Por: Silvério da Costa Oliveira.
O pensamento da direita conservadora
A origem do termo “direita” e “esquerda” se dá no ano de 1789 conjuntamente com o curso da Revolução Francesa. Na então Assembleia Nacional Constituinte, instalada em 14/7/1789 (Primeiro tivemos a Assembleia dos Notáveis, instalada em 22/2/1787, e logo depois a Assembleia dos Estados Gerais, convocada em 24/1/1789), quando dentre outros assuntos se debatia sobre a monarquia francesa e quais os poderes que o monarca deveria possuir, em virtude das paixões exaltadas pelo debate, os constituintes preferiram se sentar próximos daqueles que possuíam visões de mundo semelhantes as suas, deste modo, na sala da constituinte aqueles que se sentavam a direita do presidente da Assembleia se posicionavam a favor da nobreza e da monarquia, compondo a ala mais conservadora. Tradicionalmente o lado direito era considerado o lado nobre. Na tradição cristã o lado direito de Deus é um lugar de honra, do mesmo modo que sentar-se do lado direito de um patriarca ou matriarca quando a mesa. Já aqueles que se sentavam a esquerda do presidente da Assembleia compunham a ala mais radical, contrária ao rei e defensores de ideias republicanas, bem como da revolução. Por quererem uma mudança mais radical da ordem estabelecida, podem ser considerados os mais progressistas. Defendiam o fim do poder absoluto do monarca. Girondinos a direita e Jacobinos a esquerda.
A atualidade que vivemos carece de um consenso sobre o que seja a “direita” ou “conservador”, enquanto conceitos aplicáveis a determinados grupos sociais e conjunto de ideias. Apesar de abordarmos ambos os conceitos em um único artigo, “direita” e “conservador” são conceitos distintos.
O termo “conservador” descreve uma vasta região de conceitos e ideias, não sendo uno ou aplicável a um único grupo bem definido. Existe não um, mas sim diversos e diferentes grupos que podem ser corretamente classificados como conservadores no decorrer da história e da cultura dos mais distintos povos, aliás, grupos diferentes irão fazer escolhas diferentes quanto a que valores conservar e ao que possa ser considerado como parte da tradição em sua cultura local.
O conservadorismo como é entendido hoje em dia, tem suas bases iniciais a partir do pensamento e obra de um filósofo e político irlandês, Edmund Burke (1729-1797), tendo como principal referência seu livro “Reflexões sobre a Revolução na França”, 1790.
Há outros autores importantes que servem como referência no estudo da direita conservadora, são muitos, mas iremos citar alguns: Joseph de Maistre (1753-1821), Louis de Bonald (1754-1840), Alexis de Tocqueville (1805-1959), Russell Kirk (1918 – 1994), Roger Scruton (1944-2020).
Há também outros autores em filosofia que se bem que não tenham desenvolvido estudos específicos sobre o assunto, são em geral bem acolhidos e lidos pelos participantes destes grupos, como tal é o caso, dentre muitos outros, de: Aristóteles, autores presentes na filosofia medieval, Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, John Locke, David Hume, Voltaire.
O que iremos entender por direita conservadora neste artigo tem a ver com o que ocorre no Brasil e no mundo ocidental em geral (EUA, Canadá, Europa, América Latina), tendo como sua base a doutrina cristã (protestante ou católica) e políticas liberais. Há muitos autores e muitas ideias dentro do contexto conservador liberal, de modo que em virtude das diversas variantes é difícil a identificação de um único e coeso posicionamento político. Da mesma forma que há divergências dentro da esquerda, o mesmo ocorre dentro da direita. Questões diversas possuem posicionamentos radicalmente diferentes, como tal é o caso do direito ao abortamento, que será defendido por alguns teóricos liberais e criticado por outros, mais próximos de uma visão influenciada pelo cristianismo.
No geral, o pensamento da direita conservadora tende a ter como foco a preservação da ordem política, da justiça e da liberdade individual. Há uma defesa da manutenção das instituições tradicionais, tais como a família, a religião cristã, a comunidade e seus valores. Há uma rejeição à ideia de uma revolução que possa mudar de modo abrupto e mesmo romper com a continuidade e estabilidade das instituições. A postura política da direita conservadora é de oposição a esquerda progressista. Há alguns valores que são priorizados, como tal é o caso da liberdade, da liberdade política, da liberdade religiosa, da liberdade econômica, da ordem, da moral e da preservação da sociedade com seus valores tradicionais.
