Textos filosóficos, críticos, comportamentais e sobre arte da escrita, sucesso e auto-ajuda.
Professor Doutor Silvério
Blog: "Comportamento Crítico"
Professor Doutor Silvério
Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.
(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)
E-mails encaminhados para doutorsilveriooliveira@gmail.com serão respondidos e comentados excluindo-se nomes e outros dados informativos de modo a manter o anonimato das pessoas envolvidas. Você é bem vindo!
A Maçonaria é
uma das instituições mais antigas e enigmáticas da história, frequentemente
envolta em mistérios, símbolos e narrativas que despertam curiosidade. Embora
associada a segredos e rituais, sua essência é filosófica, filantrópica e
iniciática, buscando o aperfeiçoamento do indivíduo e da sociedade. Este artigo
explora a trajetória da Maçonaria, desde suas origens lendárias no Templo de
Salomão, passando pelas guildas medievais, o marco do Grande Incêndio de
Londres, até sua relevância no mundo contemporâneo. Vamos desmistificar mitos,
destacar sua influência histórica e filosófica e entender como a Maçonaria se
mantém viva no século XXI.
2- As Origens
Lendárias: O Templo de Salomão
A narrativa
tradicional da Maçonaria remonta ao Templo de Salomão, construído por volta do
século X a.C. em Jerusalém. Segundo a tradição maçônica, a construção do
templo, liderada pelo rei Salomão e pelo arquiteto Hiram Abiff, simboliza os
ideais de ordem, harmonia e trabalho coletivo. Essa história é mais simbólica
do que factual, servindo como uma metáfora para os valores da Maçonaria, como a
busca pela perfeição moral e intelectual. O Templo de Salomão representa a
fundação espiritual da ordem, com seus rituais e símbolos inspirados nas
ferramentas dos pedreiros, como o compasso (equilíbrio) e o esquadro (retidão).
Para começar, a
Maçonaria tem suas raízes simbólicas na construção do Templo de Salomão, uma
das grandes obras da antiguidade, considerada um símbolo da busca pelo
conhecimento e pela perfeição. Dois discípulos do mestre construtor, chamados
Jakin e Boaz, deram nome às famosas colunas que guardavam a entrada do templo. A
história conta que o mestre construtor Hiram Abiff foi assassinado por três
aprendizes que queriam forçá-lo a revelar os segredos da construção. Esse
episódio é fundamental para o ritual e a filosofia maçônica, representando a
luta do homem pela verdade, superação e transformação interior.
Embora não haja
evidências históricas de que a Maçonaria como instituição existisse na
Antiguidade, essa narrativa lendária conecta a ordem a uma tradição de
conhecimento e fraternidade, transmitida por séculos como uma herança
simbólica.
3- As Guildas
Medievais: A Maçonaria Operativa
Na Idade Média,
entre os séculos XIII e XVI, a Maçonaria operativa floresceu na Europa, especialmente
na construção de catedrais góticas, como Notre-Dame e Chartres. Os maçons
operativos eram artesãos especializados na cantaria, trabalhando com pedra para
erguer monumentos grandiosos. Esses profissionais se organizavam em guildas,
conhecidas como "lojas", que protegiam seus conhecimentos técnicos e
regulavam a profissão.
As guildas de
pedreiros eram mais do que associações profissionais; elas cultivavam valores
éticos, como a honestidade e o compromisso com a excelência. Essas organizações
tinham rituais próprios, juramentos de sigilo para proteger os segredos do
ofício e uma forte camaradagem. A palavra "loja" deriva dessas
reuniões, e o termo "guilda" reflete a estrutura associativa que unia
os artesãos. Esses elementos foram fundamentais para a transição da Maçonaria
operativa para a especulativa, que surgiria séculos depois.
4- O Grande
Incêndio de Londres e a Transição para a Maçonaria Especulativa
Em 1666, o
Grande Incêndio de Londres devastou a cidade, destruindo milhares de
construções. A reconstrução exigiu um esforço monumental, liderado por
arquitetos e pedreiros, muitos dos quais pertenciam às guildas de maçons. Esse
período marcou uma mudança significativa: as guildas começaram a admitir
membros que não eram artesãos, mas intelectuais, nobres e pensadores, atraídos
pelos ideais de fraternidade e progresso.
Essa transição
culminou em 1717, com a fundação da Grande Loja de Londres, considerada o marco
da Maçonaria especulativa. Diferentemente da Maçonaria operativa, focada na
construção física, a especulativa enfatizava o desenvolvimento moral e
intelectual, usando os símbolos da cantaria (como o compasso e o esquadro) para
ensinar lições filosóficas. Figuras como John Theophilus Desaguliers e James
Anderson foram fundamentais nesse processo, redigindo a primeira constituição
maçônica, que estabeleceu os princípios da ordem moderna e influenciou a
criação de democracias baseadas em direitos e liberdades.
5- A Maçonaria e
a História: Influência nas Revoluções
A Maçonaria teve
um papel significativo em eventos históricos que moldaram o mundo. Durante o
Renascimento (séculos XIV a XVI), os ideais maçônicos de busca pelo
conhecimento e progresso ecoaram o espírito humanista da época. No século
XVIII, a Maçonaria se alinhou ao Iluminismo, promovendo valores como liberdade,
igualdade e fraternidade, que inspiraram revoluções e mudanças sociais.
Revolução
Americana (1776): Muitos dos "pais fundadores" dos Estados Unidos,
como Benjamin Franklin e George Washington, eram maçons. Os ideais de liberdade
e autogoverno, centrais à independência americana, refletiam os princípios
maçônicos de justiça e igualdade.
Revolução
Francesa (1789): A Maçonaria influenciou pensadores iluministas como Voltaire e
Montesquieu, que frequentavam lojas maçônicas. Embora a ordem não tenha
organizado diretamente a revolução, seus ideais de fraternidade e igualdade
permeavam os debates da época.
Independência do
Brasil (1822): Maçons como José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como o
"Patriarca da Independência", desempenharam papéis cruciais na
emancipação brasileira. As lojas maçônicas serviam como espaços de discussão
política, fomentando ideias de soberania.
Proclamação da
República no Brasil (1889): Figuras como Deodoro da Fonseca e Benjamin
Constant, ambos maçons, lideraram o movimento que derrubou a monarquia,
consolidando a república com base em princípios de liberdade e progresso.
Esses eventos
ilustram como a Maçonaria, por meio de suas redes de influência e ideais
filosóficos, contribuiu para transformações políticas e sociais em escala
global.
6- Filosofia
Maçônica: Liberdade, Igualdade e Fraternidade
A Maçonaria é,
em essência, uma instituição filosófica. Seus ensinamentos se conectam aos
ideais iluministas, promovendo a busca pelo conhecimento, a ética e a moral. O
conceito de "Grande Arquiteto do Universo" reflete uma visão teísta
que acolhe diferentes crenças religiosas, unindo membros em torno de valores
universais. Os rituais maçônicos, embora envoltos em simbolismo, são
ferramentas pedagógicas que incentivam a introspecção e o crescimento pessoal.
Os símbolos
maçônicos, como o compasso (equilíbrio entre o material e o espiritual) e o
esquadro (retidão moral), são centrais para a filosofia da ordem. Esses
símbolos inspiram os maçons a refletirem sobre sua conduta e a contribuírem
para uma sociedade mais justa. A Maçonaria também valoriza a educação,
enxergando o conhecimento como o caminho para o progresso humano.
7- Desmistificando
a Maçonaria: Mentiras e Verdades
A Maçonaria é
frequentemente alvo de mitos e teorias conspiratórias, como a ideia de que
seria uma sociedade secreta com intenções obscuras. Na realidade, a Maçonaria é
uma sociedade discreta, não secreta, com rituais que simbolizam a jornada de
autoconhecimento. O famoso "bode" é uma piada popular, sem qualquer
base nos rituais maçônicos, usada para desmistificar rumores infundados.
Outro equívoco
comum é associar a Maçonaria a uma organização política ou religiosa. Embora
maçons tenham influenciado eventos históricos, a ordem não tem uma agenda
política unificada, e sua concepção teísta permite a convivência de diferentes
crenças. Seu objetivo é promover o aperfeiçoamento individual e coletivo, não o
controle de instituições.
8- A Maçonaria e
a Educação
A educação é um
pilar fundamental da Maçonaria. Historicamente, maçons estiveram envolvidos na
criação de escolas, universidades e bibliotecas, refletindo a crença de que o
conhecimento é essencial para o progresso. No Brasil, por exemplo, maçons como
José Bonifácio defendiam a educação como ferramenta de emancipação. Hoje,
muitas lojas maçônicas mundo afora apoiam projetos educacionais, bolsas de
estudo e iniciativas de alfabetização, mantendo viva essa tradição.
9- Maçonaria
Contemporânea: Desafios e Contribuições
No século XXI, a
Maçonaria enfrenta o desafio de se adaptar a um mundo digital e globalizado.
Embora mantenha seus rituais e tradições, a ordem busca atrair novas gerações,
promovendo diversidade e inclusão. No mundo, as lojas maçônicas continuam
ativas em projetos filantrópicos, como apoio a comunidades carentes, construção
de hospitais e ações humanitárias.
A Maçonaria
também enfrenta o desafio de desmistificar sua imagem pública, combatendo
estereótipos e esclarecendo seu papel como uma instituição voltada para o bem
comum. No Brasil, por exemplo, lojas maçônicas têm se engajado em causas
sociais, como doações para vítimas de desastres naturais e programas de apoio à
infância.
10- Conclusão
A Maçonaria é
muito mais do que uma sociedade envolta em mistérios. Desde suas origens
lendárias no Templo de Salomão até sua consolidação como uma instituição
filosófica e filantrópica, a Maçonaria moldou a história por meio de seus
ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Das guildas medievais ao impacto
nas revoluções modernas, a ordem influenciou eventos que transformaram o mundo.
Hoje, a Maçonaria permanece relevante, promovendo educação, filantropia e
reflexão ética em um mundo em constante mudança.
Se você deseja
saber mais sobre a Maçonaria, seus símbolos ou sua história, explore os
recursos disponíveis em blogs como "Ser Escritor" e
"Comportamento Crítico", além do nosso site (https://www.doutorsilverio.com), onde artigos
e materiais adicionais oferecem uma visão mais profunda sobre essa fascinante
instituição.
Charles Sanders
Peirce (1839-1914) nasce em Cambridge, Massachusetts, EUA, e falece aos 74 anos
de idade em Milford, Pensilvânia. Filho de Sarah Hunt Mills e Benjamin Peirce
(o casal teve no total 5 filhos). Seu pai foi professor de Harvard, matemático,
físico e astrônomo. Em virtude de sua família, Peirce cresceu em um ambiente
onde era comum em sua casa a presença de cientistas e intelectuais. Além disto,
seu pai optou por lhe dar uma educação diferenciada, baseada na solução de
problemas e não na mera memorização de dados e fatos.
Peirce é um polímata,
atuou como filósofo, pedagogo, cientista, linguista e matemático. Suas
contribuições abrangem diversos e distintos campos do saber, passando pela
lógica, semiótica, astronomia, geodésia, matemática, teoria e história da
ciência, econometria e psicologia. Ele via a si mesmo como um lógico e cabe a
ele o entendimento de ser a lógica um ramo formal da semiótica.
Segundo relatos
do próprio Peirce em sua autobiografia e também de comentadores acadêmicos
sobre sua obra, ele teria já aos 12 anos de idade lido “Elements of Logic”, de
Richard Whately. Seus estudos de lógica foram influenciados pelo pai, tendo
desde cedo dominado a matéria.
Estudou em
Harvard, licenciando-se em ciências e obtendo o doutorado em química, mais
tarde também lecionou nesta universidade. Peirce se formou em Harvard em 1859 e
recebeu o título de bacharel em química em 1863, graduando-se summa cum laude.
Fora este desempenho notável em química, no geral Peirce era um aluno ruim,
ficando no terço inferior de sua classe. Ao que parece, o currículo padrão o
entediava e este não se dedicava seriamente ao trabalho nas disciplinas que
cursava.
Foi geofísico e
astrônomo da United States Coast and Geodetic Survey, uma organização
científica dos EUA entre 1859 e 1891. Em termos de filosofia, escreveu bastante
e participou das reuniões do Metaphysical Club, na cidade de Boston. Este clube
foi criado no ano de 1872, e dentre seus participantes mais notórios, temos,
além do próprio Peirce, William James, Chauncey Wright, e outros, sendo onde
Peirce desenvolveu suas ideias presentes no pragmatismo. Entre 1879 e 1884
ensinou lógica na John Hopkins University.
Atuou de 1869 a
1875 como auxiliar do observatório de Harvard. Em 1872 deu início a uma série
de experimentos sobre o pêndulo com a finalidade de determinar a densidade e
forma da Terra. Este trabalho com pêndulo permitiu determinar a gravidade
terrestre, contribuindo para a geodésia. Também em 1872 começou estudos sobre a
longitude das ondas luminosas.
Até 1880 a vida
de Peirce seguiu bem e este foi obtendo sucesso e espaço social, mas a partir
deste ano, que também marca o falecimento de seu pai, começa um vertiginoso
declínio social. Sua primeira esposa, Harriet Melusina Fay, com quem se casara
em 1863, já suspeitava há algum tempo que Peirce mantinha vários casos
extraconjugais, mas ao vir a público seu relacionamento com uma francesa, estes
se separaram em 1876 e obtiveram o divórcio em 1883, sendo que entre a
separação e o divórcio Peirce manteve publicamente seu relacionamento com a
outra mulher, Juliette Peirce (Juliette Annette Froiss, ou, Juliette Annette
Pourtalai), com quem posteriormente casaria após o divórcio definitivo, mas
este comportamento foi entendido como moralmente inaceitável pela sociedade da
época, lhe custando seus empregos e qualquer possibilidade de sustento de vida.
Passou seus últimos anos de vida ao lado da segunda esposa e veio a falecer em
extrema pobreza, sendo ajudado por amigos e familiares. Sua fama e notoriedade
internacional só começou após a sua morte, quando, aos poucos, foi obtendo o
devido reconhecimento por seu trabalho. Após sua morte, a sua esposa vendeu
todos os seus manuscritos inéditos para a universidade de Harvard.
