Por: Silvério da Costa
Oliveira.
Por regra
geral, durante minha formação acadêmica em filosofia eu tive contato com as
ideias e teorias de diversos e distintos pensadores que após o devido
aprofundamento passei a abordar em cursos ou mesmo em vídeos e artigos ou
textos escritos sobre os mesmos. Ayn Rand é uma exceção. Meu contato com a
autora se deu no ano de 2018, ano de eleições no Brasil e onde ficou muito
nítida a divisão entre direita e esquerda na política nacional, a par com uma
operação da polícia federal, intitulada “Lava jato” que havia mostrado em anos
recentes o quanto os governos anteriores, de orientação de esquerda, haviam se
corrompido, desviando dinheiro pelas mais diversas formas. O escândalo era
tanto maior quanto anteriormente parte considerável da população havia confiado
nas promessas de ética e sobriedade na política.
Diante deste
quadro lamentável eu ganhei de presente um exemplar do livro “A revolta de
Atlas”, cuja leitura recomendo a todos que não se intimidem com um livro de
muitas páginas e onde os personagens tem o fito de expor as ideias do autor e
não meramente a construção de uma história bonita.
Deste ano até
2020 já tive a oportunidade de ler e estudar praticamente toda a obra desta
autora, bem como outros textos que falam sobre suas ideias, alguns a defendendo
e outros a atacando de modo inconsequente. Claro que a autora tem suas falhas,
mas o atual modismo reinante na esquerda política é denegrir a imagem de seus
adversários por meio de palavras de ordem ou ofensivas, sem esmiuçar as ideias
e possíveis contradições ali presentes.
Eu fiquei
impressionado com a leitura de seus textos, pois, tratava-se de uma mulher que
havia falecido em 1982 e no entanto, poderia facilmente se passar por alguém
que conhecendo a realidade política brasileira presente em 2018, tivesse
escrito aquele livro que me fora dado de presente, como uma metáfora inspirada
em tal realidade recente. Todas as falcatruas da esquerda, todos os erros, a
enganação, a armação, os procedimentos politicamente adotados. Mais
impressionante ainda isto se torna quando colocamos a questão em uma
perspectiva temporal e tomamos ciência que a autora nasceu em 1905 na Rússia e
viveu a revolução de 1917 que transformou este país na URSS. Proveniente de uma
família judia e burguesa, ela viveu na pele os primeiros anos da revolução e
sua revolta e crítica se baseia em parte nesta experiência particular e pessoal
que ela viveu in loco. Como pode a esquerda em nada evoluir em suas táticas em
cerca de 100 anos?
Ayn Rand nasceu
em 2/2/1905 (a data pode mudar em virtude do calendário usado a época em seu
país) na cidade de São Petersburgo, Império Russo, e veio a falecer aos 77 anos
de idade na data de 6/3/1982, na cidade de Nova York, EUA. O nome pelo qual
hoje é conhecida, em verdade é um pseudônimo, pois, ao passar a morar nos EUA e
com medo que seus familiares que ficaram residindo na URSS sofressem
perseguições em virtude da manifestação de suas ideias radicalmente contrarias ao
comunismo e seus derivados, ela resolveu adotar um novo nome, escondendo o nome
real. O nome adotado não é muito criativo. Ayn é uma corruptela da pronúncia
dada a “I”, “eu” em inglês, e por sua vez, o sobrenome adotado foi retirado do
segundo nome de uma empresa que a época produzia máquinas de escrever, a
“Remington Rand”, como se ela quisesse dizer com o seu nome “Eu escrevo”
(escrevo em máquina de escrever), sendo que seu objetivo era ser escritora.
Em 1921, com a
permissão dada para que mulheres cursassem universidades em seu país, Ayn Rand
então com 16 anos de idade, se matricula em um curso na universidade de
Petrogrado (São Petersburgo) no departamento de pedagogia social com
especialização em história e filosofia, chegando a se formar em 1924, mas saiu
dois anos antes da graduação, pois, em 1925 conseguiu uma autorização para
viajar aos EUA, se ausentando por seis meses para visitar parentes, sendo que
nunca mais retornou, tendo chegado aos EUA em fevereiro de 1926, então com 21
anos de idade. Em 10 de fevereiro embarcou no navio que lhe deixou em Nova York
em 18 de fevereiro deste ano.
