Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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quinta-feira, 11 de maio de 2023

Etienne de la Boétie: O autor do livro "Discurso da servidão voluntária"

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Etienne de la Boétie e a servidão voluntária

 

Nunca se lamenta o que nunca se teve. O pesar só vem depois do prazer e ao conhecimento do bem sempre se junta a lembrança da alegria do passado. O homem é naturalmente livre e quer sê-lo, mas sua natureza é tal que se amolda facilmente à educação que recebe.

Étienne de la Boétie

 

Etienne de la Boétie, ou Estienne de La Boétie (1530-1563) foi juiz, escritor, poeta e filósofo francês. Nasce no sudoeste da França, filho de uma família aristocrática, se formou em direito pela Universidade de Orléans, em 1553. Viveu no período do Renascimento, é considerado um humanista e faleceu bem cedo, quando contava apenas 32 anos (9 meses e 17 dias) de idade. Atuou como respeitável e eminente funcionário do parlamento de Bordeaux. Fez algumas traduções do grego para o francês de obras clássicas da Antiguidade. Boétie viveu uma vida conservadora, que o afasta das ideias revolucionárias, porém abstratas e universais, presentes em sua principal obra.

 


Sua obra mais famosa é seu “Discurso da Servidão Voluntária”, escrita em 1548 (ou 1549) quando dos seus 18 anos (há quem defenda ter escrito mais tarde, por volta dos 22 anos de idade em torno de 1552), mas publicada postumamente. Foi seu amigo, Michel de Montaigne, que afirmou ter ele escrito este livro quando contava 18 anos de idade, se bem que, em outra ocasião, afirmou que o mesmo tinha somente 16 anos quando o escreveu.

Ao contrário do contexto de sua época, onde textos contra a tirania tendiam a ser bem específicos e concretos, baseados em exemplos franceses e escritos por autores huguenotes, o texto escrito por Boétie é universal e abstrato e seus exemplos são buscados na Antiguidade clássica. Os textos dos huguenotes tendem a ficar restritos a França, enquanto o livro de Boétie ganha deste modo um caráter universalista sobre a natureza da tirania e a liberdade do povo, bem como, o que pode ser feito para abolir a tirania e favorecer a liberdade do povo. A ideia principal contida ali, nesta obra, é que a natureza da tirania e do próprio poder do Estado se baseia necessariamente em uma aceitação geral por parte do povo, sem esta aceitação não haveria tirania ou poder do Estado. Todos os governos dependem necessariamente do consentimento da maioria.

Em “Discurso da Servidão Voluntária”, apresenta um texto em defesa da liberdade onde questiona o porquê da dominação exercida por uma única pessoa (ou um pequeno grupo) sobre muitos. Nesta obra se mostra indignado com relação à opressão. No título faz alusão à “servidão voluntária”, entendimento que mantém sobre ser a servidão consentida, já que se as pessoas quisessem se libertar bastaria se rebelarem contra a mesma, e para tal não há necessidade sequer de atacar o tirano, basta lhe recusar fazer qualquer coisa.

Pelo conceito de “servidão voluntária”, temos que não é por meio da coerção, da ameaça e de barganhas que o governo obtém o cerceamento da liberdade e a total submissão a uma estrutura social injusta e opressora. O povo em sua maioria se submete a opressão do governo sem opor resistência, por vontade própria e mesmo satisfeito em o fazer. A dominação é consentida por parte dos dominados.

Podemos destacar sete pontos importantes presentes no livro: 1- a ilegitimidade do poder de um só sobre muitos, 2- a república como um sistema de governo melhor que a monarquia, 3- A religião, crenças religiosas e superstição são usadas pelo governo para manter a sujeição do povo, 4- todos os humanos são iguais politicamente, 5- afirma a força da opinião pública, 6- rejeita a demagogia, 7- afirma a irracionalidade da servidão e sua vinculação a um comportamento dependente coletivo.

