo calendário, mas os países que tinham outra religião
oficial não o fizeram de imediato, tal foi o caso na Inglaterra, que somente o
adotou em 1752 conjuntamente com suas colônias. Deste modo, pelo antigo
calendário juliano, Newton nasceu na data de 25 de dezembro de 1642 e pelo
atual calendário gregoriano ele nasceu em 4 de janeiro de 1643.
É comum haver
uma mistura dos dois calendários quando algum comentarista quer aproximar
Newton de Galileu, pois, tomando por base o calendário juliano o ano de
nascimento de Newton foi o ano da morte de Galileu tendo este por base o
calendário gregoriano.
A mudança
introduziu uma variação de cerca de 10 dias, pois o antigo calendário juliano,
instituído por Júlio César em 46 a. C. tinha cerca de 11 minutos a menos em um
ano, o que com o passar dos séculos gerou uma defasagem considerável que teve
de ser corrigida. De qualquer modo, Newton nasceu e morreu na Inglaterra, Reino
Unido, vivendo 84 anos. Em verdade, nunca viajou para fora de seu país. Pelo
calendário juliano, então vigente, nasceu em 25 de dezembro de 1642 e faleceu
em 20 de março de 1726. Ou seja, na data de seu nascimento na Inglaterra era o
dia de Natal. Já pelo novo calendário gregoriano, ainda vigente hoje, nasceu em
4 de janeiro de 1643 e faleceu na data de 31 de março de 1727. Apesar da
diferença ser de cerca de 10 dias, não está errado quando escrevo que faleceu
em 1726 e não 1727 pelo calendário então vigente na Inglaterra. Ocorre que
Júlio César colocou o início do ano em 1º de janeiro, mas durante a Idade Média
a Igreja Católica mudou para 25 de março, data do equinócio da primavera e data
na qual antes de Júlio César e seu calendário juliano era o começo do novo ano.
Com o novo calendário gregoriano, retornou-se a data de 1º de janeiro para
início do ano novo, mas na Inglaterra quando do falecimento de Newton ainda
predominava o modelo medieval e o ano de 1727 só começaria em 25 de março,
logo, faltavam ainda quatro dias para o ano novo.
Newton foi
físico, matemático, astrônomo, teólogo, alquimista. Entrou para a história, no
entanto, somente como um matemático e físico cuja mente brilhante havia
proposto leis e explicações para o movimento dos corpos e também para o
movimento elíptico das órbitas dos planetas, pois, antes dele Kepler havia
demonstrado por meio de observações consistentes feitas por Tycho Brahe o
movimento dos planetas, mas coube a Newton apresentar uma explicação matemática
convincente do fenômeno conjuntamente com a teoria da gravitação universal,
pela qual um corpo atrai e é atraído por outro corpo em função da massa de
ambos. Newton também é conhecido pela sua ótica e teoria da luz. O Newton
alquimista e teólogo foi até recentemente ignorado propositalmente pela
história, no entanto, com certeza Newton dedicou mais horas de sua vida a
teologia interpretando passagens bíblicas e mesmo fazendo uma previsão para
2060 sobre o fim dos dias, ou mesmo em experimentos alquímicos do que na nova
ciência da física matemática que este ajudou a criar. Aliás, a ideia de uma
força atuando a distância entre corpos recebeu uma crítica de Leibniz de que
teria a ver com o ocultismo, pois eram em doutrinas ali existentes que podia se
observar este conceito. Bem provavelmente Leibniz estava certo com relação à
origem da ideia da gravidade, o local de sua inspiração.
Penso ser bem
provável que a história da maçã tenha sua origem aí, como uma tentativa de
esconder sua relação íntima com doutrinas e estudos sobre ocultismo e alquimia.
Popularmente Newton estava deitado sob uma macieira quando uma maçã caiu em sua
cabeça e este teve a inspiração de estudar o porquê da maçã cair e daí surgiu
seu trabalho sobre a lei da gravidade, no entanto, a história original não é
muito diferente. É provável que a origem da versão sobre a maçã caindo na
cabeça de Newton se deva ao marido da sobrinha de Newton, o parlamentar John
Conduitt, quando este escreveu um memorial a Newton pela ocasião de seu
falecimento e nele incluiu este detalhe pitoresco.