Além do
confronto com a moral social reinante, temos também como explicação de suas
dificuldades financeiras a inimizade de Charles William Eliot, presidente de
Harvard (1869-1909), que limitou ou mesmo inviabilizou suas oportunidades
acadêmicas.
Um terceiro
elemento que pode explicar suas dificuldades pós 1880 de encontrar um emprego
fixo e uma remuneração que evitasse de passar dificuldades financeiras, pode
ser encontrado no fato narrado por pessoas da época dele, deste possuir uma
personalidade de trato difícil, sendo visto como excêntrico, arrogante,
socialmente desajeitado, impaciente, sarcástico pouco diplomático. Apesar
disto, manteve amizade e foi admirado por alguns amigos mais próximos, como tal
é o caso de William James.
Então, teremos
que suas dificuldades financeiras estariam relacionadas à morte do pai, pessoa
socialmente influente, a inimizade com o presidente de Harvard, sua
personalidade difícil e dificuldade de trato social, o escândalo de assumir um
segundo relacionamento com outra mulher antes da oficialização final do
divórcio com a primeira esposa.
Apesar de não
ter encontrado grande sucesso e ter morrido na pobreza sem conseguir publicar
boa parte de sua obra, esta foi publicada postumamente e seu pensamento
influenciou de modo decisivo vários segmentos do pensamento norte-americano,
como, por exemplo, o Pragmatismo desenvolvido por William James e Dewey, e
outros campos da filosofia e ciências adotarão temáticas originalmente
presentes no pensamento de Peirce para darem desenvolvimento.
Alguns
estudiosos o consideram um pensador sistemático, já outros o consideram um
pensador assistemático, mas todos concordam sobre a grande importância que este
teve na filosofia e lógica, a começar pelos EUA e se irradiando pelo mundo.
No transcorrer
de sua vida produziu cerca de 80.000 páginas manuscritas, a maioria inéditas,
pois, durante sua vida publicou, destas, cerca de 12.000. Após sua morte foram
publicados os “Collected Papers of Charles Sanders Peirce”, entre 1931 e 1958,
editados de modo temático e contendo partes já anteriormente publicadas quando
ainda em vida o filósofo. A edição cronológica de suas obras está ainda em
andamento (em 2025), sendo a “Writings of Charles S. Peirce: A Chronological
Edition”.
2- Pragmatismo
O termo
“pragmatismo” foi inspirado no conceito kantiano de pragmatisch (relativo à
prática), mas Peirce o reformulou como uma filosofia lógica e científica. Peirce
se apresenta como um dos fundadores, junto com William James e John Dewey, do
Pragmatismo na Filosofia, em verdade, uma filosofia da ação que vem a se
contrapor de um lado ao Idealismo e do outro ao Positivismo. Numa continuação
da tradição do Empirismo inglês, faz uso do Utilitarismo de Bentham, James Mill
e Stuart Mill, ampliando-o da ética para o gnosiológico. O pragmatismo
defendido por Peirce é o lógico, que há de se distinguir de outras formas de
pragmatismo presentes em outros autores.
No ensaio datado
de 1878, “Como fazer claro as nossas ideias”, faz a primeira menção ao termo
“Pragmatismo”, mas Peirce diz fazer uso do termo em reuniões privadas desde o
ano de 1875. Neste ensaio afirma que as crenças que temos atuam como normas
para a ação que empreendemos. O fim último de qualquer indagação ou processo
racional se encontra no estabelecimento de uma dada crença, que atue como
hábito ou regra de ação, pois, mesmo que não conduza imediatamente a um dado
ato, por meio dela é possível um determinado comportamento quando este se
mostra apropriado. Ou seja, dito de outra forma, o objetivo do pensamento é
formar crenças que guiem nossas ações.
No ano de 1905
Peirce adotou um novo nome para o que antes chamara de “pragmatismo”, tendo
como objetivo expressar sua definição original e diferenciá-la do emprego que
então se fazia corrente, deste modo, passou a chamar de “pragmaticismo”.
Pelo
Pragmatismo, o valor de verdade dado a uma ideia ou princípio teórico há que
depender dos resultados práticos que forem obtidos desta ideia ou princípio.
Não cabe meramente perguntar o que é verdadeiro ou falso, mas sim olhar para o
futuro e verificar quais consequências advirão ao adotar tais ideias ou
princípios como verdadeiros ou como falsos. Quando uma ideia consegue ter um
êxito prático, então ela é verdadeira. A verdade coincide com a utilidade de
algo, deste modo, um dado saber não é bom e útil pelo fato de ser verdadeiro,
mas sim, ele é verdadeiro pelo fato de ser bom e útil. No entendimento do
pragmatismo proposto por Peirce, para que uma afirmação qualquer possa ser
significativa, esta precisa ter implicações práticas.
Enquanto no
Empirismo desenvolvido por Locke, Hume e outros, o foco se dá na origem
sensorial das ideias, Peirce, por sua vez, põe o foco não nas origens e sim nas
consequências que possam ser verificáveis. O significado de um dado conceito,
como, por exemplo, o conceito de “dureza”, “calor”, “frio”, se encontra nos
efeitos práticos que são por ele produzidos. Se algo é duro é porque resiste a
arranhões ou deformações em geral a partir de testes práticos e verificáveis.
Podemos pensar
em alguns exemplos (“faca afiada” e “café quente”) para a máxima do pragmatismo
e seu uso na prática cotidiana. Exemplos: “uma faca é afiada se corta bem”;
“Dizer que o café está quente significa que ele pode queimar se tocado”.
Nossas crenças
se mostram como regras de ação e não apenas estados mentais, pois, as crenças
guiam nossas ações. Quando acreditamos que algo queima e nos machuca, evitamos,
como tal é o caso com o contato direto com o fogo. O pensamento tem por
objetivo superar a dúvida e estabelecer crenças estáveis, que Peirce chama de
“fixação de crença”.
3- Lógica e
semiótica
Peirce é considerado
o fundador da semiótica. No seu entendimento, a lógica faz parte do campo da
teoria geral dos signos ou semiótica. Para Peirce, a lógica é um subcampo da
semiótica especulativa, que estuda como os signos operam no raciocínio. Nos
últimos 30 anos de sua vida dedicou-se ao estudo da semiótica, um sistema de
lógica.
Em Peirce a
semiótica se torna necessária para entender os processos presentes no
pensamento. A teoria semiótica proposta por Peirce tem suas origens históricas
nos trabalhos de Duns Scotus e de John Poinsot (João de São Tomás), enquanto
Scotus é citado diretamente por Peirce, John Poinsot pode ser inferido a partir
do estudo de sua obra. O signo em Peirce mostra-se como sendo alguma coisa que
está no lugar de outra.
Peirce, um
realista escolástico, próximo do pensamento de Duns Escoto, aceitava o mundo
externo como dado, sem questionar sua existência. Na semiótica, a Secundidade
(ex.: resistência de uma pedra) e o objeto dinâmico (ex.: fogo real) existem
fora da mente, diferentemente do idealismo de Kant, onde temos acesso somente
ao fenômeno e não ao noumeno. A realidade, acessível via signos (que atuam como
mediadores, afastando Peirce de um realismo ingênuo), reflete o realismo
medieval de Peirce, conectando mente e mundo.
A lógica se
apresenta para Peirce como sendo o núcleo principal de sua filosofia e é por
ele definida como sendo uma ciência formal do raciocínio que tem como objeto
investigar como as diversas ideias são elaboradas, validadas e aplicadas. A
lógica é um campo amplo que junta experiência, ciência e semiótica e não, como
temos em Aristóteles ou mesmo Frege, um conjunto de regras formais. Segundo o
pensamento de Peirce, a lógica faz parte da semiótica, já que o raciocínio
abarca signos, que são representações mentais que produzem significado.
Além da dedução,
que vai do universal para o particular, da indução, que vai do particular para
o universal, Peirce introduz na lógica o conceito de abdução. Enquanto a
dedução e a indução voltam-se para o passado em relação ao que já conhecemos, a
abdução se propõe a elaborar uma hipótese voltada para o futuro.
Exemplo dado por
Peirce da saca de feijões:
1) Todos os
feijões daquela saca são brancos. Esses feijões são daquela saca. Logo, esses
feijões são brancos (dedução).
2) Esses feijões
são daquela saca. Esses feijões são brancos. Logo, todos os feijões daquela
saca são brancos (indução).
3) Todos os
feijões daquela saca são brancos. Esses feijões são brancos. Logo, esses
feijões são daquela saca (abdução).
Apresentou um
tríplice divisão da filosofia: fenomenologia, ciência normativa e metafísica. A
fenomenologia de Peirce estuda o que aparece à consciência, seja na mente ou no
mundo, estruturando a experiência em categorias universais. A fenomenologia tem
seu objeto de estudo nas categorias. A fenomenologia de Peirce estuda o que
aparece à consciência, seja na mente ou no mundo, estruturando a experiência em
categorias universais. A ciência normativa, por sua vez, se divide em estética,
ética e lógica, apoiando-se na fenomenologia e na matemática. A metafísica se
divide em metafísica geral ou ontológica, metafísica psíquica ou religiosa, e
metafísica física.
Cabe aqui uma
pequena distinção para facilitar a compreensão. A fenomenologia adotada por
Peirce trata da mente e do mundo, reforçando o modo como este entende o
realismo de sua filosofia em termos ontológicos, já o conceito de fenômeno para
Kant faz alusão ao que se passa na mente, a partir das 12 categorias do
entendimento em interação com o noumeno e, por sua vez, o fenômeno para Husserl
tem a ver com a consciência.
A lógica em
Peirce é uma ciência normativa, que prescreve o modo como devemos raciocinar
visando a verdade. Não se trata do modo como as pessoas raciocinam na prática,
deste modo, Peirce diferencia esta da psicologia, que estaria mais preocupada
com o estudo do pensamento. A lógica em Peirce se vincula a sua ideia do
pragmatismo, entendendo que o significado de uma dada ideia se encontra nos
efeitos práticos que esta é capaz de gerar.
Quando Peirce se
refere à abdução, entende que esta gera afirmações lógicas por serem capazes de
serem testadas na prática e podendo ser validadas pela indução e pela dedução,
como no caso da crença que o fogo queima, crença está que pode ser considerada
lógica na medida em que cria o hábito de evitar o contato direto com o fogo, se
protegendo de queimaduras, o que é um efeito prático obtido por meio desta
crença. A lógica em Peirce também se relaciona com a semiótica, já que para o
autor todo raciocínio envolve signos. Qualquer pensamento que a pessoa possa
ter é um signo que representa algo, um objeto qualquer, e produz um dado efeito
mental (interpretante). Detalhe que o interpretante não precisa ser uma pessoa,
pode ser outra coisa, como uma consciência coletiva presente em uma multidão ou
na sociedade, ou uma mente artificial presente numa IA. A lógica é um subcampo
da semiótica, já que analisa os signos e como estes atuam no raciocínio.
3.1- Análise
detalhada e explicação das 10 tricotomias propostas por Peirce
A ordem (mais
pedagógica) das tricotomias:
1- Primeiridade,
Secundidade, Terceiridade - Base Filosófica
2- Signo,
Objeto, Interpretante - Fundamento da Semiótica
3- Objeto
Imediato, Objeto Dinâmico, Objeto Final - Divisão do Objeto
4- Qualisigno,
Sinsigno, Legisigno - Natureza do Signo
5- Ícone,
Índice, Símbolo - Relação com o Objeto
6- Rema,
Dicente, Argumento - Relação com o Interpretante
Mais complexas e
para um público acadêmico
7- Dez Classes
de Signos - Combinação das Classificações Primárias
8- Sessenta e
Seis Classes de Signos - Expansão Avançada das Classificações
9- Interpretante
Imediato, Interpretante Dinâmico, Interpretante Final - Divisão do
Interpretante
1- Primeiridade,
Secundidade, Terceiridade - Base Filosófica
As categorias de
Peirce influenciaram a semiótica contemporânea (ex.: Umberto Eco) e a filosofia
analítica (ex.: Quine), conectando mente, mundo e significado. Visando
discriminar as distintas categorias presentes ao entendimento humano, Peirce
nos fala em três distintos momentos da apreensão da realidade: firstness
(primariedade), secondness (secundariedade) e thirdness (terciariedade). Nestas
categorias incluem-se tanto ideias quanto coisas, fazendo, portanto, menção
simultânea aos campos psicológico e lógico. A categoria formada por primeiridade,
secundidade, terceiridade é a base filosófica de sua semiótica e de todo o seu
sistema filosófico e foi apresentada pela primeira vez em seu artigo “On a new list
of categories”, 1867. Descrevem os modos universais de experiência e realidade,
estruturando a forma como percebemos e interagimos neste mundo.
Todas as
categorias propostas por Peirce são triádicas, já que este autor entendia que o
pensamento e a realidade operam por meio de tríades. Ao fazer uma proposta
triádica, Peirce se afasta de Descartes com seu dualismo, do mesmo modo que se
afasta de qualquer pensamento monista.
Para Peirce, primeiridade,
secundidade e terceiridade encontram-se na base de todas as demais tricotomias
por ele propostas, e cada aspecto do signo (signo, objeto, interpretante) pode
ser analisado por meio desta categoria.
A primeiridade
faz referência a qualidade ou sensação em si mesma e independente de qualquer
relação ou contexto. Aquilo que é, sem necessitar de referência a outra coisa
qualquer. Aqui temos a qualidade pura de algo. Ela é imediata e intrínseca a
este algo, devendo ser considerada em si mesma, sem qualquer relação com outros
elementos ou contextos. Temos aqui a sensação ou possibilidade antes de
qualquer comparação se efetuar. A primeiridade é monádica, pois, envolve apenas
um único elemento. É abstrata e potencial, já que não é dependente do tempo e
do espaço. Vincula-se a sentimentos, qualidades sensoriais ou possibilidades.
Como exemplo temos a cor vermelha dissociada do objeto que a carrega, seja um
carro ou uma maçã, enquanto qualidade pura. A sensação de calor ao nos
aproximarmos de algo muito quente. A ideia abstrata de liberdade, quando não
associada a algo concreto. O sentimento de beleza ao olhar para o céu, para um
nascer ou pôr do sol. É o momento da experiência em que algo é sentido ou
percebido em sua essência, sem análise.
