Por: Silvério
da Costa Oliveira.
Entendo ser
interessante repensar a importância das mídias, em particular dentro dos novos
procedimentos "on line" e os atuais movimentos sociais. Estamos na
iminência de algo novo que irá romper com os atuais paradigmas vigentes e por
isto mesmo fica difícil para esta geração identificar corretamente as dimensões
dos fatos que agora estamos vivendo ou observando. As revoluções do Oriente e
da África, bem como também em Portugal (geração à rasca; ps. no Brasil
diríamos: enrascada ou em dificuldade), tiveram sem dúvida alguma presente em
suas tramas sociais a importância do Twitter, do Facebook e de outras
ferramentas digitais ou mais amplamente falando, da Internet. Penso que podemos
comparar neste caso a Internet, enquanto instrumento presente em tais movimentos,
aos canhões, também enquanto instrumentos, presentes na queda do Império Romano
do Oriente ao derrubar os muros de Constantinopla.
Nos recentes
protestos mundiais presenciados no começo de 2011 ficou claro e patente a
importância das redes sociais visando articular e repercutir de modo
eminentemente mais intenso e organizado os protestos ocorridos em uma dada
região, para outras regiões. Claro também está que não foram às redes sociais
as causadoras ou motivadoras de tais protestos, não foram elas sequer as
sementes para o surgimento de um sentimento de revolta, pois, as condições
sociais e políticas pré-existiam, como, por exemplo, em alguns destes países
temos um profundo autoritarismo proveniente de autoridades que se perpetuam no
governo há décadas, além da presença polêmica e constante dos interesses
norte-americanos nestas regiões do planeta. Os governos eram sabidamente
entendidos pelas populações de seus respectivos países como sendo ruins, coube
as redes sociais unicamente servirem como catalisadoras da reação, permitindo
que fatos ocorridos em um dado local fossem rapidamente levados a outro local,
gerando um efeito cascata em prol de mudanças e sensibilizando a todos para a
importância de movimentos a princípio isolados, no que estes tinham de
potencial em termos de revolta e protesto legítimo.
Os fatos
ocorridos nestes países, em particular no oriente médio, terão repercussão não
somente em questões políticas, mas também em questões de segurança, fazendo com
que os governos revejam seu planejamento diante das atuais e futuras redes
sociais, tentando por um lado desarticular um possível movimento popular
independente com base na proliferação de idéias por meio de tais redes, e por
outro lado, proporcionando estratégias de controle e operacionalização de tais
redes em benefício de políticas governamentais e da manipulação da população
para que venha a acreditar e se comportar de acordo com os interesses
dominantes, como de certo modo já é hoje feito nas mídias tradicionais, como,
por exemplo, a tv e também a mídia impressa (jornais e revistas).
Hoje a
Internet é o único campo realmente democrático e que permite a expressão
genuína de todos para todos, o que a torna extremamente subversiva e perigosa
aos olhos dos mais diversos governos tradicionais, o que irá gerar, ou melhor
dizendo, já está gerando uma seqüência de tentativas governamentais, políticas
e também por meio de agências de segurança, para prover novos procedimentos de
rastreamento e controle de tudo o que se passa hoje na Internet e claro esta
que todos os gestores de empresas que atuam na Internet provendo os mais
distintos acessos estão sujeitos a pressões por parte dos governos visando a
impor controle e castrar vozes anônimas de persistente oposição ou mero
questionamento.
Uma grande
vantagem dos meios disponíveis hoje pela Internet para articulação de um
movimento social forte e independente de qualquer governo se dá diante da
possibilidade que tais instrumentos proporcionam diante de uma rápida
mobilização social com um custo financeiro extremamente baixo e a todos
acessível, livre de burocracias e do peso político sindical por vezes
desnecessário e contra-producente a um verdadeiro movimento de massas
reivindicando direitos básicos. As novas redes sociais trazem consigo novos
atores para a política internacional, que terá de se adaptar aos mesmos,
tentando adestrá-los e extrair o seu potencial destrutivo e renovador.
