Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Eric Voegelin o “filósofo da consciência”

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Eric Voegelin

 

Eric Voegelin, ou Erich Hermann Wilhelm Vögelin, (1901-1985) nasce em Colônia, Alemanha, e falece aos 84 anos em Palo Alto, EUA. Filho de Otto Stefan Vögelin e Elizabeth Rülh. É formado em Ciências Políticas e Direito pela Universidade de Viena, onde também atuou como professor no curso de Direito. Nascido em Colônia, em 1910 a família muda para Viena, Áustria, onde, em 1928 ele obtém sua habilitação e passa a lecionar teoria política e sociologia. Em 1932 se casa com Lissy Onken, também conhecida por Luise Betty Voegelin (1906-1996). Em 1938, em virtude da expansão nazista e anexação da Áustria pela Alemanha, retira-se com a esposa para os EUA, vindo, ambos, a tornarem-se cidadãos americanos em 1944. Em 1958 muda-se para Munique, retornando aos EUA em 1969 e lá ficando até o final de sua vida. No transcorrer de sua vida atuou como professor na universidade de Viena (professor de ciência política na faculdade de Direito), Universidade do Estado da Louisiana, Universidade de Munique, Universidade de Stanford (Instituição Hoover), Universidade de Harvard. Lecionou, no entanto, a maior parte de sua carreira na Universidade Estadual da Louisiana.

A obra de Eric Voegelin busca suas bases filosóficas em pensadores clássicos, tais como Platão e Aristóteles. Revisando ideias antigas, cria uma filosofia original voltada para a crise política ideológica que este percebe em seu momento histórico. Nele encontramos um pensador que combate os atuais (séculos XX e XXI) idealismos políticos, mostrando a origem dos mesmos e suas raízes históricas e religiosas.


 

Eric Voegelin também é conhecido como sendo o “filósofo da consciência” e é possível dividir em duas fases a obra deste autor (há comentadores que a dividem em três e mesmo em quatro fases distintas, mas interligadas), sendo a primeira anterior a sua emigração da Áustria para os EUA e a segunda já residente nos EUA. Na primeira fase sua obra é caracterizada por um trabalho voltado para o racismo e o Estado autoritário, já na segunda fase temos uma maior preocupação com as religiões e a história, e uma junção deste estudo com o já desenvolvido em sua primeira fase de trabalhos. Destaque deve ser dado à obra “História das ideias políticas”, ainda durante sua estada na Europa.

Apresentou importantes contribuições à filosofia da consciência, à filosofia da história e à filosofia política, demonstrando em seus escritos que estes três campos de pesquisa e estudo, estão intimamente vinculados entre si.

Com relação ao desenvolvimento de suas ideias originais, que vinculam as ideologias políticas com formas de religião, em particular o Gnosticismo, cabe citar que alguns dos principais temas desenvolvidos em sua obra se vinculam ao problema suscitado pelas ideologias, bem como, a defesa do direito natural e a defesa da metafísica.

Em seu livro “As religiões políticas”, Eric Voegelin analisa os movimentos políticos ideológicos de massa, tais como o comunismo, presentes no transcorrer do século XX e aponta serem os mesmos análogos à religiões, mas não transcendentes e sim imanentes, no qual a promessa de um paraíso não se encontra após a morte em uma vida espiritual eterna e sim dada para as gerações futuras com a construção de um paraíso na Terra e seria justamente por participar desta construção futura que as pessoas encontrariam a sua redenção.

Na concepção deste autor, o desenvolvimento de ditaduras autoritárias tais como o comunismo de Lenin e Stalin ou o Nazismo de Hitler podem ser enxergadas como manifestações de religiosidade que denotam a crise espiritual que nossa sociedade estava vivendo neste período histórico e que se faz presente na violência política.

Eric Voegelin compara a política-religião com antigas doutrinas presentes no Gnosticismo. Cabe à doutrina gnóstica afirmar que o mundo é eminentemente mal, mas que o humano pode superar esta condição presente no mundo, por meio de um conhecimento especial, obtido pela Gnose. Diante deste novo conhecimento, o intelecto humano se vê ante uma iluminação que lhe permita solucionar os males do mundo. O cristianismo, por sua vez, não entende o mundo como sendo eminentemente mal, já que este é a própria criação e Deus, e entende que os problemas do mundo só podem ser superados no plano Divino, sendo este superior a nossa realidade histórica terrena.