A secundidade
faz referência à relação, interação ou resistência entre dois elementos. É o
modo de ser em relação a algo outro, onde temos a ação e a reação. Aqui dois
elementos entram em relação recíproca. É quando temos um confronto com algo
externo, seja este uma dada força ou evento. Por envolver dois elementos ela é
diádica. Também se mostra como concreta e factual, pois, vinculada a
experiência empírica, estando associada a eventos, à causalidade e à
resistência física. Como exemplos temos a resistência da tampa de uma mesa
quando batemos fortemente nossa mão na mesma. A interação física que surge
entre a mão que bate e a mesa que recebe e golpe é a secundidade. Se observamos
uma pegada na areia e daí concluímos que um dado animal passou por este local,
a relação existente entre a pegada e o evento da passagem do animal é a
secundidade. A interação que existe entre o sujeito e a porta que é por ele
aberta. Ao tropeçar em uma pedra temos a sensação de dor (primeiridade) seguida
da interação física com algo externo que foi o fato de colidir com a pedra
(secundidade). Enquanto a primeiridade se dá na abstração, a secundidade ocorre
diante do enfrentamento do mundo circundante diante do momento da experiência.
A terceiridade
faz referência à mediação, representação ou generalização que possibilida a
conexão entre os elementos, de modo a formar leis, regras, hábitos ou
significados. Trata-se do modo de ser que atua proporcionado uma mediação entre
dois elementos. Ao introduzir continuidade, ordem ou interpretação, a
terceiridade proporciona a união entre a primeiridade e a secundidade. Ela é
triádica, já que envolve três elementos: dois conectados por um terceiro. Ela é
abstrata, mas presa a regras e padrões. Vinculada a significados, leis, hábitos
ou processos de aprendizado. Como exemplo temos a aprendizagem diante da
experiencia, como no caso de aprender que o fogo queima. Ao sentir o calor
(primeiridade) e tocar em uma chama (secundidade), aprendemos que o fogo queima
e criamos como regra geral “evitar o fogo” (terceiridade). Esta mediação da
experiência e criação de um novo hábito é a terceiridade. Quando associamos uma
palavra ao seu objeto por meio de uma convenção linguística, como no caso da
palavra “gato” ao devido animal correspondente, temos a terceiridade, presente
na convenção que dá significado a palavra. Um mapa (signo) conecta a cidade
real (objeto) ao entendimento do usuário (interpretante) por meio de uma
representação mediada (terceiridade). É por meio da terceiridade que a
experiência se torna significativa, e onde temos a presença de leis, símbolos
ou interpretações. É por meio da terceiridade que temos a formação de crenças e
a possibilidade da comunicação. Uma pessoa pode sentir o cheiro (primeiridade),
ver fumaça (secundidade), e concluir que há fogo, decidindo o que fazer diante
deste evento, sua conclusão se encontra dentro de um contexto de regras que
foram aprendidas no passado e é onde temos a terceiridade.
Quando diante de
uma maçã, temos a primeiridade na sensação de vermelho, pura e imediata; temos
a secundidade no ato de tocar e sentir a sua textura; temos a terceiridade ao
concluir tratar-se de uma fruta comestível, baseados em aprendizagem e
convenção social.
Ao ver uma placa
de trânsito com um triângulo vermelho, a primeiridade é a sensação do vermelho,
a secundidade é a relação com o perigo real (ex.: um buraco), e a terceiridade
é o entendimento de “parar”, mediado por convenção.
É uma relação
triádica na qual as categorias são interdependentes. primeiridade é a base
(qualidade pura), secundidade adiciona relação (interação com o mundo), e terceiridade
introduz mediação (significado ou hábito). Nenhuma categoria existe
isoladamente; elas se complementam para descrever a experiência. Na semiótica essas
categorias estruturam a teoria dos signos: Um signo (ex.: palavra “maçã”) tem
uma qualidade (primeiridade), está relacionado a um objeto (secundidade), e
produz um efeito interpretativo (terceiridade).
As categorias
conectam-se à máxima pragmática. O significado de uma crença (terceiridade)
surge de seus efeitos práticos (secundidade) a partir de qualidades
experimentadas (primeiridade).
O sabor de uma
fruta em si mesmo, enquanto algo puro e imediato é a primeiridade. A textura
crocante que ocorre diante da interação física com a fruta no ato de a morder,
é a secundidade. O entendimento que esta fruta em particular é comestível,
baseado em experiências passadas e aprendizagem, é a terceiridade, que conecta
a sensação com a interação proporcionando um significado. Temos a sensação
pura, sem contexto, a interação com o mundo real e o significado dado a
experiência.
Podemos aqui
trazer uma contribuição do Empirismo de John Locke, que estava presente no
ambiente intelectual frequentado por Peirce. A primariedade de Peirce em muito
se aproxima das qualidades primárias e qualidades secundárias de Locke. Locke
distingue entre qualidades primárias (ex.: forma) e secundárias (ex.: cor), a primeiridade
de Peirce, como a sensação de vermelho, lembra as qualidades secundárias de
Locke (ex.: cor percebida), mas se integra a um sistema triádico, unindo mente
e mundo.
A primeiridade
se aproxima da ideia de coisa (só que abstrato e não concreto), de unidade,
enquanto a secundidade se aproxima da ideia do outro, da alteridade, e que, por
sua vez, a terceiridade nos lembra a relação do um, do si mesmo, com o outro,
com a alteridade, sendo mediada pela terceiridade.
Essas categorias
fundamentam a semiótica, pois o signo reflete a primeiridade (qualidade), o
objeto a secundidade (relação), e o interpretante a terceiridade (mediação).
2- Signo,
Objeto, Interpretante - Fundamento da Semiótica
Um signo é algo
que sobre certos aspectos ou de algum modo, representa algo para alguém. Peirce
propõe uma tríade semiótica para dividir o signo em elementos que sejam
inter-relacionados: signo, objeto e interpretante. O signo é algo que
representa algo outro. O objeto é aquilo que está sendo representado pelo
signo. O interpretante é o que ocorre quando alguém processa o significado do
signo, evocando uma imagem, interpretação e compreensão sobre o que este signo
representa. O interpretante é o efeito do signo, como uma imagem mental, ação
ou hábito. Estes três elementos se encontram na base da teoria semiótica
proposta por Peirce. Esta tríade nos proporciona o entendimento de como
funcionam os signos e como é construída a comunicação, proporcionando um melhor
entendimento sobre a complexidade da linguagem.
Esta tricotomia
é fundamental dentro da semiótica proposta por Peirce, para a sua filosofia,
lógica e para o Pragmatismo, sendo desenvolvida a partir de “On a new list of categories”,
1867, e textos posteriores. Enquanto nos trabalhos posteriormente elaborados
por Saussure temos uma semiótica dual, para Peirce esta é triádica, se
apresentando como um processo no qual temos o signo, o objeto e o
interpretante. Esta mediação dada pelo interpretante torna esta semiótica mais
dinâmica e aplicável a qualquer tipo de representação, seja este dado por meio
de palavras, imagens, gestos ou pensamentos.
Nesta categoria
o signo é definido dentro de uma relação triádica. Trata-se de um processo no
qual algo (signo) representa algo outro (objeto) para uma mente
(interpretante), resultando em um dado efeito mental, prático ou hábito. Esta
categoria se apresenta como sendo a base na qual significados são elaborados e
posteriormente comunicados. O signo deve ser entendido como algo que representa
algo outro, seja uma palavra, uma imagem ou um som. O objeto deve ser entendido
como aquilo que é representado pelo signo, seja algo concreto, abstrato ou imaginário.
O interpretante deve ser entendido como sendo o efeito produzido pelo signo na
mente, que tem como consequência um dado comportamento.
Esta categoria
se vincula a anterior, deste modo, o signo está ligado à primeiridade, enquanto
qualidade da representação, o objeto está ligado à secundidade, enquanto
relação com a realidade, o interpretante está ligado à terceiridade, enquanto
mediação do significado.
O signo
mostra-se como sendo qualquer coisa que é colocada no lugar de outra diante de
uma mente (pessoa, sociedade, sistema, IA) que atua como interpretante. Pode
ser inúmeras coisas, tais como um desenho, um gesto, um som, etc. O signo se
apresenta como o veículo da representação. Ele é monádico, trata-se de ser uma
entidade que traz consigo uma qualidade (primeiridade). O signo pode ser
material (exemplo: algo escrito) ou imaterial (exemplo: um conceito mental). O
signo não atua de modo isolado, mas em uma relação que inclui o objeto e o
interpretante dentro de dado contexto, como tal é o caso de uma placa com algo
escrito, de uma fotografia ou de um dado som emitido por alguma sirene ou outra
fonte. Exemplo: Um som específico pode significar um carro da polícia pedindo
passagem para os demais motoristas no trânsito intenso, como também pode ser
diferenciado para que seja identificado que se trata de uma ambulância ou dos
bombeiros.
Dentro de um
contexto filosófico o signo mostra-se como sendo a interface inicial de dada
experiência. Ele captura uma dada qualidade ou possibilidade de algo que será
conectado a algo outro por meio de uma interpretação, ou seja, é a primeiridade
conectada ao objeto apresentando dado resultado na mente do interpretante. Uma
palavra escrita em um livro se apresenta como signo, representando algo para
quem a lê, como no caso da palavra “cão” ou da palavra “leão”, mas por si
somente não passa de um mero conjunto de rabiscos que por convenção chamamos de
letras do alfabeto.
O objeto se
mostra como sendo o que é representado pelo signo, ou seja, o referente do
signo. Pode tanto ser algo concreto como também abstrato ou imaginário.
Exemplo: uma mesa que vemos a nossa frente é algo concreto, uma ideia em nossa
mente é algo abstrato, o conceito de um unicórnio é algo que pertence ao reino
do imaginário, já que não encontra contrapartida na realidade. Temos o objeto
imediato, tal como aparece no signo, e o objeto dinâmico, que é como se
apresenta na realidade externa. O objeto é diádico, já que envolve a relação
entre o signo e o que este representa (secundidade). Não tem a necessidade de
ser algo material, podendo ser uma ideia ou conceito abstrato. Não há
necessidade de o signo representar de modo completo o objeto, podendo
representa-lo somente em algum aspecto. A palavra “fogo” enquanto signo pode
ter como objeto a chama no mundo real ou o conceito elaborado na mente. Uma
fotografia de uma árvore, enquanto signo, pode ter como seu objeto a árvore no
mundo real que fora ali representada pela fotografia. Já a palavra “liberdade”
e outras mais, enquanto signo, tem como objeto um conceito abstrato e
imaterial.
Dentro de um
contexto filosófico o objeto atua como a âncora do signo na realidade ou em um
dado conceito, apresentando uma relação factual, secundidade. Cabe ao objeto
garantir que o signo possua uma referência, mesmo que esta seja parcial ou
abstrata. Diante de uma dada palavra que represente um animal específico, o objeto
pode tanto ser este animal no mundo real, como também a ideia deste animal.
O interpretante
mostra-se como sendo o efeito produzido pelo signo na mente e no comportamento
de quem o interpretou. O interpretante é o resultado ou a ação produzida a
partir da relação do signo com o objeto. O interpretante é o que torna o signo
significativo, sendo dividido por Peirce em imediato, dinâmico e final. O
interpretante é triádico, mediando a relação entre signo e objeto e, deste modo,
produzindo significado (terceiridade). Este pode se apresentar como sendo um
pensamento, ideia, emoção, ação ou hábito. O interpretante é dinâmico, gerando
novos signos e criando uma cadeia contínua de significação. Uma placa de aviso
avistada por uma pessoa, pode gerar neste interpretante reações distintas,
pode, por exemplo, significar “perigo” ou requerer uma dada ação. Uma
fotografia da natureza pode fazer o interpretante identificar o local
fotografado ou, se maravilhar com a beleza do mesmo. Uma sirene no trânsito
pode requerer do interpretante a ação de dar passagem para determinado veículo.
Dentro de um
contexto filosófico o interpretante é o que proporciona vida ao signo e o
conecta com o Pragmatismo de Peirce. Pensemos na máxima pragmática: O
significado está nos efeitos práticos observáveis. Podemos inferir que o
significado de um dado signo se encontra nos efeitos práticos por este gerado.
Ao ler uma palavra, imaginamos seu significado e agimos de acordo, esta ação ou
pensamento diante da leitura de dada palavra é dado pelo interpretante, que faz
com que nos comportemos de acordo com o significado dado pela palavra que foi
lida.
Em suma, a
tricotomia signo, objeto e interpretante, se apresenta como a base da semiótica
desenvolvida por Peirce. Aqui o signo é definido dentro de uma relação
triádica. Pensemos na “chuva” como exemplo. Diante da palavra “chuva”, temos
que o signo é a representação por meio desta palavra. Já diante da chuva no
mundo real, o signo é o que esta palavra representa e, o interpretante é a ação
empreendida pelo fato de estar chovendo, como a possibilidade de se abrigar em
algum lugar, evitar de sair na chuva ou sair usando uma capa ou guarda-chuva,
ou seja, o signo é a palavra “chuva”, o objeto é a chuva real, e o
interpretante é a ação empreendida. Nesta estrutura temos forte vínculo com o
Pragmatismo, estando também presente no desenvolvimento da linguística e da
filosofia contemporânea, permitindo por meio dela se explicar como significados
são criados.
3- Objeto
Imediato, Objeto Dinâmico, Objeto Final - Divisão do Objeto
Esta tricotomia
detalha a natureza do objeto na relação triádica: signo, objeto e
interpretante. Por meio desta tricotomia se aprofunda o estudo de como o
“objeto” é representado e conhecido. Peirce desenvolve esta tricotomia em seus
textos maduros, sendo a mesma vital para melhor entender toda a complexidade da
referência na semiótica, proporcionando distinguir o objeto que surge no signo
(imediato), com o objeto na realidade (dinâmico) e o objeto ideal (final).
