Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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terça-feira, 3 de outubro de 2023

Linguagem na política: Distorção e manipulação do sentido das palavras pela esquerda

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Distorção do sentido das palavras pela esquerda política

 

Notamos que a esquerda política em nosso país, Brasil, bem como no restante do mundo, tem feito um uso instrumental da linguagem, de modo semelhante a outros governos não democráticos, sejam ditaduras ou semi-ditaduras, sejam governos totalitários de esquerda ou mesmo governos fascistas e nazistas presentes na primeira metade do século XX. Iremos discutir aqui sobre este uso político da linguagem nos seus aspectos gramaticais, tanto sintáticos como também semânticos, em busca do real significado presente neste uso instrumental político da linguagem.

Cabe definirmos inicialmente alguns conceitos com os quais iremos trabalhar neste texto, aqui penso em particular na linguagem, gramática, sintaxe e na semântica. A linguagem é um sistema de comunicação que envolve o uso de palavras e símbolos para expressar pensamentos, ideias e sentimentos. Ela é um meio fundamental de comunicação entre seres humanos e pode ocorrer de várias formas, incluindo oral, escrita, visual e gestual. A gramática é o conjunto de regras e estruturas que governam a organização de palavras em uma língua. Ela abrange aspectos como a formação de palavras, a conjugação de verbos, a concordância entre sujeito e predicado, entre outros, para criar frases compreensíveis e gramaticalmente corretas. A sintaxe é a estrutura e organização das palavras em uma sentença ou frase para formar uma estrutura gramaticalmente correta. Ela lida com as regras que governam a ordem das palavras, a formação de frases e como os elementos se relacionam para criar significado. A semântica se refere ao estudo do significado das palavras, frases e sentenças em uma língua. Ela explora como as palavras se relacionam com conceitos e como as combinações de palavras comunicam significados precisos.


 

O uso que é dado a linguagem é por vezes tão elaborado, complexo e sutil, que permite que estratégias de poder muito bem orquestradas sejam desenvolvidas sem aparente oposição por parte daqueles que mais saíram perdendo com a implantação de tais metas e objetivos dentro da realidade social e política do Estado.

De modo semelhante a um ilusionista, há aqui uma habilidade que é desenvolvida com o objetivo de validar coisas aparentemente impossíveis. Trata-se de um modo sutil de propaganda de uma determinada ideologia política que quer não somente ser a hegemônica, como também a única possível. Muitas vezes, aspectos presentes na cultura das sociedades e do desenvolvimento humano são usados em benefício destas mudanças no uso da linguagem em proveito de grupos sociais que buscam o poder, tais aspectos podem estar presentes, por exemplo, nos impulsos rebeldes e juvenis.

Vários são os exemplos possíveis, como, por exemplo, na década de 60 do século XX o uso da expressão "Make love, not war", “Faça amor, não guerra”, tornando-se no lema de toda uma geração jovem e de movimentos sociais. Neste exemplo, amor e guerra são intercambiáveis e se busca a substituição de um comportamento social por outro, numa crítica à sociedade daquele tempo e o fim das hostilidades então presentes no campo político internacional composto por uma guerra, naquele momento e grupo social, impopular.

Neste tocante, “liberdade” se confunde com “totalitarismo”, “democracia” com “ditadura”, “doutrinação” com “indoutrinação”, “violência” com “não-violência”, “ficção” com “não-ficção”, “verdade” com “mentira”, “tolerância” com “intolerância”. Enfim, por meio do uso da linguagem pode-se propor sentidos e significados positivos a práticas realmente negativas, ou seu oposto. Conceitos que poderiam ter uma conotação negativa podem ser transformados em coisas positivas, criando uma ilusão que mascara a realidade social reinante.

Pensemos no significado da palavra “favela” em nosso país e seu uso. A palavra se refere ao nome dado a uma planta existente em Canudos, local de uma guerra (Guerra de Canudos, novembro de 1896 até outubro de 1897). Os soldados que participaram desta guerra retornaram ao Rio de Janeiro e acamparam no Centro da cidade, próximos a um morro. Aguardavam uma providência do governo quanto ao seu assentamento definitivo em moradias. Como ninguém tomava as providências necessárias, o grupo de soldados optou por tomar ele próprio a providência e se mudou para o morro próximo ao seu acampamento, construindo ali suas moradias. Como as moradias construídas neste morro foram resultado das providências tomadas pelos próprios soldados, já que ninguém do governo tomara a providência necessária para resolver a questão, o morro passou a ser conhecido por “Morro da Providência” e as moradias no formato em que ali foram construídas, por “Favela”, em referência a planta presente em Canudos. O nome “Favela” se espalhou para outros ajuntamentos construídos de forma análoga em outras partes da cidade e, posteriormente, do país.

A palavra "favela" passou a ser utilizada para fazer referência a um tipo particular de moradias informais, em geral presentes em áreas urbanas. As características presentes em tais habitações são: serem precárias, terem uma infraestrutura inadequada e apresentando as pessoas ali residentes condições de maior pobreza. As favelas frequentemente surgem como resultado da falta de planejamento urbano, desigualdades socioeconômicas e falta de acesso à moradia digna para a população de baixa renda. O termo tornou-se amplamente utilizado para descrever essas áreas em muitas cidades brasileiras.