Está presente a crença no Deus Cristão e por meio deste a crença em uma ordem moral transcendente. Há uma valorização da diversidade e do individualismo, bem como, uma rejeição de doutrinas que proponham uma sociedade onde prevaleça a igualdade. As pessoas não são iguais, elas são diferentes, fazem suas escolhas que irão definir os rumos de suas vidas. Há uma valorização não da igualdade a todo custo e sim da meritocracia.
Há o entendimento que para termos igualdade na sociedade é necessário que esta se baseie na igualdade de todos no tocante a esfera política e jurídica. A desigualdade observada na sociedade é por vezes resultado de escolhas pessoais e diferenças entre as pessoas.
Temos a defesa do individualismo contra o coletivismo, a defesa da propriedade privada, que a liberdade está associada a posse dos meios necessários a sua sobrevivência, de uma economia de mercado livre, abertura de mercado ao capital internacional, proteção da cultura e identidade nacional, defesa do nacionalismo. Claro está, no entanto, que no âmbito de políticas econômicas, em particular que envolvam outros Estados, não há um consenso sobre maior ou menor integração ou maior ou menor intervenção do Estado na economia.
Do mesmo modo que ocorre com o pensamento de esquerda, existe uma multiplicidade de ideias e posicionamentos políticos que impedem uma definição coesa e completa que possa a todos abarcar, pois, apesar de bandeiras comuns, há dentro do movimento muita oposição interna fruto de debates e divergências várias sobre temas distintos. Mas em geral pode-se afirmar que a direita conservadora se coloca diante do mundo de modo a poder se transformar de acordo com as circunstâncias, o que demonstra o pragmatismo presente fortemente no movimento. Também importante é a defesa do liberalismo econômico e de um Estado não interventor na economia. No geral esta corrente de pensamento se opõe a mudanças bruscas oriundas de revoluções e busca mudanças moderadas que não atinjam as tradições e os valores culturais. Há uma defesa da hierarquia, do nacionalismo, da família, da religião e das instituições que compõe tradicionalmente o Estado.
No Brasil recente os evangélicos ocupam um espaço anteriormente ocupado pelos católicos na defesa de valores tradicionais e contrários a mudanças radicais e revolucionárias impostas pela esquerda política. Deste modo, os evangélicos tornaram-se centrais no contexto da onda conservadora que se desenvolveu em nosso país. Coube a este grupo o êxito na tentativa de resumir e impulsionar a tendência conservadora a partir de valores tradicionais vinculados à família, à educação, à moral e à segurança pública.
Dentro do pensamento da direita conservadora, não é possível afirmar que toda igualdade é justa ou que toda desigualdade é injusta, isto dependerá das causas e consequências ali vinculadas. Tende a se mostrar contrário a um sistema de cotas seja para o que for, pois, a lei deve tratar a todos do mesmo modo, sem discriminar ou favorecer a pessoas isoladas ou a grupos sociais, sejam estes majoritários ou minoritários, basta a igualdade político-jurídica para todos os membros da sociedade e Estado.
As pessoas que se definem como pertencentes à direita conservadora, possuem consciência da herança cultural de seu povo, da história de sua nação e lutam contra as ameaças que percebem a esta herança. Não são contrárias à mudança, mas não querem mudanças abruptas que provoquem uma ruptura com a tradição e sim mudanças que se adaptam a evolução histórica de seu povo, mantendo algumas coisas que consideram importantes, o que é bom deve ser mantido.
Há por parte dos integrantes da direita conservadora o temor da perda da identidade cultural, que é o que faz com que as pessoas permaneçam juntas formando um único povo, uma nação, uma comunidade. As ameaças são identificadas como sendo, dentre outros fatores: a migração (em particular na Europa e EUA), dificuldades econômicas, perda do espaço dado à religião na vida social, educação de má qualidade e tendenciosa a favorecer determinadas ideologias.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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