Temos aqui presente o realismo ontológico de Peirce, cuja origem se encontra em
uma leitura da Escolástica medieval. Por meio deste entendimento o mundo real
externo é aceito como existente, como algo simplesmente dado, mas Peirce
argumenta que o mesmo é mediado por signos, conectando ao Pragmatismo, que
afirma que o significado deve ser obtido dos resultados práticos. Esta
tricotomia se apresenta vinculada as duas anteriores. O objeto (secundidade)
passa a ser dividido em três distintos modos, já o signo (primeiridade) e o
intepretante (terceiridade) dependem dessa divisão para a produção de
significado. Esta análise explica como os signos se conectam a realidade, sendo
importante para a lógica e a semiótica.
O objeto
imediato é o “objeto” tal como representado no signo, aquilo que aparece
inicialmente na mente, a percepção de algo por meio do signo. Trata-se de algo
interno ao processo semiótico, limitado ao que o signo pode transmitir dentro
de determinado contexto. Não se trata da realidade externa em si mesma, mas de
uma representação parcial ou de uma perspectiva oferecida pelo signo. Ele é
monádico e está associado à primeiridade, refletindo uma qualidade imediata do
objeto captada pelo signo, sem a obrigatoriedade de corresponder ao mesmo de
modo completo. O objeto imediato representa o objeto dentro do signo, como o
mesmo é percebido ou concebido. É dependente do contexto no qual o signo se
apresenta e também da perspectiva do interpretante. Trata-se de algo funcional
para o exercício da comunicação, mesmo sendo parcial, incompleto ou distorcido.
Pensemos na
palavra “casa”. Esta atua como signo, o objeto imediato é a imagem mental de
uma casa qualquer que aparece na mente de quem a lê, mas esta imagem não é a
“casa” no mundo real, somente uma representação trazida pelo signo. Numa
fotografia de um animal, o objeto imediato é a imagem deste animal que consta
na foto, mas não o animal real que foi fotografado.
Em um contexto
filosófico, o objeto imediato se apresenta como uma representação mental do
objeto, mas fazendo conexão com uma dada realidade externa (objeto dinâmico). O
objeto imediato reflete a primeiridade, pois é a qualidade imediata (como no
caso da cor vermelha) que o signo apresenta.
O objeto
dinâmico é o objeto em sua realidade externa, no mundo real, independente da
mente ou do signo que o representa. É aquilo que existe no mundo e tem
consequências (causa e efeito - causa resistência ou efeitos factuais) neste
mundo, proporcionando resistência (secundidade). Não é algo plenamente captado
pelo signo, sendo a referência última que o signo pode tentar representar,
apesar de só o conseguir de modo parcial. Apresenta-se como diádico, vinculado à
secundidade. Nele temos a relação entre o signo e a realidade externa, sendo
que esta se apresenta como resistência ou causalidade. O objeto dinâmico existe
fora do signo e da mente, no mundo real, é uma realidade objetiva. Pode se
apresentar como concreto, abstrato ou imaginário. Uma “mesa” é algo concreto, o
conceito de “liberdade” é algo abstrato e o conceito de um animal identificado
como “unicórnio” é algo imaginário, mas baseado em convenções. O objeto
dinâmico existe no mundo real e afeta o signo por meio de interações reais,
como no caso do signo presente na palavra escrita “fogo”, que pode ter como
objeto dinâmico a chama real que pode queimar algo ou mesmo causar dor a
alguém. Uma placa de trânsito baseada em convenções que indiquem “perigo”, independentemente
de ser ou não percebida, indica um perigo real que é o objeto dinâmico.
No contexto
filosófico o objeto dinâmico reforça o realismo ontológico presente em Peirce,
que busca suas origens na Escolástica medieval, em particular no filósofo Duns
Scotus. Peirce aceita uma realidade externa dada e independente do percebedor.
O objeto dinâmico atua como âncora factual (secundidade), garantindo uma
referência real, se bem que parcial, para o signo.
O objeto final é
o objeto como é conhecido por meio de estudos mais aprofundados conduzidos por
cientistas ou/e filósofos. Este representa a verdade final sobre o que seja
este objeto, proporcionada por meio de signos e interpretantes mais refinados
dentro de um consenso de dada comunidade social. É triádico e vinculado a
terceiridade, já que envolve mediação, generalização e formação de leis /
regras / hábitos, que o aproximam do conhecimento da realidade. É um ideal
regulativo que nunca é totalmente atingido, mas serve para orientar a pesquisa.
É a representação ideal do objeto, que se baseia em todos os signos possíveis e
interpretantes refinados. Está vinculado ao Pragmatismo, no qual a verdade se
dá como sendo o limite do conhecimento obtido por meio do consenso. É mediado
por processos contínuos de significação e investigação.
Como exemplo
temos o conceito de “gravidade” dentro da ciência. O objeto imediato é o
conceito mental do que seja a gravidade, o objeto dinâmico é a força real que
faz os objetos se direcionarem para o centro da Terra, e o objeto final é o
entendimento aceito em determinado período histórico pela comunidade científica
e filosófica sobre o que seja a gravidade dentro de uma teoria unificada. Se
pensarmos na palavra “chuva”, temos que o objeto final se dá pelo conhecimento
total do fenômeno meteorológico, incluindo o ciclo completo da água, obtido
pela comunidade cientifica após muitos estudos.
No contexto filosófico
o objeto final reflete o pragmatismo presente em Peirce, pelo qual a verdade é
o que a comunidade aceita ao final de uma investigação detalhada, mesmo
prosseguindo nas investigações e podendo mudar suas convicções. Por meio do
objeto final a semiótica é conectada a lógica, já que a busca do objeto final
ocorre em um processo que envolve a abdução, dedução e indução, sendo este
processo mediado por meio de signos.
4- Qualisigno,
Sinsigno, Legisigno - Natureza do Signo
Esta tricotomia
busca classificar a natureza intrínseca do signo na relação triádica: signo,
objeto, interpretante. O foco se dá em como o signo existe por si mesmo, de
modo independente de sua relação com o objeto e o interpretante. Esta
tricotomia é desenvolvida em textos maduros deste filósofo, sendo central na
semiótica, já que por meio dela o signo é definido em termos de sua
materialidade ou modo de ser: qualidade abstrata (qualisigno), ocorrência
concreta (sinsigno), regra geral (legisigno). Esta tricotomia se vincula as
anteriores, em particular à primeiridade, secundidade e terceiridade. O signo,
anteriormente vinculado à primeiridade, passa a ser analisado por seus modos de
existência. Trata-se de importante classificação para a lógica e a semiótica,
já que explica como distintos tipos de signos atuam na construção do
significado, passando por sensações puras até convenções sociais. Nesta
tricotomia vamos desde qualidades puras (qualisigno), ocorrências concretas (sinsigno)
até convenções gerais (legisigno).
Estes nomes, a
princípio estranhos, foram criados por Peirce por meio da combinação de raízes
latinas e gregas visando refletir nestes termos as propriedades filosóficas dos
signos, alinhadas as suas categorias universais (primeiridade, secundidade,
terceiridade). Se bem que pareçam estranhos, tais termos são precisos e exatos.
“Qualisigno” é derivado do latim “qualis” (qualidade) e “signum” (signo),
fazendo referência à primeiridade, já que o signo é uma qualidade pura, independentemente
de qualquer contexto ou de possuir existência concreta, como tal é o caso da
cor vermelha enquanto uma qualidade abstrata, antes de ser vinculada a um dado
objeto. “Sinsigno” provém do latim “sins” (raíz de Semel, - uma vez) e
“signum”, indicando à secundidade, já que o signo é uma ocorrência singular, um
evento ou objeto específico no tempo e espaço, como, por exemplo: uma pegada na
areia, que se apresenta como sendo um signo único. “Legisigno” provém do latim
“lex”, “legis” (lei) e signum, estando relacionado a terceiridade já que o
signo é uma regra ou convenção geral, aplicável a múltiplos contextos, como,
por exemplo, a palavra “leão”, enquanto convenção linguística. A escolha e
fabricação destes termos por Peirce se deu objetivando evitar ambiguidades de
vocabulário comum, buscando o fabrico de uma terminologia técnica que reflete
sua filosofia categorial. O estranho aparente nestes nomes decorre da
necessidade da criação de nomes específicos para conceitos novos, distintos de
usos cotidianos, e da influência dada pela formação de Peirce, em lógica
escolástica e filologia.
O qualisigno se
apresenta como sendo um signo que existe enquanto qualidade pura, abstrata e
independente de sua materialização ou do contexto. É monádico e vinculado à
primeiridade, sendo uma possibilidade de significação que independe de um dado
objeto específico ou de uma instância concreta. É o signo em seu estado mais
elementar, se apresentando como uma sensação ou ideia isolada, antes de sua
associação com algo externo. O qualisigno existe enquanto qualidade intrínseca,
sem referência a um dado objeto ou interpretante. Não é materializado em um
evento ou objeto específico, atuando somente como uma possibilidade. Para se
manifestar concretamente precisa de outra forma de signo, como, por exemplo, o
sinsigno. Como exemplo temos a cor vermelha em si mesma, sem fazer referência a
um objeto em particular. Trata-se, neste caso, da sensação pura do vermelho evocada
em distintos contextos, sem estar vinculada a uma maçã, a um carro, a uma capa
de livro ou a qualquer outro objeto vermelho. Também podemos vislumbrar o
qualisigno no som dado por um trovão, sem fazer referência à tempestade que se
aproxima, considerando o mesmo somente como uma qualidade sonora. No contexto
filosófico reflete a primeiridade, já que é a experiência imediata e potencial,
se assemelhando as qualidades secundárias de Locke (por exemplo, a cor que é
percebida). É a base para outros signos, mas não atua sozinho na semiótica.
Sinsigno é um
signo que existe como algo singular, um evento ou objeto concreto em um dado
tempo e lugar específico. É diádico, vinculado a secundidade e é um signo que
se apresenta como uma instância única, conectada a uma realidade factual. O
sinsigno depende de sua existência material ou contextual para significar
alguma coisa. É um signo individual, vinculado a um dado evento ou objeto. Está
vinculado a uma relação factual de causa e efeito com o mundo. Pode incorporar
qualisignos, como, por exemplo, uma dada qualidade como a presente na cor
vermelha em um determinado objeto. Como exemplo podemos pensar em uma pegada de
um animal na areia. A pegada é um sinsigno, já que é um signo singular que
aponta para a passagem de um específico animal em um determinado tempo e lugar.
Um sinsigno também pode ser encontrado em um grito de “socorro” ou de
“cuidado”, enquanto ocorrência única que direciona para um evento real, no
caso, uma situação de perigo eminente. No contexto filosófico o sinsigno
reflete a secundidade, já que está ancorado na realidade factual, semelhante a
primeira tricotomia, quando falamos na resistência de um objeto. O sinsignno
conecta o signo ao objeto dinâmico, representando o mesmo dentro de um
específico contexto.
O legisigno é um
signo que existe como uma regra, lei ou convenção. Ele é aplicável em distintos
contextos. Se apresenta como sendo triádico, vinculado a terceiridade. Este
signo atua por meio de padrões ou hábitos já estabelecidos, como no caso de
palavras ou símbolos culturais. O legisigno depende de uma comunidade ou
sistema para sua significação. Trata-se de um signo geral, que é baseado em
convenções ou leis que ultrapassam instâncias individuais. Para o legisigno se
manifestar há necessidade de réplicas (instâncias concretas, como sinsignos). O
legisigno media a relação entre signo e interpretante por meio de hábitos ou
regras. Como exemplo podemos pensar na palavra “leão”, a qual é um legisigno,
já que a mesma se dá por meio de uma convenção linguística que permite que esta
represente o conceito de um animal específico dentro de qualquer contexto que
possa ser dado. Cada uso que fazemos de uma palavra, seja este uso escrito ou
falado, é uma réplica, ou seja, sinsigno. Um dado sinal de trânsito é um
legisigno, pois sua forma e cor estão de acordo com dada convenção social
visando indicar uma determinada situação, como, por exemplo, “atenção” ou
“perigo”, que pode estar presente em placas de trânsito colocadas na via. Ou
uma bandeira nacional, que simboliza um país por convenção. No contexto
filosófico o legisigno reflete a terceiridade, já que envolve mediação e
generalização, como ocorre diante da formação de hábitos presentes na primeira
dicotomia. O legisigno conecta o signo ao interpretante por meio de convenções,
reforçando o pragmatismo, no qual o significado se encontra nos efeitos
práticos e coletivos.
5- Ícone,
Índice, Símbolo - Relação com o Objeto
A tricotomia ícone,
índice, símbolo classifica o signo com base em sua relação com o objeto na
tríade semiótica signo, objeto, interpretante, focando em como o signo
representa o objeto, tendo sido desenvolvida em textos maduros de Peirce.
Trata-se de uma das mais conhecidas tricotomias desenvolvidas por Peirce em sua
semiótica. Esta tricotomia define o signo por sua semelhança (ícone), conexão
causal ou factual (índice) e convenção arbitrária (símbolo). Esta classificação
se mostra importante dentro da semiótica ao explicar como os signos comunicam
significados por meio de diferentes modos de representação (imagens visuais,
palavras).
Segundo o
pensamento de Peirce, há três tipos básicos de signos, ou categorias
principais, (ou representamen): ícone, índice e símbolo. O ícone se apresenta
enquanto uma imagem direta do objeto por ele representado, tal como uma
fotografia de um dado objeto. Pode representar o objeto por semelhança visual,
estrutural ou qualitativa. Por ser uma representação direta do objeto, não
necessita de uma anterior convenção ou interpretação. O índice possui uma
relação causal ou de contiguidade com o objeto por ele representado. Faz
referência a dado objeto por meio de uma conexão física ou temporal, como tal é
o caso da fumaça indicando que há fogo ali naquele local. Já o símbolo faz sua
representação doobjeto por meio de
alguma convenção ou prévio acordo social, portanto, o símbolo não possui uma
relação direta ou imediata com o objeto que este representa, sua vinculação a
este objeto em particular se dá por meio de um sistema de significados que são
compartilhados pelo grupo, como tal é o caso da palavra “laranja” que se mostra
como um símbolo para representar dada fruta e diferencia-la de outras frutas,
mas em coisa alguma se assemelha a fruta que representa.
