Textos filosóficos, críticos, comportamentais e sobre arte da escrita, sucesso e auto-ajuda.
Professor Doutor Silvério
Blog: "Comportamento Crítico"
Professor Doutor Silvério
Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.
(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)
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Nas ciências do espírito,
o espírito objetivou-se, nelas formaram-se fins e valores realizaram-se, e é
precisamente esse elemento espiritual, que tomou forma nelas, que é apreendido
pela compreensão. Dilthey.
Wilhelm
Christian Ludwig Dilthey (1833-1911) nasceu em Wiesbaden-Biebrich, região do
Reno, Confederação Alemã, e faleceu aos 77 anos de idade em Seis am Schlern,
Áustria-Hungria. Filho de um teólogo da Igreja Reformada (Calvinista), cresceu
em um ambiente familiar marcado pela tradição religiosa, estudou Teologia na
Universidade de Heidelberg e Filosofia na Universidade de Berlim. Durante esse
período, ele se aprofundou na obra de pensadores como Friedrich Schleiermacher,
cuja hermenêutica e abordagem à religião o inspiraram a explorar a compreensão
da experiência humana. Concluiu o ensino fundamental em Wiesbaden e em seguida
começou a estudar teologia, inicialmente em Heidelberg e depois em Berlim, mas
não deu sequência a estes estudos, tendo transferido seu interesse para a
filosofia.
Obteve seu
doutorado em Berlim no ano de 1864com uma tese sobre a ética de
Schleiermacher, marcando sua transição definitiva para a filosofia.Após obter o
doutorado e a habilitação(qualificação para lecionar em nível universitário),
Dilthey lecionou brevemente como Privatdozent na Universidade de Berlim. Em
seguida foi nomeado para uma cátedra na Universidade de Basileia em 1866,
posteriormente em Kiel, 1868 e Breslau, 1871. Vindo, finalmente, a suceder R.
H. Lotze na Universidade de Berlim em 1882, ocupando a cadeira de Hegel, lugar
no qual ficou até o final de sua vida. Atuou, portanto, como professor em
Basileia, Kiel, Breslau e Berlim, esta última a partir de 1882, ocupando a
cátedra de filosofia. Sua área de interesse e estudo se encontra junto a
história, filosofia, psicologia e pedagogia. Sua obra busca o entendimento da
experiência e da mente humana. Seus trabalhos influenciaram a filosofia da
mente e a hermenêutica.
Em 1874, ele se
casou com Katherine Püttmann, tendo três filhos do relacionamento (um menino e
duas meninas). Ao longo de sua carreira, Dilthey enfrentou desafios pessoais,
incluindo problemas de saúde que o obrigaram a se afastar temporariamente do
ensino. Ele era um erudito prolífico, produzindo obras que mesclavam biografia,
psicologia e hermenêutica. Em seus últimos anos, ele se retirou para o Tirol do
Sul, na Itália, onde continuou a trabalhar em projetos inacabados. Dilthey
faleceu em 1 de outubro de 1911, em Seis am Schlern, deixando um legado que
moldou o campo das humanidades. Sua vida reflete uma busca incessante por
compreender o ser humano em seu contexto histórico e cultural, sem reduzi-lo a
leis universais rígidas.
Dilthey
desenvolveu uma filosofia que buscava compreender a experiência humana em seu
contexto histórico e cultural, destacando-se por sua distinção entre as
ciências da natureza e as ciências do espírito, além de conceitos centrais como
“Erlebnis” (experiência vivida), “Verstehen” (compreensão) e a crítica da razão
histórica.
O conceito de
“Erlebnis” é central na filosofia de Dilthey. Ele se refere à experiência
vivida, um momento pleno de significado que integra pensamento, sentimento e
vontade na consciência individual. Diferentemente de uma experiência meramente
sensorial ou fragmentada, o “Erlebnis” é uma unidade significativa que reflete
a totalidade da vida psíquica. Por exemplo, ler um poema ou vivenciar um evento
histórico marcante não é apenas um ato isolado, mas uma experiência que conecta
o indivíduo ao seu contexto cultural e histórico. Dilthey via o “Erlebnis” como
a base para compreender a vida humana. Ele pensava que as ciências do espírito
deveriam partir dessas experiências vividas para interpretar textos, eventos
históricos ou obras artísticas, captando sua riqueza e profundidade.
A “Verstehen” é
o método fundamental das ciências do espírito, segundo Dilthey. Trata-se de um
processo interpretativo que busca entender as intenções, motivações e
significados por trás das ações humanas. Diferentemente da explicação causal,
que procura causas externas, a compreensão mergulha na interioridade do
sujeito, considerando o contexto histórico e cultural. Por exemplo, ao estudar
uma carta de Goethe, o historiador não apenas analisa o texto, mas tenta
compreender os sentimentos, intenções e o mundo cultural do autor. Dilthey
enfatizou que a “Verstehen” exige empatia e uma conexão com a experiência
vivida do outro, muitas vezes mediada pela hermenêutica, que ele desenvolveu a
partir das ideias de Schleiermacher.
No primeiro volume
de “Introdução ao Estudo das Ciências Humanas”, 1883, faz a distinção entre
ciências do espírito (humanas) e da natureza. As Ciências da Natureza
(Naturwissenschaften) buscam explicar (erklären) os fenômenos por meio de leis
causais e generalizações objetivas. Já as Ciências do Espírito
(Geisteswissenschaften) buscam compreender (verstehen) as manifestações da vida
humana, como a história, a cultura, a arte, a religião, a literatura, etc. O
importante aqui nesta distinção é que a mesma não depende do objeto em estudo e
sim do método, já que um mesmo fenômeno pode ser abordado de ambas
perspectivas. Portanto, Dilthey separa as ciências da natureza das do espírito,
não pelo objeto estudado, que pode ser o mesmo, mas sim pelo método empregado.Essa
abordagem metodológica foi revolucionária, pois legitimou as humanidades como
um campo científico autônomo, com uma lógica própria distinta das ciências
naturais.
As ciências do
espírito têm como objeto a realidade histórico-social, como tal é o caso da
história, economia, ciência do direito, ciência da religião, literatura, música
e psicologia. Para estudarmos as ciências do espírito precisamos empregar um
método diferente do usado pelas ciências da natureza. Nas ciências do espirito
devemos fazer uso da hermenêutica. Quando o pesquisador adota em sua abordagem
de estudo um método causal-explicativo, este se encontra no campo pertencente às
ciências naturais, já quando adota um método compreensivo-interpretativo, passa
a atuar junto as ciências do espírito. Os três momentos do conhecer em que se
fundam as ciências do espírito são: 1- a vivência, 2- a expressão, 3- a
compreensão.
A distinção
entre por um lado ciências naturais e por outro ciências do espírito ou
humanas, se funda sobre o que é natural ou explicável e aquilo que é humano ou
compreensível. Quando pensamos em algo que seja explicável, pensamos em algo
que é obtido por meio de inferências, algo que é passível de ser generalizável,
algo que é racional e apresenta regularidade. Já quando pensamos em algo que
seja compreensível, entendemos que possua um significado e que este significado
só possa se apreendido por meio de um dado contexto histórico social.
Por meio da
história as culturas desenvolvidas e os indivíduos nelas presentes podem se
expressar e se transformar. Cabe às ciências do espírito se dedicarem ao estudo
da singularidade dos eventos históricos e não na busca por leis gerais.
O método
proposto por Dilthey para o estudo das ciências do espírito é o da hermenêutica.
Esta expressão provém do grego, e pode ser entendida como “traduzir” ou
“interpretar”. Trata-se, portanto, de uma abordagem que se propõe a interpretar
ou compreender seu objeto de estudo. Esta proposta atua como se fosse um
círculo, já que o todo só pode ser compreendido por meio do estudo das partes e
estas só podem ser compreendidas por meio do todo. Para entendermos as
expressões humanas, estas devem ser estudadas dentro de seu contexto histórico
(individual e social). Nossa vida está vinculada a significados e estes obtêm
sua coerência por meio de uma interpretação dentro de determinado contexto.
Ao destacar a
importância da compreensão (Verstehen) em oposição à explicação (Erklären) das
ciências naturais, entende Dilthey que a hermenêutica é a metodologia mais
adequada para ser adotada nas ciências do espírito. Dilthey entende que a
compreensão se faz presente pela reconstrução do significado e do contexto
histórico de expressões presentes na vida humana, sejam estas produções
literárias ou organizacionais. A base da compreensão se dá por meio da
experiência vivida (Erlebnis).
Em sua filosofia
da vida (Lebensphilosophie) entendia que a vida se apresenta como um fluxo
contínuo de experiências não passível de redução a conceitos fixos. Para
entendermos corretamente a vida precisamos estuda-la dentro de modo contextual
e interpretativo, já que esta mostra-se presa a sua história e cultura.
Nos últimos anos
de sua vida (1911), Dilthey desenvolve uma tipologia baseada em três visões de
mundo (Weltanschauungen): Naturalismo, idealismo subjetivo e idealismo
objetivo. Entende o naturalismo como uma visão de mundo na qual tudo é
determinado pela natureza e nela inclui os epicuristas. Já por idealismo
subjetivo ou da liberdade, entende uma visão de mundo na qual os humanos são
tidos como sendo conscientes de sua separação da natureza por meio do
livre-arbítrio. Aqui teríamos as filosofias de Friedrich Schiller e Immanuel
Kant. No idealismo objetivo os humanos são conscientes de sua harmonia com a natureza
e aqui se encaixam as filosofias de Hegel, Spinoza e Giordano Bruno.