Foi casada por
50 anos com Frank O’Connor, o que não lhe impediu de manter um amante mais
jovem por parte do tempo deste relacionamento, com ciência de seu marido e da
esposa do amante, que, por sua vez, é interessante ressaltar que este casal
também era formado por seus discípulos. Em 9/11/1979 faleceu seu marido e 3
anos depois morre Ayn Rand.
Em 1973
descobre uma irmã ainda viva na URSS e consegue que ela venha visita-la nos
EUA, mas as duas não se dão bem em virtude de severas divergências ideológicas.
Sua irmã fica com ela 8 meses e os debates familiares são tão intensos que sua
produção intelectual diminui drasticamente durante este turbulento período de
sua vida.
Seus primeiros
livros se apresentam como trabalhos de ficção onde desenvolve conjuntamente com
suas histórias e personagens suas principais ideias e alguns destes livros se
tornaram filmes, hoje disponíveis na Internet. Sua principal obra com certeza é
“Atlas Shrugged”, que recebeu duas traduções no Brasil. A primeira foi “Quem é
John Galt?” e a segunda “A revolta de Atlas”, este livro foi publicado em 1957
e originou uma sequência de três filmes em anos recentes (2011; 2012; 2014),
infelizmente, os filmes não conseguem captar o pensamento crítico presente na
obra e se atem basicamente a parte menos importante que é o esqueleto da obra
pautada pelos personagens e suas vivencias dentro da história. Também
importante é “The fountainhead” (livro publicado em 1943) aqui traduzido como
“A nascente” ou também “Vontade indômita” que gerou filme (1949) no cinema com
o mesmo nome. E cabe destaque a “We the living”, livro de 1936 sobre a vida na
URSS no início do século XX e apresentando uma forte crítica ao autoritarismo e
ao coletivismo, que se tornou em um belíssimo filme no cinema italiano, datado
de 1942 (no original foram dois filmes distintos, que em anos posteriores foram
fundidos com supervisão de Ayn Rand e relançado legendado em inglês em 1986).
Por ser uma pensadora do século XX nos EUA em pleno desenvolvimento da TV,
presente em todos os lares americanos, é possível hoje encontrar na Internet
diversas entrevistas dadas a época pela própria autora a programas de tv ou
mesmo filmes outros contendo seus comentários e ou entrevistas.
“Atlas
shrugged” é um livro que tem como objetivo expor um conjunto de ideias que
formam o pensamento político da autora, diferente de “We the living” e “The
fountainhead” onde, se bem que não deixemos de ver uma apresentação construtiva
das ideias da autora sobre a vida, a política e a sociedade, temos nelas obras
mais literárias e agradáveis a leitura por diversão diante de um romance bem
estruturado em sua dramaticidade argumentativa.
Cabe
destacar, também, dentre seus livros de ficção, “Night of january 16th”, de
1934 e “Anthem”, 1938, traduzido como “Cântico”. E entre seus livros de não
ficção, temos “For the new intelectual”, 1961; “The virtue of selfishnes”,
1966, que pode ser encontrado traduzido como “A virtude do egoísmo”;
“Introduction to objetivist epistemology”, 1967; “The romantic manifesto”,
1969; “Return of the primitive: The anti-industrial revolution”, 1971; “Philosophy:
Who needs it”, 1982.
Cabe
aqui o esclarecimento que seus livros de ficção foram cuidadosamente planejados
e estruturados pela autora, mas seus livros de não ficção não possuem esta
estrutura ou planejamento, pois, são em geral o resultado da junção de
anteriores publicações de artigos na revista que fundou e editou visando
divulgar suas ideias e de eventuais participações em eventos nos quais teria
proferido uma palestra sobre um ou mais dos temas do conjunto de suas ideias.
Tanto os seus livros de ficção, como também os de não ficção podem ser
encontrados após pesquisa, e obtidos na Internet em alguns sites, alguns, no
entanto, somente em língua inglesa. Existem outros livros sobre a autora e sua
Escola de pensamento que também estão disponíveis e de fácil acesso por meio de
buscas em sites na Internet. Vale também a pena ler o trecho do livro ou ver o
vídeo no You Tube sobre o discurso de John Galt, em geral com o título “Aqui é
John Galt falando”.
