Por: Silvério da Costa Oliveira.
Juan Duns Escoto
Juan Duns Escoto (ou Scotus ou Scot) ou Johannes (ou John ou João) Duns Scotus (1266-1308) também conhecido por doctor subtilis (doutor sutil) e por doctor Marianus (doutor Mariano). O nome “Scotus” provavelmente é um apelido originado quando este viajou para outras terras, na Inglaterra e no continente europeu, significando que o mesmo era originário da Escócia, um escocês (Scot), já o nome “Duns” provavelmente se origina do nome da cidade onde ele nasceu, bem como também do nome de sua família. Vem a falecer em 8 de novembro, então com 43 anos de idade. É considerado santo pela Igreja Católica Apostólica Romana e sua festa litúrgica ocorre em 8 e maio.
Nasce na Escócia e pertence à Ordem dos Franciscanos, tendo ingressado nela em 1277/8 e tomado o hábito em 1280. Foi ordenado sacerdote em 1291. De 1293 a 1296 esteve estudando em Paris, após este período de estudos regressou a Inglaterra, passando a ensinar em Cambridge e, posteriormente, em Oxford. Em 1302 retorna a Paris como professor e é expulso da cidade em 1303 por apoiar o papa contra o rei da França, mas pode retornar em 1304 tendo permanecido até 1305. De 1305 a 1306 esteve em Oxford e de 1306 a 1307 novamente em Paris, tendo sido enviado no verão de 1307 a Colônia, Alemanha, onde permaneceu até seu falecimento.
Dentre suas principais obras podemos dar destaque a “Opus Oxioniense - Oxford” ou “Ordinatio” (aqui se trata de um comentário extenso às “Sentenças”, de Pedro Lombardo), “Quaestiones de metaphysica” (questões de metafísica), “De primo princípio” (do primeiro princípio).
A elaboração de seu pensamento ocorre vinculada a uma época histórica onde a presença de Aristóteles por meio de suas obras e comentadores já é um fato consumado e que não pode ser meramente ignorado, pois, o ambiente intelectual já estava há muito absorto nas teses e contendas oriundas da introdução do pensamento de Aristóteles na Europa ocidental cristã, portanto, temos no pensamento de Juan Duns Escoto a presença de Aristóteles e seus comentadores, como, por exemplo, Averroes e Tomás de Aquino, sendo que por vezes Juan Duns Escoto tende a se posicionar contrário a diversas das teses oriundas do aristotelismo, demonstrando seu pertencimento a ordem franciscana, onde tende a imperar desde suas origens uma maior aproximação das teses neoplatônicas, de Platão e de Agostinho de Hipona, como veremos em Boaventura e também em Juan Duns Escoto. Teremos, portanto, fortes críticas à visão aristotélica do mundo e uma tentativa de retorno a teses que encontram suas origens no neoplatonismo, em Agostinho de Hipona e na tradição franciscana.
Discorda de Tomás de Aquino e de outros que fazem uma distinção entre essência e existência a partir de uma leitura e interpretação da obra de Aristóteles. Para Duns Escoto não é possível entender o que possa ser algo sem entender o que possa ser este algo existindo realmente.
Podemos observar na realidade, de modo evidente, as coisas criadas e as coisas incriadas. Tudo ao nosso redor que compõe a nossa realidade é composto por seres finitos, limitados e imperfeitos (pois são carentes de alguma perfeição), todos estes seres estão subordinados a uma relação de causa e efeito que os tornam contingentes, ou seja, possuem sua existência dependente de outros seres ou circunstâncias, podendo ou não existir ou mesmo existindo virem a deixar de existir. Por meio de nosso intelecto temos acesso a coisas incriadas, como, por exemplo, saber que do nada, nada surge, e por tal motivo o ser sempre é. Deus é um ser infinito, incondicionado / incausado, não contingente / é necessário, infinitamente perfeito, com intensidade absoluta, ato puro.
Duns Escoto redefine e aceita o argumento ontológico de Anselmo da Cantuária, no qual Deus é “algo do qual não possamos conceber maior”. Se por um lado aceita o argumento de Anselmo, por outro nega que se possa chegar a Deus ou provar a sua existência por meio dos argumentos a posteriori, provenientes de uma teologia natural.
Deus é concebido como pura e absoluta liberdade, acima de qualquer lei ou razão, sendo ininteligível por meio de nossa razão e filosofia. Duns Escoto entendia a teologia como uma ciência prática e não como uma ciência especulativa, aqui discordando do posicionamento de Tomás de Aquino e seus seguidores.
Tende a separar a fé da razão. A teologia tem como objeto a Deus e a metafísica ao ser, a metafísica não pode conhecer a Deus enquanto Deus e sim somente como ser, mas tal conhecimento abarca algumas propriedades presentes ao ser e a Deus.
Para Juan Duns Escoto a vontade tem primazia sobre o intelecto e o conhecimento. Entre saber o que é Deus e ter à vontade direcionada a querer e amar a Deus, o segundo é maior e mais importante.
Destaque deve ser dado que a forma de escrever torna o pensamento de Juan Duns Escoto por vezes tão sutil e obscuro, com tantas subdivisões propostas para algumas ideias que fica difícil entender o que realmente ele queria expressar.
Seu pensamento teve seguidores, em particular dentro da Ordem Franciscana, e a Escola que segue a orientação de seu pensamento e obra passou a ser conhecida como “escotismo”. Apesar de difícil entendimento, sua obra teve grande importância e influência não somente na sua época histórica, mas mesmo em tempos recentes, vindo a ter um papel significativo em filósofos como, por exemplo, Heidegger.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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