Dilthey chamou o
seu projeto, de fundamentar filosoficamente as ciências do espírito (humanas)
de “Crítica da razão histórica”. Dilthey aspirava criar uma “crítica da razão
histórica”, inspirada pela “Crítica da Razão Pura” de Kant, mas voltada para o
domínio histórico e humano. Ele buscava estabelecer os fundamentos
epistemológicos das ciências do espírito, investigando como o conhecimento
histórico é possível. Para Dilthey, a história não é apenas uma sequência de
eventos, mas um processo vivo de significados criado pelos seres humanos. Sua
crítica explorava como as experiências individuais e coletivas se entrelaçam na
construção do mundo histórico, rejeitando visões positivistas que reduziam a
história a leis universais.
Dilthey é
considerado um dos precursores da filosofia da vida, que enfatiza a vida como
um processo dinâmico, criativo e historicamente situado. Ele via a vida humana
como o ponto de partida para a filosofia, argumentando que o conhecimento deve
ser ancorado na experiência concreta do viver. A vida, para Dilthey, é sempre
histórica, moldada por contextos culturais, sociais e temporais. Essa
perspectiva influenciou sua análise de como indivíduos e sociedades expressam
suas experiências por meio de arte, religião e instituições.
Dilthey ampliou
a hermenêutica, originalmente desenvolvida por Schleiermacher para a
interpretação de textos bíblicos, transformando-a em um método geral para as
ciências do espírito. Ele via a hermenêutica como uma ferramenta para
compreender as expressões da vida humana (como textos, obras de arte ou ações
históricas) ao relacioná-las ao contexto do autor e ao momento histórico. A
hermenêutica de Dilthey enfatiza o “círculo hermenêutico”, no qual a
compreensão de uma parte (como uma frase) depende do entendimento do todo (o
texto ou a cultura) e vice-versa.
Nos últimos anos
de sua vida, Dilthey desenvolveu a ideia de “Weltanschauungen” (visões de
mundo), que são maneiras pelas quais indivíduos e culturas organizam suas
experiências e valores. Ele identificou três tipos principais: naturalismo;
idealismo objetivo; e idealismo subjetivo.
Naturalismo:
Prioriza a realidade material e as leis naturais.
Idealismo
objetivo: Enfatiza a harmonia entre o indivíduo e o universo, como no
pensamento de Hegel.
Idealismo
subjetivo: Centra-se na liberdade e na experiência interior, como em Kant ou
Schopenhauer.
Essas visões de
mundo não são excludentes, mas representam diferentes formas de interpretar a
vida, influenciando sistemas filosóficos, religiosos e artísticos.
Dilthey propôs
uma psicologia descritiva e analítica, distinta da psicologia experimental de
sua época. Em vez de buscar leis gerais do comportamento, ele focava na
descrição das estruturas da consciência e da experiência vivida, analisando
como os processos de pensar, sentir e querer se interligam. Essa abordagem
servia como base para compreender as ações humanas nas ciências do espírito, em
vez de reduzi-las a modelos causais.
As ideias de
Dilthey foram fundamentais para legitimar as ciências humanas como um campo
autônomo, com métodos próprios. Sua ênfase na compreensão e na historicidade
influenciou filósofos como Martin Heidegger, Hans-Georg Gadamer e Jürgen
Habermas, além de disciplinas como a sociologia e a história cultural. Ele
ofereceu uma alternativa ao Positivismo, destacando a riqueza da experiência
humana e a necessidade de interpretá-la em seu contexto.
ALGUMAS DE SUAS
PRINCIPAIS OBRAS
1- Leben
Schleiermachers. Título em português: Vida de
Schleiermacher. Data da primeira publicação: 1870.
Biografia
detalhada em dois volumes de Friedrich Schleiermacher, explorando sua vida,
desenvolvimento intelectual e contribuições para a teologia liberal e a
hermenêutica, servindo como base para os interesses iniciais de Dilthey em
história intelectual e interpretação.
2- Einleitung in
die Geisteswissenschaften. Título em português: Introdução
às Ciências Humanas. Data da primeira publicação: 1883.
Obra fundamental
que distingue as ciências da natureza das ciências do espírito (humanas),
propondo uma fundamentação metodológica para o estudo da sociedade e da
história por meio da compreensão (Verstehen) em vez da explicação causal,
enfatizando a hermenêutica como método chave.
3- Ideen zu einer beschreibenden und zergliedernden
Psychologie. Título
em português:Ideias para uma
Psicologia Descritiva e Analítica. Data da primeira publicação: 1894.
Propõe uma
psicologia descritiva e analítica que se concentra na estrutura da experiência
vivida (Erlebnis), distinguindo-a da psicologia explicativa naturalista, e
analisa o nexo estrutural da consciência envolvendo representar, sentir e
querer.
4- Beiträge zum
Studium der Individualität. Título em português: Contribuições ao Estudo da
Individualidade. Data da primeira publicação: 1895.
Explora a
individualidade como algo adquirido historicamente, enfatizando a configuração
estrutural de qualidades dominantes e subordinadas, e critica distinções
nomotéticas-idiográficas, destacando a conexão entre o geral e o individual nas
ciências humanas.
5- Das Erlebnis und die Dichtung, Lessing, Goethe,
Novalis, Hölderlin. Título
em português: A Experiência Vivida e a Poesia. Data da primeira publicação:
1905.
Examina a
relação entre a experiência vivida e a criação poética, analisando como a
imaginação literária expressa e transforma a vida interior, com estudos sobre
autores como Goethe e Novalis, enfatizando o papel da arte na compreensão
humana.
Estudo
biográfico e histórico sobre os anos formativos de Georg Wilhelm Friedrich
Hegel, traçando o desenvolvimento de seu pensamento idealista em contexto
cultural e romântico, ilustrando o método de Dilthey de análise holística de
figuras históricas.
7- Der Aufbau der geschichtlichen Welt in den
Geisteswissenschaften. Título em português: A Construção do
Mundo Histórico nas Ciências do Espírito. Data da primeira publicação: 1910.
Investiga como
as ciências do espírito constroem o entendimento do mundo histórico, destacando
a singularidade dos eventos, o papel do contexto e a relatividade das
perspectivas, como parte do projeto maior de crítica da razão histórica.
8- Die Typen der Weltanschauung und ihre Ausbildung in
den metaphysischen Systemen. Título em português: Os Tipos de Visão de Mundo. Data
da primeira publicação: 1911.
Classifica as
visões de mundo em três tipos principais (naturalismo, idealismo objetivo e
idealismo subjetivo) e sua manifestação em sistemas metafísicos, contribuindo
para a filosofia da vida e a análise comparativa de orientações existenciais.
“O destino de nossa época,
caracterizada pela racionalização, pela intelectualização e, sobretudo, pelo
'desencantamento do mundo', fez com que os homens se tornassem incapazes de
suportar as antigas concepções religiosas da vida”.
A Ciência como Vocação
(Wissenschaft als Beruf, 1917/1919). Max Weber.
Max Weber
1- Max Weber:
Vida, Contexto Alemão e Legado Duradouro
Poucos
pensadores compreenderam com tanta profundidade o drama racional da modernidade
quanto Max Weber. Maximilian Karl Emil Weber ou Max Weber (1864-1920) nasce em
Erfurt, Reino da Prússia, e falece aos 56 anos em Munique, Alemanha, vitimado
por pneumonia. Atuou como jurista, economista e sociólogo. Trabalhou como
professor na Universidade Humboldt de Berlim, na Universidade de Freiburg, na
Universidade de Heidelberg, na Universidade de Viena e na Universidade de
Munique. Foi nomeado professor de Economia nas universidades de Freiburg em
1894 e de Heidelberg em 1896.
Seus pais, Max
Weber Sr. (1836-1897) e Helene Fallenstein (1844-1919), tiveram um total de
sete filhos, sendo Max Weber o primeiro. Seu pai atuou como advogado, político
e membro do partido Nacional Liberal. Sua mãe era descendente de imigrantes
huguenotes franceses.
Com relação aos
seus estudos e sua formação profissional, no ano de 1882 Max Weber se
matriculou na Faculdade de Direito da Universidade de Heidelberg, onde também
frequentou disciplinas de outros cursos. Em 1884 passa a estudar na
Universidade de Berlim e em 1889 obtém seu Doutorado em Direito. No ano de 1891
apresenta sua tese de habilitação.
Weber se
inspirou em fontes diversas: o rigor lógico de Kant, a crítica à moral de
Nietzsche, a distinção entre explicar e compreender de Dilthey, e a diferença
entre ciências da cultura e da natureza de Rickert. Rejeitou o determinismo econômico
de Marx, mas absorveu parte de sua análise crítica do capitalismo. Dos
marginalistas (Menger, Böhm-Bawerk), foi influenciado pela racionalidade
econômica individual.
Casou-se com
Marianne Schnitger (1870-1954) no ano de 1893, prima em segundo grau, sua
biógrafa e editora de suas obras completas. Sua esposa atuou como feminista, se
dedicava aos estudos e foi posteriormente curadora da obra de Max Weber, quando
de seu falecimento. Mais tarde, quando da publicação da correspondência de Max
Weber, soube-se de seus relacionamentos amorosos com Else von Richtoffen (1874-1973)
e Mina Tobler (1877-1943, datas históricas aproximadas).
