Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

Sites na Internet – Doutor Silvério

1- Site: www.doutorsilverio.com

2- Blog 1 “Ser Escritor”: http://www.doutorsilverio.blogspot.com.br

3- Blog 2 “Comportamento Crítico”: http://www.doutorsilverio42.blogspot.com.br

4- Blog 3 “Uma boa idéia! Uma grande viagem!”: http://www.doutorsilverio51.blogspot.com.br

5- Blog 4 “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

https://livroograndesegredo.blogspot.com/

6- Perfil no Face Book “Silvério Oliveira”: https://www.facebook.com/silverio.oliveira.10?ref=tn_tnmn

7- Página no Face Book “Dr. Silvério”: https://www.facebook.com/drsilveriodacostaoliveira

8- Página no Face Book “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

https://www.facebook.com/O-Grande-Segredo-A-hist%C3%B3ria-n%C3%A3o-contada-do-Brasil-343302726132310/?modal=admin_todo_tour

9- Página de compra dos livros de Silvério: http://www.clubedeautores.com.br/authors/82973

10- Página no You Tube: http://www.youtube.com/user/drsilverio

11- Currículo na plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/8416787875430721

12- Email: doutorsilveriooliveira@gmail.com


E-mails encaminhados para doutorsilveriooliveira@gmail.com serão respondidos e comentados excluindo-se nomes e outros dados informativos de modo a manter o anonimato das pessoas envolvidas. Você é bem vindo!

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Mikhail Aleksandrovitch Bakunin

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Mikhail Bakunin

 

Liberdade sem socialismo é privilégio, injustiça; socialismo sem liberdade é brutalidade e escravidão.

Mikhail Bakunin. Federalismo, Socialismo e Antiteologismo (Fédéralisme, socialisme, antithéologisme), 1867-1868.

 

Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876) nasce em Premukhimo, Império Russo, e falece em Berna, Suíça, aos 62 anos de idade. Foi casado com Antonia Kwiatkowska, com quem teve duas filhas. Atuou como sociólogo, filósofo, e revolucionário de orientação anarquista. Bakunin nasce em uma família de nobres e proprietários de terras, sendo um dentre sete irmãos. Tendo se formado em 1862 na Universidade de Artilharia em São Petersburgo, em 1864 passa a integrar a guarda imperial russa, na condição de oficial, mas em cerca de um ano abandonara o exército e retornara para sua casa. Bakunin sofreu forte influência de Kant, do Idealismo Alemão e do Romantismo. Tende a se aproximar da esquerda hegeliana e assumir uma atitude de proximidade com o socialismo. Viajou e travou contato com intelectuais e ativistas políticos, por vários países da Europa (França, Itália, Alemanha, etc.), Japão e EUA. De início trava contato amistoso com Marx e Engels, estando com os mesmos em mais de uma ocasião, mas posteriormente rompe relações. No transcorrer de sua vida esteve preso diversas vezes, foi deportado e mesmo condenado a pena de morte algumas vezes, tendo em todas sido a pena comutada em prisão perpétua. Terminou seus dias livre, morrendo de doença e velhice, após uma vida bem atribulada e cheia de viagens e aventuras. Deve-se frisar que há uma virada no pensamento de Bakunin após o ano de 1865, quando assume uma atitude plenamente anarquista. Bakunin participou da fundação da Primeira Internacional Social-Democrata, sendo mais tarde expulso por Karl Marx e seus seguidores, no Congresso de Haia, em 1872.


 

Muito importante dentro do pensamento desenvolvido por Bakunin é sua crítica ao Estado e a hierarquia presente no governo. O Estado é entendido como um instrumento de opressão de uma classe dominante sobre as demais, favorecendo a exploração em prol dos interesses da classe dominante. Segundo o pensamento de Bakunin, qualquer forma de governo centralizado apresenta-se como tirânico, não importando suas origens ou intenções.

Bakunin era contrário ao Estado, fosse este um Estado imperialista ou resultante de uma ditadura do proletariado, como o queria Marx. Questionava o poder divino que alguns governantes alegavam ter. Posicionava-se veementemente contrário a todas as formas de governo que impusessem a vontade de uma pessoa ou pequeno grupo sobre a vontade dos demais. Posicionou-se contrário a toda e qualquer forma de autoridade imposta, seja pela religião ou Estado. Bakunin entendia que a revolução deve acontecer necessariamente de maneira violenta e espontânea. Bakunin defende a destruição do Estado e sua total abolição. O Estado tende a perpetuar a desigualdade social e econômica. Para conseguirmos a liberdade é necessário abolir o Estado e criar uma sociedade sem classes.

