Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

Sites na Internet – Doutor Silvério

1- Site: www.doutorsilverio.com

2- Blog 1 “Ser Escritor”: http://www.doutorsilverio.blogspot.com.br

3- Blog 2 “Comportamento Crítico”: http://www.doutorsilverio42.blogspot.com.br

4- Blog 3 “Uma boa idéia! Uma grande viagem!”: http://www.doutorsilverio51.blogspot.com.br

5- Blog 4 “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

https://livroograndesegredo.blogspot.com/

6- Perfil no Face Book “Silvério Oliveira”: https://www.facebook.com/silverio.oliveira.10?ref=tn_tnmn

7- Página no Face Book “Dr. Silvério”: https://www.facebook.com/drsilveriodacostaoliveira

8- Página no Face Book “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

https://www.facebook.com/O-Grande-Segredo-A-hist%C3%B3ria-n%C3%A3o-contada-do-Brasil-343302726132310/?modal=admin_todo_tour

9- Página de compra dos livros de Silvério: http://www.clubedeautores.com.br/authors/82973

10- Página no You Tube: http://www.youtube.com/user/drsilverio

11- Currículo na plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/8416787875430721

12- Email: doutorsilveriooliveira@gmail.com


E-mails encaminhados para doutorsilveriooliveira@gmail.com serão respondidos e comentados excluindo-se nomes e outros dados informativos de modo a manter o anonimato das pessoas envolvidas. Você é bem vindo!

domingo, 23 de janeiro de 2011

Ovelhas, lobos e curingas

Por: Silvério da Costa Oliveira.

Na vida, a grande maioria das pessoas comportam-se como ovelhas dentro de um grande rebanho e querem profundamente acreditar que são todas iguais, possuindo verdadeiro medo de se afastarem do rebanho, sendo rotuladas como diferentes. O maior sonho de muitos é ser alguém normal, um dentre muitos, igual a todos os demais. Mas nem todos se comportam como ovelhas em um rebanho, há também os lobos a quem as ovelhas temem e os curingas, que, tal como uma carta em um baralho comum, no baralho da vida não correspondem a qualquer naipe.



Há, claro, aquelas que não deixam de ser ovelhas e de estarem no rebanho, mas se destacam, como Rita Lee o diz em sua música, por serem a ovelha negra da família. Diferentes, mas ainda por demais vinculadas ao rebanho para poderem abdicar de sua condição de ovelha ou mesmo poderem deixar de ver a ilusão do rebanho. Ainda uma ovelha, não mais uma ovelha branca como todas as outras do rebanho, esta se destaca, mas sem deixar sua condição de ovelha.
Contando carneiros e ovelhas as pessoas adormecem no mais profundo sono, deixando sua consciência tranqüila divagar pelas imagens ilusórias do rebanho do qual fazem parte, onde seu maior temor é serem diferentes dos outros e sua tranqüilidade sonorífera é serem iguais, normais, idênticas aos demais. Ouvir as mesmas músicas que seu grupo, amar ou detestar os mesmos grupos musicais, vestir as calças da mesma marca, ter o mesmo corte de cabelo da moda igual a fulano que está em evidência na mídia, ler os livros e ver os filmes que todos lêem e vêem. Ser como os outros, que bom que é, deixar de pensar e não ser responsável pelos seus atos individuais, pois se pensa e se age grupalmente. Neste tocante o nível de inteligência individual procura igualar-se ao das massas, trata-se não mais do indivíduo e sim do rebanho e aqueles que ousam pensar e agir por si, individualmente, são as ovelhas negras da família.
Mas, se bem que a maioria das pessoas se comporte como ovelhas em um rebanho, temos também aquelas que mais se assemelhariam a um lobo solitário. Pelo menos seria assim que as demais ovelhas os veriam temerosas. Um lobo é um animal predador e a ovelha pode muito bem ser a sua presa, no entanto, já que falamos de grupos humanos, não nos referimos literalmente à morte da ovelha pelo lobo e sim simbolicamente a morte de tudo o que representa a ovelha e seu rebanho pelo lobo e é justamente este o grande medo das ovelhas, perderem a ilusão de seu rebanho.



