Por: Silvério da Costa Oliveira.
Mao Tsé-Tung
Mao Tsé-Tung ou Mao Zedong (1893-1976), se autointitulava “o grande timoneiro”, nasceu na aldeia de Shaoshan, Hunan, China e faleceu aos 82 anos de idade, em Pequim. Filho de camponeses, seu pai era um agricultor pobre que conseguiu se tornar um dos mais ricos agricultores de sua região. Sua mãe era budista e, quando jovem Mao compartilhou da crença de sua mãe, vindo, posteriormente, a abandonar o budismo. No total seus pais tiveram sete ou oito filhos, mas a maioria não sobreviveu até a idade adulta, sendo Mao o quarto filho do casal. Sobreviveram apenas Mao Tsé-Tung e seus dois irmãos mais novos, Mao Zemin e Mao Zetan.
Seu primeiro casamento (1907-1910 – alguns comentadores entendem que o ano do casamento foi 1908) ocorreu com Luo Yixiu, que na época tinha 17 anos, enquanto Mao contava com 13 anos. Foi um casamento arrumado, dentro das tradições locais, por seu pai. Mao não reconheceu este casamento. Seu segundo casamento (1920–1930) se deu com Yang Kaihui, seu terceiro casamento (1930–1937) com He Zizhen, seu quarto casamento (1939–1976) com Jiang Qing, conhecida como “Madame Mao” ou “primeira dama”. Com todas estas esposas teve um total de dez filhos.
No ano de 1912 ocorreu a derrubada da monarquia na China, com a revolução Xinhai, que começou em 10 de outubro de 1911 com o levante de Wuchang. A última dinastia imperial na China foi a dinastia Qing (ou Manchu) e o último imperador foi Puyi, forçado a abdicar em 12 de fevereiro de 1912, quando foi estabelecida a República da China. Por volta deste acontecimento, em 1911, Mao contava com seus 16 anos de idade e havia se mudado para Changsha para dar prosseguimento aos seus estudos no que seria o ensino médio. O imperador Puyi sucedeu o seu tio, o imperador Guangxu (que não teve filhos), em virtude da obediência à linha sucessória que exigia que fosse alguém do mesmo sangue em linhagem direta, excluindo, portanto, o pai de Puyi e irmão de Guangxu da linha sucessória. Puyi tinha apenas 2 anos de idade quando foi coroado imperador da China, em 1908, e viveu até 1967.
Mao atuou como político, teórico marxista-leninista e líder revolucionário na China, sendo responsável pela formação da República Popular da China. Seus projetos políticos e econômicos resultaram em fome e milhões de mortes na China. Também lhe deve ser imputado as mortes motivadas primeiramente pela guerra civil e depois de assumir o poder na China, pelas perseguições disfarçadas de campanhas / programas. As estimativas de mortes pelas quais Mao foi responsável direta ou indiretamente desde que assumiu o governo da China, variam de acordo com os comentadores do período, entre, as mais baixas, 15 milhões, e as mais altas, 80 milhões de indivíduos chineses.
Mao se aproximou das doutrinas comunistas a partir do ano de 1911, vindo a aderir ao movimento comunista a partir de 1917, durante sua estada em Pequim (1917-1919). Desde pelo menos a década de 1920 esteve envolvido em atividades políticas revolucionárias e no decorrer de sua vida elaborou e desenvolveu estratégias de guerrilhas para serem usadas pelos combatentes. No Brasil, da década de 1970, o PC do B, na época na clandestinidade, adotou o maoísmo, bem como, as estratégias desenvolvidas por Mao.
Em 1921, Mao participou da fundação do Partido Comunista Chinês (PCC). Em 1927 eclodiu a guerra civil chinesa, entre o Kuomintang (Nacionalistas) e o PCC (Partido Comunista Chinês). Antes desta data estes dois partidos tinham uma aliança para combater os senhores feudais no interior da China. Mesmo durante a segunda guerra mundial, enfrentando as forças do Japão, estes dois partidos continuaram com suas disputas e confrontos.