Em vários
relatos de pessoas próximas a Newton temos afirmações no tocante a Newton
relatar que sua inspiração decorreu deste observar uma maçã caindo, e não desta
cair em sua cabeça, e até hoje supostas macieiras na Inglaterra são preservadas
e reverenciadas como sendo a fatídica macieira cuja maçã inspirou a Newton
propor a lei da gravidade. Temos até mudas destas macieiras que foram levadas para
outros lugares onde passou-se a ter por meio desta muda, também a macieira cuja
queda de uma maça a tornou imortal.
Mas que motivo
poderia ter Newton de espalhar a história de que sua inspiração se deveu à
observação da queda de uma maçã, a não ser fazer com que não se percebesse a
verdadeira origem de sua inspiração, que estaria no ocultismo e na alquimia.
Lembremos que a alquimia era atividade ilícita na Inglaterra naquela época,
pois o governo temia que aquele que descobrisse como transformar metais comuns
em ouro poderia arruinar o sistema financeiro do país. As penas eram severas e
além disto, o trabalho em matemática e física poderia ser comprometido e
maculado se associado a práticas outras, tidas dentro do arcabouço da magia e
ocultismo.
A rigor, Newton
pode ser considerado um herético pelo prisma da sociedade cristã inglesa, onde
temos a Igreja Anglicana, pois, Newton se vincula a uma doutrina Ariana pela
qual há a negação da santíssima Trindade, sendo Deus considerado único e Jesus
somente um profeta. Tal posicionamento religioso, se divulgado amplamente,
poderia ter consequências desastrosas para a vida de Newton na época e local no
qual vivia.
Seus trabalhos
trataram do movimento dos planetas, afirmando a veracidade do modelo
heliocêntrico, mas mudando o centro para o ponto imóvel da gravidade de todos
os corpos no sistema solar. Tratou da forma dos planetas, os quais não seriam
uma esfera perfeita. Estudou o percurso dos cometas, também as marés e como as
mesmas eram afetadas pela massa gravitacional da lua. Tem trabalhos específicos
sobre a luz, a refração, as propriedades das cores. Cabe a ele estudos sobre a
luz passando por um prisma e por este modo demonstrando que a luz branca é
formada por diversas cores, do mesmo modo que o arco-íris que vemos nos céus.
Boa parte de sua
obra foi organizada em manuscritos no período de isolamento nos anos de 1665 e
1666, pois, em virtude de uma epidemia de peste bubônica que assolava a
Inglaterra, a Universidade de Cambridge, onde estava na condição de bolsista
desde 1664 (ano em que ganhou a bolsa por 4 anos. Em 1665 formara-se em
Humanidades), foi fechada e todos (professores e alunos) retornaram para suas
casas até o fim da epidemia. Conta-se que a história da maçã, se verídica ou
não, teria se passado nesta oportunidade. Claro está que Newton já vinha há
alguns anos fazendo leituras e anotações e desenvolvendo seu pensamento em
direção a problemas que vislumbrava em algumas áreas de estudo, poder ficar a
sós no campo foi somente uma oportunidade para reorganizar suas ideias. Em 1667
é aprovado no concurso em Cambridge para professor, tornando-se professor do
Trinity College. Em 1669 substitui Isaac Barrow, que tendo renunciado a cátedra
indicara Newton, na cátedra lucasiana como professor de matemática, onde passou
a dar aulas sobre ótica.
Também o
aperfeiçoamento do telescópio, criando o que se chama hoje de telescópio de
Newton, um telescópio refletor (1668). Em 1671 Newton enviou um exemplar de seu
telescópio a Royal Society e também um trabalho inicial sobre luz e cores,
sendo eleito membro da sociedade no ano seguinte, em 1672. A divulgação de sua
teoria corpuscular da luz levantou muita polêmica, em particular com Hook,
presidente da Royal Society. Newton respondeu as críticas recebidas e a controvérsia
durou de 1672 a 1676, quando Newton resolveu se afastar e nada publicar por
cerca de 10 anos de sua vida.