No entanto, Bakunin também é um crítico do marxismo, entendendo que a revolução deveria acabar com o Estado opressor e não substituí-lo por outro, no formato de uma “ditadura do proletariado” que possa vir a se mostrar na prática, mais opressora que o regime anterior. Segundo Bakunin, após a revolução não se deve instalar um governo de transição como previsto no marxismo, em seu lugar, deve-se desde o início destruir o Estado e criar outras formas de relação, baseadas na livre escolha pela união e autogestão dos trabalhadores. Uma ditadura do proletariado tenderia a se tornar um governo tirânico voltado para sua autoperpetuação no poder, criando uma nova elite dominante, uma elite burocrática e partidária.

Enquanto Marx e Engels defendiam uma ditatura do proletariado e a criação de um Estado de operários, pelo qual se daria toda a ação política, Bakunin defendia a total abolição do Estado e sua substituição pela ação direta proveniente de articulações formadas no cooperativismo e na autogestão.

Marx defendia a centralização do poder como um passo na direção da revolução, já Bakunin entendia que a centralização se mostra como autoritária e opressiva, defendendo uma via descentralizada.

Sendo contra o Estado, Bakunin defende a formação de comunas autônomas e autogeridas por seus próprios membros, unidas por livre escolha a uma federação, de modo a poderem cooperar entre si de modo voluntário. Esta organização tenderia a proporcionar maior liberdade individual e coletiva, de modo a desenvolver a solidariedade e também a igualdade entre seus membros. Se mostrando, deste modo, contrário a um poder centralizado.

Bakunin apresenta uma elaborada crítica ao Estado, a qualquer tipo de autoridade imposta e as desigualdades sociais. Para que haja uma sociedade realmente livre, tem de haver um governo de autogestão e uma federação na qual os grupos possam aderir, ou não, de acordo com suas escolhas internas. As comunas devem ser autônomas e se autogerirem. Somente seguindo estes passos, na concepção do pensamento de Bakunin, é que conseguiremos, após uma revolução, desenvolver uma sociedade que nos permita a liberdade e a justiça.

Quanto à revolução, Bakunin entende ser a mesma necessária, e que não deva ficar restrita a um único Estado, sendo obrigatoriamente internacionalizada para que se possa derrubar o capitalismo. A presença de um Estado opressor, independente do lugar no mundo onde esteja, se mostra como uma ameaça à liberdade em todas as outras partes do mundo. Deste modo, todos os trabalhadores do mundo deveriam se unir contra o capitalismo e as estruturas opressivas.

Bakunin entende que a liberdade individual e a igualdade social não são passíveis de serem separadas, sendo dependentes uma da outra. Não é possível liberdade sem igualdade econômica e social. Liberdade não é apenas a ausência de coerção, envolve a possibilidade de realização plena em ambiente de solidariedade e apoio mútuo. Liberdade não é apenas não sofrer opressão, mas também participar ativamente da construção da sociedade, o que nos traz uma concepção positiva da liberdade. A liberdade individual tende a surgir e se desenvolver a partir de um ambiente social que proporcione iguais oportunidades e recursos para todos.

Nem toda autoridade é ruim ou negada por Bakunin, ele reconhece uma autoridade que seja legítima, em oposição a uma ilegítima. A verdadeira autoridade se dá por meio do conhecimento e da experiência em dada área, e cabe à pessoa a liberdade de escolher seguir ou não esta autoridade, não sendo a mesma lhe imposta. Um médico, engenheiro ou líder político tem uma autoridade, mas cabe a cada um de nós a liberdade de poder escolher qual médico ou engenheiro ou político. O que Bakunin rejeita é a autoridade coercitiva e sem escolha possível, que nos é imposta de fora para dentro, de cima para baixo. Para termos real liberdade é necessário primeiramente abolir toda e qualquer instituição que concentre o poder para si.