Entre 1897 e
1901 registra-se que padeceu de forte depressão que paralisou suas atividades
de pesquisa e ensino. Foi o período em que frequentou sanatórios e realizou
viagens pela Europa, particularmente Roma, cidade na qual ficou por alguns
meses. Recuperado, em 1903 renuncia ao cargo de professor e passa a ser
diretor-associado dos “Arquivos de ciências sociais e política social” (Archiv
für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik), uma revista na qual teve
oportunidade de publicar em 1904 e 1905 as duas partes que compõe seu principal
artigo: “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Neste período e
entre a publicação da primeira e da segunda parte deste artigo, também visitou
os EUA. Aqui cabe frisar que ao renunciar ao cargo de professor em 1903,
pedindo sua demissão, esta lhe foi negada em virtude de sua comprovada competência
e a administração entrou em um acordo com Weber para que este se afastasse com
uma aposentadoria e que continuasse sendo professor honorário da universidade
de Heidelberg, com uma pequena carga horária de trabalho enquanto melhorava sua
condição de saúde abalada pela depressão.
Max Weber também
se destaca pela participação em alguns momentos de relevância histórica para a
Alemanha, como o tratado de Versalhes (1919) ao final da primeira guerra
mundial (1914-1918) e a rendição da Alemanha, e a elaboração da constituição da
República de Weimar (1920).
Weber viveu o
auge e a crise do Segundo Reich (1871-1918), unificado por Bismarck sob o lema
"sangue e ferro". Detalhe que o primeiro Reich (962-1806) se dá com o
Sacro Império Romano-Germânico. Esse império industrial, militarista e
burocrático presente no segundo Reich foi o laboratório vivo de suas teorias.
Ele via a unificação da Alemanha como um triunfo da racionalidade política, mas
também como prenúncio da "gaiola de ferro", a burocracia impessoal
que sufocaria a liberdade individual. O colapso de 1918 e a República de Weimar
(1919) confirmaram seu diagnóstico: a modernidade era algo irreversível, mas também
podia ser perigosa.
No transcurso de
sua vida, Weber publicou: “História agrária romana”, “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”, “Economia e sociedade”, “A ciência como vocação”.
Após seu falecimento, sua esposa assume a curadoria de suas obras, vindo a
organizar e publicar outros três livros: “Economia e sociedade – volume 2”, 1921,
“A metodologia das ciências sociais”, 1922, “História econômica geral”, 1923.
Parte
considerável do seu trabalho tem como foco o capitalismo, o desencantamento do
mundo e o processo de racionalização. Desenvolve um trabalho muito interessante
sobre a sociologia da religião, associando o protestantismo ao surgimento do
capitalismo. Suas reflexões e argumentações sobre este tema encontram-se em “A
ética protestante e o espírito do capitalismo”.
Para Weber a
sociologia tem como objetivo em suas investigações o que este chama de “ação
social”. Esta ocorre a partir das ações individuais e suas respostas por parte
de outros indivíduos. Nela estão envolvidos motivação, ação e efeitos buscados
por todos os envolvidos. Segundo o pensamento de Max Weber, a ação social pode
ser dividida em quatro tipos: 1- ação racional com relação a fins, 2- ação
racional com relação a valores, 3- ação tradicional e 4- ação afetiva.
A abordagem
sociológica de Weber recebe várias denominações, dentre as quais destaco "Sociologia
compreensiva" (em alemão: verstehende Soziologie) que se encontra presente
em textos do próprio autor. Mas há outras formas de se referir ao seu trabalho,
como, por exemplo: “Sociologia interpretativa” ("interpretive
sociology"), esta mais usada em contextos anglófonos. Outra denominação
comum se encontra em “Sociologia da ação social”. A teoria desenvolvida por Max
Weber também é comumente chamada de “Individualismo metodológico” já que não
nega a existência ou importância de fenômenos sociais globais, mas proporciona
ênfase ao entendimento das intenções e motivações individuais quando em
sociedade. A sociedade deve ser entendida como sendo uma totalidade resultante
das relações entre os diversos sujeitos que a compõe, ficando o sujeito na base
de sua compreensão. Em última instância, não podemos esquecer que toda a vida
acadêmica de Max Weber enquanto docente foi dedicada ao ensino da economia, o
que aproxima seu trabalho em sua totalidade de um estudo sócio-histórico da
vida aquisitiva em sociedade.
O legado de
Weber transcende a sociologia. Jürgen Habermas o critica por pessimismo, mas
herda sua teoria da ação. Talcott Parsons o traduz para o Funcionalismo. A
Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer) vê na racionalização a raiz da dominação.
No Brasil, Florestan Fernandes e Jessé Souza aplicam sua burocracia ao
patrimonialismo. Conceitos como desencantamento do mundo, monopólio da
violência legítima e tipos de dominação permanecem ferramentas indispensáveis
para compreender populismo, tecnocracia e capitalismo financeiro. Weber não
fundou somente uma escola, ele criou um método crítico que resiste ao tempo.
2- Max Weber: Os
3 Tipos de Dominação
"Dominação
é a probabilidade de que um comando com determinado conteúdo encontre obediência
por parte de pessoas dadas." Economia e Sociedade. Max Weber.
Na sociologia
política Max Weber desenvolveu a teoria dos tipos de dominação: tradicional,
carismática e racional-legal. A primeira ocorre por meio da obediência a
tradição. O sujeito faz o que a tradição determina que seja feito. A segunda
faz com que o sujeito exerça liderança por meio da atração que consegue exercer
nas outras pessoas. A terceira se dá por meio do cumprimento das leis, regras e
obrigações acordadas. Este poder só é exercido por quem foi determinado que
possa exercê-lo, sendo esta ou estas pessoas somente os representantes da lei. Os
tipos puros e ideais são ferramentas, construções analíticas, não descrições da
realidade, mas ferramentas para comparar fenômenos históricos.
Weber desenvolve
estes conceitos em seus trabalhos “Economia e sociedade” e “Política como
vocação”. Weber entende que estas três formas de dominação são legítimas.
Trata-se aqui da expectativa de que ordens dadas sejam cumpridas por quem as
recebe, não havendo coerção direta neste comportamento, mas sim a crença em que
se deva obedecer a aquela autoridade específica e não qualquer outra. Trata-se
aqui de um modo particular de dominação no qual o poder se apresenta de modo
estável e legítimo, podendo deste modo se prolongar no tempo. Weber distingue
três tipos puros ou ideais aqui presentes: tradicional, carismático e racional-legal.
Por serem tipos ideais, não existem isolados na prática histórica, sendo usados
para melhor entendimento do processo por parte do pesquisador, são em verdade,
construções analíticas que proporcionam uma melhor compreensão de fenômenos
sociais complexos.
Na dominação
tradicional temos a forte presença da crença na necessidade de obediência de
ordens e costumes provindas de um passado histórico distante. Neste contexto a
obediência passa a ser devida a um “senhor”, “mestre”, “patriarca”, vinculada a
algum tipo de crença na santidade provinda de tais ordens ou da posição
socialmente exercida por tal pessoa, que requer obediência e fidelidade, já que
não é algo sujeito a questionamentos, estes não aceitos, em virtude do
argumento de que “sempre foi assim”. Na dominação tradicional não há
necessidade alguma de qualquer justificativa racional ou mesmo carismática, já
que esta se baseia na inércia social e cultural de um povo, motivada pela
identificação emocional com um passado comum real ou idealizado. Neste formato
de dominação, a mesma é patrimonial, já que o senhor governa pessoas leais por
meio de laços pessoais e sem divisão formal de tarefas. Trata-se de uma forma
estável e resistente a inovações, presente em sociedades feudais e agrárias,
tal dominação pode se encaminhar facilmente para a arbitrariedade, já que quem
manda o faz a partir de sua própria vontade, não podendo ou devendo ser
questionado e sim obedecido. Podemos ter na história alguns exemplos, como no
caso de monarquias absolutas ou na relação existente entre o senhor e o servo
na Europa medieval. No Brasil podemos encontrar algo semelhante no Nordeste,
nas relações envolvendo o coronelismo presente no início de nossa história e
que continua de certa forma vivo até os presentes dias. Esta relação também
pode ser observada historicamente em sociedades patriarcais e escravagistas,
nas quais poucas pessoas controlavam totalmente os demais membros de sua
família, seus funcionários e seus escravos.
Já a dominação
carismática se dá diante de uma devoção afetiva vinculada a qualidades
presentes em uma dada pessoa que são vistas como sendo excepcionais. Esta
pessoa munida de tais qualidades percebidas pelos demais, passa a atuar como
líder, exercendo uma liderança pautada em algum tipo de graça divina, dom
sobrenatural, heroísmo ou genialidade. Aqui a obediência provém da crença desta
pessoa possuir uma dada missão profética ou revolucionária, atraindo apóstolos
ou seguidores que podem sacrificar tudo o que possuem para seguir esta pessoa.