As relações
tradicionais presentes na estrutura governamental e nos sindicatos são
verticais, onde existe uma linha de comando e poder que deve ser seguida, já
nas novas mídias esta relação é horizontal, onde todos dialogam com todos, o
que é extremamente revolucionário em si mesmo. Uma característica das relações
tradicionais quando comparada às novas mídias é que a verticalização da linha
de comando da primeira a torna mais lenta, enquanto a horizontalização do
comando e do diálogo na segunda a torna eminentemente muito rápida e sem
aparente controle. Diante do exposto, para enfrentar uma ação ou seqüências de
ações efetuadas por grupos em dada rede social, somente estruturando outros
grupos contrários aos primeiros e fazendo uso das mesmas redes sociais, pois,
neste campo só se pode combater a informação emitida por uma rede, de dentro da
própria rede social por meio dos mesmos instrumentos usados.
Falar que as
novas mídias tendem a beneficiar mais a um determinado tipo de governo, seja
este ditatorial ou democrático, carece de sentido, como também carece de
sentido afirmar que os movimentos populares recentes nas quais as novas mídias
tiveram um papel não pequeno representam a ponta do iceberg de uma estratégia
de dominação mundial efetuada por grupos políticos, econômicos ou religiosos.
Em verdade, tais movimentos são totalmente descentralizados e nisto se
assemelham às mídias que utilizam, não podendo as mesmas ser monopolizadas por
uma determinada ideologia (econômica, religiosa, política ou outra), podem, sim,
serem usadas a favor de regimes ditatoriais, como também de regimes
democráticos. O que de fato temos é um empoderamento de pessoas de posse do
acesso rápido e barato a um número realmente muito grande de outras pessoas, o
que se dá pelos mais distintos meios, dentre os quais o Orkut, muito comum aqui
no Brasil, o Facebook, os blogs e sites, as mensagens instantâneas via MSN ou
Twitter e diversos outros meios de divulgação existentes hoje na Internet
mundial. Cabe aqui destacar que estes meios são diferentes se comparamos o Ocidente,
com, por exemplo, a China ou o Japão ou a Coréia, onde os programas e sistemas
reinantes são distintos e competem com marcas ocidentais tais como o Google, o
Blogger e o Wordpress, dentre outras.
O aspecto
catalisador que as novas mídias exercem no social proporciona uma maior rapidez
e aceleração na velocidade de propagação de noticias e eventos, de modo que
torna possível a concretização de fatos políticos que não teriam ocorrido sem
esta rápida difusão descentralizada de uma mensagem. Não diria que as novas
mídias são causa única de uma dada mudança sócio-cultural e política em determinado
país, mas digo, sim, que sem elas as condições reinantes previamente existentes
não teriam como sozinhas propiciar uma mudança dentro do tempo hábil necessário
para sua concretização. Dito de outra forma, as novas mídias não podem ser
responsabilizadas sozinhas como causa de uma revolução popular, mas sem a
rápida difusão e a descentralização da informação por elas proporcionada,
conjuntamente com o empoderamento do indivíduo, que passa a poder falar com
todos, expondo suas idéias independente de quem este seja ou do cargo e posição
social que ocupe, não teríamos, também, uma revolução neste momento histórico
em particular.
Pergunta: Qual
a sua opinião sobre a importância das mídias nos movimentos sociais de grande
vulto?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Deveras, concordo. E tal rememoração histórica, bem construída e visionária só poderia vir da pena (ou seria das teclas?) de um grande mestre que é Psicólogo e Filósofo, mas que também desenvolve seus próprios sites (utilizando HTML e outros, 'na unha') e produz seus livros em PDF (usando o PageMaker, entre outros) [Fora dizer que sempre montou seus próprios computadores, peça por peça]. Atentar para essa nova roupagem da democracia é beber na fonte de tal estrutura: a Grécia quando da existência de suas pólis, onde algumas delas se utilizavam do que fora pregado por Aristóteles, permitiam que centenas de cidadãos participassem das assembléias populares (em rodízio), para que delas pudessem melhorar o todo social. Ótimo ponto-de-vista, professor. E parabéns por saber usar a tecnologia para falar da afetação tecnológica no contexto político e social. És, repito, um visionário, e melhor de tudo, um concretizador ("A diferença entre ter vontade e realizar"). www.cleorbete.com
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