Bakunin se posicionava dentro do ateísmo, defendia o coletivismo e pensava que a liberdade depende da existência da igualdade econômica e social. Posiciona-se contrário ao individualismo de modo abstrato presente nas democracias liberais, acreditando que a verdadeira liberdade se dá por meio da interação social e não no total isolamento da pessoa. Também defendia o federalismo enquanto estrutura descentralizada de governo formada por comunas que aderem voluntariamente à federação, visando gerenciar assuntos que sejam do interesse comum de todas as comunas, mas mantendo a sua autonomia. Seu pensamento se pauta no materialismo, priorizando as reais condições de existência humana.

No tocante ao trabalho, era favorável à coletivização dos meios de produção, buscando um modelo baseado no trabalho e gestão coletivos. Bakunin defende a abolição da propriedade privada dos meios de produção, substituindo-a pela propriedade coletiva. A justiça social só pode ser alcançada por meio da igualdade econômica, sendo seu contrário, a desigualdade econômica, a origem de diversos problemas sociais.

Quanto à religião, Bakunin se assumiu como ateu e apresentou críticas à religião, que entendia ser, conjuntamente com o Estado, responsável pela opressão e pelo controle social. Enquanto instrumento de controle social, a religião tende a propiciar a manutenção da submissão e da obediência dos trabalhadores a classe dominante. A religião tende a justificar a autoridade terrena por meio de uma autoridade divina, sendo, portanto, a religião um reflexo das desigualdades e opressões presentes neste mundo material. Para que haja a verdadeira emancipação do humano, é preciso rejeitar a religião e promover em seu lugar a razão e o materialismo. Bakunin rejeita qualquer forma de autoridade transcendente que possa colocar a vida humana e a liberdade sob o domínio de princípios abstratos e inatingíveis.

Segundo o pensamento de Bakunin, a filosofia deve ser materialista e colocar a vida humana e a sociedade no centro, dando destaque à razão e à experiência no direcionamento da ação. Bakunin defende a liberdade individual, a abolição do Estado, se mostra contrário a todas as formas de governo e a favor de uma federação independente, é contrário a religião e defende uma organização social que seja baseada na igualdade e na solidariedade.

 

PRINCIPAIS OBRAS

1- A reação na Alemanha (“Die Reaktion in Deutschland”), 1842.

Artigo em que Bakunin discute a situação política na Alemanha e critica a reação conservadora contra os movimentos revolucionários. Ele aborda a necessidade de uma revolução social que possa superar as limitações do liberalismo burguês.

2- Apelo aos eslavos (“Appeal to the Slavs” ou “Призыв к славянам”), 1848.

Trata-se de um manifesto no qual convoca os povos eslavos a se unirem em uma luta comum contra o absolutismo e a opressão nacional. Defende a solidariedade entre os diferentes povos eslavos como um meio de alcançar a libertação e a autonomia.

3- Federalismo, socialismo e antiteologismo (“Federalism, Socialism, Anti-Theologism” ou “Fédéralisme, socialisme, antithéologisme”), 1867-1868.

Ensaios onde temos a visão de Bakunin sobre a organização política e social, o papel do socialismo e sua crítica à religião. Ele defende a organização federalista como uma alternativa ao Estado centralizado.

4- Cartas a um francês sobre a crise atual (“Letters to a Frenchman on the Present Crisis” ou “Lettres à un Français sur la crise actuelle”), 1870.

Cartas nas quais são discutidos os eventos da Guerra Franco-Prussiana e a subsequente revolta de Paris. Bakunin fala sobre suas esperanças e críticas no tocante à situação política e os possíveis rumos da revolução.

5- Deus e o Estado (“Dieu et l'État”), 1871.

Obra inacabada na qual Bakunin critica a religião e o Estado, argumentando que ambos são instrumentos de opressão. Defende a abolição de todas as autoridades centralizadas em favor de uma sociedade baseada na liberdade e na igualdade.

6- A comuna de Paris e a noção de Estado (“The Paris Commune and the Idea of the State” ou “La Commune de Paris et la notion de l'État”), 1871.

Análise da Comuna de Paris enquanto exemplo prático de sua visão anarquista. Bakunin elogia a tentativa dos integrantes da comuna de abolir o Estado, e estabelece esta comuna como sendo um modelo para futuras revoluções anarquistas.

7- Estatismo e anarquia (“Státizm i Anarkhíya” ou “Государственность и анархия”), 1873.

