Por: Silvério da Costa Oliveira.
Herbert Spencer
Herbert Spencer (1820-1903) nasce em Derby, Reino Unido, e falece em Brighton, Brighton and Hove, Reino Unido, aos 83 anos de idade. Nasce em uma família modesta, sendo seu pai professor. Sua educação se deu em casa, pelos pais, não tendo frequentado a escola formal, a não ser por um breve período de tempo e, em parte resultado disto, Spencer é um autodidata. Dos 13 aos 16 frequenta uma escola formal em Derby, mas após esta experiência segue sua formação por contra própria. Seus principais interesses de estudo se encontraram nas ciências naturais, na filosofia e nas matemáticas.
Entre os anos de 1837 e 1841 atuou trabalhando como engenheiro de ferrovias. Em 1848 foi nomeado subdiretor do The Economist. Em 1851, com a publicação de “Social Statics” alcança prestígio nos círculos intelectuais. Tendo recebido uma herança provinda de um tio, no ano de 1853, larga seu emprego e passa a se dedicar ao estudo dos fenômenos sociais por meio da ciência, vindo a expor seus resultados em 1855 com a publicação de “The principles of psychology”.
Representante do Positivismo na Inglaterra, atuou como filósofo, sociólogo, biólogo e antropólogo. Também se apresenta como um representante do liberalismo clássico. Considerado por alguns comentadores como sendo o “pai do darwinismo social”, buscou em sua obra aplicar as leis contidas na teoria da evolução das espécies a todos os demais campos da atividade humana, sendo dele e não de Darwin, a expressão: “sobrevivência do mais apto”.
Buscou construir um sistema filosófico que unificasse o conhecimento de sua época em torno do conceito de evolução. Ao defender a teoria evolucionista, buscou aplicar a mesma à psicologia, à sociologia, à ética e à política. Assume uma teoria etnocêntrica, defendendo a superioridade de determinados grupos sociais sobre outros grupos, numa reinterpretação da teoria de Darwin / Lamarck, e aplicação a sociedade. Foi muito influente durante sua vida, sendo figura central no desenvolvimento do pensamento científico e social no século XIX, mas seu prestígio foi decaindo após sua morte.
Seu grande projeto filosófico foi intitulado “The synthetic philosophy”, cujo último trabalho foi publicado no ano de 1896, não se trata aqui de um livro e sim de distintos volumes publicados ao longo de mais de 30 anos de vida e trabalho deste filósofo. Um sistema filosófico que buscava unificar o conhecimento científico de sua época dentro de uma moldura composta por uma teoria evolucionista. Tal projeto buscava encontrar e aplicar princípios comuns existentes na biologia, psicologia, sociologia e ética. A estrutura completa deste projeto, “The synthetic philosophy” inclui os seguintes volumes de sua obra: “First principles”, 1862, “The principles of biology”, 1864-1867, “The principles of psychology”, 1870-1872, “The principles of sociology”, 1876-1896, “The principless of ethics”, 1882-1893.
Classificou as ciências em abstratas, concretas e concreto/abstratas. As ciências abstratas são a lógica e a matemática e buscam estudar as formas dos fenômenos. As ciências concretas são a astronomia, a geologia, a biologia, a psicologia e a sociologia e buscam estudar os próprios fenômenos. As ciências concreto/abstratas são, por sua vez, a mecânica, a física e a química.
De orientação científica, buscou o exame dos fenômenos sociais por meio da ciência, entendendo que tanto a ciência, como também a filosofia, podem atuar melhorando o indivíduo e proporcionando progresso.
Entendia que o indivíduo é superior a sociedade na qual vive e ao próprio Estado. Para Spencer a fonte da verdade se encontra na natureza, mesmo a verdade moral. Defendeu o ensino das ciências e pensava que o objetivo da escola deveria ser a formação do caráter.
