Por: Silvério da Costa Oliveira.
Pródico de Céos
Prodicus ou Pródico (465-395 a.C.), ou Pródicus de Céos. Nasceu em Iulis, ilha de Céos. Pouco ou quase nada sabemos sobre sua vida. Considerado grande orador, e em virtude disto, esteve em Atenas, por algumas vezes, como embaixador de Céos e também como professor. Se diferenciando de outros sofistas, além da oratória, seus ensinamentos priorizaram a aprendizagem de um comportamento ético.
Pródico priorizava em seu ensino a retórica e a ética, sendo tido a época como um grande professor e orador. Também conhecido por suas distinções linguísticas e a atenção que dava a correção do sentido das palavras usadas no discurso, priorizando a exatidão dos nomes. Segundo Pródico, para desenvolver um discurso ou participar de um debate é importante que as palavras usadas sejam adequadamente definidas, dando um especial destaque ao uso correto das palavras e a definição exata dos sinônimos.
Segundo seu pensamento, não devemos temer a morte, pois, enquanto estamos vivos, a morte não existe, e quando ela existe, já nós não existimos mais. Entende que é necessário esforço para obter sucesso na vida e que nada de bom ou belo se consegue neste mundo sem trabalho.
Cabe aqui a referência a um de seus discursos, no qual apresenta uma fábula que tem como personagem principal a Hércules e na qual o herói precisa fazer uma escolha apresentada por duas mulheres, uma representando o vício (Cacia, Kakía) e a outra a virtude (Areth, Areté).
Se por um lado temos uma vida direcionada para o prazer intenso e imediato, preso nas sensações corporais, buscando o que desejamos e o que nos é de algum modo útil, mas sem qualquer escrúpulo moral, proposto por Kakía, por outro, temos a proposta de Areté, que também se direciona para a utilidade do que buscamos, mas este caminho se solidifica pelo esforço, fadiga e trabalho necessário para alcançar estas metas. Há aqui uma valorização do que é útil para nós, mas também uma valorização do esforço e do trabalho necessário para alcançar o sucesso naquilo que buscamos. Menos que o fim, a alegria e felicidade, as propostas de Kakía e de Areté se diferenciam pelo caminho a ser percorrido, se mais curto (Kakía) ou mais longo (Areté) e as consequências oriundas da escolha de cada um destes caminhos. Hércules escolhe o caminho da virtude e este é o caminho ético e moral apontado pelo discurso de Pródico.
Nesta história sobre a encruzilhada na qual se encontrava o personagem Hércules e as duas mulheres que dele se aproximam com propostas distintas e antagônicas entre si, temos simbolizado o grande desafio de decidir quem de fato nós queremos ser na vida, ou dito de outra forma, qual a vida que queremos para nós, pois, estamos diante de uma escolha que marcará para sempre nossa vida.
No tocante aos deuses gregos, não seria correto classificar Pródico como um ateísta, pois mantinha um comportamento respeitoso como era esperado dentro da cultura grega, mas possuía um entendimento bem original e crítico sobre a questão. Segundo Pródico, inicialmente os humanos entenderam como deuses aqueles fenômenos da natureza por eles considerados úteis e vantajosos para sua sobrevivência, tal é o caso do sol, da lua ou do rio Nilo. Posteriormente, passaram a divinizar os humanos que realizaram alguma grande proeza ou que trouxeram alguma contribuição muito significativa, tal como a descoberta do fogo ou novas práticas agrícolas. Procurou por tal modo explicar o surgimento da ideia sobre a existência dos deuses, sem, no entanto, negar sua existência.
Alguns temas interessantes podem ser exemplificados a partir das seguintes teses de origem em Pródico: 1- A virtude é uma ciência, pode ser ensinada e deve ser aprendida. 2- A ciência do bem e do mal consiste no conhecimento da natureza do humano. O mal é feito por ignorância e cada qual deseja somente aquilo que for de acordo com a sua natureza. Conhecendo sua própria natureza o humano há de fazer o bem e ser feliz. 3- A filosofia ou sabedoria é a primeira ciência, pois permite tudo usar e fazer com sabedoria. A sabedoria é o maior dos bens. 4- Esta ciência, sabedoria ou filosofia, há de incluir a conduta individual e a direção dos negócios públicos.
O que há de caracterizar Pródico como sofista será a cobrança de um valor em dinheiro para ter-se suas aulas, e dele ser um hábil orador, conhecedor da retórica. Três pontos se destacam no seu pensamento 1- A ética expressa na escolha de Hércules entre a virtude e o vício, valorizando o esforço e trabalho, 2- A origem dos deuses nos fenômenos da natureza e naqueles tidos como os portadores de alguma descoberta útil à sobrevivência da humanidade (vinho, pão, fogo, água, agricultura, etc.) e 3- A precisa definição dos sinônimos e das palavras em busca do significado presente nas mesmas. A discussão e divergência entre as pessoas pode se dar meramente por entenderem coisas diferentes pelas mesmas palavras. Interessante seu posicionamento sobre o sucesso estar vinculado ao trabalho e esforço próprio, bem como seu pensamento sobre a morte e o motivo pelo qual não devemos temê-la.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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