O autor neste livro enumera três razões para a servidão voluntária: 1- ter nascido na servidão. Quem nasce na servidão aprende a viver na servidão pelo hábito, o costume, a educação. Sem questionamento aceitam como natural o estado que encontraram desde seu nascimento. 2- Se tornar um covarde. A perda da liberdade leva também a perda da valentia. 3- A estrutura do poder que permite por meio de uma hierarquia de poder, que um domine alguns poucos e que estes, por sua vez, dominem um grupo maior e assim por diante. O autor também descreve três tipos de tiranos: 1- os que chegam ao poder pela eleição do povo, 2- pela força das armas ou 3- pela sucessão hereditária.

Também a religião exerce um papel importante, ao legitimar a figura do monarca. Some-se a toda superstição existente em torno do poder do rei. O sistema também proporciona uma hierarquia de poder a semelhança de uma pirâmide onde no topo temos o monarca, que exerce seu poder diretamente sobre alguns poucos abaixo dele (quatro ou seis) e estes, por sua vez, o exercem sobre outros abaixo e assim sucessivamente, conservam o país inteiro em servidão. As pessoas nos níveis mais baixos da pirâmide são obrigadas a obedecer, mas quanto mais próximos do rei, maior a submissão, pois, tais pessoas além de obedecer, buscam também poder antecipar os desejos do monarca. Aqueles que se encontram na base da pirâmide, por estarem mais afastados do tirano, são os mais livres, neste caso podemos citar os camponeses e os artesãos, dentre outros. Além de mais livres, são também mais felizes, pois, apesar de terem de obedecer, tem o restante do tempo livre para o gastarem do modo como escolherem.

Com relação aos relacionamentos afetivos com as pessoas mais próximas e também com o seu povo, o autor afirma que o tirano em verdade nunca é de fato amado ou ama. No tocante à amizade verdadeira, temos que uma de suas maiores características é a presença da reciprocidade. Há a necessidade da proximidade entre as pessoas, pois, esta permite suprir carências e aumentar as qualidades presentes nas pessoas. Já que a amizade verdadeira direciona as pessoas a viverem em comum, torna-se impossível ao tirano, que deve se manter afastado de todos e ocupar o lugar que só a ele é permitido.

Por meio da amizade se pode combater a servidão voluntária, pois, esta atua como elemento de exclusão da servidão. A amizade é um estado afetivo e de ações entre amigos que por sua própria natureza exclui a escravidão, não havendo a possibilidade de um espaço para servir ao outro.

Nesta obra, abre-se um questionamento perante o leitor para o que faz com que as pessoas obedeçam a uma única pessoa no comando da nação, o que faz com que as pessoas abdiquem de sua liberdade, e que para serem livres basta querer sê-lo.  O que temos com a servidão voluntária é em verdade a perda do desejo de ser livre. Mesmo que se possa perder a liberdade pela força, é surpreendente que as pessoas não lutem para reconquistá-la.

A tirania, e o autoritarismo nela presente, se destroem sozinhos se as pessoas deixarem simplesmente de obedecer, para isto é necessário que as pessoas percebam seu estado de escravidão e optem pela liberdade. Há uma defesa da igualdade política entre todas as pessoas e a liberdade é considerada um direito natural do humano.

O autor entende que é possível se opor à opressão sem a necessidade de fazer uso da violência, basta se recusar a dar o consentimento a este estado de coisas. Afinal, é por meio da obediência dos oprimidos que a autoridade encontra sua força para permanecer no comando opressor e tirânico. Um meio eficaz para se opor à autoridade seria recusar a obediência e a colaboração, mas claro está que há necessidade de uma organização coletiva para combater o poder que emana da obediência consentida dos oprimidos. Para sair desta servidão voluntária é necessário reconhecer a existência desta pirâmide hierárquica de poder e destruí-la, para tal basta recusar a obediência. São os povos que se deixam ser oprimidos, opressão esta que só existe na medida em que os povos aceitam servir ao tirano.