Quando
pensamos em Ayn Rand devemos sempre ter em mente que se trata de uma mulher
russa e de família judaica, que fugiu com ajuda de seus familiares do regime
então vigente em seu país de origem e se estabeleceu como residente nos EUA até
o final de sua vida. Criou um sistema filosófico intitulado por ela como
“Objetivismo”, que possui seguidores entusiastas até os presentes dias. Seu pai
era comerciante antes da revolução de 1917, proprietário de uma farmácia que
lhe foi tirada pelos comunistas e ela sofreu na pele o início da revolução
comunista sendo filha de uma família judia burguesa, o que com certeza deve ter
motivado seu profundo ódio a todas as correntes de pensamento direta ou
indiretamente ligadas ao comunismo, socialismo ou demais formas de coletivismo.
Ao chegar aos EUA, primeiro em Nova York e depois na Califórnia, Hollywood,
deve ter sido um choque cultural violento diante de duas realidades naquele
momento histórico tão distintas, o que a fez uma forte defensora do
capitalismo, do individualismo, da propriedade privada, da liberdade e do
egoísmo (cuidar de seus próprios interesses), ao mesmo tempo que pregava ser o
altruísmo o pior de todos os males, ao se sacrificar o indivíduo às massas, os
interesses particulares aos interesses de outras pessoas.
Também fica
claro desde o início a partir do estudo de sua obra e pensamento, que para a
autora a única forma de se obter conhecimento fidedigno encontra-se no uso da
razão e não na aceitação de crenças provindas da religião ou da fé em alguma
coisa qualquer. Interessante aqui que a par com esta postura contrária ao
pensamento mágico e ou místico, também expressa em virtude de sua ampla defesa
da individualidade e liberdade, sua convicção que o Estado não deve coibir por
meio de leis que mulheres que queiram abortar o façam a partir de sua escolha
pessoal. Digo isto porque hoje seu pensamento encontra seus maiores defensores
políticos junto aos conservadores, sejam estes Republicanos nos EUA ou a
direita brasileira, algo justo no tocante a uma visão global de sua obra, mas
que esbarra nestas duas dificuldades ideológicas, uma vez que os conservadores
aqui e mundo afora tendem a defender a religião e a negar a permissão legal
para o abortamento a partir unicamente da decisão individual da mulher cujo
corpo irá gerar tal criança. Aqui estaria em jogo a liberdade e a propriedade
de seu próprio corpo, propriedade individual e não estatal, e que a mulher seja
responsável e dona de decisões que lhe afetam a si própria, ao seu corpo, sua
vida, seus rumos futuros e suas decisões presentes. Neste tocante, a ênfase da
esquerda, contrária em suas bases a religião e a valores tradicionais, bem como
apta a defender o direito ao abortamento livre de leis proibitivas, encontra
acolhida, mesmo que por outros caminhos ou desenvolvimento, neste pensamento.
Em seu sistema
filosófico o egoísmo racional e ético, entendido por cuidar de seus próprios
interesses, ganha papel de destaque principal, a par com a total negação do
altruísmo, do coletivismo e da presença atuante e cada vez maior do Estado. Em
Ayn Rand temos uma enfática defesa do egoísmo como sendo cuidar de seus
próprios interesses e o entendimento que o altruísmo é a expressão mais pura do
mal, aqui entendido como se sacrificar pelos outros. O indivíduo, deve viver
pelos seus próprios interesses, sem se sacrificar pelos outros ou permitir que
os outros se sacrifiquem por ele. Segundo a filosofia de Ayn Rand, seu ideal de
homem é alguém egoísta, individualista, um homem com tal autoestima que parece
mesmo ser arrogante, que viva por seus próprios valores.
Defende o
capitalismo mais radical, que podemos entender como laissez-faire. Na sua
concepção filosófica os direitos individuais e de propriedade ganham merecido
destaque. Muito presente ao seu sistema de pensamento temos a defesa enfática e
consistente do individualismo, auto sustentação, capitalismo e livre
iniciativa.
Quatro pontos
seriam fundamentais para entender o pensamento desta autora. Primeiro: A
realidade é objetiva e existe independente da mente do observador. Segundo: O
contato com a realidade se dá por meio da percepção de nossos sentidos, os
quais nos proporcionam a elaboração de conceitos por meio de um processo lógico
indutivo-dedutivo. Terceiro: Nossa existência tem como objetivo moral a busca
da felicidade, que se dá segundo a autora pelo exercício do egoísmo racional.
