Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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terça-feira, 2 de setembro de 2025

A História da Maçonaria: Do Templo de Salomão aos Dias Atuais

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Maçonaria

 

1- Introdução

 

A Maçonaria é uma das instituições mais antigas e enigmáticas da história, frequentemente envolta em mistérios, símbolos e narrativas que despertam curiosidade. Embora associada a segredos e rituais, sua essência é filosófica, filantrópica e iniciática, buscando o aperfeiçoamento do indivíduo e da sociedade. Este artigo explora a trajetória da Maçonaria, desde suas origens lendárias no Templo de Salomão, passando pelas guildas medievais, o marco do Grande Incêndio de Londres, até sua relevância no mundo contemporâneo. Vamos desmistificar mitos, destacar sua influência histórica e filosófica e entender como a Maçonaria se mantém viva no século XXI.

 

2- As Origens Lendárias: O Templo de Salomão

 

A narrativa tradicional da Maçonaria remonta ao Templo de Salomão, construído por volta do século X a.C. em Jerusalém. Segundo a tradição maçônica, a construção do templo, liderada pelo rei Salomão e pelo arquiteto Hiram Abiff, simboliza os ideais de ordem, harmonia e trabalho coletivo. Essa história é mais simbólica do que factual, servindo como uma metáfora para os valores da Maçonaria, como a busca pela perfeição moral e intelectual. O Templo de Salomão representa a fundação espiritual da ordem, com seus rituais e símbolos inspirados nas ferramentas dos pedreiros, como o compasso (equilíbrio) e o esquadro (retidão).


 

Para começar, a Maçonaria tem suas raízes simbólicas na construção do Templo de Salomão, uma das grandes obras da antiguidade, considerada um símbolo da busca pelo conhecimento e pela perfeição. Dois discípulos do mestre construtor, chamados Jakin e Boaz, deram nome às famosas colunas que guardavam a entrada do templo. A história conta que o mestre construtor Hiram Abiff foi assassinado por três aprendizes que queriam forçá-lo a revelar os segredos da construção. Esse episódio é fundamental para o ritual e a filosofia maçônica, representando a luta do homem pela verdade, superação e transformação interior.

Embora não haja evidências históricas de que a Maçonaria como instituição existisse na Antiguidade, essa narrativa lendária conecta a ordem a uma tradição de conhecimento e fraternidade, transmitida por séculos como uma herança simbólica.

 

3- As Guildas Medievais: A Maçonaria Operativa

 

Na Idade Média, entre os séculos XIII e XVI, a Maçonaria operativa floresceu na Europa, especialmente na construção de catedrais góticas, como Notre-Dame e Chartres. Os maçons operativos eram artesãos especializados na cantaria, trabalhando com pedra para erguer monumentos grandiosos. Esses profissionais se organizavam em guildas, conhecidas como "lojas", que protegiam seus conhecimentos técnicos e regulavam a profissão.

As guildas de pedreiros eram mais do que associações profissionais; elas cultivavam valores éticos, como a honestidade e o compromisso com a excelência. Essas organizações tinham rituais próprios, juramentos de sigilo para proteger os segredos do ofício e uma forte camaradagem. A palavra "loja" deriva dessas reuniões, e o termo "guilda" reflete a estrutura associativa que unia os artesãos. Esses elementos foram fundamentais para a transição da Maçonaria operativa para a especulativa, que surgiria séculos depois.

 

4- O Grande Incêndio de Londres e a Transição para a Maçonaria Especulativa

 

Em 1666, o Grande Incêndio de Londres devastou a cidade, destruindo milhares de construções. A reconstrução exigiu um esforço monumental, liderado por arquitetos e pedreiros, muitos dos quais pertenciam às guildas de maçons. Esse período marcou uma mudança significativa: as guildas começaram a admitir membros que não eram artesãos, mas intelectuais, nobres e pensadores, atraídos pelos ideais de fraternidade e progresso.

Essa transição culminou em 1717, com a fundação da Grande Loja de Londres, considerada o marco da Maçonaria especulativa. Diferentemente da Maçonaria operativa, focada na construção física, a especulativa enfatizava o desenvolvimento moral e intelectual, usando os símbolos da cantaria (como o compasso e o esquadro) para ensinar lições filosóficas. Figuras como John Theophilus Desaguliers e James Anderson foram fundamentais nesse processo, redigindo a primeira constituição maçônica, que estabeleceu os princípios da ordem moderna e influenciou a criação de democracias baseadas em direitos e liberdades.

 

5- A Maçonaria e a História: Influência nas Revoluções

 

A Maçonaria teve um papel significativo em eventos históricos que moldaram o mundo. Durante o Renascimento (séculos XIV a XVI), os ideais maçônicos de busca pelo conhecimento e progresso ecoaram o espírito humanista da época. No século XVIII, a Maçonaria se alinhou ao Iluminismo, promovendo valores como liberdade, igualdade e fraternidade, que inspiraram revoluções e mudanças sociais.

Revolução Americana (1776): Muitos dos "pais fundadores" dos Estados Unidos, como Benjamin Franklin e George Washington, eram maçons. Os ideais de liberdade e autogoverno, centrais à independência americana, refletiam os princípios maçônicos de justiça e igualdade.

Revolução Francesa (1789): A Maçonaria influenciou pensadores iluministas como Voltaire e Montesquieu, que frequentavam lojas maçônicas. Embora a ordem não tenha organizado diretamente a revolução, seus ideais de fraternidade e igualdade permeavam os debates da época.

Independência do Brasil (1822): Maçons como José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como o "Patriarca da Independência", desempenharam papéis cruciais na emancipação brasileira. As lojas maçônicas serviam como espaços de discussão política, fomentando ideias de soberania.

Proclamação da República no Brasil (1889): Figuras como Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant, ambos maçons, lideraram o movimento que derrubou a monarquia, consolidando a república com base em princípios de liberdade e progresso.

Esses eventos ilustram como a Maçonaria, por meio de suas redes de influência e ideais filosóficos, contribuiu para transformações políticas e sociais em escala global.

 

6- Filosofia Maçônica: Liberdade, Igualdade e Fraternidade

 

A Maçonaria é, em essência, uma instituição filosófica. Seus ensinamentos se conectam aos ideais iluministas, promovendo a busca pelo conhecimento, a ética e a moral. O conceito de "Grande Arquiteto do Universo" reflete uma visão teísta que acolhe diferentes crenças religiosas, unindo membros em torno de valores universais. Os rituais maçônicos, embora envoltos em simbolismo, são ferramentas pedagógicas que incentivam a introspecção e o crescimento pessoal.

Os símbolos maçônicos, como o compasso (equilíbrio entre o material e o espiritual) e o esquadro (retidão moral), são centrais para a filosofia da ordem. Esses símbolos inspiram os maçons a refletirem sobre sua conduta e a contribuírem para uma sociedade mais justa. A Maçonaria também valoriza a educação, enxergando o conhecimento como o caminho para o progresso humano.

 

7- Desmistificando a Maçonaria: Mentiras e Verdades

 

A Maçonaria é frequentemente alvo de mitos e teorias conspiratórias, como a ideia de que seria uma sociedade secreta com intenções obscuras. Na realidade, a Maçonaria é uma sociedade discreta, não secreta, com rituais que simbolizam a jornada de autoconhecimento. O famoso "bode" é uma piada popular, sem qualquer base nos rituais maçônicos, usada para desmistificar rumores infundados.

Outro equívoco comum é associar a Maçonaria a uma organização política ou religiosa. Embora maçons tenham influenciado eventos históricos, a ordem não tem uma agenda política unificada, e sua concepção teísta permite a convivência de diferentes crenças. Seu objetivo é promover o aperfeiçoamento individual e coletivo, não o controle de instituições.

 

8- A Maçonaria e a Educação

 

A educação é um pilar fundamental da Maçonaria. Historicamente, maçons estiveram envolvidos na criação de escolas, universidades e bibliotecas, refletindo a crença de que o conhecimento é essencial para o progresso. No Brasil, por exemplo, maçons como José Bonifácio defendiam a educação como ferramenta de emancipação. Hoje, muitas lojas maçônicas mundo afora apoiam projetos educacionais, bolsas de estudo e iniciativas de alfabetização, mantendo viva essa tradição.

 

9- Maçonaria Contemporânea: Desafios e Contribuições

 

No século XXI, a Maçonaria enfrenta o desafio de se adaptar a um mundo digital e globalizado. Embora mantenha seus rituais e tradições, a ordem busca atrair novas gerações, promovendo diversidade e inclusão. No mundo, as lojas maçônicas continuam ativas em projetos filantrópicos, como apoio a comunidades carentes, construção de hospitais e ações humanitárias.

A Maçonaria também enfrenta o desafio de desmistificar sua imagem pública, combatendo estereótipos e esclarecendo seu papel como uma instituição voltada para o bem comum. No Brasil, por exemplo, lojas maçônicas têm se engajado em causas sociais, como doações para vítimas de desastres naturais e programas de apoio à infância.

 

10- Conclusão

 

A Maçonaria é muito mais do que uma sociedade envolta em mistérios. Desde suas origens lendárias no Templo de Salomão até sua consolidação como uma instituição filosófica e filantrópica, a Maçonaria moldou a história por meio de seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Das guildas medievais ao impacto nas revoluções modernas, a ordem influenciou eventos que transformaram o mundo. Hoje, a Maçonaria permanece relevante, promovendo educação, filantropia e reflexão ética em um mundo em constante mudança.

Se você deseja saber mais sobre a Maçonaria, seus símbolos ou sua história, explore os recursos disponíveis em blogs como "Ser Escritor" e "Comportamento Crítico", além do nosso site  (https://www.doutorsilverio.com), onde artigos e materiais adicionais oferecem uma visão mais profunda sobre essa fascinante instituição.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Charles Sanders Peirce: O Arquiteto do Pragmatismo e da Semiótica Contemporânea

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Charles Sanders Peirce

 

1- Biografia

Charles Sanders Peirce (1839-1914) nasce em Cambridge, Massachusetts, EUA, e falece aos 74 anos de idade em Milford, Pensilvânia. Filho de Sarah Hunt Mills e Benjamin Peirce (o casal teve no total 5 filhos). Seu pai foi professor de Harvard, matemático, físico e astrônomo. Em virtude de sua família, Peirce cresceu em um ambiente onde era comum em sua casa a presença de cientistas e intelectuais. Além disto, seu pai optou por lhe dar uma educação diferenciada, baseada na solução de problemas e não na mera memorização de dados e fatos.


 

Peirce é um polímata, atuou como filósofo, pedagogo, cientista, linguista e matemático. Suas contribuições abrangem diversos e distintos campos do saber, passando pela lógica, semiótica, astronomia, geodésia, matemática, teoria e história da ciência, econometria e psicologia. Ele via a si mesmo como um lógico e cabe a ele o entendimento de ser a lógica um ramo formal da semiótica.

Segundo relatos do próprio Peirce em sua autobiografia e também de comentadores acadêmicos sobre sua obra, ele teria já aos 12 anos de idade lido “Elements of Logic”, de Richard Whately. Seus estudos de lógica foram influenciados pelo pai, tendo desde cedo dominado a matéria.

Estudou em Harvard, licenciando-se em ciências e obtendo o doutorado em química, mais tarde também lecionou nesta universidade. Peirce se formou em Harvard em 1859 e recebeu o título de bacharel em química em 1863, graduando-se summa cum laude. Fora este desempenho notável em química, no geral Peirce era um aluno ruim, ficando no terço inferior de sua classe. Ao que parece, o currículo padrão o entediava e este não se dedicava seriamente ao trabalho nas disciplinas que cursava.

Foi geofísico e astrônomo da United States Coast and Geodetic Survey, uma organização científica dos EUA entre 1859 e 1891. Em termos de filosofia, escreveu bastante e participou das reuniões do Metaphysical Club, na cidade de Boston. Este clube foi criado no ano de 1872, e dentre seus participantes mais notórios, temos, além do próprio Peirce, William James, Chauncey Wright, e outros, sendo onde Peirce desenvolveu suas ideias presentes no pragmatismo. Entre 1879 e 1884 ensinou lógica na John Hopkins University.

Atuou de 1869 a 1875 como auxiliar do observatório de Harvard. Em 1872 deu início a uma série de experimentos sobre o pêndulo com a finalidade de determinar a densidade e forma da Terra. Este trabalho com pêndulo permitiu determinar a gravidade terrestre, contribuindo para a geodésia. Também em 1872 começou estudos sobre a longitude das ondas luminosas.

Até 1880 a vida de Peirce seguiu bem e este foi obtendo sucesso e espaço social, mas a partir deste ano, que também marca o falecimento de seu pai, começa um vertiginoso declínio social. Sua primeira esposa, Harriet Melusina Fay, com quem se casara em 1863, já suspeitava há algum tempo que Peirce mantinha vários casos extraconjugais, mas ao vir a público seu relacionamento com uma francesa, estes se separaram em 1876 e obtiveram o divórcio em 1883, sendo que entre a separação e o divórcio Peirce manteve publicamente seu relacionamento com a outra mulher, Juliette Peirce (Juliette Annette Froiss, ou, Juliette Annette Pourtalai), com quem posteriormente casaria após o divórcio definitivo, mas este comportamento foi entendido como moralmente inaceitável pela sociedade da época, lhe custando seus empregos e qualquer possibilidade de sustento de vida. Passou seus últimos anos de vida ao lado da segunda esposa e veio a falecer em extrema pobreza, sendo ajudado por amigos e familiares. Sua fama e notoriedade internacional só começou após a sua morte, quando, aos poucos, foi obtendo o devido reconhecimento por seu trabalho. Após sua morte, a sua esposa vendeu todos os seus manuscritos inéditos para a universidade de Harvard.

Além do confronto com a moral social reinante, temos também como explicação de suas dificuldades financeiras a inimizade de Charles William Eliot, presidente de Harvard (1869-1909), que limitou ou mesmo inviabilizou suas oportunidades acadêmicas.

Um terceiro elemento que pode explicar suas dificuldades pós 1880 de encontrar um emprego fixo e uma remuneração que evitasse de passar dificuldades financeiras, pode ser encontrado no fato narrado por pessoas da época dele, deste possuir uma personalidade de trato difícil, sendo visto como excêntrico, arrogante, socialmente desajeitado, impaciente, sarcástico pouco diplomático. Apesar disto, manteve amizade e foi admirado por alguns amigos mais próximos, como tal é o caso de William James.

Então, teremos que suas dificuldades financeiras estariam relacionadas à morte do pai, pessoa socialmente influente, a inimizade com o presidente de Harvard, sua personalidade difícil e dificuldade de trato social, o escândalo de assumir um segundo relacionamento com outra mulher antes da oficialização final do divórcio com a primeira esposa.

Apesar de não ter encontrado grande sucesso e ter morrido na pobreza sem conseguir publicar boa parte de sua obra, esta foi publicada postumamente e seu pensamento influenciou de modo decisivo vários segmentos do pensamento norte-americano, como, por exemplo, o Pragmatismo desenvolvido por William James e Dewey, e outros campos da filosofia e ciências adotarão temáticas originalmente presentes no pensamento de Peirce para darem desenvolvimento.