Para Peirce o
signo possui três propriedades que lhe são essenciais: iconidade,
indexicalidade e simbolicidade. A inconidade é a capacidade deste representar
algo outro, seja por meio da semelhança ou da similidade, tal é o caso de uma
fotografia diante do objeto fotografado. Esta capacidade permite que um dado
signo seja reconhecido e interpretado a partir de suas características visuais
ou sensoriais. A indexicalidade nos aponta para a relação existente entre o
signo e o objeto por este representado, como tal é o caso de algum instrumento
de medida (como um termômetro indicando a temperatura) que nos permita inferir
uma relação entre a leitura que dele fazemos e a realidade por ele medida. Por
meio da indexicalidade o signo se apresenta como uma ferramenta útil que nos
permite fazer inferências sobre a realidade. Já a simbolicidade trata da
relação existente entre o signo e o seu significado quando esta é convencionada
pelo grupo, como tal é o caso das palavras em dada língua e dos números na
matemática. O significado inferido pela simbolicidade é convencional, social e
cultural, permitindo o uso abstrato dos símbolos e a comunicação entre o grupo
social de suas ideias e conceitos, por mais elaborados e complexos que estes
sejam. Os signos mostram-se como uma ferramenta usada para a representação e
interpretação da realidade.
O ícone se
apresenta como sendo um signo que representa o objeto por meio da semelhança ou
analogia, independentemente de uma conexão factual ou convenção. Ele é monádico
e está vinculado a primeiridade. O signo imita ou reproduz características do
objeto, tal como ocorre em uma imagem ou diagrama. Atua por meio de qualidade
intrínseca que compartilha com o objeto que representa, de modo a evoca-lo
imediatamente a nossa percepção. O ícone representa o objeto por meio de
semelhança visual, estrutural ou qualitativa. Não é necessário que haja
qualquer conexão física ou causal com o referido objeto representado, se apresentando
como uma possibilidade de significação. É frequente sua associação com
qualisignos, já que depende de qualidades (forma, cor, etc.). Como exemplo
podemos ter uma pintura feita de uma árvore, já que esta imita a aparência da
árvore, evocando na mente a sua forma sem necessitar de uma conexão com a
árvore real. Também podemos pensar em um mapa geográfico, pois, este representa
a disposição de um território por semelhança estrutural. No contexto filosófico
o ícone reflete a primeiridade, já que atua por meio da qualidade imediata de
semelhança, parecido com o que ocorre com as qualidades secundárias de Locke
(exemplo: cor percebida). O ícone é a base para representações visuais ou
conceituais na semiótica.
O índice é um
signo que representa seu objeto por meio de uma conexão factual, causal ou
física. Observamos a presença do índice em uma relação causal (causa e efeito)
ou de proximidade. Ele é diádico, vinculado à secundidade. O índice aponta para
um objeto por meio de uma relação real no mundo, semelhante a um sinal de algo
presente ou que tenha ocorrido. O índice depende de uma conexão direta com o
objeto, como ocorre na causalidade, contiguidade ou apontamento. Por se
manifestar em ocorrências singulares, frequentemente é um sinsigno. O índice
evoca o objeto dinâmico em virtude de sua relação factual e não por semelhança
ou convenção.Como exemplo, podemos
pensar na fumaça como um indicador da presença do fogo, já que a fumaça é
efeito natural do fogo, apontando para a sua presença. A passagem de um animal
por determinado lugar pode ser indicada pelas pegadas deixadas na areia, as
quais atuam como índice. No contexto filosófico o índice reflete a secundidade,
já que ancorado na realidade externa, semelhante a resistência de um objeto na
primeira tricotomia. O índice conecta o signo ao objeto dinâmico, reforçando
sua factualidade.
O símbolo é um
signo que atua representando um objeto por meio de convenção social, hábito ou
regra, não havendo necessidade de semelhança ou conexão causal entre símbolo e
objeto representado. É triádico, estando vinculado à terceiridade. O símbolo
necessita de um prévio acordo social ou cultural para algo significar. Podemos
observar o signo nas palavras, na escrita, nos signos abstratos. Por atuar por
meio de convenções gerais, o símbolo geralmente é um legisigno. Sua
representação do objeto se dá de modo arbitrário, sendo definido por uma dada e
específica comunidade. O símbolo necessita de um interpretante visando mediar a
relação que este mantém com o objeto que representa. Esta relação com o objeto
se dá por meio de hábitos, regras, leis, convenções sociais. O símbolo é o tipo
de signo mais comum na linguagem e na comunicação. Todas as palavras de uma
dada língua se apresentam como sendo símbolos, já que definidas por meio de
convenção social, não havendo semelhança ou conexão física com aquilo que
representam, tal é o caso de: “leão”, “cão”, “gato”, etc. A bandeira nacional
de um país também é um símbolo, já que representa uma unidade nacional, onde
temos um povo, cultura, língua, história, e, detalhe, não há entre o símbolo
“bandeira nacional” e tudo que ela possa representar, uma ligação por
semelhança. No contexto filosófico o símbolo reflete a terceiridade, já que
envolve mediação e generalização, do memo modo como temos a formação de hábitos
na primeira tricotomia. O símbolo alinha-se ao Pragmatismo, já que o
significado de algo está nos efeitos práticos mediados por meio de uma
convenção, como tal é o caso do símbolo gráfico “árvore”, que faz referência a
uma dada planta no mundo real.
A tricotomia ícone,
índice, símbolo aprofunda a relação entre o signo e o objeto da segunda
tricotomia (signo, objeto, interpretante) e se alinha à primeira (primeiridade,
secundidade, terceiridade) e à quarta (qualisigno, sinsigno, legisigno).
Se pensarmos na
tricotomia primeiridade, secundidade, terceiridade, temos que oícone (primeiridade), representa por
semelhança, uma qualidade potencial; já o índice (secundidade), representa por
conexão factual, uma relação real; e o símbolo (terceiridade), representa por
convenção, uma mediação geral.
Se pensarmos na
tricotomia signo, objeto, interpretante, temos que o ícone evoca o objeto imediato
por semelhança (ex.: pintura de uma árvore); o índice aponta para o objeto dinâmico
por conexão factual (ex.: fumaça indicando fogo); o símbolo gera um
interpretante por convenção, conectando-se ao objeto final (ex.: “árvore” como
conceito consensual).
Se pensarmos na
tricotomia qualisigno, sinsigno, legisigno, temos que o ícone é frequentemente
um qualisigno, pois depende de qualidades (ex.: forma em um desenho); o índice
é tipicamente um sinsigno, pois é uma ocorrência singular (ex.: pegada); o símbolo
é geralmente um legisigno, pois é uma convenção geral (ex.: palavra “árvore”).
A tricotomia
reforça o realismo de Peirce, onde signos (ex.: índices) conectam-se à
realidade externa (objeto dinâmico) e símbolos mediam o conhecimento (objeto final)
via convenções. O símbolo, em particular, alinha-se à máxima pragmática, pois o
significado de um signo (ex.: “árvore”) está nos efeitos práticos (ex.:
reconhecer uma planta) mediados por hábitos sociais. Esta classificação é
essencial para a lógica de Peirce, já que define como signos estruturam o
raciocínio (ex.: ícones em abdução, índices em observações empíricas, símbolos
em deduções). Esta tricotomia mostra-se como fundamental para entender a
linguagem, a ciência e a cultura, pois explica como signos operam em diferentes
contextos (ex.: arte, observação científica, comunicação).
6- Rema,
Dicente, Argumento - Relação com o Interpretante
A tricotomia
rema, dicente e argumento classifica o signo com base na relação com o
interpretante na tríade semiótica signo, objeto e interpretante. O foco se dá
no tipo de efeito ou significado produzido pelo signo no interpretante. Esta
tríade é desenvolvida nos textos maduros de Peirce. Ela examina o modo como o
signo produz uma representação mental ou ação no interpretante. Este exame se
dá enquanto possibilidade qualitativa (rema), afirmação factual (dicente) e
conclusão lógica (argumento). Esta tricotomia encontra-se vinculada às
categorias primeiridade, secundidade e terceiridade, complementando as
tricotomias anteriores, em particular signo, objeto e interpretante, e também
ícone, índice e símbolo, detalhando o papel exercido pelo interpretante na
construção do significado. Trata-se de uma classificação muito importante para
a lógica e a semiótica, já que por meio dela é explicado como os signos
orientam o pensamento ou o comportamento, isto desde as sensações mais vagas
até os raciocínios mais complexos.
Peirce criou os
termos rema, dicente e argumento com raízes latinas e gregas para refletir a
natureza do interpretante, alinhando-se às suas categorias filosóficas. Rema é
um termo derivado do grego rhema (“palavra” ou “termo”), sugere uma unidade
mínima de significação, ligada à primeiridade, pois evoca uma possibilidade
qualitativa no interpretante. Dicente é um termo proveniente do latim dicens
(“dizendo”) e indica uma afirmação ou proposição factual, ligada à secundidade,
pois comunica uma relação real com o objeto. Argumento é um termo proveniente
do latim argumentum (“prova” ou “raciocínio”) e reflete a terceiridade, pois
envolve um raciocínio lógico ou conclusão mediada por regras. Esses termos,
embora técnicos, são precisos, refletindo a progressão do interpretante de uma
sensação inicial a um raciocínio estruturado, consistente com a lógica
escolástica e a semiótica de Peirce.
Rema é um signo
que produz no interpretante uma representação qualitativa ou possibilidade
vaga, sem, no entanto, afirmar alguma coisa específica sobre o objeto. É
monádica, vinculada à primeiridade. Rema é um signo que evoca uma dada ideia ou
sensação isolada. Aqui podemos ter um termo ou uma imagem que sugira algo, sem
apresentar uma relação factual ou lógica. A rema produz um interpretante com
base nas qualidades ou possibilidades, mas sem compromisso com verdade ou
factualidade. É frequente a sua associação com qualisignos ou ícones, já que
depende de qualidades, tais como a cor ou a forma. Temos aqui o signo em seu
estado mais elementar de significado, evocando uma ideia aberta. Podemos pensar
na palavra “vermelho” isolada e sem contexto algum, aí teremos um rema, já que
evoca a qualidade de vermelho no interpretante, no entanto, não afirma qualquer
coisa sobre dado objeto. Se olharmos para uma mancha vermelha em um quadro,
esta se apresenta como rema, já que sugere uma dada sensação ou possibilidade
(exemplo: calor, perigo), sem apresentar alguma relação definida. No contexto
filosófico o rema reflete a primeiridade, já que é uma possibilidade de
significação semelhante as qualidades puras presentes no qualisigno, sendo a
base para interpretações mais complexas e semiótica.
O dicente é um
signo que produz no interpretante uma representação factual ao afirmar algo
sobre o objeto a partir de uma relação real. É diádico e vinculado à
secundidade. Ele comunica uma proposição ou informação que conecta o signo ao
objeto dinâmico, como uma afirmação verdadeira ou falsa. O dicente produz um
interpretante que afirma uma relação factual que ocorre entre o signo e o
objeto. Por depender de conexões factuais é com frequência associado a índices
ou sinsignos. Evoca uma interpretação concreta, representando o objeto como
sendo uma realidade existente. Pensemos na frase: “Está saindo muita fumaça daquela
chaminé”. Ora, aqui temos um dicente, já que esta frase afirma a presença de um
índice, a fumaça, conectada a um evento real, o fogo que produziu a fumaça.
Também encontramos um dicente em uma seta de direção posicionada em uma via
pública, pois, esta aponta uma direção a seguir no mundo real. No contexto
filosófico o dicente reflete a secundidade, já que está ancorado na realidade
externa, semelhante à resistência factual da primeira tricotomia. O dicente
conecta o signo ao objeto dinâmico, dando ênfase à factualidade.
O argumento é um
signo que produz no interpretante uma representação lógica. Trata-se aqui de
uma conclusão ou raciocínio que tem como base regras ou hábitos. O argumento é
triádico e está vinculado à terceiridade, envolvendo uma mediação complexa.
Atua como um silogismo ou lei geral, guiando o interpretante em direção a uma
compreensão estruturada. Por meio dele temos um interpretante que infere uma
conclusão lógica ou que segue uma regra geral. O argumento em geral é vinculado
a símbolos ou legisignos, já que depende de convenções ou sistemas lógicos. Apresenta-se
como sendo o signo mais complexo, tendo como papel orientar o pensamento ou
ação por meio do raciocínio. Pensemos em um silogismo, este é um argumento, já
que conduz o interpretante a uma dada conclusão lógica por meio de regras, como
tal é o caso do silogismo: “Todos os homens são mortais; Sócrates é homem;
logo, Sócrates é mortal”. Se pensarmos em uma frase que sugira uma determinada
ação baseada em uma lei, regra ou hábito que seja condicional, temos um
argumento, como tal é o caso da frase: “Se está chovendo, leve um
guarda-chuva”. Dentro do contexto filosófico reflete a terceiridade, já que
envolve a mediação e generalização como a formação de hábitos presente na
primeira tricotomia. Alinha-se ao Pragmatismo, onde encontramos o significado
junto aos efeitos práticos mediados por regras, como tal é o caso de agir com
base em uma dada conclusão que é a sequência lógica de um determinado
raciocínio.
A tricotomia rema,
dicente, argumento aprofunda a relação entre o signo e o interpretante da
segunda tricotomia (signo, objeto, interpretante) e se alinha às demais.Rema (primeiridade), evoca uma
possibilidade qualitativa no interpretante. Dicente (secundidade), afirma uma relação
factual com o objeto. Argumento (terceiridade), produz uma conclusão lógica por
mediação. Já no tocante ao signo, objeto, interpretante, temos que o rema gera
um interpretante qualitativo, ligado ao objeto imediato (ex.: ideia de
“vermelho”). O dicente gera um interpretante factual, ligado ao objeto dinâmico
(ex.: “fumaça indica fogo”). O argumento gera um interpretante lógico, ligado
ao objeto final (ex.: silogismo sobre Sócrates). No tocante à tricotomia qualisigno,
sinsigno, legisigno temos que o rema é frequentemente um qualisigno, pois
depende de qualidades (ex.: vermelhidão). O dicente é tipicamente um sinsigno,
pois é uma ocorrência singular (ex.: frase sobre fumaça). O argumento é
geralmente um legisigno, pois opera por convenções gerais (ex.: silogismo). No
tocante ao ícone, índice, símbolo temos que o rema está associado a ícones,
pois evoca qualidades (ex.: mancha vermelha). O dicente está ligado a índices,
pois afirma fatos (ex.: fumaça). O argumento está conectado a símbolos, pois
usa convenções lógicas (ex.: silogismo).