Quarto: O capitalismo laissez-faire seria o único sistema político e econômico
que permita a realização de tal objetivo moral.
Na
epistemologia de Ayn Rand “A” é igual a “A”, o mundo é tal qual o percebemos
pelos nossos sentidos. Para o objetivismo a realidade não depende da
consciência que temos dela e é exatamente aquilo que dela percebemos.
A defesa
enfática que Ayn Rand faz do egoísmo contra o altruísmo equivale a defender o auto
interesse contra o auto sacrifício. Temos muito presente a defesa dos direitos
individuais e a total negação dos direitos do grupo. Uma postura forte contra o
estatismo, visto como uma presença exagerada do Estado na vida das pessoas. Uma
filosofia decerto radical, mas que mesmo incorrendo em alguns possíveis erros,
tem a virtude de ser um antídoto contra um meio acadêmico-cultural totalmente
tomado por ideias e ideologias de esquerda, que defendem o grupo contra o
indivíduo e marcham em direção a uma sociedade coletivista onde a liberdade não
passa de uma ilusão e os direitos em obrigações e dívidas.
Segundo a
autora, nossa cultura é baseada na inveja, no auto sacrifício e no sentimento
de culpa. Tais sentimentos estão na composição do que nossa sociedade entende
por altruísmo, sendo algo que está em oposição ao egoísmo racional, que
consiste basicamente em cada qual cuidar de seus próprios interesses. Para a
autora, seria inconcebível qualquer sistema de cotas para preenchimento de
vagas, seja por raça, sexo, ou qualquer outro critério. E seria considerado um
absurdo falar ou argumentar em defesa de alguma dívida histórica que a
sociedade pudesse ter para com algum grupo, seja este formado por mulheres, negros,
judeus ou qualquer outra dita “minoria”. O fato histórico de negros terem sido
escravizados no passado não gera direitos coletivos no momento presente para
este grupo social.
A
temática principal em duas de suas principais obras (The fountainhead; Atlas
Shrugged) ficcionais encontra-se ao lado de personagens que são apresentados
como empreendedores que dedicam sua vida a realização de seus propósitos, em
confronto com uma sociedade onde a ênfase se dá não ao indivíduo e sim ao
coletivo, reforçando o conformismo e a mediocridade. Ao mesmo tempo procura por
todos os meios possíveis buscar o desenvolvimento do indivíduo, do “eu”. Uma
frase extraída de seus escritos bem pode expressar todo o poder dado ao “eu”
diante do coletivo, desta luta pela liberdade e individualidade travada por
seus heróis: “A questão não é quem vai me deixar, é quem vai me impedir”.
Quem
é Atlas?; É aquele que na mitologia sustenta sobre seus ombros o mundo e na
nossa vida ou sociedade este personagem representa os grandes inovadores, as
pessoas produtivas, aquelas pessoas competentes no seu trabalho, que de fato
fazem a diferença na evolução de nosso mundo, proporcionando saltos
exponenciais no conhecimento e no modo de viver social.
Para
a escritora Ayn Rand, o sistema econômico que mais benefícios nos traz é o
capitalismo, no qual a autora propõe que as relações em sociedade se deem por
uma livre troca de valores iguais, a semelhança de uma relação comercial justa
entre homens livres.
Nossa
prioridade jamais pode ser “o outro” e sim nós mesmos. Ao priorizar “o outro” e
o coletivo em detrimento de seus próprios interesses entrega-se o “eu” ao
sacrifício social, gerando ódios e ressentimentos por uma vida não genuinamente
vivida, por anseios, metas e desejos não desenvolvidos e não cumpridos. Nos
tornamos vítimas da frustração do “poderia ter sido”, “poderia ter feito”,
“poderia ter vivido”.
Seu
pensamento põe em cantos opostos de modo antagônico de um lado o egoísmo e de
outro o altruísmo. Ela defende o primeiro e ataca com tudo que pode o segundo.
Para Ayn Rand egoísmo racional é cuidar de seus próprios interesses e o altruísmo
implica em auto sacrifício para o bem de outras pessoas. O altruísmo tem uma
moral incompatível com o capitalismo. Como bem a autora salienta em mais de uma
vez em seus escritos, ela se propõe não a discussões acadêmicas e sim a criar e
mostrar “uma filosofia para viver na Terra”.