Alguns estudiosos o consideram um pensador sistemático, já outros o consideram um pensador assistemático, mas todos concordam sobre a grande importância que este teve na filosofia e lógica, a começar pelos EUA e se irradiando pelo mundo.

No transcorrer de sua vida produziu cerca de 80.000 páginas manuscritas, a maioria inéditas, pois, durante sua vida publicou, destas, cerca de 12.000. Após sua morte foram publicados os “Collected Papers of Charles Sanders Peirce”, entre 1931 e 1958, editados de modo temático e contendo partes já anteriormente publicadas quando ainda em vida o filósofo. A edição cronológica de suas obras está ainda em andamento (em 2025), sendo a “Writings of Charles S. Peirce: A Chronological Edition”.

 

2- Pragmatismo

O termo “pragmatismo” foi inspirado no conceito kantiano de pragmatisch (relativo à prática), mas Peirce o reformulou como uma filosofia lógica e científica. Peirce se apresenta como um dos fundadores, junto com William James e John Dewey, do Pragmatismo na Filosofia, em verdade, uma filosofia da ação que vem a se contrapor de um lado ao Idealismo e do outro ao Positivismo. Numa continuação da tradição do Empirismo inglês, faz uso do Utilitarismo de Bentham, James Mill e Stuart Mill, ampliando-o da ética para o gnosiológico. O pragmatismo defendido por Peirce é o lógico, que há de se distinguir de outras formas de pragmatismo presentes em outros autores.

No ensaio datado de 1878, “Como fazer claro as nossas ideias”, faz a primeira menção ao termo “Pragmatismo”, mas Peirce diz fazer uso do termo em reuniões privadas desde o ano de 1875. Neste ensaio afirma que as crenças que temos atuam como normas para a ação que empreendemos. O fim último de qualquer indagação ou processo racional se encontra no estabelecimento de uma dada crença, que atue como hábito ou regra de ação, pois, mesmo que não conduza imediatamente a um dado ato, por meio dela é possível um determinado comportamento quando este se mostra apropriado. Ou seja, dito de outra forma, o objetivo do pensamento é formar crenças que guiem nossas ações.

No ano de 1905 Peirce adotou um novo nome para o que antes chamara de “pragmatismo”, tendo como objetivo expressar sua definição original e diferenciá-la do emprego que então se fazia corrente, deste modo, passou a chamar de “pragmaticismo”.

Pelo Pragmatismo, o valor de verdade dado a uma ideia ou princípio teórico há que depender dos resultados práticos que forem obtidos desta ideia ou princípio. Não cabe meramente perguntar o que é verdadeiro ou falso, mas sim olhar para o futuro e verificar quais consequências advirão ao adotar tais ideias ou princípios como verdadeiros ou como falsos. Quando uma ideia consegue ter um êxito prático, então ela é verdadeira. A verdade coincide com a utilidade de algo, deste modo, um dado saber não é bom e útil pelo fato de ser verdadeiro, mas sim, ele é verdadeiro pelo fato de ser bom e útil. No entendimento do pragmatismo proposto por Peirce, para que uma afirmação qualquer possa ser significativa, esta precisa ter implicações práticas.

Enquanto no Empirismo desenvolvido por Locke, Hume e outros, o foco se dá na origem sensorial das ideias, Peirce, por sua vez, põe o foco não nas origens e sim nas consequências que possam ser verificáveis. O significado de um dado conceito, como, por exemplo, o conceito de “dureza”, “calor”, “frio”, se encontra nos efeitos práticos que são por ele produzidos. Se algo é duro é porque resiste a arranhões ou deformações em geral a partir de testes práticos e verificáveis.

Podemos pensar em alguns exemplos (“faca afiada” e “café quente”) para a máxima do pragmatismo e seu uso na prática cotidiana. Exemplos: “uma faca é afiada se corta bem”; “Dizer que o café está quente significa que ele pode queimar se tocado”.

Nossas crenças se mostram como regras de ação e não apenas estados mentais, pois, as crenças guiam nossas ações. Quando acreditamos que algo queima e nos machuca, evitamos, como tal é o caso com o contato direto com o fogo. O pensamento tem por objetivo superar a dúvida e estabelecer crenças estáveis, que Peirce chama de “fixação de crença”.

 

3- Lógica e semiótica

 

Peirce é considerado o fundador da semiótica. No seu entendimento, a lógica faz parte do campo da teoria geral dos signos ou semiótica. Para Peirce, a lógica é um subcampo da semiótica especulativa, que estuda como os signos operam no raciocínio. Nos últimos 30 anos de sua vida dedicou-se ao estudo da semiótica, um sistema de lógica.

Em Peirce a semiótica se torna necessária para entender os processos presentes no pensamento. A teoria semiótica proposta por Peirce tem suas origens históricas nos trabalhos de Duns Scotus e de John Poinsot (João de São Tomás), enquanto Scotus é citado diretamente por Peirce, John Poinsot pode ser inferido a partir do estudo de sua obra. O signo em Peirce mostra-se como sendo alguma coisa que está no lugar de outra.

Peirce, um realista escolástico, próximo do pensamento de Duns Escoto, aceitava o mundo externo como dado, sem questionar sua existência. Na semiótica, a Secundidade (ex.: resistência de uma pedra) e o objeto dinâmico (ex.: fogo real) existem fora da mente, diferentemente do idealismo de Kant, onde temos acesso somente ao fenômeno e não ao noumeno. A realidade, acessível via signos (que atuam como mediadores, afastando Peirce de um realismo ingênuo), reflete o realismo medieval de Peirce, conectando mente e mundo.

A lógica se apresenta para Peirce como sendo o núcleo principal de sua filosofia e é por ele definida como sendo uma ciência formal do raciocínio que tem como objeto investigar como as diversas ideias são elaboradas, validadas e aplicadas. A lógica é um campo amplo que junta experiência, ciência e semiótica e não, como temos em Aristóteles ou mesmo Frege, um conjunto de regras formais. Segundo o pensamento de Peirce, a lógica faz parte da semiótica, já que o raciocínio abarca signos, que são representações mentais que produzem significado.

Além da dedução, que vai do universal para o particular, da indução, que vai do particular para o universal, Peirce introduz na lógica o conceito de abdução. Enquanto a dedução e a indução voltam-se para o passado em relação ao que já conhecemos, a abdução se propõe a elaborar uma hipótese voltada para o futuro.

Exemplo dado por Peirce da saca de feijões:

1) Todos os feijões daquela saca são brancos. Esses feijões são daquela saca. Logo, esses feijões são brancos (dedução).

2) Esses feijões são daquela saca. Esses feijões são brancos. Logo, todos os feijões daquela saca são brancos (indução).

3) Todos os feijões daquela saca são brancos. Esses feijões são brancos. Logo, esses feijões são daquela saca (abdução).

Apresentou um tríplice divisão da filosofia: fenomenologia, ciência normativa e metafísica. A fenomenologia de Peirce estuda o que aparece à consciência, seja na mente ou no mundo, estruturando a experiência em categorias universais. A fenomenologia tem seu objeto de estudo nas categorias. A fenomenologia de Peirce estuda o que aparece à consciência, seja na mente ou no mundo, estruturando a experiência em categorias universais. A ciência normativa, por sua vez, se divide em estética, ética e lógica, apoiando-se na fenomenologia e na matemática. A metafísica se divide em metafísica geral ou ontológica, metafísica psíquica ou religiosa, e metafísica física.

Cabe aqui uma pequena distinção para facilitar a compreensão. A fenomenologia adotada por Peirce trata da mente e do mundo, reforçando o modo como este entende o realismo de sua filosofia em termos ontológicos, já o conceito de fenômeno para Kant faz alusão ao que se passa na mente, a partir das 12 categorias do entendimento em interação com o noumeno e, por sua vez, o fenômeno para Husserl tem a ver com a consciência.

A lógica em Peirce é uma ciência normativa, que prescreve o modo como devemos raciocinar visando a verdade. Não se trata do modo como as pessoas raciocinam na prática, deste modo, Peirce diferencia esta da psicologia, que estaria mais preocupada com o estudo do pensamento. A lógica em Peirce se vincula a sua ideia do pragmatismo, entendendo que o significado de uma dada ideia se encontra nos efeitos práticos que esta é capaz de gerar.

Quando Peirce se refere à abdução, entende que esta gera afirmações lógicas por serem capazes de serem testadas na prática e podendo ser validadas pela indução e pela dedução, como no caso da crença que o fogo queima, crença está que pode ser considerada lógica na medida em que cria o hábito de evitar o contato direto com o fogo, se protegendo de queimaduras, o que é um efeito prático obtido por meio desta crença. A lógica em Peirce também se relaciona com a semiótica, já que para o autor todo raciocínio envolve signos. Qualquer pensamento que a pessoa possa ter é um signo que representa algo, um objeto qualquer, e produz um dado efeito mental (interpretante). Detalhe que o interpretante não precisa ser uma pessoa, pode ser outra coisa, como uma consciência coletiva presente em uma multidão ou na sociedade, ou uma mente artificial presente numa IA. A lógica é um subcampo da semiótica, já que analisa os signos e como estes atuam no raciocínio.

 

3.1- Análise detalhada e explicação das 10 tricotomias propostas por Peirce

 

A ordem (mais pedagógica) das tricotomias:

1- Primeiridade, Secundidade, Terceiridade - Base Filosófica

2- Signo, Objeto, Interpretante - Fundamento da Semiótica

3- Objeto Imediato, Objeto Dinâmico, Objeto Final - Divisão do Objeto

4- Qualisigno, Sinsigno, Legisigno - Natureza do Signo

5- Ícone, Índice, Símbolo - Relação com o Objeto

6- Rema, Dicente, Argumento - Relação com o Interpretante

 

Mais complexas e para um público acadêmico

7- Dez Classes de Signos - Combinação das Classificações Primárias

8- Sessenta e Seis Classes de Signos - Expansão Avançada das Classificações

9- Interpretante Imediato, Interpretante Dinâmico, Interpretante Final - Divisão do Interpretante

10- Signo Abstrativo, Signo Concretivo, Signo Coletivo - Função Representativa

 

1- Primeiridade, Secundidade, Terceiridade - Base Filosófica

As categorias de Peirce influenciaram a semiótica contemporânea (ex.: Umberto Eco) e a filosofia analítica (ex.: Quine), conectando mente, mundo e significado. Visando discriminar as distintas categorias presentes ao entendimento humano, Peirce nos fala em três distintos momentos da apreensão da realidade: firstness (primariedade), secondness (secundariedade) e thirdness (terciariedade). Nestas categorias incluem-se tanto ideias quanto coisas, fazendo, portanto, menção simultânea aos campos psicológico e lógico. A categoria formada por primeiridade, secundidade, terceiridade é a base filosófica de sua semiótica e de todo o seu sistema filosófico e foi apresentada pela primeira vez em seu artigo “On a new list of categories”, 1867. Descrevem os modos universais de experiência e realidade, estruturando a forma como percebemos e interagimos neste mundo.

Todas as categorias propostas por Peirce são triádicas, já que este autor entendia que o pensamento e a realidade operam por meio de tríades. Ao fazer uma proposta triádica, Peirce se afasta de Descartes com seu dualismo, do mesmo modo que se afasta de qualquer pensamento monista.

Para Peirce, primeiridade, secundidade e terceiridade encontram-se na base de todas as demais tricotomias por ele propostas, e cada aspecto do signo (signo, objeto, interpretante) pode ser analisado por meio desta categoria.

A primeiridade faz referência a qualidade ou sensação em si mesma e independente de qualquer relação ou contexto. Aquilo que é, sem necessitar de referência a outra coisa qualquer. Aqui temos a qualidade pura de algo. Ela é imediata e intrínseca a este algo, devendo ser considerada em si mesma, sem qualquer relação com outros elementos ou contextos. Temos aqui a sensação ou possibilidade antes de qualquer comparação se efetuar. A primeiridade é monádica, pois, envolve apenas um único elemento. É abstrata e potencial, já que não é dependente do tempo e do espaço. Vincula-se a sentimentos, qualidades sensoriais ou possibilidades. Como exemplo temos a cor vermelha dissociada do objeto que a carrega, seja um carro ou uma maçã, enquanto qualidade pura. A sensação de calor ao nos aproximarmos de algo muito quente. A ideia abstrata de liberdade, quando não associada a algo concreto. O sentimento de beleza ao olhar para o céu, para um nascer ou pôr do sol. É o momento da experiência em que algo é sentido ou percebido em sua essência, sem análise.

A secundidade faz referência à relação, interação ou resistência entre dois elementos. É o modo de ser em relação a algo outro, onde temos a ação e a reação. Aqui dois elementos entram em relação recíproca. É quando temos um confronto com algo externo, seja este uma dada força ou evento. Por envolver dois elementos ela é diádica. Também se mostra como concreta e factual, pois, vinculada a experiência empírica, estando associada a eventos, à causalidade e à resistência física. Como exemplos temos a resistência da tampa de uma mesa quando batemos fortemente nossa mão na mesma. A interação física que surge entre a mão que bate e a mesa que recebe e golpe é a secundidade. Se observamos uma pegada na areia e daí concluímos que um dado animal passou por este local, a relação existente entre a pegada e o evento da passagem do animal é a secundidade. A interação que existe entre o sujeito e a porta que é por ele aberta. Ao tropeçar em uma pedra temos a sensação de dor (primeiridade) seguida da interação física com algo externo que foi o fato de colidir com a pedra (secundidade). Enquanto a primeiridade se dá na abstração, a secundidade ocorre diante do enfrentamento do mundo circundante diante do momento da experiência.

A terceiridade faz referência à mediação, representação ou generalização que possibilida a conexão entre os elementos, de modo a formar leis, regras, hábitos ou significados. Trata-se do modo de ser que atua proporcionado uma mediação entre dois elementos. Ao introduzir continuidade, ordem ou interpretação, a terceiridade proporciona a união entre a primeiridade e a secundidade. Ela é triádica, já que envolve três elementos: dois conectados por um terceiro. Ela é abstrata, mas presa a regras e padrões. Vinculada a significados, leis, hábitos ou processos de aprendizado. Como exemplo temos a aprendizagem diante da experiencia, como no caso de aprender que o fogo queima. Ao sentir o calor (primeiridade) e tocar em uma chama (secundidade), aprendemos que o fogo queima e criamos como regra geral “evitar o fogo” (terceiridade). Esta mediação da experiência e criação de um novo hábito é a terceiridade. Quando associamos uma palavra ao seu objeto por meio de uma convenção linguística, como no caso da palavra “gato” ao devido animal correspondente, temos a terceiridade, presente na convenção que dá significado a palavra. Um mapa (signo) conecta a cidade real (objeto) ao entendimento do usuário (interpretante) por meio de uma representação mediada (terceiridade). É por meio da terceiridade que a experiência se torna significativa, e onde temos a presença de leis, símbolos ou interpretações. É por meio da terceiridade que temos a formação de crenças e a possibilidade da comunicação. Uma pessoa pode sentir o cheiro (primeiridade), ver fumaça (secundidade), e concluir que há fogo, decidindo o que fazer diante deste evento, sua conclusão se encontra dentro de um contexto de regras que foram aprendidas no passado e é onde temos a terceiridade.

