Por: Silvério da Costa Oliveira.
Engels
Friedrich Engels (1820-1895), nasce em Barmen, Prússia (atual Wuppertal, Alemanha), e falece em Londres, aos 74 anos de idade. É considerado filósofo, sociólogo e jornalista. Engels é o mais velho de nove irmãos. Atuou como empresário na indústria têxtil, também teórico revolucionário comunista. Engels abandona seus estudos aos 17 anos de idade para trabalhar na empresa da família, não chegando, portanto, a sequer concluir o que hoje no Brasil chamaríamos de ensino médio.
Seu pai era um rico industrial do setor têxtil (fábrica de algodão, produzia fios de algodão), em Barmen. Engels passa aos poucos a administrar esta empresa, até o momento em que resolve vender a sua parte. Ao assumir, aos 22 anos de idade, em 1842, a direção de uma fábrica da família localizada na cidade de Manchester, na Inglaterra, ficou horrorizado com a condição dos trabalhadores ingleses, o que o direcionou para pensar sobre como melhorar tais condições de trabalho. Esta experiência, bem como seu envolvimento afetivo sexual com uma operária irlandesa e militante política (Mary Burns), com quem passou a conviver de modo mais próximo, o levou a escrever “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, 1845. No transcorrer de sua vida viajou bastante, morou e visitou diversas cidades em distintos países, tais como, na Prússia (Alemanha), Itália, França, Bélgica, Suíça e Inglaterra.
Engels teve duas mulheres com quem conviveu boa parte de sua vida, mesmo não sendo com elas oficialmente casado (veio a casar-se com a segunda poucas horas antes dela falecer). Primeiro Mary Burns (1821-1863) e depois sua irmã, Lizzy Burns (1827-1878). Engels conheceu Mary quando trabalhava em Manchester, no ano de 1843. Esta era oriunda da classe operária e apesar de viver em Londres, sua origem era irlandesa. Mary também era militante política e tanto ela como Engels eram contrários à prática e instituição do casamento, de modo a viverem juntos como amantes sem oficializar a relação. Coube a Mary ajudar Engels no entendimento das demandas da classe trabalhadora. Quando esta falece, Engels se envolve em um novo relacionamento amoroso sexual, desta vez com a irmã da falecida Mary, Lizzy Burns, também pertencente à classe operária e da mesma forma que sua irmã, compartilhava com Engels de muitos pontos de vista em comum na esfera política e social. Engels viveu com Lizzy até o falecimento desta, sendo que pouco antes de sua morte, Engels e Lizzy se casaram oficialmente. Ambas irmãs foram muito importantes para o desenvolvimento do entendimento de Engels sobre as reais condições da classe trabalhadora, bem como, puderam proporcionar apoio emocional a Engels no transcorrer de sua vida.
Nos primeiros trabalhos publicados por Engels em jornais, preferiu utilizar o pseudônimo de Friedrich Oswald. Conhece Marx em Colônia, 1842, quando este último era editor da Gazeta Renana, em rápido encontro, mas, em setembro de 1844, na cidade de Paris, durante uma estada de Engels de 10 dias na cidade, puderam desenvolver a amizade que duraria até o final da vida de Marx, tendo Engels em muito ajudado financeiramente a Marx e, após a sua morte, traduzido a sua difícil escrita (somente a esposa de Marx e o amigo Engels conseguiam ler o que Marx escrevia), organizado e publicado suas obras, incluindo o segundo e terceiro volumes de “O Capital”. Engels deixou instruções para a publicação do quarto volume da obra, ensinando a arte de traduzir a letra de Marx para um grupo escolhido para tal finalidade, bem como, deixou instruções para a publicação do quarto volume, já que Engels era a época o único que conseguia decifrar e ler a caligrafia de Marx, para deste modo poder ter acesso aos seus manuscritos.
Engels se auto-intitulava o “segundo violino” em alusão a sua parceria com Marx, sendo este o primeiro, no entanto, cabe deixar claro que, o que se convencionou chamar de marxismo possui muito do pensamento e trabalho de Engels. Artigos publicados e assinados por Marx foram na verdade escritos por Engels. Apesar de ambos amigos se influenciarem reciprocamente e terem os mesmos ideais, há alguma diferença entre o pensamento de Marx e o de Engels, no entanto, para o que se convencionou chamar de “marxismo”, há muito de Engels, já que vários marxistas consagrados achavam de mais fácil entendimento os trabalhos escritos por Engels. Posteriormente, quando da época de Lenin, Stalin e outros marxistas, estes preferiam ler os trabalhos de Engels por os acharem mais claros que os de Marx. Engels foi co-autor, conjuntamente com Marx, de várias obras, incluindo o “Manifesto Comunista”, 1848. Foi o responsável pela publicação, após a morte de Marx, do segundo e terceiro volumes de “O capital”.