Somente em 1687,
em decorrência da insistência de Halley, vem a publicar seu maior livro, o
“Princípios de matemática”, contendo parte do trabalho e ideias elaboradas
durante o isolamento nos anos de 1665 e 1666 e mantidas guardadas somente para
Newton e longe de olhares curiosos. Edmond Halley havia visitado Newton em
agosto de 1684 para lhe perguntar sua opinião sobre o movimento em elipse dos
planetas, estamos aqui diante da lei da atração, que varia de acordo com o
inverso do quadrado da distância. Nesta ocasião Newton havia dito a Halley que
já havia se ocupado do assunto anos atrás e o resolvido, tendo as notas em
algum lugar, mas que não sabia exatamente aonde e quando as encontrasse as
mandaria para ele, o que de fato pouco depois ocorreu e maravilhou a Halley.
Em janeiro de
1689, representando a Universidade de Cambridge, foi eleito membro do
parlamento e no mesmo ano de 1689 teve um quadro de sua pessoa feito pelo
pintor e principal artista da época, Sir Godfrey Kneller.
Diga-se de
passagem, que por motivos de dificuldades financeiras a universidade de
Cambridge e o Trinity College não pagaram salários a seus professores em 1688,
1689 e 1690, o que prejudicou a Newton e o fez buscar outras fontes de renda
para sobreviver. Em parte isto deve ter motivado a famosa crise nervosa que
Newton teve no ano de 1693 e na qual se indispôs com conhecidos e amigos,
dentre os quais John Locke. Esta crise nervosa teve também influência do
afastamento de seu amigo Fatio de Duillier, matemático, que residia em Londres
e teve de retornar para sua terra natal na Suíça, apesar dos protestos de
Newton. Há também quem defenda que o manuseio com substâncias químicas durante
experimentos em alquimia o teria envenenado, proporcionando esta crise. Seja
como for, talvez não haja uma origem única para a relatada crise nervosa de
Newton no ano de 1693.
No ano de 1696 é
nomeado superintendente da Casa da Moeda da Inglaterra, em Londres, e em 1699 é
nomeado diretor da casa da moeda, neste momento ele renuncia à cátedra
lucasiana e ao cargo de professor do Trinitiy College.
Em março de 1703
seu rival e presidente da Royal Society, Robert Hooke, vem a falecer e Newton
se articula com êxito para ser eleito presidente, cargo que ocupará até seu
falecimento, tendo sido eleito a primeira vez em novembro de 1703 e
sucessivamente desde então, acumulando a função com o cargo de diretor da casa
da moeda. Foi feito cavaleiro pela rainha Ana em abril de 1705. Newton foi o
segundo cientista a receber o título de “Sir”, anteriormente esta honraria já
havia sido dada a Sir Francis Bacon.
Seu livro “Philosophiae
naturalis principia mathematica” (Princípios matemáticos da filosofia natural),
de 1687, traz importantes contribuições no tocante à mecânica clássica. Nele
encontramos a formulação das três leis de Newton E também sua teoria sobre a
gravidade universal. O livro com cerca de mil páginas foi publicado em três
volumes e financiado por Edmond Halley. Com certeza sua obra prima e um de seus
principais trabalhos.
Em seu livro “Opticks”
(Ótica), de 1704, defende a natureza corpuscular da luz e também apresenta
estudo minucioso sobre os fenômenos da refração, reflexão e dispersão da luz.
Newton deixou a publicação deste estudo para após o falecimento de seu rival
neste tema, Robert Hook, o qual já o havia criticado anteriormente e defendia a
natureza não corpuscular e sim ondulatória da luz.
Acrescente-se a
polêmica sobre o cálculo diferencial e integral que envolveu Newton e Leibniz e
os partidários de ambos sobre qual dos dois teria descoberto o cálculo e se o
outro seria um plagiador. Em verdade, ambos descobriram de modo independente e simultâneo,
sem conhecerem o que o outro estava elaborando a mesma época. Newton o chamava
cálculo das fluxões e o nome que perdurou na história, bem como a notação para
o cálculo, foi o dado por Leibniz.
Newton é
conhecido pelas suas três leis e por tal é recordado e estudado ainda hoje no
sistema educacional dos mais distintos países. É comum adolescentes e adultos
jovens terem contato com estas leis e com diversos exercícios visando o emprego
das mesmas durante seus estudos básicos ou, para alguns, na continuação mais
avançada de seus estudos nas respectivas profissões escolhidas. Portanto e em
virtude disto e da importância das mesmas para o entendimento da mecânica
clássica de Newton, iremos aqui e agora apresenta-las de forma suscinta.