Quando diante de uma maçã, temos a primeiridade na sensação de vermelho, pura e imediata; temos a secundidade no ato de tocar e sentir a sua textura; temos a terceiridade ao concluir tratar-se de uma fruta comestível, baseados em aprendizagem e convenção social.

Ao ver uma placa de trânsito com um triângulo vermelho, a primeiridade é a sensação do vermelho, a secundidade é a relação com o perigo real (ex.: um buraco), e a terceiridade é o entendimento de “parar”, mediado por convenção.

É uma relação triádica na qual as categorias são interdependentes. primeiridade é a base (qualidade pura), secundidade adiciona relação (interação com o mundo), e terceiridade introduz mediação (significado ou hábito). Nenhuma categoria existe isoladamente; elas se complementam para descrever a experiência. Na semiótica essas categorias estruturam a teoria dos signos: Um signo (ex.: palavra “maçã”) tem uma qualidade (primeiridade), está relacionado a um objeto (secundidade), e produz um efeito interpretativo (terceiridade).

As categorias conectam-se à máxima pragmática. O significado de uma crença (terceiridade) surge de seus efeitos práticos (secundidade) a partir de qualidades experimentadas (primeiridade).

O sabor de uma fruta em si mesmo, enquanto algo puro e imediato é a primeiridade. A textura crocante que ocorre diante da interação física com a fruta no ato de a morder, é a secundidade. O entendimento que esta fruta em particular é comestível, baseado em experiências passadas e aprendizagem, é a terceiridade, que conecta a sensação com a interação proporcionando um significado. Temos a sensação pura, sem contexto, a interação com o mundo real e o significado dado a experiência.

Podemos aqui trazer uma contribuição do Empirismo de John Locke, que estava presente no ambiente intelectual frequentado por Peirce. A primariedade de Peirce em muito se aproxima das qualidades primárias e qualidades secundárias de Locke. Locke distingue entre qualidades primárias (ex.: forma) e secundárias (ex.: cor), a primeiridade de Peirce, como a sensação de vermelho, lembra as qualidades secundárias de Locke (ex.: cor percebida), mas se integra a um sistema triádico, unindo mente e mundo.

A primeiridade se aproxima da ideia de coisa (só que abstrato e não concreto), de unidade, enquanto a secundidade se aproxima da ideia do outro, da alteridade, e que, por sua vez, a terceiridade nos lembra a relação do um, do si mesmo, com o outro, com a alteridade, sendo mediada pela terceiridade.

Essas categorias fundamentam a semiótica, pois o signo reflete a primeiridade (qualidade), o objeto a secundidade (relação), e o interpretante a terceiridade (mediação).

 

2- Signo, Objeto, Interpretante - Fundamento da Semiótica

Um signo é algo que sobre certos aspectos ou de algum modo, representa algo para alguém. Peirce propõe uma tríade semiótica para dividir o signo em elementos que sejam inter-relacionados: signo, objeto e interpretante. O signo é algo que representa algo outro. O objeto é aquilo que está sendo representado pelo signo. O interpretante é o que ocorre quando alguém processa o significado do signo, evocando uma imagem, interpretação e compreensão sobre o que este signo representa. O interpretante é o efeito do signo, como uma imagem mental, ação ou hábito. Estes três elementos se encontram na base da teoria semiótica proposta por Peirce. Esta tríade nos proporciona o entendimento de como funcionam os signos e como é construída a comunicação, proporcionando um melhor entendimento sobre a complexidade da linguagem.

Esta tricotomia é fundamental dentro da semiótica proposta por Peirce, para a sua filosofia, lógica e para o Pragmatismo, sendo desenvolvida a partir de “On a new list of categories”, 1867, e textos posteriores. Enquanto nos trabalhos posteriormente elaborados por Saussure temos uma semiótica dual, para Peirce esta é triádica, se apresentando como um processo no qual temos o signo, o objeto e o interpretante. Esta mediação dada pelo interpretante torna esta semiótica mais dinâmica e aplicável a qualquer tipo de representação, seja este dado por meio de palavras, imagens, gestos ou pensamentos.

Nesta categoria o signo é definido dentro de uma relação triádica. Trata-se de um processo no qual algo (signo) representa algo outro (objeto) para uma mente (interpretante), resultando em um dado efeito mental, prático ou hábito. Esta categoria se apresenta como sendo a base na qual significados são elaborados e posteriormente comunicados. O signo deve ser entendido como algo que representa algo outro, seja uma palavra, uma imagem ou um som. O objeto deve ser entendido como aquilo que é representado pelo signo, seja algo concreto, abstrato ou imaginário. O interpretante deve ser entendido como sendo o efeito produzido pelo signo na mente, que tem como consequência um dado comportamento.

Esta categoria se vincula a anterior, deste modo, o signo está ligado à primeiridade, enquanto qualidade da representação, o objeto está ligado à secundidade, enquanto relação com a realidade, o interpretante está ligado à terceiridade, enquanto mediação do significado.

O signo mostra-se como sendo qualquer coisa que é colocada no lugar de outra diante de uma mente (pessoa, sociedade, sistema, IA) que atua como interpretante. Pode ser inúmeras coisas, tais como um desenho, um gesto, um som, etc. O signo se apresenta como o veículo da representação. Ele é monádico, trata-se de ser uma entidade que traz consigo uma qualidade (primeiridade). O signo pode ser material (exemplo: algo escrito) ou imaterial (exemplo: um conceito mental). O signo não atua de modo isolado, mas em uma relação que inclui o objeto e o interpretante dentro de dado contexto, como tal é o caso de uma placa com algo escrito, de uma fotografia ou de um dado som emitido por alguma sirene ou outra fonte. Exemplo: Um som específico pode significar um carro da polícia pedindo passagem para os demais motoristas no trânsito intenso, como também pode ser diferenciado para que seja identificado que se trata de uma ambulância ou dos bombeiros.

Dentro de um contexto filosófico o signo mostra-se como sendo a interface inicial de dada experiência. Ele captura uma dada qualidade ou possibilidade de algo que será conectado a algo outro por meio de uma interpretação, ou seja, é a primeiridade conectada ao objeto apresentando dado resultado na mente do interpretante. Uma palavra escrita em um livro se apresenta como signo, representando algo para quem a lê, como no caso da palavra “cão” ou da palavra “leão”, mas por si somente não passa de um mero conjunto de rabiscos que por convenção chamamos de letras do alfabeto.

O objeto se mostra como sendo o que é representado pelo signo, ou seja, o referente do signo. Pode tanto ser algo concreto como também abstrato ou imaginário. Exemplo: uma mesa que vemos a nossa frente é algo concreto, uma ideia em nossa mente é algo abstrato, o conceito de um unicórnio é algo que pertence ao reino do imaginário, já que não encontra contrapartida na realidade. Temos o objeto imediato, tal como aparece no signo, e o objeto dinâmico, que é como se apresenta na realidade externa. O objeto é diádico, já que envolve a relação entre o signo e o que este representa (secundidade). Não tem a necessidade de ser algo material, podendo ser uma ideia ou conceito abstrato. Não há necessidade de o signo representar de modo completo o objeto, podendo representa-lo somente em algum aspecto. A palavra “fogo” enquanto signo pode ter como objeto a chama no mundo real ou o conceito elaborado na mente. Uma fotografia de uma árvore, enquanto signo, pode ter como seu objeto a árvore no mundo real que fora ali representada pela fotografia. Já a palavra “liberdade” e outras mais, enquanto signo, tem como objeto um conceito abstrato e imaterial.

Dentro de um contexto filosófico o objeto atua como a âncora do signo na realidade ou em um dado conceito, apresentando uma relação factual, secundidade. Cabe ao objeto garantir que o signo possua uma referência, mesmo que esta seja parcial ou abstrata. Diante de uma dada palavra que represente um animal específico, o objeto pode tanto ser este animal no mundo real, como também a ideia deste animal.

O interpretante mostra-se como sendo o efeito produzido pelo signo na mente e no comportamento de quem o interpretou. O interpretante é o resultado ou a ação produzida a partir da relação do signo com o objeto. O interpretante é o que torna o signo significativo, sendo dividido por Peirce em imediato, dinâmico e final. O interpretante é triádico, mediando a relação entre signo e objeto e, deste modo, produzindo significado (terceiridade). Este pode se apresentar como sendo um pensamento, ideia, emoção, ação ou hábito. O interpretante é dinâmico, gerando novos signos e criando uma cadeia contínua de significação. Uma placa de aviso avistada por uma pessoa, pode gerar neste interpretante reações distintas, pode, por exemplo, significar “perigo” ou requerer uma dada ação. Uma fotografia da natureza pode fazer o interpretante identificar o local fotografado ou, se maravilhar com a beleza do mesmo. Uma sirene no trânsito pode requerer do interpretante a ação de dar passagem para determinado veículo.

Dentro de um contexto filosófico o interpretante é o que proporciona vida ao signo e o conecta com o Pragmatismo de Peirce. Pensemos na máxima pragmática: O significado está nos efeitos práticos observáveis. Podemos inferir que o significado de um dado signo se encontra nos efeitos práticos por este gerado. Ao ler uma palavra, imaginamos seu significado e agimos de acordo, esta ação ou pensamento diante da leitura de dada palavra é dado pelo interpretante, que faz com que nos comportemos de acordo com o significado dado pela palavra que foi lida.

Em suma, a tricotomia signo, objeto e interpretante, se apresenta como a base da semiótica desenvolvida por Peirce. Aqui o signo é definido dentro de uma relação triádica. Pensemos na “chuva” como exemplo. Diante da palavra “chuva”, temos que o signo é a representação por meio desta palavra. Já diante da chuva no mundo real, o signo é o que esta palavra representa e, o interpretante é a ação empreendida pelo fato de estar chovendo, como a possibilidade de se abrigar em algum lugar, evitar de sair na chuva ou sair usando uma capa ou guarda-chuva, ou seja, o signo é a palavra “chuva”, o objeto é a chuva real, e o interpretante é a ação empreendida. Nesta estrutura temos forte vínculo com o Pragmatismo, estando também presente no desenvolvimento da linguística e da filosofia contemporânea, permitindo por meio dela se explicar como significados são criados.

 

3- Objeto Imediato, Objeto Dinâmico, Objeto Final - Divisão do Objeto

Esta tricotomia detalha a natureza do objeto na relação triádica: signo, objeto e interpretante. Por meio desta tricotomia se aprofunda o estudo de como o “objeto” é representado e conhecido. Peirce desenvolve esta tricotomia em seus textos maduros, sendo a mesma vital para melhor entender toda a complexidade da referência na semiótica, proporcionando distinguir o objeto que surge no signo (imediato), com o objeto na realidade (dinâmico) e o objeto ideal (final). Temos aqui presente o realismo ontológico de Peirce, cuja origem se encontra em uma leitura da Escolástica medieval. Por meio deste entendimento o mundo real externo é aceito como existente, como algo simplesmente dado, mas Peirce argumenta que o mesmo é mediado por signos, conectando ao Pragmatismo, que afirma que o significado deve ser obtido dos resultados práticos. Esta tricotomia se apresenta vinculada as duas anteriores. O objeto (secundidade) passa a ser dividido em três distintos modos, já o signo (primeiridade) e o intepretante (terceiridade) dependem dessa divisão para a produção de significado. Esta análise explica como os signos se conectam a realidade, sendo importante para a lógica e a semiótica.

O objeto imediato é o “objeto” tal como representado no signo, aquilo que aparece inicialmente na mente, a percepção de algo por meio do signo. Trata-se de algo interno ao processo semiótico, limitado ao que o signo pode transmitir dentro de determinado contexto. Não se trata da realidade externa em si mesma, mas de uma representação parcial ou de uma perspectiva oferecida pelo signo. Ele é monádico e está associado à primeiridade, refletindo uma qualidade imediata do objeto captada pelo signo, sem a obrigatoriedade de corresponder ao mesmo de modo completo. O objeto imediato representa o objeto dentro do signo, como o mesmo é percebido ou concebido. É dependente do contexto no qual o signo se apresenta e também da perspectiva do interpretante. Trata-se de algo funcional para o exercício da comunicação, mesmo sendo parcial, incompleto ou distorcido.

Pensemos na palavra “casa”. Esta atua como signo, o objeto imediato é a imagem mental de uma casa qualquer que aparece na mente de quem a lê, mas esta imagem não é a “casa” no mundo real, somente uma representação trazida pelo signo. Numa fotografia de um animal, o objeto imediato é a imagem deste animal que consta na foto, mas não o animal real que foi fotografado.

Em um contexto filosófico, o objeto imediato se apresenta como uma representação mental do objeto, mas fazendo conexão com uma dada realidade externa (objeto dinâmico). O objeto imediato reflete a primeiridade, pois é a qualidade imediata (como no caso da cor vermelha) que o signo apresenta.

O objeto dinâmico é o objeto em sua realidade externa, no mundo real, independente da mente ou do signo que o representa. É aquilo que existe no mundo e tem consequências (causa e efeito - causa resistência ou efeitos factuais) neste mundo, proporcionando resistência (secundidade). Não é algo plenamente captado pelo signo, sendo a referência última que o signo pode tentar representar, apesar de só o conseguir de modo parcial. Apresenta-se como diádico, vinculado à secundidade. Nele temos a relação entre o signo e a realidade externa, sendo que esta se apresenta como resistência ou causalidade. O objeto dinâmico existe fora do signo e da mente, no mundo real, é uma realidade objetiva. Pode se apresentar como concreto, abstrato ou imaginário. Uma “mesa” é algo concreto, o conceito de “liberdade” é algo abstrato e o conceito de um animal identificado como “unicórnio” é algo imaginário, mas baseado em convenções. O objeto dinâmico existe no mundo real e afeta o signo por meio de interações reais, como no caso do signo presente na palavra escrita “fogo”, que pode ter como objeto dinâmico a chama real que pode queimar algo ou mesmo causar dor a alguém. Uma placa de trânsito baseada em convenções que indiquem “perigo”, independentemente de ser ou não percebida, indica um perigo real que é o objeto dinâmico.

No contexto filosófico o objeto dinâmico reforça o realismo ontológico presente em Peirce, que busca suas origens na Escolástica medieval, em particular no filósofo Duns Scotus. Peirce aceita uma realidade externa dada e independente do percebedor. O objeto dinâmico atua como âncora factual (secundidade), garantindo uma referência real, se bem que parcial, para o signo.

O objeto final é o objeto como é conhecido por meio de estudos mais aprofundados conduzidos por cientistas ou/e filósofos. Este representa a verdade final sobre o que seja este objeto, proporcionada por meio de signos e interpretantes mais refinados dentro de um consenso de dada comunidade social. É triádico e vinculado a terceiridade, já que envolve mediação, generalização e formação de leis / regras / hábitos, que o aproximam do conhecimento da realidade. É um ideal regulativo que nunca é totalmente atingido, mas serve para orientar a pesquisa. É a representação ideal do objeto, que se baseia em todos os signos possíveis e interpretantes refinados. Está vinculado ao Pragmatismo, no qual a verdade se dá como sendo o limite do conhecimento obtido por meio do consenso. É mediado por processos contínuos de significação e investigação.