Eric Voegelin entende que na base de todos os autoritarismos coletivistas que se destacaram no decorrer do século XX (comunismo, nazismo, fascismo, etc.) temos a Gnose. Ao falar sobre as causas que originaram as crises na sociedade do século XX, Eric Voegelin nos aponta o direito positivo e o relativismo moral, além da tentativa de tornar o transcendente em algo imanente presente em dado conjunto de ideologias políticas, que buscam criar o paraíso na Terra e não após a morte, simultaneamente à negação de uma realidade que seja imaterial e além de nossa vida temporal terrena. Gnose, em grego, significa conhecimento e está associado a uma doutrina que já foi considerada uma heresia cristã, mas que na verdade é muito mais antiga que este. Um pensamento de base gnóstica estaria intimamente vinculado a todo este processo, que transforma ideologias políticas em um verdadeiro culto religioso, que buscam eliminar todos os males que assolam a existência humana por meio de um dado conhecimento que somente os iniciados possuem.

A política enquanto composta por ideologias que se assemelham à religiões não transcendentes, mas imanentes, e que buscam sua redenção na criação de um futuro nesta Terra para as próximas gerações, enquanto fenômeno de massas, obtém sua enorme força e vitalidade de uma certa forma de devoção religiosa dedicada por seus militantes, tal o caso do comunismo e do nacional-socialismo. Este quadro se apresenta presente em toda ideologia política que acredita ser capaz de conseguir explicar a origem do mal dentro da sociedade, bem como, propor a solução política para acabar com este mal.

Ao negar uma realidade transcendente e afirmar a redenção pela criação de um futuro paraíso na Terra, dentro de um contexto totalmente materialista e no qual a transcendência é substituída pela imanência, temos como consequência imediata que os valores tidos como: verdade, bondade, justiça, passam a ser pervertidos, pois, a verdade é igualada a vontade do partido, a bondade à atuar em prol da ideologia, a justiça por sua vez passa a ser identificada com a supressão da propriedade privada, a qual, por sua vez, foi obtida por meio de trabalho honesto.

As ditaduras autoritárias trazem junto consigo, em seu tempo histórico, a cumplicidade de elites intelectuais e também do povo. Há fortes raízes que se encontram com vinculações psicológicas e emocionais. Uma parte significativa das elites e também do povo tem grande responsabilidade e também cumplicidade por todo este processo no qual ditaduras autoritárias são gestadas. Foi assim com o comunismo na URSS e com o nacional-socialismo na Alemanha de Hitler.

Em uma era na qual se parte de dada ideologia para chegar à verdade já previamente conhecida, em busca somente de confirmação e jamais de questionamento, temos na obra de Eric Voegelin o oposto desta tendência, ao questionar justamente o conjunto destas ideologias e mostrar sua origem histórica e vinculação religiosa. Sua obra nos mostra uma independência e clareza difícil nos dias atuais, sempre buscando uma correta interpretação da sociedade na qual vivemos.

O autor em sua obra desenvolve críticas ao totalitarismo político, mas também ao Positivismo nas ciências e filosofia, realizando uma profunda análise histórica das ideias e da própria experiência humana. Sua obra filosófica apresenta-se como sendo bem vasta e também complexa.

 Em sua crítica ao Positivismo, em particular na ciência política, argumenta que este reduz a complexidade da experiência humana aos fatos observáveis e mensuráveis, negligenciando outras dimensões importantes na realidade humana.

 

PRINCIPAIS OBRAS

 

1- Reflexões Autobiográficas. (Título Original: Autobiographical Reflections). Data da Primeira Publicação: 1989.

Composto por diversas entrevistas temáticas dadas em 1973 por Eric Voegelin a um de seus alunos e discípulos, Ellis Sandoz, enfocando sua vida, trajetória e obra filosófica. Considerada por alguns comentadores como uma boa introdução, feita pelo próprio autor, para quem deseja começar a ler Eric Voegelin.

2- Religiões Políticas. (Título Original: Die politischen Religionen). Data da Primeira Publicação: 1938.

É estudada a ideia da existência de religiões políticas, ou seja, sistemas políticos que assumam características presentes em uma dada religião. Exemplos seriam o nazismo e o comunismo, que, enquanto ideologias contemporâneas ao autor da obra, tendem a substituir a transcendência divina por ideias totalitárias, materialistas e imanentes.