Crítica do socialismo autoritário, em particular a obra se refere ao marxismo, e uma defesa apaixonada do anarquismo. Argumenta contra a centralização do poder e a favor de uma organização social baseada na autonomia e na federação de comunas livres.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

terça-feira, 9 de julho de 2024

Che Guevara

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Che Guevara

 

“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”

(É preciso ser duro, mas sem perder a ternura, jamais).

Che Guevara. Diario del Che en Bolivia.

 

Ernesto Guevara de la Serna ou Che Guevara (1928-1967), nasce em Rosário, Argentina, e falece aos 39 anos de idade, na aldeia de La Higuera, Santa Cruz, Bolívia. Seus pais eram argentinos classe média, sendo Che Guevara o primeiro dos cinco filhos do casal.

Foi casado com Hilda Gadea (1955–1959) e Aleida March (1959–1967) e teve um total de cinco filhos. Atuou como médico (formou-se em junho de 1953), fotógrafo, jornalista, escritor, político e guerrilheiro. Exerceu o cargo de ministro da indústria e também de presidente do banco central, de Cuba. Tendo conhecido Raúl e Fidel na cidade do México, seguiram os três para Cuba onde implantaram uma exitosa guerrilha que conseguiu tomar o poder, derrubando o regime do presidente Fulgencio Batista. Após exercer vários cargos no governo de Cuba, deixou a ilha em 1965, seguindo primeiramente para o Congo e depois para a Bolívia, com a ideia de internacionalizar a revolução socialista, mas na Bolívia foi preso e executado.


 

Famosa é a sua viagem pela América Latina, passando por vários países e regiões do interior. Fez primeiro uma viagem pelo interior da Argentina de bicicleta (1950), na qual instalou um motor. Depois fez com um amigo, Alberto Granado, utilizando-se de uma moto (1952), passando por vários países latino-americanos, viagem esta que acabou gerando um livro e também filme, e posteriormente fez também a viagem de barco (1953).

Desde cedo e ainda na Argentina, assumiu uma atitude anti-imperialista, que via personificada nos EUA. Passou a defender a luta armada para implantar o socialismo, após sua experiência na Guatemala com a derrubada do presidente Jacobo Árbenz, em 1954, com um golpe patrocinado pela CIA e EUA.

Em novembro de 1956 partiu, conjuntamente com outros revolucionários, do México para Cuba. Em janeiro de 1959 a revolução havia saído vitoriosa em Cuba e primeiramente Che Guevara (2 de janeiro) e depois Fidel Castro (8 de janeiro) entraram triunfalmente na cidade de Havana, Cuba. Em primeiro de janeiro o presidente Fulgencio Batista havia fugido em um avião para a República Dominicana.

Após a vitória e no decorrer do ano de 1959, os apoiadores do governo anterior foram julgados em “tribunais revolucionários”, sendo aplicada a “justiça revolucionária”, que levou a execuções sumárias, segundo comentadores e estudiosos do período. As multidões por vezes gritavam exigindo as execuções: "¡al paredón!" (para o muro!).

Por nomeação de Fidel Castro, Che Guevara ficou a frente da prisão “La Cabaña” por cinco meses, de 2 de janeiro até 12 de junho de 1959, tendo nesta época participado da execução de 55 a 105 pessoas supostamente envolvidas com crimes cometidos pelo governo anterior.

Esteve ativamente presente na crise dos mísseis cubanos, em outubro de 1962, tendo sido o responsável direto pelas negociações com a URSS para trazer os mísseis para Cuba e, após o incidente que quase levou a uma terceira guerra mundial, afirmou em entrevista a um jornal que se os mísseis estivessem sob seu controle, ele os teria disparado, pois, destruir o imperialismo capitalista americano em prol do socialismo valeria a pena o número de mortes provocado por uma guerra nuclear.