Nesta obra temos uma crítica a legitimidade dos governos e na tirania imposta por alguns governos. A submissão a um só governante se dá pelo hábito que nos faz acostumar com a situação imposta e não questiona-la. A servidão voluntária encontra em sua origem três raízes, que são: o hábito, a covardia, a participação. Estas três raízes em conjunto podem nos proporcionar a ilusão de que estamos livres, mesmo sob o jugo do tirano.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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terça-feira, 9 de maio de 2023

Introdução ao estudo da filosofia contemporânea

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Filosofia contemporânea

 Entendemos por Filosofia contemporânea a filosofia desenvolvida após o início da Idade Contemporânea, que começa com a Revolução Francesa ou mais especificamente com a queda da Bastilha, no ano de 1789 e se prolonga até os dias atuais. É, portanto, um desenvolvimento filosófico que abarca os séculos XIX, XX e o atual XXI, período este de profundas mudanças sociais e econômicas. Além da Revolução Francesa, tivemos vários marcos importantes neste período, como as duas guerras mundiais, a guerra fria, a exploração do espaço e chegada a Lua, a unificação da Europa em torno de uma moeda única e da ausência de fronteiras, o desenvolvimento de meios de transporte cada vez mais rápidos e confiáveis, o desenvolvimento da computação e outras formas de tecnologia que ampliaram o acesso a bagagem cultural humana e facilitaram o modo de pensar, a maior integração da comunicação, os movimentos feministas e suas conquistas sociais para a mulher, dentre muitos outros, e, claro está, a filosofia debateu e atuou diante destas mudanças sociais.


 

Dentre as questões trazidas pelo século XX, temos o desenvolvimento de uma era de incertezas, contradições e dúvidas que fogem do porto seguro de uma certeza ou verdade inabalável, aliás, mesmo a verdade passa a ser questionada conjuntamente com as religiões e com Deus. Alguns pensadores do período passaram a buscar um paraíso na Terra, desenvolvendo uma filosofia engajada em promover mudanças sociais. Algumas correntes de pensamento se apresentam com respostas a tudo, inclusive às críticas que possam ser feitas ao sistema, como se o mesmo fosse a verdade mais plena e que tudo abarcasse, como tal é o caso das doutrinas que tiveram sua origem no pensamento de Marx ou no de Freud. Aliás, os quatro pilares que norteiam boa parte do pensamento desta época são respectivamente: Marx, Freud, Darwin e Einstein. São muitos os filósofos e correntes de pensamento que se desenvolveram e ainda se desenvolvem no transcurso deste período.

Neste período a filosofia se relaciona com uma multiplicidade de conceitos, dentre os quais podemos citar: liberalismo; pluralismo; cientificismo; positivismo; subjetividade;    idealismo; racionalismo; pragmatismo; utilitarismo. Estes e outros conceitos marcantemente presentes no período englobam a forma de pensar cotidiana mesmo nos centros acadêmicos. A estes cabe também citar a questão de Deus e da religião cristã em contraste com o Islamismo e o ateísmo; a ideologia política de esquerda que se baseia em conceitos marxistas-leninistas, somados a diversas outras ideologias que tem em comum se contrapor ao pensamento que encontra sua origem no berço da democracia liberal e capitalista. A questão posta pela religião cristã e pelas liberdades individuais se faz presente e atuante nos contornos do desenvolvimento do pensamento filosófico neste período socialmente conturbado. Também e mais recentemente se impõe a questão sobre o “politicamente correto” e os rumos políticos ideológicos que as sociedades passaram a tomar, bem como os conflitos resultantes destas posturas.

Uma das características presentes no período é a pulverização do saber por distintas ciências e a cada vez maior especialização dos pesquisadores. Muitos dos pensadores com desenvolvimentos interessantes não se encontram na filosofia e sim em algum campo especializado das ciências, como tal é o caso de Einstein, Darwin e Freud, dentre muitos outros. Os temas tradicionais da filosofia continuam presentes, mas encontram maior acolhida no meio acadêmico e nas universidades.

Os temas fundamentais da filosofia continuam atuantes, tendo um destaque ora maior e ora menor por parte de algum filósofo ou corrente de pensamento. Estes temas de investigação são, dentre outros: a ética, a filosofia política, a estética ou filosofia da arte, a epistemologia ou teoria do conhecimento, a ontologia, a lógica, a hermenêutica filosófica, a teologia cristã, a liberdade.

Neste período temos uma enorme quantidade de produção por parte da filosofia, de fato, os séculos XIX, XX e o atual XXI tem apresentado um desenvolvimento que aponta para questões diversas, tais como o questionamento epistemológico sobre a validade do conhecimento e a existência da verdade, a existência humana e seu significado, a subjetividade e a intencionalidade, os relacionamentos sociais e afetivos, a evolução do conhecimento científico, questões sociais, a economia, a atividade política, e outras mais.