3- A Nova Ciência da Política. (Título Original: The New Science of Politics). Data da Primeira Publicação: 1952.

É proposta uma nova abordagem para a ciência política e feita uma crítica ao Positivismo. O autor entende que a política deve ser compreendida à luz da experiência humana de ordem e transcendência.

4- Ciência, Política e Gnosticismo. (Título Original: Wissenschaft, Politik und Gnosis). Data da Primeira Publicação: 1959.

Como se dá a influência do Gnosticismo nas ciências e na política. As ideologias políticas atuais são variações do Gnosticismo, tentando impor uma visão de cunho religioso que formaliza uma nova ordem idealizada sobre o que seja a realidade, o que resulta em distorções e desordem.

5- Hitler e os Alemães. (Título Original: Hitler and the Germans). Data da Primeira Publicação: 1964 (publicado postumamente em 1999).

Conjunto de palestras proferidas por Eric Voegelin na Alemanha sobre o que foi a segunda guerra mundial e o movimento nazista, examinando o fenômeno do nacional-socialismo de Adolf Hitler, suas causas sociais e espirituais, que resultaram na ascensão de um governo totalitário na Alemanha.

6- Ordem e história. (Título Original: Order and History). 5 volumes.

7- História das Ideias Políticas. (Título Original: History of Political Ideas). 8 volumes.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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terça-feira, 20 de agosto de 2024

O filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Mario Ferreira dos Santos

 

Mario Ferreira dos Santos (1907-1968), nasce na cidade de Tietê, em São Paulo, e falece aos 61 anos na cidade de São Paulo, ambas no Brasil. Autodidata, atuou como tradutor, escritor, ensaísta e filósofo. Licenciou-se em Direito e Ciências Sociais pela Universidade de Porto Alegre. Visando a publicação e divulgação de suas próprias obras, na cidade de São Paulo fundou as editoras Logos e Matese. Cabe destaque a publicação em 45 volumes de “Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais”. Politicamente se engaja no que podemos chamar de anarquismo cristão. Foi membro ativo do “Centro de Cultura Social” – CCS-SP, localizado em São Paulo, que reunia um grupo de defensores do anarquismo. Defende um socialismo não autoritário (socialismo libertário), baseando-se nas ideias de Proudhon. Desenvolveu uma linha independente de filosofia. O seu modo característico de filosofia é conhecido como “Filosofia Concreta”, título de um de seus livros publicado em 1957. Sua obra filosófica teve forte impacto, em particular na década de 1960, exercendo influência em vários campos do saber, tais como: teoria social, psicologia, teologia, religiões comparadas, epistemologia, ontologia, filosofia da matemática, economia, história política, oratória e retórica.


 

Este autor é reconhecido por ter produzido uma ampla obra intelectual, bem como, por ser um genuíno filósofo brasileiro e não somente um professor de filosofia ou de história da filosofia, em verdade, trata-se de um dos principais expoentes da filosofia em nosso país. Tendo desenvolvido sua vida a partir de forte compromisso com a filosofia, sua obra abrange áreas diversas do conhecimento humano, buscando uma síntese original e abrangente, mas que mantenha uma coerência racional.

Podemos encontrar em sua obra elementos trazidos de Pitágoras, Platão e Aristóteles, bem como de Tomás de Aquino com a Escolástica ou, se o preferirem, com uma vertente neo-escolástica (mas presente nos séculos XVI e XVII em Portugal). Percebe-se também a presença de elementos trazidos do existencialismo, do neoplatonismo e da filosofia alemã do século XIX. Também presente encontramos uma visão cristã de mundo, dentro do paradigma Católico Apostólico Romano. Claro que também há um anarquismo libertário socialista e cristão. Em suma, a junção de todos estes fatores, correntes e autores pode de fato assustar, fazendo-nos pensar em alguma forma de incoerência ao unir pontos tão díspares, mas é justamente esta união original, ecumênica e única que faz do pensamento de Mário Ferreira dos Santos algo digno de ser estudado e, deste homem, um filósofo brasileiro.

