Comportamento Crítico: Max Horkheimer e a Escola de Frankfurt

Por: Silvério da Costa Oliveira.

Max Horkheimer

Max Horkheimer (1895-1973), nasce em Stuttgart e falece em Nuremberg, ambas cidades na Alemanha, é judeu e alemão, proveniente de rica família do ramo industrial de tecidos. Quando dos seus 16 anos, interrompe os estudos para ajudar o pai no trabalho na indústria de tecidos. Serviu o exército durante a primeira guerra mundial, tendo retornado aos estudos ao final da mesma. Ingressa nos cursos de psicologia e filosofia no ano de 1919, vindo a concluir seu doutorado em 1922. Em 1926 se casa com Rosa Rieker e conjuntamente com Theodor Adorno participa da fundação do “Instituto de Pesquisa Social”, que mais tarde será conhecido como “Escola de Frankfurt”. No ano de 1930 assume o cargo de professor e em 1931 é nomeado diretor do instituto. Horkheimer atuou como filósofo e também sociólogo. Em 1933 o instituto é fechado e em 1934 Horkheimer passa a residir nos EUA. Sua obra clássica, “Dialética do esclarecimento”, escrita em parceria com Adorno, é publicada em 1947. Em 1949, Horkheimer retorna a Frankfurt, levando consigo a biblioteca e o Instituto, tendo sido o mesmo reaberto em 1950, agora com Adorno sendo seu novo diretor. Neste mesmo ano reassume seu cargo de professor, vindo mais tarde a ocupar o cargo de diretor do “Instituto de Pesquisas Sociais” na Universidade de Frankfurt, onde foi Reitor entre os anos de 1951 e 1953. Deixa de lecionar em 1959 e se muda para Lugano, Suíça. Faleceu aos 78 anos de idade.

A Escola de Frankfurt tem sua origem no entre guerra (1918-1938), surge oficialmente com a criação do “Instituto para a investigação social”, em fevereiro de 1923. Em decorrência da chegada dos nazistas ao poder, o local onde se localizava o instituto, em Frankfurt, é definitivamente fechado em 1933, sendo que mesmo antes do fechamento pelos nazistas, seus integrantes se mudaram para outros países e haviam também mudado a sede do instituto para outro país, longe da esfera de atuação dos nazistas.

O programa original do instituto se propunha a buscar um materialismo interdisciplinar, cuja meta seria integrar elementos oriundos de uma base marxista com história, ciências sociais, economia, sociologia, psicologia social e psicanálise. O resultado esperado seria chegar a uma teoria crítica que pudesse elucidar as diversas formas de controle social existentes na sociedade. A teoria crítica se propunha a se debruçar sobre as sociedades capitalistas de seu tempo e também sobre o capitalismo de Estado exercido pela URSS, bem como, sobre o nascente fascismo e nazismo na Europa.

Horkheimer é autor de várias obras: “Materialismo e Moral”, 1933; “Entre filosofia e ciências sociais”, 1930-1938, Authority and the Family, 1936; Teoria Tradicional e Teoria Crítica, 1937; “Dialética do Esclarecimento” (Iluminismo), 1947 (Theodor Adorno); “Eclipse da razão”, 1947 (original de 1941 "The End of Reason"); “Teoria critica ontem e hoje”, 1970.

Seus trabalhos versam sobre temas tais como: autoritarismo, militarismo, ruptura econômica, crise ambiental e a pobreza da cultura de massa. Tem sua obra ligada ao desenvolvimento da Escola de Frankfurt, na qual atuou basicamente em duas linhas, com seu trabalho sobre a “indústria cultural” e a “teoria crítica”, sendo que o termo “teoria crítica” tem em suas origens o livro de 1937, escritor por Max Horkheimer, “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”.

Em “Dialética do esclarecimento”, obra clássica de Horkheimer e Adorno, temos uma análise do porquê a promessa iluminista de melhorar o mundo por meio do conhecimento acabou resultando em conflitos, guerras, problemas sociais e econômicos. Por que diante das ideias iluministas o humano não conseguiu atingir a sua maturidade, vindo a ser tornar um ser responsável? Por que questões básicas, como a fome, a intolerância e mesmo conflitos e guerras não foram solucionados? A obra se aproxima de conceitos provenientes de Max Weber e também apresenta a contribuição do conceito de “indústria cultural”. Para entender a atual sociedade torna-se necessário buscar a compreensão de anteriores fatos históricos e mesmo explicações filosóficas, sociológicas e científicas.

Sua participação na Escola de Frankfurt nos traz o conceito de “teoria crítica”. Em seus trabalhos toma como base o marxismo e outras correntes de pensamento, assumindo uma postura crítica às mesmas. A teoria crítica se opõe a teoria tradicional, ou seja, rejeita a forma como as ideias provindas de Marx vinham sendo adotadas, a semelhança de dogmas não questionáveis. Bem como, também questiona o modelo então adotado em ciências e filosofia, que tem suas origens na modernidade, no Iluminismo e no Positivismo. Ao invés de buscar uma visão da totalidade real da sociedade, deve-se buscar o desenvolvimento de um pensamento crítico. A teoria crítica tem como objetivo ir além do subjetivismo e do realismo presente na abordagem positivista, nos trabalhos de Descartes e no Iluminismo.