Um período por demais interessante, até porque, muito recente e, portanto, presente nas memórias e histórias de vidas das pessoas e suas famílias. Os temas aqui debatidos por vezes se mesclam com as preocupações cotidianas não somente dos acadêmicos e dos filósofos, mas também do humano comum com interesses nas mais distintas áreas do conhecimento humano. Debates filosóficos no transcorrer deste período acabam sendo debates sobre o modo de vida que as pessoas vivem em sociedade e como esta mesma sociedade, o Estado, a arte, a educação, a política, a economia, e outros campos mais, irão se posicionar diante do dia a dia da vida destas pessoas e suas famílias.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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sábado, 6 de maio de 2023

Lógica: Uma introdução

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Lógica

 A lógica é muito importante na filosofia e na vida. Seu surgimento se dá com o filósofo Aristóteles, século IV a.C., e com Crisipo de Solos, o terceiro a comandar a Escola Estoica, no século III a.C.. A lógica de Aristóteles é a lógica dos silogismos, já a lógica desenvolvida por Crisipo é a lógica proposicional. A lógica de Aristóteles é uma lógica estática enquanto a lógica dos estoicos é uma lógica dinâmica e proposicional, baseada naquilo que observamos. Os estoicos sustentam que a realidade não é feita de coisas estáticas e sim de eventos, de movimento.


 

A lógica de Crisipo não teve maior atrativo para as gerações subsequentes e foi, portanto, a lógica de Aristóteles que dominou a Antiguidade, Idade Média e Moderna. Somente no século XIX é que temos novos avanços em lógica e, de certa forma, um retorno a lógica de Crisipo por meio da lógica matemática, a qual, com base na lógica formal de Aristóteles, apresenta um desenvolvimento a partir das relações de valor das proposições. Seus desenvolvedores iniciais foram os matemáticos George Boole (1825-1864) e Augustus De Morgan (1806-1871).

Além destes, vários outros nomes se mostraram importantes no estudo e nos desenvolvimentos da lógica. Na atualidade citemos os alemães Ludwig Wittgenstein (1889-1951) e Rudolf Carnap (1891-1970), bem como o britânico Bertrand Russell (1872-1970). Estes pensadores aprofundaram os estudos sobre as relações entre lógica e linguagem, no que hoje entendemos por filosofia analítica da linguagem.

Apesar de fazermos referência a Aristóteles e Crisipo de Solos na Antiguidade e de outros pensadores a partir do século XIX com o surgimento da lógica matemática, e também de Kant ter dito que a lógica surgiu pronta e acabada com Aristóteles, a verdade é que autores anteriores a Aristóteles já trabalhavam questões lógicas, se bem que foi Aristóteles quem a sistematizou, e após os “Analíticos” ou “Organon”, a lógica não parou de se desenvolver durante a Antiguidade, Idade Média e Moderna.

Na atualidade a lógica seguiu por diversos caminhos e desenvolvimentos próprios, estando presente desde a computação até em teorias em psicologia. A lógica passou a ter um campo próprio e independente de estudo, estando presente nos cursos de filosofia e de matemática.

Na origem do termo “lógica”, em grego e latim, encontramos a palavra “logos”, que significa, dentre outras coisas: razão, fala, argumentação racional. Aristóteles chamou a esta disciplina de “Analíticos”. Foi Andrônico de Rodes, no século I a.C. quem organizou os escritos de Aristóteles e utilizou o nome “Organon” para se referir aos tratados que abordam o tema da lógica (Categorias; Da Interpretação, ou De Interpretatione; Analíticos Anteriores, ou Primeiros Analíticos; Analíticos Posteriores, ou Segundos Analíticos; Tópicos; Elencos Sofísticos, ou Refutações Sofísticas).

A lógica pode ser entendida como um ramo do saber, vinculado contemporaneamente à filosofia e à matemática, que estuda as leis, modos e formas do conhecimento. Apresenta-se como uma ciência formal, desprovida de conteúdo próprio. Por meio da lógica podemos estudar as formas validadas de inferência, os métodos e os princípios necessários para poder separar o raciocínio correto do incorreto.