Tendo saído de Cuba em 1965, Che Guevara tentou implantar a luta armada por meio de guerrilha primeiramente no Congo e depois no interior da Bolívia. Chegou a Bolívia no final do ano de 1966, tendo passado primeiro pelo Brasil, estando disfarçado. Mas não teve o apoio do partido comunista da Bolívia e muito menos dos trabalhadores rurais, que inclusive o denunciavam para as autoridades bolivianas. Foi perseguido e combatido pelo exército da Bolívia, com apoio enviado pelos EUA, sendo capturado na região de Vallegrande, em 8 de outubro de 1967 e executado pouco depois, no dia 9, a mando do governo boliviano. As instruções para a execução incluíam que esta se desse de modo a parecer ter Che tombado em combate. Houve uma proibição do governo para que não se atirasse no rosto ou cabeça, numa tentativa de encobrir a execução. O corpo foi exposto publicamente e depois enterrado em lugar secreto, só sendo descoberto em 1997, sendo posteriormente, em 17 de outubro deste ano, seus restos mortais enterrados com honras oficiais em um mausoléu especialmente construído para ele na cidade de Santa Clara, Cuba, lugar no qual ele havia comandado uma batalha considerada decisiva durante a Revolução em Cuba. A descoberta dos restos mortais de Che Guevara, por uma equipe internacional (Bolívia, Cuba e Argentina), foi possível após informações fornecidas por um general da reserva do exército boliviano, um dos oficiais que participaram da captura e execução, Mario Vargas Salinas. Che Guevara havia sido enterrado em uma vala comum, conjuntamente com outros cinco guerrilheiros.

Che Guevara se posicionou contra o imperialismo dos EUA e contra o capitalismo, defendendo a solução da luta armada para a implantação do socialismo, por meio da participação de operários e camponeses em lutas de guerrilha. Defendia a internacionalização da revolução socialista, como forma de erradicar a pobreza, a miséria e a fome. Após optar pela luta a frente da guerrilha, foi responsável pela morte (execuções sumárias) de grande quantidade de pessoas (sem que saibamos o número exato) supostamente contrárias a revolução.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Mao Tsé-Tung ou Mao Zedong

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Mao Tsé-Tung

 

Mao Tsé-Tung ou Mao Zedong (1893-1976), se autointitulava “o grande timoneiro”, nasceu na aldeia de Shaoshan, Hunan, China e faleceu aos 82 anos de idade, em Pequim. Filho de camponeses, seu pai era um agricultor pobre que conseguiu se tornar um dos mais ricos agricultores de sua região. Sua mãe era budista e, quando jovem Mao compartilhou da crença de sua mãe, vindo, posteriormente, a abandonar o budismo. No total seus pais tiveram sete ou oito filhos, mas a maioria não sobreviveu até a idade adulta, sendo Mao o quarto filho do casal. Sobreviveram apenas Mao Tsé-Tung e seus dois irmãos mais novos, Mao Zemin e Mao Zetan.

Seu primeiro casamento (1907-1910 – alguns comentadores entendem que o ano do casamento foi 1908) ocorreu com Luo Yixiu, que na época tinha 17 anos, enquanto Mao contava com 13 anos. Foi um casamento arrumado, dentro das tradições locais, por seu pai. Mao não reconheceu este casamento. Seu segundo casamento (1920–1930) se deu com Yang Kaihui, seu terceiro casamento (1930–1937) com He Zizhen, seu quarto casamento (1939–1976) com Jiang Qing, conhecida como “Madame Mao” ou “primeira dama”. Com todas estas esposas teve um total de dez filhos.


 

No ano de 1912 ocorreu a derrubada da monarquia na China, com a revolução Xinhai, que começou em 10 de outubro de 1911 com o levante de Wuchang. A última dinastia imperial na China foi a dinastia Qing (ou Manchu) e o último imperador foi Puyi, forçado a abdicar em 12 de fevereiro de 1912, quando foi estabelecida a República da China. Por volta deste acontecimento, em 1911, Mao contava com seus 16 anos de idade e havia se mudado para Changsha para dar prosseguimento aos seus estudos no que seria o ensino médio. O imperador Puyi sucedeu o seu tio, o imperador Guangxu (que não teve filhos), em virtude da obediência à linha sucessória que exigia que fosse alguém do mesmo sangue em linhagem direta, excluindo, portanto, o pai de Puyi e irmão de Guangxu da linha sucessória. Puyi tinha apenas 2 anos de idade quando foi coroado imperador da China, em 1908, e viveu até 1967.

Mao atuou como político, teórico marxista-leninista e líder revolucionário na China, sendo responsável pela formação da República Popular da China. Seus projetos políticos e econômicos resultaram em fome e milhões de mortes na China. Também lhe deve ser imputado as mortes motivadas primeiramente pela guerra civil e depois de assumir o poder na China, pelas perseguições disfarçadas de campanhas / programas. As estimativas de mortes pelas quais Mao foi responsável direta ou indiretamente desde que assumiu o governo da China, variam de acordo com os comentadores do período, entre, as mais baixas, 15 milhões, e as mais altas, 80 milhões de indivíduos chineses.