Além das obras em co-autoria, temos algumas importantes obras solo de Engels, dentre as quais, cito: "Anti-Dühring" (1878), que criticava as ideias de Eugen Dühring e defendia o socialismo científico, e "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado" (1884), que aplicava o materialismo histórico às origens das instituições sociais.
Em sua obra “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, 1845, que Engels escreveu com a ajuda da colaboração de sua primeira esposa, e com sua experiência atuando junto a fábrica do pai, em Manchester, pôde documentar as reais condições dos trabalhadores industriais na Inglaterra da época, dando ênfase na exploração do trabalhador e na injustiça social ali presente, o que pôde fornecer uma base empírica para a elaboração da doutrina comunista de Karl Marx sobre a exploração capitalista do proletariado.
Em sua obra, em co-autoria com Marx, “A ideologia alemã”, 1846, desenvolveu a teoria do materialismo histórico ou dialético, argumentando que a história avança por meio de forças materiais e econômicas e não por meio de pensamento ou espírito, como o propusera Hegel. É na base econômica (também chamada de estrutura ou infraestrutura) que são geradas as crenças, ideologias, religiões, filosofia, política, instituições jurídicas e mesmo, a ciência, formando a “superestrutura” social.
Engels teve um papel vital e significativo na elaboração do “Manifesto comunista”, 1848, em co-autoria com Marx. Neste trabalho é apresentado de modo mais simples, para o melhor entendimento da classe operária que soubesse ler, a teoria sobre a luta de classes, a burguesia e o proletariado, tendo esta última classe um papel revolucionário a representar. Trata-se de um documento fundamental de todo o movimento comunista posterior.
Este também sustentou a família de Marx por alguns anos, enviando dinheiro quando este se encontrava em Londres, também assumiu a paternidade de um filho ilegítimo de Marx, tido com a empregada alemã do casal.
Apesar deste se considerar o “segundo violino”, não é cabível entender a contribuição de Engels como sendo inferior ou menor do que a de Marx para a consolidação do movimento comunista e não podendo, também, a contribuição de Engels ser facilmente separada da contribuição de Marx, já que ambas as obras estão intimamente ligadas e por demais associadas dentro do contexto de sua criação e teorização. O trabalho de Engels não foi, portanto, de modo algum secundário quando comparado ao de Marx. Engels estudou e observou a situação do trabalhador de fábrica em sua época histórica, levantou dados e fez análises, além de produzir diversos textos sobre a questão. Atuou como militante político pró comunismo e participou da organização dos trabalhadores e da divulgação das ideias comunistas por toda a Europa. Teve a oportunidade de participar da formação da “Liga dos justos”, da “Liga comunista”, da “Primeira internacional” e também do “Partido social-democrata Alemão”. Engels, conjuntamente com Marx, se filiaram a “Liga dos justos” e, posteriormente, foram diretamente responsáveis pela mudança de seu nome para “Liga comunista”. Isto, além de outras contribuições significativas ao movimento dos trabalhadores.
Engels, em colaboração com Marx, buscava por uma sociedade sem as divisões de classe, a sociedade comunista, na qual não ocorreria a exploração do trabalhador e haveriam melhores condições de trabalho para todos. O livro “A sagrada família” (que inicialmente chamar-se-ia somente “Crítica da crítica da crítica”), 1844 / 1845, foi a primeira obra em colaboração de Engels e Marx, trabalho no qual ambos apresentam uma crítica contra os hegelianos de esquerda e, mais especificamente, contra os irmãos Bauer. Cabe a estes dois autores criarem o que mais tarde ficou amplamente conhecido como “materialismo histórico” (expressão mais próxima de Marx) ou “materialismo dialético” (expressão mais próxima de Engels), buscando uma interpretação da evolução histórica da humanidade que não fosse pautada na evolução do espírito ou do pensamento ou da consciência e sim, na economia e na história pautada nas relações e modos de produção. Há aqui uma inspiração em Hegel, no que este sustenta como a tríade “tese, antítese e síntese” (Hegel não usou esta expressão, a mesma é usada de modo didático), só que enquanto para Hegel do confronto da tese com a antítese surge algo integrador que possui elementos de ambos enunciados anteriores, a síntese, para Marx e Engels do confronto destes contrários, um há de sobrepujar o outro, assumindo o seu lugar. No caso, a tese pode ser entendida como sendo a burguesia e a antítese, o proletariado, só que ao invés de termos uma síntese, teremos que a primazia da burguesia dará lugar a do proletariado, que passará a ocupar este lugar de destaque e domínio.