O
pensamento filosófico de Ayn Rand pode ser resumido esquematicamente a partir
de alguns pontos básicos que irão delinear a figura composta por suas
principais ideias. De um lado temos seu apoio e defesa incondicional ao que ela
considera o foco central de uma pessoa ou sociedade saudável, a saber: razão,
individualismo, egoísmo e capitalismo, contra o que para ela representa todo o
mal, “evil”, que são, por sua vez, as doutrinas e ideologias que levam ao
misticismo, coletivismo e altruísmo. Se pensarmos por metáfora nos pés de uma
cadeira ou banco onde se apoie o pensamento de Ayn Rand, temos os seguintes
quatro pontos cruciais: 1- a razão em oposição ao misticismo, 2- individualismo
em oposição ao coletivismo, 3- Egoísmo em oposição ao altruísmo, 4- capitalismo
em oposição ao comunismo/socialismo.
Vamos
entender melhor isto. De um lado temos a razão, o individualismo, o egoísmo e o
capitalismo. Por egoísmo a autora entende simplesmente, cuidar de seus próprios
interesses. Já no tocante ao conceito de capitalismo, destaca a autora a
importância da propriedade privada, liberdade, Estado mínimo e não interventor
na economia, relações comerciais livres. Por outro lado, temos as coisas que
devemos evitar e combater por levarem ao mal e que são: misticismo,
coletivismo, altruísmo e comunismo. Por misticismo entende todas as formas de
religião e crenças não racionais, por altruísmo entende o ato de se sacrificar
pelos outros, e por comunismo ou socialismo entende o conjunto de todas as
doutrinas coletivistas. Estamos também diante da dicotomia entre de um lado o
mercado/comércio livre (free trade), e de outro lado o controle governamental (government
controls), deixando claro a autora o seu posicionamento quanto a esta questão.
Segundo
o pensamento da autora, a necessidade não cria direitos. Não importa se a
necessidade de um ou de muitos, isto não justifica qualquer reivindicação de
possível direito. Ayn Rand defende a razão, a liberdade e o individualismo, a
propriedade privada e o capitalismo laissez-faire, o ateísmo, a legalização do
abortamento, os direitos individuais, o egoísmo entendido como cuidar de seus
próprios interesses.
Por
sua vez, se mostra contrária, apresentando forte oposição, ao coletivismo, ao
comunismo e socialismo, ao altruísmo, ao misticismo / religião e aos direitos
coletivos.
Direitos
humanos em sua origem existem para proteger o bem do homem, seu próprio bem,
não sacrificando a si-próprio para os outros e nem sacrificando os outros para
si próprio. Nenhum homem tem o direito de iniciar o uso de força contra outro
homem, mas tendo outro começado a agressão, temos o direito de usar a força
para nos defender, isto valendo tanto para pessoas como também para nações. Ela
faz uma ressalva quanto as nações, pois, segundo a autora nenhuma nação estaria
no dever ou obrigação de invadir outra para proteger os interesses do povo
desta nação contra um governo tirano, cruel e irracional, mas o poderia fazer
se assim o decidisse. Imagino que aqui possivelmente ela estaria pensando nos
governos nazistas e fascistas da Alemanha e Itália durante a segunda guerra
mundial ou mesmo no governo comunista de Stalin na então URSS.
O
conjunto do pensamento de Ayn Rand aponta para algumas linhas mestras que não
podem ser ignoradas dentro do contexto de sua obra. Temos a defesa
incondicional do capitalismo laissez-faire como a melhor forma econômica social
já desenvolvida na história da humanidade. Temos também quatro pontos
importantes se queremos transpor suas ideias para o campo de uma escola
filosófica. Neste caso, ao se pensar a metafísica, teremos como resposta da
autora a lei da identidade, já para a epistemologia, esta nos responderá com a
supremacia da razão, a ética terá como resposta o egoísmo racional e por fim, a
estética apontará para os valores metafísicos, isto segundo o pensamento desta
autora.
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a visão de mundo desta autora pode proporcionar uma mudança em sua vida e valores.
Segundo
a opinião de Ayn Rand, há somente dois meios pelos quais os seres humanos podem
interagir e negociar uns com os outros, ou por meio da razão ou de uma arma, ou
se o preferirem, por meio da persuasão ou da força.