Temos a presença de uma administração informal e instável. O líder governa por
revelação pessoal, com discípulos executando ordens como atos de fé, sem
hierarquia fixa. Trata-se de uma forma frágil de dominação que tende a surgir
durante guerras, revoluções ou mesmo desordens sociais. Tal dominação depende
de uma constante prova de carisma, o qual, quando enfraquecido, pode direcionar
para outras formas de dominação, como a tradicional ou a racional-legal. Aqui
podemos pensar no profeta Maomé, em Jesus Cristo, nos profetas citados na
Bíblia, em Napoleão ou mesmo líderes contemporâneos. No Brasil, exemplos
clássicos incluem Antônio Conselheiro, o profeta de Canudos que mobilizou
sertanejos em uma comunidade milenarista contra o Estado republicano, ou
Lampião, o cangaceiro visto como justiceiro lendário por seus seguidores. Na
política moderna, Getúlio Vargas, com seu apelo paternalista e nacionalista
durante a Revolução de 1930, ou Juscelino Kubitschek, com o carisma visionário
da construção de Brasília, representam essa dominação, capaz de romper tradições,
mas também de levar a instabilidades.
O carisma não
dura, deve ser rotinizado (transformado em tradição ou lei) para sobreviver. Pensemos
no exemplo do cristianismo, que surge com um líder carismático, Jesus Cristo,
mas evolui para a tradição da Igreja e, no caso da Igreja Católica Apostólica
Romana, para a autoridade infalível do papa.
Na dominação
racional-legal temos que esta se dá pela crença na legalidade de leis, regras e
normas aplicadas por uma pessoa que tenha competência para tal. Deste modo, a
obediência não se dá a uma pessoa em particular e sim ao cargo ou posto ocupado
pela pessoa que representa a impessoalidade da lei, como no caso de um
policial, onde no exercício correto de suas funções as demais pessoas não irão
obedecer ao “Pedro”, “Manoel” ou a “Maria” e sim ao policial enquanto
representante do Estado legal. Dentro das nossas sociedades contemporâneas é
esta a forma que predomina, sendo corroborada por toda uma estrutura
burocrática presente no Estado. A administração é hierárquica e especializada:
divisão de tarefas, regras escritas, impessoalidade e registros sistemáticos
garantem previsibilidade e eficiência. Weber a entende como o ápice da
racionalização ocidental, mas alerta para sua "gaiola de ferro", a
rigidez que esmaga a criatividade.
Resumidamente
podemos nos referir a administração efetuada por cada tipo como sendo: 1- a
tradicional é patrimonial e se dá por meio de laços pessoais. 2- a carismática
é informal e se dá por meio de discípulos. 3- a racional-legal é burocrática e
se dá por meio de hierarquia e impessoalidade.
Claro que tais
tipos não são fixos e imutáveis, há transições de um tipo para outro. Aqui
trata-se de tipos puros ou ideais, mas na prática encontramos uma mescla de
tais tipos. No contexto brasileiro, vemos hibridismos, como, por exemplo, o
carisma de líderes como Vargas rotinizou-se em burocracia estatal, enquanto
resquícios tradicionais persistem no clientelismo político. A distinção entre
dominação e poder bruto é crucial, pois, sem legitimidade, o comando vira mera
coerção. Weber nos convida a analisar como essas formas moldam sociedades,
questionando se a racional-legal moderna, apesar de eficiente, não sacrifica o
humano ao cálculo frio.
Na atualidade o
termo “dominação” se viu substituído em vários estudos pelo termo “liderança”. Pensando
em Max Weber em particular, tal substituição poderia ser aceitável diante do
tipo carismático em contextos contemporâneos, já que este evoca inspiração e
visão estratégica, no entanto, a mera troca de expressões iria limitar e mesmo
suavizar o aspecto coercitivo presente na ideia original de Weber. Há na
“dominação” a ideia de hierarquia e coerção, enfatizando a obediência
estrutural com potencial de violência legítima, não somente mera motivação
voluntária diante de uma liderança contemporânea. Já para os tipos tradicional
e racional-legal, "liderança" soa anacrônico e impreciso, pois não há
"líder carismático" no patriarca ou no burocrata, há autoridade
impessoal. A dominação racional-legal, com sua burocracia, é o pilar do
capitalismo contemporâneo, tema que Weber explora em sua obra “A ética protestante
e o espírito do capitalismo”.
3- A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo
Foi a partir do
cristianismo, em sua versão protestante e com seu ascetismo, que o Ocidente se
diferenciou do Oriente evolutivamente. Esta distinção proporcionou o surgimento
do capitalismo enquanto modelo econômico, o desenvolvimento da burocracia e
também do Estado racional e legal na Europa ocidental.
Segundo o
pensamento do autor, a religião cristã em sua vertente protestante apresenta a
partir do século XVI, quando de seu surgimento, um caráter eminentemente
ascético. Foi justamente esta vivência religiosa que motivou a ideia de se
dedicar a uma vocação profissional, que, por sua vez, encontra-se na base do futuro
sistema capitalista. Weber começa sinalizando as diferenças educacionais entre
católicos e protestantes. Enquanto os primeiros preferem uma formação
humanista, os segundos dão preferência para uma formação técnica. Weber não
adota o posicionamento de que católicos teriam sua espiritualidade fundada no
ascetismo e que isto os direcionaria para uma forma de estranhamento deste
mundo resultando em um estado de indiferença para com os bens materiais e que,
por sua vez, os protestantes seriam mais materialistas.
No entendimento
de Weber, os protestantes apresentavam estranhamento ao mundo circundante,
ascese e presença nas atividades da vida, inclusive a aquisição de bens. Para o
autor o espírito do capitalismo não ocorre em uma busca desenfreada por obtenção
de valores e bens materiais e sim no desenvolvimento de uma ética que valoriza
o trabalho e a busca de riquezas. Para o autor o “espírito do capitalismo” não
deve ser confundido com a “forma do capitalismo”, esta última vinculada ao
sistema econômico. Sua preocupação se dá em como a moral protestante atua
diretamente no comportamento das pessoas proporcionando um ambiente favorável
ao desenvolvimento do capitalismo. Enquanto a “vocação” para os católicos se
restringe a um chamado de Deus para o exercício da vida religiosa, a partir dos
escritos e pregações de Lutero, a “vocação” passa a incluir também outras
atividades, nas quais se insere o exercício profissional em atividades
mundanas. Por meio desta interpretação dada por Lutero, o ascetismo presente no
interior dos mosteiros e entre os religiosos de profissão, passa a ser delegado
também a outras atividades laborais, surgindo uma forma de ascetismo mundano.
Mas isto é só o início, em Lutero temos o começo, mas ainda há fortes ligações
com o passado que serão posteriormente trabalhadas no desenvolvimento de uma
ética econômica que perpassa o capitalismo, mas isto ocorrerá no protestantismo
pós-luterano com influência provinda de Calvino e dos anabatistas.
Algo importante
aqui é a ideia da predestinação presente no calvinismo, pois, independente do
que faça o indivíduo, será sempre Deus a escolher quem será salvo ou condenado.
A atividade de trabalho e o sucesso que a pessoa possa encontrar nesta
atividade podem atuar como indícios de que a pessoa é ou não uma das escolhidas
por Deus. Algumas destas seitas protestantes tendem a incentivar que o crente
desenvolva uma vida ordenada, disciplinada, regida por normas éticas e morais.
Deste modo, ao valorizar uma vida metódica, disciplinada e racional, bem como uma
moral que valorize o trabalho e a obtenção de riqueza material como parte
integrante da religiosidade (cujo sucesso ou não pode indicar a salvação ou
condenação) torna o indivíduo predisposto a uma lógica econômica capitalista e
nos permite melhor entender a sociedade atual. Weber não se funda em uma única
causa para explicar o surgimento, desenvolvimento e manutenção da sociedade
capitalista na qual vivemos hoje, busca uma sucessão de causas atuando nos
fenômenos sociais, destacando fatores culturais e também materiais.
4- Burocracia e
Racionalização: A Gaiola de Ferro de Weber
Interessante
também o conceito elaborado por Max Weber de “desencantamento do mundo”. Algo
presente ao tempo atual, marcado pela intelectualização e afastamento da
religiosidade espiritual. O indivíduo se vê diante da escolha entre dois
universos distintos, por um lado o religioso, exigindo o sacrifício de seu
intelecto, e por outro lado o científico, que por sua vez retira qualquer
sentido último sobre a sua própria existência e a razão de ser de tudo que há.
Ao se dedicar somente de modo mecânico as tarefas diárias e as
responsabilidades delas decorrentes, não encontrando além disto outra forma de
dar sentido a sua vida, tende a assumir uma atitude de desencanto com o mundo
no qual vive e que totalmente lhe circunda.
Max Weber
estudou o uso da razão nas sociedades modernas criando o fenômeno da
racionalização do mundo social e impactando as instituições, como, por exemplo,
o Estado, mas também está presente no governo e na cultura do povo.
Weber propôs
dividir a racionalidade em dois tipos: formal e substantiva. A primeira,
racionalidade formal, se relaciona com as formas metódicas presentes no sistema
jurídico e econômico das sociedades modernas, vinculando-se a estruturas institucionais
e burocráticas, formando uma hierarquia composta por regras fixas. Preocupa-se com a
eficiência dos meios, não com o valor dos fins. A segunda, racionalidade
substantiva, se preocupa com os fins, ao contrário da racionalidade formal que não
se preocupa com fins e objetivos a serem atingidos em um determinado contexto,
avaliando-os segundo valores sociais, éticos ou culturais presentes no grupo.
Em sua obra “Economia
e Sociedade”, Max Weber apresenta a burocracia como a forma mais pura e
eficiente de dominação racional-legal, um sistema administrativo que representa
o ápice da racionalização ocidental, onde a ação humana é organizada de modo
calculável, previsível e impessoal, substituindo tradições, carisma ou
arbitrariedade por normas escritas e hierarquias funcionais.
