Textos filosóficos, críticos, comportamentais e sobre arte da escrita, sucesso e auto-ajuda.
Professor Doutor Silvério
Blog: "Comportamento Crítico"
Professor Doutor Silvério
Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.
(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)
E-mails encaminhados para doutorsilveriooliveira@gmail.com serão respondidos e comentados excluindo-se nomes e outros dados informativos de modo a manter o anonimato das pessoas envolvidas. Você é bem vindo!
Na vida, a
grande maioria das pessoas comportam-se como ovelhas dentro de um grande
rebanho e querem profundamente acreditar que são todas iguais, possuindo
verdadeiro medo de se afastarem do rebanho, sendo rotuladas como diferentes. O
maior sonho de muitos é ser alguém normal, um dentre muitos, igual a todos os
demais. Mas nem todos se comportam como ovelhas em um rebanho, há também os
lobos a quem as ovelhas temem e os curingas, que, tal como uma carta em um
baralho comum, no baralho da vida não correspondem a qualquer naipe.
Há, claro,
aquelas que não deixam de ser ovelhas e de estarem no rebanho, mas se destacam,
como Rita Lee o diz em sua música, por serem a ovelha negra da família. Diferentes,
mas ainda por demais vinculadas ao rebanho para poderem abdicar de sua condição
de ovelha ou mesmo poderem deixar de ver a ilusão do rebanho. Ainda uma ovelha,
não mais uma ovelha branca como todas as outras do rebanho, esta se destaca,
mas sem deixar sua condição de ovelha.
Contando
carneiros e ovelhas as pessoas adormecem no mais profundo sono, deixando sua
consciência tranqüila divagar pelas imagens ilusórias do rebanho do qual fazem
parte, onde seu maior temor é serem diferentes dos outros e sua tranqüilidade
sonorífera é serem iguais, normais, idênticas aos demais. Ouvir as mesmas
músicas que seu grupo, amar ou detestar os mesmos grupos musicais, vestir as
calças da mesma marca, ter o mesmo corte de cabelo da moda igual a fulano que
está em evidência na mídia, ler os livros e ver os filmes que todos lêem e
vêem. Ser como os outros, que bom que é, deixar de pensar e não ser responsável
pelos seus atos individuais, pois se pensa e se age grupalmente. Neste tocante
o nível de inteligência individual procura igualar-se ao das massas, trata-se
não mais do indivíduo e sim do rebanho e aqueles que ousam pensar e agir por
si, individualmente, são as ovelhas negras da família.
Mas, se bem
que a maioria das pessoas se comporte como ovelhas em um rebanho, temos também
aquelas que mais se assemelhariam a um lobo solitário. Pelo menos seria assim
que as demais ovelhas os veriam temerosas. Um lobo é um animal predador e a
ovelha pode muito bem ser a sua presa, no entanto, já que falamos de grupos
humanos, não nos referimos literalmente à morte da ovelha pelo lobo e sim
simbolicamente a morte de tudo o que representa a ovelha e seu rebanho pelo
lobo e é justamente este o grande medo das ovelhas, perderem a ilusão de seu
rebanho.
Enquanto a
ovelha negra da família ainda é ovelha, ainda mantém vínculos com o rebanho, o
lobo não se vê mais como ovelha e sabe muito bem que não faz parte do rebanho.
As demais ovelhas podem detestar e expulsar de seu convívio a ovelha negra,
aquela que tenta ser ela própria e, portanto, diferente das demais, diferente
do rebanho, mas ainda parte do mesmo, no entanto, tem verdadeiro temor do lobo,
pois este já rompeu completamente seus vínculos ilusórios com o rebanho e as
ovelhas podem ser suas presas para perderem a vida que mantém no rebanho, a
ilusão de rebanho.
Existem as
alcatéias, mas aqui me refiro mais enfaticamente a figura romântica e simbólica
de um lobo solitário se contrapondo a um rebanho de ovelhas, pois, meu objetivo
é explicar relações sociais e grupais humanas.