A obra de Mário Ferreira dos Santos se apresenta como um sistema coerente onde busca uma relevante síntese de quase todos os sistemas filosóficos anteriores, claro que, trata-se de ousada pretensão, ao tentar refundar a filosofia, desta vez sob um fundamento apodítico. Apesar de criativo e filosoficamente interessante, sua obra possui incorreções técnicas básicas no tocante a edição do texto para publicação, que podem desagradar a alguns autores e podem ser responsáveis, conjuntamente com a militância de esquerda, que enaltece seus autores e esconde os que não fazem parte desta militância, de seu esquecimento em décadas recentes na Academia.

Mário Ferreira dos Santos desenvolveu uma filosofia original, baseada no que chamou de Decadialética e na Pentadialética, ferramentas de análise usadas em sua Filosofia Positiva Concreta. Caberia à filosofia construir suas bases a partir de experiências concretas e não somente na pura abstração teórica. A Decadialética atua por meio de dez categorias que visam orientar a análise em busca da resolução de todas as divergências. A Pentadialética tem dentre suas metas a simplificação de enunciados filosóficos por meio de uma estrutura lógica que permita a integração de distintas dialéticas (Platão, Hegel, Marx, Nietzsche).

O termo “Decadialética”, formado pela união entre duas palavras gregas (deka = dez; dialektikê = esclarecer por meio de ideias) mostra-se como um método dialético filosófico, visando ordenar o raciocínio por meio do uso de dez categorias não isoladas entre si, mas em harmônica interação. Deste modo, busca-se um raciocínio prático e não puramente abstrato.

Quando pensamos na “Decadialética” e na “Pentadialética” na obra de Mário Ferreira dos Santos, estamos nos referindo a ferramentas por este autor desenvolvidas para o uso da dialética na filosofia, dentro de sua intenção de proporcionar uma metodologia que fosse original na filosofia, de modo a permitir a integração e aplicação do pensamento dialético de um modo sistemático.

Na Decadialética, temos um total de dez categorias ou princípios que visam orientar a elaboração do processo dialético. Estas dez categorias devem permitir uma análise que seja profunda e abrangente no tocante às contradições e problemas presentes na filosofia, de modo a proporcionar uma sólida base que permita a solução de possíveis divergências dentro da área.

Na Decadialética temos 10 campos (categorias), que são respectivamente: 1- campo do sujeito e do objeto, 2- campo da atualidade e da virtualidade, 3- campo das possibilidades reais (virtualidades) e das possibilidades não-reais, 4- Campo dialético da atualidade e a antinomia entre intensidade e extensidade, 5- Campo das oposições da intensidade e da extensidade nas atualizações, 6- Campo das oposições do sujeito: razão e intuição, 7- Campo das oposições da razão: conhecimento e desconhecimento, 8- Campo das oposições da razão: atualizações e virtualizações (atualizações e virtualizações intuicionais), 9- Campo das oposições da intuição: conhecimento e desconhecimento, 10- Campo do variante e do invariante.

A par com a Decadialética, temos a Pentadialética (grego: penta = cinco). Após apresentar os dez campos antinômicos presentes na Decadialética, pode-se entender o ente em análise por meio de cinco planos, aumentando deste modo os limites possíveis para sua concreção. Os cinco planos são: 1- unidade, 2- totalidade, 3- série, 4- sistema, 5- universo.

Em sua filosofia concreta busca criar uma filosofia sistemática e original, superando o dualismo tradicional na filosofia e ciências que ocorre entre por um lado o abstrato e por outro o concreto. Trata-se de uma proposta para a construção de uma filosofia que seja prática e aplicada, direcionada para a realidade do dia-a-dia. Em seu livro “Filosofia Concreta”, de 1957, trata de questões vinculadas à metafísica, à ética, à lógica, à estética, buscando sempre um sistema de pensamento integrado (unificado).

Dentre os temas abordados em sua vasta obra, temos a busca pela unidade do conhecimento. O autor pensava que a fragmentação do conhecimento em distintas áreas se apresentava prejudicial e deste modo, almejava integrar a ciência com a filosofia, a arte e a religião em um sistema que fosse unificado e coerente. O autor apresenta uma crítica ao materialismo e ao positivismo enquanto correntes de pensamento, pois, segundo seu entendimento, tais correntes ignoravam aspectos essenciais da realidade, tal o caso do espiritual e do metafísico. Em sua obra, dedicou-se ao estudo dos símbolos e da linguagem. Entendia serem estes de vital importância para a correta compreensão da realidade e também da experiência humana. Defensor da educação e do poder transformador da filosofia e da cultura de um povo, buscou traduzir a obra de grandes filósofos, tentando levar as pessoas ao nível da filosofia e não o contrário.

