Por: Silvério da Costa Oliveira.
Robert Grosseteste
Robert Grosseteste (1168-1253), não há certeza quanto sua data de nascimento, podendo variar de acordo com a opinião formada pelo comentador, as evidências, no entanto, tendem a aproximá-lo mais de 1168. Em verdade, pouco se sabe realmente sobre sua vida antes de 1230, havendo, não obstante, diversos estudos sérios, muito bem fundados, e hipóteses sobre sua vida anterior a esta data.
Falece em 8 ou 9 de outubro aos 85 anos de idade. Nasce em Stradbroke, condado de Suffolk, Inglaterra e falece em Buckden, Cambridgeshire, na Inglaterra. Atuou como político, filósofo, teólogo, escritor, cientista e também foi bispo de Lincoln por 18 anos (1235-1253). Foi o primeiro presidente (chanceler) da universidade de Oxford.
O nome “Grosseteste” provém de “Grosse” = “grande” e “teste” “tête” = “cabeça”, em francês, fazendo uma referência a enorme capacidade intelectual de Robert. Algo a semelhança, em português, a “Roberto Cabeção”.
Escreveu sobre diversos temas, dentre os quais, a filosofia, teologia, a óptica, a geometria, a astronomia e sobre o som. Dominava o inglês, francês, latim, grego e o hebraico. Segundo alguns comentadores o francês foi sua língua materna. Dentre seus principais escritos, citemos “Hexaemeron”, obra de teologia que se propõe a realizar um extenso comentário ao livro “Genesis”. Também traduziu e comentou obras literárias originariamente em grego para o latim, dentre as quais obras de Aristóteles, pseudo-Dionísio, João Damasceno, e outros, desconhecidas no mundo ocidental.
Outra importante obra é “Livre arbítrio”, onde se discute sobre a existência ou não da liberdade humana diante de Deus que tudo sabe, sobre o que ocorreu, ocorre e ocorrerá. Se o tempo é formado por pontos em uma reta infinita, somente na mente de Deus temos a presença de todo o infinito, de modo que ele tudo sabe. Daí a questão se podemos ter a ação livre humana diante da necessidade que algo ocorra presente na mente de Deus, que conhece as premissas que originaram a ação e diante das premissas segue-se necessariamente uma dada conclusão.
Encontramos entre suas obras trabalhos que podem ser classificados, pela época histórica, como científicos, abordando temas vinculados à natureza. Também comentários às traduções que fez do grego para o latim, comentários sobre livros da Bíblia, trabalhos sobre temas em filosofia e teologia, cartas, sermões, além do acervo chamado de “Dicta”, composto por uma grande coleção de pequenos escritos sobre temas em teologia e ainda manuscritos e inéditos. Além disto, também compôs algumas poesias.
Suas fontes são encontradas nas obras de Aristóteles, Avicena e Averróis por um lado e Agostinho e o neoplatonismo por outro lado, tendo desenvolvido um pensamento original para sua época. A partir de Aristóteles, entendia que a base de todo conhecimento é proveniente de nossos sentidos. Inspirado por Agostinho entende que a luz tem um destaque especial na criação, pois, Deus ao criar o mundo, primeiro criou a matéria e desta emanou um ponto de luz, primeira forma corpórea de energia. A partir deste ponto de luz, ela se expande por todo o cosmos.
Apesar de ter sido influenciado tanto por Aristóteles como por Agostinho, o que o torna um eclético, há uma tendência, no entanto, de por vezes subordinar a filosofia de Aristóteles e seus comentadores ao neoplatonismo de Agostinho.
Para entender as fontes de Robert e como estas foram utilizadas é necessário entender primeiramente que este estudou de modo mais aprofundado tanto Agostinho como também Aristóteles, nas bases dos quais construiu as linhas básicas de seu pensamento filosófico. Se por um lado observamos claramente a influência de Agostinho na construção do pensamento de Robert, também é fácil observar o conhecimento e a disposição em utilizar do pensamento de Aristóteles.
Inspirado em Aristóteles, entendia que havia um caminho duplo para o pensamento científico e chamou a isto de método da resolução e composição. Segundo Robert, primeiro temos observações particulares e por meio delas generalizamos visando obter uma lei universal, em sequência, seguimos a direção oposta, partindo das leis universais visamos obter a previsão de fatos particulares. Sua originalidade à época, se encontra justamente nos seus trabalhos sobre aspectos do conhecimento científico, da filosofia da ciência.
Segundo o entendimento de Robert, as teorias devem ser verificadas por meio de experimentos e a matemática, em particular a geometria (linhas, ângulos e figuras), é um importante instrumento para a realização de estudos sobre a natureza. Seus estudos sobre espelhos e lentes vieram a favorecer futuramente a fabricação de lentes para óculos, telescópios e microscópios.
Foi, segundo alguns comentadores, com certeza um precursor de algumas ideias científicas modernas, como o conceito de universos paralelos e do big bang na física, não que ele os tenha proposto, mas há hoje cientistas que vislumbram tais possíveis conclusões de seus escritos. Foi também um precursor do que mais tarde virá a ser o método científico com o emprego da matemática e de experimentos, mais uma vez deixando claro, no entanto, que menos pelo que ele fez e mais pelo que filósofos e cientistas, nossos contemporâneos, ao lerem seus escritos, veem como possibilidade pulsante.
Robert adota o exemplarismo, que é uma adaptação do mundo das ideias de Platão. Teríamos um modelo ou exemplo de cada universal na mente de Deus e não no mundo das ideias como o queria Platão. Robert e outros medievais entendiam que o mundo das ideias de Platão não era consistente com a dependência de todas as coisas em Deus.
Robert se insere dentro de uma tradição medieval na qual o conceito de “verdade” pode ser entendido em um número diferente e distinto de contextos. Sua concepção da verdade encontra a doutrina das formas eternas presentes na mente de Deus, exemplarismo, que vem a desempenhar importante papel no seu entendimento sobre o que seja a verdade. Segundo Robert, a verdade é a conformidade ou adequação das coisas, com o que falamos, escrevemos ou pensamos. A verdade é a conformidade entre as coisas e os modelos eternos na mente de Deus.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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