Dado
interessante é que em se tratando de vida, de permanecer vivo, crescer e
evoluir, na natureza os lobos não são uma ameaça para o ser humano, muito pelo
contrário, ocorre que os seres humanos é que são uma séria ameaça a
sobrevivência dos lobos, ameaçando a sua espécie, seja pela caça indiscriminada
ou pelo envenenamento puro e simples. Aqui, neste nosso momento simbólico, cabe
deixar claro que é o rebanho de ovelhas que de fato ameaça a vida e existência
dos lobos e não o contrário, pois, não há ovelha, e muito menos rebanho, que
não gostasse de ver os lobos mortos e não teriam o menor escrúpulo em
participar ativamente desta mortandade. Afinal, para o rebanho de ovelhas o
lobo nada mais é do que um animal demoníaco que deve ser ignorado, subjugado e
morto. Afinal, Sócrates foi convidado pelos seus concidadãos atenienses a beber
o veneno cicuta e Jesus Cristo, também pelos seus concidadãos, a morrer na
cruz, isto dentre tantos outros lobos que poderia aqui citar.
Já o Curinga
é uma carta de baralho que não se encaixa em qualquer um dos quatro naipes e de
acordo com o jogo muda seu valor obedecendo à combinação de cartas nas mãos do
jogador. Trata-se de uma carta especial que ao mesmo tempo em que pertence ao
baralho, pode por alguns ser simplesmente descartada e jogada fora. Até mesmo
sua apresentação é distinta das demais cartas, normalmente se apresenta como um
palhaço e no baralho da vida é assim muitas vezes que o rebanho de cordeiros a
vê. Diferentemente do lobo, não tem interesse algum em mudar o rebanho, brinca
com a vida e se expressa com imoderada alegria que pode muito bem perturbar a
paz do rebanho. Sua própria existência é a afirmação da ilusão do rebanho e da
comicidade do mesmo, sim, pois o rebanho é algo deveras cômico quando apreciado
de um nível superior.
O curinga é
uma carta fora do baralho da vida, não pertencente a qualquer naipe, não
pertence ao rebanho e não se mostra como lobo, trata-se da carta que pode ser
descartada e jogada fora, o palhaço e talvez, a mais importante de todas as
cartas, pois, pode assumir qualquer valor, dependendo somente da vontade,
interesse e da experiência daquele que a possui. Muitas vezes a expressão é
usada para designar uma pessoa que a semelhança com a carta, mostra-se capaz de
desempenhar diversas atividades, alguém bem versátil.
No baralho
temos quatro naipes de treze cartas cada, perfazendo o total de 52 cartas, mais
o curinga, o qual simultaneamente não pertence a naipe algum e, no entanto, a
todos pertence. Fora do baralho, não pertencente a qualquer naipe, podendo ser
facilmente descartado e mesmo jogado fora por não fazer falta alguma. Único e
diferente de todas as outras cartas do baralho, o curinga não somente no
baralho de cartas, mas também no baralho da vida, é único e inigualável. Pela
sua própria existência o curinga põe a nu a ilusão do rebanho em sua unicidade,
por ser um palhaço para o rebanho, mostra e vê o que os outros não ousam
enxergar, seu distanciamento mostra-se profundo e gera questionamentos que
ultrapassam as crenças na nossa existência, sobre o que somos, fazemos e
vivemos. O curinga, com certeza, é o ser mais perigoso para o rebanho e por
isto mesmo ignorado, descartado e meramente jogado fora sem maiores e perigosos
questionamentos.
É preciso que
compreendamos e saibamos que há seres singulares que fazem a diferença e estes
são os curingas da vida. Claro está que a grande maioria compõe o rebanho e
está visceralmente presa a um enorme mundo de futilidades, cujo nível de
profundidade de sua superficialidade mostra-se maior que o próprio universo.
Talvez a finalidade, em um plano maior, da existência de curingas no baralho da
vida seja gerar fascínio, questionamento sobre a própria existência singular
única, repensar o mundo no qual nós vivemos e antever a idéia de algo diferente
e que ultrapasse nosso mero olhar provinciano nos transportando em uma viagem
sem fim e sem volta.