O nome tem toda uma referência histórica, está associada a uma planta presente em Canudos e foi o nome do assentamento dos soldados provenientes da guerra, na cidade do Rio de Janeiro, no Morro da Providência, cujo nome também possui vínculos históricos importantes associados a estes soldados. Posteriormente, o nome ficou lugar comum para descrever este tipo de residências ocupadas por pessoas de baixa renda e sem a presença do Estado, sendo comum a falta de segurança pública, de serviços provenientes da iniciativa privada, como por exemplo sinal de tv por assinatura, dentre outros, não recolhimento de lixo, falta de creches, falta de escolas, enfim, falta da presença do Estado como esta ocorre em demais bairros da cidade do Rio de Janeiro, exemplo: Tijuca, Madureira, Copacabana, etc.

No contexto histórico e social associado à palavra "favela" no Brasil, temos a falta de infraestrutura e serviços públicos nessas áreas, contrastando com bairros mais desenvolvidos. Nesta descrição ressalta-se como a falta de presença do Estado e de serviços essenciais afeta as comunidades de baixa renda, criando e mantendo desigualdades significativas.

A questão das favelas frequentemente está associada ao debate político sobre políticas de moradia, urbanização, inclusão social e igualdade de oportunidades, que podem ser relevantes para a abordagem de um espectro político de esquerda em seu projeto. Esse é um tema importante e sensível, que pode ser abordado em uma discussão sobre política de esquerda, considerando a perspectiva de inclusão social, justiça e igualdade de oportunidades.

Há alguns anos atrás movimentos sociais associados ao grupo político então no poder, em vez de tornar o Estado presente, mudaram o nome de "favela" para "comunidade", deste modo, resolvia-se tudo sem nada resolver. A “favela” sumia, pois não mais existia no uso da linguagem, surgia a “comunidade” com tudo de bom. As pessoas residentes nas “favelas” ficavam ofendidas se você chamasse o local de "favela", dizendo que não moravam em uma “favela” e sim em uma "comunidade". No entanto, como nada do que o Estado deveria fazer (coleta de lixo, segurança pública, creches, escolas, serviços em geral, etc.) fora feito, aos poucos moradores de outras regiões, bairros organizados, passaram a ficar ofendidos se alguém usasse a palavra "comunidade" para se referir ao seu local de moradia. Ou seja, o termo "comunidade" passou a representar tudo de ruim que antes estava vinculado à "favela".

Estamos descrevendo como houve uma mudança na terminologia utilizada para descrever esses assentamentos informais, com o termo "favela" foi sendo substituído pelo termo "comunidade", como parte de uma estratégia política. No entanto, essa mudança de terminologia não foi acompanhada por melhorias substanciais na qualidade de vida das pessoas que vivem nessas áreas. Como resultado, o termo "comunidade" acabou se tornando associado a uma falta de serviços públicos e infraestrutura, de maneira semelhante à situação anteriormente associada ao termo "favela". Isso demonstra como a linguagem pode ser usada de maneira estratégica na comunicação política, mas a realidade das condições não foi alterada.

Quando o termo "comunidade" ficou por demais comprometido, o grupo político então no poder, por meio dos seus grupos sociais ativistas, mudou de novo a palavra usada para "favela", ressaltando seu aspecto histórico e de estar vinculada a uma planta existente na região de Canudos. Mais uma vez nada na prática foi feito e sim, novamente, a mudança de uma palavra.

Vamos dar continuidade com outra mudança no Brasil. Há algumas décadas os integrantes da raça negra eram por vezes aqui chamados de "pretos", o que com o avanço da consciência de valorização deste grupo, passou a ser entendido como algo pejorativo e passou-se a exigir que a raça fosse designada não como "pretos" e sim como "raça negra". Alguns conjuntos musicais formados por negros no Brasil passaram a enaltecer esta terminologia, tal como o "Raça Negra", "Negritude Junior", e vários outros. Uma pessoa instruída poderia argumentar que "preto" é ausência de cor na física, mas que a raça é "negra". Isto está correto com a língua portuguesa e aos poucos passou a ser adotado. Nos EUA o comum é falar em "Black People", quando os movimentos de defesa e valorização racial em nosso país começaram a se inspirar nos EUA, resolveram traduzir o “black” por “preto”, e, deste modo, parar de usar o termo "negro". A chamada "consciência negra", de alguns anos atrás parou de existir. Se há poucas décadas era ofensivo chamar de "preto" e devia-se chamar de "negro", hoje é exatamente o oposto. Temos aqui um movimento que despreza o real significado da palavra dentro da língua portuguesa e que busca imitar o contexto existente nos EUA. Falamos da "favela e comunidade", agora "preto e negro"

A evolução das palavras "preto" e "negro" no contexto brasileiro reflete tanto a mudança na consciência social quanto a influência de movimentos e narrativas vindas de outras culturas, como os Estados Unidos.

Vamos ao uso de outra palavra associada a movimentos de direitos civis e a imitação da cultura dos EUA. O termo "gay" era algo muito pejorativo e usado para discriminar este grupo de homens de comportamento homossexual nos EUA, semelhante ao termo "viado" no Brasil. Ocorre que nos EUA o movimento pelos direitos civis, quando chegou a este grupo, deu preferência para se autodenominar de "gay", usando a expressão que antes era uma acusação e ofensa, para agora representar o orgulho por uma escolha em relação a preferência de relacionamentos amorosos sexuais.

O termo "gay" tinha originalmente conotações pejorativas e era usado de forma discriminatória para se referir a homens de comportamento homossexual. No entanto, com o desenvolvimento do movimento pelos direitos civis e dos ditos grupos minoritários, nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, houve um esforço para reivindicar e redefinir o termo de maneira positiva. Nos anos subsequentes ao movimento pelos direitos civis, a comunidade LGBTQIA+ adotou o termo "gay" como uma forma de autoidentificação e empoderamento. Ao fazer isso, o movimento transformou o termo pejorativo em um símbolo de orgulho, aceitação e luta por igualdade. Essa mudança na percepção do termo reflete a capacidade da comunidade LGBTQIA+ de se apropriar da linguagem para rejeitar estigmas e promover uma mensagem positiva.

