Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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terça-feira, 25 de outubro de 2022

Aristóteles

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Aristóteles

 

 

"Minha Academia se compõe de duas partes: o corpo dos alunos e o cérebro de Aristóteles".

Frase creditada a Platão.

 

Ponto 1- Vida, ideias, biografia

Aristóteles (384/383-322 a.C.), é o segundo filho de Nicômaco, amigo e médico pessoal do rei macedônio Amintas II, pai de Filipe II, por sua vez, pai de Alexandre o Grande. Sua mãe se chama Féstis, da cidade de Cálcide, lugar no qual Aristóteles irá se refugiar ao final de sua vida. Segundo alguns comentadores, o interesse demonstrado por Aristóteles, em sua obra, por biologia e fisiologia, teria sua origem nas atividades médicas exercidas por sua família, bem tradicional nesta área, não somente seu pai e seu tio eram médicos, como também a atividade médica exercida pela família de Aristóteles remonta há dez gerações. Seu pai atuou como médico, bem como várias gerações de sua família.

Aristóteles era filho de uma tradicional família da Macedônia. Nasceu em Estagira, na Macedônia, de onde se originou um dos nomes pelo qual é conhecido, o estagirita. Aristóteles teve diversos interesses no decorrer de sua vida, desenvolvendo a todos com enorme profundidade, por tal, podemos considera-lo um polímata.


 

Aristóteles perdeu seus pais quando ainda muito jovem, sendo criado por Próxeno de Atarnea, sendo este tutor que o enviou no ano de 367, por volta de seus 17 anos de idade, à cidade de Atenas para dar prosseguimento aos seus estudos, onde se torna discípulo de Platão e lá permanece por cerca de 20 anos. Alguns comentadores afirmam que Platão o chamava de “o leitor”, em virtude de seu intenso interesse pelos estudos, leitura e reflexão, durante sua estada na Academia.

Frequentou a Academia até a morte de seu mestre, Platão, logo após sai de Atenas. Há quem comente que Aristóteles ambicionava assumir o lugar de Platão na Academia após a morte deste, mas já que não era ateniense isto lhe foi negado.

No período em que esteve fora da cidade atuou como tutor do filho de Filipe, da Macedônia, assumindo o cargo de tutor de Alexandre em 343 a.C., então com 13 anos de idade, e ficando como tal até a coroação de Alexandre, após a morte de Filipe, em 335 a.C., quando então Aristóteles resolve retornar para Atenas e lá fundar sua Escola de filosofia, o Liceu.

Teve dois filhos: Pítias e Nicômaco. Teve duas esposas, a primeira, Pítias, com quem teve uma filha de mesmo nome; a segunda, depois que sua primeira esposa faleceu, de nome Hérpilis, com quem teve seu segundo filho.

Sua Escola se chamou Liceu por estar situada no local consagrado ao deus Apolo Lício. Pelo fato de Aristóteles ter o hábito de ministrar suas aulas passeando, sua escola ficou conhecida como peripatética (peripatos significa caminho, em grego).

No Liceu, Aristóteles ministrava aulas pela manhã e no final da tarde. As aulas dadas durante a manhã eram destinadas aos alunos mais avançados. Nestas aulas Aristóteles caminhava por entre as árvores com seus alunos enquanto tratava de questões filosóficas. Tais aulas passaram a ser conhecidas pelos estudiosos como acromáticas ou esotéricas. No final da tarde as aulas eram destinadas a um público maior e mais popular, não formado por filósofos ou discípulos da escola aristotélica, estas aulas aqui ministradas passaram a ser conhecidas pelos estudiosos como sendo exotéricas. Entende-se que os temas tratados nas aulas esotéricas correspondiam à lógica, física e filosofia primeira (metafísica), já os temas tratados à tarde, nas aulas exotéricas, corresponderiam as disciplinas retórica, sofística e política.

Aristóteles atua como crítico da obra de Platão ao negar a existência de um mundo das ideias separado deste nosso mundo sensível, em seu lugar propõe que tudo que há é formado por matéria e forma. Deste modo, rejeita o dualismo platônico entre mundo das ideias e mundo sensível.

Nossa razão é capaz de separar a matéria que particulariza um indivíduo da forma presente na espécie. Todos os indivíduos de uma mesma espécie teriam uma mesma forma, mas seriam diferentes no tocante à matéria. Todo o conhecimento humano principia pelos sentidos, nossas sensações ou percepções, de modo que não há coisa alguma no intelecto que antes não tenha passado pelos nossos sentidos. Ao contrário de Platão e outros filósofos, não entende ser a sensação a origem do erro ou do engano.

Há quem entenda que com Aristóteles passamos a ter um terceiro período filosófico na Grécia antiga. O primeiro período se daria com os filósofos pré-socráticos, preocupados com o estudo da “physis” ou natureza e seria o período cosmológico. O segundo período se daria com Sócrates, os socráticos e Platão em particular, onde a ênfase estaria no estudo do humano, seria o período antropológico. Já com Aristóteles teríamos o período sistemático, onde se buscaria tudo organizar e delimitar em filosofia e ciências.

Desenvolveu no decorrer de sua vida, uma obra filosófica na qual tratou sobre praticamente todos os assuntos existentes, como a geometria, física, metafísica, botânica, zoologia, astronomia, medicina, psicologia, ética, drama, poesia, retórica, matemática e, em particular, a lógica.

Veio a falecer na cidade de Eubeia, na Grécia. Quanto a sua morte, há comentadores que afirmam ter ele se suicidado durante um estado de depressão ocasionado pela saída de Atenas ou por não entender um fato relacionado às marés e, neste caso, teria ingerido uma solução a base de cicuta, uma planta venenosa, ou saltado de um penhasco ao mar. No entanto, levando-se em conta o conteúdo dos escritos de Aristóteles e suas opiniões sobre a vida e a morte, é bem mais provável que ele tenha morrido de causas naturais em função de sua idade avançada e, neste tocante, temos comentadores que não somente endossam tal possibilidade, como também acrescentam uma possível complicação estomacal ou infecção no sistema digestivo, doença que o teria levado a morte. Seja como for, teve tempo para fazer um testamento onde lembrou de todos que estavam sob sua guarda, inclusive seus escravos, os quais libertou.

 

Ponto 2- Obras e fontes

A história das obras de Aristóteles após sua morte, nos lembra um romance de ação e mistério. A biblioteca de Aristóteles, incluindo os manuscritos dos seus próprios trabalhos, foi legada a Teofrasto, que o sucedeu no Liceu. Teofrasto deixou esse legado ao seu herdeiro Neleu, natural da cidade Escepsis, situada na Tróade, que levou as obras para sua cidade. Quando Neleu faleceu os manuscritos foram escondidos, enterrados ou guardados em uma adega por seus herdeiros, e assim permaneceram durante cerca de dois séculos. Assim permaneceu a obra de Aristóteles até ser comprada pelo bibliófilo Apelicon, de Teos, por volta de 90 a.C.. Apelicon levou as obras para a cidade de Atenas, mas em 86 a.C., Sila invade a cidade e confisca os livros, transportando-os para a cidade de Roma, onde ficaram armazenados em uma biblioteca pública, mas sem acesso ao público em geral, até serem editados por Andrônico de Rodes, em torno do ano 40 a.C. No tocante à transmissão dos escritos de Aristóteles até sua edição por Andrônico, as fontes históricas se resumem a duas passagens: uma de Estrabão e a outra de Plutarco.

No tocante à obra de Aristóteles, entende-se hoje, em virtude de várias referências históricas já presentes na Antiguidade, que sua obra era muito maior do que os livros que nos chegaram, tendo parte considerável da mesma sido perdida no transcurso da história. Há referências históricas de que Aristóteles escrevia muito bem, contrastando com a forma mais seca hoje encontrada em seus escritos, o que leva alguns comentadores a entenderem que dentre suas obras perdidas encontrariam diálogos estilisticamente bem construídos e se remontando à época em que este ainda frequentava a Academia. Parece que houve em seus escritos uma evolução do modo de pensar de seu mestre, Platão, para o pensamento independente apresentado por Aristóteles. Dos trabalhos que nos chegaram, comentadores no decorrer da história debatem sobre a autenticidade e cronologia dos mesmos, não havendo um consenso pleno quanto a isto.

 

Das obras que nos chegaram, temos (títulos em latim):

 

Tratados de Lógica:

1- Categorias

2- De Interpretatione

3- Analytica Priora, 2 livros

4- Analytica Posteriora, 2 livros

5- Topica, 8 livros

6- De Sophisticis Elenchis

 

Tratados metafísicos

1- Metaphysica, inicialmente intitulado por Aristóteles de Prote Philosophia (Primeira Filosofia ou Filosofia primeira), constituída por 14 livros.

 

Tratados de Física:

1- Physica, 8 livros

2- De Coelo, 4 livros

3- Meteorologica, 4 livros

 

Tratados de Biologia e Zoologia:

1- Historiae animalium, 9 livros

2- De Generation et Corruption, 2 livros

3- De Generatione Animallium, 5 livros

4- De Partibus Animalium, 4 livros

 

Tratados de Antropologia e Psicologia:

1- De Anima

2- De Sensu et Sensibili

3- De Memoria et Reminiscentia

4- De Vita et Morte

5- De Longitudine et Brevitate vitae

 

Tratados de Política e Ética:

1- Ethica Nichomachea

2- Politica, 8 livros

 

Tratados de Poesia e Retórica:

1- Poética

2- Retórica

 

Tradicionalmente os escritos do filósofo Aristóteles são divididos em exotéricos e esotéricos, ou acromáticos. Os exotéricos foram escritos em formato de diálogo, publicados e destinados a um público maior. Os esotéricos, ou acromáticos, não foram destinados a publicação, sendo compostos por notas e apontamentos de aulas destinadas aos discípulos da Escola. Hoje em dia, fora alguns poucos fragmentos e alguns títulos, nada nos restou dos escritos exotéricos, todos perdidos no decorrer da história.

Comentadores afirmam que podemos ter hoje livros/obras atribuídas a Aristóteles, mas que esta obra que nos chegou talvez seja somente a terça parte do que este produziu e que tais obras que nos chegaram não eram destinadas a publicação e sim notas e apontamentos destinados ao uso em aulas. Toda a obra destinada ao público maior foi perdida no correr da história. A ordem de apresentação e organização adotada desde o século I a.C., quando Andrônico de Rodes editou e publicou as obras de Aristóteles é, respectivamente: 1- lógica, 2- física, 3- metafísica, 4- ética e política, 5- poética e retórica.

 

1- Lógica

Sobre Lógica ou “Organon”: "Sobre a Interpretação", "Categorias", "Analíticos" (Primeiros e Segundos), "Tópicos", "Refutações sofísticas".

2- Física

Filosofia da Natureza ou física: "Sobre o Céu", "Sobre os Meteoros", Sobre a Geração e a Corrupção, 8 livros de "Lições de Física".