Pergunta: Tu és
um carneiro, um lobo ou um curinga nesta vida?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Na vida
encontramos pessoas que tem o hábito de agir sem pensar e também outras que
nutrem o hábito de pensar sem agir, em ambas o sucesso tende a escapar dentre
os dedos abertos de suas mãos como se água fosse. Há com certeza um limite
ideal entre agir e pensar. Para o sucesso pessoal e profissional é preciso
muita preparação, mas também é preciso que haja o momento em que encerramos a
preparação e partirmos para a ação.
Se fossemos
comparar as pessoas a um trem de carga, teríamos aquelas que passam a maior
parte de sua vida carregando o trem, enquanto outras no desespero de sair logo
da estação deixam de carregar o trem e saem com o mesmo completamente vazio.
Alguns
intelectuais têm o hábito de ficarem com seu trem parado na estação da vida,
sempre carregando seus vagões e nunca se dando por satisfeitos com os mesmos.
Fazem uma faculdade, depois outra, lêem um livro, depois mais dez livros, fazem
um curso para aprender algo, depois fazem outros cursos com o mesmo objetivo,
ou seja, alguns intelectuais continuam a carregar os vagões em vez de os
colocar nos trilhos e fazer rodar. Esquecem estes que trem vazio também roda.
Há outros,
com bem menos conhecimento, que, no entanto, aparentam para o grupo social ao
qual freqüentam que são bem mais inteligentes (mesmo não o sendo) e que possuem
enorme conhecimento (mesmo não o possuindo).
Eu já me
considerava um intelectual em 1985, quando ingressei em meu primeiro curso
superior e minhas leituras já iam desde os clássicos aos mais modernos.
Lembro-me de uma vez quando conversei por poucos minutos com um colega de
classe sobre Carl Gustav Jung (1875-1961), pensador este ao qual estava me
dedicando ao estudo de suas obras completas e também de vários comentaristas.
Na época eu possuía um conhecimento aprofundado sobre este pensador e este
colega nada sabia sobre o mesmo, no entanto, na aula seguinte foi este colega
que se sobressaiu ao fazer um comentário pertinente citando parcialmente o
pensamento de Jung, que eu havia acabado de lhe explicar. Não basta saber
muito, as vezes a inteligência pode ser um empecilho para o sucesso,
dificultando-o e não facilitando o mesmo. Saber menos de algo pode significar
que o trem de carga fica bem menos tempo parado na estação enchendo seus
vagões, no entanto, sabendo usar o pouco conhecimento que se tem de algo no
momento e na oportunidade correta pode-se criar a ilusão de que o pouco é muito
e que se sabe mais até do que a fonte na qual se foi beber.
Em uma
sociedade midiática onde o bizarro e grotesco se destaca, parar na estação
enchendo os vagões pode não ser tão eficiente para o sucesso do que fazer algo
idiota como, por exemplo, pintar este mesmo trem de rosa choque e sair com ele
completamente vazio. Aquela velha máxima de que um cachorro mordendo um homem
não é notícia, mas um homem mordendo um cachorro o é, vale hoje perfeitamente
para os meios de mídia brasileiros e também para boa parte da população, de
gosto duvidoso. Pensemos, por exemplo, um intelectual com vínculos e convicções
políticas e engajado em alguma corrente ideológica vir a ser eleito deputado
(estadual ou federal) ou senador é algo normal e esperado e, portanto, não
chama a atenção e é bem provável que por mais sério que este seja, o mesmo não
venha a ser eleito. Já um palhaço nem um pouco intelectualizado, digamos, mesmo
analfabeto, sem vínculos ou convicções políticas e não engajado em qualquer
corrente ideológica ser candidato e vir a ser eleito encontra acolhida no
bizarro e grotesco da coisa toda. É esta a sociedade que estamos nós
construindo hoje, a sociedade midiatica do bizarro e do grotesco.