Como exemplo temos o conceito de “gravidade” dentro da ciência. O objeto imediato é o conceito mental do que seja a gravidade, o objeto dinâmico é a força real que faz os objetos se direcionarem para o centro da Terra, e o objeto final é o entendimento aceito em determinado período histórico pela comunidade científica e filosófica sobre o que seja a gravidade dentro de uma teoria unificada. Se pensarmos na palavra “chuva”, temos que o objeto final se dá pelo conhecimento total do fenômeno meteorológico, incluindo o ciclo completo da água, obtido pela comunidade cientifica após muitos estudos.

No contexto filosófico o objeto final reflete o pragmatismo presente em Peirce, pelo qual a verdade é o que a comunidade aceita ao final de uma investigação detalhada, mesmo prosseguindo nas investigações e podendo mudar suas convicções. Por meio do objeto final a semiótica é conectada a lógica, já que a busca do objeto final ocorre em um processo que envolve a abdução, dedução e indução, sendo este processo mediado por meio de signos.

 

4- Qualisigno, Sinsigno, Legisigno - Natureza do Signo

Esta tricotomia busca classificar a natureza intrínseca do signo na relação triádica: signo, objeto, interpretante. O foco se dá em como o signo existe por si mesmo, de modo independente de sua relação com o objeto e o interpretante. Esta tricotomia é desenvolvida em textos maduros deste filósofo, sendo central na semiótica, já que por meio dela o signo é definido em termos de sua materialidade ou modo de ser: qualidade abstrata (qualisigno), ocorrência concreta (sinsigno), regra geral (legisigno). Esta tricotomia se vincula as anteriores, em particular à primeiridade, secundidade e terceiridade. O signo, anteriormente vinculado à primeiridade, passa a ser analisado por seus modos de existência. Trata-se de importante classificação para a lógica e a semiótica, já que explica como distintos tipos de signos atuam na construção do significado, passando por sensações puras até convenções sociais. Nesta tricotomia vamos desde qualidades puras (qualisigno), ocorrências concretas (sinsigno) até convenções gerais (legisigno).

Estes nomes, a princípio estranhos, foram criados por Peirce por meio da combinação de raízes latinas e gregas visando refletir nestes termos as propriedades filosóficas dos signos, alinhadas as suas categorias universais (primeiridade, secundidade, terceiridade). Se bem que pareçam estranhos, tais termos são precisos e exatos. “Qualisigno” é derivado do latim “qualis” (qualidade) e “signum” (signo), fazendo referência à primeiridade, já que o signo é uma qualidade pura, independentemente de qualquer contexto ou de possuir existência concreta, como tal é o caso da cor vermelha enquanto uma qualidade abstrata, antes de ser vinculada a um dado objeto. “Sinsigno” provém do latim “sins” (raíz de Semel, - uma vez) e “signum”, indicando à secundidade, já que o signo é uma ocorrência singular, um evento ou objeto específico no tempo e espaço, como, por exemplo: uma pegada na areia, que se apresenta como sendo um signo único. “Legisigno” provém do latim “lex”, “legis” (lei) e signum, estando relacionado a terceiridade já que o signo é uma regra ou convenção geral, aplicável a múltiplos contextos, como, por exemplo, a palavra “leão”, enquanto convenção linguística. A escolha e fabricação destes termos por Peirce se deu objetivando evitar ambiguidades de vocabulário comum, buscando o fabrico de uma terminologia técnica que reflete sua filosofia categorial. O estranho aparente nestes nomes decorre da necessidade da criação de nomes específicos para conceitos novos, distintos de usos cotidianos, e da influência dada pela formação de Peirce, em lógica escolástica e filologia.

O qualisigno se apresenta como sendo um signo que existe enquanto qualidade pura, abstrata e independente de sua materialização ou do contexto. É monádico e vinculado à primeiridade, sendo uma possibilidade de significação que independe de um dado objeto específico ou de uma instância concreta. É o signo em seu estado mais elementar, se apresentando como uma sensação ou ideia isolada, antes de sua associação com algo externo. O qualisigno existe enquanto qualidade intrínseca, sem referência a um dado objeto ou interpretante. Não é materializado em um evento ou objeto específico, atuando somente como uma possibilidade. Para se manifestar concretamente precisa de outra forma de signo, como, por exemplo, o sinsigno. Como exemplo temos a cor vermelha em si mesma, sem fazer referência a um objeto em particular. Trata-se, neste caso, da sensação pura do vermelho evocada em distintos contextos, sem estar vinculada a uma maçã, a um carro, a uma capa de livro ou a qualquer outro objeto vermelho. Também podemos vislumbrar o qualisigno no som dado por um trovão, sem fazer referência à tempestade que se aproxima, considerando o mesmo somente como uma qualidade sonora. No contexto filosófico reflete a primeiridade, já que é a experiência imediata e potencial, se assemelhando as qualidades secundárias de Locke (por exemplo, a cor que é percebida). É a base para outros signos, mas não atua sozinho na semiótica.

Sinsigno é um signo que existe como algo singular, um evento ou objeto concreto em um dado tempo e lugar específico. É diádico, vinculado a secundidade e é um signo que se apresenta como uma instância única, conectada a uma realidade factual. O sinsigno depende de sua existência material ou contextual para significar alguma coisa. É um signo individual, vinculado a um dado evento ou objeto. Está vinculado a uma relação factual de causa e efeito com o mundo. Pode incorporar qualisignos, como, por exemplo, uma dada qualidade como a presente na cor vermelha em um determinado objeto. Como exemplo podemos pensar em uma pegada de um animal na areia. A pegada é um sinsigno, já que é um signo singular que aponta para a passagem de um específico animal em um determinado tempo e lugar. Um sinsigno também pode ser encontrado em um grito de “socorro” ou de “cuidado”, enquanto ocorrência única que direciona para um evento real, no caso, uma situação de perigo eminente. No contexto filosófico o sinsigno reflete a secundidade, já que está ancorado na realidade factual, semelhante a primeira tricotomia, quando falamos na resistência de um objeto. O sinsignno conecta o signo ao objeto dinâmico, representando o mesmo dentro de um específico contexto.

O legisigno é um signo que existe como uma regra, lei ou convenção. Ele é aplicável em distintos contextos. Se apresenta como sendo triádico, vinculado a terceiridade. Este signo atua por meio de padrões ou hábitos já estabelecidos, como no caso de palavras ou símbolos culturais. O legisigno depende de uma comunidade ou sistema para sua significação. Trata-se de um signo geral, que é baseado em convenções ou leis que ultrapassam instâncias individuais. Para o legisigno se manifestar há necessidade de réplicas (instâncias concretas, como sinsignos). O legisigno media a relação entre signo e interpretante por meio de hábitos ou regras. Como exemplo podemos pensar na palavra “leão”, a qual é um legisigno, já que a mesma se dá por meio de uma convenção linguística que permite que esta represente o conceito de um animal específico dentro de qualquer contexto que possa ser dado. Cada uso que fazemos de uma palavra, seja este uso escrito ou falado, é uma réplica, ou seja, sinsigno. Um dado sinal de trânsito é um legisigno, pois sua forma e cor estão de acordo com dada convenção social visando indicar uma determinada situação, como, por exemplo, “atenção” ou “perigo”, que pode estar presente em placas de trânsito colocadas na via. Ou uma bandeira nacional, que simboliza um país por convenção. No contexto filosófico o legisigno reflete a terceiridade, já que envolve mediação e generalização, como ocorre diante da formação de hábitos presentes na primeira dicotomia. O legisigno conecta o signo ao interpretante por meio de convenções, reforçando o pragmatismo, no qual o significado se encontra nos efeitos práticos e coletivos.

 

5- Ícone, Índice, Símbolo - Relação com o Objeto

A tricotomia ícone, índice, símbolo classifica o signo com base em sua relação com o objeto na tríade semiótica signo, objeto, interpretante, focando em como o signo representa o objeto, tendo sido desenvolvida em textos maduros de Peirce. Trata-se de uma das mais conhecidas tricotomias desenvolvidas por Peirce em sua semiótica. Esta tricotomia define o signo por sua semelhança (ícone), conexão causal ou factual (índice) e convenção arbitrária (símbolo). Esta classificação se mostra importante dentro da semiótica ao explicar como os signos comunicam significados por meio de diferentes modos de representação (imagens visuais, palavras).

Segundo o pensamento de Peirce, há três tipos básicos de signos, ou categorias principais, (ou representamen): ícone, índice e símbolo. O ícone se apresenta enquanto uma imagem direta do objeto por ele representado, tal como uma fotografia de um dado objeto. Pode representar o objeto por semelhança visual, estrutural ou qualitativa. Por ser uma representação direta do objeto, não necessita de uma anterior convenção ou interpretação. O índice possui uma relação causal ou de contiguidade com o objeto por ele representado. Faz referência a dado objeto por meio de uma conexão física ou temporal, como tal é o caso da fumaça indicando que há fogo ali naquele local. Já o símbolo faz sua representação do  objeto por meio de alguma convenção ou prévio acordo social, portanto, o símbolo não possui uma relação direta ou imediata com o objeto que este representa, sua vinculação a este objeto em particular se dá por meio de um sistema de significados que são compartilhados pelo grupo, como tal é o caso da palavra “laranja” que se mostra como um símbolo para representar dada fruta e diferencia-la de outras frutas, mas em coisa alguma se assemelha a fruta que representa.

Para Peirce o signo possui três propriedades que lhe são essenciais: iconidade, indexicalidade e simbolicidade. A inconidade é a capacidade deste representar algo outro, seja por meio da semelhança ou da similidade, tal é o caso de uma fotografia diante do objeto fotografado. Esta capacidade permite que um dado signo seja reconhecido e interpretado a partir de suas características visuais ou sensoriais. A indexicalidade nos aponta para a relação existente entre o signo e o objeto por este representado, como tal é o caso de algum instrumento de medida (como um termômetro indicando a temperatura) que nos permita inferir uma relação entre a leitura que dele fazemos e a realidade por ele medida. Por meio da indexicalidade o signo se apresenta como uma ferramenta útil que nos permite fazer inferências sobre a realidade. Já a simbolicidade trata da relação existente entre o signo e o seu significado quando esta é convencionada pelo grupo, como tal é o caso das palavras em dada língua e dos números na matemática. O significado inferido pela simbolicidade é convencional, social e cultural, permitindo o uso abstrato dos símbolos e a comunicação entre o grupo social de suas ideias e conceitos, por mais elaborados e complexos que estes sejam. Os signos mostram-se como uma ferramenta usada para a representação e interpretação da realidade.

O ícone se apresenta como sendo um signo que representa o objeto por meio da semelhança ou analogia, independentemente de uma conexão factual ou convenção. Ele é monádico e está vinculado a primeiridade. O signo imita ou reproduz características do objeto, tal como ocorre em uma imagem ou diagrama. Atua por meio de qualidade intrínseca que compartilha com o objeto que representa, de modo a evoca-lo imediatamente a nossa percepção. O ícone representa o objeto por meio de semelhança visual, estrutural ou qualitativa. Não é necessário que haja qualquer conexão física ou causal com o referido objeto representado, se apresentando como uma possibilidade de significação. É frequente sua associação com qualisignos, já que depende de qualidades (forma, cor, etc.). Como exemplo podemos ter uma pintura feita de uma árvore, já que esta imita a aparência da árvore, evocando na mente a sua forma sem necessitar de uma conexão com a árvore real. Também podemos pensar em um mapa geográfico, pois, este representa a disposição de um território por semelhança estrutural. No contexto filosófico o ícone reflete a primeiridade, já que atua por meio da qualidade imediata de semelhança, parecido com o que ocorre com as qualidades secundárias de Locke (exemplo: cor percebida). O ícone é a base para representações visuais ou conceituais na semiótica.

O índice é um signo que representa seu objeto por meio de uma conexão factual, causal ou física. Observamos a presença do índice em uma relação causal (causa e efeito) ou de proximidade. Ele é diádico, vinculado à secundidade. O índice aponta para um objeto por meio de uma relação real no mundo, semelhante a um sinal de algo presente ou que tenha ocorrido. O índice depende de uma conexão direta com o objeto, como ocorre na causalidade, contiguidade ou apontamento. Por se manifestar em ocorrências singulares, frequentemente é um sinsigno. O índice evoca o objeto dinâmico em virtude de sua relação factual e não por semelhança ou convenção.  Como exemplo, podemos pensar na fumaça como um indicador da presença do fogo, já que a fumaça é efeito natural do fogo, apontando para a sua presença. A passagem de um animal por determinado lugar pode ser indicada pelas pegadas deixadas na areia, as quais atuam como índice. No contexto filosófico o índice reflete a secundidade, já que ancorado na realidade externa, semelhante a resistência de um objeto na primeira tricotomia. O índice conecta o signo ao objeto dinâmico, reforçando sua factualidade.

O símbolo é um signo que atua representando um objeto por meio de convenção social, hábito ou regra, não havendo necessidade de semelhança ou conexão causal entre símbolo e objeto representado. É triádico, estando vinculado à terceiridade. O símbolo necessita de um prévio acordo social ou cultural para algo significar. Podemos observar o signo nas palavras, na escrita, nos signos abstratos. Por atuar por meio de convenções gerais, o símbolo geralmente é um legisigno. Sua representação do objeto se dá de modo arbitrário, sendo definido por uma dada e específica comunidade. O símbolo necessita de um interpretante visando mediar a relação que este mantém com o objeto que representa. Esta relação com o objeto se dá por meio de hábitos, regras, leis, convenções sociais. O símbolo é o tipo de signo mais comum na linguagem e na comunicação. Todas as palavras de uma dada língua se apresentam como sendo símbolos, já que definidas por meio de convenção social, não havendo semelhança ou conexão física com aquilo que representam, tal é o caso de: “leão”, “cão”, “gato”, etc. A bandeira nacional de um país também é um símbolo, já que representa uma unidade nacional, onde temos um povo, cultura, língua, história, e, detalhe, não há entre o símbolo “bandeira nacional” e tudo que ela possa representar, uma ligação por semelhança. No contexto filosófico o símbolo reflete a terceiridade, já que envolve mediação e generalização, do memo modo como temos a formação de hábitos na primeira tricotomia. O símbolo alinha-se ao Pragmatismo, já que o significado de algo está nos efeitos práticos mediados por meio de uma convenção, como tal é o caso do símbolo gráfico “árvore”, que faz referência a uma dada planta no mundo real.

A tricotomia ícone, índice, símbolo aprofunda a relação entre o signo e o objeto da segunda tricotomia (signo, objeto, interpretante) e se alinha à primeira (primeiridade, secundidade, terceiridade) e à quarta (qualisigno, sinsigno, legisigno).

Se pensarmos na tricotomia primeiridade, secundidade, terceiridade, temos que o         ícone (primeiridade), representa por semelhança, uma qualidade potencial; já o índice (secundidade), representa por conexão factual, uma relação real; e o símbolo (terceiridade), representa por convenção, uma mediação geral.

Se pensarmos na tricotomia signo, objeto, interpretante, temos que o ícone evoca o objeto imediato por semelhança (ex.: pintura de uma árvore); o índice aponta para o objeto dinâmico por conexão factual (ex.: fumaça indicando fogo); o símbolo gera um interpretante por convenção, conectando-se ao objeto final (ex.: “árvore” como conceito consensual).