Entendo
que não cabe chamar Ayn Rand de filósofa e nem sua escola de escola de
filosofia. Melhor chamá-la apenas de “pensadora” e escola para difundir seu
pensamento. Vamos deixar claro e sem hipocrisia ou tentativas de suavizar a
realidade, que ela não possui formação acadêmica em filosofia, história ou
artes e que deturpa o pensamento de Kant, Hegel e demais filosofias, mesmo de
Aristóteles e São Tomás de Aquino (filósofos que elogia constantemente) seu
entendimento não é integral e sim parcial. Não demonstra ter conhecimento de
lógica formal e confunde ou deturpa o sentido de necessidade e contingência.
Seu exemplo constante de que para os EUA é necessário ter 50 Estados é uma
aberração perante a lógica, pois, ao contrário do que ela defende, isto é algo
contingente ao ente tido como EUA.
Escritora,
romancista e pensadora com ideias originais e interessantes, sem, no entanto,
uma formação acadêmica que embase o campo de suas argumentações. Possui ideias
originais, claras e por ela bem definidas, mas seus conceitos não são bem
elaborados dentro da tradição filosófica. Ao se referir em última instancia a
conceitos tais como: “razão”, “liberdade”, “independência”, ela o faz como se
estes fossem absolutos, mas não o são, cabe definir o que se entende pelos
mesmos, não descartando a tradição na qual os mesmos estão inseridos, e
falta-lhe este desenvolvimento filosófico.
Imagino
que pelo fato dela ser mulher no começo do século XX, isto possa ter afetado
negativamente sua formação, além dos fatos turbulentos de sua vida na época em
que deveria estar se dedicando ao aprofundamento dos estudos acadêmicos.
Durante a primeira metade do século passado as mulheres via de regra exerciam
posições de trabalho subalternas aos homens, isto quando trabalhavam. Ela, para
se destacar como escritora famosa e reconhecida, teve com certeza de superar
diversos obstáculos, mas mesmo assim, continuou sendo, como não poderia deixar
de ser, uma mulher de seu tempo, dentro de um determinado contexto histórico, e
isto, por mais que suas ideias sejam radicalmente interessantes, poderia,
talvez, ajudar a compreender o porquê de não haver por parte da autora uma
compreensão plena de sistemas filosóficos e contextos históricos. Também outro
fato aqui deve ser posto e analisado, pois, mesmo hoje vemos algo que Ayn Rand
já denunciava a sua época, na primeira metade do século XX nos EUA, que é a
total presença de ideologias de esquerda nos meios acadêmico e cultural. Este
choque ideológico não deve ter favorecido a autora um melhor desenvolvimento e
aprofundamento em questões acadêmicas por demais específicas em história,
filosofia e artes. Em resumo, sua formação nestas áreas não é boa e vários
fatos sociais, históricos e pessoais podem ter contribuído para isto.
Quanto
mais se aproxima do mundo acadêmico, seja por parte de filósofos ou
historiadores, mais dificuldades encontra por meio das inconsistências e
deturpações interpretativas de outros sistemas filosóficos ou desconhecimento
histórico. Quando se volta para as artes, ignora a influência histórica da
necessidade de meramente imortalizar uma imagem, fato ou pessoa, que tornavam
os artistas muitas vezes em registradores artísticos de seu tempo e modo de
vida, necessidade esta que sumiu com o avanço das novas tecnologias que se
desenvolveram de forma impressionante no decorrer do século XX e agora XXI.
Temos a fotografia, os filmes e mesmo a impressão em 3D, libertando o artista
para representar outros contextos presentes a sua dinâmica emocional cognitiva
e ao meio sociocultural e histórico ao qual o artista pertence, e isto é negado
ou criticado por Ayn Rand. Falta-lhe uma visão mais ampla sobre as artes e
mesmo uma formação formal nas mesmas. Por falar e escrever sobre história,
filosofia e artes, sem uma formação formal e ignorando ou mesmo deturpando
pensadores e contextos, seu discurso pode mesmo parecer tentador e crítico para
quem, como ela mesma, não possua uma boa formação formal, acadêmica, em tais
áreas do conhecimento, mas decerto soa mal para quem se aprofundou em tais
áreas e é como se suas críticas e comentários fossem tiros que errassem por
muito o alvo ao qual são destinados, passando longe de atingir o cerne das
questões levantadas. Isto em parte pode explicar a mútua rejeição que
encontramos por parte do meio acadêmico para com sua obra e por parte da autora
para com o meio acadêmico.
