Por: Silvério
da Costa Oliveira.
Pensei em ocupar
os três reinos, animal, vegetal e mineral, mas por fim optei por destacar o
arco-íris no lugar do terceiro elemento simbólico em virtude da força do
símbolo no tocante ao que me proponho a aqui explicar. E devo lembrar também
que para alguns há a lenda de que no final do arco-íris encontra-se um pote de
ouro (mineral), bem, no nosso caso faremos alusão a esta fortuna adjetivando
nosso arco-íris como sendo cor de rosa. Claro esta também que existem nomes
técnicos para alguns dos quadros clínicos que irei abordar aqui, como, por
exemplo, psicopatia ou sociopatia, no entanto, pretendo discorrer de forma mais
alegre e menos técnica sobre pessoas com as quais todos nós convivemos no nosso
dia-a-dia, mesmo que nem sempre percebamos as nuances mais sutis de seu
comportamento.
Pensemos aqui
o termo camaleão de modo semelhante ao adotado pela cultura popular quando esta
utiliza o termo em referência a camuflagem e mudança de cor de tais animais,
adaptando-se e confundindo-se com o meio, tornando-os menos visíveis, como uma
característica de algumas pessoas, as quais seriam percebidas socialmente como
pessoas volúveis e maleáveis no tocante ao seu comportamento e a facilidade de
adaptá-lo ao ambiente no qual transitam. Tal termo pode ter uma conotação
negativa, assemelhando-se a falsidade, ou uma conotação positiva,
assemelhando-se a flexibilidade, de qualquer modo, este termo está presente
coloquialmente em linguagem figurada visando adjetivar qualidades de algumas
pessoas. O camaleão humano é um especialista em se confundir com a paisagem,
qualquer que seja a paisagem.
O camaleão, figurativamente
falando, também pode ser visto como um predador humano, um predador social, que
sabe se disfarçar de modo a que as demais pessoas não percebam suas verdadeiras
intenções. Camaleões humanos mudam sua cor para se adaptarem a ambientes ou
situações, estratégia que os ajuda a passarem despercebidos e poderem agir
impunemente. Estamos diante de um caçador, de um predador em busca de sua presa
e se não ficarmos atentos seremos nós a vítima. Sua aparente inocência pode
esconder grande agressividade.
Camaleões são
predadores de pequenos insetos e camaleões humanos são predadores de outros
humanos. Eu sou profissional naquilo que faço, o camaleão humano também, só que
ele é profissional da enganação, esta é a grande diferença, enquanto os demais
profissionais querem mostrar pela sua boa imagem o que de fato são, este busca
mostrar quem não é por meio de uma falsa imagem que esconda sua verdadeira
natureza, atividade e interesses. Tais pessoas são muito boas em fingirem ser o
que de fato não são, por sua vez, as pessoas em geral, mesmo profissionais
como, por exemplo, psicólogos e policiais, não são muito boas em perceber de
fato quando alguém está mentindo, mesmo acreditando que são capazes de o
fazerem. As pessoas procuram monstros horríveis e não cordeiros encantadores e
o camaleão sabe ser o que bem quiser na hora em que assim o desejar. Pior ainda
se levarmos em consideração que a grande maioria das pessoas acredita piamente
que o comportamento privado pode ser previsto a partir do comportamento
demonstrado publicamente, o que é um ledo engano do qual o camaleão sempre se
aproveita.
Gentileza e
simpatia na dose certa e quando necessário for irão muito bem encobrir uma
outra esfera não tão agradável de ser observada. Camaleões quando querem
possuem uma capacidade natural de demonstrarem publicamente que são pessoas
sedutoras, agradáveis, sinceras e honestas, atraindo para si a confiança e por
vezes paixão das demais pessoas. As pessoas esquecem ou simplesmente não sabem
que gentileza não é um traço de caráter e sim uma decisão consciente que pode
ser usada para manipular o comportamento de outras pessoas.
Não somente no
sentido criminoso podemos entender tais seres, pois os mesmos estão presentes
mesmo nas mais inocentes interações sociais. Um bom exemplo histórico para um
camaleão social, se formos buscar uma contribuição na Grécia antiga, seria o
general e também estadista Alcebíades, cuja influência perpassou vários
Estados, cada qual a sua vez, começando pela cidade Estado Atenas, depois
Esparta, em seguida a Pérsia e por fim retornando a Atenas, sempre agraciado
pelos seus concidadãos nas cidades onde esteve.