Podemos entender a lógica como uma área da filosofia que tem como objeto de estudo a estrutura formal dos enunciados (ou proposições) e suas regras, de modo a estabelecer um modo correto de pensar e raciocinar. Enquanto área da filosofia, a lógica se ocupa do estudo das proposições, de modo a podermos separar argumentos válidos de argumentos inválidos e entendermos o que é, e como se estrutura uma falácia. No dia a dia a lógica nos permite reconhecer um argumento bom de outro ruim, evitando o cometimento de erros de raciocínio, ou seja, nos ajuda a pensar do modo correto e a não sermos iludidos por falsos argumentos aparentemente racionais (falácias).

Na lógica clássica temos três princípios básicos que a norteiam e que são respectivamente: 1- princípio de identidade, 2- princípio da não-contradição e, 3- princípio do terceiro excluído. Pelo princípio de identidade entendemos que o ser é sempre igual a si mesmo, “A” é igual a “A”. O princípio de não-contradição afirma que o ser não pode ser e não ser ao mesmo tempo, “A” não pode ser “A” e “não A”. Já o princípio do terceiro excluído afirma não haver outra possibilidade entre ser e não ser algo, ou se afirma ou se nega um predicado ao sujeito.

Na lógica formal e proposicional, ou lógica simbólica, temos que as proposições ou enunciados são reduzidos a conceitos bem definidos, recaindo a importância não para o que é dito e sim para a forma como é enunciado. Neste modelo as proposições são representadas por letras (p, q, r) e suas relações por meio de operadores lógicos (negação, conjunção, disjunção, condicional e bi-condicional).

Por meio da lógica podemos estudar a linguagem que usamos para nos expressar e raciocinar de modo a evitar erros em busca da verdade por meio do uso de determinados princípios. A linguagem, seja esta falada, matemática, computacional ou outra, é uma construção lógica.

Em termos de ensino e aprendizagem escolar e no dia a dia das pessoas a lógica também se faz presente e importante dentro da elaboração do raciocínio e da mais correta forma de pensar. A importância do estudo da lógica se faz presente hoje nas mais diversas disciplinas, como, por exemplo, a matemática, a literatura, a leitura e a escrita. A ausência de uma noção mais aprofundada em lógica pode também estar presente nas dificuldades enfrentadas em conseguir compreender conteúdos estudados e resolver problemas no ambiente de ensino e na vida cotidiana, isto só vem a reforçar que a lógica não é somente uma disciplina, ou campo de estudos, presente nos cursos de filosofia e matemática, mas que possui uma relação com o saber pensar bem, ajudando a interpretar, investigar e comparar ideias em busca de possíveis soluções de um dado problema, bem como, saber a melhor forma de comunicar a outros o que se propõe.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 


 

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Erasmo de Rotterdam: Sobre o livro "Elogio da loucura"

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Elogio da loucura – Erasmo de Rotterdam

 Erasmo de Rotterdam (1466-1536) escreve o livro “Elogio da loucura” em 1509, mas só o publica em 1511. Seu título original em latim era "Encomium Moriae" e sua primeira publicação ocorreu na cidade de Paris. A obra traz uma homenagem a Thomas Morus, grande amigo de Erasmo. A loucura em latim “moria” se aproxima graficamente do nome “More ou Morus”, além de possuir uma pequena introdução endereçada a seu amigo. Considerada dentre as mais célebres obras filosóficas do Humanismo e Renascimento, foi escrito originalmente em latim e, posteriormente, traduzida para os mais diversos idiomas.


 

O livro também pode ser entendido como uma crítica irônica ao pensamento cristão, aos costumes vinculados à religião e à fé cristã ou mesmo à Igreja Católica. Neste livro a loucura se apresenta como uma deusa, responsável pelos prazeres proporcionados ao humano pelo mundo e sociedade ao seu redor. A loucura se apresenta como estando dentro do contexto dos deuses da Antiguidade clássica, filha de Plutão, deus do qual dependem todos os negócios públicos e privados dos homens. Cabe à loucura proporcionar sentido à vida humana.