O certo seria
que as pessoas fossem famosas pelo que fizeram ou fazem, ou seja, que haja
algum conteúdo que o faça famoso, no entanto, o que observamos na sociedade
midiatica na qual vivemos é que a pessoa é famosa porque é famosa, sem conteúdo
algum, sem sumo algum para espremer nesta laranja. Para ser e continuar sendo
famoso basta se trancar em uma casa ou algo análogo repleto de câmeras que
mostram sua imagem constantemente na tv e na Internet para após ser expulso
tornar-se famoso. Também, se você é uma adolescente e gosta de usar vestidos
pequenos (mas grandes se comparados ao gosto carioca e a cultura brasileira em
geral) e é molestada explicita e ruidosamente dentro de uma universidade por
universitários que deveriam preservar certos valores, dentre os quais o valor
da tolerância e, no entanto, se comportam como animais selvagens e
pré-históricos (correndo eu aqui o risco de ofender aos verdadeiros animais na
natureza), diante do bizarro e grotesco da cena, tem assegurada sua fama e
mesmo sem o menor conteúdo ou atrativo (intelectual ou físico) ganha espaço
constante nos mais diversos canais de mídia, os quais continuam a vender o
homem que mordeu o cachorro, sem a menor responsabilidade social.
Aos
profissionais de educação e de comunicação cabe a pergunta se estão conscientes
de sua contribuição para a construção de valores nacionais, para o futuro, para
a preservação e construção de valores, para a formação de nossos filhos e netos
e da sociedade na qual estes irão viver.
Pergunta: Qual
o limite ideal entre aprimorar-se naquilo que se faz por um lado e, por outro,
vir de fato fazer algo?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Sobre os sofistas do século XXI: Filósofo
educador, um sofista moderno!
Hegel nos
lembra que a toda tese corresponde uma antítese, não há, sem dúvida, história,
fato narrado ou qualquer vivência humana social que não carregue em si, em sua
própria existência, o potencial de seu oposto narrativo. Quando mais de uma
pessoa testemunha um fato, cada qual nos conta o mesmo com variações sutis e
por vezes profundas, sem sequer que haja intenção oculta de mentir ou mascarar
a realidade, mas simplesmente por cada uma absorver o referido fato dentro da
malha de seus valores culturais, de sua formação educacional e de seus valores
familiares e sociais.
Se pensamos
então no depoimento de alguém que tenha uma posição nitidamente contrária e
oposta a outra pessoa ou corrente de pensamento, maiores são ainda as chances
de que mesmo sem intencionalidade haja deturpação dos fatos ou das idéias
originais em prol de uma melhor arrumação entre as idéias defendidas pela
pessoa que nos conta a história.
Nossa moderna
sociedade tem suas raízes na cultura antiga, greco-romana, e dentre os grandes
expoentes da antiguidade encontramos os filósofos Platão e Aristóteles, ocorre
que ambos eram oponentes do movimento sofístico presente no V século a.C. e apesar
de termos seus escritos nos explicando o pensamento destes filósofos então
chamados de sofistas, não temos os escritos originais dos mesmos para comparar
e estabelecer uma justa contenda. O termo sofista significa “sábio” no sentido
original, mas foi adulterado para outros significados, depreciando o mesmo.
Sofistas somos
todos nós, educadores do século XXI, senão, analisemos pelo que estes primeiros
eram tão veementemente criticados. O filósofo é o amante da sabedoria como
Sócrates e Platão nos mostram nos diálogos, já o sofista é o mercador do
conhecimento, pois, após longo e árduo estudo e de posse de amplo conhecimento
vende suas aulas para quem possa pagar pelas mesmas. Aulas de matemática ou
persuasão, a escolha é do cliente que paga. Em uma sociedade onde germinava a
democracia, a arte de bem falar e saber persuadir era priorizada por quem
queria seguir carreira política e eram estes alunos que pagavam para aprender a
arte da retórica e da persuasão, como bem falar e influenciar a platéia, convencendo
aos outros de suas próprias idéias. Qualquer professor hoje, “proletário da
educação”, recebe pelas suas aulas, sejam de temas técnicos, sociais ou humanos
e quem escolhe sobre o que irá ter aulas é o aluno que paga. Ao professor só
lhe resta seguir pela cartilha pré-aprovada dos programas e ementas das
instituições de ensino onde leciona para poder sobreviver vendendo o pouco que
sabe para quem paga e não sabe sequer o valor do que está comprando.