Enquanto a ovelha negra da família ainda é ovelha, ainda mantém vínculos com o rebanho, o lobo não se vê mais como ovelha e sabe muito bem que não faz parte do rebanho. As demais ovelhas podem detestar e expulsar de seu convívio a ovelha negra, aquela que tenta ser ela própria e, portanto, diferente das demais, diferente do rebanho, mas ainda parte do mesmo, no entanto, tem verdadeiro temor do lobo, pois este já rompeu completamente seus vínculos ilusórios com o rebanho e as ovelhas podem ser suas presas para perderem a vida que mantém no rebanho, a ilusão de rebanho.
Existem as alcatéias, mas aqui me refiro mais enfaticamente a figura romântica e simbólica de um lobo solitário se contrapondo a um rebanho de ovelhas, pois, meu objetivo é explicar relações sociais e grupais humanas.
Dado interessante é que em se tratando de vida, de permanecer vivo, crescer e evoluir, na natureza os lobos não são uma ameaça para o ser humano, muito pelo contrário, ocorre que os seres humanos é que são uma séria ameaça a sobrevivência dos lobos, ameaçando a sua espécie, seja pela caça indiscriminada ou pelo envenenamento puro e simples. Aqui, neste nosso momento simbólico, cabe deixar claro que é o rebanho de ovelhas que de fato ameaça a vida e existência dos lobos e não o contrário, pois, não há ovelha, e muito menos rebanho, que não gostasse de ver os lobos mortos e não teriam o menor escrúpulo em participar ativamente desta mortandade. Afinal, para o rebanho de ovelhas o lobo nada mais é do que um animal demoníaco que deve ser ignorado, subjugado e morto. Afinal, Sócrates foi convidado pelos seus concidadãos atenienses a beber o veneno cicuta e Jesus Cristo, também pelos seus concidadãos, a morrer na cruz, isto dentre tantos outros lobos que poderia aqui citar.
Já o Curinga é uma carta de baralho que não se encaixa em qualquer um dos quatro naipes e de acordo com o jogo muda seu valor obedecendo à combinação de cartas nas mãos do jogador. Trata-se de uma carta especial que ao mesmo tempo em que pertence ao baralho, pode por alguns ser simplesmente descartada e jogada fora. Até mesmo sua apresentação é distinta das demais cartas, normalmente se apresenta como um palhaço e no baralho da vida é assim muitas vezes que o rebanho de cordeiros a vê. Diferentemente do lobo, não tem interesse algum em mudar o rebanho, brinca com a vida e se expressa com imoderada alegria que pode muito bem perturbar a paz do rebanho. Sua própria existência é a afirmação da ilusão do rebanho e da comicidade do mesmo, sim, pois o rebanho é algo deveras cômico quando apreciado de um nível superior.


O curinga é uma carta fora do baralho da vida, não pertencente a qualquer naipe, não pertence ao rebanho e não se mostra como lobo, trata-se da carta que pode ser descartada e jogada fora, o palhaço e talvez, a mais importante de todas as cartas, pois, pode assumir qualquer valor, dependendo somente da vontade, interesse e da experiência daquele que a possui. Muitas vezes a expressão é usada para designar uma pessoa que a semelhança com a carta, mostra-se capaz de desempenhar diversas atividades, alguém bem versátil.
No baralho temos quatro naipes de treze cartas cada, perfazendo o total de 52 cartas, mais o curinga, o qual simultaneamente não pertence a naipe algum e, no entanto, a todos pertence. Fora do baralho, não pertencente a qualquer naipe, podendo ser facilmente descartado e mesmo jogado fora por não fazer falta alguma. Único e diferente de todas as outras cartas do baralho, o curinga não somente no baralho de cartas, mas também no baralho da vida, é único e inigualável. Pela sua própria existência o curinga põe a nu a ilusão do rebanho em sua unicidade, por ser um palhaço para o rebanho, mostra e vê o que os outros não ousam enxergar, seu distanciamento mostra-se profundo e gera questionamentos que ultrapassam as crenças na nossa existência, sobre o que somos, fazemos e vivemos. O curinga, com certeza, é o ser mais perigoso para o rebanho e por isto mesmo ignorado, descartado e meramente jogado fora sem maiores e perigosos questionamentos.
É preciso que compreendamos e saibamos que há seres singulares que fazem a diferença e estes são os curingas da vida. Claro está que a grande maioria compõe o rebanho e está visceralmente presa a um enorme mundo de futilidades, cujo nível de profundidade de sua superficialidade mostra-se maior que o próprio universo. Talvez a finalidade, em um plano maior, da existência de curingas no baralho da vida seja gerar fascínio, questionamento sobre a própria existência singular única, repensar o mundo no qual nós vivemos e antever a idéia de algo diferente e que ultrapasse nosso mero olhar provinciano nos transportando em uma viagem sem fim e sem volta.