Obras psicológicas e biológicas: abrangem Sobre a Alma, além de pequenos textos reunidos sobre o título de Parva Naturalia e História dos Animais.

3- Metafísica

"Metafísica", ou “filosofia primeira”. Estes escritos chamados por Aristóteles de filosofia prima ou primeira, foram reunidos e renomeados mais tarde por Andrônico de Rodes como “Metafísica” (literalmente "depois da física) e são formados por um total de 14 livros.

4- Ética e política

Filosofia Prática ou obras ético-políticas: compreendem a Ética a Eudemo (organizados por Eudemo, discípulo de Aristóteles), a Ética a Nicómaco (organizada por Nicómaco, filho de Aristóteles), a Grande Moral (de autoria duvidosa), a Política e a Constituição de Atenas.

5- Poética e retórica

Poéticas ou obras sobre a linguagem e a estética: incluem a Retórica e Poética.

 

Ponto 3- A lógica e silogismo

Enquanto o principal instrumento filosófico de pesquisa e busca da verdade para Platão e a Academia se dá por meio da dialética, para Aristóteles não, pois este não via com bons olhos o uso da dialética como algo adequado para uma proveitosa investigação filosófica e sim como algo que poderia aproximar a filosofia da sofística. Para Aristóteles o instrumento de pesquisa e busca da verdade em filosofia se dá por meio da lógica, que este organiza no seu “organon”, que significa "instrumento" ou “ferramenta”. O nome “organon” não foi dado por Aristóteles e sim pela tradição posterior, aliás, nem mesmo a seleção e organização dos textos que compõe o “organon” foi feita por Aristóteles, isto se deve à tradição e como esta editou e organizou a obra deste filósofo. O “organon” abre o “Corpus aristotelicum”, sendo composto pelos seguintes textos: Categorias, Da Interpretação, Analíticos Anteriores, Analíticos Posteriores, Tópicos e Refutações Sofísticas.

O uso do termo “lógica”, também, portanto, não começa com Aristóteles e sim muito mais tardiamente, provavelmente no século XV com comentadores latinos, apesar de se poder argumentar que quando Andrônico de Rodes as organizou nesta ordem, introduzindo as obras de Aristóteles com os tratados sobre lógica, já poderia ter uma visão das mesmas como um instrumento para o estudo de toda a obra e, que mesmo no século VI d.C., encontramos já referência a serem tais obras “ferramentas”, para o estudo da obra de Aristóteles. Quanto a Aristóteles, ele chamava o conjunto destes estudos por “Analítica”, referindo-se a análise do raciocínio das figuras presentes nos silogismos.

Aristóteles aborda na metafísica o estudo do ser e apresenta três princípios fundamentais para sustentar a realidade e em quatro pilares fundamentais para a existência das coisas. Os três princípios são, respectivamente: 1- de identidade, 2- de não contradição, e 3- do terceiro excluído. Já os quatro pilares são as quatro causas propostas por Aristóteles, a saber:  1- material, 2- formal, 3- eficiente ou motora, e 4- final.

Princípio da identidade, que diz que algo é idêntico a si próprio, ou seja, “A” é igual a “A”.

Princípio da não contradição, que diz que não é possível que a mesma coisa convenha e não convenha a um mesmo objeto em um mesmo tempo e relação, ou seja, “A” não é “não A”.

Princípio do terceiro excluído que diz que entre a afirmação e a negação de algo não cabe um termo médio, ou seja, “A” ou é “B” ou é “não B”

 

Para Aristóteles a forma típica de raciocínio é o silogismo.

Lógica, do grego “logiké”, se vincula a palavra “logos”, que significa: razão, palavra, discurso, estudo. Deste modo, o termo “lógica” está relacionado com a forma de raciocinar e o modo correto de o fazer. A lógica tem como objetivo o estudo do pensamento, o estudo da forma correta de pensar. E em Aristóteles este objetivo se concretiza no uso do silogismo, do grego, “syllogismós”, e tendo como significado ser uma conexão de ideias e raciocínios que seguem uma dedução. O silogismo em Aristóteles é formado por três frases, as duas primeiras são premissas, a maior e a menor, e a última é a conclusão.

Silogismo: trata-se de um raciocínio baseado em premissas que permitem uma dada conclusão. Se as premissas são verdadeiras, então a conclusão também é verdadeira. Como temos no exemplo: A é B, C é A, portanto C é B.

Premissa maior: Todos os homens são mortais.

Premissa menor: Sócrates é homem.

Conclusão: Sócrates é mortal.

 

Um silogismo é válido quando obedece a forma correta, mas suas proposições ou conclusão pode ser falsa, do mesmo modo, um silogismo é inválido se não obedece a forma, mesmo que as proposições isoladas ou a conclusão sejam verdadeiras. Portanto, afirmar que um silogismo é válido ou inválido é diferente de afirmar que um silogismo é verdadeiro ou falso. Silogismo válido ou inválido se dá quanto a forma, já o silogismo verdadeiro ou falso se dá com relação a realidade empírica observada.

Continuando no silogismo, quando algo que se assemelha a um raciocínio lógico é na verdade um raciocínio falso, temos uma “falácia”. Para evitar este tipo de engano, cabe entender que as proposições devem seguir algumas regras básicas, como tal é o caso dos princípios de identidade, não-contradição e terceiro excluído.

 

Deste modo, temos que a veracidade ou falsidade são identificadas pelas proposições, que se classificam em:

Afirmativas: A é B;

Negativas: A não é B;

 

Universais: Todo A é B (afirmativa) ou Nenhum A é B (negativa);

Particulares: Alguns A são B (afirmativa) ou Alguns A não são B (negativa);

Singulares: Este A é B (afirmativa) ou Este A não é B (negativa).

 

As proposições também podem ser:

1- Necessárias: quando o predicado está incluso no sujeito. Exemplo: Todos os homens são bons. Todo quadrado tem quatro lados. Todo triângulo tem três lados.

2- Não necessárias ou impossíveis: o predicado jamais poderá ser atributo de um sujeito. Exemplo: Nenhum homem é bom. Nenhum triângulo tem quatro lados. Nenhum quadrado tem três lados.

3- Possíveis: o predicado pode ou não ser atributo. Exemplo: Todos os homens são justos.

 

O silogismo para poder ter sentido, deve obedecer a algumas regras básicas estabelecidas entre os termos e as proposições.

1- Qualidade: nas proposições são afirmativas (Todo homem é

mortal) ou negativas (Nenhum cão é gato)

2- Quantidade: Universais (Todo mamífero é animal), particulares

(Algum animal é cachorro) e singulares (Sócrates é mortal)

3- Extensão: dada aos termos e que são “Todo, nenhum, algum”

como visto em quantidade

4- Verdadeira ou falsa: Uma premissa é verdadeira, quando expressa

o fato correspondente, ou caso contrário é falsa.

5- Válida ou inválida: Um argumento é válido, quando sua conclusão se deriva de uma “consequência lógica” de suas premissas, não necessariamente sendo verdadeiro.

 

No tocante à lógica de Aristóteles, há alguns pontos de fundamental importância, que devem ser cuidadosamente estudados para se obter uma compreensão mais global sobre o tema, são eles, respectivamente:

1- Quadrado lógico

2- Nomes dos silogismos

3- Os três princípios lógicos: Identidade, não contradição e terceiro excluído

Os três princípios lógicos

Princípio de Identidade: A é A;

Princípio de não contradição: é impossível A ser A e não-A ao mesmo tempo;

Princípio do terceiro excluído: A é y ou não-y, não há terceira possibilidade.

 

Ponto 4- Lógica: Quadrado lógico e nomes dos silogismos

Ao estudarmos o quadrado lógico (também conhecido por quadrado dos opostos) de Aristóteles, com seus quatro vértices, AEIO, podemos vislumbrar quatro figuras e 19 (Teofrasto) ou 24 (Leibniz, 1666, “De arte combinatória”) modos válidos ou conclusivos, de um total de 256 ou 512 possíveis.

 



 

Temos quatro classes de propostas, que se distinguem pela qualidade e quantidade:

AfIrmo – Letras “A” e “I” em maiúscula

nEgO – Letras “E” e “O” em maiúscula

 

AE - Proposições universais (o assunto diz respeito a toda a extensão)

TODO - NENHUM

 

IO - Proposições específicas (o assunto diz respeito a parte da extensão)

ALGUNS – Pelo menos um

 

1- qualidade: proposições afirmativas (A)

A- (AfIrmo) Ex. Todos os homens são mortais (afirmação universal)

2- qualidade: proposições negativas (E)

E- (nEgO) Ex. Nenhum homem é mortal (negação universal)

 

3- quantidade: proposições afirmativas (I)

I- (AfIrmo) Ex. Pelo menos um homem é mortal (afirmação particular)

4- quantidade: proposições negativas (O)

O- (nEgO) Ex. Pelo menos um homem não é mortal (negação particular)

 



 

E quatro figuras:

Letras: “A”, “E”, “I”, “O”.

Os nomes usados pertencem a uma técnica mnemônica, visando facilitar a memorização da ordem em que surgem no silogismo. Em alguns casos e comentadores, estes nomes podem variar, sendo que o objetivo é unicamente apresentar a ordem correta das letras para cada figura.

1- Primeira figura (modos perfeitos) – Bárbara (AAA); Celarent (EAE); Darii (AII); Ferio (EIO).

2- Segunda figura – Baroco (AOO); Camestres (AEE); Cesare (EAE); Festino (EIO).

3- Terceira figura - Bocardo (AOO); Darapti (AAI); Datisi (AII); Disamis (IAI); Felapton (EAO); Ferison (EIO).

4- Quarta figura (formas de dosagem) - Bamalip (AAI); Camenes (AEE); Dimatis (IAI); Fesapo (EAO); Fresison (EIO).

 

Ponto 5- Lógica: As categorias

Cabe entender aqui que o próprio Aristóteles inclui a substância dentro da listagem das categorias, no entanto, pelo estudo de sua obra fica claro não ser a substância uma categoria. A substância não é um predicado que possamos fornecer ao ser e sim o próprio ser, sujeito, que recebe toda predicação que possamos lhe fazer. A substância é uma unidade formada por todos os atributos que possamos perceber estarem presentes no ser, mas não é ela em si mesma um atributo. A substância é aquilo que o ser de fato é. A substância é a resposta de duas perguntas de índole metafísica: O que ou quem existe?; o que é isto que existe? Para a primeira pergunta a resposta é a “substância” e para a segunda “a coisa individual”, seja um homem, uma mulher, um carro, um copo, uma faca, etc. Este “a substância”, “o que é isto que existe”, é respondido pelo somatório de atributos atribuídos a este ser. Temos, portanto, a relação sujeito e predicado. A substância, por sua vez, é formada pela união indissolúvel da forma e da matéria.