A tricotomia
reforça o realismo de Peirce, onde signos (ex.: dicentes) conectam-se à
realidade externa (objeto dinâmico), e argumentos mediam o conhecimento (objeto
final) via regras lógicas. O argumento, em particular, alinha-se à máxima
pragmática, pois o significado (ex.: “leve um guarda-chuva”) está nos efeitos
práticos (ex.: ação baseada em raciocínio) mediados por hábitos. A
classificação é essencial para a lógica de Peirce, pois define como signos
estruturam o raciocínio, desde sensações (rema) até proposições (dicente) e
conclusões (argumento). A tricotomia é fundamental para entender o raciocínio,
a comunicação e a ciência, explicando como signos orientam desde sensações até
argumentos complexos.
7- Dez Classes de
Signos - Combinação das Classificações Primárias
Esta seção
sintetiza as tricotomias semióticas de Peirce, combinando as três principais
classificações do signo — qualisigno, sinsigno, legisigno (natureza do signo,
quarta tricotomia), ícone, índice, símbolo (relação com o objeto, quinta
tricotomia) e rema, dicente, argumento (relação com o interpretante, sexta
tricotomia) — para formar dez classes distintas de signos. Desenvolvida nos
textos maduros de Peirce, essa classificação integra as categorias primeiridade,
secundidade e terceiridade em um sistema complexo que descreve como signos
funcionam em diferentes contextos, desde qualidades abstratas até raciocínios
lógicos. Essa síntese é fundamental para a lógica e a semiótica, pois demonstra
como os signos operam de maneira interdependente, conectando qualidades, fatos
e convenções para estruturar o pensamento e a comunicação.
Peirce propôs
que as três tricotomias primárias podem ser combinadas, mas com restrições
lógicas baseadas em suas categorias. Primeiridade (qualidade, possibilidade)
implica que um qualisigno (primeiridade) só pode ser um ícone (primeiridade) e
um rema (primeiridade). Secundidade (factualidade, relação) implica que um
sinsigno (secundidade) pode ser um ícone ou índice, mas não um símbolo
(terceiridade), e pode ser um rema ou dicente, mas não um argumento
(terceiridade). Terceiridade (generalidade, convenção) permite que um legisigno
(terceiridade) seja qualquer tipo de signo nas outras tricotomias (ícone,
índice, símbolo; rema, dicente, argumento).
Essas restrições
resultam em dez classes de signos, cada uma combinando um elemento de cada
tricotomia, respeitando a hierarquia categorial.
As dez classes
são:
1- Qualisigno-ícone-rema
2- Sinsigno-ícone-rema
3- Sinsigno-índice-rema
4- Sinsigno-índice-dicente
5- Legisigno-ícone-rema
6- Legisigno-índice-rema
7- Legisigno-índice-dicente
8- Legisigno-símbolo-rema
9- Legisigno-símbolo-dicente
10- Legisigno-símbolo-argumento
Explicação das
Dez Classes:
1- Qualisigno-ícone-rema:
Um signo que é uma qualidade abstrata (qualisigno), representa por semelhança
(ícone) e evoca uma possibilidade qualitativa no interpretante (rema). É
puramente monádico, ligado à primeiridade. Como exemplo temos a sensação de
vermelhidão em si, sem contexto, é um qualisigno-ícone-rema, pois é uma
qualidade (vermelho), semelhante a si mesma, que evoca uma ideia vaga (ex.:
calor). Reflete a primeiridade em todas as dimensões, sendo o signo mais
elementar.
2- Sinsigno-ícone-rema:
Um signo que é uma ocorrência singular (sinsigno), representa por semelhança
(ícone) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina secundidade
(existência concreta) com primeiridade (semelhança, possibilidade). Como
exemplo temos uma mancha vermelha em um quadro, esta é um sinsigno-ícone-rema, pois
é um evento singular (sinsigno), semelhante a uma qualidade (ícone), que sugere
uma sensação vaga (rema). Liga a factualidade de um evento à possibilidade
qualitativa.
3- Sinsigno-índice-rema:
Um signo que é uma ocorrência singular (sinsigno), representa por conexão
factual (índice) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina
secundidade (factualidade) com primeiridade (possibilidade). Como exemplo temos
uma pegada na areia, esta é um sinsigno-índice-rema, pois é um evento singular
(sinsigno), indica um animal por conexão física (índice) e evoca uma ideia
vaga, como “algo passou aqui” (rema). Conecta a realidade factual a uma
interpretação aberta.
4- Sinsigno-índice-dicente:
Um signo que é uma ocorrência singular (sinsigno), representa por conexão
factual (índice) e afirma algo factual no interpretante (dicente). É diádico,
ligado à secundidade. Como exemplo temos a frase “A fumaça está saindo da
chaminé”, que é um sinsigno-índice-dicente, pois é um evento singular
(sinsigno), indica fogo por conexão causal (índice) e afirma um fato (dicente).
Reflete a secundidade, conectando o signo à realidade externa.
5- Legisigno-ícone-rema:
Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por semelhança
(ícone) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina terceiridade
(convenção) com primeiridade (semelhança, possibilidade). Como exemplo temos um
diagrama geométrico, como um triângulo desenhado, é um legisigno-ícone-rema,
pois é uma convenção (legisigno), representa por semelhança (ícone) e evoca uma
ideia qualitativa (rema). Liga convenções gerais a interpretações abertas.
6- Legisigno-índice-rema:
Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por conexão factual
(índice) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina terceiridade
(convenção) com secundidade (factualidade) e primeiridade (possibilidade). Como
exemplo temos um sinal de trânsito de “curva à frente”, que é um
legisigno-índice-rema, pois é uma convenção (legisigno), indica uma condição
real (índice) e sugere uma possibilidade vaga, como “cuidado” (rema). Conecta
convenções a indicações factuais e interpretações abertas.
7- Legisigno-índice-dicente:
Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por conexão factual
(índice) e afirma algo factual (dicente). Combina terceiridade (convenção) com
secundidade (factualidade). Como exemplo temos um termômetro com escala, que é
um legisigno-índice-dicente, pois é uma convenção (legisigno), indica
temperatura por conexão factual (índice) e afirma um fato, como “está 30°C”
(dicente). Liga convenções a afirmações factuais.
8- Legisigno-símbolo-rema:
Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por convenção
arbitrária (símbolo) e evoca uma possibilidade qualitativa (rema). Combina
terceiridade em todas as dimensões, mas com um interpretante aberto. Como
exemplo temos a palavra “liberdade”, que é um legisigno-símbolo-rema, pois é
uma convenção (legisigno), representa por acordo social (símbolo) e evoca uma
ideia vaga (rema). Liga convenções a interpretações qualitativas.
9- Legisigno-símbolo-dicente:
Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por convenção
arbitrária (símbolo) e afirma algo factual (dicente). Combina terceiridade
(convenção, símbolo) com secundidade (factualidade no interpretante). Como
exemplo temos a frase “O sol está brilhando”, que é um
legisigno-símbolo-dicente, pois usa palavras convencionais (legisigno, símbolo)
para afirmar um fato (dicente). Conecta convenções linguísticas a proposições
factuais.
10- Legisigno-símbolo-argumento:
Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por convenção
arbitrária (símbolo) e produz uma conclusão lógica (argumento). É triádico,
ligado à terceiridade em todas as dimensões. Como exemplo temos o silogismo “Todos
os homens são mortais; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal”, que é um
legisigno-símbolo-argumento, pois usa convenções lógicas (legisigno, símbolo)
para gerar uma conclusão (argumento). Reflete a terceiridade, estruturando o
raciocínio lógico.
As dez classes
integram as tricotomias primárias, respeitando a hierarquia categorial.
Primeiridade, secundidade,
terceiridade: As classes refletem a progressão de possibilidades qualitativas
(ex.: qualisigno-ícone-rema) a relações factuais (ex.: sinsigno-índice-dicente)
e generalizações lógicas (ex.: legisigno-símbolo-argumento).
Qualisigno, sinsigno,
legisigno: Determina a natureza do signo (qualidade, ocorrência, convenção).
Ícone, Índice,
Símbolo: Define a relação com o objeto (semelhança, conexão factual,
convenção).
Rema, dicente, argumento:
Especifica o efeito no interpretante (possibilidade, fato, lógica).
Signo, objeto, interpretante:
As classes conectam o signo ao objeto imediato (ex.: rema), objeto dinâmico
(ex.: dicente) ou objeto final (ex.: argumento).
No contexto
filosófico as dez classes reforçam o realismo de Peirce, conectando signos à
realidade externa (ex.: sinsigno-índice-dicente) e ao conhecimento mediado por
convenções (ex.: legisigno-símbolo-argumento). O Pragmatismo mostra-se presente,
especialmente nas classes com argumentos, onde o significado está nos efeitos
práticos (ex.: agir com base em um silogismo), mediados por hábitos e
convenções. A classificação é central para a lógica de Peirce, pois mostra como
signos estruturam o raciocínio em abdução (ex.: rema), indução (ex.: dicente) e
dedução (ex.: argumento).
Essa seção é de
suma importância para a seção maior, “lógica e semiótica”, pois sintetiza as
tricotomias anteriores, demonstrando a complexidade da semiótica de Peirce.
Peirce avança além da lógica tradicional ao integrar múltiplas dimensões do
signo, conectando semiótica, epistemologia e lógica. As dez classes explicam
como signos operam em contextos diversos (arte, ciência, linguagem), oferecendo
uma visão abrangente do pensamento humano.
8- Sessenta e
Seis Classes de Signos - Expansão Avançada das Classificações
Esta seção
representa o ápice da semiótica de Peirce, expandindo as dez classes de signos
(sétima seção) ao incorporar todas as dez tricotomias descritas em seus textos
maduros em um sistema abrangente. Essa classificação combina as tricotomias
primárias (qualisigno, sinsigno, legisigno; ícone, índice, símbolo; rema,
dicente, argumento) com as tricotomias secundárias relacionadas ao objeto
(imediato e dinâmico) e ao interpretante (imediato, dinâmico, final), além de
outras divisões mais complexas. O resultado é um sistema de 66 classes de
signos, que reflete a complexidade das interações semióticas, conectando
qualidades, fatos, convenções, e os diferentes níveis de representação e
interpretação. Essa expansão, apesar de ser um desafio, mostra-se como sendo de
suma importância para a lógica e a semiótica, pois oferece uma análise
detalhada de como signos operam em contextos variados, desde sensações
elementares até processos cognitivos avançados, mantendo a estrutura categorial
de primeiridade, secundidade e terceiridade. Peirce transcende a lógica
tradicional ao criar um sistema semiótico que conecta epistemologia, ontologia
e lógica, antecipando análises modernas de linguagem e cognição. As 66 classes
oferecem uma ferramenta para analisar signos em contextos complexos (ex.: arte,
ciência, filosofia), revelando a profundidade do pensamento humano.
As classes
integram as tricotomias, conectando o signo ao objeto imediato (ex.: rema),
dinâmico (ex.: dicente) e final (ex.: argumento), detalhando a natureza do
signo, sua relação com o objeto e o efeito no interpretante. Filosoficamente,
reforçam o realismo de Peirce, ligando signos à realidade externa (ex.:
sinsigno-índice) e ao conhecimento mediado (ex.: legisigno-símbolo). No Pragmatismo,
o significado está nos efeitos práticos, como ações baseadas em argumentos. A
seção é central para a lógica, estruturando o raciocínio em abdução, indução e
dedução, e explica signos em contextos como arte, ciência e filosofia.
No contexto
filosófico as 66 classes reforçam o realismo de Peirce, conectando signos à
realidade externa (ex.: sinsigno-índice-dicente-concretivo) e ao conhecimento
mediado por leis gerais (ex.: legisigno-símbolo-argumento-coletivo). Classes
com argumentos e interpretantes finais (ex.: significativo, imperativo)
alinham-se à máxima pragmática, onde o significado está nos efeitos práticos
(ex.: agir com base em um silogismo). A expansão detalha como signos estruturam
o raciocínio em abdução (ex.: rema-hipotético), indução (ex.:
dicente-categórico) e dedução (ex.: argumento-significativo), abrangendo desde
percepções até sistemas científicos.
Peirce
desenvolveu as 66 classes ao combinar dez tricotomias, cada uma com três
categorias, teoricamente permitindo “3 elevado a 10”, ou seja, 59.049
combinações. No entanto, restrições lógicas baseadas em suas categorias
(primeiridade, secundidade, terceiridade) reduzem as combinações viáveis a 66
classes.
As restrições
lógicas seguem a hierarquia categorial:
Um signo de
primeiridade (ex.: qualisigno) só combina com categorias de primeiridade (ex.:
ícone, rema).
Um signo de
secundidade (ex.: sinsigno) pode combinar com primeiridade ou secundidade, mas
não terceiridade (ex.: não pode ser argumento).
Um signo de
terceiridade (ex.: legisigno) pode combinar com qualquer categoria.
Essa lógica
reduz as combinações a 66 classes, cada uma representada por uma combinação
específica (ex.: qualisigno-ícone-rema-abstrativo-hipotético).
Alguns exemplos
de classes, cobrindo diferentes níveis categóricos, com explicações e exemplos
práticos:
1-
Qualisigno-ícone-rema-abstrativo-hipotético: Um signo que é uma qualidade
abstrata (qualisigno), representa por semelhança (ícone), evoca uma
possibilidade qualitativa (rema), apresenta o objeto como uma qualidade
abstrata (abstrativo) e gera uma ideia hipotética (hipotético). É puramente
monádico, ligado à primeiridade. Como exemplo temos a sensação de “vermelhidão”
em si, sem contexto, é um qualisigno-ícone-rema-abstrativo-hipotético, pois é
uma qualidade (qualisigno), semelhante a si mesma (ícone), evoca uma
possibilidade vaga (rema), representa uma ideia abstrata de vermelho
(abstrativo) e sugere uma hipótese, como “parece calor” (hipotético). Representa
a primeiridade em todas as dimensões, sendo o signo mais elementar.