Na cultura brasileira, o termo "viado" foi historicamente usado de maneira pejorativa e ofensiva para se referir a homens de comportamento homossexual, semelhante ao termo "gay" antes de sua redefinição nos Estados Unidos. A palavra "viado" é um exemplo de linguagem que carrega conotações negativas e foi empregada como um insulto e uma forma de discriminação.

Assim como ocorreu com o termo "gay" nos Estados Unidos, a possibilidade de redefinir o termo "viado" para demonstrar respeito, orgulho e empoderamento entre a comunidade LGBTQIA+ no Brasil seria um processo complexo e sensível, requerendo um esforço consciente de ressignificação e um movimento cultural e social que promovesse a aceitação e a valorização da diversidade sexual e de gênero.

Há uma enorme influência econômica dos EUA em outros países, incluso o Brasil. Vamos imaginar que fosse o Brasil a ter esta projeção econômica para o mundo, neste caso e analogamente, seria possível que o termo adotado para demostrar o respeito e orgulho por um comportamento amoroso afetivo sexual entre homens fosse não "gay" e sim "viado". O que quero dizer é que dentro da cultura brasileira o termo "viado" faz a vez do termo "gay" antes de sua mudança de significado.

É comum em alguns governos a tentativa de aprovação de leis restritivas das liberdades individuais com a justificativa de defesa da democracia. Parece um contra-senso. Neste momento recente, no Brasil de 2023, o governo busca a aprovação de várias restrições ao uso individual da Internet e das redes sociais, visando claramente o controle e a evitação de críticas, pois, hoje as redes sociais e a Internet em geral são majoritariamente dominadas pela direita política, sendo este o maior grupo social político no tocante a ser ativo, expressando suas ideias, podendo mostrar por meio de antigas reportagens, fotos e filmes, quando algum político, ou o governo, mentem. Proibir ou restringir a Internet e as redes sociais serem limitadas há de favorecer políticos que queiram criar uma narrativa mentirosa e não serem contraditados com provas cabais de suas mentiras. Então, vamos proibir e restringir o uso das redes sociais em nome da democracia. Neste caso, a dicotomia passa a ser entre “restrição, censura e proibição de manifestar as próprias ideias”, por um lado, e “democracia”, por outro.

Nesta situação aqui descrita, em que governos buscam aprovar leis restritivas sob a justificativa de defesa da democracia, enquanto, ao mesmo tempo, essas restrições podem limitar as liberdades individuais e a capacidade de expressão, temos um exemplo claro de como as questões políticas, a linguagem e a retórica podem ser usadas de maneira estratégica para avançar agendas políticas específicas.

Restrições à internet e às redes sociais podem ser utilizadas de maneira abusiva para silenciar críticos e opositores políticos. Isso levanta preocupações sobre a concentração de poder nas mãos do governo e a possibilidade de criar um ambiente de censura sob o disfarce de uma maior liberdade, segurança e democracia.

Se eu chamo "ditatura" ou "repressão" ou "censura", de "democracia e liberdade", se calo os meios da oposição se manifestar, então devo dizer que vivo em uma democracia cheia de liberdade onde por regra impera uma ditadura, repressão e censura, que não deve ser falada ou comentada? O uso de termos como "democracia" e "liberdade" para descrever uma situação que envolve ditadura, repressão e censura é um exemplo de manipulação retórica e distorção semântica. Isso pode ser um indicativo de um governo ou regime que busca mascarar ou justificar suas ações autoritárias por meio do uso enganoso da linguagem. O objetivo é criar uma narrativa que contradiz a realidade e que seja projetada para manter a população desinformada, impedindo a livre expressão e a crítica ao regime. Essa prática é comumente usada em contextos autoritários para consolidar o poder e restringir a oposição. Quando se chama uma ditadura, repressão ou censura, de "democracia e liberdade", está-se lidando com um exemplo clássico de manipulação retórica, onde a semântica é distorcida para ocultar a verdadeira natureza do governo e enganar a população.

Alguns grupos políticos quando no poder, fazem discursos corretos dentro da sintaxe, mas alterando o sentido e significado da semântica empregada visando angariar benefícios próprios.

Grupos políticos podem usar discursos que obedecem às regras da sintaxe corretamente, mas manipulam a semântica para alcançar seus objetivos políticos e angariar benefícios próprios. Isso é conhecido como manipulação retórica e pode envolver várias estratégias para moldar a percepção pública. Alguns exemplos incluem: eufemismos e disfarces; inversão de significado; falácias e manipulações lógicas; apelo às emoções; falsas promessas e hipérboles; desvio de atenção; redefinição de termos.