Se aos
sofistas do V século a.C. cabe ensinar como obter o sucesso por meio do
conhecimento adquirido e se os mesmos fazem carreira em sua vida docente, o que
não dizer do docente moderno? Podemos dizer em sã consciência que buscamos a
verdade em total desapego dos prazeres e bens materiais decorrentes desta
atividade?
Um sofista
como Hippias tem orgulho de ter um conhecimento enciclopédico e uma ótima
memória, mas, o que podemos dizer hoje sobre o reconhecimento social por meio
de títulos acadêmicos? Eu só sei que nada sei ou eu sei que tudo sei?
Afinal, o aprendizado
é visto por nós educadores como algo realmente ativo como o queria Sócrates com
sua Maiêutica, o parto das idéias, ou o aluno é visto como um ser passivo ao
conhecimento despejado pela verborréia infinita do professor, que outra coisa
não faz se não recitar ementas e programas desatualizados e sem nexo causal que
a coordenação de ensino lhe passou?
Em verdade,
seja o homem (e entenda-se aqui este termo como se referindo a ser humano) no
sentido individual ou no sentido universal, a medida de todas as coisas como o
queria Protágoras (O homem é a medida
de todas as coisas, das que são, enquanto são, das que não são, enquanto não
são), não seria esta a reflexão final sobre nosso ser e existência
social? Até que ponto a universalidade de conhecimentos e idéias presente nas
universidades, nas suas divisões em faculdades e mesmo dentro de cada micro
região disciplinar não representa a presença onipotente do relativismo de todos
os saberes? O aluno recém ingresso em uma instituição de ensino é exposto a uma
gama desenfreada de razões e contra-razões, todas certas segundo uns e erradas
segundo outros, onde, pela sua ignorância institucionalmente aprovada pode
trocar a prova dos fatos e da razão pela prova mais saborosa da escolha pelos
seus belos sentimentos de empatia para com esta teoria ou aquela outra, para
com este modelo teórico ou aquele outro, para este grupamento do saber ou
aquele outro. Incentivado por professores, todos, sem o perceber, viajam nas
águas perigosas do total relativismo, esquecendo-se, talvez, que se o homem é a
medida de todas as coisas no sentido universal e não individual, acabamos por
nos afastar de um relativismo absoluto e nos aproximar de uma visão kantiana
(fenômeno e numeno) ou piagetiana (ação sobre o objeto). Se esta relação entre
algo próprio do sujeito conhecedor e algo próprio do objeto conhecido é
característica universal de nossa espécie, ou melhor ainda, de todos os seres
cognoscentes que possam existir, então estamos diante de conceitos tais como
universalidade e necessidade.
Imagino que ao
pensarmos na educação, não estaríamos longe da ironia de Sócrates se usássemos
a argumentação de Górgias sobre o Ser para descrevê-la em sua verdade crua e
nua: 1- nada existe, 2- mesmo que houvesse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la
e 3- mesmo que pudéssemos conhecê-la, não poderíamos comunicá-la aos outros.
Até que ponto
o docente hoje é alguém de fato ligado a sua cidade, ou melhor ainda, a sua
comunidade, ou defendendo-se por meio da idéia de uma sociedade global,
mostra-se na prática como um caixeiro ambulante (vendedor de cidade em cidade)
da educação? Filósofo ou sofista? Em verdade, verdade, sofista!
Afinal,
sejamos francos, ensinar ou educar é uma profissão como entenderam os sofistas
ou uma atividade pura do ser humano livre em uma busca do saber pelo saber, sem
fins lucrativos?
Para nossa
sociedade global, de padrões éticos seriamente questionáveis, afinal, a verdade
é um valor importante e transmitido para a população ou o importante é
meramente o convencimento das massas por meio de discursos? O mais importante é
encontrarmos a verdade dos fatos ou convencermos por meio de palavras e atos
solenes nosso adversário ou ao público que irá julgar?