Em suma, Mário Ferreira dos Santos é um filósofo brasileiro que apresentou uma filosofia original que chamou de “Filosofia concreta”, numa ousada construção de uma filosofia genuinamente brasileira, mas que incorpore elementos tradicionais e históricos da filosofia, respondendo às necessidades específicas de nosso contexto cultural brasileiro. Trata-se de obra complexa e também interdisciplinar, refletindo a crença na unidade do conhecimento e na aplicabilidade prática da filosofia. Em verdade, uma contribuição única e deveras significativa para o pensamento nacional, que se propõe pela sua própria existência filosófica a desafiar o leitor, seja este amador ou estudioso, a repensar de forma integrada e prática toda a realidade e também a natureza humana e social, incorporando a noção de liberdade e ética.

 

PRINCIPAIS OBRAS

 

1. Filosofia Concreta, 1957.

Nesta obra o autor desenvolve o conceito de “filosofia concreta”, segundo o qual a filosofia deve ser vivida e aplicada na prática, não devendo ser apenas teorizada. É feita uma crítica ao abstracionismo da filosofia tradicional e proposto um pensamento que seja direcionado para a realidade concreta.

2. Invasão Vertical dos Bárbaros, 1959.

Aqui temos uma análise do processo de decadência cultural e moral presente na civilização ocidental, comparando o mesmo com a invasão dos bárbaros que provocou a queda do Império Romano do Ocidente. Segundo o pensamento do autor, estaria ocorrendo uma invasão vertical, na qual os valores tradicionais e mais elevados passam a ser substituídos por ideologias e outros comportamentos que são inferiores aos primeiros.

3. Tratado de Simbólica, 1959.

Estudo sobre a simbologia, onde se realiza uma análise dos símbolos em várias culturas e religiões no transcorrer da história. O autor aborda como os símbolos funcionam, atuando dentro de uma linguagem universal e transmitindo significados complexos, bem como, exercendo influência sobre o pensamento humano.

4. A Sabedoria das Leis Eternas, 1963.

Investigação sobre as leis universais que regulam a natureza e o espírito humano. Nesta obra o autor busca reconciliar a ciência com a filosofia e a espiritualidade. Apresenta uma proposta na qual as leis eternas são fundamento de toda a realidade e do conhecimento dito verdadeiro.

5. Lógica e Dialética, 1965.

Estudo sobre lógica e dialética no qual são discutidos os princípios e métodos do raciocínio lógico e sua aplicação na dialética. Tentativa de unir a lógica formal com a dialética, visando criar uma nova ferramenta de análise filosófica.

6. Curso de Oratória e retórica, 1960.

A obra é um guia prático para o desenvolvimento da habilidade de oratória. Temos o desenvolvimento de técnicas e a apresentação de conselhos sobre como falar bem e de maneira eficaz em público, proporcionando ênfase na clareza, persuasão e força expressiva.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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terça-feira, 13 de agosto de 2024

A Escolástica Protestante

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Escolástica Protestante

 

O termo “Escolástica” geralmente aparece vinculado a um movimento presente na Idade Média, no segmento Católico Apostólico Romano, o que pode trazer alguma estranheza quando associado a uma fase histórica posterior ao século XVI e a Reforma Protestante, no entanto, seu uso é correto e faz referência a um grupo específico de teólogos protestantes. Este movimento se fez mais marcantemente presente no século XVII e, posteriormente, ressurgindo no século XIX e mesmo XX, onde temos, por exemplo, os trabalhos de Conrad Emil Lindberg (1852–1930) e Revere Franklin Weidner (1851–1915).

No desenvolvimento da Escolástica devemos nos reportar à Igreja Católica durante a Idade Média, em um período histórico onde observamos um gradativo afastamento das doutrinas presentes em Platão, no platonismo e em Agostinho, a par com uma aproximação do filósofo Aristóteles. É um período de transição do movimento da Patrística para o da Escolástica. As duas principais ordens da época eram a franciscana e a dominicana e em ambas vemos o desenvolvimento da Escolástica, sendo que, na franciscana o neoplatonismo e a obra de Agostinho se mantem muito presentes, enquanto que nos dominicanos há de predominar o pensamento de Aristóteles. Há muitos pensadores no período, mas podemos citar, por exemplo: Anselmo, Boaventura, Alberto Magno, Tomás de Aquino, Guilherme de Occam e Duns Scotus, dentre outros.