Se pensarmos na tricotomia qualisigno, sinsigno, legisigno, temos que o ícone é frequentemente um qualisigno, pois depende de qualidades (ex.: forma em um desenho); o índice é tipicamente um sinsigno, pois é uma ocorrência singular (ex.: pegada); o símbolo é geralmente um legisigno, pois é uma convenção geral (ex.: palavra “árvore”).

A tricotomia reforça o realismo de Peirce, onde signos (ex.: índices) conectam-se à realidade externa (objeto dinâmico) e símbolos mediam o conhecimento (objeto final) via convenções. O símbolo, em particular, alinha-se à máxima pragmática, pois o significado de um signo (ex.: “árvore”) está nos efeitos práticos (ex.: reconhecer uma planta) mediados por hábitos sociais. Esta classificação é essencial para a lógica de Peirce, já que define como signos estruturam o raciocínio (ex.: ícones em abdução, índices em observações empíricas, símbolos em deduções). Esta tricotomia mostra-se como fundamental para entender a linguagem, a ciência e a cultura, pois explica como signos operam em diferentes contextos (ex.: arte, observação científica, comunicação).

 

6- Rema, Dicente, Argumento - Relação com o Interpretante

A tricotomia rema, dicente e argumento classifica o signo com base na relação com o interpretante na tríade semiótica signo, objeto e interpretante. O foco se dá no tipo de efeito ou significado produzido pelo signo no interpretante. Esta tríade é desenvolvida nos textos maduros de Peirce. Ela examina o modo como o signo produz uma representação mental ou ação no interpretante. Este exame se dá enquanto possibilidade qualitativa (rema), afirmação factual (dicente) e conclusão lógica (argumento). Esta tricotomia encontra-se vinculada às categorias primeiridade, secundidade e terceiridade, complementando as tricotomias anteriores, em particular signo, objeto e interpretante, e também ícone, índice e símbolo, detalhando o papel exercido pelo interpretante na construção do significado. Trata-se de uma classificação muito importante para a lógica e a semiótica, já que por meio dela é explicado como os signos orientam o pensamento ou o comportamento, isto desde as sensações mais vagas até os raciocínios mais complexos.

Peirce criou os termos rema, dicente e argumento com raízes latinas e gregas para refletir a natureza do interpretante, alinhando-se às suas categorias filosóficas. Rema é um termo derivado do grego rhema (“palavra” ou “termo”), sugere uma unidade mínima de significação, ligada à primeiridade, pois evoca uma possibilidade qualitativa no interpretante. Dicente é um termo proveniente do latim dicens (“dizendo”) e indica uma afirmação ou proposição factual, ligada à secundidade, pois comunica uma relação real com o objeto. Argumento é um termo proveniente do latim argumentum (“prova” ou “raciocínio”) e reflete a terceiridade, pois envolve um raciocínio lógico ou conclusão mediada por regras. Esses termos, embora técnicos, são precisos, refletindo a progressão do interpretante de uma sensação inicial a um raciocínio estruturado, consistente com a lógica escolástica e a semiótica de Peirce.

Rema é um signo que produz no interpretante uma representação qualitativa ou possibilidade vaga, sem, no entanto, afirmar alguma coisa específica sobre o objeto. É monádica, vinculada à primeiridade. Rema é um signo que evoca uma dada ideia ou sensação isolada. Aqui podemos ter um termo ou uma imagem que sugira algo, sem apresentar uma relação factual ou lógica. A rema produz um interpretante com base nas qualidades ou possibilidades, mas sem compromisso com verdade ou factualidade. É frequente a sua associação com qualisignos ou ícones, já que depende de qualidades, tais como a cor ou a forma. Temos aqui o signo em seu estado mais elementar de significado, evocando uma ideia aberta. Podemos pensar na palavra “vermelho” isolada e sem contexto algum, aí teremos um rema, já que evoca a qualidade de vermelho no interpretante, no entanto, não afirma qualquer coisa sobre dado objeto. Se olharmos para uma mancha vermelha em um quadro, esta se apresenta como rema, já que sugere uma dada sensação ou possibilidade (exemplo: calor, perigo), sem apresentar alguma relação definida. No contexto filosófico o rema reflete a primeiridade, já que é uma possibilidade de significação semelhante as qualidades puras presentes no qualisigno, sendo a base para interpretações mais complexas e semiótica.

O dicente é um signo que produz no interpretante uma representação factual ao afirmar algo sobre o objeto a partir de uma relação real. É diádico e vinculado à secundidade. Ele comunica uma proposição ou informação que conecta o signo ao objeto dinâmico, como uma afirmação verdadeira ou falsa. O dicente produz um interpretante que afirma uma relação factual que ocorre entre o signo e o objeto. Por depender de conexões factuais é com frequência associado a índices ou sinsignos. Evoca uma interpretação concreta, representando o objeto como sendo uma realidade existente. Pensemos na frase: “Está saindo muita fumaça daquela chaminé”. Ora, aqui temos um dicente, já que esta frase afirma a presença de um índice, a fumaça, conectada a um evento real, o fogo que produziu a fumaça. Também encontramos um dicente em uma seta de direção posicionada em uma via pública, pois, esta aponta uma direção a seguir no mundo real. No contexto filosófico o dicente reflete a secundidade, já que está ancorado na realidade externa, semelhante à resistência factual da primeira tricotomia. O dicente conecta o signo ao objeto dinâmico, dando ênfase à factualidade.

O argumento é um signo que produz no interpretante uma representação lógica. Trata-se aqui de uma conclusão ou raciocínio que tem como base regras ou hábitos. O argumento é triádico e está vinculado à terceiridade, envolvendo uma mediação complexa. Atua como um silogismo ou lei geral, guiando o interpretante em direção a uma compreensão estruturada. Por meio dele temos um interpretante que infere uma conclusão lógica ou que segue uma regra geral. O argumento em geral é vinculado a símbolos ou legisignos, já que depende de convenções ou sistemas lógicos. Apresenta-se como sendo o signo mais complexo, tendo como papel orientar o pensamento ou ação por meio do raciocínio. Pensemos em um silogismo, este é um argumento, já que conduz o interpretante a uma dada conclusão lógica por meio de regras, como tal é o caso do silogismo: “Todos os homens são mortais; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal”. Se pensarmos em uma frase que sugira uma determinada ação baseada em uma lei, regra ou hábito que seja condicional, temos um argumento, como tal é o caso da frase: “Se está chovendo, leve um guarda-chuva”. Dentro do contexto filosófico reflete a terceiridade, já que envolve a mediação e generalização como a formação de hábitos presente na primeira tricotomia. Alinha-se ao Pragmatismo, onde encontramos o significado junto aos efeitos práticos mediados por regras, como tal é o caso de agir com base em uma dada conclusão que é a sequência lógica de um determinado raciocínio.

A tricotomia rema, dicente, argumento aprofunda a relação entre o signo e o interpretante da segunda tricotomia (signo, objeto, interpretante) e se alinha às demais.         Rema (primeiridade), evoca uma possibilidade qualitativa no interpretante. Dicente (secundidade), afirma uma relação factual com o objeto. Argumento (terceiridade), produz uma conclusão lógica por mediação. Já no tocante ao signo, objeto, interpretante, temos que o rema gera um interpretante qualitativo, ligado ao objeto imediato (ex.: ideia de “vermelho”). O dicente gera um interpretante factual, ligado ao objeto dinâmico (ex.: “fumaça indica fogo”). O argumento gera um interpretante lógico, ligado ao objeto final (ex.: silogismo sobre Sócrates). No tocante à tricotomia qualisigno, sinsigno, legisigno temos que o rema é frequentemente um qualisigno, pois depende de qualidades (ex.: vermelhidão). O dicente é tipicamente um sinsigno, pois é uma ocorrência singular (ex.: frase sobre fumaça). O argumento é geralmente um legisigno, pois opera por convenções gerais (ex.: silogismo). No tocante ao ícone, índice, símbolo temos que o rema está associado a ícones, pois evoca qualidades (ex.: mancha vermelha). O dicente está ligado a índices, pois afirma fatos (ex.: fumaça). O argumento está conectado a símbolos, pois usa convenções lógicas (ex.: silogismo).

A tricotomia reforça o realismo de Peirce, onde signos (ex.: dicentes) conectam-se à realidade externa (objeto dinâmico), e argumentos mediam o conhecimento (objeto final) via regras lógicas. O argumento, em particular, alinha-se à máxima pragmática, pois o significado (ex.: “leve um guarda-chuva”) está nos efeitos práticos (ex.: ação baseada em raciocínio) mediados por hábitos. A classificação é essencial para a lógica de Peirce, pois define como signos estruturam o raciocínio, desde sensações (rema) até proposições (dicente) e conclusões (argumento). A tricotomia é fundamental para entender o raciocínio, a comunicação e a ciência, explicando como signos orientam desde sensações até argumentos complexos.

 

7- Dez Classes de Signos - Combinação das Classificações Primárias

Esta seção sintetiza as tricotomias semióticas de Peirce, combinando as três principais classificações do signo — qualisigno, sinsigno, legisigno (natureza do signo, quarta tricotomia), ícone, índice, símbolo (relação com o objeto, quinta tricotomia) e rema, dicente, argumento (relação com o interpretante, sexta tricotomia) — para formar dez classes distintas de signos. Desenvolvida nos textos maduros de Peirce, essa classificação integra as categorias primeiridade, secundidade e terceiridade em um sistema complexo que descreve como signos funcionam em diferentes contextos, desde qualidades abstratas até raciocínios lógicos. Essa síntese é fundamental para a lógica e a semiótica, pois demonstra como os signos operam de maneira interdependente, conectando qualidades, fatos e convenções para estruturar o pensamento e a comunicação.

Peirce propôs que as três tricotomias primárias podem ser combinadas, mas com restrições lógicas baseadas em suas categorias. Primeiridade (qualidade, possibilidade) implica que um qualisigno (primeiridade) só pode ser um ícone (primeiridade) e um rema (primeiridade). Secundidade (factualidade, relação) implica que um sinsigno (secundidade) pode ser um ícone ou índice, mas não um símbolo (terceiridade), e pode ser um rema ou dicente, mas não um argumento (terceiridade). Terceiridade (generalidade, convenção) permite que um legisigno (terceiridade) seja qualquer tipo de signo nas outras tricotomias (ícone, índice, símbolo; rema, dicente, argumento).

Essas restrições resultam em dez classes de signos, cada uma combinando um elemento de cada tricotomia, respeitando a hierarquia categorial.

 

As dez classes são:

1- Qualisigno-ícone-rema

2- Sinsigno-ícone-rema

3- Sinsigno-índice-rema

4- Sinsigno-índice-dicente

5- Legisigno-ícone-rema

6- Legisigno-índice-rema

7- Legisigno-índice-dicente

8- Legisigno-símbolo-rema

9- Legisigno-símbolo-dicente

10- Legisigno-símbolo-argumento

 

Explicação das Dez Classes:

1- Qualisigno-ícone-rema: Um signo que é uma qualidade abstrata (qualisigno), representa por semelhança (ícone) e evoca uma possibilidade qualitativa no interpretante (rema). É puramente monádico, ligado à primeiridade. Como exemplo temos a sensação de vermelhidão em si, sem contexto, é um qualisigno-ícone-rema, pois é uma qualidade (vermelho), semelhante a si mesma, que evoca uma ideia vaga (ex.: calor). Reflete a primeiridade em todas as dimensões, sendo o signo mais elementar.

2- Sinsigno-ícone-rema: Um signo que é uma ocorrência singular (sinsigno), representa por semelhança (ícone) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina secundidade (existência concreta) com primeiridade (semelhança, possibilidade). Como exemplo temos uma mancha vermelha em um quadro, esta é um sinsigno-ícone-rema, pois é um evento singular (sinsigno), semelhante a uma qualidade (ícone), que sugere uma sensação vaga (rema). Liga a factualidade de um evento à possibilidade qualitativa.

3- Sinsigno-índice-rema: Um signo que é uma ocorrência singular (sinsigno), representa por conexão factual (índice) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina secundidade (factualidade) com primeiridade (possibilidade). Como exemplo temos uma pegada na areia, esta é um sinsigno-índice-rema, pois é um evento singular (sinsigno), indica um animal por conexão física (índice) e evoca uma ideia vaga, como “algo passou aqui” (rema). Conecta a realidade factual a uma interpretação aberta.

4- Sinsigno-índice-dicente: Um signo que é uma ocorrência singular (sinsigno), representa por conexão factual (índice) e afirma algo factual no interpretante (dicente). É diádico, ligado à secundidade. Como exemplo temos a frase “A fumaça está saindo da chaminé”, que é um sinsigno-índice-dicente, pois é um evento singular (sinsigno), indica fogo por conexão causal (índice) e afirma um fato (dicente). Reflete a secundidade, conectando o signo à realidade externa.

5- Legisigno-ícone-rema: Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por semelhança (ícone) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina terceiridade (convenção) com primeiridade (semelhança, possibilidade). Como exemplo temos um diagrama geométrico, como um triângulo desenhado, é um legisigno-ícone-rema, pois é uma convenção (legisigno), representa por semelhança (ícone) e evoca uma ideia qualitativa (rema). Liga convenções gerais a interpretações abertas.

6- Legisigno-índice-rema: Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por conexão factual (índice) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina terceiridade (convenção) com secundidade (factualidade) e primeiridade (possibilidade). Como exemplo temos um sinal de trânsito de “curva à frente”, que é um legisigno-índice-rema, pois é uma convenção (legisigno), indica uma condição real (índice) e sugere uma possibilidade vaga, como “cuidado” (rema). Conecta convenções a indicações factuais e interpretações abertas.

7- Legisigno-índice-dicente: Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por conexão factual (índice) e afirma algo factual (dicente). Combina terceiridade (convenção) com secundidade (factualidade). Como exemplo temos um termômetro com escala, que é um legisigno-índice-dicente, pois é uma convenção (legisigno), indica temperatura por conexão factual (índice) e afirma um fato, como “está 30°C” (dicente). Liga convenções a afirmações factuais.

8- Legisigno-símbolo-rema: Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por convenção arbitrária (símbolo) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina terceiridade em todas as dimensões, mas com um interpretante aberto. Como exemplo temos a palavra “liberdade”, que é um legisigno-símbolo-rema, pois é uma convenção (legisigno), representa por acordo social (símbolo) e evoca uma ideia vaga (rema). Liga convenções a interpretações qualitativas.

9- Legisigno-símbolo-dicente: Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por convenção arbitrária (símbolo) e afirma algo factual (dicente). Combina terceiridade (convenção, símbolo) com secundidade (factualidade no interpretante). Como exemplo temos a frase “O sol está brilhando”, que é um legisigno-símbolo-dicente, pois usa palavras convencionais (legisigno, símbolo) para afirmar um fato (dicente). Conecta convenções linguísticas a proposições factuais.

10- Legisigno-símbolo-argumento: Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por convenção arbitrária (símbolo) e produz uma conclusão lógica (argumento). É triádico, ligado à terceiridade em todas as dimensões. Como exemplo temos o silogismo “Todos os homens são mortais; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal”, que é um legisigno-símbolo-argumento, pois usa convenções lógicas (legisigno, símbolo) para gerar uma conclusão (argumento). Reflete a terceiridade, estruturando o raciocínio lógico.

