Por: Silvério da Costa Oliveira.
Os filósofos pré-socráticos
Os filósofos pré-socráticos (século VII ao IV a.C.) são assim chamados não por antecederem cronologicamente o filósofo Sócrates, se bem que muitos de fato estejam temporalmente antes de Sócrates, mas a questão aqui é a temática principal que será abordada, pois, enquanto em Sócrates a primazia se dá para o estudo do humano, temos uma filosofia voltada para uma antropologia, já nos pré-socráticos a ênfase se dá no cosmos, no universo, na física, daí serem também chamados de “físicos”, no sentido grego de “Physis”, ou de filósofos da natureza. Seu interesse principal é a formação do mundo, do universo, do cosmos. A problemática oriunda do humano e seu mundo cognitivo e emocional, seu mundo interior, ocupa um segundo plano diante da primazia do estudo do mundo exterior a este mesmo humano. Muito importante e fator de destaque nestes filósofos é o rompimento com a explicação mítica religiosa da origem do universo e a busca de uma explicação de cunho racional.
Neste tocante, cabe citar em particular aos seguintes pensadores: Tales de Mileto (624/623-548/546 a.C.), Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.), Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.), Pitágoras de Samos (571/570-500/490), Xenófanes de Colofón (570-475 a.C.), Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.), Parmênides de Elea (530-460 a.C.), Arquelau de Atenas (século V a.C.), Leucipo de Mileto (século V a.C.), Anaxágoras de Clazomene (499-428 a.C.), Diógenes de Apolônia (499-428 a. C.), Empédocles de Acragas (495-430 a.C.), Zenão de Elea (490-430 a.C.), Filolau de Crotona (480/470-385 a.C.), Melisso de Samos (470-430 a.C.), Demócrito de Abdera (460-370 a.C.).
Os assim chamados filósofos pré-socráticos podem também ser divididos por Escolas, dentre as quais, a principal divisão possível se dá da seguinte forma: Escola Jônica (Ásia menor), Itálica ou Pitagórica (Magna Grécia), Eleática (Magna Grécia), Pluralista e Eclética.
• Escola Jônica: Anaximandro de
Mileto, Anaximenes de Mileto, Tales de Mileto e Heráclito de Éfeso;
• Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Árquitas de Tarento e Filolau de Crotona;
• Escola Eleática: Xenófanes, Parmênides de Eleia, Melisso de Samos e Zenão de
Eleia.
• Escola da Pluralidade: Anaxágoras de Clazômena, Empédocles de Agrigento,
Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
• Escola eclética: Diógenes de Apolônia e Arquelau de Atenas.
Muitos fatores contribuíram para o surgimento do pensamento filosófico em Grécia antiga, dentre os quais podemos citar a expansão dos gregos pela região, formando núcleos de povoamento e posteriormente cidades-estado com relativa independência uma das outras, mantendo alianças e fazendo guerra, eventualmente, uma com outras. Influência do pensamento religioso proveniente do oriente a partir dos povoamentos e cidades gregas localizadas na Ásia menor. A introdução do uso de moedas para facilitar o comércio e as trocas de mercadoria; o contato frequente com outros povos por meio das viagens marítimas; o surgimento da lei escrita. Enfim, diversos fatores históricos, culturais, econômicos e culturais estiveram presentes junto ao povo grego e propiciaram condições mais favoráveis para o surgimento da filosofia nesta região e tempo em particular.
O que nos chegou foram fragmentos de suas obras, em grande parte perdidas no decorrer da história humana. Por vezes, temos também comentários e explicações dados por autores antigos. Infelizmente, muitos dos autores antigos não tiveram a preocupação com a fidelidade aos textos originais, aliás, visão esta muito recente na história da humanidade, e sempre estamos diante da possibilidade bem real de os filósofos e historiadores posteriores terem sido tendenciosos.
Estes pensadores farão uso de alguns termos de modo recorrente e com um sentido todo particular e, por vezes, difícil de ser traduzido em virtude da amplitude dos mesmos, como tal é o caso da expressão “Physis”, ora traduzida por “física” e ora por “natureza”, mas que tende a englobar a tudo o que existe, seja material ou espiritual, trata-se da totalidade de tudo que há. Outra expressão importante e que denota cuidado com a tradução é “arché”, que normalmente é entendida como “primeiro princípio” ou “princípio único” da origem de tudo. Só que aí temos um problema quanto a “arché” ser ou estar na origem do Cosmos ou da natureza, pois, para os gregos não temos a ideia de criação, ideia esta que estará presente no povo judeu e posteriormente no Deus cristão, um deus criador que tudo cria a partir do nada. Para os gregos não é possível criação do nada, os deuses gregos não criam a natureza, eles fazem parte da natureza. No máximo teríamos um Demiurgo organizador da matéria e não criador. O tempo cronológico com princípio, meio e fim surge com o cristianismo (religião judaico-cristã), antes, com os demais povos e o povo grego em particular, o que temos é um tempo cíclico, provavelmente inspirado nas observações dos diversos ciclos existentes no mundo, como o de nascimento e morte, criação e destruição, as estações climáticas que se revezam no decorrer do ano, etc. Outra palavra presente aos pré-socráticos e também complicada quando buscamos uma mera tradução é a expressão “cosmos”, cujo sentido não é meramente o que entendemos hoje por “cosmos” na nossa física contemporânea ou mesmo o sentido de “universo”. A expressão “cosmos” será mais corretamente compreendida se a entendermos como “ordem”, em oposição ao “caos”.
Com estes pensadores temos em solo grego, pela primeira vez na história da humanidade, a troca de explicações baseadas na crença e presentes em mitos e religiões, para explicações sobre a origem e natureza do cosmos por meio do uso da razão humana, buscando um princípio (arché) único que pudesse explicar a origem de tudo que temos ao nosso redor. Com eles surge a filosofia e apesar de eclipsados por Sócrates, Platão e Aristóteles, mesmo se estes três não existissem ou se sua obra jamais tivesse chegado ao nosso conhecimento, os trabalhos empreendidos por estes primeiros pensadores já seriam o suficiente para colocar a antiga Grécia em destaque com a elaboração e formação de um modo único de entender o mundo, por meio da razão e não por qualquer outra forma.
Os filósofos pré-socráticos se puseram diante do problema da origem de tudo de modo diverso do tradicionalmente aceito e praticado não somente em solo grego, mas também por outros povos e, deste modo, se afastaram das explicações baseadas em mitos ou religião, saindo da mera crença infundada para o uso da razão, fazendo perguntas e propondo respostas que abarcassem a verdadeira origem e essência de tudo. Implícito em suas obras temos a tentativa racional de responder a perguntas, tais como: de onde tudo vem? Qual a origem das coisas? Do que é composto a criação? Como explicar a pluralidade de seres? Como a matemática se aplica e relaciona com a natureza?
O estudo destes pensadores é muito importante para o estudante da filosofia, pois, entender estes filósofos nos permite instrumentos para poder também entender a base de toda a nossa atual civilização. Sua influência esteve presente na elaboração das filosofias posteriores, a partir mesmo de Sócrates, Platão e Aristóteles e ainda se faz presente em pensadores nossos contemporâneos.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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