Engels e Marx lutaram pela destruição da sociedade capitalista e opressora dos trabalhadores e pela construção de uma sociedade mais justa e sem classes, a sociedade comunista. Em um primeiro momento teríamos uma revolução dos proletários e a implantação da ditadura do proletariado, com a implantação de um estado socialista, tendo os trabalhadores a frente de seu governo, já em um segundo momento teríamos a sociedade comunista, sem classes, sem opressão, cujo principal princípio guia para as relações sociais e de trabalho seria: “De cada um, segundo suas capacidades; a cada um, segundo suas necessidades” (Frase que atua como síntese do princípio comunista exposto por Marx e Engels em "Crítica ao Programa de Gotha" – Também pode ser transcrita como: “De cada qual segundo suas capacidades, a cada qual segundo suas necessidades”).
PRINCIPAIS OBRAS DE FRIEDRICH ENGELS
1- A situação da classe trabalhadora na Inglaterra ("Die Lage der arbeitenden Klasse in England"), 1845.
Este livro é um estudo detalhado das condições de vida e trabalho da classe trabalhadora na Inglaterra durante a Revolução Industrial. Baseado em observações diretas e dados estatísticos, Engels descreve as péssimas condições de trabalho, moradia, saúde e a exploração sofrida pelos trabalhadores. A obra é uma crítica ao capitalismo industrial e uma das primeiras exposições sistemáticas dos problemas da classe trabalhadora.
2- A ideologia alemã ("Die deutsche Ideologie"), 1846.
Escrito em colaboração com Marx, esta obra critica as ideias dos jovens hegelianos de esquerda (Bruno Bauer, Max Stirner e Ludwig Feuerbach) e desenvolve a teoria do materialismo histórico. Engels e Marx argumentam que as condições materiais e econômicas são a base da estrutura social e política, e que a história é impulsionada pela luta de classes.
3- Manifesto comunista ("Manifest der Kommunistischen Partei"), 1848.
Escrito em colaboração com Karl Marx, este manifesto é um documento fundamental do movimento comunista. Ele delineia a teoria da luta de classes, a necessidade de uma revolução proletária e o papel do comunismo na transformação da sociedade. É uma das obras mais influentes da literatura política e um marco na teoria socialista.
4- Anti-Dühring ("Herrn Eugen Dührings Umwälzung der Wissenschaft"), 1878.
Engels critica as ideias do filósofo alemão Eugen Dühring, que defendia uma versão do socialismo baseada em suas próprias teorias. Engels usa a oportunidade para expor e defender os fundamentos do socialismo científico, abordando temas como filosofia, ciência, política e economia.
5- Dialética da natureza ("Dialektik der Natur"), ano da primeira publicação: 1925 (escrito entre 1873-1883).
Engels aplica os princípios do materialismo dialético à natureza e às ciências naturais. Ele argumenta que as leis da dialética governam não apenas a sociedade e a história, mas também os processos naturais. Esta obra busca mostrar a unidade entre a natureza e a sociedade através de uma visão materialista do mundo.
6- Do socialismo utópico ao socialismo científico ("Die Entwicklung des Sozialismus von der Utopie zur Wissenschaft"), 1880.
Baseado em capítulos de "Anti-Dühring", este panfleto resume a transição das ideias socialistas utópicas para o socialismo científico desenvolvido por Marx e Engels. Ele explica como o socialismo científico se baseia na análise materialista da história e na luta de classes.
7- A origem da família, da propriedade privada e do Estado ("Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staats"), 1884.
Engels aplica a teoria do materialismo histórico à análise das instituições sociais. Ele examina o desenvolvimento da família, da propriedade privada e do Estado, argumentando que essas instituições surgiram com a divisão do trabalho e a emergência das sociedades de classes.
8- Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã ("Ludwig Feuerbach und der Ausgang der klassischen deutschen Philosophie"), 1886.
Esta obra é uma crítica ao idealismo alemão, em particular às ideias de Ludwig Feuerbach. Engels discute a transição do idealismo ao materialismo e explica como o materialismo histórico e dialético de Marx e dele próprio supera as limitações da filosofia clássica alemã.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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