Há, portanto, duas críticas possíveis de serem feitas. A primeira é a inclusão por Aristóteles da “substância” entre as categorias, uma vez que ela indubitavelmente não compartilha da característica do que seja uma categoria. A segunda crítica foi feita por Immanuel Kant, ao destacar que não há uma ordem para a obtenção da lista de categorias e que, portanto, quanto faz, por exemplo, se são oito ou dez, pois, se retiro “posição” e “estado”, não afeta o todo da definição do que seja categoria. Para Kant, tomando por base sua própria teoria, as categorias não são deduzíveis de um princípio geral do qual deveriam ter sido obtidas metodicamente, estão sim, numeradas ao acaso.

1-      Substância – o que é determinada coisa. Sujeito; a unidade composta por todos os predicamentos possíveis.

2-      Quantidade – o quanto é determinada coisa, se maior ou menor, se há muito ou pouco. Um cão grande, um cão pequeno; há muitos carros no trânsito hoje; há poucos carros no trânsito hoje.

3-      Qualidade – como é composto determinada coisa. O telefone é vermelho; Sócrates é feio; aquela mulher é linda.

4-      Relação – como as coisas se relacionam entre elas. Esta casa é maior que aquela outra; os peixes deste aquário têm o mesmo tamanho e cor.

5-      Lugar – Onde cada coisa se encontra no espaço. Carlos está em Boston; Lulu está na Rússia; o pente está sobre a mesa.

6-      Tempo – quando algo é, foi ou deixa de ser. Este homem tem barba hoje, mas não tinha mês passado. Sócrates é um homem adulto hoje.

7-      Ação – o que a coisa faz. A faca é cortante; a semente germina; a criança cresce; o pintor pinta um quadro.

8-      Paixão – o que a coisa padece, o que a coisa sofre. A carne é cortada pela faca; Sócrates foi morto; a criança nasceu.

9-      Posição – Se dá quanto qual o modo pelo qual um ser ocupa lugar no espaço. Sócrates está em pé, Platão está sentado, Aristóteles está deitado.

10- Estado – o que está ocorrendo com o ser agora. Carlos está armado; a planta está florescendo; está nevando; o clima está muito seco e frio.

 

Ponto 6- A ciência

Enquanto que Sócrates ocupou-se em dialogar com os cidadãos atenienses fazendo sua filosofia por meio da maiêutica e Platão escreveu sua obra em diálogos, enfocando a necessidade de a filosofia ocorrer no embate entre uma ou mais pessoas, como ensinou seu mestre. Para ambos a filosofia é uma atividade de pensar racionalmente que não envolve necessariamente o mundo dos sentidos. Já Aristóteles não, este segue uma abordagem distinta ao priorizar a pesquisa, observação e comparação com os entes presentes no mundo dos sentidos. Temos em Aristóteles o nascimento das ciências empíricas, na medida em que este atua, conjuntamente com sua escola e com a ajuda de seu aluno Alexandre Magno, coletando e classificando espécimes diversos espalhados por todo o mundo então conhecido. Segundo o pensamento de Aristóteles, não é possível ciência do individual e contingente e sim somente do universal e necessário.

Divide as ciências em três ramos: 1- as teoréticas, que buscam o saber em si mesmo; 2- as práticas, que buscam o saber para alcançar a perfeição moral; e 3- as poiéticas, que buscam o saber para produzir objetos. Já quanto à lógica, esta disciplina não pertence a qualquer desses ramos, pois, mais que uma ciência, a lógica é o instrumento preliminar de toda ciência, já que por meio dela nos é apresentado a forma como o humano pensa e elabora seu discurso por meio da linguagem.

A visão sistemática proporcionada à filosofia por Aristóteles abrange todo o conhecimento então conhecido. Propõe uma divisão do conhecimento em 1- ciências teóricas, que tratam do estudo dos primeiros princípios de todos os seres (matemática, física e metafísica); 2- ciências práticas, onde temos o humano como agente da ação vinculada à pratica ou práxis, a ação concreta (ética, política e economia); 3- ciências poéticas (poiesis: significa fazer, fabricar, criar, produzir), na qual temos a aplicação de determinada técnica na produção de algo (poética e retórica). As ciências poéticas abarcam qualquer trabalho produtivo, o que engloba uma ampla gama de coisas: compor tragédias ou comédias, compor epopeias, atuar na agricultura, tecelagem e produção artesanal, bem como a produção de coisas em geral, a qual pode se dar de modo natural, artificial ou espontâneo.

Em Aristóteles, a ciência ou episteme deve ser entendida como um conhecimento demonstrativo, ou seja, trata-se de um conhecimento que é expressado por meio de um discurso dedutivo pautado em premissas que são necessárias. No entanto, a demonstrabilidade presente na ciência não se atribui a seus princípios. Seria impossível demonstrar absolutamente tudo, pois assim se cairia em uma demonstração infinita e, portanto, também não haveria demonstração.

Aristóteles há de entender a ciência de modo semelhante ao adotado por Platão e antes dele, os pré-socráticos, trata-se de um conhecimento fixo, estável e certo. No entanto, há de abandonar o mundo das ideias presentes em Platão e se ater ao mundo observável. Para Aristóteles o que existe são substâncias particulares e individuais, não havendo participação ou imitação em relação a outro mundo, perfeito, como o queria Platão. O conhecimento científico é o conhecimento das essências das coisas, devendo a ciência responder à pergunta sobre o que é cada coisa, bem como, se ocupar com definições. Cabe aqui saber as causas que geram cada coisa que existe.

 

6.1- A natureza

Cabe à física tratar da ciência da natureza e aqui lembramos dos pré-socráticos que se ocupavam da “physis” ou da “natureza”. Para Aristóteles a física há de tratar do estudo dos corpos em geral, do movimento e do repouso. Abarca todos os corpos, sejam vivos ou não. Aqui há de incluir, também, os elementos dos quais os corpos são constituídos, sejam terrestres ou celestes. Teremos a presença dos quatro elementos aqui na Terra e do éter, como o quinto elemento, presente nos corpos celestes.

Para Aristóteles a física era entendida como essencial para o entendimento das coisas. Como a forma com que se apresentavam ao observador e também no que poderiam vir a se transformar, por já estar em si em potência.

O mundo físico pode ser dividido em quatro graus: 1- natureza inorgânica, 2- vegetais / plantas, 3- animais, 4- humano.

Para explicar a constituição das coisas adotava a teoria na qual quatro elementos básicos estariam na origem da formação de tudo que há: água, terra, fogo e ar. Já os corpos celestes apresentariam um quinto elemento, que seria o éter. Este quinto elemento que constituiria os corpos celestes, é entendido por Aristóteles como sendo puro e incorruptível. Por sua vez, entendia que havia uma hierarquia na formação e constituição do universo. No centro do universo temos a Terra e girando ao seu redor temos todos os demais corpos celestes.

 

6.2- A física

A física é o movimento, pois, para Aristóteles a ciência física tem como incumbência explicar o movimento, o qual é entendido por Aristóteles de três formas possíveis. 1- uma mudança de lugar no espaço; 2- uma mudança qualitativa na qual é a própria matéria, objeto da mudança, que se transforma; 3- outro tipo de movimento que não transforma as coisas, mas que as faz aumentar ou diminuir. Se formos atualizar a linguagem adotada por Aristóteles e identificar cada forma de movimento a uma ciência atual, teríamos que estes três movimentos correspondentes respectivamente a mecânica, química e biologia.

Podemos falar em três tipos de movimento: 1- lugar, 2- quantidade, 3- qualidade. Temos o primeiro quando algo se movimenta de um lugar no espaço para outro, trata-se de um movimento local. No segundo temos um aumento ou diminuição da quantidade de algo. No terceiro temos a perda ou aquisição de alguma qualidade ao objeto.

Quanto ao movimento de lugar, cada coisa tende ao seu lugar natural de acordo com a predominância maior ou menor de um dos quatro elementos do qual é composto. Haveriam dois movimentos, um circular e um retilíneo. O movimento circular ocorre somente junto aos corpos celestes, compostos pelo éter (quinto elemento). Quanto ao outro movimento, este se dá em direção ao centro da Terra ou para cima, e corresponde aos objetos terrestres. Entes em cuja formação predomina o elemento fogo tendem a se movimentar para cima, seu lugar natural, já entes cuja predominância seja o elemento terra, tendem a se movimentar para baixo. Lembrando que para Aristóteles o universo e também a Terra, são circulares, temos movimento do centro a periferia, ou da periferia ao centro.

Aristóteles entende por física algo diferente do que hoje adotamos como definição para este conceito. Trata-se aqui de um conjunto de princípios gerais aplicados aos entes presentes no mundo que percebemos por meio de nossos sentidos. Entra aqui a aplicação de conceitos tais como: potência e ato, matéria e forma, movimento. O movimento se dá pela passagem da potência de algo para o seu correspondente ato. Na ideia de movimento apresentada por Aristóteles, temos presente a finalidade, trata-se de um conceito teleológico.

Já quanto ao tempo, Aristóteles entende que é uma medida obtida observando-se o anterior e o posterior. Para haver o tempo, é necessário primeiro haver o movimento e só cabe falar em tempo, diante de uma inteligência capaz de medir e comparar as posições e transformações ocupadas pelo ente, ou seja, o antes e o depois. Se não houvesse a alma, não haveria o tempo.

Podemos listar alguns princípios básicos presentes na física de Aristóteles, a saber:

1- Lugar natural: cada elemento possui um lugar próprio e específico no espaço, em relação ao centro da Terra, que também é o centro do universo.

2- Gravidade e Leviandade: para o elemento alcançar seu lugar específico (lugar natural), os objetos sofrem a ação de uma força para baixo ou de uma força para cima.

3- Movimento retilíneo: dado em resposta à força que encaminha o objeto para seu lugar natural, em linha reta a uma velocidade constante. Ocorre entre os entes terrestres.

4- Movimento circular: os planetas descrevem um movimento circular perfeito. Ocorre entre os entes celestes.

5- Relação com densidade e velocidade: a velocidade é inversamente proporcional à densidade do meio.

6- Teoria do continuum: não existência dos átomos, pois, se existissem haveria também o vácuo.

6.1- O vácuo não existe, pois, se existisse, nele o movimento teria velocidade infinita.

7- Quintessência: objetos além da superfície da Terra não são constituídos por matéria originalmente terrestre e sim pelo éter.

7.1- O éter: todos os pontos do espaço são preenchidos pela matéria, podendo ser esta o éter.

8- Universo finito: Rejeita como absurda a existência em ato de uma extensão material infinita. Há um centro imóvel no qual se encontra a Terra, sendo que o movimento aumenta deste centro em direção à periferia.

9- Cosmo incorruptível e eterno: o Sol e os planetas são esferas perfeitas que não sofrem transformação ou corrupção.