 

As dez classes integram as tricotomias primárias, respeitando a hierarquia categorial.

Primeiridade, secundidade, terceiridade: As classes refletem a progressão de possibilidades qualitativas (ex.: qualisigno-ícone-rema) a relações factuais (ex.: sinsigno-índice-dicente) e generalizações lógicas (ex.: legisigno-símbolo-argumento).

Qualisigno, sinsigno, legisigno: Determina a natureza do signo (qualidade, ocorrência, convenção).

Ícone, Índice, Símbolo: Define a relação com o objeto (semelhança, conexão factual, convenção).

Rema, dicente, argumento: Especifica o efeito no interpretante (possibilidade, fato, lógica).

Signo, objeto, interpretante: As classes conectam o signo ao objeto imediato (ex.: rema), objeto dinâmico (ex.: dicente) ou objeto final (ex.: argumento).

 

No contexto filosófico as dez classes reforçam o realismo de Peirce, conectando signos à realidade externa (ex.: sinsigno-índice-dicente) e ao conhecimento mediado por convenções (ex.: legisigno-símbolo-argumento). O Pragmatismo mostra-se presente, especialmente nas classes com argumentos, onde o significado está nos efeitos práticos (ex.: agir com base em um silogismo), mediados por hábitos e convenções. A classificação é central para a lógica de Peirce, pois mostra como signos estruturam o raciocínio em abdução (ex.: rema), indução (ex.: dicente) e dedução (ex.: argumento).

Essa seção é de suma importância para a seção maior, “lógica e semiótica”, pois sintetiza as tricotomias anteriores, demonstrando a complexidade da semiótica de Peirce. Peirce avança além da lógica tradicional ao integrar múltiplas dimensões do signo, conectando semiótica, epistemologia e lógica. As dez classes explicam como signos operam em contextos diversos (arte, ciência, linguagem), oferecendo uma visão abrangente do pensamento humano.

 

8- Sessenta e Seis Classes de Signos - Expansão Avançada das Classificações

Esta seção representa o ápice da semiótica de Peirce, expandindo as dez classes de signos (sétima seção) ao incorporar todas as dez tricotomias descritas em seus textos maduros em um sistema abrangente. Essa classificação combina as tricotomias primárias (qualisigno, sinsigno, legisigno; ícone, índice, símbolo; rema, dicente, argumento) com as tricotomias secundárias relacionadas ao objeto (imediato e dinâmico) e ao interpretante (imediato, dinâmico, final), além de outras divisões mais complexas. O resultado é um sistema de 66 classes de signos, que reflete a complexidade das interações semióticas, conectando qualidades, fatos, convenções, e os diferentes níveis de representação e interpretação. Essa expansão, apesar de ser um desafio, mostra-se como sendo de suma importância para a lógica e a semiótica, pois oferece uma análise detalhada de como signos operam em contextos variados, desde sensações elementares até processos cognitivos avançados, mantendo a estrutura categorial de primeiridade, secundidade e terceiridade. Peirce transcende a lógica tradicional ao criar um sistema semiótico que conecta epistemologia, ontologia e lógica, antecipando análises modernas de linguagem e cognição. As 66 classes oferecem uma ferramenta para analisar signos em contextos complexos (ex.: arte, ciência, filosofia), revelando a profundidade do pensamento humano.

As classes integram as tricotomias, conectando o signo ao objeto imediato (ex.: rema), dinâmico (ex.: dicente) e final (ex.: argumento), detalhando a natureza do signo, sua relação com o objeto e o efeito no interpretante. Filosoficamente, reforçam o realismo de Peirce, ligando signos à realidade externa (ex.: sinsigno-índice) e ao conhecimento mediado (ex.: legisigno-símbolo). No Pragmatismo, o significado está nos efeitos práticos, como ações baseadas em argumentos. A seção é central para a lógica, estruturando o raciocínio em abdução, indução e dedução, e explica signos em contextos como arte, ciência e filosofia.

No contexto filosófico as 66 classes reforçam o realismo de Peirce, conectando signos à realidade externa (ex.: sinsigno-índice-dicente-concretivo) e ao conhecimento mediado por leis gerais (ex.: legisigno-símbolo-argumento-coletivo). Classes com argumentos e interpretantes finais (ex.: significativo, imperativo) alinham-se à máxima pragmática, onde o significado está nos efeitos práticos (ex.: agir com base em um silogismo). A expansão detalha como signos estruturam o raciocínio em abdução (ex.: rema-hipotético), indução (ex.: dicente-categórico) e dedução (ex.: argumento-significativo), abrangendo desde percepções até sistemas científicos.

Peirce desenvolveu as 66 classes ao combinar dez tricotomias, cada uma com três categorias, teoricamente permitindo “3 elevado a 10”, ou seja, 59.049 combinações. No entanto, restrições lógicas baseadas em suas categorias (primeiridade, secundidade, terceiridade) reduzem as combinações viáveis a 66 classes.

 

As restrições lógicas seguem a hierarquia categorial:

Um signo de primeiridade (ex.: qualisigno) só combina com categorias de primeiridade (ex.: ícone, rema).

Um signo de secundidade (ex.: sinsigno) pode combinar com primeiridade ou secundidade, mas não terceiridade (ex.: não pode ser argumento).

Um signo de terceiridade (ex.: legisigno) pode combinar com qualquer categoria.

Essa lógica reduz as combinações a 66 classes, cada uma representada por uma combinação específica (ex.: qualisigno-ícone-rema-abstrativo-hipotético).

 

Alguns exemplos de classes, cobrindo diferentes níveis categóricos, com explicações e exemplos práticos:

1- Qualisigno-ícone-rema-abstrativo-hipotético: Um signo que é uma qualidade abstrata (qualisigno), representa por semelhança (ícone), evoca uma possibilidade qualitativa (rema), apresenta o objeto como uma qualidade abstrata (abstrativo) e gera uma ideia hipotética (hipotético). É puramente monádico, ligado à primeiridade. Como exemplo temos a sensação de “vermelhidão” em si, sem contexto, é um qualisigno-ícone-rema-abstrativo-hipotético, pois é uma qualidade (qualisigno), semelhante a si mesma (ícone), evoca uma possibilidade vaga (rema), representa uma ideia abstrata de vermelho (abstrativo) e sugere uma hipótese, como “parece calor” (hipotético). Representa a primeiridade em todas as dimensões, sendo o signo mais elementar.

2- Sinsigno-índice-dicente-concretivo-chocante: Um signo que é uma ocorrência singular (sinsigno), representa por conexão factual (índice), afirma um fato (dicente), apresenta o objeto como uma entidade concreta (concretivo) e gera um efeito impactante (chocante). Combina secundidade com elementos de primeiridade e terceiridade. Como exemplo temos um trovão súbito, que é um sinsigno-índice-dicente-concretivo-chocante, pois é um evento singular (sinsigno), indica uma tempestade (índice), afirma a presença da tempestade (dicente), representa a tempestade como um evento real (concretivo) e provoca um choque ou alerta (chocante). Conecta factualidade a efeitos imediatos e concretos.

3- Legisigno-símbolo-argumento-coletivo-significativo: Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por convenção arbitrária (símbolo), produz uma conclusão lógica (argumento), apresenta o objeto como uma generalização (coletivo) e visa um significado estruturado (significativo). É triádico, ligado à terceiridade. Como exemplo temos o silogismo “Todos os homens são mortais; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal” é um legisigno-símbolo-argumento-coletivo-significativo, pois usa convenções lógicas (legisigno, símbolo), gera uma conclusão (argumento), representa uma lei geral sobre humanos (coletivo) e estabelece um significado lógico (significativo). Reflete a terceiridade, estruturando o raciocínio complexo.

 

As tricotomias são:

1- Natureza do signo: qualisigno, sinsigno, legisigno (quarta tricotomia, primeiridade a terceiridade).

2- Relação com o objeto: ícone, índice, símbolo (quinta tricotomia, primeiridade a terceiridade).

3- Relação com o interpretante: rema, dicente, argumento (sexta tricotomia, primeiridade a terceiridade).

4- Modo do objeto imediato: descritivo, designativo, copulativo (especifica como o objeto é apresentado no signo).

5- Modo do objeto dinâmico: abstrativo, concretivo, coletivo (reflete a natureza da realidade externa representada).

6- Modo do interpretante imediato: hipotético, categórico, relativo (tipo de ideia inicial gerada).

7- Modo do interpretante dinâmico: simpático, chocante, usual (efeito emocional ou prático no interpretante).

8- Modo do interpretante final: gratificante, imperativo, significativo (propósito final do signo).

9- Relação com o objeto dinâmico: possível, factual, habitual (natureza da conexão com a realidade).

10- Relação com o interpretante final: sugestivo, imperativo, indicativo (efeito final no comportamento ou raciocínio).

 

As 66 classes expandem as dez classes (sétima seção) ao incluir tricotomias secundárias, mantendo a hierarquia categorial:

1- Primeiridade, Secundidade, Terceiridade: As classes variam de signos puramente qualitativos (ex.: qualisigno-ícone-rema) a factuais (ex.: sinsigno-índice-dicente) e lógicos (ex.: legisigno-símbolo-argumento).

2- Qualisigno, Sinsigno, Legisigno: Define a natureza do signo, com qualisignos restritos a primeiridade, sinsignos a secundidade e legisignos a terceiridade.

3- Ícone, Índice, Símbolo: Especifica a relação com o objeto, com ícones ligados a semelhança, índices a fatos e símbolos a convenções.

4- Rema, Dicente, Argumento: Determina o efeito no interpretante, de possibilidades a conclusões.

5- Objeto Imediato e Dinâmico: As tricotomias do objeto (descritivo/designativo/copulativo; abstrativo/concretivo/coletivo) detalham como o signo representa a realidade externa.

6- Interpretante Imediato, Dinâmico, Final: As tricotomias do interpretante (hipotético/categórico/relativo; simpático/chocante/usual;  gratificante/imperativo/significativo) descrevem os efeitos cognitivos e práticos.

 

As 66 classes são:

Qualisigno (1 classe):

1- qualisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo

 

Sinsigno (10 classes):

2- sinsigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo

3- sinsigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-gratificante-factual-sugestivo

4- sinsigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-imperativo-possível-sugestivo

5- sinsigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-chocante-gratificante-possível-sugestivo

6- sinsigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-categórico-simpático-gratificante-possível-sugestivo

7- sinsigno-índice-rema-descritivo-concretivo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo

8- sinsigno-índice-rema-descritivo-concretivo-hipotético-simpático-gratificante-factual-sugestivo

9- sinsigno-índice-rema-descritivo-concretivo-hipotético-simpático-imperativo-possível-sugestivo

10- sinsigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-simpático-gratificante-factual-sugestivo

11- sinsigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-chocante-gratificante-factual-sugestivo

 

Legisigno (55 classes):

12- legisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo

13- legisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-gratificante-factual-sugestivo

14- legisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-imperativo-possível-sugestivo

15- legisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-chocante-gratificante-possível-sugestivo

16- legisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-categórico-simpático-gratificante-possível-sugestivo

17- legisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-relativo-simpático-gratificante-possível-sugestivo

18- legisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-relativo-simpático-imperativo-possível-sugestivo

19- legisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-relativo-usual-significativo-possível-sugestivo

20- legisigno-ícone-rema-descritivo-concretivo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo

21- legisigno-ícone-rema-descritivo-concretivo-hipotético-simpático-gratificante-factual-sugestivo

22- legisigno-ícone-rema-descritivo-concretivo-hipotético-simpático-imperativo-possível-sugestivo

23- legisigno-ícone-rema-descritivo-concretivo-hipotético-chocante-gratificante-possível-sugestivo

24- legisigno-ícone-rema-descritivo-concretivo-categórico-simpático-gratificante-possível-sugestivo

25- legisigno-ícone-rema-descritivo-concretivo-relativo-simpático-gratificante-possível-sugestivo

26- legisigno-ícone-rema-copulativo-coletivo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo

27- legisigno-ícone-rema-copulativo-coletivo-hipotético-simpático-gratificante-factual-sugestivo

28- legisigno-ícone-rema-copulativo-coletivo-hipotético-simpático-imperativo-possível-sugestivo

29- legisigno-ícone-rema-copulativo-coletivo-hipotético-chocante-gratificante-possível-sugestivo

30- legisigno-ícone-rema-copulativo-coletivo-categórico-simpático-gratificante-possível-sugestivo

31- legisigno-ícone-rema-copulativo-coletivo-relativo-simpático-gratificante-possível-sugestivo

32- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo

33- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-hipotético-simpático-gratificante-factual-sugestivo

34- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-hipotético-simpático-imperativo-possível-sugestivo

35- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-hipotético-chocante-gratificante-possível-sugestivo

36- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-categórico-simpático-gratificante-possível-sugestivo

37- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-categórico-simpático-gratificante-factual-sugestivo

38- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-categórico-simpático-imperativo-possível-sugestivo

39- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-categórico-chocante-gratificante-possível-sugestivo

40- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-relativo-simpático-gratificante-possível-sugestivo

41- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-relativo-simpático-gratificante-factual-sugestivo

42- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-relativo-simpático-imperativo-possível-sugestivo

43- legisigno-índice-rema-descritivo-concretivo-relativo-chocante-gratificante-possível-sugestivo

44- legisigno-índice-rema-copulativo-coletivo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo

45- legisigno-índice-rema-copulativo-coletivo-hipotético-simpático-gratificante-factual-sugestivo

46- legisigno-índice-rema-copulativo-coletivo-hipotético-simpático-imperativo-possível-sugestivo

47- legisigno-índice-rema-copulativo-coletivo-hipotético-chocante-gratificante-possível-sugestivo

48- legisigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-simpático-gratificante-factual-sugestivo

49- legisigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-simpático-gratificante-factual-indicativo

50- legisigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-chocante-gratificante-factual-sugestivo

51- legisigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-chocante-gratificante-factual-indicativo

52- legisigno-índice-dicente-copulativo-coletivo-categórico-simpático-gratificante-factual-sugestivo

53- legisigno-índice-dicente-copulativo-coletivo-categórico-simpático-gratificante-factual-indicativo

54- legisigno-índice-dicente-copulativo-coletivo-categórico-chocante-gratificante-factual-sugestivo

55- legisigno-índice-dicente-copulativo-coletivo-categórico-chocante-gratificante-factual-indicativo

56- legisigno-símbolo-rema-descritivo-abstrativo-relativo-simpático-gratificante-possível-sugestivo

57- legisigno-símbolo-rema-descritivo-abstrativo-relativo-simpático-gratificante-habitual-sugestivo

58- legisigno-símbolo-rema-descritivo-concretivo-relativo-simpático-gratificante-possível-sugestivo

59- legisigno-símbolo-rema-descritivo-concretivo-relativo-simpático-gratificante-habitual-sugestivo

60- legisigno-símbolo-rema-copulativo-coletivo-relativo-simpático-gratificante-possível-sugestivo

61- legisigno-símbolo-rema-copulativo-coletivo-relativo-simpático-gratificante-habitual-sugestivo

62- legisigno-símbolo-dicente-descritivo-concretivo-relativo-simpático-gratificante-factual-sugestivo

63- legisigno-símbolo-dicente-descritivo-concretivo-relativo-simpático-gratificante-factual-indicativo

64- legisigno-símbolo-dicente-copulativo-coletivo-relativo-simpático-gratificante-factual-sugestivo

65- legisigno-símbolo-dicente-copulativo-coletivo-relativo-simpático-gratificante-factual-indicativo

66- legisigno-símbolo-argumento-copulativo-coletivo-relativo-usual-significativo-habitual-indicativo

 

Listagem das 66 classes por meio de abreviações

Abreviações: qualisigno (Q), sinsigno (S), legisigno (L), ícone (I), índice (Idx), símbolo (S), rema (R), dicente (D), argumento (A), descritivo (Des), designativo (Deg), copulativo (Cop), abstrativo (Abs), concretivo (Con), coletivo (Col), hipotético (Hip), categórico (Cat), relativo (Rel), simpático (Sim), chocante (Sho), usual (Usu), gratificante (Gra), imperativo (Imp), significativo (Sig), possível (Pos), factual (Fac), habitual (Hab), sugestivo (Sug), indicativo (Ind).