No total seis
características fundamentais da burocracia enquanto tipo ideal são
identificadas por Weber. Cabe lembrar mais uma vez que o tipo ideal proposto
por Weber é formado por construções analíticas que não descrevem realidades
perfeitas, mas servem para comparar organizações históricas e contemporâneas.
Na primeira temos a divisão do trabalho. Cada novo cargo possui suas próprias
competências e delimitações, deste modo, passamos a ter especialização e maior
eficiência técnica. O exemplo aqui se encontra nas fábricas nas quais os
operários executam tarefas repetitivas, cada operário dentro de sua área
específica de atuação, sem interferir nas demais. Na segunda característica
temos a hierarquia dentro de uma estrutura piramidal de autoridade, na qual
temos canais de comando e subordinação que garantem que ordens dadas do alto
desta pirâmide sejam obedecidas em todos os níveis e que relatórios elaborados
descrevam exatamente as atividades executadas, informando os cargos mais elevados
na pirâmide. Esta organização piramidal evita conflitos de autoridade e
assegura uma unidade na direção da empresa. Na terceira característica temos as
regras e os padrões escritos que regulam todas as atividades desempenhadas,
proporcionando normas gerais, abstratas e estáveis que devem ser aplicadas
uniformemente a todos os procedimentos independente das pessoas ali envolvidas.
Na quarta característica temos o compromisso profissional, no qual os
profissionais que atuam na empresa são selecionados pelo mérito técnico e
treinados para a execução de seu trabalho, sendo inteiramente dedicados aquele
cargo, com salários fixos e carreira progressiva, de modo que o trabalho possa
atuar como uma vocação racional e não por atuação de troca de favores pessoais.
Na quinta característica temos a impessoalidade, pela qual as relações são
baseadas no exercício do cargo e não na pessoa que exerce o cargo. Deste modo
elimina-se o favoritismo de alguns, o nepotismo, as emoções, buscando tratar
todo e qualquer caso como igual diante de dada regra que o rege. Na sexta
característica temos os registros escritos sistemáticos, nos quais todas as
decisões e ações são arquivadas, permitindo deste modo a criação de um
histórico da empresa, maior controle e continuidade.
Segundo o
pensamento de Weber, tal estrutura burocrática surge como consequência natural
e inevitável da racionalização. Pela racionalização toda a vida social passa a
ser submetida ao cálculo, ao método e a eficiência. Esta abordagem substitui a
magia, a tradição e as crenças religiosas e outras, pela lógica instrumental no
trabalho.
Esta nova
situação nas sociedades contemporâneas traz um lado sombrio, que Max Weber
chama de “gaiola de ferro” ("stahlhartes Gehäuse" - casca dura como
aço), uma metáfora por ele usada em sua obra “A ética protestante e o espírito
do capitalismo” e mais tarde desenvolvida em “Economia e sociedade”, pela qual
entendemos que a burocracia que surge como sendo libertadora por trazer
precisão e justiça formal, torna-se uma prisão rígida que destrói a liberdade
individual, a criatividade e o próprio sentido da vida, gerando o
“desencantamento do mundo” (Entzauberung der Welt), conceito central em “A ciência
como vocação”, no qual a racionalização elimina o mágico, o mítico e o sagrado,
reduzindo tudo a meios para fins calculados, deixando o humano contemporâneo em
um mundo desprovido de encantamento, no qual especialistas dominam, mas sem
emoção. Podemos observar isto em termos históricos na formação da administração
prussiana no decorrer do século XIX, na burocracia do Estado brasileiro
construída a partir do Estado Novo de Getúlio Vargas, em empresas
contemporâneas de tecnologia de ponta que atuam globalmente por meio da
eficiência burocrática e, por vezes, com algoritmos substituindo o julgamento
humano.
Não há em Weber
uma rejeição da burocracia, pelo contrário, ele reconhece sua superioridade
sobre formas historicamente anteriores de administração, mas nos apresenta um
paradoxo: quanto mais racional e eficiente, ao mesmo tempo será mais opressora,
transformando vocação genuína em algo mecânico e o humano em uma mera
engrenagem em uma enorme máquina que este sequer consegue toda vislumbrar. Essa
análise conecta-se diretamente à ética protestante, onde o ascetismo
intramundano gera a racionalidade que, secularizada, aprisiona a humanidade em
estruturas impessoais. Em “Política como vocação”, ele estende o alerta à
esfera pública, onde burocratas profissionais podem sufocar líderes
carismáticos ou responsáveis.
Críticas
posteriores, como as de Merton sobre disfunções burocráticas (rigidez
excessiva) ou Habermas sobre legitimação sistêmica, ampliam Weber sem
contradizê-lo. No contexto atual, a burocracia digital (com IA, big data e
automação) intensifica a gaiola de ferro, prometendo eficiência, mas ameaçando
privacidade e autonomia, convidando-nos a questionar se a racionalização é
destino inevitável ou pode ser humanizada.
5- Ação Social
em Weber e tipos ideais: Como Agimos na Sociedade?
Muito importante
também é a teoria da ação social elaborada por Max Weber. Segundo o pensamento
desenvolvido por Max Weber, as ações empreendidas pelos indivíduos são
motivadas por determinados fatores que podem ser estudados. Estas ações podem
possuir objetivos, motivações e intuitos distintos e cabe a sociologia entender
o que se encontra por trás das ações empreendidas pelos indivíduos em
sociedade. Para Weber a “ação social” se apresenta como sendo um comportamento
dotado de sentido e significado, levando em consideração a ação empreendida por
outra ou outras pessoas. Aqui temos uma relação na qual se faz presente a ação
recíproca. Segundo seu pensamento as ideias, as crenças e os valores são os
principais catalizadores das mudanças sociais.
Ele entendia ser
importante para o sociólogo ter uma atitude de neutralidade em relação ao seu
objeto de pesquisa. A partir de uma postura neutra e imparcial é que cabem as
análises sociais. Weber, neste tocante, discorda tanto dos que seguem Marx,
como também dos que seguem Durkheim. É por meio das ações individuais que
podemos obter resultados válidos de nossos estudos sociais. Cabe ao sociólogo
desenvolver um padrão metodológico que proporcione validade científica aos seus
estudos. Weber encontra estes padrões no que entende por tipos ideais, ou seja,
conceitos perfeitos que não existem na realidade do dia-a-dia, na qual
encontramos somente ações que podem deles se afastar ou aproximar, o que nos
lembra as ideias perfeitas de Platão em seu mundo das ideias e as cópias
imperfeitas destas ideias em nosso mundo. Mas há uma diferença essencial entre
as ideias de Platão e os tipos ideais de Weber. Para Platão as ideias são
imutáveis e possuem realidade ontológica, já para Weber os tipos ideais são
construções do pesquisador, mutáveis, não ontológicos. Diferente das ideias
platônicas eternas, os tipos ideais são hipóteses do cientista, exageradas para
medir a realidade: quanto mais uma ação se aproxima do tipo puro, mais
compreensível se torna.
Max Weber
entende a sociologia como “ciência compreensiva” ao por a ação social no centro
de sua análise, o que Weber desenvolve em “Economia e sociedade”. Para Weber, a
sociologia tem na ação social o seu objeto de estudo, sendo esta entendida como
todo comportamento humano dotado de sentido subjetivo e orientado para a
conduta de outras pessoas, estejam estas no tempo presente, passado ou futuro,
ou mesmo, somente pessoas imaginadas e não reais. Não se trata de uma reação
física ou de uma imitação inconsciente, a ação social exige que o indivíduo
forneça significado ao seu comportamento e aguarde por alguma resposta ou
influência dos demais, formando uma teia invisível que constitui a sociedade.
Compreender a
sociedade significa poder reconstruir de modo racional o sentido dado pelos
atores as suas próprias ações, sem, no entanto, reduzi-las a leis naturais ou
determinismos históricos ou econômicos. Este método proposto por Weber passou a
ser conhecido como “sociologia compreensiva” (verstehende Soziologie) e rejeita
tanto o Positivismo por um lado, como o Idealismo pelo outro. O Positivismo
entende os fatos sociais como coisas, já o Idealismo ignora a causalidade
material. Weber propõe uma síntese pela qual busca explicar de modo causal por
meio da compreensão interpretativa. O individualismo metodológico completa o
quadro, já que embora fenômenos coletivos existam, só podem ser entendidos a
partir das ações intencionais dos indivíduos, nunca como entidades autônomas
acima deles.
Para organizar a
imensa variedade de ações sociais, Weber constrói quatro tipos puros ou ideais,
ferramentas analíticas que não descrevem comportamentos reais em sua
totalidade, mas destacam traços dominantes para facilitar a comparação
histórica e a interpretação.
Weber propôs uma
classificação destas ações em quatro grupos, a saber: 1- ação social racional
com relação a fins, 2- ação social racional com relação a valores, 3- ação
social afetiva, 4- ação social tradicional.