Pergunta: Tu és um carneiro, um lobo ou um curinga nesta vida?

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)


domingo, 16 de janeiro de 2011

Preparação e ação, do bizarro ao grotesco

Por: Silvério da Costa Oliveira.

Na vida encontramos pessoas que tem o hábito de agir sem pensar e também outras que nutrem o hábito de pensar sem agir, em ambas o sucesso tende a escapar dentre os dedos abertos de suas mãos como se água fosse. Há com certeza um limite ideal entre agir e pensar. Para o sucesso pessoal e profissional é preciso muita preparação, mas também é preciso que haja o momento em que encerramos a preparação e partirmos para a ação.
Se fossemos comparar as pessoas a um trem de carga, teríamos aquelas que passam a maior parte de sua vida carregando o trem, enquanto outras no desespero de sair logo da estação deixam de carregar o trem e saem com o mesmo completamente vazio.


Alguns intelectuais têm o hábito de ficarem com seu trem parado na estação da vida, sempre carregando seus vagões e nunca se dando por satisfeitos com os mesmos. Fazem uma faculdade, depois outra, lêem um livro, depois mais dez livros, fazem um curso para aprender algo, depois fazem outros cursos com o mesmo objetivo, ou seja, alguns intelectuais continuam a carregar os vagões em vez de os colocar nos trilhos e fazer rodar. Esquecem estes que trem vazio também roda.
Há outros, com bem menos conhecimento, que, no entanto, aparentam para o grupo social ao qual freqüentam que são bem mais inteligentes (mesmo não o sendo) e que possuem enorme conhecimento (mesmo não o possuindo).
Eu já me considerava um intelectual em 1985, quando ingressei em meu primeiro curso superior e minhas leituras já iam desde os clássicos aos mais modernos. Lembro-me de uma vez quando conversei por poucos minutos com um colega de classe sobre Carl Gustav Jung (1875-1961), pensador este ao qual estava me dedicando ao estudo de suas obras completas e também de vários comentaristas. Na época eu possuía um conhecimento aprofundado sobre este pensador e este colega nada sabia sobre o mesmo, no entanto, na aula seguinte foi este colega que se sobressaiu ao fazer um comentário pertinente citando parcialmente o pensamento de Jung, que eu havia acabado de lhe explicar. Não basta saber muito, as vezes a inteligência pode ser um empecilho para o sucesso, dificultando-o e não facilitando o mesmo. Saber menos de algo pode significar que o trem de carga fica bem menos tempo parado na estação enchendo seus vagões, no entanto, sabendo usar o pouco conhecimento que se tem de algo no momento e na oportunidade correta pode-se criar a ilusão de que o pouco é muito e que se sabe mais até do que a fonte na qual se foi beber.
Em uma sociedade midiática onde o bizarro e grotesco se destaca, parar na estação enchendo os vagões pode não ser tão eficiente para o sucesso do que fazer algo idiota como, por exemplo, pintar este mesmo trem de rosa choque e sair com ele completamente vazio. Aquela velha máxima de que um cachorro mordendo um homem não é notícia, mas um homem mordendo um cachorro o é, vale hoje perfeitamente para os meios de mídia brasileiros e também para boa parte da população, de gosto duvidoso. Pensemos, por exemplo, um intelectual com vínculos e convicções políticas e engajado em alguma corrente ideológica vir a ser eleito deputado (estadual ou federal) ou senador é algo normal e esperado e, portanto, não chama a atenção e é bem provável que por mais sério que este seja, o mesmo não venha a ser eleito. Já um palhaço nem um pouco intelectualizado, digamos, mesmo analfabeto, sem vínculos ou convicções políticas e não engajado em qualquer corrente ideológica ser candidato e vir a ser eleito encontra acolhida no bizarro e grotesco da coisa toda. É esta a sociedade que estamos nós construindo hoje, a sociedade midiatica do bizarro e do grotesco.
O certo seria que as pessoas fossem famosas pelo que fizeram ou fazem, ou seja, que haja algum conteúdo que o faça famoso, no entanto, o que observamos na sociedade midiatica na qual vivemos é que a pessoa é famosa porque é famosa, sem conteúdo algum, sem sumo algum para espremer nesta laranja. Para ser e continuar sendo famoso basta se trancar em uma casa ou algo análogo repleto de câmeras que mostram sua imagem constantemente na tv e na Internet para após ser expulso tornar-se famoso. Também, se você é uma adolescente e gosta de usar vestidos pequenos (mas grandes se comparados ao gosto carioca e a cultura brasileira em geral) e é molestada explicita e ruidosamente dentro de uma universidade por universitários que deveriam preservar certos valores, dentre os quais o valor da tolerância e, no entanto, se comportam como animais selvagens e pré-históricos (correndo eu aqui o risco de ofender aos verdadeiros animais na natureza), diante do bizarro e grotesco da cena, tem assegurada sua fama e mesmo sem o menor conteúdo ou atrativo (intelectual ou físico) ganha espaço constante nos mais diversos canais de mídia, os quais continuam a vender o homem que mordeu o cachorro, sem a menor responsabilidade social.
Aos profissionais de educação e de comunicação cabe a pergunta se estão conscientes de sua contribuição para a construção de valores nacionais, para o futuro, para a preservação e construção de valores, para a formação de nossos filhos e netos e da sociedade na qual estes irão viver.
                                                           