 

Qualisigno (1 classe):

1- Q-I-R-Des-Abs-Hip-Sim-Gra-Pos-Sug

 

Sinsigno (10 classes):

2- S-I-R-Des-Abs-Hip-Sim-Gra-Pos-Sug

3- S-I-R-Des-Abs-Hip-Sim-Gra-Fac-Sug

4- S-I-R-Des-Abs-Hip-Sim-Imp-Pos-Sug

5- S-I-R-Des-Abs-Hip-Sho-Gra-Pos-Sug

6- S-I-R-Des-Abs-Cat-Sim-Gra-Pos-Sug

7- S-Idx-R-Des-Con-Hip-Sim-Gra-Pos-Sug

8- S-Idx-R-Des-Con-Hip-Sim-Gra-Fac-Sug

9- S-Idx-R-Des-Con-Hip-Sim-Imp-Pos-Sug

10- S-Idx-D-Des-Con-Cat-Sim-Gra-Fac-Sug

11- S-Idx-D-Des-Con-Cat-Sho-Gra-Fac-Sug

 

Legisigno (55 classes):

12- L-I-R-Des-Abs-Hip-Sim-Gra-Pos-Sug

13- L-I-R-Des-Abs-Hip-Sim-Gra-Fac-Sug

14- L-I-R-Des-Abs-Hip-Sim-Imp-Pos-Sug

15- L-I-R-Des-Abs-Hip-Sho-Gra-Pos-Sug

16- L-I-R-Des-Abs-Cat-Sim-Gra-Pos-Sug

17- L-I-R-Des-Abs-Rel-Sim-Gra-Pos-Sug

18- L-I-R-Des-Abs-Rel-Sim-Imp-Pos-Sug

19- L-I-R-Des-Abs-Rel-Usu-Sig-Pos-Sug

20- L-I-R-Des-Con-Hip-Sim-Gra-Pos-Sug

21- L-I-R-Des-Con-Hip-Sim-Gra-Fac-Sug

22- L-I-R-Des-Con-Hip-Sim-Imp-Pos-Sug

23- L-I-R-Des-Con-Hip-Sho-Gra-Pos-Sug

24- L-I-R-Des-Con-Cat-Sim-Gra-Pos-Sug

25- L-I-R-Des-Con-Rel-Sim-Gra-Pos-Sug

26- L-I-R-Cop-Col-Hip-Sim-Gra-Pos-Sug

27- L-I-R-Cop-Col-Hip-Sim-Gra-Fac-Sug

28- L-I-R-Cop-Col-Hip-Sim-Imp-Pos-Sug

29- L-I-R-Cop-Col-Hip-Sho-Gra-Pos-Sug

30- L-I-R-Cop-Col-Cat-Sim-Gra-Pos-Sug

31- L-I-R-Cop-Col-Rel-Sim-Gra-Pos-Sug

32- L-Idx-R-Des-Con-Hip-Sim-Gra-Pos-Sug

33- L-Idx-R-Des-Con-Hip-Sim-Gra-Fac-Sug

34- L-Idx-R-Des-Con-Hip-Sim-Imp-Pos-Sug

35- Idx-R-Des-Con-Hip-Sho-Gra-Pos-Sug

36- L-Idx-R-Des-Con-Cat-Sim-Gra-Pos-Sug

37- L-Idx-R-Des-Con-Cat-Sim-Gra-Fac-Sug

38- L-Idx-R-Des-Con-Cat-Sim-Imp-Pos-Sug

39- L-Idx-R-Des-Con-Cat-Sho-Gra-Pos-Sug

40- L-Idx-R-Des-Con-Rel-Sim-Gra-Pos-Sug

41- L-Idx-R-Des-Con-Rel-Sim-Gra-Fac-Sug

42- L-Idx-R-Des-Con-Rel-Sim-Imp-Pos-Sug

43- L-Idx-R-Des-Con-Rel-Sho-Gra-Pos-Sug

44- L-Idx-R-Cop-Col-Hip-Sim-Gra-Pos-Sug

45- L-Idx-R-Cop-Col-Hip-Sim-Gra-Fac-Sug

46- L-Idx-R-Cop-Col-Hip-Sim-Imp-Pos-Sug

47- L-Idx-R-Cop-Col-Hip-Sho-Gra-Pos-Sug

48- L-Idx-D-Des-Con-Cat-Sim-Gra-Fac-Sug

49- L-Idx-D-Des-Con-Cat-Sim-Gra-Fac-Ind

50- L-Idx-D-Des-Con-Cat-Sho-Gra-Fac-Ind

51- L-Idx-D-Des-Con-Cat-Sho-Gra-Fac-Sug

52- L-Idx-D-Cop-Col-Cat-Sim-Gra-Fac-Sug

53- L-Idx-D-Cop-Col-Cat-Sim-Gra-Fac-Ind

54- L-Idx-D-Cop-Col-Cat-Sho-Gra-Fac-Sug

55- L-Idx-D-Cop-Col-Cat-Sho-Gra-Fac-Ind

56- L-S-R-Des-Abs-Rel-Sim-Gra-Pos-Sug

57- L-S-R-Des-Abs-Rel-Sim-Gra-Hab-Sug

58- L-S-R-Des-Con-Rel-Sim-Gra-Pos-Sug

59- L-S-R-Des-Con-Rel-Sim-Gra-Hab-Sug

60- L-S-R-Cop-Col-Rel-Sim-Gra-Pos-Sug

61- L-S-R-Cop-Col-Rel-Sim-Gra-Hab-Sug

62- L-S-D-Des-Con-Rel-Sim-Gra-Fac-Sug

63- L-S-D-Des-Con-Rel-Sim-Gra-Fac-Ind

64- L-S-D-Cop-Col-Rel-Sim-Gra-Fac-Sug

65- L-S-D-Cop-Col-Rel-Sim-Gra-Fac-Ind

66- L-S-A-Cop-Col-Rel-Usu-Sig-Hab-Ind

 

9- Interpretante Imediato, Interpretante Dinâmico, Interpretante Final - Divisão do Interpretante

Esta divisão presente na lógica semiótica de Peirce detalha como o signo produz efeitos no intérprete, conectando-o ao objeto representado. O foco desta tricotomia é a relação entre o signo e o interpretante, ou seja, o efeito mental ou prático que o signo gera naquele que o interpreta. Esta tricotomia se mostra alinhada à categoria de primeiridade, secundidade e terceiridade, conectando a semiótica ao pragmatismo e realismo.

O interpretante é o componente da tríade semiótica (signo, objeto, interpretante) que representa o efeito do signo no intérprete, seja uma ideia, emoção, ação ou hábito. Peirce divide o interpretante em três tipos, cada um associado a uma categoria.

Interpretante Imediato (primeiridade): É o efeito inicial ou potencial do signo, a primeira impressão ou possibilidade interpretativa que ele evoca, independentemente de contexto ou experiência. É a ideia abstrata ou qualidade que o signo sugere “em si mesmo”, antes de qualquer análise ou interação com a realidade. É monádico, ligado à possibilidade, à vagueza e à qualidade intrínseca do signo. Está contido no signo como sua capacidade de ser interpretado. Como exemplo podemos pensar que ao ver a cor vermelha em uma pintura, o interpretante imediato é a sensação abstrata de “vermelhidão” ou a ideia vaga de “calor” que ela evoca, sem referência a um objeto específico.

Interpretante Dinâmico (secundidade): É o efeito atual e concreto do signo em um contexto específico, resultante da interação do signo com o objeto e o intérprete em uma situação particular. É o impacto real, emocional ou prático, que o signo produz em um momento dado. É diádico, ligado à factualidade, à experiência direta e à relação com a realidade externa. Varia conforme o contexto e o intérprete. Como exemplo podemos pensar que, ao ouvir um trovão, o interpretante dinâmico é a reação imediata de susto ou a percepção de que “uma tempestade está próxima”, conectada a um evento real.

Interpretante Final (terceiridade): É o efeito último ou ideal do signo, o significado estabilizado que ele produziria em um processo interpretativo completo, mediado por convenções, hábitos ou leis gerais. Representa o entendimento ou comportamento que o signo tende a gerar em uma comunidade interpretativa ao longo do tempo. É triádico, ligado à generalidade, à lógica e à formação de hábitos. Reflete o propósito final do signo em estruturar o raciocínio ou a ação. Como exemplo podemos pensar que, diante do silogismo “Todos os homens são mortais; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal”, o interpretante final é a conclusão lógica aceita como verdadeira, que pode guiar ações ou crenças (ex.: aceitar a mortalidade humana como um princípio geral).

A tricotomia do interpretante (imediato, dinâmico, final) está presente nas 66 classes de signos (oitava seção) como parte das tricotomias secundárias (especificamente, tricotomias 6, 7 e 8: interpretante imediato [hipotético, categórico, relativo], interpretante dinâmico [simpático, chocante, usual], interpretante final [gratificante, imperativo, significativo]).

Relação com Rema, Dicente, Argumento (sexta tricotomia): Rema (primeiridade): Está associado ao interpretante imediato, pois evoca uma possibilidade qualitativa (ex.: a ideia vaga de “calor” ao ver vermelho). Dicente (secundidade): Está ligado ao interpretante dinâmico, pois afirma um fato em um contexto específico (ex.: a percepção de uma tempestade ao ouvir um trovão). Argumento (terceiridade): Corresponde ao interpretante final, pois produz uma conclusão lógica mediada por convenções (ex.: a aceitação de um silogismo como verdadeiro).

Relação com Qualisigno, Sinsigno, Legisigno (quarta tricotomia): Qualisigno: Restrito ao interpretante imediato, devido à sua natureza qualitativa e monádica (ex.: vermelhidão evoca uma sensação abstrata). Sinsigno: Pode gerar interpretantes imediatos ou dinâmicos, mas não finais, devido à sua ligação com factualidade (ex.: trovão provoca susto ou percepção de tempestade). Legisigno: Pode gerar todos os tipos de interpretantes, incluindo o final, por sua natureza convencional (ex.: silogismo estabelece um significado lógico).

Relação com Ícone, Índice, Símbolo (quinta tricotomia): Ícone: Frequentemente associado ao interpretante imediato, por sua semelhança qualitativa (ex.: uma pintura evoca uma sensação inicial). Índice: Ligado ao interpretante dinâmico, por sua conexão factual com a realidade externa (ex.: trovão indica um evento real). Símbolo: Relacionado ao interpretante final, por sua dependência de convenções e generalizações (ex.: silogismo depende de regras lógicas).

Relação com o Objeto Imediato e Dinâmico (tricotomias 4 e 5): O interpretante imediato está ligado ao objeto imediato (a representação do objeto no signo, ex.: a ideia de vermelho na pintura). O interpretante dinâmico conecta-se ao objeto dinâmico (a realidade externa, ex.: a tempestade real indicada pelo trovão). O interpretante final reflete o objeto final, o significado estabilizado em uma comunidade (ex.: a lei geral da mortalidade no silogismo).

No contexto filosófico temos que o interpretante dinâmico conecta o signo à realidade externa (ex.: trovão indica uma tempestade real), enquanto o interpretante final estabelece verdades gerais mediadas por hábitos (ex.: aceitação de um silogismo), alinhando-se ao realismo de Peirce, que postula a existência de “reais” independentes da mente, mas acessíveis via signos. A máxima pragmática (“o significado de um signo está em seus efeitos práticos”) é evidente no interpretante final, que define o significado por ações ou hábitos resultantes (ex.: agir com base na mortalidade de Sócrates). O interpretante dinâmico reflete efeitos práticos imediatos (ex.: reagir ao trovão), enquanto o imediato sugere possibilidades para ação futura. A divisão estrutura o raciocínio em abdução (interpretante imediato, gerando hipóteses, ex.: “parece calor”), indução (interpretante dinâmico, confirmando fatos, ex.: “tempestade está próxima”), e dedução (interpretante final, estabelecendo conclusões, ex.: “Sócrates é mortal”). Isso conecta a semiótica à epistemologia, mostrando como signos estruturam o conhecimento.

Aqui Peirce inova ao deslocar o foco da semiótica para o processo interpretativo, antecipando teorias modernas de significado e comunicação. A tricotomia explica como signos geram significado em contextos variados (ex.: arte, ciência, filosofia), oferecendo uma ferramenta para analisar processos cognitivos e culturais.

Pensemos como exemplo no tocante ao interpretante imediato, que uma pessoa vê uma pintura abstrata com tons de azul. O interpretante imediato é a sensação de “calma” ou “frio” evocada pelo azul, uma possibilidade qualitativa sem referência a um objeto específico. Reflete primeiridade. Classe: Qualisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo.

Agora, no tocante ao Interpretante Dinâmico, podemos pensar que uma pessoa vê fumaça saindo de uma casa. O interpretante dinâmico é a percepção imediata de “fogo” ou a ação de chamar os bombeiros, um efeito concreto ligado à realidade externa. Reflete secundidade. Classe: Sinsigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-chocante-gratificante-factual-sugestivo.

Já em relação ao Interpretante Final, podemos pensar como exemplo que um cientista usa a equação “E=mc²” para calcular energia. O interpretante final é o entendimento estabilizado da relação entre energia e massa, guiando experimentos ou teorias, mediado por convenções científicas. Reflete terceiridade. Classe: Legisigno-símbolo-argumento-copulativo-coletivo-relativo-usual-significativo-habitual-indicativo.

A seção Interpretante Imediato, Interpretante Dinâmico, Interpretante Final explica a tricotomia do interpretante, detalhando como signos geram efeitos no intérprete, desde impressões qualitativas até significados estabilizados.

 

10- Signo Abstrativo, Signo Concretivo, Signo Coletivo - Função Representativa

A tricotomia abstrativo, concretivo, coletivo, quinta das dez tricotomias das 66 classes, foca no modo do objeto dinâmico, ou seja, a maneira como o signo representa a realidade externa. Diferentemente das tricotomias anteriores, que abordam a natureza do signo (ex.: qualisigno, sinsigno, legisigno), sua relação com o objeto (ex.: ícone, índice, símbolo), ou o efeito no interpretante (ex.: rema, dicente, argumento), esta tricotomia examina a natureza da realidade representada pelo signo, seja como uma qualidade abstrata, uma entidade concreta, ou uma generalização. Alinhada às categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade, ela conecta a semiótica ao realismo e pragmatismo de Peirce, revelando como signos estruturam a relação entre o pensamento e o mundo externo. Essa divisão é essencial para a lógica e a semiótica, pois detalha como signos representam diferentes aspectos da realidade, desde qualidades isoladas até leis gerais, com aplicações em contextos como arte, ciência e filosofia.