Até que ponto
o filósofo educador contemporâneo não fica com um pé na manutenção de seu
sofrido “ganha pão”, a boa saúde de suas finanças, obtido pela aprovação social
de suas idéias e comportamentos e por outro lado, com um pé no que
verdadeiramente pensa sobre a opinião das massas (e não me refiro à
macarronada, se bem que esta seja tão inteligente quanto), sobre as crenças
religiosas, sobre as religiões aceitas e proclamadas em sua sociedade a ponto
de poder ser acusado de impiedade para com os deuses e a semelhança de
Prodicus, ser condenado à morte sob a acusação de corrupção da juventude por
apresentar idéias e doutrinas subversivas a toda e qualquer religião, pois,
afinal, a origem da religião não se encontra na personificação de objetos
naturais?
Como o quer
Oswald de Andrade com a idéia poética de antropofagia, vamos utilizar o
canibalismo simbólico no melhor que podemos encontrar dentro do movimento
sofista para repensarmos nossa contemporaneidade. Cabe termos a nossa própria
identidade pensante, mas dentro de um arcabouço global de idéias.
Ao final desta
exposição resta nos uma dúvida: os sofistas ainda estão vivos? Bem, eu pelo
menos estou, e você?
Pergunta: Qual
a importância e contribuição da sofística para a sociedade na qual vivemos?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
“O homem é o animal mais cruel contra si
mesmo; e, em todos os que se dizem ‘pecadores’ e ‘penitentes’ e ‘portadores de
cruz’, não vos passe despercebida a volúpia que há nesses lamentos e acusações!”
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falou
Zaratustra: Um livro para todos e para ninguém. p. 225 (terceira parte da
obra – o convalescente, 3).
Há quem
queira igualar e não diferenciar filosofia, de história da filosofia, mas há
uma diferença, pois, quando fazemos história da filosofia somos fiéis ao
pensamento de outros e quando fazemos filosofia somos fiéis ao nosso próprio
pensamento. Aqui minha intenção não é fazer história da filosofia. No meu
entendimento o filósofo é o grande crítico social, exercendo sua crítica
racional sobre os valores reinantes, explicitando conceitos e significados em
busca da origem e vinculações dos mesmos a valores e idéias na sua relação
intrínseca com a vida e a natureza.
Pensar o ser
humano dentro de uma dualidade, seja esta entre mente e corpo ou entre mundo
das aparências e mundo real, entre o ser e o dever ser, entre o bem e o mal,
entre amor e ódio, entre deus e demônio ou entre santos e pecadores, como
qualquer outra dualidade, em verdade, mais do que dividir, nega-se a vida em
prol da anti-vida, da negação da vida, da afirmação do nada, do niilismo em
suas diversas apresentações.
O ser humano
é um ser voltado a um destino ainda por vir, mas que deve ser criado hoje,
trata-se não de um ser acabado, mas sim de uma ponte entre algo que deve deixar
de ser e algo novo que se anuncia e entenda-se este algo novo não como um super
homem, dando-se a ilusão que se reforça os valores e aspirações deste humano
contemporâneo, mas não, é preciso que este finde sua existência e não que esta
seja super valorizada, menos que um super homem, trata-se do advento de um além
do homem, de uma superação deste ser humano, da construção de um ser que não
negue a vida e sim que a afirme em todos os seus atos e palavras, alguém que
não viva pelo niilismo e ressentimento tão bem expresso pelas religiões
(cristianismo, budismo, islamismo, judaísmo, etc.) e sim pela vontade, não de
poder, mas sim de potência.
O ser humano
contemporâneo deve ser percebido como uma ponte, uma corda tencionada ligando
os dois lados de um abismo, de um lado o que há e deve findar, cujo destino é o
ocaso, de outro lado o porvir enquanto superação e exaltação, um ser ao qual
podemos denominar como além do homem. O homem não é uma meta, mas sim algo a
ser superado.
Nietzsche em
“Assim falou Zaratustra” nos afirma
que o homem é uma corda estendida entre o animal e o além-do-homem, uma corda
sobre um abismo, segundo Nietzsche toda grandeza do homem está justamente em
ser o mesmo uma ponte, uma transição e um ocaso.
O cheiro de
putrefação incomoda os narizes mais sensíveis quando diversos grupos e correntes
tentam ressuscitar um ser mítico que morreu faz tempo acometido de profunda
compaixão. Em verdade, tal ser mítico foi morto pela compaixão e amor que
nutriu pela humanidade, este foi seu inferno e sua morte.