É ela, a loucura, filha de Plutão e da ninfa Neotete, “de todas a mais graciosa e alegre”, e foi amamentada pela Inebriação e Ignorância. Sua corte é composta por companheiros fiéis: Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios, adulação), Lethe (esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer, volúpia), Anoia (irreflexão), Tryphe (languidez, falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos Hypnos (sono profundo). A loucura afirma que com o auxílio desta corte fiel domina sobre todas as coisas e impera sobre os próprios imperadores.

O texto transcorre por um caminho satírico que chega a tomar um aspecto mais sombrio. A sátira está presente quando são abordados, por exemplo, abusos perpetrados pela Igreja católica, como algumas práticas corruptas então presentes. Também muitas são as referências clássicas, no estilo comum aos humanistas do Renascimento. A obra gozou de enorme sucesso a sua época, mesmo o Papa Leão X a teve como divertida, no entanto, após a morte de Erasmo, o livro foi incluído no index das obras proibidas pela Igreja Católica.

Mesmo não sendo esta sua intenção, este seu livro ajudou na formação do ambiente cultural no qual surge a Reforma Protestante. No transcorrer da vida de Erasmo temos o surgimento da Reforma, com Lutero afixando em 1517 as suas 95 teses na porta da Igreja do castelo de Wittenberg, mas Erasmo não assume partido entre católicos e protestantes. Suas críticas influenciaram as transformações ocorridas entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna.

A obra é uma sátira aos costumes de sua época, e como toda boa sátira, também uma crítica disfarçada pelo humor. O personagem principal é a própria loucura, que faz um monólogo no qual elogia a si própria e cita diversos exemplos sociais visando demonstrar ser ela quem de fato governa toda a humanidade. Com humor e nas palavras da loucura, Erasmo vai denunciando o que não funciona como deveria funcionar na sociedade, apresentando um a um os diversos males sociais, tais como a ingratidão, a hipocrisia e a intolerância.

Pela voz da loucura, esta se apresenta de modo encantador e não como uma doença ou algo negativo e mesmo indesejado. A loucura reclama que faz muito pela humanidade, mas que não recebe os créditos de tudo que faz e por isto mesmo, há ela própria de tecer elogios a si mesma. Afinal de contas, que outra coisa fora a loucura levaria homens e mulheres a buscar o casamento e filhos? E se não houvesse as famílias, muito menos haveria a humanidade. A loucura proporciona um ímpeto vital irracional e incoerente às pessoas, de modo a tornar suportável as desilusões e desventuras sofridas. Somente pela loucura os humanos conseguem se vincular a outros seres por meio de laços afetivos de amizade.

Há presente neste livro uma crítica à Escolástica, onde o humano é por vezes entendido como estando a serviço da razão e não o seu oposto. Erasmo apresenta uma crítica ao ensino da escolástica, bem como, aos ditos sábios, mas que se afastaram da vida simples, tornando-se em verdade falsos sábios. Critica também a hipocrisia presente nas instituições.

Já que a loucura está em toda a parte, todos podemos nos identificar com algum tipo de loucura. No transcurso de todo o livro, Erasmo por meio do discurso da loucura, destaca a sua enorme importância para a humanidade. É a loucura a verdadeira responsável por tornar a vida das pessoas mais alegre e suportável.

Nesta sátira aos costumes sociais da época temos também uma crítica social, mas não a intenção de mudar a sociedade. Não se trata de qualquer tipo de manifesto revolucionário, Erasmo está muito longe da ideia de renovar a Igreja, presente na Reforma. Muito mais próximo de uma crítica em tom de brincadeira, na qual mostra a sociedade o seu real reflexo no espelho da loucura, apresentando hábitos e comportamentos sociais pelo que possuem de risíveis e ridículos.

A loucura presente nos humanos enaltece a vida e o prazer, se opõe à morte ao valorizar a vida em todas as suas etapas. A vida nasce do amor e o amor nasce da loucura. Toda loucura gera prazer, pois, ambos são vinculados entre si. A loucura nos conduz sempre aos momentos mais felizes e marcantes de nossa vida. Os prazeres estão vinculados às paixões e estas à loucura, somos felizes quando nos afastamos da razão e nos deixamos viver a loucura.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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