Quando do uso de eufemismos e disfarces, a estratégia é usar termos positivos, neutros, mais amenos ou vagos para mascarar a verdadeira natureza de suas políticas ou ações. Isso pode minimizar a percepção negativa e fazer com que suas ações pareçam mais aceitáveis. Quando se faz propositalmente a Inversão de Significado, busca-se inverter os significados de termos para confundir ou criar uma narrativa positiva em torno de ações que podem ser controversas ou mesmo prejudiciais aos envolvidos. Também é possível fazer uso de argumentos falaciosos para distorcer a lógica e persuadir a audiência a aceitar uma ideia, mesmo que ela não seja logicamente válida. Isso pode incluir generalizações, ataques pessoais e outros truques retóricos. Também comum o emprego da estratégia de fazer apelo às emoções do público, de modo a conseguir por tal meio explorar emoções tais como o medo, a esperança ou a raiva, para gerar apoio para determinadas políticas, independentemente de sua realidade e eficácia. O uso de falsas promessas e hipérboles se faz presente quando diante de estratégias nas quais se faz promessas exageradas ou irrealistas para criar expectativas positivas e atrair apoio, mesmo que a capacidade de cumprir essas promessas seja altamente questionável. Também é possível focar em questões secundárias ou irrelevantes para desviar a atenção do público de problemas ou questões realmente importantes. Comum, também atribuir novos significados a palavras-chave para ajustar a narrativa de acordo com suas intenções, deste modo redefinindo os termos empregados. Essas estratégias são usadas para criar uma imagem favorável ou para manipular a opinião pública, muitas vezes obscurecendo a verdadeira natureza das ações ou políticas implementadas.

Também é possível promover narrativas que desumanizam grupos alvo, tornando mais fácil justificar políticas discriminatórias e repressivas. Esta desumanização e mesmo propaganda de ódio pode ser observada em alguns governos no decorrer da história da humanidade. Também a tentativa de manipular o passado para se encaixar na narrativa do governo e reforçar a ideologia dominante, deste modo, reescrevendo a história. Outra estratégia empregada é criar inimigos externos ou internos visando direcionar a atenção e a raiva do público, a fim de desviar a atenção das questões internas e unificar a população em torno do governo. A criação de um líder carismático é uma estratégia que também pode ser exitosamente empreendida, usando da retórica para apresentar e promover o líder como uma figura messiânica ou salvadora, aumentando seu apelo emocional. Há também a estratégia de manipular, em proveito próprio, símbolos presentes no imaginário coletivo, tais como, imagens e slogans, visando criar uma identidade do grupo que seja unificadora e promova a lealdade ao regime e ao governo. O objetivo de tais técnicas é consolidar o poder, controlar as massas e promover a adesão às ideologias do governo.

Busca-se com mudanças no uso da linguagem atingir os adversários políticos no campo psicológico e social. Não basta afirmar que as ideias dos adversários políticos estão erradas, mas torna-se necessário ir mais a fundo, negando seu direito mesmo a expressá-las, seja por serem estes doentes mentais de algum tipo, ou, simplesmente, por tais fatos não existirem.

Podemos vislumbrar aqui um uso estratégico da linguagem objetivando resultados políticos por grupos ocupando o poder ou desejando vir a ocupa-lo. Quando pensamos nestas mudanças de terminologia, dentro deste fenômeno temos um tipo de mudança linguística que pode ser entendida como uma forma de manipulação simbólica, nos quais os termos são usados e alterados para influenciar a percepção pública e moldar a narrativa em torno de questões políticas e sociais. A retórica política pode influenciar a percepção das pessoas sobre determinados problemas sociais e também como a linguagem pode ser usada para moldar a narrativa política.

Ao mudar o significado, o sentido ou mesmo a terminologia empregada para descrever algo, pode-se ter como objetivo suavizar a imagem deste algo para a sociedade, tornando-a mais aceitável diante do povo. Podemos ter aqui presente a eufemização e a desumanização de uma dada situação, ao minimizar os desafios ali presentes, bem como, as dificuldades enfrentadas por esta população.

A alteração de termos pode ser usada para construir uma narrativa política específica, destacando certos aspectos históricos ou culturais, para justificar uma agenda política. Isso pode servir para mobilizar apoio ou desviar a atenção de problemas subjacentes. Ao focar na mudança de linguagem em vez de abordar as questões reais subjacentes, os governos ou grupos políticos podem evitar a responsabilidade de implementar soluções efetivas e, deste modo, buscar mascarar a realidade.

A mudança de terminologia também pode ser usada para criar um senso de identidade e pertencimento entre as comunidades afetadas, reforçando uma sensação de orgulho e história cultural. A estratégia de mudança de significado de palavras pode ser usada repetidamente, visando atingir distintos objetivos políticos no decorrer do tempo histórico.

Tudo está conectado, ou seja, o uso da linguagem, gramática, sintaxe e semântica, associado a política. A linguagem não é estática e pode ser moldada por forças sociais, políticas e culturais. A linguagem pode ser usada para expressar identidade, empoderamento e reafirmação cultural, dentre outros possíveis usos.

A alteração de terminologia pode ter implicações profundas na percepção pública, nos debates sociais e até mesmo nas políticas públicas. Há um real impacto político e social que pode influenciar como as pessoas se veem, como as comunidades são representadas e como a justiça e a igualdade são buscadas. A interconexão entre linguagem, política e cultura é complexa. Mudanças terminológicas podem ser motivadas por uma variedade de fatores.

Podemos destacar uma técnica retórica que pode ser encontrada em discursos políticos e retóricas de alguns grupos e mesmo de alguns governos. Essa técnica envolve a inversão de significados, dando conotações positivas a conceitos que tradicionalmente carregam conotações negativas e vice-versa. É uma forma de manipulação discursiva que visa influenciar a percepção pública e moldar a compreensão dos conceitos em questão.