2-
Sinsigno-índice-dicente-concretivo-chocante: Um signo que é uma ocorrência
singular (sinsigno), representa por conexão factual (índice), afirma um fato
(dicente), apresenta o objeto como uma entidade concreta (concretivo) e gera um
efeito impactante (chocante). Combina secundidade com elementos de primeiridade
e terceiridade. Como exemplo temos um trovão súbito, que é um
sinsigno-índice-dicente-concretivo-chocante, pois é um evento singular
(sinsigno), indica uma tempestade (índice), afirma a presença da tempestade
(dicente), representa a tempestade como um evento real (concretivo) e provoca
um choque ou alerta (chocante). Conecta factualidade a efeitos imediatos e
concretos.
3- Legisigno-símbolo-argumento-coletivo-significativo:
Um signo que é uma convenção geral (legisigno), representa por convenção
arbitrária (símbolo), produz uma conclusão lógica (argumento), apresenta o
objeto como uma generalização (coletivo) e visa um significado estruturado
(significativo). É triádico, ligado à terceiridade. Como exemplo temos o
silogismo “Todos os homens são mortais; Sócrates é homem; logo, Sócrates é
mortal” é um legisigno-símbolo-argumento-coletivo-significativo, pois usa
convenções lógicas (legisigno, símbolo), gera uma conclusão (argumento),
representa uma lei geral sobre humanos (coletivo) e estabelece um significado
lógico (significativo). Reflete a terceiridade, estruturando o raciocínio
complexo.
As tricotomias
são:
1- Natureza do
signo: qualisigno, sinsigno, legisigno (quarta tricotomia, primeiridade a
terceiridade).
2- Relação com o
objeto: ícone, índice, símbolo (quinta tricotomia, primeiridade a
terceiridade).
3- Relação com o
interpretante: rema, dicente, argumento (sexta tricotomia, primeiridade a
terceiridade).
4- Modo do
objeto imediato: descritivo, designativo, copulativo (especifica como o objeto
é apresentado no signo).
5- Modo do
objeto dinâmico: abstrativo, concretivo, coletivo (reflete a natureza da
realidade externa representada).
6- Modo do
interpretante imediato: hipotético, categórico, relativo (tipo de ideia inicial
gerada).
7- Modo do
interpretante dinâmico: simpático, chocante, usual (efeito emocional ou prático
no interpretante).
8- Modo do
interpretante final: gratificante, imperativo, significativo (propósito final
do signo).
9- Relação com o
objeto dinâmico: possível, factual, habitual (natureza da conexão com a
realidade).
10- Relação com
o interpretante final: sugestivo, imperativo, indicativo (efeito final no
comportamento ou raciocínio).
As 66 classes
expandem as dez classes (sétima seção) ao incluir tricotomias secundárias,
mantendo a hierarquia categorial:
1- Primeiridade,
Secundidade, Terceiridade: As classes variam de signos puramente qualitativos
(ex.: qualisigno-ícone-rema) a factuais (ex.: sinsigno-índice-dicente) e
lógicos (ex.: legisigno-símbolo-argumento).
2- Qualisigno,
Sinsigno, Legisigno: Define a natureza do signo, com qualisignos restritos a
primeiridade, sinsignos a secundidade e legisignos a terceiridade.
3- Ícone,
Índice, Símbolo: Especifica a relação com o objeto, com ícones ligados a
semelhança, índices a fatos e símbolos a convenções.
4- Rema,
Dicente, Argumento: Determina o efeito no interpretante, de possibilidades a
conclusões.
5- Objeto Imediato
e Dinâmico: As tricotomias do objeto (descritivo/designativo/copulativo;
abstrativo/concretivo/coletivo) detalham como o signo representa a realidade
externa.
6- Interpretante
Imediato, Dinâmico, Final: As tricotomias do interpretante (hipotético/categórico/relativo;
simpático/chocante/usual;gratificante/imperativo/significativo) descrevem os efeitos cognitivos e
práticos.
9- Interpretante
Imediato, Interpretante Dinâmico, Interpretante Final - Divisão do
Interpretante
Esta divisão
presente na lógica semiótica de Peirce detalha como o signo produz efeitos no
intérprete, conectando-o ao objeto representado. O foco desta tricotomia é a
relação entre o signo e o interpretante, ou seja, o efeito mental ou prático
que o signo gera naquele que o interpreta. Esta tricotomia se mostra alinhada à
categoria de primeiridade, secundidade e terceiridade, conectando a semiótica
ao pragmatismo e realismo.
O interpretante
é o componente da tríade semiótica (signo, objeto, interpretante) que
representa o efeito do signo no intérprete, seja uma ideia, emoção, ação ou
hábito. Peirce divide o interpretante em três tipos, cada um associado a uma
categoria.
Interpretante
Imediato (primeiridade): É o efeito inicial ou potencial do signo, a primeira
impressão ou possibilidade interpretativa que ele evoca, independentemente de
contexto ou experiência. É a ideia abstrata ou qualidade que o signo sugere “em
si mesmo”, antes de qualquer análise ou interação com a realidade. É monádico,
ligado à possibilidade, à vagueza e à qualidade intrínseca do signo. Está
contido no signo como sua capacidade de ser interpretado. Como exemplo podemos
pensar que ao ver a cor vermelha em uma pintura, o interpretante imediato é a
sensação abstrata de “vermelhidão” ou a ideia vaga de “calor” que ela evoca,
sem referência a um objeto específico.
Interpretante
Dinâmico (secundidade): É o efeito atual e concreto do signo em um contexto
específico, resultante da interação do signo com o objeto e o intérprete em uma
situação particular. É o impacto real, emocional ou prático, que o signo produz
em um momento dado. É diádico, ligado à factualidade, à experiência direta e à
relação com a realidade externa. Varia conforme o contexto e o intérprete. Como
exemplo podemos pensar que, ao ouvir um trovão, o interpretante dinâmico é a
reação imediata de susto ou a percepção de que “uma tempestade está próxima”,
conectada a um evento real.
Interpretante
Final (terceiridade): É o efeito último ou ideal do signo, o significado
estabilizado que ele produziria em um processo interpretativo completo, mediado
por convenções, hábitos ou leis gerais. Representa o entendimento ou
comportamento que o signo tende a gerar em uma comunidade interpretativa ao
longo do tempo. É triádico, ligado à generalidade, à lógica e à formação de
hábitos. Reflete o propósito final do signo em estruturar o raciocínio ou a
ação. Como exemplo podemos pensar que, diante do silogismo “Todos os homens são
mortais; Sócrates é homem; logo, Sócrates é mortal”, o interpretante final é a
conclusão lógica aceita como verdadeira, que pode guiar ações ou crenças (ex.:
aceitar a mortalidade humana como um princípio geral).
A tricotomia do
interpretante (imediato, dinâmico, final) está presente nas 66 classes de
signos (oitava seção) como parte das tricotomias secundárias (especificamente,
tricotomias 6, 7 e 8: interpretante imediato [hipotético, categórico,
relativo], interpretante dinâmico [simpático, chocante, usual], interpretante
final [gratificante, imperativo, significativo]).
Relação com
Rema, Dicente, Argumento (sexta tricotomia): Rema (primeiridade): Está
associado ao interpretante imediato, pois evoca uma possibilidade qualitativa
(ex.: a ideia vaga de “calor” ao ver vermelho). Dicente (secundidade): Está
ligado ao interpretante dinâmico, pois afirma um fato em um contexto específico
(ex.: a percepção de uma tempestade ao ouvir um trovão). Argumento
(terceiridade): Corresponde ao interpretante final, pois produz uma conclusão
lógica mediada por convenções (ex.: a aceitação de um silogismo como
verdadeiro).
Relação com
Qualisigno, Sinsigno, Legisigno (quarta tricotomia): Qualisigno: Restrito ao
interpretante imediato, devido à sua natureza qualitativa e monádica (ex.:
vermelhidão evoca uma sensação abstrata). Sinsigno: Pode gerar interpretantes
imediatos ou dinâmicos, mas não finais, devido à sua ligação com factualidade
(ex.: trovão provoca susto ou percepção de tempestade). Legisigno: Pode gerar
todos os tipos de interpretantes, incluindo o final, por sua natureza
convencional (ex.: silogismo estabelece um significado lógico).
Relação com
Ícone, Índice, Símbolo (quinta tricotomia): Ícone: Frequentemente associado ao
interpretante imediato, por sua semelhança qualitativa (ex.: uma pintura evoca
uma sensação inicial). Índice: Ligado ao interpretante dinâmico, por sua
conexão factual com a realidade externa (ex.: trovão indica um evento real).
Símbolo: Relacionado ao interpretante final, por sua dependência de convenções
e generalizações (ex.: silogismo depende de regras lógicas).
Relação com o
Objeto Imediato e Dinâmico (tricotomias 4 e 5): O interpretante imediato está
ligado ao objeto imediato (a representação do objeto no signo, ex.: a ideia de
vermelho na pintura). O interpretante dinâmico conecta-se ao objeto dinâmico (a
realidade externa, ex.: a tempestade real indicada pelo trovão). O
interpretante final reflete o objeto final, o significado estabilizado em uma
comunidade (ex.: a lei geral da mortalidade no silogismo).
No contexto
filosófico temos que o interpretante dinâmico conecta o signo à realidade
externa (ex.: trovão indica uma tempestade real), enquanto o interpretante
final estabelece verdades gerais mediadas por hábitos (ex.: aceitação de um
silogismo), alinhando-se ao realismo de Peirce, que postula a existência de
“reais” independentes da mente, mas acessíveis via signos. A máxima pragmática
(“o significado de um signo está em seus efeitos práticos”) é evidente no
interpretante final, que define o significado por ações ou hábitos resultantes
(ex.: agir com base na mortalidade de Sócrates). O interpretante dinâmico
reflete efeitos práticos imediatos (ex.: reagir ao trovão), enquanto o imediato
sugere possibilidades para ação futura. A divisão estrutura o raciocínio em
abdução (interpretante imediato, gerando hipóteses, ex.: “parece calor”),
indução (interpretante dinâmico, confirmando fatos, ex.: “tempestade está
próxima”), e dedução (interpretante final, estabelecendo conclusões, ex.:
“Sócrates é mortal”). Isso conecta a semiótica à epistemologia, mostrando como
signos estruturam o conhecimento.
Aqui Peirce
inova ao deslocar o foco da semiótica para o processo interpretativo,
antecipando teorias modernas de significado e comunicação. A tricotomia explica
como signos geram significado em contextos variados (ex.: arte, ciência,
filosofia), oferecendo uma ferramenta para analisar processos cognitivos e
culturais.
Pensemos como
exemplo no tocante ao interpretante imediato, que uma pessoa vê uma pintura abstrata
com tons de azul. O interpretante imediato é a sensação de “calma” ou “frio”
evocada pelo azul, uma possibilidade qualitativa sem referência a um objeto
específico. Reflete primeiridade. Classe: Qualisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo.
Agora, no
tocante ao Interpretante Dinâmico, podemos pensar que uma pessoa vê fumaça
saindo de uma casa. O interpretante dinâmico é a percepção imediata de “fogo”
ou a ação de chamar os bombeiros, um efeito concreto ligado à realidade
externa. Reflete secundidade. Classe: Sinsigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-chocante-gratificante-factual-sugestivo.
Já em relação ao
Interpretante Final, podemos pensar como exemplo que um cientista usa a equação
“E=mc²” para calcular energia. O interpretante final é o entendimento
estabilizado da relação entre energia e massa, guiando experimentos ou teorias,
mediado por convenções científicas. Reflete terceiridade. Classe: Legisigno-símbolo-argumento-copulativo-coletivo-relativo-usual-significativo-habitual-indicativo.
A seção
Interpretante Imediato, Interpretante Dinâmico, Interpretante Final explica a
tricotomia do interpretante, detalhando como signos geram efeitos no
intérprete, desde impressões qualitativas até significados estabilizados.
A tricotomia
abstrativo, concretivo, coletivo,quinta das dez tricotomias das 66
classes, foca no modo do objeto dinâmico, ou seja, a maneira como o signo
representa a realidade externa. Diferentemente das tricotomias anteriores, que
abordam a natureza do signo (ex.: qualisigno, sinsigno, legisigno), sua relação
com o objeto (ex.: ícone, índice, símbolo), ou o efeito no interpretante (ex.:
rema, dicente, argumento), esta tricotomia examina a natureza da realidade
representada pelo signo, seja como uma qualidade abstrata, uma entidade
concreta, ou uma generalização. Alinhada às categorias de primeiridade,
secundidade e terceiridade, ela conecta a semiótica ao realismo e pragmatismo
de Peirce, revelando como signos estruturam a relação entre o pensamento e o
mundo externo. Essa divisão é essencial para a lógica e a semiótica, pois
detalha como signos representam diferentes aspectos da realidade, desde
qualidades isoladas até leis gerais, com aplicações em contextos como arte,
ciência e filosofia.
A tricotomia
abstrativo, concretivo e coletivo se apresenta como segue. Abstrativo
(primeiridade): Representa o objeto dinâmico como uma qualidade abstrata, como
a “calma” evocada por tons de azul em uma pintura, sem referência a eventos
específicos. É monádico, ligado à possibilidade. Concretivo (secundidade):
Representa o objeto dinâmico como um evento concreto, como um incêndio indicado
por fumaça saindo de uma casa, ligado à realidade externa. É diádico, ligado à
factualidade. Coletivo (terceiridade): Representa o objeto dinâmico como uma
lei geral, como a relação entre energia e massa na equação “E=mc²”, mediada por
convenções. É triádico, ligado à generalidade.