Este ser
mítico está morto, mas não é correto a partir deste fato inegável afirmar que
tudo é permitido, pois esta crença na total permissividade esconde uma mentira
que por sua vez re-afirma a vida e não a morte de tal ser, em verdade, tal ser
mítico morto não pode tornar tudo permitido, pois, nunca foi ele análogo à
verdade ou ao princípio.
A negação de
deus não pode ser confundida com a mera troca de deuses. O dogmatismo presente
em correntes de pensamento não passa de uma ortodoxia religiosa na qual deus se
esconde em meio a sua negação pela presença do que mais profundamente lhe
caracteriza. Coisas materiais ou mesmo estados alterados da consciência
provocados pelo uso imoderado de substâncias químicas também não negam a deus,
mas simplesmente o substitui. Em todos estes e outros casos continua-se a
cultuar algo que denigre a vida e valoriza o nada, pois, antes há o homem de
querer o nada, a nada querer.
Este mundo
não é um vale de lágrimas e não há um outro mundo perfeito e repleto de
felicidade. O único mundo onde a felicidade é possível é este no qual estamos,
pois, esta realidade é a única existente e qualquer outra concepção filosófica
religiosa que diga o contrário condena o ser humano a viver na miséria mental e
física. Nós não somos escravos, então, não nos comportemos como escravos. Somos
senhores de nossa vida, valores e destino.
É uma ilusão
acreditar que o ser humano é imperfeito e tal ilusão se agarra à idéia de um
ser perfeito que não somos nós. Ao buscarmos a origem de tal absurdo não
esbarramos na religião e sim na filosofia, pois, este erro provém da filosofia
de Platão e de seu conceito teórico de um mundo das idéias do qual nós somos
cópias imperfeitas. Ignorantes podem acreditar que denegrir o humano como um
ser imperfeito é uma concepção religiosa cristã, mas estão errados, sua origem
é platônica e a religião cristã ao apregoar um mundo de imperfeição em
comparação com um mundo perfeito, mas não existente em parte alguma, nada mais
faz se não platonismo para o povo. Somos perfeitos, porque somos únicos. Cada
um de nós é perfeito em sua essência humana e continuará sua perfeição enquanto
não quiser copiar a qualquer outro e sim ser a si próprio. Eu sou perfeito e
você também o é, a não ser que prefira ser à sombra de uma cópia.
Cabe ao ser
humano entender que ele próprio é o grande mentor de sua vida e só a ele cabe a
total responsabilidade pela vida que vive, pelo que é e como se expressa. Cabe
ao ser humano destruir velhos valores que negam a vida e afirmam o niilismo e
construir novos valores, afirmativos da vida e do surgimento de um além do
homem. Cabe repensarmos e atuarmos na transmutação de todos os valores. Para o
filósofo, mais importante do que afirmar valores morais deve ser sempre a busca
da origem de tais valores.
Ao se
desprezar o corpo, despreza-se em verdade a própria vida, pois o corpo somos
nós em nossa totalidade e integridade genuína. Não somos dois, somos um.
Qualquer dicotomia filosófica religiosa é de fato uma negação da própria vida e
como tal deve ser combatida e não passivamente acatada.
Livros e
textos de minha autoria, gratuitos nos meus sites na Internet, com outras
reflexões sobre o pensamento de Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900):
“Comentário a Nietzsche”, capítulo 6 do
livro “Reflexões filosóficas: Uma pequena
introdução à filosofia”.
“Crítica da vontade de verdade”, capítulo
4 do livro “Estudos de psicologia e
filosofia”.
“Sobre Nietzsche”, Blog “Ser
Escritor” quarta-feira, 5 de dezembro de 2007.
Blog
“Comportamento Crítico” sexta-feira, 15 de outubro de 2010.
“Niilista”, Blog “Ser Escritor”
quarta-feira, 22 de abril de 2009.
Blog
“Comportamento Crítico” sexta-feira, 15 de outubro de 2010.
“Estudante
do curso de filosofia”, Blog “Ser Escritor” segunda-feira, 1 de junho de
2009.
Pergunta: Em
sua passagem você tem enaltecido ou denegrido a vida?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)