 

6.3- A biologia

Aristóteles pode ser considerado o fundador da ciência zoológica e o por meio dos métodos de análise comparativa que criou, pode também ser considerado o pai da anatomia comparada. Aristóteles descreveu e comparou centenas de animais, estudou seus órgãos internos e tendo este trabalho por base, apresentou interpretações teóricas sobre a vida e sobre a fisiologia. Cabe a ele tentativas bem elaboradas de classificação dos animais.

A rigor, para Aristóteles não existe uma real separação entre biologia e psicologia, mas cabe hoje a análise separada destes pontos em virtude da posterior evolução da ciência e da atual separação destas disciplinas.

 

6.4- A psicologia

Cabe à psicologia estudar e descobrir qual a natureza e qual a essência da alma, bem como, seus atributos.

Ao estudar a alma, Aristóteles encontra quatro funções principais, a saber: nutrição, sensação, movimento e pensamento.

A alma para Aristóteles é dividida em três partes: 1- vegetativo, 2- sensitivo-motor e 3- racional ou intelectiva. As plantas só possuiriam a alma vegetativa, já os animais possuiriam também a sensitiva, cabendo ao humano possuir as três.

A alma vegetativa é encarregada do nascimento, nutrição, crescimento, reprodução. Cabe à alma vegetativa ser o princípio mais elementar da vida, o princípio que governa e regula as atividades biológicas.

A alma sensitiva é encarregada do movimento e do conhecimento proveniente das sensações.

A alma intelectiva nos proporciona o conhecimento racional, a deliberação e a escolha.

A psicologia em Aristóteles se apresenta como tendo seu objeto no ser vivente, o qual, por sua vez, enquanto ser vivente tem como princípio a alma e se diferencia dos demais entes do mundo, entes estes não animados. O ser vivo possui internamente o princípio de sua atividade, que também lhe dá forma ao corpo, que é sua alma.

Há dois intelectos, o ativo e o passivo.

1- Intelecto agente e intelecto passivo

O intelecto agente é aquele que age sobre o conhecimento, a semelhança do ato sobre a potência. O intelecto passivo é aquele que recebe e acumula o conhecimento proveniente dos cinco sentidos, de nossa percepção, armazenado na memória. Cabe ao intelecto agente dar sentido e significado ao material armazenado pelo intelecto passivo.

Cabe sempre lembrar e destacar que para Aristóteles o humano é um animal racional, social e político. Esta noção sobre o que seja a essência do animal humano estará presente em sua ética, em suas concepções políticas e também na psicologia deste humano vivendo em uma sociedade, enquanto animal gregário.

 

Ponto 7- A metafísica – Filosofia primeira

A expressão usada por Aristóteles para se referir a este campo do saber era “filosofia primeira”, o termo “metafísica” não estava presente e parece ter sido introduzido pelo então editor da obra de Aristóteles no primeiro século a.C.

Segundo Aristóteles, a filosofia primeira é a ciência que considera o ser enquanto ser e as competências que o mesmo possui. Trata-se de um campo do saber diferente das demais ciências, pois, nenhuma outra ciência considera universalmente o ser enquanto ser, mas somente partes do mesmo. Enquanto cada ciência estuda uma parte ou característica deste ser, cabe à filosofia primeira estuda-lo como um todo.

Aqui temos um conjunto de conhecimentos independentes de qualquer atividade empírica ou de qualquer experiência sensorial. A metafísica deve ser entendida como a ciência mãe de todas as demais. Todas as ciências estudam uma parte do todo, se atendo a sua especialidade, cabe à metafísica se dedicar a estudar o todo. A metafísica é o estudo do ser enquanto ser.

Há algumas questões gerais tratadas na metafísica, pode-se argumentar que os principais conceitos abordados na metafísica de Aristóteles são: 1- potência e ato (ou ato e potência, quanto faz a ordem, mas lembrando que potência é semelhante a matéria e, por sua vez, ato é semelhante a forma), 2- matéria e forma, 3- particular e universal,  4- o movimento, 4.1- a natureza do movimento (transformação do que estava em potência em algo para sua realização em ato), 4.2- o que é movido e o motor, 4.3- o primeiro motor imóvel, 5- as quatro causas (material, formal, eficiente e final).

Do mesmo modo que seu mestre, Platão, temos em Aristóteles uma preocupação filosófica em dar sentido e solução ao problema do ser, tal como passou a ser apresentado a partir das contribuições de Parmênides e Zenão por um lado e de Heráclito por outro. Visando solucionar este problema, Aristóteles introduz os conceitos do ser em si e do acidente, bem como do ser em ato e em potência, e de forma e matéria. Também entende Aristóteles que não existe a dicotomia entre dois mundos criada por Platão com o conceito de mundo das ideias. Haveria um mundo somente e os universais não possuiriam uma realidade ontológica e sim somente lógica, sendo conceitos formados em nossa mente. Somente as substâncias individuais possuiriam uma realidade ontológica.

Na “Física” nos fala Aristóteles na existência de um primeiro motor, imóvel, que daria origem a todo o movimento e que este estaria dentro deste nosso universo e não fora do mesmo. Este primeiro motor é imanente e se encontra na periferia do universo, unido ao primeiro móvel. Proporciona o movimento de modo mecânico, por meio do contato físico, donde sua presença se faz necessária. Já na “Metafísica” nos fala Aristóteles do ato puro do qual também se origina o movimento. Este estaria fora deste nosso universo, sendo transcendente e moveria enquanto causa final, por meio da atração do amor, exercendo seu impulso sobre o primeiro motor.

Quando Aristóteles aborda o problema da estrutura do ser, ele o faz por uma via lógica e ontológica, do que resulta uma listagem de categorias que podem ser predicadas a este ser. Normalmente se aceita a substância como parte desta listagem, se bem que tudo que há nela será predicado a substância e se entendermos a substância como o “sujeito” da frase, caberia a mesma ficar de fora da listagem. Pode-se incluir ou não duas categorias, que aparecem em alguns textos de Aristóteles, refiro-me a “posição” e ao “estado”. Portanto, incluindo a “substância” com esta ressalva de que ela não é algo a ser predicado, teremos uma listagem de oito (mais comum) ou dez itens.

Temos também presente em Aristóteles o conceito de “motor imóvel”, que dará origem a todo o movimento no começo do começo de tudo que há no universo.

Admite os quatro elementos já anteriormente trabalhados pelos assim chamados filósofos pré-socráticos, e um quinto elemento, que chama de éter, a quinta essência, do qual seriam constituídos os corpos celestes.

 

Ponto 8- Metafísica: Potência e ato – Matéria e forma

Potência e ato: O ser em potência e em ato, são conceitos que permitem a Aristóteles explicar a mudança e transformação presente no mundo dos sentidos, apontadas por Heráclito, sem fazer necessário a presença do não-ser negado por Parmênides. Uma criança é um adulto em potencial e este mesmo adulto quando jovem, é um idoso em potencial. No entanto, cabe destacar que a potência de algo só o permite se desenvolver dentro de uma dada orientação e não em outra. Não cabe, por exemplo, ao caroço de abacate se desenvolver em um limoeiro, mas é previsível que tendo oportunidade, este caroço de abacate se desenvolva em um abacateiro.

 

Matéria e forma são dois conceitos deveras importantes dentro do pensamento de Aristóteles. Segundo o filósofo, nossa realidade é composta a partir de uma unidade formada pela junção entre matéria e forma. Em grego matéria é “hilé” e forma é “morphé” daí nos referirmos a esta junção constante entre matéria e forma pela expressão “hilemorfismo”. A matéria é aquilo pelo qual a coisa é feita, o que constitui o objeto, já a forma está relacionada às qualidades presentes neste objeto que nos fazem percebe-lo como tal. A matéria é um princípio indeterminado, sendo a forma o princípio determinado dos seres. Quando falamos, por exemplo, em “árvore”, sua matéria é a madeira e sua forma é o que nos permite chamar a este ente de árvore. Não há como separar a matéria da forma, sempre se apresentarão juntos no mundo que percebemos. Um objeto pode mudar sua forma, mas não sua matéria. Uma árvore pode ser transformada em cadeiras e mesas ou mesmo numa casa, mudou sua forma, mas a matéria continua sendo a madeira.

O ser em matéria e forma. A forma é o que determina a matéria, transformando a indeterminação da matéria em realidade. A matéria pode ser entendida como o ser em potencial e a forma como o ser em ato. Pela forma, o possível existente na matéria se converte em algo realmente existente.

A matéria não pode existir sozinha, sem uma forma determinada. Matéria sempre há de se apresentar com uma determinada forma. Apesar da matéria se assemelhar à potência e a forma ao ato, há uma diferença entre estes conceitos, pois, matéria e forma são ambas realidades físicas, enquanto potência e ato são conceitos abstratos e gerais. Da matéria e forma se originam os quatro elementos e sua mescla, bem como todos os seres vivos.

Matéria e forma. Matéria pode ser o que hoje os físicos entendem por matéria, mas pode ser outra coisa também, pois, para Aristóteles, matéria é tudo aquilo do que é feito algo. Se este algo é uma barra de ferro, a matéria está ali, mas se este algo é uma peça de teatro a matéria é composta por palavras, emoções passadas pelos personagens, pelas vestimentas e pela história, neste tocante nada possui em comum com o sentido de “matéria” na física de hoje em dia. Já a forma é aquilo que faz com que a coisa seja o que é. A forma de algo é o que lhe dá sentido e finalidade. A forma de Aristóteles há de buscar sua inspiração e exercer no mundo físico e real o papel da participação das ideias perfeitas presentes no mundo das ideias de Platão.

 

Ponto 9- Metafísica: Substância e acidente

Outra noção importante em Aristóteles encontramos nos conceitos de substância e acidente, que podem ser melhor explicados se imaginarmos a substância como sujeito e o acidente como predicado, pois, do mesmo modo que uma dada substância pode ter diversos acidentes, de um dado sujeito posso predicar diversas e distintas coisas. O sujeito Sócrates pode ser entendido como sendo a substância, cujos predicados ou acidentes podem ser: ser bonito ou feio, ter ou não barba, ser gordo ou magro, ser alto ou baixo, ser homem ou mulher, ser ateniense ou espartano, etc.

Substância, essência, acidente. Substância é a unidade que suporta todos os demais caracteres da coisa. Se pensarmos dentro da linguagem, a substância se assemelha ao sujeito enquanto que o acidente ao predicado de qualquer frase. Deste modo, a substância “Sócrates”, pode ter como acidente ser baixo, feio, gordo, inteligente. Substância é aquilo que está debaixo da coisa sobre a qual se predica várias qualidades. Existem, no entanto, predicados que podem ou não estar presentes na substância sem afetar que esta continue sendo o que é, e outros predicados que se forem retirados afetariam a própria substância, a estes últimos chamamos de “essência”. O que existe individualmente são as substâncias, somatório de todos os seus atributos, no caso, Sócrates existe e este possui uma essência e diversos acidentes que lhe podem ser predicados.

