Por: Silvério da Costa Oliveira.
Pierre Bayle
Que não me digam mais então que a teologia é uma rainha da qual a filosofia é somente a serva. Pierre Bayle
(Comentário filosófico, primeira parte, cap. I)
Pierre Bayle (1647-1706) filósofo, teólogo, professor e escritor, nasce em Carla-le-Comte, hoje Carla-Bayle, uma pequena vila no sul da França, e falece em Roterdã, Países Baixos. Seu pai era pastor calvinista, iniciou seus estudos na Academia Protestante de Puylaures e também estudou Filosofia no colégio jesuíta de Toulouse. Se converteu ao catolicismo, mas após algum tempo (18 meses) retornou ao protestantismo de vertente calvinista, chamado na França de Huguenote. A partir de 1661 sai da França com receio das perseguições religiosas, retornando em 1673, mas em 1680 deixa novamente a França e se retira para Roterdã. Bayle pode ser categorizado como um pensador anti-sistemático e cético.
Em 1682 escreve “Critique Générale de L’historie du Calvinisme de M. Maimbourg”, livro no qual faz a defesa do protestantismo praticado na França. O livro foi condenado pelas autoridades católicas e queimado na Praça de Grève, Paris. Editou a revista “Nouvelles de la République des Lettres” (Notícias da Republica das Letras) entre os anos de 1684 e 1687, na qual tratava de literatura e filosofia e que teve aceitação e influência na sua época. Após a revogação do Édito de Nantes escreve “Commentaire Philosophique”, 1686. Cabe mencionar também “Avix aux réfugiés”, 1690. Em 1681 escreve “Pensées diverses sur la comète” (Pensamentos diversos sobre o Cometa) publicado em 1694-1704, livro no qual realiza uma sutil análise sobre a superstição popular. Posteriormente publica “Continuation des pensées diverses”, 1704.
Atuou como professor de filosofia e história. Adota uma atitude cética com base em Montaigne e Pirro, entendendo que o melhor a fazer é nunca afirmar ou negar coisa alguma. Assume uma atitude de total repulsa e oposição a todo absolutismo e dogmatismo. Defendeu a tolerância religiosa e é conhecido por ser autor de uma obra muito influente nos séculos XVII e XVIII, o “Dicionário histórico e crítico”, 1696 e 1697, considerada por alguns comentadores como sua principal obra.
Em uma época de conflitos entre católicos e protestantes, Bayle procura se manter em uma posição equidistante destas controvérsias. Na opinião de Bayle, nenhuma das religiões positivas apresenta provas convincentes a razão de suas convicções, de suas verdades. Estas religiões se baseiam na credulidade humana, a qual, por sua vez, tem sua origem no respeito cego pela autoridade e pela tradição. Bayle separa a religião da razão e da moral. Pois, se a razão não prova a existência dos mistérios afirmados pela religião, por sua vez, também temos pessoas de comportamento moral sem religião, e outras religiosas cujo comportamento moral deixa muito a desejar. A experiência nos diz que a vida moral não depende das convicções religiosas.
Afirma a contradição entre razão e fé e a inutilidade das controvérsias religiosas então comuns à sua época. No lugar dos debates teológicos, é preferível adotar uma atitude que caminhe da contradição para a dúvida e desta para a indiferença, chegando, por fim, a tolerância para com todos.
Bayle defende a tolerância para com todas as crenças religiosas, combate a intolerância religiosa e considera inúteis as disputas religiosas, bem como, defende e anuncia a completa tolerância religiosa civil. Bayle entende que a violência se origina não da tolerância dos governantes, mas sim da intolerância dos religiosos.
Defensor da tolerância, Bayle entende que a verdade tida por uma dada religião não pode ser imposta a força, cabe somente ser oferecida as pessoas, pois, somente por adesão dada em liberdade esta teria valor. Bayle assume uma atitude filosófica pela qual estabelece os fundamentos racionais da tolerância. Religiões e correntes religiosas tendem a imputar a uma pessoa ou grupo, o “erro” diante da suposta verdade, entendendo este “erro” como defeito moral, nas Bayle discorda disto. Para Bayle o “erro” não é um defeito moral que possa ser imputado a quem quer que seja, estando a pessoa de boa-fé, com o “erro” se afirma e defende o direito da consciência mesmo que errônea.
Bayle entende que o ateísmo possa estar ligado à virtude, abordando o ateísmo de modo prático. Pensa no ateu como aquele que vive como se Deus não existisse, mas com uma constante disposição para manter um comportamento moral na vida prática, tal é o caso da justiça, honestidade, coragem, amizade, e outros mais. Deste modo defende a não necessidade da crença na existência de Deus para ter um comportamento socialmente adequado e virtuoso.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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