Em 1929 Mao fundou o Soviete de Jiangx, que se manteve no governo de alguns territórios até 1934, quando os comunistas tiveram de empreender a fuga das tropas nacionalistas do Kuomintang, começando a assim chamada “Grande Marcha” (1934-1935). De 80 a 100 mil pessoas compuseram esta marcha de 10 mil quilômetros, mas cerca de 90% morreram antes do final da mesma, vitimados pelas batalhas na guerra, pela exaustão, pela fome e pelas doenças. Em outras palavras, o nome “Grande Marcha”, dado por Mao, encobre a fuga de cerca de 100 mil, donde somente cerca de 10 mil sobreviveram até o final. Fuga dos comunistas do exército dos nacionalistas.
Em 1937, às portas da segunda guerra mundial, eclodiu a segunda guerra sino-japonesa, com a invasão da China pelo Japão, o que levou os nacionalistas do Kuomintang e os comunistas a lutarem contra o inimigo comum representado pelo Japão, sem, no entanto, de continuarem a lutarem entre si. Esta guerra vai até o ano de 1945, quando o Japão é derrotado e se rende aos EUA e seus aliados. Com o final da guerra e após uma tentativa fracassada de tentarem um acordo para um governo conjunto, nacionalistas e comunistas se enfrentam em uma guerra civil que vai de 1946 até 1949, quando os comunistas apoiados pela URSS derrotam os nacionalistas apoiados pelos EUA, fazendo com que estes últimos se refugiassem na ilha de Taiwan.
Durante sua vida, Mao exerceu papel político e revolucionário. Atuou como líder na revolução chinesa, vindo a governar a República Popular da China desde seu início, em 1949 (primeiro de outubro), até 1959, quando abandonou a presidência e foi afastado temporariamente do poder, mas continuou influente e líder do partido comunista chinês até a sua morte. Sua doutrina ficou conhecida como “maoismo”. Durante seu governo buscou fechar a China para o mercado internacional e erradicar as tradições culturais chinesas.
Efetivou grandes programas políticos na China por ele governada. O “grande salto para a frente” ou “grande salto adiante” (1957/1958-1960) e a “revolução cultural” (1966-1976), por exemplo. Defendia uma revolução comunista mundial e atuou neste sentido a favor de grupos revolucionários em outros países (Birmânia ou Myanmar, Camboja, Coreia) e esteve como aliado da URSS no tempo de Stalin. Seu governo foi responsável por milhões de mortes (fome, expurgos e assassinatos) que alguns comentadores estimam em mais de 80 milhões.
Dentre as grandes perseguições aos opositores, com expurgos e assassinatos, cabe destacar as que ficaram conhecidas como: “campanha três anti”, “campanha cinco anti” e “campanha anti-direitista”. Também cabe citar as perseguições ocorridas durante a “revolução cultural”. Nestas campanhas eram perseguidos, dentre outros, antigos apoiadores do Kuomintang, senhores feudais, capitalistas, artistas e intelectuais. Alguns comentadores do período afirmam que haviam cotas a serem cumpridas no tocante ao número de mortes a serem executadas.
Na “campanha três anti”, de 1951, foram combatidos: 1- corrupção, 2- desperdício, 3- burocracia. Já na “campanha cinco anti”, de 1952, foram combatidos: 1- suborno, 2- evasão fiscal, 3- fraudes nas transações econômicas, 4- desvio de recursos estatais, 5- roubo de informações econômicas. Estas campanhas atuaram contra a corrupção e o desperdício, sendo promovidas pelo governo visando consolidar o poder do partido e de Mao, modernizar a economia, eliminar práticas consideradas prejudiciais ao desenvolvimento socialista e expurgar pessoas que poderiam ser vistas como possíveis opositoras do governo e de Mao.