No camaleão
humano encontramos o mero prazer da enganação pela enganação e não pelo medo de
ser pego sendo o que de fato é, pois a enganação torna-se não somente
lucrativa, mas também prazerosa. Nosso camaleão humano é um predador social,
mas não necessariamente um criminoso ou algo semelhante. Pode ser alguém
estritamente dentro dos padrões das leis vigentes naquele momento histórico no
Estado no qual vive, o que tem maior relevância aqui é que seu interesse
primário se dá consigo próprio, não havendo qualquer outra consideração com
outras pessoas que venha a ocupar um lugar de primazia sobre si-próprio. Em
geral o camaleão humano, quando não adentra em atividade puramente ilegais,
tende a prosperar e ser bem sucedido e admirado pelos que com ele convivem. Camaleões
humanos não sentem remorsos ou preocupação genuína e desapegada por outras
pessoas, nem se intimidam diante da possibilidade de sofrerem conseqüências
danosas decorrentes de seus atos.
Altamente
manipulares, charmosos e sedutores, atraem para si, se assim desejarem, a
companhia de pessoas interessantes e socialmente valorizadas. Mesmo aqueles que
são por eles enganados e ludibriados, por vezes ainda sentem a sua falta, pois
sua presença era importante em suas
vidas, proporcionando-lhes excitação e alegrias. Um camaleão humano não se
sente culpado se sua camuflagem nos engana e por meio da mesma tira de nós
alguma vantagem, em verdade, o sentimento aqui não é de culpa ou remorso e sim
de orgulho pela bela camuflagem que resultou em um perfeito engano para o
inseto que foi sua refeição. Tais pessoas podem produzir temor se assim o
desejarem, mas em geral fabricam encantamento nas demais pessoas. Não se trata
de um vilão e sim de um sedutor camaleão que com seu encanto arrebata a todos,
mesmo aos que trai em sua inocência e credulidade.
Camaleões
humanos sabem perfeitamente identificar arco-íris cor de rosa humanos como suas
potenciais vítimas e grandes carvalhos como lugar de inspiração e abrigo de
tempestades sociais. Sabem bem separar o metal sem valor do metal nobre e
valorizado. O camaleão precisa saber com que lida, para saber quem ele próprio
será naquela situação social. O camaleão sabe estudar suas presas e usar de
camuflagem para tornar-se igual ao que as pessoas com quem venha a conviver
gostariam de ter como amigo durante sua infância ou adolescência, busca as
carências e crenças e se adapta às mesmas vindo a preenchê-las como a pessoa
ideal que nós sempre quisemos como amigo.
Podemos também
pensar que algumas pessoas se assemelham a um carvalho, árvore tida como
símbolo da vida e da evolução em direção a patamares mais elevados. Nos lembra
a teoria proposta pelo psicólogo Alfred Adler, na qual o inferior luta em
direção a superação de suas inferioridades, tornando seus pontos mais fracos
nos mais fortes. A planta do carvalho pode nascer pequena, indefesa e
vulnerável, mas com o passar dos anos se torna em um grande, forte e vigoroso
carvalho. O grande filósofo Sócrates foi um carvalho humano e como ele, muitos
outros, alguns famosos, outros anônimos.
Carvalhos
humanos não se curvam facilmente diante de um vendaval, continuam altivos e
firmes em seus postos lutando pelo que acreditam ser a verdade e os valores que
aceitam como justos. Carvalhos não abandonam o que fazem para meramente salvar
suas próprias vidas, pois acreditam que antes precisam salvar seus ideais, fugir
não faz parte de sua rotina de vida. Com calma e resistência, deixam claro a
todos que não irão desistir, independente do ataque que possam vir a sofrer.
Carvalhos um dia terão sua história contada, senão por outro motivo, pela
bravura na perseverança em seus ideais.