A doutrina desenvolvida por Spencer se baseia na teoria da evolução e tem como princípio que a evolução ocorre em três estágios: 1- indo do mais simples para o mais complexo, 2- indo do mais homogêneo para o mais heterogêneo, 3- indo do mais desorganizado para o mais organizado.
Dentro do seu pensamento sobre o “darwinismo social”, entendia que este justificava a economia laissez-faire e o Estado mínimo, já que tanto um como o outro incentivavam a competição entre os indivíduos em direção à sobrevivência dos mais aptos e consequentemente, a uma gradual melhoria da sociedade.
Ao falarmos em “darwinismo social” é preciso ter cuidados, pois, se por um lado as ideias de Darwin não corroboram esta teoria, Spencer jamais usou esta expressão. Em verdade, em muitos pontos a teoria proposta por Spencer mais se aproxima de Lamarck do que Darwin, veja por exemplo a presença do “telos”, a finalidade evolutiva, que se mostra presente em Lamarck e ausente em Darwin. Outra questão importante é a ideia de uma evolução que priorize o progresso, ou seja, do mais simples para o mais complexo, do menos para o mais evoluído, ora, estas ideias encontram-se presentes em Lamarck, mas ausentes em Darwin para quem a evolução ocorre diante de mudanças aleatórias diante de um meio ambiente que possa favorecer uma em detrimento de outras, mas não necessariamente esta mudança evolutiva representa um progresso. Em Spencer a ideia de competição está muito presente na teoria sobre como os indivíduos se comportam dentro da sociedade e as sociedades por sua vez, uma em relação as outras, se bem que Spencer destaque que a cooperação possa ser positiva para se atingir os objetivos individuais dentro da sociedade.
Na luta por obter espaço e recursos, os humanos mais fortes tendem a prevalecer, do mesmo modo como ocorre na natureza entre os demais animais, deste modo, a predominância de alguns grupos sociais por sobre outros é algo natural. Dentro de seu pensamento se torna algo natural haver sociedades que sejam mais civilizadas e outras menos. As sociedades mais civilizadas estariam em um estágio mais avançado dentro da evolução, sendo superiores as demais. Por meio deste entendimento sobre o processo evolutivo aplicado às sociedades, pode-se falar em sociedades superiores e outras inferiores, legitimando, dentre outras coisas, o processo então em voga e haver uma metrópole e colônias sobre seu controle. Sociedades inferiores poderiam ser dominadas por sociedades superiores e mais fortes. Por estarem em sociedades mais avançadas, os europeus seriam superiores a outras sociedades ao redor do mundo.
A filosofia desenvolvida por Herbert Spencer ocupa muitos campos do saber, tais como a sociologia, a psicologia, a biologia e a ética, sempre dentro de uma abordagem que privilegie uma concepção de evolução, esta muito mais próxima das ideias evolucionistas de Lamarck, mas que por diversos motivos outros, entrou para a história erradamente como sendo “darwinismo social”, sendo que as ideias de Spencer em muito se afastam de Darwin e ao mesmo tempo se aproximam de Larmarck, buscando uma adaptação da evolução biológica para o campo social. A ideia de evolução em Spencer nos traz conjuntamente a ideia de um progresso social, de um movimento do menos evoluído para o mais evoluído, de uma finalidade, “telos”, presente dentro da evolução.
Tornou-se comum associar o nome de Spencer ao início do pensamento evolucionista aplicado à sociedade. Segundo Spencer, a evolução não se limita ao campo da biologia, abarcando outras distintas áreas do conhecimento. Deste modo, podemos falar em evolução ao nos referirmos a sociedade, a moralidade e ao governo. O entendimento de Spencer faz uso da teleologia, ou seja, o estudo dos fins, da finalidade. A evolução se direciona para um fim específico e superior, já em Darwin não encontramos a presença deste “telos”, pois a evolução dos organismos em relação ao meio ambiente se dá de modo mecanicista, aleatório, sem prévios objetivos finalísticos a serem atingidos.