Aristóteles distingue entre substância primeira e substância segunda. Quando nos referimos a um ente em particular, como por exemplo a Sócrates, trata-se da substância primeira, mas quando nos referimos não a Sócrates e sim a todos os homens, então estamos fazendo uso da substância segunda.

Substância e atributos em muito se assemelham aos conceitos gramaticais de sujeito e predicado, sendo substância análogo a sujeito e atributos análogo a predicado, mas neste caso devemos salientar um possível erro presente ao se considerar a substância dentro da tábua das categorias, pois, como tal não caberia a substância compor como mais um item a tábua das categorias. Todas as categorias podem ser atribuídas à substância e não o contrário.

 

Ponto 10- Metafísica: O ser

Em Aristóteles o ser pode ser identificado a partir de três princípios básicos: identidade, não contradição e terceiro excluído. Por identidade entende que algo é sempre ele próprio. Por não contradição entende que algo não pode ser algo outro ao mesmo tempo, deste modo, duas afirmações contrárias sobre uma mesma coisa implicam que ambas não podem ser verdadeiras simultaneamente. Por terceiro excluído entende que não existe um terceiro elemento, algo ou é falso ou é verdadeiro.

O ser se apresenta como sendo cada coisa que existe isoladamente e sobre o qual podemos aplicar às categorias. O ser, sendo cada uma das coisas que é, equivale a afirmarmos que o ser para Aristóteles é a “ousía”, ou seja, a substância.

 

Ponto 11- Metafísica: O primeiro motor

O movimento é constante em tudo. Por movimento entenda-se qualquer tipo de mudança ou transformação, sendo um conceito bem mais amplo do que o adotado nos dias de hoje pela física. Mudanças quantitativas ou qualitativas proporcionam algum tipo de movimento. Nascer, crescer e morrer são modos de movimento. Um dado objeto ou pessoa se deslocar espacialmente de um local a outro também é um movimento.

Em cada coisa em ato há a possibilidade de algo outro em potência, gerando um eterno movimento. Se formos infinitamente no sentido de “quem” ocasionou “o que”, ou seja, em termos modernos, em vez de irmos da causa para o efeito, se invertermos a ordem e formos para trás, sempre do efeito para a causa que o originou, teremos de em algum momento chegarmos a um ponto no qual tudo se originou, tudo começou, e não há mais para onde regredir. Há a necessidade de um motor imóvel que daria origem a todo o movimento. Este primeiro motor não poderia ter qualquer potência, sendo ato puro, imóvel, perfeito e único. Este primeiro motor é a origem do movimento e do universo, mas se encontra dentro do universo, em sua periferia.

O primeiro motor é aquilo que move sem ser movido. Primeira causa, não causada. Trata-se de uma substância imaterial imutável, eterna, divina e independente. O primeiro motor não se encontra no centro e sim na periferia da esfera que é o universo, pois, sendo o gerador do movimento é de se supor que quanto mais próximo a ele maior seja o movimento e que o centro da esfera seja imóvel para que possa ocorrer o movimento de todo o universo. No centro se encontra a Terra.

 

Ponto 12- Metafísica: Deus em Aristóteles

Aristóteles não é cristão e nem poderia, pois se encontra no quarto século antes de Cristo. Também não possui o conceito de um deus criador, presente na visão de mundo religiosa judaico-cristã, pois, os gregos entendem que do nada, nada surge. Mas mesmo assim podemos falar de um deus em Aristóteles que como mais tarde perceberá Tomás de Aquino e outros medievais, em muito se aproxima do conceito de deus cristão que foi lentamente construído, e depois aprimorado pelos medievais.

Em Aristóteles temos os conceitos de matéria e forma e sua concepção de hilomorfismo, ou seja, que a forma sempre estará presente na matéria. As formas de Aristóteles em muito se aproximam das ideias de Platão, só que estas últimas se encontram em um mundo a parte do sensível, no mundo das ideias e são desvinculadas do mundo sensível, onde somente participam de um modo não muito bem esclarecido por Platão. Para Aristóteles a matéria sempre se dá em conjunto com a forma, não sendo possível uma sem a outra.

Outro conceito importante é o de ato e potência, pois, para tudo que agora está em ato há uma potência que pode se realizar e quando o fizer teremos um outro estado de ato.

O ser para Aristóteles se assemelha à substância, pura essência que recebe nove atributos possíveis, mas todos como acidente.

Para Aristóteles temos quatro causas, sendo que todo o movimento ou transformação há de começar com a causa eficiente agindo sobre a matéria e tendendo a atingir como meta a causa final, que no caso de uma estátua de mármore de Hércules, tem como orientação desta causa final a ideia na mente do escultor do que venha a ser Hércules.

Bem, e onde se encontra este deus em Aristóteles? Aristóteles e os gregos em geral entendem que a perfeição está vinculada ao finito, sendo o infinito algo de imperfeito. Ao buscar a perfeição para o universo e tudo que há, há de se buscar algo finito e não infinito, portanto, se regredirmos tudo ao começo, teremos de encontrar um momento onde teremos de decidir se temos nada ou alguma coisa, bem, para os gregos, nada pode surgir do nada.

Há de falar Aristóteles que neste momento inicial teríamos uma matéria primordial, um caos. Esta matéria não teria forma, sendo pura potência de algo, sem ato. Por sua vez, há a necessidade de algo movimentar ou transformar esta matéria primordial, este caos, esta matéria sem forma, pura potência. Este outro elemento tem de ser pura forma, sem matéria e sem potência. Estamos agora diante de algo que inicia todo o movimento, toda transformação, trata-se do primeiro motor e de um motor imóvel, pura forma sem matéria, puro ato sem potência.

Detalhe que este motor imóvel pode ser associado a deus, mas ainda trata-se de algo dentro deste universo e não fora do mesmo. Temos um motor imóvel, sem matéria e sem potência e que não sofre qualquer tipo de movimento ou transformação, motivo pelo qual é imóvel. Ele está parado para poder provocar todo o movimento. O movimento tende a ser mais rápido próximo a este motor que o inicia, e como a Terra está imóvel, é de se supor que a Terra esteja no centro do universo e que o motor imóvel esteja na periferia do universo, onde teríamos um movimento mais rápido.

Mas se este motor imóvel ainda está dentro deste universo, podemos pensar em algo fora do mesmo e que atue unicamente como ato, sendo um ato puro que proporcione o início do funcionamento deste motor imóvel e não causado. O motor imóvel há de provocar todo o movimento por meio do contato físico. Este motor está presente ali na periferia do universo e é a causa eficiente de todo o movimento. Caberia algo de não físico, de fora deste universo, que pudesse exercer nele alguma influência, sem ser do nível de uma causa eficiente e sim somente por atração em direção a uma causa final. Atração ocasionada pelo amor.

E como se dá este movimento? Não com certeza pela causa eficiente, e sim pela causa final, a qual está em um grau mais elevado que a causa eficiente. Deus nada cria, esta matéria primordial se transforma por um tipo de atração em direção a forma de deus, temos somente a atuação da causa final.

Deus é a causa final, a finalidade (telos) de todo o universo. E o que é que se encaixa em tal conceito? O pensamento. Deus é o pensamento que se pensa a si próprio, pensamento de pensamento. Deus é inteligência pura, divina, imaterial, que enquanto causa última, organiza e governa todo o universo.

 

13- Metafísica, livro 1: As 4 Causas

Aristóteles nos fala de quatro espécies de movimento: 1- substancial, 2- quantitativo, 3- qualitativo, 4- espacial. Em sua obra sobre a física, Aristóteles aborda os quatro tipos de movimento, os quais são entendidos como passagem de algo que está em potência para algo outro em ato. Em cada coisa em ato temos um possível desenvolvimento, transformação ou movimento, que ao dar início, irá transformar esta coisa agora em ato, em algo outro, também em ato, que anteriormente estava presente somente em potência. Existem, segundo o pensamento de Aristóteles, quatro espécies de movimento ou transformação possíveis.

No movimento substancial, temos a mudança ou transformação da substância em outra substância. Se entendemos substância como o sujeito de uma frase, com vários predicados possíveis, trata-se da mudança de sujeito, que se dá pela mudança de sua forma. É o que ocorre quando um ser vivo nasce ou morre, sua substância tende a mudar. Sócrates vivo é uma substância diferente do corpo de Sócrates morto. Uma árvore frondosa e viva é diferente desta mesma árvore quando cortada e transformada em uma casa, mesas e cadeiras, pois, em uma frase mudaria o sujeito e os atributos do mesmo, do mesmo modo que temos uma mudança na substância.

Exemplo:

Sócrates é um bom amigo, muito falante e jovial.

O corpo de Sócrates dentro do caixão será enterrado hoje.

A árvore grande do jardim dá bons frutos.

A mesa é redonda e feita da madeira de uma antiga árvore que estava no jardim.

As cadeiras e a nova casa de campo são feitas de madeira aproveitada de uma árvore que estava no jardim.

No movimento quantitativo, temos a mudança referente ao acréscimo ou diminuição da quantidade presente. Ocorre quando digo que algo é maior ou menor, que agora tem mais ou menos quantidade ou tamanho, sem alterar a substância a qual se refere. Sócrates quando jovem pesava 70 quilos, mas quando adulto passou a pesar 90 quilos. Raquel media 1,60m ano passado, mas hoje mede 1.70m.

No movimento qualitativo, temos a mudança de propriedade, ou seja, da qualidade presente no sujeito. Ocorre quando, sem alteração da substância, uma qualidade é acrescentada ou retirada do sujeito. Exemplo: Sócrates tem barba. Sócrates não tem barba.

No movimento espacial, temos a mudança física espacial de lugar, ocorrendo um deslocamento de um ponto “A” para um ponto “B”. Exemplo: Sócrates saiu do Rio de Janeiro e viajou para Moscou, onde agora se encontra. O pássaro voou de um galho de árvore para o telhado da casa.

As causas em Aristóteles:

Aristóteles nos fala de quatro causas: 1- material, 2- formal, 3- eficiente, 4- final. A material nos aponta de que a coisa é feita, sua matéria. Exemplo: Uma casa é feita de tijolos, madeira e ferro. A formal nos aponta qual a forma que a coisa possui, no caso de nosso exemplo anterior, teríamos a forma da casa. A eficiente nos aponta o que deu origem a coisa, no caso de nosso exemplo, o arquiteto, os carpinteiros e pedreiros. A final nos aponta para a função da coisa, no caso ainda de nosso exemplo, servir de moradia para uma família.

 

Ponto 14- Teoria do conhecimento

Para Aristóteles o humano ao nascer é uma tábula rasa, não possuindo qualquer tipo de conhecimento, sendo aprender entendido como conhecer coisas novas. Aristóteles não aceita que haja ideias inatas.