Mao se aproximou das doutrinas comunistas a partir do ano de 1911, vindo a aderir ao movimento comunista a partir de 1917, durante sua estada em Pequim (1917-1919). Desde pelo menos a década de 1920 esteve envolvido em atividades políticas revolucionárias e no decorrer de sua vida elaborou e desenvolveu estratégias de guerrilhas para serem usadas pelos combatentes. No Brasil, da década de 1970, o PC do B, na época na clandestinidade, adotou o maoísmo, bem como, as estratégias desenvolvidas por Mao.

Em 1921, Mao participou da fundação do Partido Comunista Chinês (PCC). Em 1927 eclodiu a guerra civil chinesa, entre o Kuomintang (Nacionalistas) e o PCC (Partido Comunista Chinês). Antes desta data estes dois partidos tinham uma aliança para combater os senhores feudais no interior da China. Mesmo durante a segunda guerra mundial, enfrentando as forças do Japão, estes dois partidos continuaram com suas disputas e confrontos.

Em 1929 Mao fundou o Soviete de Jiangx, que se manteve no governo de alguns territórios até 1934, quando os comunistas tiveram de empreender a fuga das tropas nacionalistas do Kuomintang, começando a assim chamada “Grande Marcha” (1934-1935). De 80 a 100 mil pessoas compuseram esta marcha de 10 mil quilômetros, mas cerca de 90% morreram antes do final da mesma, vitimados pelas batalhas na guerra, pela exaustão, pela fome e pelas doenças. Em outras palavras, o nome “Grande Marcha”, dado por Mao, encobre a fuga de cerca de 100 mil, donde somente cerca de 10 mil sobreviveram até o final. Fuga dos comunistas do exército dos nacionalistas.

Em 1937, às portas da segunda guerra mundial, eclodiu a segunda guerra sino-japonesa, com a invasão da China pelo Japão, o que levou os nacionalistas do Kuomintang e os comunistas a lutarem contra o inimigo comum representado pelo Japão, sem, no entanto, de continuarem a lutarem entre si. Esta guerra vai até o ano de 1945, quando o Japão é derrotado e se rende aos EUA e seus aliados. Com o final da guerra e após uma tentativa fracassada de tentarem um acordo para um governo conjunto, nacionalistas e comunistas se enfrentam em uma guerra civil que vai de 1946 até 1949, quando os comunistas apoiados pela URSS derrotam os nacionalistas apoiados pelos EUA, fazendo com que estes últimos se refugiassem na ilha de Taiwan.

Durante sua vida, Mao exerceu papel político e revolucionário. Atuou como líder na revolução chinesa, vindo a governar a República Popular da China desde seu início, em 1949 (primeiro de outubro), até 1959, quando abandonou a presidência e foi afastado temporariamente do poder, mas continuou influente e líder do partido comunista chinês até a sua morte. Sua doutrina ficou conhecida como “maoismo”. Durante seu governo buscou fechar a China para o mercado internacional e erradicar as tradições culturais chinesas.

Efetivou grandes programas políticos na China por ele governada. O “grande salto para a frente” ou “grande salto adiante” (1957/1958-1960) e a “revolução cultural” (1966-1976), por exemplo. Defendia uma revolução comunista mundial e atuou neste sentido a favor de grupos revolucionários em outros países (Birmânia ou Myanmar, Camboja, Coreia) e esteve como aliado da URSS no tempo de Stalin. Seu governo foi responsável por milhões de mortes (fome, expurgos e assassinatos) que alguns comentadores estimam em mais de 80 milhões.

Dentre as grandes perseguições aos opositores, com expurgos e assassinatos, cabe destacar as que ficaram conhecidas como: “campanha três anti”, “campanha cinco anti” e “campanha anti-direitista”. Também cabe citar as perseguições ocorridas durante a “revolução cultural”. Nestas campanhas eram perseguidos, dentre outros, antigos apoiadores do Kuomintang, senhores feudais, capitalistas, artistas e intelectuais. Alguns comentadores do período afirmam que haviam cotas a serem cumpridas no tocante ao número de mortes a serem executadas.