A inversão de significados presentes no uso tradicional da linguagem é uma estratégia que envolve uma redefinição sutil de conceitos. Ao atribuir conotações positivas a termos tradicionalmente negativos, ou vice-versa, os discursos podem moldar a percepção pública e criar confusão sobre os valores subjacentes a esses conceitos. Essa técnica muitas vezes busca criar confusão e desviar a atenção das questões subjacentes, obtendo a manipulação das pessoas envolvidas. Ao apresentar termos em contextos diferentes do esperado, os discursos podem distrair as pessoas da realidade política, social ou econômica, desviando o foco para questões semânticas. A inversão de significados também pode ser usada para minimizar ou eufemizar a natureza de certas políticas ou ações. Ao dar uma conotação positiva a algo que é percebido como negativo, os discursos podem atenuar as preocupações públicas e criar uma imagem mais favorável a coisa que se quer vender ao público. Essa estratégia muitas vezes explora as emoções e os preconceitos das pessoas. Ao atribuir conotações positivas a conceitos que apelam para certos valores, os discursos podem buscar o apoio emocional das pessoas, independentemente das realidades objetivas.   Inverter significados também pode ser uma tentativa de desacreditar o discurso crítico ou de oposição. Ao rotular conceitos-chave usados por críticos como sendo seus próprios opostos, os discursos podem tentar deslegitimar ou desvalorizar as preocupações dos opositores, desconstruindo seu discurso crítico.

A manipulação retórica não é restrita a uma ideologia específica, mas pode ser observada em diferentes contextos políticos ao longo da história. A manipulação retórica e o uso de discursos que distorcem a semântica para atender a objetivos políticos não são exclusivos de um espectro político específico. Eles podem ser observados em diversos contextos políticos, incluindo governos de esquerda, ditaduras, bem como nos governos fascistas e nazistas da primeira metade do século XX.

Tanto os regimes fascistas quanto os nazistas usaram técnicas de manipulação discursiva para promover suas agendas e consolidar seu poder. Eles muitas vezes empregaram a propaganda para controlar a narrativa pública e moldar a percepção das massas.

Encontramos o emprego de tais estratégias e técnicas em governos ditatoriais, em regimes de tendência de esquerda política, em regimes fascistas e nazistas. Tais estratégias e técnicas de manipulação de massas podem ser encontradas em líderes políticos tais como: Mussolini, Hitler e Stalin. Estão presentes tanto no nazismo e fascismo, como também no comunismo (ou governos que se intitulam como tal).

Ao pensarmos em Mussolini (Itália - Regime Fascista), temos o uso do termo “fascismo” e também a propaganda nacionalista, dentre outros elementos também importantes. Mussolini e seu regime empregaram a palavra "fascismo" para criar uma conotação positiva, enfatizando a ideia de unidade nacional e força. O termo originalmente se referia a um feixe de varas, simbolizando a força pela unidade, mas acabou sendo associado a um regime autoritário e repressivo. A propaganda nacionalista fascista usou símbolos e imagens que glorificavam a história romana e a grandeza da Itália, distorcendo o passado para promover a ideia de uma nação superior e unificada.

Já ao pensarmos em Hitler (Alemanha – Regime Nazista), temos o uso da expressão “espaço vital” e também da propaganda anti-semita, dentre outros notáveis elementos presentes. Hitler usou o termo "Lebensraum" (espaço vital) para justificar a expansão territorial da Alemanha. Embora o termo pudesse parecer razoável à primeira vista, ele mascarava a agressão e a conquista de territórios estrangeiros. O regime nazista usou termos desumanizantes como "Untermenschen" (sub-humanos) dentro de suas campanhas publicitárias, para se referir a grupos perseguidos, como judeus e ciganos. Isso os tornou mais aceitáveis de serem alvos de discriminação e violência.

Ao pensarmos em Stalin (União Soviética – Regime Comunista - Período Stalinista) temos que este utilizou de expressões tais como “inimigos do povo” e também buscou obter uma revisão da história, manipulando-a em benefício do regime. Stalin usou o termo "inimigos do povo" para rotular qualquer pessoa que fosse percebida como ameaça ao regime. Isso permitiu a perseguição e execução de opositores sob a justificativa de proteger os interesses do povo. Stalin e seu governo frequentemente reescreviam a história e manipulavam a narrativa para enaltecer sua liderança e a imagem do Partido Comunista. Isso incluía eliminar ou modificar registros históricos para se adequar à agenda do governo.

Esses exemplos destacam como esses líderes políticos usaram a linguagem de maneira manipuladora para promover suas agendas políticas e consolidar seu poder, muitas vezes distorcendo a semântica para enganar e controlar as massas.

Na Venezuela, o governo liderado pelo presidente Hugo Chávez e, posteriormente, pelo presidente Nicolás Maduro tem sido objeto de controvérsias e críticas significativas por parte de diversos grupos políticos e observadores internacionais. A partir do governo de Chávez e continuando sob Maduro, houve acusações de autoritarismo, repressão política e manipulação da linguagem e retórica, bem como distorção semântica, para consolidar o poder.

O governo de Chávez frequentemente usava o termo "Revolução Bolivariana" para se referir ao seu movimento político. No entanto, muitos críticos argumentaram que essa retórica estava sendo usada para justificar medidas autoritárias e a concentração de poder nas mãos do governo. Ao longo dos anos, houve alegações de censura da mídia e restrições à liberdade de imprensa na Venezuela. O governo frequentemente acusou veículos de comunicação de propagar "falsas notícias" para descreditar informações contrárias à narrativa oficial. Críticos do governo frequentemente alegam que o governo de Maduro usou acusações de conspiração e traição para reprimir e prender opositores políticos, usando linguagem que sugere uma ameaça à "pátria" ou à "revolução", caracterizando uma verdadeira política de criminalização de opositores ao governo. A retórica oficial frequentemente enfatizava a "democracia participativa" e a importância do voto, mas havia alegações de irregularidades eleitorais e restrições ao processo democrático, caracterizando uma manipulação eleitoral. O governo usou termos e símbolos nacionalistas para criar uma narrativa de unidade nacional e defesa dos interesses do país, muitas vezes desviando a atenção de questões internas e problemas econômicos.