 

No surgimento da Escolástica, e seu uso na teologia de então, esta se mostrou como sendo uma abordagem metodológica mais sistemática, desenvolvida em um ambiente escolar (prédios próprios para ensino, alunos, professores, livros) presente nas escolas e universidades que começavam a surgir e se desenvolver em algumas cidades medievais. Temos uma maior atenção aos textos clássicos e a redescoberta de algumas obras e autores. Neste ambiente propício ao estudo, mesmo temas fora da realidade prática cotidiana eram seriamente estudados, propiciando maior investigação e especulação teológicas, livres de qualquer necessidade urgente de sobrevivência ou aplicação no dia-a-dia do povoado/cidade ou da Igreja. Por meio da aplicação do método filosófico, da lógica de Aristóteles e do uso da razão para interpretar as Sagradas Escrituras, buscava-se a verdade enquanto um todo consistente. Ocorreu uma organização e sistematização de todos os estudos anteriores, desenvolvendo um método próprio de ensino e aprendizagem visando a preservação e ampliação do conhecimento.

Desde o surgimento da Escolástica, a lógica de Aristóteles teve um papel de destaque, donde podemos inferir a importância dada ao uso da correta terminologia, a necessidade de desenvolver um raciocínio proposicional, o valor presente no uso dos silogismos, a importância de priorizar uma análise racional. Deste modo, a Escolástica na teologia apresentou-se desde o início não como uma doutrina religiosa, mas sim como um método para se fazer teologia, uma correta metodologia para o estudo dos textos sagrados.

Em verdade, do mesmo modo que antes os católicos fizeram, coube também aos pensadores protestantes terem de escolher qual filosofia usar, pois, não há como não usar uma base filosófica, mesmo que não se tenha consciência de o fazer. A Escolástica protestante tende, portanto, a reconhecer justamente a importância de delimitar e pôr ao exame as crenças adotadas e os sistemas, sempre de modo erudito e com o devido rigor filosófico.

Há diferenças marcantes entre o que chamamos de “Escolástica” vinculada à Igreja Católica e o que chamamos de “Escolástica” vinculada às Igrejas Protestantes. Entre os protestantes temos um sério compromisso com as bases da Reforma, o que nos traz para primeiro plano a autoridade das Escrituras Sagradas como sendo a única, bem como, que somente pela fé pode-se ter a justificação do pecador. Podemos dizer que está totalmente presente a máxima protestante de: Sola Fide, Sola Scriptura e Sola Gratia (somente pela fé, somente pelas Escrituras, somente pela Graça).

A estes pensadores cabe o foco na clareza da terminologia, a apresentação extensiva dos argumentos em prol das doutrinas defendidas, a refutação dos argumentos contrários. Temos presente uma argumentação sobre a relação existente entre por um lado a fé, a teologia, e por outro, a razão, a filosofia. Temos presente também a influência de Aristóteles no tocante à adoção do “realismo”, que permite que ao nos debruçarmos sobre o que nossos sentidos captam do mundo externo, adotemos tal como sendo a verdade das coisas por nós observadas. Mas não somente a aproximação do realismo em filosofia, como também o afastamento do nominalismo.

Se nos atermos a Lutero e Calvino, mesmo em sua ênfase as Escrituras Sagradas, eram homens de seu tempo e como tal, influenciados em suas ideias pelas discussões correntes quanto a filosofia na teologia e podemos perceber no discurso de ambos, Lutero e Calvino, tanto a presença de Platão, como também Aristóteles, dois marcos importantíssimos de toda a cultura ocidental. Nos sucessores de Lutero e Calvino, a Escolástica e o pensamento de Aristóteles e Tomás de Aquino se fizeram, no entanto, bem mais presentes. Formas escolásticas foram empregadas para exposição de ideias e argumentos e o silogismo formal esteve presente, bem como, observamos um estreitamento da relação entre razão e revelação em todo o processo teológico.