Pergunta: Qual o limite ideal entre aprimorar-se naquilo que se faz por um lado e, por outro, vir de fato fazer algo?

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)


domingo, 9 de janeiro de 2011

Sobre os sofistas do século XXI: Filósofo educador, um sofista moderno!

Por: Silvério da Costa Oliveira.

Sobre os sofistas do século XXI: Filósofo educador, um sofista moderno!

Hegel nos lembra que a toda tese corresponde uma antítese, não há, sem dúvida, história, fato narrado ou qualquer vivência humana social que não carregue em si, em sua própria existência, o potencial de seu oposto narrativo. Quando mais de uma pessoa testemunha um fato, cada qual nos conta o mesmo com variações sutis e por vezes profundas, sem sequer que haja intenção oculta de mentir ou mascarar a realidade, mas simplesmente por cada uma absorver o referido fato dentro da malha de seus valores culturais, de sua formação educacional e de seus valores familiares e sociais.
Se pensamos então no depoimento de alguém que tenha uma posição nitidamente contrária e oposta a outra pessoa ou corrente de pensamento, maiores são ainda as chances de que mesmo sem intencionalidade haja deturpação dos fatos ou das idéias originais em prol de uma melhor arrumação entre as idéias defendidas pela pessoa que nos conta a história.
Nossa moderna sociedade tem suas raízes na cultura antiga, greco-romana, e dentre os grandes expoentes da antiguidade encontramos os filósofos Platão e Aristóteles, ocorre que ambos eram oponentes do movimento sofístico presente no V século a.C. e apesar de termos seus escritos nos explicando o pensamento destes filósofos então chamados de sofistas, não temos os escritos originais dos mesmos para comparar e estabelecer uma justa contenda. O termo sofista significa “sábio” no sentido original, mas foi adulterado para outros significados, depreciando o mesmo.
Sofistas somos todos nós, educadores do século XXI, senão, analisemos pelo que estes primeiros eram tão veementemente criticados. O filósofo é o amante da sabedoria como Sócrates e Platão nos mostram nos diálogos, já o sofista é o mercador do conhecimento, pois, após longo e árduo estudo e de posse de amplo conhecimento vende suas aulas para quem possa pagar pelas mesmas. Aulas de matemática ou persuasão, a escolha é do cliente que paga. Em uma sociedade onde germinava a democracia, a arte de bem falar e saber persuadir era priorizada por quem queria seguir carreira política e eram estes alunos que pagavam para aprender a arte da retórica e da persuasão, como bem falar e influenciar a platéia, convencendo aos outros de suas próprias idéias. Qualquer professor hoje, “proletário da educação”, recebe pelas suas aulas, sejam de temas técnicos, sociais ou humanos e quem escolhe sobre o que irá ter aulas é o aluno que paga. Ao professor só lhe resta seguir pela cartilha pré-aprovada dos programas e ementas das instituições de ensino onde leciona para poder sobreviver vendendo o pouco que sabe para quem paga e não sabe sequer o valor do que está comprando.