Esta categoria
encontra-se presente nas 66 classes da quinta tricotomia, e se relaciona com a
mesma como expomos a seguir:
qualisigno,
sinsigno, legisigno: Qualisignos são abstrativos (ex.: azul evoca calma);
sinsignos, abstrativos ou concretivos (ex.: fumaça indica incêndio);
legisignos, todos (ex.: equação como lei).
interpretante
imediato, dinâmico, final: Abstrativo liga-se ao imediato (ex.: calma);
concretivo, ao dinâmico (ex.: incêndio); coletivo, ao final (ex.: lei da
energia).
Filosoficamente,
o concretivo conecta o signo à realidade externa (ex.: fumaça indica incêndio),
enquanto o coletivo estabelece leis gerais (ex.: equação como lei),
alinhando-se ao realismo. No pragmatismo, o significado está nos efeitos
práticos, como ações do concretivo (ex.: chamar bombeiros) ou hábitos do
coletivo (ex.: experimentos baseados em “E=mc²”). A tricotomia estrutura o
raciocínio em abdução (abstrativo, hipóteses, ex.: calma), indução (concretivo,
fatos, ex.: incêndio), e dedução (coletivo, conclusões, ex.: lei da energia).
Para a seção lógica e semiótica, é fundamental, detalhando como signos representam
a realidade, complementando as tricotomias anteriores. Peirce inova ao
categorizar a representação em qualidades, fatos e leis, antecipando análises
modernas de cognição e representação, aplicáveis a arte, ciência e filosofia.
O objeto
dinâmico é a realidade externa que o signo representa, distinta do objeto
imediato (a representação do objeto no signo). A tricotomia abstrativo,
concretivo, coletivo descreve como o signo se relaciona com essa realidade:
Signo Abstrativo
(primeiridade): Representa o objeto dinâmico como uma qualidade abstrata ou
possibilidade, independente de instâncias concretas ou contextos específicos.
Foca em uma característica isolada, sem referência a eventos ou generalizações.
É monádico, ligado à possibilidade, à vagueza e à qualidade intrínseca. Está
associado à primeiridade, evocando uma ideia pura ou sensação. Como exemplo
temos a sensação de “calma” evocada por tons de azul em uma pintura abstrata
representa o objeto dinâmico como uma qualidade abstrata (a “calmaria” em si), sem
conexão com um evento ou lei específica.
Signo Concretivo
(secundidade): Representa o objeto dinâmico como uma entidade ou evento
concreto, um fato singular situado no tempo e espaço. Reflete uma conexão
direta com a realidade externa em um contexto específico. É diádico, ligado à
factualidade, à experiência direta e à existência concreta. Está associado à
secundidade, indicando algo que “é” no mundo real. Como exemplo temos a fumaça
saindo de uma casa representa o objeto dinâmico como um evento concreto (um
incêndio real), ligado a uma situação específica.
Signo Coletivo (terceiridade):
Representa o objeto dinâmico como uma generalização, lei ou conceito universal,
mediado por convenções ou hábitos. Reflete a realidade como um padrão ou
relação geral, aplicável a múltiplas instâncias. É triádico, ligado à
generalidade, à lógica e à formação de hábitos. Está associado à terceiridade,
estruturando o conhecimento em termos de leis ou princípios. Como exemplo temos
a equação “E=mc²” representa o objeto dinâmico como uma lei geral (a relação
entre energia e massa), válida universalmente e mediada por convenções
científicas.
A tricotomia
abstrativo, concretivo, coletivo (quinta tricotomia) está integrada às 66
classes de signos (oitava seção) e interage com as outras tricotomias:
Relação com
Qualisigno, Sinsigno, Legisigno (quarta tricotomia): Qualisigno: Restrito ao
modo abstrativo, por sua natureza qualitativa e monádica (ex.: azul evoca a
qualidade abstrata de calma). Sinsigno: Pode ser abstrativo ou concretivo, mas
não coletivo, devido à sua ligação com factualidade singular (ex.: fumaça
representa um evento concreto). Legisigno: Pode ser abstrativo, concretivo ou
coletivo, por sua natureza convencional, que permite generalizações (ex.:
equação representa uma lei geral).
Relação com
Ícone, Índice, Símbolo (quinta tricotomia): Ícone: Frequentemente abstrativo,
por representar qualidades por semelhança (ex.: azul evoca calma por semelhança
com tranquilidade). Índice: Tipicamente concretivo, por indicar eventos reais
(ex.: fumaça aponta para um incêndio concreto). Símbolo: Frequentemente
coletivo, por depender de convenções que expressam leis gerais (ex.: equação
“E=mc²” simboliza uma lei universal).
Relação com
Rema, Dicente, Argumento (sexta tricotomia): Rema: Está associado ao
abstrativo, por evocar possibilidades qualitativas (ex.: calma do azul como uma
ideia vaga). Dicente: Está ligado ao concretivo, por afirmar fatos específicos
(ex.: fumaça indica um incêndio real). Argumento: Está associado ao coletivo,
por produzir conclusões gerais (ex.: equação estabelece uma lei científica).
Relação com o
Interpretante (tricotomias 6-8: imediato, dinâmico, final):Abstrativo: Liga-se ao interpretante
imediato (ex.: azul evoca a possibilidade de calma).Concretivo: Liga-se ao interpretante
dinâmico (ex.: fumaça gera a percepção ou ação relacionada a um incêndio).
Coletivo: Liga-se ao interpretante final (ex.: equação estabiliza o
entendimento de uma lei geral).
Relação com o
Objeto Imediato (quarta tricotomia: descritivo, designativo, copulativo):
Abstrativo: Associa-se ao objeto imediato descritivo, que apresenta qualidades
(ex.: azul como representação de calma). Concretivo: Associa-se ao objeto
imediato designativo, que aponta para algo específico (ex.: fumaça designa um
incêndio). Coletivo: Associa-se ao objeto imediato copulativo, que conecta
ideias gerais (ex.: equação conecta energia e massa).
No contexto filosófico
a tricotomia abstrativo, concretivo, coletivo reforça os pilares filosóficos de
Peirce no seu realismo de origem Escolástica, no Pragmatismo e na lógica e
semiótica. O signo concretivo conecta diretamente o signo à realidade externa
(ex.: fumaça indica um incêndio real), enquanto o signo coletivo representa
realidades gerais (ex.: equação como lei universal), alinhando-se ao realismo
de Peirce, que defende a existência de “reais” acessíveis via signos. A máxima
pragmática (“o significado de um signo está em seus efeitos práticos”) é
evidente no signo concretivo, que gera ações imediatas (ex.: chamar bombeiros),
e no signo coletivo, que guia ações por hábitos ou leis (ex.: experimentos
baseados em “E=mc²”). O signo abstrativo sugere possibilidades para ação futura
(ex.: calma evocada por azul). A tricotomia estrutura o raciocínio em abdução
(abstrativo, gerando hipóteses, ex.: “parece calma”), indução (concretivo,
confirmando fatos, ex.: “há um incêndio”), e dedução (coletivo, estabelecendo
conclusões, ex.: “energia equivale a massa”). Isso conecta a semiótica à
epistemologia, mostrando como signos organizam o conhecimento.
Fundamental para
a seção lógica e semiótica, pois detalha como signos representam a realidade
externa, complementando as tricotomias anteriores (ex.: interpretante, objeto
imediato). Peirce inova ao categorizar a representação da realidade em termos
de qualidades, fatos e leis, antecipando análises modernas de representação e
cognição. A tricotomia oferece uma ferramenta para analisar signos em contextos
variados (ex.: arte, ciência, filosofia), revelando como o pensamento humano
estrutura a relação com o mundo.
Podemos pensar
em alguns exemplos para melhor ilustrar esta tricotomia.
Signo
Abstrativo:
Cenário: Uma
pessoa vê tons de azul em uma pintura abstrata. Efeito: O objeto dinâmico é
representado como a qualidade abstrata de “calma”, sem referência a um evento
específico. Reflete primeiridade. Classe de Signo:
qualisigno-ícone-rema-descritivo-abstrativo-hipotético-simpático-gratificante-possível-sugestivo.
Signo
Concretivo:
Cenário: Uma
pessoa vê fumaça saindo de uma casa. Efeito: O objeto dinâmico é representado
como um evento concreto (um incêndio real), situado no tempo e espaço. Reflete
secundidade. Classe de Signo:
sinsigno-índice-dicente-descritivo-concretivo-categórico-chocante-gratificante-factual-sugestivo.
Signo Coletivo:
Cenário: Um cientista usa a equação “E=mc²”
para calcular energia. Efeito: O objeto dinâmico é representado como uma lei
geral (a relação entre energia e massa), mediada por convenções científicas.
Reflete terceiridade. Classe de Signo:
legisigno-símbolo-argumento-copulativo-coletivo-relativo-usual-significativo-habitual-indicativo.
4- Conclusão
Charles Sanders
Peirce, com sua mente brilhante, um polímata contemporâneo, deixou um legado
que transcende as barreiras disciplinares, moldando a filosofia, a lógica e a
semiótica com contribuições que continuam a exercer influência no desenvolvimento
do pensamento nos dias atuais. Influenciado por pensadores como Kant, cujo
conceito de “pragmatisch” inspirou seu pragmatismo, e Duns Scotus, cuja
escolástica se fez notar no seu realismo ontológico, Peirce construiu um
sistema filosófico robusto, integrando também ideias do empirismo britânico de
Locke, Bentham, Mill e Stuart-Mill. Por sua vez, influenciou decisivamente
filósofos como William James e John Dewey, que desenvolveram o Pragmatismo, e
antecipou debates em linguística (Saussure, Eco), filosofia analítica (Quine) e
teorias da cognição e comunicação. Sua concepção do Pragmatismo, centrada na
máxima de que o significado reside nos efeitos práticos, revolucionou a compreensão
da verdade e da ação humana, enquanto sua semiótica, com suas tricotomias
intricadas, ofereceu uma ferramenta poderosa para analisar a construção do
significado em contextos diversos, da ciência à linguagem cotidiana. Apesar das
dificuldades pessoais que o levaram à marginalização e à pobreza, sua obra,
publicada majoritariamente de forma póstuma, revelou-se um marco na filosofia
americana e mundial. As categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade,
vinculadas à sua teoria dos signos, proporcionam um sistema filosófico que liga
mente, realidade e significado, antecipando debates posteriores e atuais em
linguística, epistemologia e cognição. Peirce não apenas fundou o Pragmatismo e
a semiótica contemporânea, mas também demonstrou como o pensamento humano,
mediado por signos, pode estruturar a experiência e orientar a ação prática,
deixando um convite à reflexão contínua sobre como compreendemos e interagimos
com o mundo.
ALGUMAS DE SUAS
PRINCIPAIS OBRAS
1- On a New List
of Categories. Título em Português: Sobre uma Nova Lista de Categorias. Data da
Primeira Publicação: 1867.
Publicado nos
Proceedings of the American Academy of Arts and Sciences, este artigo apresenta
as categorias fenomenológicas de Peirce (primeiridade, secundidade e terceiridade)
que formam a base de sua filosofia e semiótica. Neste artigo, Perce propõe uma
nova estrutura para entender a experiência humana, influenciando diretamente
sua teoria dos signos. Texto fundamental para compreender o arcabouço
filosófico de Peirce.
2- The Fixation
of Belief. Título em Português: A Fixação da Crença. Data da Primeira
Publicação: 1877.
Originalmente
foi publicado na Popular Science Monthly, o presente texto faz parte de uma
série sobre lógica e pragmatismo. Nele o autor argumenta como as crenças são
formadas e fixadas, comparando métodos como tenacidade, autoridade, gosto e
ciência. É introduzida a ideia de que a ciência, baseada na dúvida e na
investigação, é o método mais confiável, lançando as bases do pragmatismo.
Texto fundamental para entender sua filosofia prática.
3- How to Make
Our Ideas Clear. Título em Português: Como Tornar Nossas Ideias Claras. Data da
Primeira Publicação: 1878.
Artigo publicado
na Popular Science Monthly, nele desenvolve a máxima pragmática que afirma que
o significado de um conceito está nos seus efeitos práticos observáveis. É um
texto central do pragmatismo, explicando como clarificar ideias por meio de
suas consequências práticas, com forte conexão à semiótica (especialmente ao
conceito de interpretante). É acessível e
amplamente citado.
4- A Neglected Argument for the Reality of God. Título em
Português: Um Argumento Negligenciado para a Realidade de Deus. Data da
Primeira Publicação: 1908.
Publicado no
Hibbert Journal, este artigo apresenta o conceito de abdução (raciocínio
hipotético) aplicado à crença em Deus. Peirce argumenta que a ideia de Deus
surge como uma hipótese natural da mente humana, conectando sua lógica à
metafísica. Embora menos central para a semiótica, ilustra sua abordagem
interdisciplinar e o uso da abdução, relevante para a lógica.
5- Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Título em
Português: Papéis Coletados de Charles Sanders Peirce. Data da Primeira
Publicação: 1931-1958 (póstuma, em 8 volumes).
Coletânea
póstuma, editada por Charles Hartshorne, Paul Weiss e outros, reúne os
manuscritos, artigos e anotações de Peirce. Abrange sua semiótica, pragmatismo,
lógica, fenomenologia e metafísica, incluindo textos sobre as tricotomias
semióticas e categorias fenomenológicas. É a principal fonte para estudar
Peirce, embora sua organização seja complexa devido à natureza fragmentada de
seus escritos.
6- Writings of Charles S. Peirce: A Chronological
Edition. Título
em Português: Escritos de Charles S. Peirce: Uma Edição Cronológica. Data da
Primeira Publicação: 1982 (início da publicação, com 8 volumes lançados até
agora, 2025, de um total de 30 projetados).
Organizada pelo
Peirce Edition Project (Indiana University-Purdue University Indianapolis, com
colaboração da University of Quebec at Montreal), esta edição cronológica é a
mais completa coleção dos trabalhos de Peirce, incluindo textos publicados e
cerca de 80.000 páginas de manuscritos inéditos. Abrange sua filosofia,
semiótica, lógica, pragmatismo e ciências, com notas editoriais detalhadas e
uma linha do tempo da evolução de seu pensamento. Até 2025, os volumes 1 a 6 e
8 (1857-1892) e o volume 7 (sobre o Century Dictionary) foram publicados, com o
projeto ainda em andamento. É essencial para estudos acadêmicos sobre Peirce.