Por: Silvério da Costa Oliveira.
Joseph de Maistre
Joseph Marie Comte de Maistre (1753-1821), é cidadão do Reino da Sardenha, hoje Itália, mas cuja família é de origem francesa, daí poder ser corretamente considerado um filósofo francês, inclusive, os originais de seus escritos encontram-se em francês. Nasce em Chambéry, então capital do Ducado de Saboia, que era parte do Reino da Sardenha, e falece em Turim, aos 67 anos de idade. Estudou em um colégio jesuíta em sua região e, posteriormente, estudou Direito na Universidade de Turim. Recebeu uma educação clássica, baseada em estudos de direito, filosofia e teologia, que o preparou para seguir carreira pública. Possui o título de nobreza de “conde” e atuou como escritor, filósofo, diplomata e também magistrado. Foi membro do Senado da Saboia (1787–1792), embaixador da Sardenha no Império Russo por cerca de 14 anos (1803–1817) e ministro de estado na corte em Turim (1817–1821). Joseph de Maistre casou-se com Françoise-Marguerite de Morand (1759-1839) em 1786, com quem teve quatro filhos.
Joseph de Maistre é considerado como sendo um dos principais defensores do conservadorismo contrarrevolucionário francês no século XIX. Um representante do contra-Iluminismo ou Anti-Iluminismo, também do UltraMontanismo. Após a Revolução Francesa (1789), Joseph de Maistre assume uma postura ativista anti-revolucionária. Forte crítico da revolução francesa, a entendia como um atentado contra a ordem natural das coisas. Defende uma monarquia absoluta para o governo da França e entende que esta tem suas bases na ordem Divina, bem como, defende a supremacia do papa nas questões religiosas e políticas.
Defensor da monarquia, escreveu que Deus estava punindo os franceses pelo regicídio, com todo o sangue derramado no transcurso da Revolução Francesa. Como cristão, se posicionava enquanto Católico Apostólico Romano e defensor da infalibilidade do Papa em questões religiosas. Em suas obras se destaca a crítica ao Iluminismo e ao Racionalismo, bem como, seu apoio e defesa do absolutismo monárquico e da autoridade do Papa e da Igreja Católica Apostólica Romana. Na sua concepção sobre a história (e a política), esta é guiada pela providência Divina.
Joseph de Maistre se apresenta como conservador, defensor dos limites da razão humana e da necessidade de se ter uma base espiritual e moral para a manutenção da ordem pública. Para o autor, a monarquia absolutista não se apresentava somente enquanto forma de governo dentre outras, mas era dentro da França um sistema que reflete a ordem natural e Divina. Todas as formas de autoridade política derivam de uma autoridade superior, que é a autoridade Divina. A soberania não pode ser legitimada pelo consentimento do povo ou pelas leis criadas por nós humanos, sendo algo dado por Deus. Cabe ao Papa ter a supremacia espiritual e temporal, pois, a centralidade da autoridade do Papa se mostra como fundamental para garantir a coesão de todas as nações cristãs.
Conjuntamente com Edmund Burke, Joseph de Maistre é hoje considerado um dos fundadores do “conservadorismo”, sendo que ser conservador para Joseph de Maistre é defender a tese “trono e altar”, o que mudou e muito a partir do século XIX, quando esta visão então mais autoritária foi substituída por uma visão mais liberal.
O pensamento de Joseph de Maistre, em resumo, trata da defesa da tradição, da religião cristã, Católica Apostólica Romana, da autoridade do monarca e do Papa. Segundo o pensamento de Joseph de Maistre, a autoridade se apresenta como fundamento indispensável para a estabilidade social. Este pensador é um forte opositor da filosofia do Iluminismo e do Racionalismo, e também de uma forma de governo democrática, ou do liberalismo. Segundo seu pensamento, estas abordagens não levaram em consideração a ordem Divina e natural, o que tenderia a levar ao caos e a destruição social. As instituições políticas devem surgir naturalmente no transcurso histórico de um povo, de uma nação, são parte da cultura deste mesmo povo. Defende uma autoridade centralizada, absoluta e legitimada por Deus. Somente uma sociedade que tenha suas bases na hierarquia, na fé e na ordem moral cristã pode garantir a paz e a prosperidade.