Primeira lei de
Newton (Princípio de inércia): Todo corpo tende a permanecer em estado de
repouso ou de movimento retilíneo uniforme (MRU) até que seja forçado a mudar
seu estado em virtude de alguma força aplicada sobre o mesmo. Se a força
resultante é nula, a velocidade é constante. Por força resultante entendemos o
vetor soma de todas as forças que agem sobre um dado corpo. Para que um corpo
que se encontra em movimento ou para um corpo que se encontre em repouso mude
seu estado é preciso que da soma das forças que nele agem a resultante não seja
nula.
Segunda lei de
Newton (Princípio fundamental da dinâmica): A mudança de movimento de um corpo
é proporcional à força motora nele impressa e é produzida em direção a linha
reta na qual a força foi aplicada. Ou dito de outra forma, havendo uma força
externa que atue sobre o corpo, a aceleração dela recebida é diretamente
proporcional à sua intensidade. Ou também, a força resultante que atua sobre
determinado corpo é igual ao produto da massa do corpo pela aceleração.
Terceira lei de
Newton (Princípio da ação e reação): A toda ação segue-se uma reação oposta e
de igual intensidade. As ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são
sempre iguais e direcionadas em sentidos opostos.F → = d p → d t = d ( m v
→ ) d t {\displaystyle {\vec {F}}={\frac {\mathrm {d} {\vec {p}}}{\mathrm {d}
t}}={\frac {\mathrm {d} (m{\vec {v}})}{\mathrm {d} t}}}
Lei da
gravitação universal: Dois corpos se atraem com força proporcional as suas
respectivas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que
separa seus centros de gravidade.
Newton afirma
“Non fingo hypotheses”, visando se contrapor a física cartesiana. Segundo
Newton, mesmo se a física cartesiana se mostrasse apropriada em certas circunstâncias,
suas afirmações poderiam ser verossímeis, mas longe de deduzíveis dos próprios
fenômenos. No entanto, claro está que o que Newton fez o tempo todo foram
hipóteses, ou seja, apresentar soluções provisórias a um problema, podendo
conferir com os dados coletados e testar experimentalmente com o auxílio do
cálculo matemático.
Newton é deveras
importante para a evolução da ciência, tendo um papel importante na história da
ciência moderna e proporcionando contribuições realmente significativas para a
física e a matemática (binômio de Newton e cálculo das fluxões). Na época em
que viveu a filosofia ainda não estava totalmente separada da teologia e da
ciência, de modo que para sua época ele deve ser visto como um filósofo natural
e não como um cientista como entendemos hoje o termo. Apesar de sua enorme
contribuição à ciência moderna, não cabe descartar seu interesse e trabalho em
outras áreas, tais como a alquimia, teologia e outras disciplinas que podem ser
classificadas hoje como estando dentro de um conjunto tido como referente ao
ocultismo. Aliás, na época em que viveu era comum aos filósofos naturais
estarem também envolvidos a estes outros campos do saber, pois, tais áreas
também poderiam eventualmente contribuir para o aumento do saber.
Newton há de
influenciar profundamente não somente o desenvolvimento da física, matemática e
astronomia dentre outros campos das ciências então em desenvolvimento, mas
também há de exercer uma forte influência sobre a filosofia, não somente o
Empirismo britânico, mas em particular ao Iluminismo na França, pois, caberá
aos filósofos iluministas verem em Newton e mais alguns poucos estudiosos, os
verdadeiros guias e mestres de uma filosofia natural que poderia explicar não
somente a realidade física circundante, mas também outros campos do saber,
dentre os quais o social. Deste modo, os filósofos iluministas simplesmente
descartavam outras estruturas teóricas presentes em diversos campos do saber
humano.
Se a revolução
científica começa com Copérnico, será com Newton que o então advento da ciência
moderna chega ao seu ápice. As contribuições de Newton tendem a explicar uma
grande quantidade de fenômenos, terrestres e celestes, a partir de um pequeno
número de elementos.
Suas teorias
apoiadas em sólida demonstração matemática abriram espaço para um outro
entendimento do mundo e vários outros filósofos buscaram adotar em suas
respectivas áreas de interesse, a exatidão e demonstração empírica matemática
que Newton havia dado à física.
Os mestres do
século XVIII são, indubitavelmente, Locke e Newton e sua influência irá
perdurar bem além de suas vidas, perpassando toda a Europa e mesmo a América.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa
Oliveira.
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