Na “campanha três anti”, de 1951, foram combatidos: 1- corrupção, 2- desperdício, 3- burocracia. Já na “campanha cinco anti”, de 1952, foram combatidos: 1- suborno, 2- evasão fiscal, 3- fraudes nas transações econômicas, 4- desvio de recursos estatais, 5- roubo de informações econômicas. Estas campanhas atuaram contra a corrupção e o desperdício, sendo promovidas pelo governo visando consolidar o poder do partido e de Mao, modernizar a economia, eliminar práticas consideradas prejudiciais ao desenvolvimento socialista e expurgar pessoas que poderiam ser vistas como possíveis opositoras do governo e de Mao.

Em 1956 o PCC lançou uma campanha visando incentivar a crítica construtiva e o debate intelectual dentro da sociedade, proporcionando uma maior liberdade de expressão, foi algo temporário, no entanto. Esta campanha se chamou "Cem flores desabrochando e cem escolas de pensamento concorrendo". Aqueles que fizeram uso das novas liberdades e expressaram suas opiniões, acabaram vítimas de perseguição em 1957, quando da campanha “anti-direitista”, que marcou o retorno a um período de repressão política, prisões, perdas de emprego e perseguições.

Uma campanha associada a campanha do “grande salto para a frente” (ou “grande salto adiante”), 1957/1958-1960, e a grande fome na China, 1958, é a “campanha das quatro pragas” (ou das “quatro pestes”), que era direcionada para a erradicação de pássaros, ratos, moscas e mosquitos da China, visando deste modo ampliar a disponibilidade de grãos no campo. A campanha enfocou particularmente os pássaros (pardais) para que estes não comessem os grãos. Os pardais foram considerados inimigos do povo, por comerem grãos que poderiam ser destinados à alimentação do povo chinês. Os pássaros foram exterminados em massa. O povo durante a noite saía batendo em panelas e outras coisas que fizessem barulho, evitando o pouso e descanso dos pássaros e fazendo com que os mesmos morressem por exaustão. O povo foi incentivado a caçar e matar os pássaros e os métodos usados para tal intento foram por vezes por demais brutais e cruéis.

Com a matança em massa dos pássaros, ocorreram consequências previsíveis. Tendo o ecossistema sido profundamente abalado, a China se viu diante de um desastre ecológico que só serviu para aumentar a fome já a partir do ano seguinte, deste modo, se considerarmos o início desta campanha (“campanha das quatro pragas” ou “das quatro pestes”) em 1957, a partir de 1958 passamos a ter os tenebrosos resultados desta política. Sem os pássaros para comer as pragas, controlando-as, houve um enorme aumento dos insetos (gafanhotos, lagartas, etc.) que devastaram as plantações. Calcula-se que a fome daí resultante matou dezenas de milhões de pessoas. Nas comunidades rurais tivemos relatos de canibalismo gerado pelo desespero.

A “Campanha das quatro pestes” foi uma política que se mostrou desastrosa. Pautada em centralização política e ideológica, sem levar em consideração conhecimentos científicos e ignorando toda a complexidade do ecossistema e da indústria da agricultura.

A campanha política intitulada “grande salto adiante” visava transformar de modo rápido o país, levando o mesmo de uma economia agrária para uma potência industrial, ocorre que tal política foi desastrosa em termos humanitários e ambientais. Durante esta campanha foram introduzidas no campo e na agricultura comunas populares autossuficientes, coletivização da agricultura e produção local em pequena escala de aço e outros metais em “fornalhas de fundo de quintal”, material este de baixa qualidade.

Após a campanha “anti-direitista” (1957) e do “Grande salto para frente” (1957/1958-1960, Mao se viu enfraquecido no poder na China, sendo afastado em 1959 da presidência. Visando retomar o poder e tendo a frente a “gangue ou bando dos quatro”, foi arquitetada a “Revolução Cultural”, na qual Mao incentivou basicamente jovens para que estes destruíssem tudo que fosse referente ao passado e as tradições da China e onde também foram perseguidos e intimidados professores, pesquisadores, intelectuais e cientistas que poderiam ter ideias próprias. Foi um total retrocesso e isolamento da China do restante do mundo e de suas próprias tradições milenares. A campanha durou de 1966 a 1976, quando Mao faleceu e os líderes do PCC puderam retomar o poder e acabar com esta loucura.

