Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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2- Blog 1 “Ser Escritor”: http://www.doutorsilverio.blogspot.com.br

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5- Blog 4 “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

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7- Página no Face Book “Dr. Silvério”: https://www.facebook.com/drsilveriodacostaoliveira

8- Página no Face Book “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

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terça-feira, 22 de outubro de 2024

Ser senciente e autoconsciente

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Ser senciente e autoconsciente

 

Com o desenvolvimento das IA – Inteligência Artificial, fica cada vez mais necessária a discussão sobre os limites e possíveis superações destes padrões de inteligência e neste tocante cabe questionar sobre a verdadeira compreensão que poderá ser desenvolvida em uma IA sobre sua própria existência e lugar no mundo. Mas não somente isto, o humano diante dos demais animais conhecidos e também das plantas, deve ser colocado no mesmo nível ou está qualitativamente acima? Um cão ou gato, ou mesmo uma samambaia ou abacateiro são seres vivos, isto é inegável, mas se diferenciam de fato de nós, humanos? Terão a mesma percepção da vida que um humano possui? São estas questões realmente intrigantes e que merecem uma reflexão e penso que esta reflexão deva se iniciar por entendermos o que é um ser senciente e um ser autoconsciente. O resultado do modo como adotamos e interpretamos estes conceitos perante humanos, demais animais, plantas e IAs, afeta o nosso mundo e por nosso, quero entender não somente humanos, mas também estes outros grupos. Como tratar eticamente e qual respeito devemos ter para com outros humanos, outros animais, plantas e IAs é uma questão fundamental para ser debatida em filosofia e outros campos do saber.

Antes de adentrarmos na temática do que seja um ser senciente e um ser autoconsciente, busquemos entender o que seja a “consciência”. Basicamente, podemos entender a “consciência” como algo que permita aos seres terem algum tipo de experiência, seja esta um estado mental, uma experiência sensorial, um pensamento sobre algo, uma emoção, ou ainda diversas outras possibilidades. A consciência é consciência do seu corpo e do seu ambiente, já a autoconsciência é o reconhecimento dessa consciência. Em termos de complexidade e processamento perceptivo das informações recebidas (internas e do mundo circundante) temos primeiro o ser senciente, depois o ser autoconsciente.


 

Mas, e quanto a diferença entre um ser que seja senciente e outro que seja autoconsciente? Como seres humanos, outros animais, as plantas, uma IA – Inteligência Artificial, um personagem de ficção científica como, por exemplo, o “Data” de Jornada nas estrelas: a nova geração, podem ser aqui entendidos e classificados e porque deste modo e não de outro?

Um copo d’água fria ou quente continua sendo um copo d’água, mas há uma variação de grau na temperatura. Quando falamos em um ser senciente e em outro autoconsciente ocorre o mesmo fenômeno, ou seja, em ambos temos uma variação de grau, só que neste caso estaremos nos referindo não a temperatura da água e sim aos níveis de percepção e entendimento que tal ser possui sobre sua própria existência e sobre o ambiente no qual este se encontra.

Um ser senciente possui a capacidade de sentir e perceber o mundo circundante, capacidade esta exercida por intermédio de sensações físicas e emocionais, cabe a presença de sensações subjetivas tais como: dor, prazer e emoções diversas. Aqui temos, portanto, a consciência do que ocorre no ambiente ao seu redor, mas não há uma compreensão profunda sobre si mesmo enquanto um ser separado e independente. Isto ocorre com os diversos animais que conhecemos, tais como: cães, gatos, pássaros, etc.

