Por: Silvério da Costa Oliveira.
Herbert Marcuse
Herbert Marcuse (1898-1979) nasce em Berlim e falece em Stamberg, ambas cidades localizadas na Alemanha. O motivo de seu falecimento nesta cidade deveu-se a uma visita a Alemanha por tal ocasião, onde teve um infarto, mas sua residência continuava sendo nos EUA. Quando os nazistas tomaram o poder na Alemanha, em 1933, Marcuse emigra para a Suíça, depois Paris e finalmente para os EUA, tendo desenvolvido seus principais trabalhos neste país. Atuou como filósofo, sociólogo, professor e escritor. Marcuse é judeu alemão, tendo se se naturalizado norte-americano (1940), e tem sua história de vida ligada a assim chamada Escola de Frankfurt, o Instituto de Pesquisa Social. Em 1950 os colaboradores do Instituto de Pesquisa Social retornam a Frankfurt, mas Marcuse escolhe permanecer nos EUA, o que faz até o final de sua vida.
Dentre suas obras mais importantes e conhecidas, cabe citar: “Eros e civilização” (Eros and Civilization), 1955, “Marxismo soviético: uma análise crítica” (Soviet Marxism), 1958, e “O homem unidimensional” (One-Dimensional Man), 1964. Também importantes são: “Razão e revolução” (Reason and Revolution), 1941, “A ideologia da sociedade industrial”, 1964, “Psicanálise e política” (“Psychoanalyse und Politik), 1968, “Contra-revolução e revolta”, 1972, “A dimensão estética”, 1977, “O fim da utopia” (Das ende der Utopie), 1980.
Sua obra apresenta uma crítica ao capitalismo e ao desenvolvimento da tecnologia, ao comunismo e o materialismo histórico, e a cultura do entretenimento desenvolvida no mundo ocidental. Entende que foram desenvolvidas novas formas de dominação, controle social, e repressão, entendendo que a indústria do entretenimento faz parte do rol de instrumentos usados para esta finalidade de alienação.
Uma de suas principais obras, “Eros e civilização”, é palco das discussões e argumentações de Marcuse em prol do desenvolvimento de uma nova sociedade e de uma nova forma das pessoas se relacionarem na sociedade. Com forte inspiração em Marx e Freud, a obra se mostra bem otimista com relação ao futuro. Aponta que os desenvolvimentos ocorridos na sociedade industrial e tecnológica propiciariam a inversão do sentido do progresso como até então havia ocorrido. Até aquele momento a sociedade tinha se pautado na produção e consumo, gerando riqueza e conhecimento, mas em termos de futuro, toda esta riqueza e conhecimento que foram criados poderiam ser usados para atender as pulsões vitais humanas e, simultaneamente, impedir a realização das pulsões destrutivas. Deste modo, nos aproximamos de uma sociedade inspirada na leitura de Marx, onde as pessoas poderiam escolher trabalhar menos e se dedicar mais ao atendimento de seus desejos, vivendo de modo mais pleno. Não que o controle social e a alienação não estejam mais presentes na sociedade atual, mas sim que esta criou novos meios de controle social, eficazes e sutis, de modo a manter o sistema social e político capitalista. Dentre estas novas formas de controle encontramos o incentivo ao consumo por meio da produção de bens supérfluos em grande quantidade visando a satisfação e o prazer das pessoas.
Apresenta uma crítica ao racionalismo presente na sociedade de seu tempo. Entende que o papel da contestação social que Marx havia previsto ser exercido pela classe operária, o proletariado, agora passava para os marginalizados desta sociedade, os sem esperança, aqueles que de algum modo se sentem desprezados e não participantes de tudo de bom que a atual sociedade distribui para seus integrantes. São com estas pessoas que se sentem a margem da sociedade, conjuntamente com o desenvolvimento tecnológico, que teremos a revolução.
Segundo o pensamento de Marcuse, estava ocorrendo um desenvolvimento sem controle da tecnologia, repressão às liberdades individuais e desvalorização da razão humana visando favorecer a técnica.
Se para Marx a história se movia diante de agentes transformadores da sociedade representados pelas classes burguesa e proletária, agora não mais, pois estas mesmas classes passaram a defender o status quo e as benesses obtidas e não querem uma transformação radical da sociedade. A tecnologia foi a grande responsável por tal mudança, ao atender as necessidades humanas mais básicas, proporcionando uma vida melhor e mais confortável. Estas classes não estão mais diretamente envolvidas na transformação e revolução da sociedade, sua força revolucionária findou.
A tecnologia proporciona novas formas de controle social, cada vez mais aperfeiçoadas e melhores. A tecnologia não se mostra como neutra e sim como uma engrenagem essencial no novo sistema de dominação social.
Com a saída do proletariado, no seu lugar, para exercer o papel revolucionário e transformador da sociedade, temos todos aqueles que percebam que são impedidos de alcançar seus objetivos pela atual sociedade, os ditos grupos minoritários, mesmo que não sejam numericamente minoritários, mas que não possuem as benesses desejadas dadas pela sociedade. Dentro desta sociedade e inspirada por seus mecanismos de controle, são criadas falsas necessidade e desejos, bem como, por vezes, dificuldades e bloqueios, também falsos, para atingi-los. Estes bloqueios são falsos pois se baseiam na obediência de regras sociais presentes no sistema que impedem a obtenção de tais meios, se não pelos meios permitidos.
Em sua obra “O homem unidimensional”, Marcuse apresenta uma crítica à sociedade ocidental capitalista e ao comunismo então presente na URSS, observando e denunciando que com o desenvolvimento tecnológico surgiram novas formas de dominação e alienação.
Infelizmente, uma das frases proferidas por Marcuse em sua obra, "toda a tolerância para com a esquerda, nenhuma para com a direita", tem sido usada nos dias atuais por partidários da ideologia da esquerda para negar tudo de bom que iniciativas oriundas da direita possam trazer para a sociedade e, simultaneamente, encobrir tudo de ruim, grosseiro e abjeto que possa ser feito por grupos vinculados à esquerda, o que inclui crimes dos mais diversos (assassinatos, estupros, corrupção e lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito com dinheiro do governo, mentiras e difamação de opositores, além de outros mais).
Marcuse participou ativamente dos movimentos civis presentes na década de 1960 nos EUA e Europa (negros, feministas, estudantes, etc.). Escreveu sobre diversos assuntos então em voga em sua época. Defendeu o papel que a arte pode ter no tocante a transformação da sociedade e na emancipação das pessoas com relação à alienação e aos vínculos lhes impostos por uma sociedade capitalista, excludente e opressora. A filosofia tem um papel importante, mas o papel da arte é ainda maior na mudança da forma de pensar das pessoas, pois a arte trabalha na ordem do sensível, enquanto que a filosofia se restringe ao inteligível. Para uma efetiva mudança social é preciso transformar a sensibilidade humana.
No livro “O homem unidimensional” temos que a produção industrial e o incentivo ao consumo criam necessidades falsas, desejos que precisam ser atendidos por meio de um consumismo não crítico e compulsivo de bens materiais diversos, trata-se de um modo do sistema capitalista atuar na sua própria manutenção nas sociedades ocidentais. Estas falsas necessidades criam um sujeito acrítico, medroso e conformista com o sistema vigente. Uma produção de pessoas facilmente manipuladas por meio de técnicas de persuasão de massas, dentro de uma sociedade homogênea e uniforme. Estas falsas necessidades vão desde um apartamento, um carro ou moto, roupas da moda e outros inúmeros itens de consumo que geram uma passividade política antirrevolucionária.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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