Por: Silvério da Costa Oliveira.
Escola Megárica ou de Mégara – Euclides de Mégara
A Escola Megárica ou de Mégara foi fundada por Euclides de Mégara (444/435-369/365 a.C.), discípulo de Sócrates. A tradição nos informa que Euclides teria escrito seis diálogos, mas todos se perderam no curso da história, não chegando aos nossos dias. O pouco que conhecemos provém basicamente de Diógenes Laércio.
Morador da cidade de Mégara e ouvinte assíduo das aulas de Sócrates em Atenas (cerca de mais ou menos 40 km), conta-nos a tradição que quando Atenas adotou uma lei que proibia sob pena de morte a presença de cidadãos da cidade de Mégara em Atenas, Euclides saía a noite vestido de mulher e com um lenço cobrindo-lhe a face, percorria a distância entre as duas cidades para ouvir as lições do mestre, retornando pela manhã a sua cidade natal. A tradição também nos conta que após a morte de Sócrates, e temendo pela própria vida, os discípulos de Sócrates que residiam em Atenas buscaram refúgio e abrigo na casa de Euclides, na cidade de Mégara.
No decorrer da Idade Média foi comum o erro de confundir Euclides de Mégara com outro Euclides, o matemático Euclides de Alexandria (323-286 a.C.), este último autor do livro “Elementos”, de geometria e matemática.
Nesta escola temos uma abordagem que propõe juntar a ética presente no filósofo Sócrates com o monismo presente nos filósofos pré-socráticos, no caso específico dos eleatas (Parmênides, Zenão e Melisso). Euclides traz dos eleatas a ideia do “um”, do monismo presente nesta escola, e de Sócrates a ideia de “Bem”, fazendo uma fusão entre ambas, deste modo, só haveria o bem e não o seu oposto. A unidade se daria no Bem. Daí a ênfase dada ao bem moral e a decisão da pessoa em alcança-lo. Euclides considera que o bem é uno e não múltiplo e que tudo que possa se contradizer ao bem é ilusório e inexistente.
O “um” presente no “ser” de Parmênides se iguala ao Bem em Sócrates, de modo a Euclides e sua escola afirmarem só haver um único bem, conhecido por vários nomes: sabedoria, razão, deus, mente e outros. Identifica o ser uno de Parmênides ao bem e também a verdade, a sabedoria, a inteligência, todos nomes distintos para uma mesma coisa. Negava a pluralidade, a mudança e o movimento das coisas. A verdade não pode ser conhecida pelos sentidos, somente pela razão.
Dois princípios básicos se encontram na escola megárica e são provenientes dos eleatas: 1- não existe o múltiplo, seja no mundo físico ou seja na formulação do mundo das ideias de Platão, 2- não existe o movimento e o devir.
Euclides e sua escola fazem uso da lógica e dialética tomando como referência a Zenão e o método dialético negativo, onde se propõe um raciocínio pautado não na refutação das premissas do adversário e sim na refutação da conclusão, mostrando que a suposta conclusão levaria a absurdos, redução ao absurdo. Os integrantes desta escola se dedicaram ao estudo da dialética, enigmas lógicos e paradoxos (como o paradoxo do mentiroso), vindo a influenciar o desenvolvimento da lógica estoica (lógica proposicional).
Devido às preocupações desta escola com a lógica, se dedicaram ao desenvolvimento e aplicação da dialética, motivo pelo qual por vezes são chamados de erísticos (aqueles que praticam disputas; disputantes).
Em suma, podemos dizer que Euclides e sua escola tinham por base duvidar do testemunho obtido por meio dos sentidos (percepção) no tocante aos mesmos corresponderem a uma dada realidade objetiva, admitiam uma unidade absoluta ao estilo de Parmênides e Zenão e a igualavam ao bem, tendo este último conceito a partir da ideia de bem presente na filosofia de Sócrates. Do mesmo modo que os filósofos eleatas, consideram os sentidos enganosos, confiando exclusivamente no uso da razão e negando o movimento e mudança, bem como a pluralidade, afirmando a imutabilidade de todas as coisas. Também presente nesta escola temos os conceitos de liberdade, autocontrole e autossuficiência, que os aproximam dos cínicos.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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