Há vários nomes que podem ser aqui citados e desenvolvidos e, portanto, citarei somente alguns para melhor posicionar o ponto central aqui desenvolvido. Comecemos por Girolamo Zanchi (1516-1590). Este pensador se apresenta como sendo um importante teólogo da Reforma Protestante e vinculado à Escolástica Protestante, o que se mostra evidente pela leitura e estudo de sua obra, seus escritos e ensinamentos ali presentes. Tendo estudado na Universidade de Padova, Zanchi sofreu influência do humanismo renascentista e da filosofia escolástica. Também fez parte do mosteiro agostiniano de Lucca, tendo ali se convertido às ideias professadas pela Reforma. Teve de fugir da Itália pelo motivo das perseguições religiosas que então ocorriam e foi encontrar abrigo em cidades protestantes na Suíça, Genebra e Alemanha, tendo, inclusive, travado contato pessoal (1552-1553) com Calvino. Atuou como professor de teologia em diversas universidades protestantes, tendo nestas ocasiões feito a escolha por aplicar métodos escolásticos objetivando a sistematização e defesa da teologia da Reforma Protestante. Demonstrou grande habilidade na utilização da lógica de Aristóteles presente na Escolástica, na discussão de complexas questões doutrinárias. Cabe a Girolamo Zanchi ser, portanto, um representante da Escolástica Protestante, apresentando o rigor metodológico presente na Escolástica conjuntamente com a presença de princípios teológicos da Reforma Protestante.

Outro nome importante é o de Théodore de Bèze (Theodore Beza – 1519-1605), também fortemente vinculado à Escolástica Protestante. Beza atuou como teólogo protestante de destaque e também foi o sucessor de João Calvino a frente da cidade de Genebra. Coube a Beza ter um papel vital no desenvolvimento e na disseminação da teologia presente na Reforma Protestante, tendo em muito contribuído para a Escolástica protestante por meio de suas obras sobre teologia e do papel que desempenhou na Academia de Genebra. A teologia desenvolvida por Beza apresenta forte ligação com a doutrina de Calvino, tendo Beza sistematizado e defendido as ideias de Calvino. Parte da ortodoxia presente na Reforma protestante foi estruturada e ganhou forma definida a partir dos embates e disputas teológicas das quais Beza participou em sua época. A abordagem escolástica se encontra presente em suas obras, exposições e comentários às Escrituras Sagradas, proporcionando uma melhor organização e argumentação teológica, apresentando uma contribuição duradoura para a Escolástica Protestante.

Também importante citar Johannes Althusius, ou Johannes Althaus (1557-1638), vinculado à Escolástica Protestante e à teologia política, atuando como teólogo e jurista. Em sua obra faz uso de uma metodologia sistemática e também do uso de categorias presentes na Escolástica. Coube a ele unificar princípios teológicos presentes na Reforma Protestante com uma abordagem sistemática ao direito e à política, mostrando tanto a presença da influência da Escolástica, como também da doutrina Protestante. Althusius é muito conhecido por defender o princípio federalista para adoção no governo.

Também Francis Turretin (ou François Turretin, 1623–1687), considerado um dos mais significativos representantes da Escolástica Protestante. Turretin fez uso da lógica de Aristóteles visando formular e defender pontos doutrinários na Teologia Protestante, focando na clareza de sua exposição dos conceitos analisados nas Sagradas Escrituras.

Em suma, a “Escolástica Protestante”, que também pode ser chamada por “Ortodoxia Reformada” ou “Teologia Protestante Escolástica”, se mostrou como um movimento histórico que surge no século XVI com a Reforma Protestante e tem seu maior desenvolvimento no século XVII. Tinha como meta a sistematização e a defesa das doutrinas cristãs presentes na Reforma Protestante por meio do uso da filosofia, em particular de Aristóteles, com o emprego de categorias presentes na Escolástica medieval, da lógica e em particular dos silogismos estudados na Escolástica e cuja origem se encontra na filosofia de Aristóteles. Buscava a sistematização, organização e clareza na exposição, argumentação e análise dos temas tratados, proporcionando uma união entre a razão expressa pela filosofia, com a fé expressa pela teologia. O esforço de buscar a integração entre por um lado o rigor da filosofia e lógica, com, por outro lado, doutrinas teológicas de base na Reforma Protestante se mostra como a essência deste movimento histórico, presente à Escolástica Protestante desde seu início. Seu desenvolvimento ocorreu nas universidades e seminários da Europa protestante. Dentre seus principais teóricos temos: Theodore Beza (1519-1605), Johannes Althusius (1557-1638), Francis Turretin (1623-1687), Girolamo Zanchi (1516-1590).

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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