No primeiro
temos uma ação que foi planejada visando uma dada finalidade, como no caso do
casamento, na qual a ação social é o matrimônio e a finalidade é a constituição
de uma família. No segundo caso busca-se alcançar um determinado valor social
com o planejamento e execução desta ação, como é o caso de cumprir os dez
mandamentos hebraicos. No terceiro grupo temos uma açãoque ao contrário
das duas primeiras, não é racional, planejada ou calculada, na qual a pessoa
segue seus afetos e paixões, seus sentimentos são priorizados em relação a
outros motivos, entregando as ações da pessoa a presença de afetos, tais como o
medo, o amor, ou mesmo a paixão e o ódio, dentre outros mais possíveis. No quarto
grupo temos uma ação que também não é planejada, racional, calculada, estando
sua execução em consonância com a tradição daquele grupo social. Neste caso,
comporta-se deste ou daquele outro modo porque a sociedade assim o exige. E por
fim, No Brasil temos um hibridismo, o "jeitinho" mistura racional com
fins (contornar regra) com tradicional (relação pessoal), ilustrando que ações
reais são mistas.
Em “Economia e
sociedade” Weber apresenta os seguintes exemplos, na ordem correta por ele
apresentada: 1-Racional
com fins: Empresário calcula lucro. 2- Racional com valores: Capitão afunda com
navio. 3- Afetiva: Mãe protege filho em perigo. 4- Tradicional: Saudação por
costume.
Os tipos ideais,
conceito metodológico central em Weber, são construções mentais exageradas que
destacam características essenciais de fenômenos complexos, permitindo ao
pesquisador medir a realidade contra um modelo puro. Não existem empiricamente
em estado isolado, mas servem como bússola interpretativa. Por exemplo: uma
greve pode começar afetiva, tornar-se racional com fins (salário) e
rotinizar-se em tradição sindical.
Weber insiste na
neutralidade axiológica: o cientista compreende o sentido, mas não julga o
valor da ação, separando ser e dever ser. Essa abordagem diferencia sua
sociologia de Comte (leis gerais), Durkheim (coerção externa) e Marx
(determinismo de classe), posicionando o indivíduo como ponto de partida, mas dentro
de estruturas que limitam suas escolhas. A ação social, assim, é o fio que
costura dominação, burocracia e racionalização, revelando como significados
subjetivos constroem o mundo objetivo.
6- Sociologia
das maiores Religiões em Max Weber: De Confúcio ao Judaísmo
Max Weber
ampliou seus estudos sobre a religião, abrangendo as principais e maiores
religiões existentes em sua época. Suas pesquisas que anteriormente focavam o
cristianismo nas vertentes católica e protestante, agora passaram a abordar o
confucionismo, o taoismo, o hinduísmo, o budismo, o islamismo e o judaísmo. Após
a publicação de “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, 1904-1905,
Weber ampliou esta mesma tese na obra “A ética econômica das religiões
universais” (escrito entre 1904-1917 e publicado postumamente entre 1920-1921
em Gesammelte Aufsätze zur Religionssoziologie) que é considerado o primeiro
estudo interdisciplinar na história das ciências sociais, sintetizando história
das religiões e história econômica.
Em Ensaios sobre
a “Sociologia da religião”, obra póstuma organizada por Marianne Weber entre
1920 e 1921, Max Weber empreende uma das mais ambiciosas comparações
histórico-religiosas da sociologia, analisando como diferentes sistemas de
crenças moldaram ou impediram a racionalização econômica e social em
civilizações não ocidentais.
Partindo da tese
da Ética Protestante, ele agora inverte a pergunta: por que o capitalismo
racional moderno surgiu apenas no Ocidente? A resposta não está em
superioridade racial ou climática, mas em configurações específicas de ética
religiosa que, combinadas com condições materiais, geraram ou bloquearam a
mentalidade capitalista. Weber examina seis grandes tradições (Confucionismo, Taoísmo,
Hinduísmo, Budismo, Judaísmo e Islamismo - embora este último em esboço) como
tipos ideais de racionalização ética, contrastando-as com o protestantismo
ascético. Seu método é compreensivo: reconstruir o sentido que os fiéis dão às
suas práticas e verificar como esse sentido orienta ou desvia a ação econômica.
O Confucionismo
chinês representa a racionalização adaptativa ao mundo, uma ética de harmonia
cósmica e hierarquia social que legitima o funcionário letrado e o mandarinato
burocrático, mas rejeita a tensão com o mundo necessária ao capitalismo. O
sábio confuciano busca perfeição interna por meio de rituais e deveres
familiares, não lucro ou inovação; a riqueza é aceitável se herdada ou obtida
por cargo, mas a especulação mercantil é vista como indigna. A ausência de
profetismo, de um Deus transcendente e de uma ética de vocação intramundana
impede a ruptura com a tradição, mantendo a China em um "jardim bem
cuidado" de estabilidade, mas sem dinamismo capitalista.
O Taoismo,
embora não tenha recebido ensaio dedicado como Confucionismo ou Hinduísmo,
aparece em “A religião da China: Confucionismo e Taoismo”, 1915, como
contraponto místico à ética racional confuciana, representando uma
racionalização mística-contemplativa que rejeita tanto a tensão com o mundo
quanto a adaptação hierárquica. Para Weber, o taoista busca harmonia com o Tao (o
caminho natural, inefável) por meio da não-ação (wu wei), da simplicidade e da
rejeição ao esforço deliberado. O sábio taoista não calcula, não acumula, não
inova: ele flui com a ordem cósmica, evitando conflitos e ambições. Essa ética
é antirracional no sentido ocidental: recusa planejamento, vocação profissional
ou ascetismo metódico. A imortalidade é alcançada por técnicas respiratórias,
alquimia interna ou retiro na montanha, não por trabalho no mundo. O
comerciante ou burocrata taoista age por necessidade, nunca por dever
ético-religioso. O Taoismo reforça essa estagnação com sua ética de wu wei
(não-ação): o sábio flui com o Tao, rejeitando planejamento ou acumulação
racional.
Nenhum dos dois (nem
Confúcio, nem Lao-Tsé) produz a tensão com o mundo que o calvinismo converte em
motor capitalista. Weber contrasta isso com o confucionismo: enquanto o
mandarim confuciano administra o mundo com ritual e dever, o taoista se retira
dele ou o aceita passivamente. Nenhum dos dois gera a tensão ética necessária
ao capitalismo: o confuciano por excesso de adaptação, o taoista por excesso de
contemplação. A China, assim, permanece presa entre ordem burocrática estática
(Confúcio) e misticismo irracional (Tao), sem o "impulso profético"
que rompe tradições.
O Hinduísmo
indiano oferece uma racionalização como fuga do mundo: o ciclo do karma e da
reencarnação, combinado com o sistema de castas, transforma a desigualdade em
lei cósmica, desencorajando mobilidade social e acumulação racional. O brâmane
busca salvação por conhecimento ou ascetismo extramundano, não por trabalho
metódico; o comerciante (vaishya) acumula, mas sem ética vocacional universal.
O Budismo leva
essa fuga ao extremo: a iluminação é nirvana, dissolução do eu, incompatível
com ação racional no mundo; monges mendicantes vivem de esmolas, e leigos
acumulam mérito para melhor renascimento, não para reinvestir.
O Judaísmo
antigo, em contraste, desenvolve uma racionalização em tensão com o mundo, mas
direcionada à comunidade eleita, não à humanidade. O Deus pessoal e
transcendente cria um pacto: obediência à Lei em troca de bênçãos materiais. A
ética é rigorosa (proibição de usura entre irmãos, preservar o sábado, dieta),
mas intramundana: Riqueza é sinal de favor divino, desde que usada para a
nação. O profetismo gera expectativa messiânica e rejeição da magia, mas o
universalismo é limitado: O judeu é “pária racional” em diáspora, acumulando
por necessidade, não por vocação universal.
O Islamismo foi estudado
por Weber no artigo Der Islam, 1915-1917, mas Weber morreu antes de finalizar o
volume. No Islamismo temos a combinação de elementos guerreiros e proféticos: o
guerreiro santo luta pela umma, mas a salvação é por submissão, não por
trabalho metódico. Umma (em árabe: أمة) é o termo que designa a comunidade
global dos muçulmanos, unida pela fé no Corão (por vezes traduzido como
Alcorão) e na liderança do profeta Maomé. Para Weber, o guerreiro santo (o gazi
ou mujahid) não luta por nação, tribo ou ganho pessoal, mas pela expansão e
defesa da umma (a irmandade transcendente que ultrapassa fronteiras étnicas e
políticas). É o equivalente islâmico do "povo eleito" judaico, mas
com vocação universalista e militar. A ausência de ascetismo intramundano e a
aceitação do prazer (poligamia, harém) bloqueiam a racionalização capitalista,
apesar do comércio árabe.
O protestantismo
ascético (especialmente calvinismo e semelhantes) é o único a gerar
racionalização intramundana universal: Predestinação + vocação + ascetismo =
trabalho como prova de eleição, lucro reinvestido, rejeição do gozo. Nenhum
outro sistema combina tensão com o mundo, ética vocacional e universalismo
ético. Weber não julga superioridade moral, apenas afinidade eletiva com o
capitalismo. A secularização posterior transforma essa ética em "espírito
do capitalismo" sem Deus, mas retendo a disciplina. No Brasil, sincretismo
católico-protestante (ex.: evangélicos empreendedores) ilustra hibridismos
weberianos.
7- A Vocação do
Professor: Ciência como profissão (Beruf) em Weber
Em “A ciência
como vocação”, palestra proferida em 7 de novembro de 1917 na Universidade de
Munique e publicada em 1919, Max Weber dirige-se a estudantes inquietos com a
guerra (“A Grande Guerra”, mais tarde conhecida como “Primeira Guerra Mundial)
e a crise alemã, definindo a ciência como profissão (Beruf), não um hobby, não
missão sagrada, mas trabalho racional especializado em um mundo desencantado,
já que livre do Divino. Mas cabe uma ressalva aqui. O desencantamento é algo
diferente do mero ateísmo. O desencantamento é a eliminação da magia presente
no mundo, mas algum entendimento sobre a existência de deus pode existir, como
ocorre no agnosticismo metodológico.