Hugo Chávez era conhecido por sua retórica populista e uso carismático da linguagem para se conectar com as massas. Ele frequentemente usava termos emocionais e imagens fortes para mobilizar o apoio popular, empregando uma linguagem que enfatizava a luta contra as elites e promovia um senso de igualdade e justiça social. Chávez frequentemente se referia ao seu governo como uma "Revolução Bolivariana" e promovia uma ideologia socialista. Através dessa linguagem, ele buscava criar um vínculo com o líder histórico da independência da Venezuela, Simón Bolívar, enquanto enfatizava a redistribuição de riqueza e recursos, no que poderia ser uma "Revolução Socialista". Chávez usava retórica nacionalista e anti-imperialista, retratando a Venezuela como uma nação resistente contra as influências estrangeiras. Isso permitia que ele direcionasse a insatisfação popular para "inimigos externos" e consolidasse seu poder por meio desta estratégia de manipulação das massas.

Nicolás Maduro continuou muitas das estratégias retóricas de Chávez após sua morte em 2013. Ele frequentemente usava termos como "pátria", "revolução" e "povo" para enfatizar a continuidade da ideologia chavista e manter o apoio popular. Maduro frequentemente usava a linguagem para descrever a crise econômica da Venezuela como resultado de uma "guerra econômica" ou uma "conspiração imperialista", desviando a atenção das políticas internas e da má administração e proporcionando por tal meio uma redefinição de termos econômicos. Tanto em Chávez quanto também em Maduro, temos o uso da semântica para justificar medidas autoritárias. Usaram termos como "democracia participativa" para justificar medidas autoritárias, muitas vezes alegando que estavam empoderando o povo enquanto restringiam a oposição e a liberdade de imprensa. Esses exemplos ilustram como a linguagem foi usada por Chávez e Maduro para moldar a narrativa política, construir um culto à personalidade e justificar medidas políticas, enquanto manipulavam a percepção pública para manter o controle e o apoio popular.

A Venezuela está em uma crise, com seu povo sofrendo fome e outras necessidades, enquanto o ditador Maduro continua no poder em 2023, com a oposição ainda sufocada. A situação na Venezuela é caracterizada pela crise econômica, escassez de alimentos e outros bens básicos, bem como a repressão política e o autoritarismo. A repressão política, o autoritarismo, a supressão da liberdade de expressão e a perseguição de opositores minaram a capacidade do país de abordar eficazmente os desafios e contribuíram para o isolamento internacional.

A utilização da linguagem política para fins manipulativos não é um fenômeno restrito a uma única época ou regime. Exemplos históricos, como os governos de Mussolini, Hitler, Stalin e regimes autoritários, demonstram como a sintaxe e a semântica foram empregadas para consolidar o poder e controlar a narrativa. No cenário contemporâneo, a Venezuela e outros contextos mostram como a reinterpretação de termos pode ser usada para justificar ações questionáveis e mascarar a realidade.

Nosso enfoque continua sendo o uso da linguagem (sintaxe e semântica) pelos políticos no governo ou que pretendem chegar ao poder. Voltando ao início. "favela - comunidade", "preto - negro", "gay - viado", "liberdade - censura", "democracia - ditadura", "proteção - repressão", enfim, governos distintos de acordo com a época histórica fazem um uso próprio da linguagem, "sintaxe - semântica" visando obter proveitos próprios e melhor governabilidade. Dentro do contexto sobre o uso da linguagem (sintaxe e semântica) por governos para atingir seus próprios objetivos, aqui estão mais alguns exemplos de paradoxos linguísticos e contradições semelhantes que têm ocorrido em diferentes contextos históricos: “Revolução cultural”; “Democracia popular”; “liberdade de expressão”; “defesa nacional”; “estado de emergência; "Guerra e Paz".

"Revolução Cultural" - Durante a Revolução Cultural na China (China Maoísta), o termo "revolução cultural" foi usado para justificar campanhas brutais de repressão, perseguição política e redefinição da cultura e da história chinesas. Essa contradição destacou como os termos podem ser manipulados para mascarar a repressão por trás de uma fachada aparentemente positiva.

"Democracia Popular" - Alguns países comunistas usaram o termo "democracia popular" para descrever sistemas políticos centralizados e autoritários, onde o poder estava concentrado no partido dominante. Essa contradição entre o termo e a realidade política aponta para a manipulação da linguagem para fins de legitimação.

"Liberdade de Expressão" - Alguns regimes autoritários e baseados na censura, podem promover a "liberdade de expressão" como um valor, enquanto simultaneamente restringem severamente a liberdade de imprensa e a capacidade das pessoas de criticar o governo. Isso mostra como a semântica pode ser usada para criar uma imagem enganosa da realidade.

"Defesa Nacional" - Governos que buscam uma expansão militarista podem usar o termo "defesa nacional" para justificar suas ações agressivas. Isso destaca como a linguagem pode ser usada para mascarar motivações e objetivos ulteriores.

"Estado de Emergência" - Alguns líderes políticos podem declarar um "estado de emergência" como pretexto para manutenção e consolidação de seu poder e restringir as liberdades civis. Isso mostra como a sintaxe, apoiada na lei, pode ser usada para justificar ações que, de outra forma, seriam contestadas.