Se aos sofistas do V século a.C. cabe ensinar como obter o sucesso por meio do conhecimento adquirido e se os mesmos fazem carreira em sua vida docente, o que não dizer do docente moderno? Podemos dizer em sã consciência que buscamos a verdade em total desapego dos prazeres e bens materiais decorrentes desta atividade?
Um sofista como Hippias tem orgulho de ter um conhecimento enciclopédico e uma ótima memória, mas, o que podemos dizer hoje sobre o reconhecimento social por meio de títulos acadêmicos? Eu só sei que nada sei ou eu sei que tudo sei?
Afinal, o aprendizado é visto por nós educadores como algo realmente ativo como o queria Sócrates com sua Maiêutica, o parto das idéias, ou o aluno é visto como um ser passivo ao conhecimento despejado pela verborréia infinita do professor, que outra coisa não faz se não recitar ementas e programas desatualizados e sem nexo causal que a coordenação de ensino lhe passou?
Em verdade, seja o homem (e entenda-se aqui este termo como se referindo a ser humano) no sentido individual ou no sentido universal, a medida de todas as coisas como o queria Protágoras (O homem é a medida de todas as coisas, das que são, enquanto são, das que não são, enquanto não são), não seria esta a reflexão final sobre nosso ser e existência social? Até que ponto a universalidade de conhecimentos e idéias presente nas universidades, nas suas divisões em faculdades e mesmo dentro de cada micro região disciplinar não representa a presença onipotente do relativismo de todos os saberes? O aluno recém ingresso em uma instituição de ensino é exposto a uma gama desenfreada de razões e contra-razões, todas certas segundo uns e erradas segundo outros, onde, pela sua ignorância institucionalmente aprovada pode trocar a prova dos fatos e da razão pela prova mais saborosa da escolha pelos seus belos sentimentos de empatia para com esta teoria ou aquela outra, para com este modelo teórico ou aquele outro, para este grupamento do saber ou aquele outro. Incentivado por professores, todos, sem o perceber, viajam nas águas perigosas do total relativismo, esquecendo-se, talvez, que se o homem é a medida de todas as coisas no sentido universal e não individual, acabamos por nos afastar de um relativismo absoluto e nos aproximar de uma visão kantiana (fenômeno e numeno) ou piagetiana (ação sobre o objeto). Se esta relação entre algo próprio do sujeito conhecedor e algo próprio do objeto conhecido é característica universal de nossa espécie, ou melhor ainda, de todos os seres cognoscentes que possam existir, então estamos diante de conceitos tais como universalidade e necessidade.
Imagino que ao pensarmos na educação, não estaríamos longe da ironia de Sócrates se usássemos a argumentação de Górgias sobre o Ser para descrevê-la em sua verdade crua e nua: 1- nada existe, 2- mesmo que houvesse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la e 3- mesmo que pudéssemos conhecê-la, não poderíamos comunicá-la aos outros.
Até que ponto o docente hoje é alguém de fato ligado a sua cidade, ou melhor ainda, a sua comunidade, ou defendendo-se por meio da idéia de uma sociedade global, mostra-se na prática como um caixeiro ambulante (vendedor de cidade em cidade) da educação? Filósofo ou sofista? Em verdade, verdade, sofista!
Afinal, sejamos francos, ensinar ou educar é uma profissão como entenderam os sofistas ou uma atividade pura do ser humano livre em uma busca do saber pelo saber, sem fins lucrativos?
Para nossa sociedade global, de padrões éticos seriamente questionáveis, afinal, a verdade é um valor importante e transmitido para a população ou o importante é meramente o convencimento das massas por meio de discursos? O mais importante é encontrarmos a verdade dos fatos ou convencermos por meio de palavras e atos solenes nosso adversário ou ao público que irá julgar?
Até que ponto o filósofo educador contemporâneo não fica com um pé na manutenção de seu sofrido “ganha pão”, a boa saúde de suas finanças, obtido pela aprovação social de suas idéias e comportamentos e por outro lado, com um pé no que verdadeiramente pensa sobre a opinião das massas (e não me refiro à macarronada, se bem que esta seja tão inteligente quanto), sobre as crenças religiosas, sobre as religiões aceitas e proclamadas em sua sociedade a ponto de poder ser acusado de impiedade para com os deuses e a semelhança de Prodicus, ser condenado à morte sob a acusação de corrupção da juventude por apresentar idéias e doutrinas subversivas a toda e qualquer religião, pois, afinal, a origem da religião não se encontra na personificação de objetos naturais?
Como o quer Oswald de Andrade com a idéia poética de antropofagia, vamos utilizar o canibalismo simbólico no melhor que podemos encontrar dentro do movimento sofista para repensarmos nossa contemporaneidade. Cabe termos a nossa própria identidade pensante, mas dentro de um arcabouço global de idéias.
Ao final desta exposição resta nos uma dúvida: os sofistas ainda estão vivos? Bem, eu pelo menos estou, e você?