Dentro do pensamento de Herbert Spencer, sua teoria evolucionista, bem mais próxima do uso que faz de seus conceitos, da teoria de Lamarck do que da de Darwin, busca explicar o desenvolvimento não somente dos organismos biológicos, mas ampliar este conceito para incluir as sociedades humanas e seu desenvolvimento em direção ao progresso, o desenvolvimento, também da moralidade e das instituições presentes na sociedade em relação a uma dada finalidade, a um “telos”. Trata-se de uma abordagem que prevê um desenvolvimento e progresso contínuos em direção a uma finalidade, temos aqui a teleologia, tanto no âmbito do indivíduo, como também da sociedade como um todo, semelhante as partes de um corpo quando comparadas ao corpo que as engloba.
Em Spencer temos uma progressão evolutiva presente em todo o universo. As sociedades e os indivíduos seguem do mais simples em direção ao mais complexo, do homogêneo para o heterogêneo, do indefinido para o definido, do inorgânico para o orgânico. A evolução em Spencer se apresenta como um processo de aprimoramento, de aperfeiçoamento, que tem como objetivo no tocante às sociedades, torna-las melhores, mais justas, mais complexas, dentro de uma evolução que envolva os indivíduos e as instituições em direção a um estado final de maior liberdade e racionalidade. Com o tempo, os sistemas mais simples tendem a se tornar mais complexos, sejam estes fenômenos biológicos ou sociais A medida em que a civilização progride, as diversas partes que compõe a sociedade, como as instituições e os indivíduos, seguem o rumo de se tornarem mais complexos e especializados.
Spencer compara a sociedade a um organismo biológico, no qual as diversas partes desta sociedade (família, governo, religião, educação, etc.) desempenham funções interdependentes. Para o correto funcionamento de um organismo biológico ou de uma sociedade, é preciso que suas diversas partes funcionem em equilíbrio e harmonia.
Segundo seu pensamento, a evolução que ocorre nas sociedades se dá de modo gradativo, e não por meio de mudanças abruptas. Cabe às mudanças sociais ocorrerem de modo natural, preservando a liberdade individual, e não ocorrerem de modo forçado.
Entende Spencer que o governo deve atuar minimamente, deixando espaço para a liberdade individual. Se opunha a intervenção estatal, buscando uma evolução social orgânica baseada na liberdade individual. Quando o governo intervém a favor de alguma mudança, este atua de modo prejudicial ao processo evolutivo natural que ocorre na sociedade.
Spencer se posiciona em defesa das ideias presentes no Liberalismo Clássico e suas ideias políticas são influenciadas por sua visão evolutiva. Segundo seu pensamento, mesmo os princípios éticos tendem a evoluir no decorrer do tempo histórico, não sendo, portanto, as ideias morais absolutas ou imutáveis, mas estando em constante mudança a partir das experiências sociais e da evolução da civilização. A sociedade se direciona para um maior grau de complexidade, moralidade e justiça.
Spencer defendia a ideia da “sobrevivência do mais apto”, pela qual os indivíduos mais capazes devem prosperar socialmente e liderar, já os mais fracos são deixados para trás, não devendo o Estado intervir para apoiar os mais fracos. Mesmo necessário, o Estado tem um papel muito limitado na concepção de Spencer, cabendo ao mesmo proteger a sociedade de ameaças externas e garantir a ordem pública. Se o Estado busca atuar de modo a distribuir riqueza ou promover direitos sociais, este atua de modo prejudicial à evolução natural desta mesma sociedade.
Spencer entendia ser a educação algo fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade, entendendo que esta deveria ser pautada em princípios naturais e evolutivos, direcionada para o desenvolvimento da inteligência e a preparação para a vida prática dentro da sociedade. A educação não deve ser imposta ou mesmo forçada e sim flexível, permitindo deste modo que as pessoas sigam seus próprios interesses dentro do aprendizado. O principal objetivo da educação deve ser preparar os indivíduos para a vida adulta, favorecendo a sua independência e o desenvolvimento intelectual. A educação em uma sociedade deve se ater a liberdade e ao progresso natural.