"Guerra e Paz" - No livro "1984" de George Orwell, o termo "guerra / paz" é um exemplo clássico de "novilíngua", uma linguagem criada pelo governo totalitário para controlar o pensamento das pessoas. Essa expressão ilustra como o uso da linguagem pode ser distorcido para criar ambiguidades e redefinir conceitos para atender às agendas do poder.

A "novilíngua" é um conceito central no livro "1984" de George Orwell, uma distopia que descreve uma sociedade totalitária governada pelo Partido e controlada através da manipulação da linguagem. A “novilíngua” é uma língua criada pelo governo para limitar o pensamento crítico, eliminar palavras e conceitos que possam representar ameaças ao regime e redefinir termos para servir aos interesses do poder. Essa ideia se relaciona diretamente com o uso da linguagem para manipulação política e social, um tema que temos explorado em nossa discussão.

A “novilíngua” em "1984" é projetada para eliminar a oposição, alterar a realidade e facilitar a propaganda. Limitar o Pensamento Crítico: Através da eliminação de palavras e conceitos que expressem pensamentos subversivos, a “novilíngua” reduz a capacidade das pessoas de questionar ou criticar o governo. Termos que poderiam inspirar resistência são removidos, resultando em uma população incapaz de articular pensamentos revolucionários. Eliminar a Oposição: A “novilíngua” permite que o governo remova termos que possam ser usados para expressar oposição ou descontentamento. Isso facilita a supressão de dissidentes e a criação de um ambiente onde a oposição é linguisticamente impossível. Alterar a Realidade: A “novilíngua” permite que o governo redefina termos para manipular a percepção da realidade. Por exemplo, ao transformar palavras em antônimos de seus significados originais, como "guerra" em "paz" e "escravidão" em "liberdade", o governo pode criar uma falsa ilusão de bem-estar. Facilitar a Propaganda: A “novilíngua” é uma ferramenta poderosa para a disseminação de propaganda. Ao redefinir termos, o governo pode criar slogans simplificados e enganosos que são fáceis de lembrar e repetir, reforçando a ideologia dominante.

A relação entre a “novilíngua” em "1984" e nossa discussão sobre o uso da linguagem na política é notável. Assim como nos exemplos que discutimos acima, a “novilíngua” ilustra como a manipulação da linguagem pode ser usada para controlar, confundir e enganar as massas. Isso enfatiza a importância de uma análise crítica da linguagem usada por governos e autoridades, e destaca os perigos de uma sociedade onde a linguagem é distorcida para servir a interesses políticos.

A palavra original em inglês utilizada por George Orwell no livro "1984" é "Newspeak". "Newspeak" é a palavra que se refere à língua controlada e manipulada pelo governo totalitário da história. A palavra "Newspeak" pode ser traduzida para o português como "novilíngua". Uma tradução mais literal de "Newspeak" para o português seria "nova fala". Essa tradução ainda captura a ideia central do conceito, que é a criação de uma linguagem controlada e manipulada pelo governo para restringir o pensamento crítico e moldar a percepção da realidade. Portanto, tanto "novilíngua" quanto "nova fala" são traduções apropriadas para transmitir o conceito original presente no livro "1984" de George Orwell. Portanto, o termo correto a ser utilizado é "novilíngua" ou “nova fala”, que é a tradução do conceito de "Newspeak" apresentado no livro "1984" de George Orwell. O uso da "novilíngua" ou “nova fala” no livro exemplifica o poder da manipulação linguística para controlar o pensamento e a percepção da realidade, um tema que discutimos acima em relação ao uso político da linguagem. A "novilíngua" de George Orwell, apresentada em "1984", representa um cenário extremo de manipulação linguística, onde termos são redefinidos para controlar o pensamento e limitar a dissidência. Esse conceito serve como alerta sobre os perigos da instrumentalização da linguagem na política, destacando como a sintaxe e a semântica podem ser usadas para subjugar a verdade e criar uma realidade alternativa.

O uso da linguagem pode ser manipulado para criar uma percepção específica da realidade, muitas vezes em desacordo com os fatos objetivos. A manipulação da linguagem política é um fenômeno intrincado e multifacetado que tem raízes profundas na história e na sociedade contemporânea. Ao explorar exemplos como a redefinição de termos, a criação de paradoxos linguísticos e a influência histórica, percebemos como a sintaxe e a semântica podem ser poderosas ferramentas nas mãos dos que buscam o poder ou desejam mantê-lo.

Grupos políticos podem redefinir termos como "liberdade" e "censura" para se adequar às suas agendas. Eles podem usar a palavra "liberdade" para justificar medidas restritivas, como a censura da imprensa ou o controle da internet. Ao mesmo tempo, podem retratar a censura como uma medida de "proteção" para preservar a estabilidade ou a segurança nacional. Essa redefinição conceitual permite que eles controlem o discurso público e minimizem as críticas. Ao criar essa ambiguidade linguística, os políticos podem confundir o público e criar uma narrativa que aparentemente promove a liberdade, enquanto, na prática, restringe o direito à livre expressão. A discussão sobre "liberdade e censura" é muitas vezes carregada emocionalmente, o que a torna um terreno fértil para a manipulação política. Políticos podem explorar os medos e as preocupações das pessoas para justificar a censura como uma forma de proteção contra ameaças percebidas. Isso pode criar uma divisão na sociedade, onde alguns apoiam medidas de censura sob o pretexto de "manter a ordem" ou "evitar o caos".