Pergunta: Qual a importância e contribuição da sofística para a sociedade na qual vivemos?

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Repensando a vida por meio de Nietzsche

Por: Silvério da Costa Oliveira.

O homem é o animal mais cruel contra si mesmo; e, em todos os que se dizem ‘pecadores’ e ‘penitentes’ e ‘portadores de cruz’, não vos passe despercebida a volúpia que há nesses lamentos e acusações!” NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falou Zaratustra: Um livro para todos e para ninguém. p. 225 (terceira parte da obra – o convalescente, 3).



Há quem queira igualar e não diferenciar filosofia, de história da filosofia, mas há uma diferença, pois, quando fazemos história da filosofia somos fiéis ao pensamento de outros e quando fazemos filosofia somos fiéis ao nosso próprio pensamento. Aqui minha intenção não é fazer história da filosofia. No meu entendimento o filósofo é o grande crítico social, exercendo sua crítica racional sobre os valores reinantes, explicitando conceitos e significados em busca da origem e vinculações dos mesmos a valores e idéias na sua relação intrínseca com a vida e a natureza.
Pensar o ser humano dentro de uma dualidade, seja esta entre mente e corpo ou entre mundo das aparências e mundo real, entre o ser e o dever ser, entre o bem e o mal, entre amor e ódio, entre deus e demônio ou entre santos e pecadores, como qualquer outra dualidade, em verdade, mais do que dividir, nega-se a vida em prol da anti-vida, da negação da vida, da afirmação do nada, do niilismo em suas diversas apresentações.
O ser humano é um ser voltado a um destino ainda por vir, mas que deve ser criado hoje, trata-se não de um ser acabado, mas sim de uma ponte entre algo que deve deixar de ser e algo novo que se anuncia e entenda-se este algo novo não como um super homem, dando-se a ilusão que se reforça os valores e aspirações deste humano contemporâneo, mas não, é preciso que este finde sua existência e não que esta seja super valorizada, menos que um super homem, trata-se do advento de um além do homem, de uma superação deste ser humano, da construção de um ser que não negue a vida e sim que a afirme em todos os seus atos e palavras, alguém que não viva pelo niilismo e ressentimento tão bem expresso pelas religiões (cristianismo, budismo, islamismo, judaísmo, etc.) e sim pela vontade, não de poder, mas sim de potência.
O ser humano contemporâneo deve ser percebido como uma ponte, uma corda tencionada ligando os dois lados de um abismo, de um lado o que há e deve findar, cujo destino é o ocaso, de outro lado o porvir enquanto superação e exaltação, um ser ao qual podemos denominar como além do homem. O homem não é uma meta, mas sim algo a ser superado.
Nietzsche em “Assim falou Zaratustra” nos afirma que o homem é uma corda estendida entre o animal e o além-do-homem, uma corda sobre um abismo, segundo Nietzsche toda grandeza do homem está justamente em ser o mesmo uma ponte, uma transição e um ocaso.
O cheiro de putrefação incomoda os narizes mais sensíveis quando diversos grupos e correntes tentam ressuscitar um ser mítico que morreu faz tempo acometido de profunda compaixão. Em verdade, tal ser mítico foi morto pela compaixão e amor que nutriu pela humanidade, este foi seu inferno e sua morte.
Este ser mítico está morto, mas não é correto a partir deste fato inegável afirmar que tudo é permitido, pois esta crença na total permissividade esconde uma mentira que por sua vez re-afirma a vida e não a morte de tal ser, em verdade, tal ser mítico morto não pode tornar tudo permitido, pois, nunca foi ele análogo à verdade ou ao princípio.