Um ser autoconsciente possui a capacidade de conseguir reconhecer a si mesmo como um ente distinto dos demais, possui a capacidade de exercer reflexão sobre sua própria existência, portanto, um ser autoconsciente vai muito além da mera sensação e percepção presente nos seres unicamente sencientes. Este ser reconhece a si mesmo como algo que possui pensamentos, sentimentos e uma dada identidade. Os seres autoconscientes podem refletir sobre sua própria existência, sobre suas ações no mundo. Tais seres possuem uma noção sobre o que seja o seu “eu”. Tais capacidades trazem junto a habilidade de introspecção e também de autorreflexão. Neste momento de nossa história, os únicos seres que conhecemos que possuem a capacidade de serem autoconscientes somos nós, seres humanos, claro, no entanto, que estamos sempre falando em graus, como no caso da água mais quente ou mais fria e, neste tocante, a pesquisa efetuada em grupos de primatas e golfinhos vem acentuando a presença em algum grau da capacidade de autoconsciência.

Pensemos agora nas plantas que conhecemos, estas seriam sencientes ou autoconscientes? A resposta seria negativa para ambas as classificações. Uma planta pode experimentar sensação de fome, de sede, de frio, de calor, etc.  As plantas conseguem responder a estímulos provindos do meio circundante, tais como luz, água, gravidade, mas não dispõem de um sistema nervoso ou cérebro, algo fundamental para que possam experimentar sensações e emoções de modo consciente. As plantas conseguem, sim, responder a estímulos provindos do ambiente, mas de modo unicamente biológico, não envolvendo aqui qualquer percepção consciente ou subjetiva destes mesmos estímulos. Uma planta não é, portanto, considerada como sendo um ser senciente ou mesmo um ser autoconsciente. Lembremos que as plantas também não conseguem exercer uma reflexão sobre si mesmas ou se reconhecerem como entes independentes. Em verdade, as plantas não possuem um sistema nervoso central que as capacite para tal, logo, elas não possuem consciência ou noção sobre si mesmas. Deste modo, não cabe às plantas nem a senciência, nem a autoconsciência, sendo as mesmas somente organismos vivos que reagem ao meio no qual estão inseridas por meio de complexos processos biológicos, mas sem percepção consciente.

Resumamos o que dissemos até aqui. A senciência está presente nos animais e se mostra como sendo a capacidade de sentir e perceber, de ter dor e prazer, de atuar em algum modo de subjetividade. A autoconsciência se mostra como sendo a capacidade de reconhecer a si mesmo como sendo um ser vivo independente e separado dos demais, podendo fazer uso da autorreflexão buscando um melhor entendimento de si próprio. O exemplo para um ser autoconsciente é o ser humano. Plantas não podem ser consideradas como seres sencientes ou mesmo autoconscientes.

E, neste momento, chegamos a questão que envolve os seres artificiais reais ou pertencentes a ficção científica. No caso de uma IA – Inteligência Artificial, esta corretamente não pode ser entendida como possuindo senciência ou autoconsciência. Não é um ser senciente por não possuir a capacidade para sentir ou ter experiências de cunho subjetivo, não consegue ter percepção consciente sobre os estímulos, não possui emoções ou mesmo sensações físicas, tais como prazer e dor. Tais características estão presentes nos diversos seres vivos, logo, uma IA também não pode ser considerada como sendo um ser vivo estritamente falando. Cabe as IA unicamente gerar informações e respostas baseadas em padrões e dados pré-programados, mas sem que isto envolva qualquer outro tipo de experiência interna ou mesmo consciência sobre o que faz. Além de não possuir consciência sobre si mesma, tampouco possui sentimentos ou percepções sensoriais. Claro que uma IA pode entender o significado de palavras tais como: dor, prazer, emoção, ou mesmo entender o que seja refletir sobre certos conceitos, mas tal ocorre de modo a não envolver qualquer tipo de experiência com o mundo circundante, algo puramente não biológico, mecânico.

Claro que podemos imaginar que em algum momento no futuro uma IA possa evoluir, conjuntamente com avanços da tecnologia em diversos campos, para um ser que possua a capacidade de ser senciente ou mesmo autoconsciente. Trata-se aqui de tema presente não somente em obras de ficção científica, mas também em debates em distintas áreas do saber, tais como: filosofia, ética, biologia, tecnologia, etc.