Pelo uso instrumental da linguagem é possível manipular e influenciar a opinião pública, redefinir conceitos, justificar ações. O uso manipulatório da linguagem, por meio de um adequado posicionamento da sintaxe e da semântica, pode permitir moldar uma narrativa favorável as ideias que o grupo pretende vender para as massas populacionais. Vários governos no decorrer da história fizeram uso da reinterpretação de termos e conceitos visando influenciar a opinião pública a seu favor. Por meio de uma boa estratégia linguística dentro de uma retórica bem estruturada é possível transformar palavras que em si mesmas venham a carregar toda uma conotação negativa, em termos positivos e bem vindos diante da percepção popular. Deste modo, podemos ter a criação de verdadeiros paradoxos linguísticos, nos quais as palavras empregadas contradizem a sua definição original dentro da sintaxe gramaticalmente prevista. Trata-se de uma eficaz tática visando proporcionar a ilusão de uma aparente normalidade em situações nada normais e por vezes criar um ar de liberdade dentro de um total autoritarismo.

Neste sentido, a palavra “democracia” pode ser usada para se referir a governos que mais corretamente deveriam ser chamados de “ditaturas” e onde sequer há liberdade de expressão, predominando a censura. Tais recursos podem ser usados para ocultar a verdadeira face do poder ali exercido. Dentro deste contexto onde a manipulação intencional da linguagem se faz constantemente presente, grupos no poder ou que almejem chegar ao poder, podem cooptar movimentos sociais e culturais que em sua origem seriam legítimos, para seus interesses escusos. Numa tentativa de manipular as massas e o significado da palavra, pode-se, por exemplo, falar em “democracia relativa” para fazer referência não a um regime democrático, mas sim a um regime cruel, autoritário e antidemocrático, a semelhança de uma roupa nova que venha a vestir ou mascarar a verdade dos fatos. A censura disfarçada de "proteção" pode silenciar vozes críticas e sufocar o debate público.

A linguagem política é fundamental na construção de narrativas que moldam a percepção pública de eventos. A escolha cuidadosa de palavras permite que políticos contem histórias convincentes, mesmo que essas histórias não correspondam à realidade. A linguagem usada na política pode explorar emoções e medos, amplificando divisões sociais e criando polarização diante de uma manipulação emocional. Termos carregados emocionalmente podem ser usados para criar uma atmosfera de crise e urgência, levando as pessoas a apoiar ações que normalmente rejeitariam.

A manipulação da linguagem pode ser usada para deslegitimar críticas legítimas, não somente limitando a crítica, mas também impedindo o real debate sobre os temas em pauta. Ao rotular críticos como "antipatriotas" ou "radicais", ou “nazistas”, ou “fascistas”, ou “extremistas”, ou “antidemocráticos”, os políticos que assim procedem podem desencorajar o debate aberto e criar um ambiente de conformidade.

O uso manipulativo da linguagem desempenha um papel fundamental na criação de uma suposta ilusão de democracia. Através de uma cuidadosa seleção de palavras, discursos e narrativas, os políticos podem dar a impressão de que estamos vivendo em um sistema democrático, enquanto, na realidade, as ações e políticas podem minar os reais princípios democráticos. A retórica política muitas vezes é repleta de promessas vazias e slogans cativantes que apelam às emoções do público, mas não são apoiados por ações concretas. Isso pode levar as pessoas a acreditar que estão participando ativamente de um processo democrático, enquanto suas vozes e necessidades são negligenciadas. Grupos políticos podem defender políticas autoritárias ou restritivas como medidas necessárias para "proteger a democracia" ou "garantir a ordem e a liberdade". Isso tem como objetivo criar uma ilusão de que a restrição de direitos individuais é um passo para preservar o sistema democrático. A manipulação da linguagem em torno da democracia cria uma ilusão que pode levar as pessoas a acreditar que estão exercendo seu poder e influência, quando na realidade estão sendo limitadas em sua capacidade de tomar decisões informadas e efetivas.

O uso correto da linguagem pode ser uma arma altamente poderosa nas mãos de pessoas ou grupos, visando a manipulação e controle de outras pessoas, ou mesmo das massas populacionais. Por vezes, por trás de palavras e discursos aparentemente inocentes e positivos, se esconde toda uma estratégia muito bem elaborada visando permitir chegar e permanecer no poder.

A atuação da esquerda política em nosso país tem se especializado na redefinição de termos, criando a aparência de solução de antigos problemas, sem, no entanto, nada resolver. Trata-se de uma estratégia política na qual usa-se a ressignificação de palavras com o objetivo de disfarçar problemas reais, cuja solução seria difícil e poderia implicar em ir contra bandeiras por ela mesma defendidas, deste modo, busca-se a criação de uma ilusão de progresso, enquanto a pobreza e os problemas nacionais persistem.

Por trás das palavras aparentemente nobres e sinceras, esconde-se uma estratégia para chegar ao poder, manter o poder, e controlar as massas. A redefinição de termos, a criação de distrações, a exploração emocional e a distorção da realidade são todos truques usados para enganar e distorcer a realidade.

Em vez de restringir o acesso à informação, poderia ser mais produtivo e construtivo promover a transparência governamental, a responsabilidade na divulgação de informações públicas e debates abertos visando a transparência e responsabilidade do governo perante a sociedade. A verdadeira liberdade e democracia se beneficia de um debate público robusto e da diversidade de vozes. Restringir a liberdade de expressão ou manipular o real significado das palavras e coisas, pode limitar a capacidade das pessoas de participar ativamente do discurso político.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

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