A negação de deus não pode ser confundida com a mera troca de deuses. O dogmatismo presente em correntes de pensamento não passa de uma ortodoxia religiosa na qual deus se esconde em meio a sua negação pela presença do que mais profundamente lhe caracteriza. Coisas materiais ou mesmo estados alterados da consciência provocados pelo uso imoderado de substâncias químicas também não negam a deus, mas simplesmente o substitui. Em todos estes e outros casos continua-se a cultuar algo que denigre a vida e valoriza o nada, pois, antes há o homem de querer o nada, a nada querer.
Este mundo não é um vale de lágrimas e não há um outro mundo perfeito e repleto de felicidade. O único mundo onde a felicidade é possível é este no qual estamos, pois, esta realidade é a única existente e qualquer outra concepção filosófica religiosa que diga o contrário condena o ser humano a viver na miséria mental e física. Nós não somos escravos, então, não nos comportemos como escravos. Somos senhores de nossa vida, valores e destino.
É uma ilusão acreditar que o ser humano é imperfeito e tal ilusão se agarra à idéia de um ser perfeito que não somos nós. Ao buscarmos a origem de tal absurdo não esbarramos na religião e sim na filosofia, pois, este erro provém da filosofia de Platão e de seu conceito teórico de um mundo das idéias do qual nós somos cópias imperfeitas. Ignorantes podem acreditar que denegrir o humano como um ser imperfeito é uma concepção religiosa cristã, mas estão errados, sua origem é platônica e a religião cristã ao apregoar um mundo de imperfeição em comparação com um mundo perfeito, mas não existente em parte alguma, nada mais faz se não platonismo para o povo. Somos perfeitos, porque somos únicos. Cada um de nós é perfeito em sua essência humana e continuará sua perfeição enquanto não quiser copiar a qualquer outro e sim ser a si próprio. Eu sou perfeito e você também o é, a não ser que prefira ser à sombra de uma cópia.
Cabe ao ser humano entender que ele próprio é o grande mentor de sua vida e só a ele cabe a total responsabilidade pela vida que vive, pelo que é e como se expressa. Cabe ao ser humano destruir velhos valores que negam a vida e afirmam o niilismo e construir novos valores, afirmativos da vida e do surgimento de um além do homem. Cabe repensarmos e atuarmos na transmutação de todos os valores. Para o filósofo, mais importante do que afirmar valores morais deve ser sempre a busca da origem de tais valores.
Ao se desprezar o corpo, despreza-se em verdade a própria vida, pois o corpo somos nós em nossa totalidade e integridade genuína. Não somos dois, somos um. Qualquer dicotomia filosófica religiosa é de fato uma negação da própria vida e como tal deve ser combatida e não passivamente acatada.

Livros e textos de minha autoria, gratuitos nos meus sites na Internet, com outras reflexões sobre o pensamento de Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900):

Comentário a Nietzsche”, capítulo 6 do livro “Reflexões filosóficas: Uma pequena introdução à filosofia”.

Crítica da vontade de verdade”, capítulo 4 do livro “Estudos de psicologia e filosofia”.

Sobre Nietzsche”, Blog “Ser Escritor” quarta-feira, 5 de dezembro de 2007.

Blog “Comportamento Crítico” sexta-feira, 15 de outubro de 2010.

Niilista”, Blog “Ser Escritor” quarta-feira, 22 de abril de 2009.
Blog “Comportamento Crítico” sexta-feira, 15 de outubro de 2010.

 Estudante do curso de filosofia”, Blog “Ser Escritor” segunda-feira, 1 de junho de 2009.

Pergunta: Em sua passagem você tem enaltecido ou denegrido a vida?

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)