Em 1956 o PCC lançou uma campanha visando incentivar a crítica construtiva e o debate intelectual dentro da sociedade, proporcionando uma maior liberdade de expressão, foi algo temporário, no entanto. Esta campanha se chamou "Cem flores desabrochando e cem escolas de pensamento concorrendo". Aqueles que fizeram uso das novas liberdades e expressaram suas opiniões, acabaram vítimas de perseguição em 1957, quando da campanha “anti-direitista”, que marcou o retorno a um período de repressão política, prisões, perdas de emprego e perseguições.
Uma campanha associada a campanha do “grande salto para a frente” (ou “grande salto adiante”), 1957/1958-1960, e a grande fome na China, 1958, é a “campanha das quatro pragas” (ou das “quatro pestes”), que era direcionada para a erradicação de pássaros, ratos, moscas e mosquitos da China, visando deste modo ampliar a disponibilidade de grãos no campo. A campanha enfocou particularmente os pássaros (pardais) para que estes não comessem os grãos. Os pardais foram considerados inimigos do povo, por comerem grãos que poderiam ser destinados à alimentação do povo chinês. Os pássaros foram exterminados em massa. O povo durante a noite saía batendo em panelas e outras coisas que fizessem barulho, evitando o pouso e descanso dos pássaros e fazendo com que os mesmos morressem por exaustão. O povo foi incentivado a caçar e matar os pássaros e os métodos usados para tal intento foram por vezes por demais brutais e cruéis.
Com a matança em massa dos pássaros, ocorreram consequências previsíveis. Tendo o ecossistema sido profundamente abalado, a China se viu diante de um desastre ecológico que só serviu para aumentar a fome já a partir do ano seguinte, deste modo, se considerarmos o início desta campanha (“campanha das quatro pragas” ou “das quatro pestes”) em 1957, a partir de 1958 passamos a ter os tenebrosos resultados desta política. Sem os pássaros para comer as pragas, controlando-as, houve um enorme aumento dos insetos (gafanhotos, lagartas, etc.) que devastaram as plantações. Calcula-se que a fome daí resultante matou dezenas de milhões de pessoas. Nas comunidades rurais tivemos relatos de canibalismo gerado pelo desespero.
A “Campanha das quatro pestes” foi uma política que se mostrou desastrosa. Pautada em centralização política e ideológica, sem levar em consideração conhecimentos científicos e ignorando toda a complexidade do ecossistema e da indústria da agricultura.
A campanha política intitulada “grande salto adiante” visava transformar de modo rápido o país, levando o mesmo de uma economia agrária para uma potência industrial, ocorre que tal política foi desastrosa em termos humanitários e ambientais. Durante esta campanha foram introduzidas no campo e na agricultura comunas populares autossuficientes, coletivização da agricultura e produção local em pequena escala de aço e outros metais em “fornalhas de fundo de quintal”, material este de baixa qualidade.
Após a campanha “anti-direitista” (1957) e do “Grande salto para frente” (1957/1958-1960, Mao se viu enfraquecido no poder na China, sendo afastado em 1959 da presidência. Visando retomar o poder e tendo a frente a “gangue ou bando dos quatro”, foi arquitetada a “Revolução Cultural”, na qual Mao incentivou basicamente jovens para que estes destruíssem tudo que fosse referente ao passado e as tradições da China e onde também foram perseguidos e intimidados professores, pesquisadores, intelectuais e cientistas que poderiam ter ideias próprias. Foi um total retrocesso e isolamento da China do restante do mundo e de suas próprias tradições milenares. A campanha durou de 1966 a 1976, quando Mao faleceu e os líderes do PCC puderam retomar o poder e acabar com esta loucura.
A “gangue dos quatro” foi formada por Jiang Qing (esposa de Mao), Zhang Chunqiao (político e teórico), Yao Wenyuan (crítico literário) e Wang Hongwen (operário que em pouco tempo subiu nas fileiras do partido e chegou a ocupar lugar de liderança dentro do PCC).