PRINCIPAIS OBRAS
1- Considérations sur la France. Título em português: Considerações sobre a França. Ano da primeira publicação: 1796.
Obra sobre a Revolução Francesa, na qual o autor defende a tese de que todas as mortes e sangue derramado ali ocorrido foram consequência de um ato de justiça Divina, visando punir os pecados do povo da França. Dentro da visão do autor, os eventos históricos são guiados pela providência Divina e, deste modo, a Revolução Francesa é um evento historicamente necessário para que haja a restauração da monarquia e da ordem social tradicional. Há uma rejeição de explicações de cunho Iluministas ou Racionalistas, discordando o autor destas abordagens filosóficas.
2- L’Essai sur le principe générateur des constitutions politiques et des autres institutions humaines. Título em português: Ensaio sobre o princípio gerador das constituições políticas e de outras instituições humanas. Ano da primeira publicação: 1814
O autor argumenta que as constituições e instituições políticas não são meras criações artificiais ou resultado do emprego da razão humana, pois, segundo o autor, estas são a consequência de um princípio superior, vinculado à história e à tradição pertencente aquele povo, aquela nação. Segundo o pensamento do autor, não é correto entender que se possa elaborar constituições de um modo abstrato e impô-las ao povo de uma dada nação. As constituições devem surgir de modo espontâneo e orgânico da cultura e das práticas de uma dada sociedade. Apresenta uma crítica às filosofias Iluministas e Racionalistas, bem como, uma crítica quanto à crença sobre a capacidade humana de reformar a sociedade por meio de projetos abstratos. O autor defende enfaticamente uma visão tradicionalista da política.
3- Du Pape. Título em português: Sobre o Papa. Ano da primeira publicação: 1819.
Nesta obra o autor assume a defesa do papado e da autoridade espiritual e temporal do Papa, representando esta um pilar fundamental para a estabilidade política e social da Europa. O autor se mostra contrário às tentativas de secularização das estruturas sociais, entendendo que somente a Igreja Católica Apostólica Romana e o Papa, enquanto autoridade máxima, podem manter a ordem e a moralidade necessárias para que a sociedade funcione adequadamente.
4- Les Soirées de Saint-Pétersbourg. Título em português: As Noites de São Petersburgo. Ano da primeira publicação: 1821.
Série de diálogos filosóficos que se dão entre três personagens na cidade de São Petersburgo, Rússia. Nestes diálogos são discutidos diversos temas, tais como: a providência Divina, a legitimidade do poder, a natureza do mal. Nesta obra o autor destaca a importância da religião e da autoridade enquanto guias para a humanidade, fazendo simultaneamente uma crítica ao Iluminismo e ao Racionalismo na Filosofia.
5- Examen de la philosophie de Bacon. Título em português: Exame da Filosofia de Bacon. Ano da primeira publicação: 1836 (póstumo).
Aqui temos uma crítica à filosofia presente no Empirismo e também a ciência, tomando como ponto de base os trabalhos de Francis Bacon. O autor entende que esta abordagem se mostra como uma ameaça à ordem moral e religiosa, rejeitando a separação entre ciência, por um lado, e religião, por outro, presente no Empirismo apresentado por Bacon. O conhecimento verdadeiro deve sempre estar subordinado às verdades da fé e da teologia.
6- De l'Église Gallicane. Título em português: Da Igreja Galicana. Ano da primeira publicação: 1854 (póstumo).
Uma análise do Galicanismo, movimento que defendia relativa autonomia da Igreja francesa em relação ao bispo de Roma. Nesta obra apresenta uma crítica as ideias defendidas no Galicanismo, assumindo uma posição que defende a supremacia do Papa sobre todas as demais igrejas, estejam em que nação for, reafirmando a necessidade de unidade e autoridade central na Igreja para que seja possível manter a ordem social e espiritual.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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