Aristóteles não aceita a existência de ideias inatas, de uma alma imortal ou de reminiscências de uma outra vida. Se para Platão conhecer é recordar, para Aristóteles todo conhecimento surge do contato com o mundo circundante por meio de nossos sentidos, de nossa experiência sensível. Temos acesso ao universal por meio dos particulares pelo processo de indução.

Para Platão havia algo de eterno e imutável no meio de toda esta mudança que podemos observar e que este algo eram as ideias perfeitas no mundo das ideias, das quais tudo o mais são meras cópias imperfeitas, como se as ideias fossem fôrmas nas quais os indivíduos fossem feitos. Em Platão as ideias são mais reais que tudo o que percebemos a nossa volta. Antes do cavalo temos a ideia de cavalo e antes do homem temos a ideia de homem. Aristóteles também entendia que havia uma diferença entre um cavalo isolado que observamos no campo e a ideia que temos de cavalo, mas entendia que esta ideia de cavalo era construída por meio da observação de vários cavalos isolados. Se consideramos a ideia como forma, temos que a forma jamais pode ser separada da matéria cavalo. Enquanto para Platão tudo o que percebemos na natureza ao nosso redor não passa de sombras ou cópias imperfeitas das ideias presentes no mundo das ideias, já para Aristóteles, todas as ideias que existem em nossa mente são meros reflexos da realidade que observamos. Para Aristóteles nada existe em nossa mente que não tenha sido anteriormente experienciado, já para Platão é justamente o oposto, pois, nada que possamos experienciar existe sem antes ter existido no mundo das ideias. Platão admite a existência em nossa mente de ideias inatas, com as quais já nascemos e basta recordar, Aristóteles não.

Para Aristóteles o conhecimento começa por meio da observação e experiência, de onde obtemos a indução, ou seja, observamos um grande número de casos de um mesmo fenômeno. A indução atua como auxílio à dedução, pela qual chegamos a algum conhecimento válido sobre a realidade. Teoricamente seria possível uma indução perfeita, envolvendo a observação de todos os casos possíveis, mas na prática isto não ocorre, tornando-se necessário o uso da dedução. A dedução perfeita, por sua vez, só ocorreria nas verdades racionais, como o temos no caso da lógica, nas quais o predicado já se encontra presente no sujeito.

Na teoria do conhecimento de Aristóteles, há a substituição da ideia de decadência da Alma (Platão) pela de desenvolvimento. Em Platão a alma humana habitava o mundo das ideias ou formas perfeitas antes de habitar um corpo no mundo dos sentidos, das percepções, das sombras, da doxa ou opinião, portanto, quando era retirada do mundo das ideias perfeitas para o mundo dos sentidos, a alma sofria uma decadência em relação ao lugar ocupado, antes um lugar de verdade, episteme, e agora um lugar de opiniões enganosas, sombras, doxa. Como a alma teve oportunidade de contemplar a verdade enquanto esteve presente no mundo das ideias perfeitas, a aprendizagem é meramente lembrar, recordar, o que esta já sabia pelo contato com estas ideias perfeitas antes de encarnar em um corpo. Já para Aristóteles não, aqui temos algo deveras diferente do pensamento de seu mestre, aprendizagem não é lembrar e sim experienciar. Com Aristóteles temos a valorização das percepções e dos sentidos, nos proporcionando experiências do mundo circundante e consequente aprendizagem.

 

Ponto 15- A ética

Os tratados de ética atribuídos a Aristóteles são em número de três, a saber: Ética Nicomaqueia ou a Nicômaco, Ética Eudemiana ou a Eudemo, e a Grande Ética. Há ainda hoje polêmica no tocante à autenticidade destes trabalhos, ao que sabemos, inicialmente, na Antiguidade, existia somente um livro de Aristóteles sobre ética e não três. Todos os três livros se referem a uma fonte comum, provavelmente às aulas de Aristóteles ministradas sobre o tema da ética e as notas tomadas por seus alunos, mas A Grande Ética é com certeza mais tardia e apresenta uma tentativa de reconciliar o pensamento ético de Aristóteles com o de Platão.

Existem muitos seres e muitos bens. Cada ser tem um bem próprio que é somente seu, mesmo compartilhando outros bens com outros seres. O bem próprio do humano é a razão, pois só este a possui e ela o diferencia dos demais seres vivos, sejam quais forem. O maior bem a que podemos almejar é a contemplação de deus por meio do uso de nossa razão. Além disto, propõe a adoção de um justo meio em tudo que possamos fazer, um ponto de equilíbrio entre os extremos. Há coisas, no entanto, tão abomináveis que não se pode ter um meio termo.

Enquanto Sócrates entendia que bastava conhecer o bem para praticá-lo e que o mal se dava por ignorância, Aristóteles, por sua vez, entende que a prática do bem ou do mal é fruto de uma escolha, sendo um ato voluntário. Para sermos virtuosos não basta conhecer o que é o bem e sim que haja uma escolha racional e voluntária por tal comportamento.

A ética de Aristóteles nos propõe equilíbrio e moderação em tudo que possamos fazer, ficando equidistante dos extremos e em um justo meio proporcional as nossas necessidades.

A ética converge para a eudaimonia, ou seja, a felicidade ou prosperidade. Tudo se direciona para o bem, sendo o bem a finalidade de todas as coisas. O objetivo do humano é alcançar a felicidade, eudaimonia, e para tal objetivo ser concretizado importa a este humano atuar como um ser ético, político e social. Para obtermos nossa felicidade cabe também fazer o bem para com as demais pessoas e cabe ao Estado garantir o bem estar e a felicidade dos seus cidadãos. A felicidade deve ser entendida como um fim em si mesma e sua busca algo natural aos humanos. Os humanos tenderiam, portanto, a buscar uma vida ética, justa e feliz, mas para conseguirem realizar tal intento é preciso primeiramente atentar para o justo meio equitativo, para a prudência e para a sabedoria, que nos encaminha para a virtude e o bem.

A felicidade se encontra no equilíbrio, no justo meio e não nos extremos. A virtude se encontra no centro e os vícios nos extremos de um comportamento. Todo vício ou é excesso ou é falta. No exemplo da coragem, a qual é uma virtude, e como tal relacionada com a felicidade, temos que sua falta nos leva ao vício da covardia e o excesso ao vício da imprudência.

Temos em Aristóteles uma ética teleológica, ou seja, encaminhada para um fim determinado, e também eudaimônica, ou seja, este fim é identificado com a felicidade, sendo a felicidade o sumo bem, o objetivo último de todas as ações humanas no seu conjunto. Aqui Aristóteles nos apresenta uma metáfora muito interessante ao comparar a Eudaimonia com um alvo destinado a mira de um arqueiro. O arqueiro disparando sua flecha é o humano com suas ações, seus comportamentos. A flecha é direcionada ao alvo, e o comportamento humano é direcionado à felicidade.

Em Aristóteles encontramos um destaque para o hábito, ou seja, o comportamento que constantemente repetimos em nossas vidas. Os nossos hábitos tem a ver com nossas disposições e por sua vez nos encaminham para a virtude ou para o vício. Bons hábitos formam virtudes e maus hábitos, vícios. Virtuoso é quem age de acordo com a virtude. A virtude, por sua vez, encontra-se em um meio termo qualitativo, e não quantitativo, entre dois extremos possíveis, ambos presos ao vício, um vinculado ao excesso e o outro à falta.

Para Aristóteles, a ética, ou no grego, ethos (costume, hábito, caráter) é diretamente vinculada com a virtude, ou no grego, areté, e a felicidade, ou no grego, eudaimonia. Segundo o pensamento de Aristóteles, a felicidade é a finalidade presente no comportamento humano e na organização da sociedade. Tudo tende ao bem, seja individual ou coletivo, mas tal não deve ser entendido meramente como prazer ou posse de bens ou reconhecimento, pois, a felicidade real é a prática da virtude. Uma pessoa virtuosa é feliz e uma sociedade virtuosa proporciona felicidade para seus cidadãos.

Aristóteles divide as virtudes em intelectuais e morais. A virtude intelectual é chamada por virtude dianoética e surge e se desenvolve por meio da aprendizagem constante, sendo, portanto, devedora da educação e levando tempo e experiência para conseguir ser desenvolvida. A virtude moral, por sua vez, está presente na vida das pessoas e da sociedade por meio da prática presente nos costumes e hábitos e não pela natureza. Não nascemos éticos, mas somos seres capazes de desenvolver um comportamento ético por meio do hábito que cria em nós a virtude.

A ética de Aristóteles é teleológica, pois, busca atingir a um fim determinado. A ética é direcionada ao sumo bem, à felicidade.

No livro Ética a Nicômaco (livro VI) temos as virtudes intelectuais, a saber: arte, ciência, sabedoria, filosofia e inteligência. Já no tocante às virtudes morais, no capítulo 7 do livro II, temos uma tábua das virtudes e dos vícios.

Basicamente podemos falar de doze virtudes, tomando por base o quadro de Aristóteles, podemos observar que entre cada virtude numerada abaixo, seguindo o mesmo número, encontraremos o resultado de seu excesso ou de sua falta, o vício, a saber:

Quanto a equanimidade, temos: 1- coragem, 2- temperança, 3- liberalidade, 4- magnificência, 5- respeito próprio, 6- anônimo, 7- gentileza, 8- veracidade, 9- agudeza de espírito, 10- amizade, 11- modéstia, 12- justa indignação.

Quanto ao seu excesso, temos: 1- temeridade, 2- libertinagem, 3- prodigalidade, 4- vulgaridade, 5- vaidade, 6- ambicioso, 7- irascibilidade, 8- jactancioso / orgulhoso, 9- zombaria, 10- condescendência, 11- timidez, 12-inveja.

Quanto a sua falta, temos: 1- covardia, 2- insensibilidade, 3- mesquinhez, 4- vileza, 5- modéstia, 6- não ambicioso, 7- indiferença, 8- descrédito próprio, 9- rusticidade / grosseria falta de delicadeza e polidez / rude, 10- enfado / tédio, 11- desavergonhado, 12- malevolência.

 

Ponto 16- A política

O livro “Política” é composto por oito livros. Neste livro Aristóteles dá continuidade aos trabalhos sobre ética, pois, se nestes se buscava a virtude e felicidade individual, agora com a política busca-se alcançar a virtude e felicidade coletiva.

Aristóteles entende que o humano é um animal político e que, portanto, a sociedade surge de sua natureza. O humano não vive sozinho e afastado de todos, se une a uma família e a uma sociedade mais ampla, deste modo e ao contrário dos sofistas e mesmo de autores modernos, Aristóteles não vê a sociedade como algo artificial e sim como algo natural, pertencente a natureza humana. O humano é um animal racional, social e político. A associação de humanos em uma sociedade política não tem somente como objetivo proporcionar condições básicas para viver e sim para viver bem, viver conforme a virtude. A cidade deve ser uma comunidade de humanos livres dispostos a viver conforme a virtude.