A evolução não ocorre unicamente de modo materialista, sendo um processo físico, mas que também inclui a mente, o espírito e as instituições sociais. Cabe também o desenvolvimento moral, sendo este tão importante quanto o desenvolvimento físico.
Temos neste autor um forte defensor do liberalismo, da liberdade e de um desenvolvimento que ocorra de modo gradual e natural na sociedade, sem intervenções externas por parte do governo.
ALGUMAS DE SUAS PRINCIPAIS OBRAS
1. Estática Social. Título original: Social Statics. Data da primeira publicação: 1851.
Segundo o autor, a sociedade evolui naturalmente em direção do menos para o mais, ou seja, há um progresso contínuo que pode, no entanto, ser prejudicado caso haja alguma interferência governamental. Haveria na sociedade um desenvolvimento pautado na sobrevivência do mais forte e apto, ou seja, do melhor desenvolvido em direção ao progresso. Esta visão foi posteriormente chamada por alguns comentadores de “darwinismo social”, se bem que não esteja de acordo com as ideias de Darwin e que, também, Spencer jamais tenha usado esta expressão. Em verdade, as ideias de Spencer mais se aproximam de Lamarck do que de Darwin.
2. Princípios da Psicologia. Título original: The Principles of Psychology. Data da primeira publicação: 1855.
A obra busca aplicar conceitos evolucionistas ao campo da psicologia e defende que a mente humana se desenvolve por meio de adaptação ao meio ambiente, sendo os processos mentais governados por leis naturais, de modo que a psicologia pode ser estudada cientificamente.
3. Educação: Intelectual, Moral e Física. Título original: Education: Intellectual, Moral, and Physical. Data da primeira publicação: 1861.
A obra apresenta as ideias de Spencer sobre a educação. Ele defende que o ensino deva ser baseado em princípios científicos e adaptado ao desenvolvimento natural da criança. Segundo o autor, deve-se reforçar na educação, além da parte intelectual, também a educação moral e física.
4. Primeiros Princípios. Título original: First Principles. Data da primeira publicação: 1862.
Obra que marca o início do grande projeto filosófico de Spencer, o “Sistema de filosofia sintética”, no qual propõe a unificação do conhecimento dentro da moldura dada pela teoria da evolução. Entende que todas as ciências compartilham de leis universais.
5. Princípios de Biologia. Título original: The Principles of Biology. Data da primeira publicação: 1864-1867.
Aplicação dos princípios evolucionistas à teoria social. Uma discussão sobre a adaptação dos organismos ao meio ambiente e uma expansão deste entendimento evolucionista para todo o desenvolvimento presente na vida.
6. Princípios de Sociologia. Título original: The Principles of Sociology. Data da primeira publicação: 1876-1896.
Obra em três volumes na qual o autor desenvolve sua teoria sociológica e defende que a sociedade se apresenta como um organismo em evolução. Há uma comparação da sociedade com organismos biológicos e o entendimento, segundo o autor, de que as sociedades passam por um processo natural de desenvolvimento e diferenciação.
7. O Indivíduo contra o Estado. Título original: The Man versus the State. Data da primeira publicação: 1884.
Obra política na qual o autor apresenta uma crítica ao crescimento do Estado e as tendências intervencionistas presentes no governo, argumentando que a liberdade individual deva ser protegida cotra os excessos de regulação estatal.
8. Princípios de Ética. Título original: The Principles of Ethics. Data da primeira publicação: 1882-1893.
Desenvolvimento de uma teoria ética baseada no evolucionismo defendido pelo autor. Segundo Spencer, a moralidade evolui no decorrer do tempo histórico, do mesmo modo como ocorre com os organismos biológicos e as sociedades. A ética é um conjunto de princípios que buscam a adaptação dos indivíduos à vida dentro da sociedade. Podemos distinguir entre uma ética utilitária e outra absoluta. A sociedade tende a se direcionar de modo natural para formas superiores de conduta moral.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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