A tricotomia abstrativo, concretivo e coletivo se apresenta como segue. Abstrativo (primeiridade): Representa o objeto dinâmico como uma qualidade abstrata, como a “calma” evocada por tons de azul em uma pintura, sem referência a eventos específicos. É monádico, ligado à possibilidade. Concretivo (secundidade): Representa o objeto dinâmico como um evento concreto, como um incêndio indicado por fumaça saindo de uma casa, ligado à realidade externa. É diádico, ligado à factualidade. Coletivo (terceiridade): Representa o objeto dinâmico como uma lei geral, como a relação entre energia e massa na equação “E=mc²”, mediada por convenções. É triádico, ligado à generalidade.

Esta categoria encontra-se presente nas 66 classes da quinta tricotomia, e se relaciona com a mesma como expomos a seguir:

qualisigno, sinsigno, legisigno: Qualisignos são abstrativos (ex.: azul evoca calma); sinsignos, abstrativos ou concretivos (ex.: fumaça indica incêndio); legisignos, todos (ex.: equação como lei).

ícone, índice, símbolo: Ícones são abstrativos (ex.: azul); índices, concretivos (ex.: fumaça); símbolos, coletivos (ex.: equação).

rema, dicente, argumento: Rema é abstrativo (ex.: calma); dicente, concretivo (ex.: incêndio); argumento, coletivo (ex.: lei).

interpretante imediato, dinâmico, final: Abstrativo liga-se ao imediato (ex.: calma); concretivo, ao dinâmico (ex.: incêndio); coletivo, ao final (ex.: lei da energia).

Filosoficamente, o concretivo conecta o signo à realidade externa (ex.: fumaça indica incêndio), enquanto o coletivo estabelece leis gerais (ex.: equação como lei), alinhando-se ao realismo. No pragmatismo, o significado está nos efeitos práticos, como ações do concretivo (ex.: chamar bombeiros) ou hábitos do coletivo (ex.: experimentos baseados em “E=mc²”). A tricotomia estrutura o raciocínio em abdução (abstrativo, hipóteses, ex.: calma), indução (concretivo, fatos, ex.: incêndio), e dedução (coletivo, conclusões, ex.: lei da energia). Para a seção lógica e semiótica, é fundamental, detalhando como signos representam a realidade, complementando as tricotomias anteriores. Peirce inova ao categorizar a representação em qualidades, fatos e leis, antecipando análises modernas de cognição e representação, aplicáveis a arte, ciência e filosofia.

O objeto dinâmico é a realidade externa que o signo representa, distinta do objeto imediato (a representação do objeto no signo). A tricotomia abstrativo, concretivo, coletivo descreve como o signo se relaciona com essa realidade:

Signo Abstrativo (primeiridade): Representa o objeto dinâmico como uma qualidade abstrata ou possibilidade, independente de instâncias concretas ou contextos específicos. Foca em uma característica isolada, sem referência a eventos ou generalizações. É monádico, ligado à possibilidade, à vagueza e à qualidade intrínseca. Está associado à primeiridade, evocando uma ideia pura ou sensação. Como exemplo temos a sensação de “calma” evocada por tons de azul em uma pintura abstrata representa o objeto dinâmico como uma qualidade abstrata (a “calmaria” em si), sem conexão com um evento ou lei específica.

Signo Concretivo (secundidade): Representa o objeto dinâmico como uma entidade ou evento concreto, um fato singular situado no tempo e espaço. Reflete uma conexão direta com a realidade externa em um contexto específico. É diádico, ligado à factualidade, à experiência direta e à existência concreta. Está associado à secundidade, indicando algo que “é” no mundo real. Como exemplo temos a fumaça saindo de uma casa representa o objeto dinâmico como um evento concreto (um incêndio real), ligado a uma situação específica.

Signo Coletivo (terceiridade): Representa o objeto dinâmico como uma generalização, lei ou conceito universal, mediado por convenções ou hábitos. Reflete a realidade como um padrão ou relação geral, aplicável a múltiplas instâncias. É triádico, ligado à generalidade, à lógica e à formação de hábitos. Está associado à terceiridade, estruturando o conhecimento em termos de leis ou princípios. Como exemplo temos a equação “E=mc²” representa o objeto dinâmico como uma lei geral (a relação entre energia e massa), válida universalmente e mediada por convenções científicas.

A tricotomia abstrativo, concretivo, coletivo (quinta tricotomia) está integrada às 66 classes de signos (oitava seção) e interage com as outras tricotomias:

Relação com Qualisigno, Sinsigno, Legisigno (quarta tricotomia): Qualisigno: Restrito ao modo abstrativo, por sua natureza qualitativa e monádica (ex.: azul evoca a qualidade abstrata de calma). Sinsigno: Pode ser abstrativo ou concretivo, mas não coletivo, devido à sua ligação com factualidade singular (ex.: fumaça representa um evento concreto). Legisigno: Pode ser abstrativo, concretivo ou coletivo, por sua natureza convencional, que permite generalizações (ex.: equação representa uma lei geral).

Relação com Ícone, Índice, Símbolo (quinta tricotomia): Ícone: Frequentemente abstrativo, por representar qualidades por semelhança (ex.: azul evoca calma por semelhança com tranquilidade). Índice: Tipicamente concretivo, por indicar eventos reais (ex.: fumaça aponta para um incêndio concreto). Símbolo: Frequentemente coletivo, por depender de convenções que expressam leis gerais (ex.: equação “E=mc²” simboliza uma lei universal).

Relação com Rema, Dicente, Argumento (sexta tricotomia): Rema: Está associado ao abstrativo, por evocar possibilidades qualitativas (ex.: calma do azul como uma ideia vaga). Dicente: Está ligado ao concretivo, por afirmar fatos específicos (ex.: fumaça indica um incêndio real). Argumento: Está associado ao coletivo, por produzir conclusões gerais (ex.: equação estabelece uma lei científica).

Relação com o Interpretante (tricotomias 6-8: imediato, dinâmico, final):         Abstrativo: Liga-se ao interpretante imediato (ex.: azul evoca a possibilidade de calma).         Concretivo: Liga-se ao interpretante dinâmico (ex.: fumaça gera a percepção ou ação relacionada a um incêndio). Coletivo: Liga-se ao interpretante final (ex.: equação estabiliza o entendimento de uma lei geral).

Relação com o Objeto Imediato (quarta tricotomia: descritivo, designativo, copulativo): Abstrativo: Associa-se ao objeto imediato descritivo, que apresenta qualidades (ex.: azul como representação de calma). Concretivo: Associa-se ao objeto imediato designativo, que aponta para algo específico (ex.: fumaça designa um incêndio). Coletivo: Associa-se ao objeto imediato copulativo, que conecta ideias gerais (ex.: equação conecta energia e massa).

No contexto filosófico a tricotomia abstrativo, concretivo, coletivo reforça os pilares filosóficos de Peirce no seu realismo de origem Escolástica, no Pragmatismo e na lógica e semiótica. O signo concretivo conecta diretamente o signo à realidade externa (ex.: fumaça indica um incêndio real), enquanto o signo coletivo representa realidades gerais (ex.: equação como lei universal), alinhando-se ao realismo de Peirce, que defende a existência de “reais” acessíveis via signos. A máxima pragmática (“o significado de um signo está em seus efeitos práticos”) é evidente no signo concretivo, que gera ações imediatas (ex.: chamar bombeiros), e no signo coletivo, que guia ações por hábitos ou leis (ex.: experimentos baseados em “E=mc²”). O signo abstrativo sugere possibilidades para ação futura (ex.: calma evocada por azul). A tricotomia estrutura o raciocínio em abdução (abstrativo, gerando hipóteses, ex.: “parece calma”), indução (concretivo, confirmando fatos, ex.: “há um incêndio”), e dedução (coletivo, estabelecendo conclusões, ex.: “energia equivale a massa”). Isso conecta a semiótica à epistemologia, mostrando como signos organizam o conhecimento.

Fundamental para a seção lógica e semiótica, pois detalha como signos representam a realidade externa, complementando as tricotomias anteriores (ex.: interpretante, objeto imediato). Peirce inova ao categorizar a representação da realidade em termos de qualidades, fatos e leis, antecipando análises modernas de representação e cognição. A tricotomia oferece uma ferramenta para analisar signos em contextos variados (ex.: arte, ciência, filosofia), revelando como o pensamento humano estrutura a relação com o mundo.

Podemos pensar em alguns exemplos para melhor ilustrar esta tricotomia.

Signo Abstrativo:

Cenário: Uma pessoa vê tons de azul em uma pintura abstrata. Efeito: O objeto dinâmico é representado como a qualidade abstrata de “calma”, sem referência a um evento específico. Reflete primeiridade. Classe de Signo: qualisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo.

Signo Concretivo:

Cenário: Uma pessoa vê fumaça saindo de uma casa. Efeito: O objeto dinâmico é representado como um evento concreto (um incêndio real), situado no tempo e espaço. Reflete secundidade. Classe de Signo: sinsigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-chocante-gratificante-factual-sugestivo.

 Signo Coletivo:

 Cenário: Um cientista usa a equação “E=mc²” para calcular energia. Efeito: O objeto dinâmico é representado como uma lei geral (a relação entre energia e massa), mediada por convenções científicas. Reflete terceiridade. Classe de Signo: legisigno-símbolo-argumento-copulativo-coletivo-relativo-usual-significativo-habitual-indicativo.

 

4- Conclusão

Charles Sanders Peirce, com sua mente brilhante, um polímata contemporâneo, deixou um legado que transcende as barreiras disciplinares, moldando a filosofia, a lógica e a semiótica com contribuições que continuam a exercer influência no desenvolvimento do pensamento nos dias atuais. Influenciado por pensadores como Kant, cujo conceito de “pragmatisch” inspirou seu pragmatismo, e Duns Scotus, cuja escolástica se fez notar no seu realismo ontológico, Peirce construiu um sistema filosófico robusto, integrando também ideias do empirismo britânico de Locke, Bentham, Mill e Stuart-Mill. Por sua vez, influenciou decisivamente filósofos como William James e John Dewey, que desenvolveram o Pragmatismo, e antecipou debates em linguística (Saussure, Eco), filosofia analítica (Quine) e teorias da cognição e comunicação. Sua concepção do Pragmatismo, centrada na máxima de que o significado reside nos efeitos práticos, revolucionou a compreensão da verdade e da ação humana, enquanto sua semiótica, com suas tricotomias intricadas, ofereceu uma ferramenta poderosa para analisar a construção do significado em contextos diversos, da ciência à linguagem cotidiana. Apesar das dificuldades pessoais que o levaram à marginalização e à pobreza, sua obra, publicada majoritariamente de forma póstuma, revelou-se um marco na filosofia americana e mundial. As categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade, vinculadas à sua teoria dos signos, proporcionam um sistema filosófico que liga mente, realidade e significado, antecipando debates posteriores e atuais em linguística, epistemologia e cognição. Peirce não apenas fundou o Pragmatismo e a semiótica contemporânea, mas também demonstrou como o pensamento humano, mediado por signos, pode estruturar a experiência e orientar a ação prática, deixando um convite à reflexão contínua sobre como compreendemos e interagimos com o mundo.

 

ALGUMAS DE SUAS PRINCIPAIS OBRAS

 

1- On a New List of Categories. Título em Português: Sobre uma Nova Lista de Categorias. Data da Primeira Publicação: 1867.

Publicado nos Proceedings of the American Academy of Arts and Sciences, este artigo apresenta as categorias fenomenológicas de Peirce (primeiridade, secundidade e terceiridade) que formam a base de sua filosofia e semiótica. Neste artigo, Perce propõe uma nova estrutura para entender a experiência humana, influenciando diretamente sua teoria dos signos. Texto fundamental para compreender o arcabouço filosófico de Peirce.

2- The Fixation of Belief. Título em Português: A Fixação da Crença. Data da Primeira Publicação: 1877.

Originalmente foi publicado na Popular Science Monthly, o presente texto faz parte de uma série sobre lógica e pragmatismo. Nele o autor argumenta como as crenças são formadas e fixadas, comparando métodos como tenacidade, autoridade, gosto e ciência. É introduzida a ideia de que a ciência, baseada na dúvida e na investigação, é o método mais confiável, lançando as bases do pragmatismo. Texto fundamental para entender sua filosofia prática.

3- How to Make Our Ideas Clear. Título em Português: Como Tornar Nossas Ideias Claras. Data da Primeira Publicação: 1878.

Artigo publicado na Popular Science Monthly, nele desenvolve a máxima pragmática que afirma que o significado de um conceito está nos seus efeitos práticos observáveis. É um texto central do pragmatismo, explicando como clarificar ideias por meio de suas consequências práticas, com forte conexão à semiótica (especialmente ao conceito de interpretante). É acessível e amplamente citado.

4- A Neglected Argument for the Reality of God. Título em Português: Um Argumento Negligenciado para a Realidade de Deus. Data da Primeira Publicação: 1908.

Publicado no Hibbert Journal, este artigo apresenta o conceito de abdução (raciocínio hipotético) aplicado à crença em Deus. Peirce argumenta que a ideia de Deus surge como uma hipótese natural da mente humana, conectando sua lógica à metafísica. Embora menos central para a semiótica, ilustra sua abordagem interdisciplinar e o uso da abdução, relevante para a lógica.

5- Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Título em Português: Papéis Coletados de Charles Sanders Peirce. Data da Primeira Publicação: 1931-1958 (póstuma, em 8 volumes).

Coletânea póstuma, editada por Charles Hartshorne, Paul Weiss e outros, reúne os manuscritos, artigos e anotações de Peirce. Abrange sua semiótica, pragmatismo, lógica, fenomenologia e metafísica, incluindo textos sobre as tricotomias semióticas e categorias fenomenológicas. É a principal fonte para estudar Peirce, embora sua organização seja complexa devido à natureza fragmentada de seus escritos.

6- Writings of Charles S. Peirce: A Chronological Edition. Título em Português: Escritos de Charles S. Peirce: Uma Edição Cronológica. Data da Primeira Publicação: 1982 (início da publicação, com 8 volumes lançados até agora, 2025, de um total de 30 projetados).

Organizada pelo Peirce Edition Project (Indiana University-Purdue University Indianapolis, com colaboração da University of Quebec at Montreal), esta edição cronológica é a mais completa coleção dos trabalhos de Peirce, incluindo textos publicados e cerca de 80.000 páginas de manuscritos inéditos. Abrange sua filosofia, semiótica, lógica, pragmatismo e ciências, com notas editoriais detalhadas e uma linha do tempo da evolução de seu pensamento. Até 2025, os volumes 1 a 6 e 8 (1857-1892) e o volume 7 (sobre o Century Dictionary) foram publicados, com o projeto ainda em andamento. É essencial para estudos acadêmicos sobre Peirce.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 


 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

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