Em 1976, com 82 anos de idade e após três ataques cardíacos, Mao Tsé-Tung falece em 9 de setembro, na cidade de Pequim. Após seu falecimento e estando o PCC diante dos resultados catastróficos das perseguições ocorridas no transcorrer da “Revolução Cultural”, buscou-se isentar da culpa, colocando-a na “gangue dos quatro”, liderada por Jiang Qing, conhecida como “Madame Mao” ou “primeira dama”, que foi julgada e condenada a morte, mas cuja sentença foi comutada em prisão perpétua e acabou seus dias cometendo suicídio em maio de 1991, por enforcamento (algo suspeito e que deixa margem a questionamentos).
Dentre suas teses, defendia que a revolução se daria com proletários e camponeses lutando juntos, que a revolução ocorreria por meio de uma revolta armada, a necessidade de uma reforma agrária com a distribuição das terras, perseguição e morte aos opositores da revolução (os contra-revolucionários) e do regime. Buscou o isolamento da China não somente com o restante do mundo, mas também um afastamento com as tradições milenares deste país, por meio da “Revolução Cultural”.
O “maoísmo” é uma doutrina formada a partir das principais ideias de Mao, as quais são uma adaptação do marxismo-leninismo às condições por ele encontradas na China de sua época. O maoísmo se mostra como mais uma forma adaptada do comunismo, que tende a enfatizar a importância da experiência prática sobre a teoria, dando maior ênfase à revolução agrária e a mobilização das massas rurais.
Enquanto o marxismo-leninismo tem seu foco na classe operária industrial como sendo a força motriz da revolução comunista, o maoísmo, por sua vez, fornece um destaque ao importante papel exercido pelo campesinato. Em verdade, na China de Mao, os camponeses eram a enorme maioria da população e Mao acreditava serem eles a principal força revolucionária.
Mao também defendia a guerra prolongada. Segundo seu pensamento, para termos uma revolução bem sucedida dentro das condições geográficas e sociais presentes na China, esta deve priorizar as bases rurais e, a partir destas se espalhar de modo gradual, cercando e capturando as cidades, o que contraria a abordagem mais urbana presente no marxismo-leninismo.
Segundo o pensamento desenvolvido por Mao, a força motriz da história e do progresso social se dá a partir das contradições presentes dentro da sociedade e entre as nações. Mesmo após termos uma sociedade socialista, a luta de classe continuaria a existir, pois, novas contradições passariam a existir, o que levaria a necessidade de se efetuar campanhas políticas continuamente, fornecendo os reajustes necessários, como exemplo, podemos citar a “revolução cultural”.
Dentro do maoísmo temos uma grande ênfase na reforma ideológica e na educação política enquanto ferramentas importantes para transformar a sociedade e manter presente o espírito revolucionário. Entendia ser necessário um contínuo esforço visando manter a pureza ideológica e deste modo evitar a restauração do capitalismo.
Mao teceu críticas a URSS, entendendo que sua abordagem era dogmática. Segundo Mao, a China deveria ser autossuficiente, seguir seu próprio caminho independente da URSS, adaptando a teoria marxista-leninista para suas próprias condições. Esta abordagem ficou conhecida como sendo a “sinização do marxismo”.
A revolução, segundo o pensamento de Mao, traz junto a transformação cultural, tendo como objetivo erradicar as antigas crenças e normas sociais e culturais, práticas e ideias tradicionais, o que ficou claro com a “revolução cultural”.
Se compararmos o maoísmo com o marxismo-leninismo, temos, em resumo, que o marxismo-leninismo tem seu maior enfoque no processo de industrialização, no desenvolvimento das forças produtivas, na liderança da classe operária. Já o maoísmo propõe uma adaptação considerável desta abordagem teórica, visando enfocar o potencial revolucionário do campesinato e da necessidade da presença constante de uma revolução abrangente que possa incluir aspectos culturais e ideológicos.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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