A “gangue dos quatro” foi formada por Jiang Qing (esposa de Mao), Zhang Chunqiao (político e teórico), Yao Wenyuan (crítico literário) e Wang Hongwen (operário que em pouco tempo subiu nas fileiras do partido e chegou a ocupar lugar de liderança dentro do PCC).

Em 1976, com 82 anos de idade e após três ataques cardíacos, Mao Tsé-Tung falece em 9 de setembro, na cidade de Pequim. Após seu falecimento e estando o PCC diante dos resultados catastróficos das perseguições ocorridas no transcorrer da “Revolução Cultural”, buscou-se isentar da culpa, colocando-a na “gangue dos quatro”, liderada por Jiang Qing, conhecida como “Madame Mao” ou “primeira dama”, que foi julgada e condenada a morte, mas cuja sentença foi comutada em prisão perpétua e acabou seus dias cometendo suicídio em maio de 1991, por enforcamento (algo suspeito e que deixa margem a questionamentos).

Dentre suas teses, defendia que a revolução se daria com proletários e camponeses lutando juntos, que a revolução ocorreria por meio de uma revolta armada, a necessidade de uma reforma agrária com a distribuição das terras, perseguição e morte aos opositores da revolução (os contra-revolucionários) e do regime. Buscou o isolamento da China não somente com o restante do mundo, mas também um afastamento com as tradições milenares deste país, por meio da “Revolução Cultural”.

O “maoísmo” é uma doutrina formada a partir das principais ideias de Mao, as quais são uma adaptação do marxismo-leninismo às condições por ele encontradas na China de sua época. O maoísmo se mostra como mais uma forma adaptada do comunismo, que tende a enfatizar a importância da experiência prática sobre a teoria, dando maior ênfase à revolução agrária e a mobilização das massas rurais.

Enquanto o marxismo-leninismo tem seu foco na classe operária industrial como sendo a força motriz da revolução comunista, o maoísmo, por sua vez, fornece um destaque ao importante papel exercido pelo campesinato. Em verdade, na China de Mao, os camponeses eram a enorme maioria da população e Mao acreditava serem eles a principal força revolucionária.

Mao também defendia a guerra prolongada. Segundo seu pensamento, para termos uma revolução bem sucedida dentro das condições geográficas e sociais presentes na China, esta deve priorizar as bases rurais e, a partir destas se espalhar de modo gradual, cercando e capturando as cidades, o que contraria a abordagem mais urbana presente no marxismo-leninismo.

Segundo o pensamento desenvolvido por Mao, a força motriz da história e do progresso social se dá a partir das contradições presentes dentro da sociedade e entre as nações. Mesmo após termos uma sociedade socialista, a luta de classe continuaria a existir, pois, novas contradições passariam a existir, o que levaria a necessidade de se efetuar campanhas políticas continuamente, fornecendo os reajustes necessários, como exemplo, podemos citar a “revolução cultural”.

Dentro do maoísmo temos uma grande ênfase na reforma ideológica e na educação política enquanto ferramentas importantes para transformar a sociedade e manter presente o espírito revolucionário. Entendia ser necessário um contínuo esforço visando manter a pureza ideológica e deste modo evitar a restauração do capitalismo.

Mao teceu críticas a URSS, entendendo que sua abordagem era dogmática. Segundo Mao, a China deveria ser autossuficiente, seguir seu próprio caminho independente da URSS, adaptando a teoria marxista-leninista para suas próprias condições. Esta abordagem ficou conhecida como sendo a “sinização do marxismo”.

A revolução, segundo o pensamento de Mao, traz junto a transformação cultural, tendo como objetivo erradicar as antigas crenças e normas sociais e culturais, práticas e ideias tradicionais, o que ficou claro com a “revolução cultural”.

Se compararmos o maoísmo com o marxismo-leninismo, temos, em resumo, que o marxismo-leninismo tem seu maior enfoque no processo de industrialização, no desenvolvimento das forças produtivas, na liderança da classe operária. Já o maoísmo propõe uma adaptação considerável desta abordagem teórica, visando enfocar o potencial revolucionário do campesinato e da necessidade da presença constante de uma revolução abrangente que possa incluir aspectos culturais e ideológicos.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)