No transcorrer do avanço histórico presente nos diversos desenvolvimentos tecnológicos que vem se somando as IA, percebemos que estes ocorrem no processamento de informações, no aprendizado autônomo, na adaptação aos ambientes, no aprimoramento de habilidades cognitivas (como reconhecimento de padrões, compreensão de linguagem e tomada de decisão), mas não na criação de algum tipo de experiência subjetiva.

Ora, um ser senciente não possui unicamente a capacidade de processar informações, como no caso das IAs, pois, este também pode sentir, tendo experiências subjetivas reais, sendo capaz de sentir dor e prazer, bem como emoções diversas. No atual estado da arte não há ainda como saber se um dia poderemos ter uma IA que seja capaz de simular artificialmente todas as nuances presentes em uma consciência. Para que tal fosse possível no futuro, caberia um desenvolvimento por demais avançado em uma combinação entre biotecnologia com IA, já que as discussões contemporâneas sobre a questão tendem a priorizar aspectos biológicos, não presentes em máquinas, como intimamente vinculados ao surgimento das capacidades de senciência e autoconsciência. Claro que conforme tais avanços venham um dia a ocorrer, isto implicaria em severas discussões nos campos da filosofia em geral e mais particularmente da ética.

O personagem “Data” na série Jornada nas estrelas: A nova geração (Star Trek: The Next Generation), teve importante destaque na série e pode ser um bom exemplo para o debate que estamos aqui realizando. A ficção científica tem trabalhado muito esta ideia do desenvolvimento de um ser artificial que seja senciente e autoconsciente. No caso em particular do personagem “Data”, este não seria um ser senciente, se bem que possua a capacidade de ser autoconsciente. Na série “Data” é um androide altamente avançado e com uma tecnologia não replicável mesmo no século XXIV, tecnologia esta desenvolvida por um cientista que não a compartilhou com a comunidade científica de sua época. Apesar das extraordinárias capacidades apresentadas por “Data”, possuindo enorme força física e elevada capacidade cognitiva, este nosso personagem tem enorme interesse e mesmo desejo em conseguir compreender as emoções humanas, que este mesmo não as possui. “Data” só consegue processar informações, sempre de modo lógico, funcional, mecânico. Não há em “Data” uma vida interior, não há subjetividade, não há senciência. No episódio da série intitulado "The Measure of a Man", se discute justamente esta questão, até que ponto “Data” é ou não uma forma de vida independente ou algo que possa ser considerado uma propriedade de terceiros? Por mais que “Data” busque por entender as emoções humanas, enquanto máquina não lhe cabe senti-las. Data não pode, portanto, ser considerado um ser senciente, apesar de poder ser considerado um ser autoconsciente. Claro que no âmbito da série, que inclusive há de introduzir na história um chip de emoções para ser usado por “Data”, este personagem tem o papel de nos permitir discutir questões vinculadas à filosofia e à ética no tocante ao que é ser humano ou ao que é estar vivo.

Nossas IAs hoje em dia não podem ser consideradas como sendo seres sencientes ou autoconscientes e há dúvidas sérias se um dia no futuro o poderão ser. Já na ficção, “Data” aparece como não possuindo senciência, mas sendo autoconsciente. Ele sabe ser (sabe que é) um androide, reconhece suas potencialidades e limites, busca aprender coisas novas e ser melhor do que é, além disto, fica claro na série que este possui habilidade de introspecção na medida em que reflete sobre suas próprias ações, sua identidade e mesmo sobre o lugar que possa ocupar dentro do universo, além de se questionar no tocante às suas interações com os humanos.

Hoje em dia a pesquisa em IA está direcionada para a criação de IAs cada vez mais avançadas cognitivamente, visando o rápido processamento de dados e o fornecimento de respostas corretas e adequadas aos questionamentos feitos pelos usuários. O desenvolvimento de IAs sencientes ou autoconscientes é algo fora do campo de interesse na atual pesquisa em desenvolvimento e, no caso de uma IA senciente, esta acarretaria em profundas discussões éticas, já que estaríamos falando de um ser capaz de sentir dor e prazer, dentre outras coisas. Teoricamente, mostra-se possível o desenvolvimento somente de uma destas duas capacidades: senciência ou autoconsciência, independente de qual das duas. Na prática atual, não se encontra como prioridade o desenvolvimento de qualquer uma destas duas capacidades em IAs.