O Positivismo tem como característica, segundo Horkheimer, apresentar um modo de razão subjetiva, formal e instrumental, voltada para os meios destinados a um determinado fim proposto, que deve ser alcançado de modo mais eficiente e com menor gasto (tempo e dinheiro), tendo como único critério de verdade o valor operativo da mesma. Sua finalidade acaba sendo atuar na dominação do humano e da natureza.

A teoria crítica é desenvolvida conjuntamente com Adorno e se vincula a várias correntes de pensamento, tendo como base o marxismo. Dentro da abordagem adotada pela teoria crítica, a escolha do melhor método de estudo científico a ser adotado se vincula a relevância social do tema a ser estudado e ao subjetivismo. É ressaltada a existência social como fundamental para a determinação da consciência. Na teoria crítica teríamos a razão objetiva, já na teoria tradicional teríamos a razão subjetiva e instrumental.

Por meio da teoria crítica é possível empreender análises dos sistemas tradicionais, sejam estes de origem marxista ou capitalista, analisar as origens do pensamento filosófico e científico e buscar obter um modo de resistência à aceitação resignada da ordem totalitária imposta. Deste modo, se opõe à razão instrumental e subjetiva presente no Positivismo.

Na elaboração de seu pensamento encontramos uma oposição entre, de um lado, a razão instrumental, a razão abstrata e a teoria tradicional, e, de outro lado, a teoria crítica, o pensamento crítico-negativo. Por meio da teoria crítica podemos buscar a emancipação do humano por meio da problematização da realidade na qual este vive. Tornar-se emancipado é tornar-se livre e independente, alcançar a consciência sobre seu estado e papel social, não sendo um joguete de outras classes, não vindo a ocupar resignadamente o papel lhe imposto pela sociedade como membro de uma classe oprimida diante dos interesses da classe opressora.

Com a distinção efetuada entre teoria crítica e teoria tradicional, temos que a teoria tradicional busca descrever a realidade tal qual ela se apresenta, enquanto a teoria crítica, por sua vez, tem como objetivo a emancipação do humano. Apresenta uma crítica ao capitalismo, ao fascismo e nazismo de sua época e ao que chama de capitalismo de Estado, existente na URSS. A abordagem da teoria tradicional, ao meramente descrever as instituições sociais existentes, acaba propiciando por meio de suas análises a legitimação de práticas sociais repressivas e injustas, as quais passam a ser entendidas como sendo naturais ou objetivas.

Importantes são, também, os conceitos de razão objetiva e subjetiva. Em verdade, a razão é uma só, não havendo uma separação radical e independente em nosso ser. Esta antinomia se expressa diante de uma mesma razão que se expressa por dois modos distintos.

A razão objetiva nos proporciona a crítica, sendo um instrumento que pode entender os fins e determina-los, regulando as relações existentes entre humanos e natureza. À razão objetiva são vinculados conceitos tais como: liberdade, justiça e verdade. Por meio da razão objetiva a pessoa pode escolher seus próprios fins sem a necessidade de instâncias externas. Por meio da razão objetiva a vida humana mantém seu sentido, vinculada a um contexto que remete à finalidade. Nos grandes sistemas filosóficos, tais como os presentes em Platão, Aristóteles e nos autores da Escolástica medieval, temos a presença da razão objetiva, a qual exerce um papel de guia, mantendo um vínculo com a religião.

Durante o período do Iluminismo a razão objetiva foi abandonada e atacada, sendo substituída pela razão subjetiva, que se conforma à realidade social. A razão subjetiva ou instrumental não busca justificação dos comportamentos a determinado fim. Neste modo, a razão fica reduzida a sua capacidade de calcular probabilidades e determinar meios mais adequados para se obter um determinado fim, não se discutindo sobre a racionalidade do fim proposto. A pergunta feita quanto aos fins se vincula a sua função e utilidade, pergunta-se “por quê” e não “para quê”. A razão subjetiva e instrumental tem como característica adequar os meios aos fins propostos, se limitando a capacidade do cálculo e análise para obter os maiores benefícios pelo menor esforço ou custo.

Outro importante conceito, a par com o da “teoria crítica”, é o da “indústria cultural”. Horkheimer e Adorno criaram o conceito de “indústria cultural”, a qual permite ao sistema que continue funcionando. A sociedade tecnológica é constituída por diversas mídias (jornais, rádios, tv, cinema) que por sua atuação em conjunto tendem a atuar de modo a estabelecer e preservar valores socioculturais, tais como: modelos de comportamento e linguagem. Além disto, por meio de histórias e propagandas, criam necessidades de consumo. Por tais meios a sociedade não favorece a emancipação das pessoas, não estimula sua criatividade e permite que as pessoas atuem passivamente como receptores de toda esta informação.

Silvério da Costa Oliveira.