Aristóteles se interessou pelas formas de governo e entende como legítimas a monarquia, aristocracia e democracia. Ao contrário de seu mestre, Platão, Aristóteles não possuía uma opinião negativa sobre o governo democrático.

Se formos pensar etimologicamente a origem da palavra “política”, teremos que “pólis” tem o seu significado em “cidade”, de modo que a palavra política apontaria para a atividade própria da pólis.

A monarquia é o governo de um só e tem como valor a unidade gerada. A aristocracia é o governo de alguns e tem como valor a qualidade da organização. A democracia é o governo de muitos e tem como valor a maior possibilidade de colaboração. Sendo estas as três formas políticas de governo que Aristóteles considera legítimas, havendo, no entanto, outras três formas ilegítimas nas quais poderiam se degenerar, a saber: tirania, que é quando o governante abusa de seu poder; oligarquia, que é quando o grupo que governa atende somente aos seus próprios interesses e aos de seus aliados; demagogia, que é quando a maioria se comporta de forma cega e direcionada por um pensamento vicioso.

1- Monarquia – Tirania

2- Aristocracia – Oligarquia

3- Democracia (Politia) – Demagogia (Democracia)

No item “3”, cabe mencionar que Aristóteles faz uso do termo “politia” para se referir ao governo de muitos, visando atender os interesses de todos na cidade e de “democracia” para a forma corrompida, na qual temos um governo de muitos, preocupado somente com seus próprios e egoístas interesses. Nos nossos dias atuais, chamamos o que Aristóteles entendida por “politia”, de “democracia”, e, por sua vez, chamamos o que Aristóteles entendia por “democracia”, de “demagogia”.

A política deve ter como objetivo o bem comum e promover a felicidade coletiva, está em essência associada a moral, uma vez que o fim último do Estado é a virtude, ou seja, a formação moral dos seus membros, proporcionando os meios necessários para tal finalidade. O que há de diferenciar a política da moral é seu objetivo, pois, a moral tem como objetivo o indivíduo e a política, a coletividade. Enquanto a ética trata do melhor comportamento moral individual, a política trata do melhor comportamento moral coletivo. Cabe à ética desenvolver um comportamento que proporcione a felicidade e virtude individual, enquanto que cabe a política proporcionar coletivamente a felicidade e a virtude.

O humano naturalmente busca viver em sociedade. Primeiramente o macho humano encontra a fêmea com o objetivo de procriar e, deste modo, vão se formando as famílias, as quais, uma vez reunidas, formam as pequenas vilas. Estes agrupamentos humanos naturalmente irão se formando e expandindo, levando à formação das cidades.

O Estado mostra-se superior ao indivíduo uma vez que a coletividade é superior ao indivíduo, ou seja, trata-se do bem comum ser superior ao bem particular. É por meio do Estado que se obtém a satisfação das necessidades individuais e coletivas. Por ser o humano um animal racional, social e político, tende a poder realizar integralmente a sua perfeição no interior de uma sociedade, de um Estado.

O Estado é composto por partes menores que o antecedem no tempo, estas partes são as diversas famílias que formam a comunidade social presente na cidade. As famílias precedem o Estado do mesmo modo que as partes precedem o todo cronologicamente, mas o todo aqui representado pela cidade-Estado é superior as suas partes. Para Aristóteles, a família compõe-se de quatro elementos básicos: os filhos, a mulher, os bens, os escravos; além do chefe a que pertence a direção da família.

 

Ponto 17- A retórica

A retórica é a arte de falar bem e saber a técnica para persuadir e como tal foi usada pelos sofistas e combatida por Platão, coube a Aristóteles analisar esta técnica. Em suma, a retórica consiste na arte de perceber os caminhos pelos quais é possível persuadir qualquer um sobre qualquer assunto tratado.

O discurso retórico analisado por Aristóteles possui três aspectos fundamentais que o suportam, a saber:

1- Ethos: que é o princípio ético que orienta a argumentação.

Por tal entendemos as características presentes no orador e que podem ter influência sobre o processo de persuasão, exemplo: autoridade, honestidade e credibilidade, domínio do tema abordado.

2- Pathos: que é o apelo aos sentimentos evocados pelo orador.

3- Logos: que é a estrutura lógica da argumentação. Os argumentos racionais apresentados em defesa da tese do orador.

O discurso pode ser dividido em duas ou em quatro partes. Em duas, temos: 1- a narração, 2- a prova. Já de modo mais completo, o discurso argumentativo pode ser convenientemente dividido em quatro partes: 1- proémio, 2- narração, 3- prova, 4- epílogo.

 

Ponto 18- A poética

Estes escritos de Aristóteles são não apenas a primeira teoria do teatro, mas também são o texto que mais influenciou no decorrer da história, o teatro e a teoria sobre o teatro.

Na Poética temos também tratado a questão da origem da tragédia, tal como era desempenhada no teatro grego. Segundo o pensamento de Aristóteles, a tragédia irá surgir de um princípio comum presente em todas as artes, que seria a imitação. A imitação é algo presente no humano e atua como forma de aprender as primeiras noções sobre o mundo circundante, diferenciando-se deste modo, dos demais animais. Por sua vez, a imitação também provoca prazer pela possibilidade ali presente de observar a imitação de algo que conseguimos assimilar, algo que nos é familiar e análogo com algo outro com que se consegue vislumbrar semelhança na realidade que nos circunda.

No livro “Poética” encontramos a “mimésis”, ou seja, imitação, como uma atividade ativa e criativa visando a catarse, ou seja, a obtenção de uma descarga emocional provocada pelo drama representado. Esta imitação, “mimésis”, deve ser entendida como imitação de uma “práxis”, de uma ação. Aqui cabe ressaltar que a noção de “eu” adotada pelos gregos difere da mesma noção nos dias atuais. Hoje a noção de “eu” faz referência à interioridade, já para os gregos, não. O “eu” é entendido como as ações praticadas pelo sujeito, pois, a única forma de se expressar é por meio das ações diante da realidade do mundo circundante e é justamente estas ações, que identificam o “eu”, que serão imitadas na tragédia.

Na poética Aristóteles dá um destaque ao tratamento da poesia nas formas apresentadas pela épica e pela tragédia, considerando a tragédia como superior à épica. Considerada a superioridade da tragédia em virtude da presença da música e do espetáculo como auxiliares no efeito provocado na plateia, efeito este que tende a ocorrer de modo concentrado. Entende que a tragédia possui maior vivacidade que a épica e que possui maior unidade de ação. Entende também que a tragédia, quando comparada à épica, tende a produzir de modo mais completo o efeito próprio da poesia, ou seja, o prazer originado na purificação dos sentimentos de piedade e temor. O tamanho e tempo destinado à apresentação de uma tragédia é mais compacto do que o presente na epopeia, o que tende a tornar a tragédia mais bela. Como exemplo de epopeia temos, de Homero, a Ilíada e a Odisseia. Pelos mesmos motivos, é de se supor que a comédia também é superior à epopeia e a catarse nela envolvida é o ato de rir.

Neste tocante, a Poética nos traz a tragédia e a epopeia como lugar de catarse, tendo como finalidade a purificação e o prazer. A purificação efetuada pela tragédia se dá no que concerne aos sentimentos de piedade ou compaixão, e também temor. Mas e quanto ao livro desaparecido sobre a comédia, que integraria a obra sobre a poética? Aqui cabe ressaltar que provavelmente o segundo livro, desaparecido, sobre a comédia, deveria atuar demonstrando que esta última provocaria uma purificação das tendências para rir.

A tragédia, enquanto gênero literário, deve ser estruturada de modo a possuir um princípio, um meio e um fim. O expectador deve encontrar uma razão para o seu início, o que há de marcar o surgimento das primeiras ações e fatos narrados. Por sua vez, o final deve ser entendido pelo expectador como satisfatório. O início deve proporcionar entendimento e evitar que o expectador tenha a sensação de se auto perguntar como tais fatos poderiam de fato ter ocorrido. Já quanto ao final, este deve ser satisfatório o suficiente para o expectador não se fazer a pergunta do que ocorrerá depois. Segundo Aristóteles, qualquer obra, seja qual for, possui um limite que lhe é apropriada e que a beleza está vinculada ao tamanho da obra. Se a obra representada no teatro possuir um tempo muito pequeno ou muito longo, isto irá afetar negativamente a sua apreciação positiva pelo expectador. Há um tempo ideal que deve ser respeitado para não gerar fadiga e para que os fatos ali narrados possam ser retidos na memória.

A tragédia deve ter como efeito e causa final a purificação do expectador, atuando como uma catarse mental e emocional. A tragédia teria, portanto, um objetivo moral de purificação das emoções. O objetivo direto da tragédia é provocar no expectador as emoções e sentimentos de piedade (compaixão) e temor. Piedade (compaixão) em relação aos sofrimentos passados e presentes, enfrentados pelo herói, e temor pelo sofrimento futuro, que será enfrentado pelo herói.

Tanto Platão, como também Aristóteles, reconhecem que a tragédia provoca piedade e temor, estimulando as emoções, mas Platão entende que por isto ela torna mais emotivos os fracos e por tal motivo a combate, já Aristóteles tem uma interpretação diferente, pois entende que os efeitos da tragédia não seriam de tornar o expectador mais emotivo e sim, de purificar suas emoções. Mas o fim último para que tende a tragédia é o prazer por ela proporcionada. Trata-se do prazer originado pelo alívio da piedade e do temor.

Em relação aos caracteres, o ambiente da peça, a música e tudo o mais que lhe seja acessório, estes elementos ficarão em segundo lugar diante do enredo da peça.

Com Aristóteles e a poética cabe deixar de lado a interpretação meramente moralista da arte ou simplesmente como algo imitativo da realidade, não se trata de mera reprodução ou cópia e sim de algo mais, vinculado a uma necessidade humana de purificar suas emoções mais fortes.

 

Ponto 19- A arte

Segundo o pensamento de Aristóteles, a arte ganha grande importância, pois, por meio da arte se pode reparar deficiências presentes na natureza humana, tendo, portanto, como mérito poder atuar positivamente na formação moral das pessoas.

A arte não deve ser vista como mera cópia ou imitação da realidade como o queria Platão, pois, tem como finalidade a obtenção de prazer e também a purificação de fortes emoções. A arte não é vista como algo negativo e ganha uma conotação positiva em Aristóteles.

Para Aristóteles a arte deve ser entendida como uma criação humana, sendo que o belo, presente na arte, está intimamente vinculado ao humano. As artes tem o potencial de imitar a natureza, mas não somente isto, sendo algo bem mais amplo. Segundo o pensamento de Aristóteles, cabe às artes proporcionarem, no tocante à beleza das obras: a proporção, a simetria, a ordem e o justo meio.