Já
quanto mais se afasta do meio acadêmico e se aproxima de nossa vida cotidiana,
encontra acolhida em fatos reais complexos presentes na sociedade e no
indivíduo. Suas ideias são de todo interessantes e produtivas, mesmo perturbadoras
às vezes, capazes de gerar grandes debates e estudos ou mesmo, guiar de modo
genuíno a vida individual das pessoas em busca de realizações e felicidade. A
autora deveria se ater as suas próprias ideias e não tentar explicar visando
combater ou defender fatos históricos e sistemas filosóficos dos quais ela
carece de profundidade em seu conhecimento sobre os mesmos.
A autora me
surpreendeu por sua compreensão da esquerda, mesmo décadas após sua morte e ao
mesmo tempo por sua incompreensão de doutrinas filosóficas e conhecimentos
históricos, o que começa a ganhar uma possível linha de compreensão ao estudar
sua vida e quando tomamos ciência do contexto histórico social no qual viveu,
cresceu e se desenvolveu pessoal e profissionalmente.
Para entender
seu posicionamento sobre egoísmo, altruísmo, capitalismo, coletivismo, artes e
ética, precisamos entender primeiro o contexto político econômico ao qual ela
se refere e que continua extremamente vivo e de uma imortalidade absolutamente
tola em sua ausência de mudança. Para quem vivenciou os fatos pelos quais nós,
não somente no Brasil, mas nos demais países da América Latina, passamos em
décadas recentes, a leitura de seus livros, em particular
“Atlas
shrugged” pode representar um princípio de entendimento racional sobre os
procedimentos da esquerda e suas inevitáveis consequências em qualquer lugar
onde tais ideias sejam de fato implementadas. A enorme ênfase posta pela autora
na razão para solução de problemas e direcionamento da vida se torna também
deveras importante quanto mais vemos que doutrinas religiosas e místicas se
apresentam em pleno século XXI com força, radicalismo, irracionalidade
destrutiva e não somente adeptos, mas também inocentes defensores destes grupos
de fanáticos religiosos.
Mas do que nunca
a leitura e o estudo de sua obra se torna importante e vital em meio a
doutrinas religiosas e místicas que beiram a loucura e de doutrinas políticas
de esquerda que vendem maior liberdade e bem-estar social e entregam ausência
de liberdade, fanatismo, ausência de diálogo racional, constante repetição de
frases prontas e vazias, censura a qualquer um que não defenda as mesmas ideias
do grupo ou partido.
Como toda obra,
seu valor se encontra em nos provocar e no decorrer desta inquietação
proporcionar que questionemos as verdades prontas que nos são apresentadas e a
realidade ao nosso redor em busca de algo que possamos compreender e entender
de modo racional, ou metaforicamente falando, nos pondo na estrada caminhando
por nossos próprios recursos. Em um mundo acadêmico, jornalístico e cultural
tomado por diversas ideologias coletivistas, onde a esquerda reina e torna o
pensamento mera repetição de pautas previamente traçadas em um discurso que
torna a multiplicidade una e compacta, um conjunto de ideias aceitas e
inquestionadas pelos ditos “formadores de opinião”, então, o pensamento de Ayn
Rand em sua radicalidade lúcida se torna em o antídoto que nos permita ver o
outro lado. Defender o individualismo contra o coletivismo, defender o egoísmo
contra o altruísmo, defender o capitalismo contra o comunismo e socialismo,
defender o mercado livre contra o controle estatal, defender o liberalismo e o
capitalismo laissez-faire e entender os motivos que levam a esta defesa e as
manipulações sociais e psicológicas que tentam intimidar, ridicularizar e
envergonhar os que seguem por este caminho.
Silvério
da Costa Oliveira.
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a
autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos
textos de sua autoria)
2- Blog 1 “Ser
Escritor”:
3- Blog 2
“Comportamento Crítico”:
5- Blog 4 “O grande
segredo: A história não contada do Brasil”
7- Página no Face Book “Dr. Silvério”:
8- Página no Face Book “O grande segredo: A história não
contada do Brasil”
9- Página de compra dos livros de Silvério:
10- Página no You Tube:
11- Currículo na plataforma Lattes:
12- Email:
Visite minha página no YouTube e veja o vídeo sobre esta autora.
ResponderExcluirhttps://youtu.be/dtcwKMhG0FA