Diferente da “Política
como vocação” (1919), aqui o foco é o intelectual, não o líder político. Weber
desmistifica três ilusões românticas: a ciência não dá sentido à vida, não
substitui a religião, e não garante progresso moral.
O
desencantamento do mundo (Entzauberung der Welt), processo iniciado com o
profetismo judaico, acelerado pela Reforma e consumado pela modernidade,
eliminou a magia, o milagre e o mistério, deixando apenas o cálculo frio. A
ciência é especialização: O professor não é profeta, guru ou salvador, mas o técnico
do conhecimento, limitado a esclarecer meios para fins que o aluno escolhe por
si.
A vocação
científica exige três qualidades: Paixão controlada (entusiasmo pelo problema,
não pela glória), clareza metódica (rigor lógico, não inspiração) e honestidade
intelectual (reconhecer limites). O cientista trabalha com hipóteses
refutáveis, não verdades eternas: "O que hoje é verdade, amanhã pode ser
falso". A universidade não forma "personalidades completas", mas
especialistas. O médico sabe do corpo, não da alma; o economista calcula, não
julga. Weber ironiza o "professor carismático" que se vê como líder
espiritual: Ele deve esclarecer, não converter. O aluno maduro escolhe seus
valores; o imaturo busca ídolos. A ciência avança por progresso técnico, não
moral. A ciência permite a construção de armas de destruição em massa e isto
faz parte de seu desenvolvimento técnico, mas o uso ou não de tais armas ou
quando usá-las já ultrapassa a ciência, recaindo no âmbito político, ético e
moral.
Weber responde à
pergunta crucial: "O que a ciência pode fazer por nós?" E neste
momento subdivide esta questão em três pontos: O método, as ferramentas e os
limites. O método nos permite pensar de modo claro e objetivo. As ferramentas
nos proporcionam os meios para atingirmos os fins. Aqui temos a tecnologia, a
estatística, etc. Os limites da ciência não nos permitem responder a pergunta
sobre o que devemos fazer ou como devemos viver.
A ciência é
profissão, não vocação no sentido religioso: O puritano trabalhava para provar
eleição; o cientista trabalha porque não pode fazer outra coisa, é sua paixão
racional. Mas o mundo está desencantado: Não há sentido último na equação ou no
laboratório. O professor honesto diz: "Eu sei isso; além, é fé ou escolha
sua." O que de certa forma nos faz lembrar do filósofo Kant com os limites
da razão humana.
Afinal, quem
busca por profetas, que vá a igreja, os estudos científicos são para quem busca
clareza e objetividade racional. A religião busca a salvação, a ciência não. O
professor em uma universidade não é um formador de cidadania, mas pode ser um
estudioso da ética, por sua vez, não cabe ao aluno buscar por sentido, mas sim
por competência crítica. No Brasil, o professor que "doutrina"
ideologicamente viola a vocação weberiana; o que ensina método cumpre-a.
E nisto se
resume a vocação pela ciência, diferente, portanto, da vocação religiosa. A
vocação (Beruf) científica é secularização da vocação puritana: Trabalho como
dever, sem salvação.
8- A Vocação do
Político: Ética e Poder em Max Weber
Também
interessante a reflexão feita por Weber em “A política como vocação”, que o
Estado possui o monopólio do uso legítimo da violência física. Em “Política
como Vocação”, palestra proferida em 28 de janeiro de 1919 na Universidade de
Munique e publicada no mesmo ano, Max Weber define o político como aquele que
vive da e para a política, exercendo liderança em um mundo onde o poder é
inevitável e a violência é seu instrumento último.
Diferente da “Ciência
como vocação”, aqui a vocação (Beruf) exige três qualidades decisivas: Paixão
(pelo fim), responsabilidade (pelos meios) e senso de proporção (equilíbrio
entre ambos). O político não é técnico nem profeta, ele é líder responsável que
assume as consequências de seus atos, especialmente quando usa a violência
física legítima (physischer Gewaltsamkeit).
Weber define o Estado
moderno por quatro traços inseparáveis: 1- Território delimitado, no qual temos
fronteiras fixas, não tribais. 2- Governo soberano, com autoridade central, não
fragmentada. 3- Monopólio legítimo da violência física, só o Estado pode coagir
legalmente. 4- Administração contínua, por meio de uma burocracia
racional-legal.
Uma frase
célebre resume sua visão sobre este tema: "Estado é a comunidade humana
que, dentro de um determinado território, reclama para si o monopólio da
violência física legítima." Essa legitimidade distingue o uso da violência
feita pelo Estado da feita pelo criminoso ou revolucionário. O político
legítimo usa a violência como meio último, nunca fim em si, e responde por ela
perante a história.
Weber distingue
duas éticas irreconciliáveis: 1- Ética da convicção (Gesinnungsethik), na qual
se age por princípio, mesmo que cause mal, como no caso do pacifista que recusa
guerra, negando sua participação em defesa de seu país. 2- Ética da
responsabilidade (Verantwortungsethik), que age pelo resultado, assumindo o mal
necessário, como no caso do líder que ordena bombardeio para salvar mais vidas
e vencer uma batalha ou guerra.
O político
maduro combina ambas formas de ética, a paixão pela causa, mas de olho nas
consequências. Quem não suporta o "diabo" (violência, mentira,
traição) deve sair da política. O demagogo carismático seduz; o burocrata
obedece; o político vocacionado decide, e ao decidir, paga o preço.
Podemos aqui
fazer uma comparação do uso do termo “violência” feito por Weber com Sorel. Georges
Sorel, em “Reflexões sobre a violência”, 1908, faz a distinção entre força e
violência. A força caberia ao Estado, já a violência ao proletariado. Sorel
exalta a violência proletária como mito mobilizador, greve geral como ato ético
puro, redentor. O termo exato usado por Max Weber em sua famosa definição do
Estado, presente na palestra Politik als Beruf (“Política como vocação”, 1919),
é derivado de "Gewalt", especificamente "physischer
Gewaltsamkeit", que se refere à "violência física" ou
"coerção física violenta". Essa definição enfatiza o Estado como a
comunidade humana que reivindica com sucesso o monopólio da violência física
legítima dentro de um território, sendo a única fonte autorizada para tal direito.
Em alemão, "Gewalt" não é sinônimo direto de "força" no
sentido neutro ou físico genérico (que seria mais próximo de "Kraft"
ou "Macht"). "Gewalt" carrega uma conotação de violência,
coerção ou força aplicada de modo potencialmente agressivo ou impositivo,
especialmente no contexto sociológico e político de Weber. Ele usa
"physischer Gewaltsamkeit" para especificar a dimensão física dessa
violência/coerção, distinguindo-a de outras formas de poder (Exemplo: Influência
econômica ou cultural). Isso reflete sua visão do Estado como entidade que
monopoliza o uso legítimo da violência para manter a ordem, contrastando com
sociedades pré-modernas onde grupos privados (Exemplo: Clãs ou senhores
feudais) podiam exercer tal direito. Em inglês, é comumente traduzido como
"monopoly of the legitimate use of physical violence". Em português,
a tradução mais fiel e usual é "monopólio da violência física
legítima" ou simplesmente "monopólio da violência legítima". Edições
brasileiras clássicas adotam "violência", pois captura o tom
coercitivo e potencialmente repressivo que Weber implica, não uma
"força" abstrata ou neutra, mas uma capacidade de imposição física
que pode envolver dor, punição ou morte (Exemplo: Polícia, exército).
"Força física" é uma alternativa possível em algumas interpretações
mais suaves, mas perde a nuance crítica de Weber, que via a modernidade como
racionalização dessa violência em estruturas burocráticas. O termo "força
física" não está errado, mas impreciso. Captura o "physischer" (Físico),
mas ignora que "Gewalt" implica um elemento de dominação violenta,
não mero poder mecânico. Em obras como “Economia e sociedade”, Weber expande
isso para tipos de dominação (Racional-legal, onde a violência é
burocratizada), reforçando "violência" como termo chave. Em Weber o
Estado legitima o que em outros contextos seria visto como violência ilegítima,
como execuções ou guerras.
Weber conclui: A
política é luta lenta pelo poder, feita com a cabeça, o coração e a mão no
gatilho, mas nunca sem alma. Quem quer pureza, vá ao mosteiro; quem quer mudar
o mundo, assuma o diabo.
9- Diferença
entre ciências humanas e da natureza
Em “A objetividade
do conhecimento nas ciências e na política social”, 1904, ensaio metodológico
publicado no Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik, Max Weber funda a
epistemologia das ciências culturais (Kulturwissenschaften), distinguindo-as
radicalmente das ciências naturais sem negar sua cientificidade. A diferença
não é de rigor ou objetividade, mas de objeto e método: As ciências naturais
buscam leis gerais e regularidades nomológicas; as ciências humanas (ou
sociais) buscam compreensão de sentidos individuais em contextos históricos
únicos. Cabe ressaltar que o termo alemão Verstehen (compreensão) se diferencia
de Erklären (explicar).
