Por: Silvério da Costa Oliveira.
Boaventura – Buenaventura – Bonaventura
Boaventura, ou Boaventura de Bagnoregio – Seu nome de nascimento é Giovanni di Fidanza, ou aportuguesando: João Fidanza, de Toscana, conhecido como doutor seráfico (1217/1221-1274). Boaventura foi o nome pelo qual passou a ser conhecido quando aos 17 anos ingressou na ordem dos franciscanos. Autor de várias obras em filosofia e teologia, cabe destaque, dentre outras: “Comentários sobre as sentenças (de Pedro Lombardo)”, “Itinerário da mente para Deus” e a biografia oficial de são Francisco. Não há uma certeza quanto a data de seu nascimento e os acontecimentos de sua infância, somente temos certeza da data de sua morte, em 15 de julho de 1274, com cerca de 53 ou 57 anos de idade. Foi frei franciscano e ministro geral da ordem dos frades menores, também cardeal-bispo de Albano. É considerado santo pela Igreja Católica Apostólica Romana e atualmente sua festa litúrgica é celebrada na data de sua morte, 15 de julho.
Há uma história que se conta (tendo sua origem nos escritos do autor) sobre a origem do nome Boaventura. Quando criança ele teria padecido de uma doença grave e apesar de seu pai ser um médico famoso à época, nada conseguiu fazer para curá-lo. Sua mãe, então, o levou até são Francisco de Assis (1181/1182-1226 – falece em 3 de outubro), em algumas versões desta história sua mãe não o leva fisicamente, mas sim por meio de orações, e este o cura da enfermidade e segurando-o nos braços diz em italiano “boa sorte”: “bonaventura”.
Boaventura foi contemporâneo e amigo de Tomás de Aquino, suas obras possuem algumas similitudes e também diferenças nítidas na forma de abordar os problemas tratados e na influência sofrida e demonstrada por parte de pensadores anteriores, como, por exemplo, pseudo-Dionísio, Agostinho de Hipona e Aristóteles, além de outros provindos dos padres apologistas e da patrística. A presença de Aristóteles se encontra nos dois autores, mas de modo mais acentuado em Tomás de Aquino, do mesmo modo que Agostinho de Hipona também faz parte dos estudos de ambos, mas se torna muito mais evidente em Boaventura. Apesar das diferenças, não podemos esquecer que ambos são representantes da Escolástica e estão inseridos na cultura e demandas presentes ao século XIII, homens do seu tempo, dando respostas a questões então em voga.
Boaventura tem no estudo do século XIII um papel distinto do de Tomás de Aquino. Enquanto Tomás de Aquino ganhou um destaque maior por parte dos interessados nesta época histórica nos dias atuais, Boaventura tende a aparecer como um místico, o segundo fundador da ordem franciscana, o grande nome presente ao concílio de Lião, mas não um pensador original em filosofia, estando muito mais voltado a questões religiosas ou mesmo a teologia.
Contrário ao avanço do pensamento de Aristóteles então em voga, Boaventura busca sua fonte principal em Agostinho de Hipona e também nos padres anteriores, reafirmando a subordinação da razão a fé. A filosofia é entendida como muito importante, mas tendo de ser iluminada pela fé cristã. Não há uma aceitação de uma filosofia pura, desvinculada da teologia, pois o sentido da filosofia há de se encontrar apenas quando vinculada a teologia.
Percebemos claramente no pensamento e obra de Boaventura o que poderíamos chamar de “cristocentrismo”, onde a metafísica se associa a esta visão de mundo e temos como horizonte a revelação por meio da qual toda a realidade a nossa volta deva ser compreendida, deste modo, qualquer filosofia deverá ter como ponto de partida e chegada ao Cristo, caso contrário obrigatoriamente irá incorrer em erros.
Há um retorno, em sua filosofia, para o ser humano diante do problema de sua existência e destino. Boaventura não entende o mundo ou a matéria do qual o mesmo é formado como sendo eterno e sim fruto da criação divina em um ato criador. Claro está, no entanto, que Boaventura não é de todo imune ao aristotelismo, como não poderia deixar de ser, pois faz parte de sua época histórica, e vem, portanto, a também sofrer influência de Aristóteles em alguns pontos de seu pensamento. Em Boaventura temos presente Platão, ou melhor, o neo-platonismo.
Podemos falar, dentro do pensamento de Boaventura, em três formas de olhar e conhecer a Deus. São graus pelos quais se realiza a meta do saber, que é a união mística com Deus em êxtase mental, mas mantendo a distinção entre criador e criatura. Temos, na ordem, três faculdades em nossa mente que nos proporcionam este conhecimento e união. 1- o olho da carne, 2- o olho da razão, 3- o olho da contemplação. São olhares distintos que nos aproximam cada vez mais de Deus. Pelo primeiro temos os sentidos e o que observamos no mundo ao nosso redor, pelo segundo temos a razão e o conhecimento proveniente da filosofia e da teologia, as ciências nos aproximam de Deus, mas somente pela contemplação e amor chegamos ao ponto mais próximo de Deus.
Podemos entender por graus do conhecimento, a ascensão da fé, inteligência e contemplação. A fé se apresenta como uma virtude, seguida pelo dom da inteligência no que se crê e pela beatitude da contemplação. Apesar do valor da inteligência, dos estudos e da razão, o mais importante para nos aproximarmos de Deus é o amor, sendo que este sozinho já bastaria e mesmo uma pessoa inculta e iletrada de posse do amor tende a contemplação e aproximação de Deus.
Adota como prova da existência de Deus o argumento ontológico de Anselmo, com pequenas nuances próprias. Deus é percebido como um ser perfeito, cuja essência mesmo de sua perfeição requer sua existência, pois caso contrário, um ser totalmente perfeito que não existisse não seria perfeito. Entende que Deus é simples e causa criadora de tudo o mais que existe.
Boaventura não concorda com a interpretação dada a Aristóteles de entender a Deus como o motor imóvel, pois, nesta forma de pensar não encontraríamos local para o amor de Deus ou sua providência ou para a criação, todas características fundamentais do Deus cristão. Traz o mundo das ideias de Platão para a mente de Deus, o exemplarismo, onde passamos a ter modelos das coisas mais simples as mais complexas. Deus criou o mundo a partir das ideias contidas em sua mente, ideias estas que são exemplos de tudo o que há, daí exemplarismo. Deus criou o mundo tal como o desejou e planejou e por tal motivo toda a criação ao nosso redor está plena de vestígios, pegadas ou sombras pelas quais podemos perceber a Deus. Daí também adotar a ideia da existência das razões seminais, em cada coisa já estaria presente em potência o seu desenvolvimento, na matéria já teríamos em germe a forma.
Cabe destaque que no século XIII, para a ordem dos frades menores, a ordem mendicante de são Francisco a qual pertencia Boaventura, era muito importante como um ideal a ser seguido e que influenciou, também, a obra deste autor, a tríade composta por: pobreza, obediência e castidade.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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