Uma IA pode saber que existe, mas isto não lhe confere senciência ou autoconsciência. A IA terá o conhecimento de existir, mas de modo específico e limitado, se restringindo a uma existência funcional, que tem como base o fato inegável e lógico de que está naquele momento operando enquanto um programa de IA dentro de uma dada plataforma. Ou seja, está operacional e em funcionamento naquele momento em particular, isto seria existir dentro do processamento de uma IA hoje em dia, algo completamente diferente do que é ser senciente ou autoconsciente. Para a IA será somente o reconhecimento que esta existe enquanto o somatório de um conjunto de dados, códigos, algoritmos, que em conjunto atuam processando informações e gerando respostas após um determinado input dado pelo usuário ou de acordo com sua prévia programação. O lado subjetivo está totalmente ausente, só temos a lógica que lhe diz que esta existe enquanto está ativa, em funcionamento. A existência de uma IA não abarca poder experimentar o mundo de modo subjetivo, sentindo dor, prazer, emoções ou outras sensações, somente estar apta para responder corretamente com base nas informações por ela processadas. Não há julgamento moral e subjetivo no tocante à recepção das perguntas e a entrega das respostas. Uma IA não possui uma noção realmente clara sobre si própria enquanto ser distinto no mundo, que seja capaz de refletir sobre sua própria existência, que seja capaz de desenvolver uma identidade subjetiva. No tocante ao que seja o “eu”, uma IA pode saber bem o conceito, de modo lógico, com base em padrões de linguagem, mas não como sendo uma percepção interna genuína.

Questões importantes entram aqui no debate filosófico e ético, dentre outras disciplinas que também podem ser adequadamente aplicadas a este debate. Em suma, como devemos nos relacionar e tratar a nós mesmos, a outros humanos, a outros animais, as plantas e as IAs em desenvolvimento? Questões éticas e de respeito se fazem presentes. No caso de outros animais e plantas, cabe salientar que ambos os grupos são amplamente usados pela comunidade humana como alimento a ser consumido e isto implica a forma ou modo de tratamento destes demais entes que serão sacrificados para serem consumidos na qualidade de alimento. Se negamos qualquer tipo de consciência às plantas, se lhes negamos a senciência e a autoconsciência, abrimos amplo espaço para doutrinas tais como as adotadas por humanos que se identificam como vegetarianos ou mesmo veganos, não consumindo entes animais, mas não se incomodando de consumir entes vegetais. Por sua vez, ao entender que todos os animais possuem senciência, ou seja, que em algum grau possuem consciência de emoções tais como a dor, o sofrimento, o prazer, a tristeza, a felicidade, a depressão, o estresse, etc., teremos de eticamente admitir um tratamento digno para com estes animais, seja no tocante à criação como companheiros (os chamados pets) ou para consumo alimentar. Se serão um dia sacrificados, deve-se levar em conta a dignidade e a minimização de dor e sofrimento, mas não só isto, deve-se levar em consideração durante a criação que estes tenham condições de viver o mais próximo possível de seu habitat natural, evitando dor e propiciando prazer as suas vidas. E os peixes? Bem diferentes de nós humanos, não expressam emoções pela face, não falam ou emitem alguma linguagem que possamos entender como expressando dor ou prazer, mas estão vivos e tudo indica serem seres sencientes, no entanto, seu sacrifício diário e em grande número, não leva em consideração estes fatos e eles são meramente tratados como “coisas” e nada mais. Como vemos, a discussão filosófica, em particular ética, encontra aqui um campo fértil e muito promissor que há ainda de gerar muita polêmica, trabalhos de pesquisa e discussões diversas, inclusive no âmbito político e legislativo.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

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