Um velho
carvalho sabe tudo sobre camaleões e arco-íris cor de rosa, bem poderia ser um
ou outro se o quisesse e por vezes se questiona se não seria melhor ser um
arco-íris cor de rosa humano do que um velho carvalho bem preso as suas raízes,
aos seus ideais e formação. Sabe bem que poderia ser um camaleão, mas escolhe
ser um carvalho e do alto de suas ramagens vê o embuste da camuflagem do
camaleão.
Algumas
pessoas se fossem se metamorfosear em algo, este algo seria um arco-íris cor de
rosa, pois, lembro que o arco-íris é no contexto bíblico do Antigo Testamento o
símbolo da promessa de deus, Javé, de que não ocorreriam outros dilúvios.
Arco-íris cor de rosa humanos são pessoas que querem ver a bondade no mundo,
sentido e significado nas coisas aleatórias, em verdade, trata-se aqui da
maioria das pessoas com suas crenças em um mundo ordenado por meio de uma
vontade superior e que buscam um sentido em deus ou em uma divindade superior
para explicar mesmo as coisas que carecem de sentido e são totalmente
indiferentes à bondade ou maldade, ao que você faz ou deixa de fazer, a quem
você é ou foi nesta vida.
Algumas
pessoas parecem colocar lentes cor de rosa, pois vêem o mundo somente por um
prisma que exclui a maldade e em todos conseguem ver bondade e amizade,
tornando-se vítimas potenciais de predadores astutos. Algumas pessoas de fato
escolhem acreditar que há bondade em todos a sua volta. O mundo no qual vivemos
tem a ver com nossas crenças, de fato, nossas crenças determinam o mundo no
qual vivemos e podem ser usadas facilmente contra nós. O irônico da questão é
que pensamentos positivos e otimismo nos fazem mais felizes e tornam nossa vida
física e emocionalmente melhor, no entanto, simultaneamente nos proporcionam
maior facilidade para sermos vítimas de predadores de todos os tipos que tendem
a se aproveitar de nossa inocência e de nosso desejo de não querer ver a
crueldade grotesca presente em algumas pessoas. Ser otimista e ter pensamentos
positivos nos tornam mais saudáveis e felizes e disto não há dúvidas, mas
simultaneamente nos tornam também mais vulneráveis.
Todas estas
pessoas vivem em um mesmo mundo? Apesar de fisicamente o mundo ser o mesmo para
todos, cada qual vive no mundo pertencente ao conjunto de seus saberes e
crenças. O mundo percebido por um camaleão humano não será de modo algum
idêntico ao percebido por um carvalho ou por um arco-íris cor de rosa. Claro
está que alguns destes mundos são mais amplos do que outros e que algumas
visões da realidade nos tornam mais propensos a sermos vistos como vítimas em
potencial por predadores sociais. Uma visão mais ampla da realidade, somada a
fortes valores morais e sociais, pode também gerar sofrimento ao grande
carvalho, diante da visão da estupidez humana e da vastidão do conhecimento ainda
não alcançado. Penso que para nós o importante é sabermos que as pessoas são
diferentes, que possuem um grande potencial para ser desenvolvido e que nem
sempre são aquilo que aparentam ser.
Também
importante é termos consciência que mesmo que não saibamos, podemos hoje estar
caminhando potencialmente em direção a sermos vítimas de algum predador social
e que, portanto, para nossa própria sobrevivência, temos de ter cuidado com
nossas crenças e inocência.
Arco-íris cor
de rosa humanos teimam em afirmar que a desgraça sempre ocorre com o outro e
nunca com elas próprias, acreditam que podem ter controle sobre o que de bom ou
ruim ocorre em suas vidas e seguem rituais irracionais para obterem o que
desejam e preservar a integridade do que acreditam ser e ter. O carvalho pode
ser grande e imponente, mas está firmemente preso as suas raízes, por sua vez,
o camaleão é ágil e se movimenta com facilidade nos mais diversos terrenos
sociais em um mundo onde predominam pessoas arco-íris cor de rosa. São modos de
vida e de interação social que quando devidamente compreendidos nos permitem um
melhor convívio em sociedade, bem como, uma vida mais ampla e gratificante.
Pergunta: Você
gostou? Com qual personagem figurativo você mais se identifica aqui e quais
aspectos de personalidade ou interação social lhe parecem mais importantes e
significativos? O que mais você gostaria de acrescentar ou falar?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
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