As ciências
naturais operam com abstração causal: Isolam variáveis, repetem experimentos,
formulam leis universais ("sempre que A, então B"). O físico mede a
queda de corpos; o químico prevê reações. O objeto é repetível, impessoal,
desprovido de sentido subjetivo. Já as ciências humanas lidam com ações dotadas
de sentido. O economista não prevê “o” preço, mas o comportamento de agentes
que atribuem significado ao dinheiro; o historiador não explica “a” revolução,
mas esta revolução francesa, com seus atores, crenças e contingências. O objeto
é singular, histórico, carregado de valor.
Weber rejeita o Positivismo
presente em Augusto Comte e Durkheim (Fatos sociais como coisas) e o
historicismo rankeano, ou seja, a abordagem historiográfica de Leopold von
Ranke (1795-1886), mera narrativa sem conceito.
Weber propõe uma
síntese. 1- Os tipos ideais, construções lógicas e exageradas, para medir a
realidade, não descrevê-la. Como exemplo de tipos ideais podemos citar o
capitalismo e a burocracia enquanto conceito referentes a algo. 2- Compreensão
causal (erklärendes Verstehen), entender o sentido subjetivo + explicar sua
causalidade. 3- Neutralidade axiológica, o cientista seleciona fatos por
relevância cultural, mas não julga valores.
Como exemplo
para as ciências naturais podemos pensar na temperatura de ebulição da água em
condições normais de temperatura e pressão, uma lei que afirma ser esta sempre
100ºC.
Já para as ciências humanas podemos pensar no fato histórico de Martinho Lutero
afixar suas 95 teses na porta da igreja. Isto que faz Lutero possui um sentido,
que pode ser encontrado em um protesto teológico. Possui uma causa que pode ser
encontrada na corrupção papal, na imprensa, na angústia diante da salvação
cristã.
A cientificidade
das ciências humanas está na transparência metodológica: Hipóteses refutáveis,
fontes criticadas, causalidade plausível. Não há leis universais ("Sempre
que crise religiosa, então capitalismo" – A implica em B), mas sequências
históricas compreensíveis. O historicismo weberiano é crítico: O passado não se
repete, mas ilumina o presente por analogia controlada.
Weber ensina: Nem
lei, nem poesia. Em seu lugar compreensão racional de ações significativas. A
sociologia não prevê o futuro, mas esclarece o presente por meio do passado
interpretado.
10- A essência
da sociologia, semelhança e diferenças fundamentais entre os seus principais
fundadores: Comte, Durkheim, Simmel, Weber e Marx.
Em sua crítica
metodológica e na introdução de “Economia e sociedade”, Max Weber (1864-1920)
define a essência da sociologia como ciência compreensiva da ação social: Estudar
sentidos subjetivos que indivíduos atribuem às suas condutas, em contextos
históricos concretos, por meio de tipos ideais, compreensão causal e
neutralidade axiológica. A sociologia não é filosofia, nem história, nem
economia, é interdisciplinar, mas com objeto próprio: A teia de ações
significativas que constitui a sociedade.
Auguste Comte
(1798-1857), criador do Positivismo, via a sociologia como ciência positiva das
leis sociais, última etapa do progresso humano após teologia e metafísica.
Semelhança: Todos querem cientificidade. Diferença: Comte busca leis universais
("Sempre que A, então B"), como física; Weber rejeita: "Não há
leis sociológicas no sentido presente nas ciências naturais." Para Comte,
a sociedade é organismo; para Weber, ação individual com sentido.
Émile Durkheim
(1858-1917) funda conjuntamente com Comte a sociologia francesa. Afirma os fatos
sociais como coisas. O fato social é
externo, geral e coercitivo. Semelhança: Rigor metodológico. Diferença:
Durkheim explica do coletivo para o individual (Exemplo: Suicídio por
integração); Weber, do individual para o coletivo (Sentido subjetivo gera
instituições). Durkheim é holista; Weber, individualista metodológico.
Georg Simmel
(1858-1918), estuda formas de interação (Dupla, tríade, segredo, moda, etc.)
independentemente de conteúdo. Semelhança com Weber: Foco na ação recíproca.
Diferença: Simmel é formalista estético (Interações como geometria social);
Weber, causal-compreensivo (Sentido + contexto histórico). Simmel evita tipos
ideais; Weber os sistematiza.Simmel vê a sociedade como jogo de formas (Exemplo: O
estranho, o pobre); Weber, como processo histórico-causal (Exemplo: Racionalização).
Karl Marx
(1818-1883) explica a história por lutas de classes e modos de produção.
Semelhança: ambos veem conflito e racionalização. Diferença radical: Marx é
materialista histórico (base determina superestrutura); Para Marx a economia é determinante
e dela surge a religião, inclusive a protestante calvinista, já para Weber o
calvinismo, o puritanismo e outras formas de protestantismo favorecem o
surgimento do capitalismo ao criarem condições favoráveis para o mesmo. Weber,
multicausal (ética protestante + direito romano + cidades = capitalismo). Marx
quer revolução; Weber, compreensão neutra. Weber usa afinidade eletiva
(Wahlverwandtschaft): ética protestante não causa, mas se alia a condições
materiais. Marx diria: "A religião é ópio do povo"; Weber: "Às
vezes, é motor da história."
Max Weber ao seu
modo sintetiza e ultrapassa o pensamento de Comte, Durkheim, Simmel e Marx.
Weber aceita o rigor, mas rejeita as leis presentes na sociologia proposta por
Comte. Aceita os fatos sociais presentes em Durkheim, mas vê neles um sentido
individual. Aceita a interação presente na obra de Simmel, mas a partir de uma
causalidade histórica. Reconhece a importância da economia presente em Marx,
mas não como fator único determinante, buscando em seu trabalho a ética, a
dominação e o desenvolvimento das religiões enquanto influências sociais que
afetam o surgimento de modelos econômicos.
Em síntese,
Weber usa ideias desenvolvidas pelos demais pesquisadores na área da
sociologia, como é o caso da cientificidade presente em Comte, dos fatos
sociais presentes em Durkheim, da interação presente em Simmel, do conflito
econômico presente em Marx. No entanto, vai além destes pesquisadores, fazendo
uso de outras ideias, tais como: seu conceito de ação individual com sentido, a
multicausalidade, a neutralidade.
11- Algumas de
suas principais obras
1- Die
Verhältnisse der Landarbeiter im Ostelbischen Deutschland. Título traduzido para o português: As relações dos trabalhadores
rurais na Alemanha Oriental do Elba. Data da primeira publicação: 1892.
Neste trabalho
temos uma pesquisa empírica que foi encomendada sobre as condições de vida e
trabalho dos trabalhadores agrícolas na região leste da Prússia, destacando
migrações sazonais, exploração econômica e tensões sociais entre latifundiários
junkers (aristocratas alemães que eram a nobreza de proprietários de terras e
militares na Alemanha pré-1918) e mão de obra polonesa, revelando as bases para
Weber entender desigualdades rurais e o impacto do capitalismo agrário na
estrutura social alemã.
2- Die protestantische Ethik und der Geist des
Kapitalismus. Título
traduzido para o português: A ética protestante e o espírito do capitalismo.
Data da primeira publicação: 1904-1905
(publicado em ensaios na revista Archiv für Sozialwissenschaft und
Sozialpolitik; edição em livro em 1920).
Nessa análise
Weber estuda como o ascetismo protestante, especialmente o calvinismo, produziu
uma mentalidade racional e disciplinada que impulsionou o surgimento do
capitalismo contemporâneo, transformando o trabalho em vocação divina e a acumulação
de riqueza em sinal de salvação, contrastando, deste modo, com visões puramente
materialistas da economia.
3- Wissenschaft
als Beruf. Título traduzido para o português: A ciência como vocação. Conferência
proferida em 1917 e publicado em 1919.
Aqui temos uma
palestra na qual Weber discute o papel da ciência na sociedade, argumentando
que esta deve se limitar a fatos empíricos e análise racional, sem pretender
oferecer sentidos últimos para a vida, alertando para o "desencantamento
do mundo" pela burocratização e especialização, e enfatizando a paixão
ética pelo conhecimento em um mundo polivalente de valores.
4- Politik als
Beruf. Título traduzido para o português: A política como vocação. Data da
primeira publicação: 1919.
Aqui, Weber
define a política como a luta pelo poder estatal, distinguindo três tipos de dominação
(tradicional, carismática e racional-legal), e explora as tensões éticas entre
convicção (agindo por princípios absolutos) e responsabilidade (considerando
consequências), defendendo uma abordagem realista para o político em um Estado
monopolizador da violência legítima.
5- Wirtschaft
und Gesellschaft. Título traduzido para o português: Economia e sociedade. Data
da primeira publicação: 1921-1922 (póstuma; compilada e editada por Marianne
Weber a partir de manuscritos de 1910-1920).
Essa obra, deveras
importante, mas inacabada, organiza conceitos sociológicos fundamentais como
ação social (tradicional, afetiva, racional), tipos de dominação (tradicional,
carismática eracional-legal),
burocracia como forma eficiente (mas potencialmente opressora) e relações entre
economia, direito e religião, oferecendo ferramentas analíticas para
compreender estruturas sociais complexas e o processo de racionalização
ocidental.
Essa coletânea
examina o papel das religiões mundiais no desenvolvimento social, comparando
protestantismo, confucionismo, hinduísmo e judaísmo antigo. Weber argumenta que
ideias religiosas moldam condutas econômicas e éticas, com foco na
racionalização ética do Ocidente e no impacto de salvacionismos na formação de
elites intelectuais e também econômicas.