Aristóteles também entende que o belo está vinculado as melhores ações humanas, em particular a contemplação por meio da filosofia. Pensando no humano livre e nas ações nobres por este empreendidas, entende que cabe às artes o papel de nos educar para tais valores e ações. Por meio da arte é possível desenvolver o interesse pela atividade mais nobre que um humano pode exercer, que é justamente a atividade contemplativa. A arte pode, também, proporcionar uma educação estética e a aprendizagem de conteúdos éticos. Muito mais importante do que produzir obras belas, é aprender a agir de modo belo. Aqui ganha papel de destaque o poeta na criação de sua obra. Lembremos aqui do éthos presente no herói e citemos os casos de Aquiles e Ulisses, o primeiro com sua grande coragem e o segundo detentor de uma excepcional astúcia. Trata-se da imitação do caráter, apresentados pelos personagens das obras poéticas.

 

Ponto 20- Aristóteles versus Platão: Semelhanças e diferenças

Aristóteles nega a possibilidade de um mundo das ideias, presente em Platão. Para Platão teríamos dois mundos com realidade ontológica e distintos, já para Aristóteles temos um único mundo, o dos sentidos.

Os universais, para Aristóteles, não teriam uma realidade ontológica e sim somente lógica, seriam conceitos formados na nossa mente por meio de um processo de abstração a partir da observação empírica de seres individuais. Somente os entes individuais, segundo o pensamento de Aristóteles, possuem realidade ontológica.

Tanto Platão, como também Aristóteles, entendem a ciência como um campo onde se busque um conhecimento que tenha como característica ser fixo, estável e certo, no entanto, Platão o faz se afastando da realidade empírica e buscando a verdade no mundo imutável e perfeito, o mundo das ideias. Já Aristóteles busca esta mesma verdade científica no mundo que percebemos por meio de nossos sentidos. Platão fornece realidade ontológica aos conceitos socráticos.

Os conceitos presentes na noção de ciência para Platão têm início no mundo das ideias e de lá obtemos sua participação na realidade que percebemos, temos aqui um movimento de cima para baixo, já em Aristóteles temos exatamente o oposto, um movimento de baixo para cima, indo dos particulares ao conceito universal.

Em Platão encontramos uma filosofia que se aproxima mais da realidade das matemáticas, e da imutabilidade e perfeição ideal encontrada nos números e na matemática em geral, já para Aristóteles, temos presente em sua filosofia uma abordagem que mais se aproxima da biologia, enquanto forma de atuação diante do mundo.

Na questão ética eles também se diferenciam, pois, Platão seguindo seu mestre, Sócrates, há de propor que ao contemplar a verdade, o humano, de posse deste conhecimento há de se portar de acordo com o mesmo. Se conheço a verdade, pratico o bem e sou virtuoso. Neste tocante, a verdade é igualada ao Bem e não há como praticar o mal a não ser por ignorância, se sei o que é a verdade, o bem, eu o pratico e sou virtuoso. Já para Aristóteles não. A ética se dá por meio da prática constante que cria o hábito e não somente pelo conhecimento teórico sobre o que seja o Bem.

Segundo o pensamento de Aristóteles, podemos dividir as virtudes em intelectuais ou dianoética, e morais. A virtude intelectual ou dianoética surge e se desenvolve por meio do processo de aprendizagem e da educação, cabendo a necessidade de tempo para seu amplo desenvolvimento. Na virtude dianoética encontramos a contemplação do filósofo. No tocante à virtude moral, esta se dá na vida prática das pessoas em seu convívio na sociedade. Na virtude moral temos presente de modo constante a prática, transformando-a em costumes e hábitos pessoais e sociais, não sendo algo dado pela natureza e sim uma construção humana. Toda a ética de Aristóteles é direcionada a um fim maior, que é o sumo bem, a felicidade. Temos, portanto, uma ética teleológica.

Platão busca uma cidade ideal em seus livros “A República” e “Leis”, já Aristóteles se atém à cidade-estado real existente em seus dias e o melhor modo de viver ética e politicamente em sociedade.

Platão quando diante da origem do universo, nos fala no mundo das ideias, no demiurgo e em uma matéria primordial. O demiurgo se utilizaria das ideias perfeitas contidas no mundo das ideias e desta matéria primordial para compor todo o universo. Aristóteles, por sua vez, nos fala em um motor imóvel contido na periferia do universo e que teria originado todo o movimento, sendo a causa incausada de tudo que há. Haveria um ato puro, sem potência, que daria origem ao movimento. Também há necessidade de uma forma pura, sem matéria. Também uma matéria primordial, sem forma, da qual nosso universo seria constituído. Podemos, portanto, falar em um ato puro, uma forma pura e um motor imóvel não causado, na origem de nosso universo, mas que por sua vez, necessitariam de uma matéria primordial, praticamente em potência, da qual se originaria o universo.

Em Platão, se temos as ideias perfeitas, estas formas presentes no mundo das ideias, temos um projeto que antecede tudo que há no universo, pois, tudo o que há são cópias destas formas. Já em Aristóteles, por não termos estas formas, e sim somente um ato puro, uma forma sem matéria, que exerce sua influência sem toque físico e sim somente pela atração, temos presente uma maior aleatoriedade, pois, não há um modelo a ser seguido ou copiado.

Em Platão temos um dualismo entre corpo e alma, a alma habita o corpo, mas é imortal e pertence ao mundo das ideias, quando o corpo perece, a alma não perece, retorna ao mundo das ideias. Já para Aristóteles temos o hilomorfismo (ou hilemorfismo), onde a matéria, “hilé”, não pode subsistir sem a forma, “morphé”, ou vice-versa. A forma, enquanto essência do corpo de um sujeito, é sua alma, e esta não pode subsistir sem o corpo. Em Platão temos, portanto, uma alma imortal, já em Aristóteles não há razão para falarmos em imortalidade da alma.

Para Aristóteles o humano ao nascer é semelhante a uma tábua rasa, não possuindo qualquer tipo de conhecimento prévio. Toda e qualquer aprendizagem provém de nossos sentidos, por meio de nossa percepção. Já para Platão, existem ideias inatas. Aprender é recordar o que já sabíamos de quando nossa alma habitava o mundo das ideias.

 

Para Platão a alma é dividida em três: 1- do baixo ventre, 2- do peito, e 3- da cabeça. Cada qual responsável por uma forma de se portar diante do mundo, deste modo, a alma do baixo ventre ou também chamada por alma do ventre ou do abdômen, está vinculada com as nossas paixões, com a fúria e os desejos. A alma do baixo ventre é a alma apetitiva, a qual, no livro “A República” aparece na cidade ideal de “Kallipólis” como pertencente a classe dos trabalhadores em geral, e, no livro “Fedro”, na alegoria da biga alada, aparece vinculada ao cavalo negro.

Já a alma do peito, por sua vez, é responsável pelos nossos sentimentos e pela nossa coragem. A alma do peito é a alma irascível, a qual, no livro “A República” aparece na cidade ideal de “Kallipólis” como pertencente a classe dos guerreiros, e, no livro “Fedro”, na alegoria da biga alada, aparece vinculada ao cavalo branco.

Quanto a alma da cabeça, esta é responsável pela nossa razão, é a parte racional de nosso ser, e a única imortal. A alma da cabeça é a alma racional, a qual, no livro “A República” aparece na cidade ideal de “Kallipólis” como pertencente a classe dos governantes, o “rei filósofo”, e, no livro “Fedro”, na alegoria da biga alada, aparece vinculada ao cocheiro que conduz a carruagem puxada pelos cavalos negro e branco.

Ao estudar a alma, Aristóteles encontra quatro funções principais, a saber: nutrição, sensação, movimento e pensamento. A alma para Aristóteles é dividida em três partes: 1- vegetativo, 2- sensitivo-motor e 3- racional ou intelectiva. As plantas só possuiriam a alma vegetativa, já os animais possuiriam também a sensitiva, cabendo ao humano possuir as três.

Para Platão temos os seguintes tipos de governo: 1- timocracia (militares. Essência: disciplina), 2- oligarquia (homens de ambição. Essência: acumular riquezas), 3- democracia (confronto entre ricos e pobres. Absoluta liberdade e inversão de valores, predomina o caos), 4- tirania (um eleito para ocupar o governo eternamente. O tirano é dominando pelas próprias paixões e desejos. Pode fazer tudo, mesmo aquilo que os demais jamais fariam). Sendo que os governos se corrompem e degeneram nesta mesma ordem.

Já para Aristóteles, temos uma divisão tripartida. A monarquia, que se degenera em tirania. A aristocracia, se se degenera em oligarquia. A democracia (politia), que se degenera em demagogia (democracia). Temos, portanto, o governo de um só, o governo de poucos e o governo de muitos. Quando o governo atua voltado para o bem comum e o desenvolvimento político social da cidade-estado, temos um bom governo, já quando este mesmo governo atua visando benefícios próprios e ignorando o bem comum, temos um governo ruim e corrompido.

A monarquia é o governo de um só e tem como valor a unidade gerada. A aristocracia é o governo de alguns e tem como valor a qualidade da organização. A democracia é o governo de muitos e tem como valor a maior possibilidade de colaboração. Sendo estas as três formas políticas de governo que Aristóteles considera legítimas, havendo, no entanto, outras três formas ilegítimas nas quais poderiam se degenerar, a saber: tirania, que é quando o governante abusa de seu poder; oligarquia, que é quando o grupo que governa atende somente aos seus próprios interesses e aos de seus aliados; demagogia, que é quando a maioria se comporta de forma cega e direcionada por um pensamento vicioso.

Platão possui uma visão eminentemente negativa sobre as artes, expressa em seu livro “A República”, já Aristóteles possui um entendimento mais positivo sobre as artes em geral. Para Platão as artes são meras cópias, já em um terceiro nível, cópias das cópias. Para Aristóteles as artes, em especial a poesia presente na epopeia, tragédia e comédia, possuem um caráter eminentemente catártico e educativo.

Platão possui um entendimento bem negativo sobre a retórica, defendendo o uso da dialética como método para a filosofia. Já Aristóteles entende ser a retórica e a dialética modos diferentes de uma mesma coisa, por sua vez, entende que a retórica pode ter uma atuação positiva na cidade e desenvolve um tratado explicando a mesma.

Aristóteles é um grande sistematizador, com sua filosofia proporciona ordem e método aos diversos campos da filosofia, já Platão, com seu modo de escrever e apresentar suas ideias, cabe, inclusive, a dúvida sobre se podemos ou não falar de um sistema filosófico em Platão.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 

 



       



   

        


      


    


 

     


       


   


          



    
 

        


         


       


             


             


          


         


     


        


           


           


            


           


           


            Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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